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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propde aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
"1

i
índice

A GRANDE TORMENTA 93

A caminho da Unidade :
DECLARACAO LUTERANO-CATÓLICA SOBRE O PAPADO 95

Sabedorla para iniciados ?


A "ROSA-CRUZ": QUE É? 103

Honra ao mérito:
ALCOÓLICOS ANÓNIMOS EM REVISTA 116

QuesISo de clareza :
E A MANEIRA DE CITAR A BIBLIA ? 136
Em poucas palavras:
POR QUE PASCOA NAO TEM DATA FIXA ? 139

ERRATA 135
COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

• * •

NO PRÓXIMO NÚMERO :

Yoga e Cristianismo se conciliam ? — "O casamento morre


quando o amor morre I" — Os "Meninos de Deus". — Os
cárceres : recuperacáo ou destruicáo ?
X
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Assinatural anual Cr$ 50,00
Número avulso de qualquer mes Cr$ 5>00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (preco unitario) ... CrS 35.00
Volume encadernado de 1974 Cr$ 7O'0D
Índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10'00
EDITORA LAUDES S. A.
RFnACAO DE PR ADMINISTRACAO
Calxa Postal 2 666 R«a Sao Rafael. 38, ZC 09
ZCOO 20000 B'o de Janeiro (GB)
20.000 Rio de Janeiro (GB) Tels.: 2G3-9981 e 268-2796

Na GB, a Rúa Real Grandeza 108, a Ir. María Rosa Porto


tem um depósito de PR e recebe pedidos de assinatura da
revista. TeL: 226-1822.
A GRANDE TORMENTA
Existe na literatura dos antigos monges um apoftegma
ou «fioretto» que parece ter guardado sua atuaüdade até hoje,
servindo mesmo para inspirar válidas reflexóes sobre os nossos
tempos.

Sabe-se como viviam os monges dos desertas do Egito, da


Palestina, da Siria nos séc. IV/V d. C: passavam os dias em
jejum até o por do sol; entregavam-se assiduamente á oragáo
durante o dia e a noite; trabalhavam manualmente, tecendo
cordames e esteiras em silencio a fim de ganhar o seu sustento.
Ora, certa vez, como era costume, um grupo de jovens
monges foi procurar um anciáo experimentado a fim de Ihe
pedir orientagáo espiritual. Perguntaram entáo ao abade
Isquiriáo: «Quanto vale a nossa vida?» Respondeu-lhes o
anciáo: «Fazemos a metade daquilo que nossos pais fize-
ram!» Surpresos, continuaram os visitantes : «E que faráo
aqueles que vierem depois de nos ?» Ao que respondeu o
abade Isquiriáo : «Faráo menos ainda do que nos !■» Per-
plexos, indagaram os jovens monges: «E que faráo os que
aparecerem ainda mais tarde ?» Disse entáo o anciáo : «Fa
ráo menos ainda do que os antepassados; mas sobrevirá a eles
a grande tormenta; e os que Ihe resistirem, seráo talvez
maiores do que nos e as geragóes anteriores!»
Nao é esta urna profecía bíblica. Todavía ela parece ter
em seu favor a comprova;áo da historia.

Com efeito. É evidente que as observancias religiosas,


táo avuHadas e duras entre os antigos cristáos, hoje em dia
estáo notavelmente atenuadas: o jejum da Quaresma foi
reduzido a dois dias, de regime muito tolerável; poucos sao
aqueles que podem passar horas da noite em oragáo... Va
rios motivos justificara este estado de coisas: as saúdes estáo,
de modo geral, debilitadas pelo ritmo de vida pesado, se nao
atordoante, de nossos dias... A Igreja, que é Máe, através
dos seus mestres de esp'ritualidade, compreende bem esta situa-
gáo dos homens contemporáneos.

Mas existe urna «chance» também para nos,... «chance»


de praticar o heroísmo como dignos discípulos que desejamos
ser de Cristo e dos antigos cristáos.

Sim ! «A eles sobrevirá a grande tempestades. Que terá


entendido o abade Isquiriáo através dessa expressáo? — Como

— 93 —
quer que seja, podemos dizer que estamos vivendo um mo
mento de grande tempestade : é a tempestade que se arre-
messa contra a fé. Verdade é que sempre houve tal tipo de
tormenta; todavia esta hoje se caracteriza por provir nao só
de profesaos adversarios do Cristianismo, mas por se originar
também, e de maneira fortemente sedutora, dos próprios redu-
tos da Igreja: urna serie de teorías, baseadas em conclusóes
da psicología, da sociología, das estatísticas,... pretende insi
nuar de maneira «elegante», mas assaz fina e penetrante, que
a fé se concilla com a ideología marxista, que a oragáo explí
cita é perda de tempo, que a fidelidade ao Papa e á voz da
Igreja entrava o Cristianismo...

Em meio a tal bombardeio de teses e hipóteses, torna-se


difícil, se nao mesmo heroica, a atitude daqueles que querem
guardar a fé com os seus genuínos elementos de «loucura e
escándalo» (cf. 1 Cor 1, 23). Nao ceder á sedugáo de teorías
novas, aparentemente bem arqultetadas, que solapam os fun
damentos sobrenaturais da fé, sem ceder, por outro lado, a
concepgóes mesquinhas e agressivas,... colocar o provisorio
a servigo do Definitivo e Eterno, sem cair no angelismo e na
alienacáo,... dar á oragáo o lugar primacial que lhe compete
na vida do cristáo (pois é respiracao da alma), sem, porém,
se omitir frente aos deveres sociais e profissionais, eis certas
linha de um auténtico programa de vida crista para nossos
dias. Tragar este programa, colocar cada idéia e cada valor
no seu lugar devido, sob a luz da mensagem «louca e escan
dalosa» que Sao Paulo apregoava, e viver diariamente de
acordó com esses dados, eis urna tarefa que ninguém cum-
prirá sem heroísmo: o heroísmo da coeréncia, da coragem,
da magnanimidade. Esse heroísmo nao poderá ser sustentado
sem sobriedade e austeridade de vida ou sem urna certa renun
cia corporal. Esta, alias, nunca pode faltar na vida de um
discípulo de Cristo. Caso a austeridade deixe de ser exercida,
as paixóes poderáo sobrepujar a sadia inteligencia e a reta fé.
E o cristáo deixará de ser o herói que deve ser na atual
tormenta.

O mes de margo, marcado pela ocorréncia da Quaresma


e da Páscoa, é a época em que, com especial propósito, estas
idéias se apresentam á nossa reflexáo. Que o Cristo vitorioso
sobre a morte continué a suscitar em seus seguidores no
séc. XX a fibra heroica que, do seu modo, marcou os cristáo»
de outras épocas!

E. B.

— 94 —
«PERdliNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVI — N« 183 — Morco de 1975

A camlnho da Unldade:

declaracáo luterano-católica
sobre o papado
Em efntese: Aos 5/111/74, urna Comissfio de teólogos católicos e
luteranos nos EE.UU. publicou urna DeclaracSo conjunta com o titulo: "O
primado do Papa. Pontos de convergencia". Resultado de quatro anos
de meticulosos estudos, esse documento se reveste de notável importancia
no camlnho de restauracfio da unldade entre os cristáos. Na base de
texto3 bíblicos, admite o documento que Cristo tenha Instituido um minis
terio de unldade. Esse ministerio fol confiado nao somonte a todo o povo
cristfio em geral, mas também, e de modo especial, a um ministro Indivi
dual. Este ó, conforme a doutrina católica, o blspo de Roma, o Papa.
Os teólogos luteranos estfio dlspostos a cier que o Papa possa realmente
ser o Primaz da Igreja de Cristo; apenas perguntam em que termos isto
se darla no futuro relaclonamento com as contiss8es luteranas, desde que
estas entrem numa só comunha*o com a Igreja Católica. — A questfio da
Infalibilldade do magisterio do blspo de Roma ou do Papa aínda será
abordada pela Comissáo, a qual termina sua Declaracfio confiante no
Senhor, quo "nos ajudará a enveredar por sendas aínda nao exploradas".

Católicos e protestantes podem saudar Jubilosos um tal documento,


pedlndo ao Senhor quelra levar a pleno éxito a obra Já Iniciada.

Comentarlo: Nos últimos anos o ecumenismo ou movi-


mento de reuniáo dos cristáos separados vem fazendo notáveis
progressos no plano teológico. Tém sido instituidas comissóes
de estudiosos católicos e cristáos náo-católicos para examinar
pontos de doutrina em que posigóes divergentes causam impas
ses á reconstituicáo da unidade; os prolongados estudos reali
zados por esses grupos interconfessionais vém chegando a
resultados multo positivos, inspirados por slnceridade e amor
fraterno, que, em última análise, a graca do Espirito suscita
entre os fiéis.

— 95 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

Já noticiamos em PR 152/1972, pp. 374-384 a Dedaragáo


anglicano-católica sobre a S. Eucaristía. Neste número referi
remos alguns dos principáis tópicos de urna Declaragáo lute
rano-católica referente ao Papado.

Tais Declaracóes nao tém valor oficial como se fossem


proferidas pela Igreja Católica e pela Comunháo Anglicana
(ou a Federagáo Luterana Mundial) como tais. Contudo tam-
bém nao tém valor meramente privado, pois procedem de teó
logos oficialmente designados por suas respectivas comunidades
eclesiais; nao há razáo para nao crer que esses teólogos expri-
mam o pensamento das suas comunidades (ou seja, da Igreja
Católica, de um lado, e do Anglicanismo ou do Luteranismo,
do outro lado). Por conseguinte, as Declaragóes mencionadas
tém o valor de sinais ou marcos colocados no caminho da uni-
dade; sao bases para qualquer futura reconciliagáo dos cristáos
em torno da mesma fé.

1. A Declarando teológica

1. Pouco após o Concilio do Vaticano n (1962-1965), a


Conferencia dos Bispos dos Estados Unidos da América e a
Federacáo Luterana norte-americana resolveram iniciar um
diálogo teológico com vistas 'á restauracáo da unidade. Essa
tarefa versou, com éxito, sobre o Batismo, as tradicionais
profissóes de fé crista, a Eucaristia-sacrifício, o ministerio
sacerdotal; donde resultou a colegáo de pequeños volumes inti
tulada «Lutherans and Catholics in Dialogue» (I-IV). Os
resultados positivos de tais conversagóes ultrapassaram as
expectativas dos teólogos que délas participaram, e abriram as
vias para a abordagem de um dos temas mais dificeis no rela-
cionamento ecuménico: o do primado de Pedro.

Desde fins de 1970, iniciaram-se nos EE.UU. os estudos


luterano-católicos sobre este assunto. Finalmente aos 5 de
margo de 1974 foi publicada a Declaracáo em foco nestas
páginas com o título: «O primado do Papa. Pontos de con
vergencia». O grupo de trabalho era presidido conjuntamente
pelo Dr. Paúl C. Empie, ex-Secretário-Geral do Comité ame
ricano da Federagáo Luterana Mundial, e por D. T. Austin
Murphy, bispo auxiliar de Baltimore (U.S.A.).

O texto é relativamente longo, compreendendo 34 itens


distribuidos por seis capítulos, nos quais se expóem o pro
blema (1), as questóes suscitadas em torno do mesmo (2), o

— 96 —
DECLARACAO LUTERANO-CATÓLICA

estudo da temática no Novo Testamento (3), aspectos histó


ricos e teológicos (4), perspectiva sobre a renovagáo das estru-
turas do Papado (5), conclusóes (6). A Comissáo partiu da
nogáo de ministerio (dialionía, servigo) e estudou o primado
como sendo urna forma de ministerio,... precisamente o minis
terio que tem por meta a unidade da Igreja; o Papa seria a
autoridade colocada a servigo da unidade. A questáo da infa-
libilidade do Sumo Pontífice em materia de fé e de moral nao
foi abordada pelo documento em foco, ficando reservada para
a próxima sessáo da Comissáo de Estudos.

2. O documento é rico em dados e encara o tema com


meticulosidade criteriosa. Nao proporemos urna análise pro-
priamente dita desse texto, mas apenas alguns dos tópicos
principáis do mesmo.

Assim, por exemplo, reza o n« 29, á guisa de conclusóes:

"Nossas discussoes, no decorrer deste diálogo, projeta-


ram luz sobre alguns pontos de convergencia, dos quais os
mais importantes sao os seguintes:

— Cristo quer, para a sua Igreja, urna unidade que nao


é sonriente espiritual, mas deve ser manifesta no mundo.

— Todos os fiéis tém o dever de promover essa unidade;


em particular, esse dever toca aos que estáo comprometidos
com o ministerio da Palavra e do Sacramento1.

— Quanto maior é a responsabilidade de um encargo


ministerial, tanto maior também é a responsabilidade de pro
curar a unidade de todos os cristaos.

— Urna responsabilidade particular pode ser confiada a


um ministro individual, de acordó com o Evangelho.

— Urna tal responsabilidade para com a Igreja Universal


nao pode ser negada a partir de pravas tiradas da Biblia.

— O Bispo de Roma, que os católicos romanos conside-


ram como revestido dessa responsabilidade, por vontade de
Cristo, e que exerceu seu ministerio sob formas que conhe-
ceram importantes mudangas no decorrer dos séculos, poderá

i "Ministerio" no caso significa "servido". Trata-se da pregagSo ou


da transmissSo da Palavra de Deus e da adminlstracfio dos sacramentos.

— 97 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

no futuro exercer sua funcáo sob formas mais adaptadas,


capazes de responder ás necessldades unlversais e regionais
da Igreja no contexto táo complexo da nossa época".

Em síntese: a unidade visivel da Igreja é a grande meta


a que devem aspirar todos os cristáos; todos sao chamados a
colaborar para que ela se realize e conserve. De modo singu
lar, porém, pode-se admitir que o servic.0 da unidade tenha
sido confiado a um ministro individual... Esse ministro, con
forme a Tradicáo católica, é o Bispo de Roma, sucessor do
Apostólo Pedro, a quem Jesús confiou as chaves do Reino e o
poder de ligar e desligar (cf. Mt 16,18s). Nao há textos
bíblicos que possam impugnar essa no?áo de um ministerio
de unidade especialmente entregue ao bispo de Roma, o Papa,
sucessor do Apostólo Pedro.

Estas conclusóes, principalmente em sua parte final, que


se referem á S. Escritura, poderáo parecer muito modestas a
um católico. Todavía elas assumem valor capital para o diá
logo ecuménico, desde que se leve em conta que precisamente
a tradigáo luterana tendía a afirmar que o Papado era urna
invengáo alheia ao Novo Testamento e, por conseguinte, náo-
-biblica ou mesmo antibíblica. Urna das últimas obras de
Lutero tinha por título: «O Papado inventado pelo diabo».
Hoje em dia, como se vé, o Luteranismo está longe de repetir
tais coisas.

3. Observe-se, de modo especial, a profíssáo contida no


prólogo do documento:

"Entre os luteranos asslstlmos a urna tomada de cons-


ciencia cada vez mais viva da necessidade de um ministerio
especifico para conservar a unidade da Igreja e a sua missáo
universal, enquanto os católicos experimentam cada vez mais
a necessidade de urna compreensáo mais matizada da funcáo
do Papado na Igreja universal. Luteranos e católicos podem
agora comegar a encarar a possibilidade de um acordó e
esperar encontrar solucoes para problemas que outrora pare-
ciam insolúveis. Oremos que Deus chama nossas Igrejas a
se aproximarem, e oramos para que esta D&claracSo comum
sobre o primado papal seja urna etapa em demanda dessa
meta".

«Compreensáo mais matizada da funpáo do Papado...»


Esta expressáo da passagem ácima pode ser entendida de

— 98 —
nKfilARACAO LUTERANO-CATÓLICA

diversos modos. Ela se refere, em parte, á compreensao pré-


-conciliar das funcóes do Sumo Pontífice. Com efeito, o Con
cilio do Vaticano I (1870) foi bruscamente interrompído pela
agitada situacáo da península itálica. Por isto deixou inaca
bados os seus estudos; das suas conclusóes foram promulgadas
aquetas que se referiam ao primado e á infalibilidade do Pon
tífice Romano, ficando por ser estudadas a fúñelo dos Bispos
no pastoreio do povo de Deus, assim como o papel dos leigos
na Igreja e no mundo. A imagem da Igreja do Concilio do
Vaticano I parecía assim incompleta ou unilateral. O Concilio
do Vaticano n, quase cem anos depois (1962-1965), pos em
relevo a missáo dos bispos e do colegio dos Bispos unidos ao
Papa- preconizou a celebracáo de Sínodos Mundiais dos Bispos
em torno da pessoa do Sumo Pontífice; recolocou o laicato
na sua devida luz e posigáo... Outras formas de descentra-
lizacáo do govemo da Igreja vém sendo concebidas e poaerao
ser amda formuladas, sem derrogacáo ao primado de jurisdi-
cáo e magisterio do Sumo Pontífice. É este o genuino sentido
que se pode dar ao texto atrás transcrito: «Compreensao
mais matizada da funcáo do Papado». Alias, diz o mesmo
documento no seu tí> 30: «Nao estudamos suficientemente em
que medidas as atuais formas da funcáo papal sao suscetiveis
de mudancas no futuro». Estas palavras parecem traduzir,
da parte dos autores da Declaracáo, a intencáo de respeitór
o que realmente deva ser respeitado no tocante ao primado
papal.

4. O inciso final da Declaragáo faz eco ao prólogo nos


seguintes termos:

"Cremos que nossa Declaracao comum reflete urna con


vergencia na compreensao teológica do Papado, que permite
abordar frutuosamente essas questaes. Nossas Igrejas nao
deveriam deixar passar a ocasláo de responder á vorrtade de
Cristo concernente á unidade dos seus discípulos. Nennuma
Igreja deveria continuar a tolerar urna sltuacao em que os
membros de urna comunhao olhem para os outros como se
fossem estranhos. A confünca no Senhor que faz de nos um
só corpo em Cristo, nos ajudará a comprometer-nos ñas sen
das ainda inexploradas para as quais o Espirito guia a Igreja
(n? 34).

O diálogo orosseguirá entre católicos e luteranos, como se


depreende do final deste inciso. Aos cristáos nao envolvidos
diretamente na tarefa do diálogo teológico, toca um papel de

— 99 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

capital importancia, que é o de acompanhar esse trabalho pela


oragáo. Em última análise, a unidade dos cristáos é meta
colocada fora do alcance do esforgo humano; todavía ela cor
responde 'ás intengóes de Cristo. Por conseguinte, nao po-
derá ser perdida a oragáo que com fé e humildade a implore
do Senhor. De modo especial, é para desejar que católicos e
protestantes orem conjuntamente; quem se coloca na presenga
de Deus para orar com seros irmáos, despoja-se de qualquer
preconceito ou falsa atitude, obrigando-se a ser aberto e dis-
ponível á graoa de Deus; dai o grande valor das assembléias
ou das semanas de oragáo pela unidade que nos últimos anos
os cristáos vém realizando conjuntamente.

Resta agora considerar

2. As interrogasóes fináis

Na presente fase de caminhada para a unidade, verifica-se


que os pontos de vista teológicos váo convergindo. Em con-
seqüéncia, a Comissáo católico-luterana houve por bem apre-
sentar, após as conclusóes de seus estudos, algumas interroga-
góes 'ás comunidades luteranas1 e á Igreja Católica; essas
perguntas háo de ser estímulo para que também na realidade
prátíca se váo dando passos de aproximado mutua entre cató
licos e luteranos.

Eis as interrogagdes dirigidas ás Igrejas luteranas:

"— Estáo dispostas a afirmar conosco que o primado


pontificio, renovado á luz do Evangelho, nao é necessaria-
mente um obstáculo á reconciliagáo?

— Sao capazes de reconhecer nao só a legitimidade do


ministerio do Papa a servico da comunháo católica romana,
mas até a possibilidade e a índole desejável do ministerio do
Papa, renovado á luz do Evangelho e comprometido com a
liberdade crista, numa comunháo mais ampia que envolvería
as Igrejas luteranas?

— Concordam em entrar em diálogo sobre as implica-


c5es concretas de tal primado para elas?" (n? 32).

iFalamos de "comunidades luteranas", pols o Luteranísimo mesmo


está dividido.

— 100 —
DECLARACAO LUTERANO-CATÓLICA

A Igreja Católica sao dirigidas as seguintes perguntas:

„ •<— a luz das nossas descobertas, nao deveria (a Igreja


Católica) dar, em suas preocupagSes ecuménicas, a primeira
prioridade ao problema da reconciliacáo das Igrejas luteranas?

— Estaría disposta (a Igreja Católica) a entrar em diá


logo sobre ppssívels estruturas de reconciliacSo, que protege-
riam as legitimas tradicBes das comunidades luteranas e res-
peitariam a heranca espiritual destas?

— Estarla (a Igreja Católica) pronta a considerar a pos-


sibilidade de urna reconciliacao que reconhecesse o governo
autónomo das Igrejas luteranas, no seio de urna só comunháo?

— Durante a espera de eventual reconciliacao, estarla


pronta a Igreja Católica Romana a reconhecer as Igrejas lute
ranas representadas em nosso diálogo como Igrejas-irmSs,
que tém direito a certo grau de comunháo eclesiástica?"
(n? 33).

Nao é intericáo nossa analisar aqui estas diferentes inter-


rogagóes. Registramo-las a titulo de documentacáo. . Servem,
no mínimo, para incentivar a reflexáo e os passos em demanda
da auténtica unidade dos cristáos; as autoridades eclesiásticas
competirá dar-lhes a adequada resposta, sob a acáo do Espi
rito Santo, a fim de que se realize a unidade (e táo somente
esta) que Cristo auer e como quer,... unidade de um só reba-
nho sob um só Pastor, conforme Jo 10,16. Para a Igreja
Católica, um dos grandes problemas inerentes ao ecumenismo é
o de evitar o relativismo religioso; o grande perigo é o de
«negociar» em vista da unidade o que nao pode ser negociado.
A verdade entrene por Cristo á sua Igreja (da qual Pedro é
a Cabe-a visivel) nao é passível de adaptagóes ou «arranjos»
em suas expressóes essenciais: a verdade revelada nao per-
tence a este ou aauele grupo humano, mas a Cristo, que a
conserva e transmite pelos elementos humanos que Ele quis
escolher.

Em suma, apesar de todo o seu caráter de provisorio e


inacabado, a Declaracáo luterano-católica sobre o primado de
Pedro deve ser saudada com júbilo por todos os cristáos. Nela
pode o povo de Deus ler um apelo k ora"ao pela unidade e á
crescente fidelidade a Cristo e ao Evangelho; para o ecume
nismo é essencial que todo cristáo, além de orar, tenha um

— 101 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 183/1975

coragáo sincero e extremamente disponível as inspiracóes do


Espirito Santo. Sejam, pois, estes, em todos os leitores cris-
táos, os frutos imediatamente decorrentes da leitura da pre
sente comunicagáo.

O texto da Declaracáo se acha na Integra em "Orlglns NC Do-


cumentary Servlce", de 14/111/74. Traducáo francesa em "La Documentation
Cathollque" n? 1652, 21/IV/74, pp. 373-380.

Veja-se também o sucinto comentario da DeclaracSo elaborado por


Jorge Mejla em "Criterio" n? 1696, 25/VII/74, pp. 401-403.

Leitor amigo!

Já Ihe pedimos desculpas por ter aumentado o preco


da assinatura de PR 1975 para CrS 50,00. A alta geral dos
precos obrigou-nos a isto. Vocé certamente nos compreendeu.

Agora pedimos-lhe encarecidamente que, se ainda nao


renovou a sua assinatura para 1975, queira faz§-lo sem
demora. Precisamos da sua colaboracSo solicita. .

As remessas do numerario sejam feitas ao endereco da


Editora Laudes: Rúa Sao Rafael, 38, Rio de Janeiro (RJ)
-ZC-09. Queira Indicar-nos também o seu endereco tal
como ele consta do envelope em que PR Ihe ó enviado;
assim Identificaremos melhor o amigo em nosso fichário.

E ainda... o que é muito importante: QUEIRA OBTER-


NOS NOVOS ASSINANTES I PR ó sua revista; deseja ajudar
a esclarecer problemas e atitudes dentro de um enfoque
crístáo.

Gratos.

A Administracio de PR

— 102 —
Sabedoria para iniciados?

a "rosa-cruz": que é?

Em sfntesa: Por "Rosa-Cruz" entende-se om conjunto de Sociedades


que, embora por vezes se digam originarlas do Oriente ou do Eglto, tém
seu Inicio no séc. XVII d. C. Em 1615 um escrito anónimo Intitulado
"Confesslo Fraternltatis Rosae Crucis" dlvulgou a estórla de Christlan
Rosenkreutz (1378-1484), que terla viajado pelo Oriente e lancado os prin->
cipios de urna Fraternidade imbuida de sabedorla oriental e destinada a
reformar o mundo. A Fraternidade, que tomou o nome de seu fundador
(Rosonkreulz = Rosa-Cruz), teria ficado latente até o comeco do séc. XVII.
Os homens que nesta época leram tal estória, Impresslonaram-se por ela
e puseram-se a procurar as sedes da Rosa-Cruz. Visto que nao as encon-
travam (pois na verdade nao existiam), fundaram núcleos segundo os
padrees descritos pelo livro "Confessio Fraternltatis...". Fol entlo que
o autor deste saiu do seu anonimato; era o teólogo luterano alemSo Johan-
nes Valentín Andreae (1586-1654), que declarava ter sido o inventor da
estória de Christlan Rosenkreutz; reconheceu que este personagem e sua
Fraternidade eram lendárlos; J. Andreae, publicando o referido livro, Inten-
clonava ridlcularizar a manía de maravllhoso e o alqulmismo ocultista do
seu tempo. — Contudo nSo Ihe foi possivel deter a propagacSo dos núcleos
Rosa-Cruz Hola exlstem, ao menos, quatro Fraternidades rosacrucianas,
das quals a principal é a AMORC (Antiga e Mística Ordem da Rosa-Crur).
Embora jurídicamente Independentes urnas das outras, essas Socie
dades professam doutrlnas características: o panteísmo, a transmlgracfio
das almas ou reencarnagSo, além de proposlcoes de astrologla, curandei-
rlsmo, higiene física e mental... Sfio Sociedades secretas que, apesar
de professar neutralidad© em materia religiosa, assumem o lugar da Reli-
giSo, de tal modo que um fiel católico nao pode conciliar sua fé crista
com a adesSo á Rosa-Cruz.

Comentario: De vez em quando a imprensa publica al-


gum anuncio da Sociedade Rosa-Cruz... Esta enumera, entre
os seus membros, homens famosos de todos os tempos (Des
cartes, Bacon, Franklin, Newton...) e promete extraordina
rias vantagens a quem se queira iniciar na. sabedoria rosa*
cruciana. Em vista disto, muitos leitores perguntam o que é
a Rosa-Cruz e como a sua filosofía se relaciona com a dou-
trina crista. Eis por que voltaremos ñossa atencáo para as
origens e a atual situacáo da Rosa-Cruz, assim como para as
proposicóes que ela apresenta aos seus adeptos.

— 103 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

1. Donde vem?

Por «Rosa-Cruz» hoje em dia entende-se um conjunto de


Sociedades independentes urnas das outras no plano jurídico,
mas portadoras de idéias e mensagens afins entre si. Sao elas:
a «Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis» (AMORC), a «Fra-
ternidadi Rosa-Cruz de Max Heindel», a «Fratemitas Rosae
Crucis» (FRC) e a «Fratemitas Rosacruciana Antiqua» (FRA)
ou Igreja Gnóstica.

A origem da Rosa-Cruz assim entendida está numa estó-


ria propalada no séc. XVII por um teólogo luterano alemáo
chamado Johannes Valentín Andreae (1586-1654).

Com efeito. Em 1610 apareceu na Alemanha um manus


crito intitulado «Fama Fraternitatis Rosae Crucis», de autor
anónimo, que em 1614 o mandou imprimir na cidade de Cas-
sel. Em 1615 saiu a quarta edicáo desse livro, juntamente
com outra obra do mesmo escritor anónimo: «Confessio Fra-
temitatis Rosae Crucis ad eruditos Europae». Em 1616, apa
receu «Die Chymische Hochzeit Christíani Rosenkreutz» ainda
do mesmo autor anónimo.

Estes livros de modo geral propunham a renovacao da


Igreja, do Estado e da sodedade mediante um grupo de pes-
soas de escol pertencentes á «Fratemidade Rosa-Cruz». Esta,
conforme o autor, haveria sido fundada por Christian Rosen-
kreutz, que teria dado o seu próprio nome á Fratemidade
(Rosenkreutz, em alemáo, significa Rosa-Cruz). A respeito do
fundador narrava o autor anónimo o seguinte:

Christian Rosenkreutz nasceu na Alemanha em 1378. Fez


os seus primeiros estudos num mosteiro, onde aprendeu o
latim e o grego. Aos 16 anos de idade, terá comecado a via
jar pelo Oriente e pelo Egito, onde travou relagóes com os
maiores sabios e magos da época. De volta á sua térra natal,
reuniu sete companheiros para fundar com eles a Fratemi
dade Rosa-Cruz; os membros desta procurariam, mediante
viagens ao Oriente, imbuir-se da sabedoria dos antigos, que
eles trariam para a sua sede na Europa. A Sociedade assim
constituida, ficaria sendo secreta.

Christian Rosenkreutz faleceu em 1484, com 106 anos de


idade (longevo, por causa do elixir da longa vida, que ele
descobrira). Morreu no fundo de urna caverna, onde passara

— 104 —
A «ROSA-CRUZ» : QUE É ? 13

os últimos anos de vida. Transformada em sepultura, essa


mansáo devia permanecer ignorada até 1604, data prevista
por Rosenkreutz para se manifestar ao público. Foi entáo que
a Fraternidade comecóu a ser divulgada mediante a difusSo
do escrito «Fama Fraternitatis», que circulou amplamente de
máos em máos, com um convite para que as pessoas ilumi
nadas entrassem na Fraternidade.

Essas noticias e a exortagáo anexa encontraran* profunda


ressonancia na sociedade européia do séc. XVII, que muito
se interessava por assuntos esotéricos, mágicos e misteriosos.
Muitos alquimistas e «místicos» puseram-se a procurar alguma
sede da «Rosa-Cruz» para nela ingressar. Todavía ninguém
encontrava núcleo algum da mesma. Em conseqüéncia, os
admiradores mais habéis tentaram organizar eles mesmos, e
segundo os padrees indioados ñas citadas obras anónimas, So
ciedades secretas ditas «de Rosa-Cruz». Principalmente na
Renánia fundaram-se numerosos grupos de Irmáos Rosa-Cruz.

Enquanto os acontecimentos assim se precipitavam, Johan-


nes Valentín Andreae resolveu declarar que o autor dos escri
tos sobre a Rosa-Cruz era ele mesmo; explicou ao público que,
dessa forma, tencionara ridicularizar a manía de maravilhoso
e o alquimismo ocultista, que caracterizavam os homens do
seu tempo. Nao lhe deram crédito, porém, de modo que a
Alemanha e, depois, a Franga se viram recobertas por urna
onda de escritos referentes á Rosa-Cruz. Em 1632 foi afixado
em París um Manifestó que anunciava a chegada dos rosacru-
cianos, «salvadores do mundo». O bibliógrafo francés Gabriel
Naudé (1600-1653) escreveu contra a Rosa-Cruz o livro «Ins-
truction k la France sur la vérité de Phistoire de la Rose-
-Croix»; mas nao conseguiu deter a propagagáo desta.
Em 1662, a sede principal das Fraternidades Rosa-Cruz foi
transferida para Haia (Holanda); fundaram-se outras mais,em
Hamburgo, Nuremberga, Danzig, Veneza e Mantua, assim cómo
na Inglaterra. Táo rápida difusáo deve-se ao cunho maravi
lhoso das promessas e dos recursos apresentados pelos escritos
rosacrucianos: a alquimia, a cabala, a ciencia dos números
eram aplicadas á descoberta dos segredos da natureza.1 Os
rosacrucianos esperavam conseguir facilidades sobrenaturais

*A alquimia procurava transformar os metáis e produzír ouro; tencio-


nava outrossim descobrir o elixir da longa vida.
A cabala interpretava letras e slnais da escrita de modo a deduzir dos
mesmos as mals diversificadas mensagens e profecías.

— 105 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

que os isentassem das necessidades dos homens em geral; nao


sentiriam nem fome nem sede, nem enfermidade nem velhice;
conheceriam o íntimo dos homens — o que lhes permitiría
recusar a pessoas indignas a entrada ñas suas Fraternidades.

No séc. XVIII deu-se o apelativo de «Rosa-Cruz» a todos


os grupos de «iluminados» que afirmavam ter relagóes secre
tas com o mundo invisível. A própria Magonaria adotou o
titulo de «Cavaleiro Rosa-Cruz» para o 18» grau do Rito Es
cocés e Antigo, para o 12» grau do Rito Adonhiramita e para
o 7' grau do Rito Moderno ou Francés. Isto, porém, nao sig
nifica que entre a Magonaria e a Rosa-Cruz naja algum vín
culo jurídico; trata-se de mero relacionamento extrínseco ou
de nome. ■'
Digamos agora algo de mais preciso sobre as principáis
Sociedades Rosacrucianas hoje em dia existentes.

2. Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz (AMORC)

Distinguiremos doutrina, iniciagáo e finalidade da AMORC.

2.1. Doutrina e mensagem

O livro «O dominio da Vida» distribuido pela AMORC aos


seus candidatos apresenta a Ordem Rosa-Cruz como a mais
antiga das Sociedades humanitarias; assinala a sua origem no
antigo Egito durante a XVIII dinastía, sob o reinado do Faraó
Amenhotep IV, cerca de 1350 anos antes de Cristo; o reí Salo-
máo (t 932 a.G), de Israel, terá sido rosacruz. O livro
«Fama Fraternitatis Rosae Crucis», que apareceu em 1610,
térá sido obra do filósofo inglés Francis Bacon (1561-1626).
A AMORC informa que geralmente os homens usam apenas
10% dos seus poderes mentáis, mas que o uso regular dos
outros 90% é possibilitado pelas normas rosacrucianas; as
grandes verdades descobertas nos séculos passados pelos mais
destemidos pensadores tiveram que ficar ocultas na era das
trevas, mas agora sao trazidas á luz pela Rosa-Cruz. — Antes
de receber a primeira ligáo impressa que a Fratemidade envia
a quem deseje iniciar-se na Ordem, o candidato tem que jurar
«conservar confidencial todo material de estudo, ligóes e dis
cursos a mim enviados». A quem leia e pratique tais ligóés,
á Rosa-Cruz promete que resolverá seus problemas sem difi-

— 106 —
A «ROSA-CRUZ» : QUE É ? 15

culdades, poderá enxergar sem necessidade de olHos, vivera


mil vidas em urna só, viajará para outro mundo sem sair
deste, transformará sua personalidade, investigará o desco-
nhecido e chegará a saber se existe ou nao outra vida após a
morte, se os animáis tém almas, se há reencarnasáo...

Embora os escritos rosacrucianos afirmem que a Rosa-


-Cruz nao é religiáo, que «cada membro pode seguir os dita-
mes da sua própria consciéncia em assuntos religiosos», que
«nos ensinos rosacruzes nao se encontra nada que se oponha
as conviceóes religiosas do individuo», etc., deve-se observar
que na verdade a Rosa-Cruz incute teses que suscitam atitu-
des religiosas e se opóem frontalmente aos conceitos básicos
do Cristianismo:

a) Panteísmo: a Divindade, o universo e o homem se


identificam entre si, constituindo urna só substancia. Tenham-se
em vista textos muito significativos extraídos do «Manual Rosa-
-Cruz» distribuido pela AMORC:

"O homem é Deus e fllho de Deus, e nfio existe outro Deus senSb
o homem" (p. 171).

"Erróneamente tálamos da alma no homem ou da alma do homem,


como se cada ser humano ou cada organismo consciente tivesse dentro
do seu corpo, neste plano terreal, algo separado e distinto que denomi
namos alma; e, portante, em cem seres haverla cem almas. Isto nfio 6
verdade, nSo está corto. NSo existe senSo urna só alma no Universo, a
alma de Deus, a consciéncia vívente e vital de Deus. Dentro de cada
ser vivente há um segmento nfio separado desta alma universal, e este
segmento ó o que constituí a alma do homem. Ela lamáis cessa de ser
parte da alma universal, asslm como a eletricldade em urna serie de lam
padas elétricas de um circulo nao é urna porcáo separada ou desconexa
da corrente que flui por todas as lampadas. A alma que está no homem
é Deus que está nele, o qual faz que toda a humanldade se]a parte de
Deus, limaos e Irmas sob a sua paternldade" (p. 162).

É muito freqüente na linguagem rosacrudana a expres-


sáo «Consciéncia cósmica» ou «Mente cósmica», que a Rosa-
-Cruz assim explica:

"(Consciéncia cósmica) é a conscISncla que irradia de Deus e enche


o espago e todas as coisas. Tem vitalldade, menta, poder construtivo,
Inteligencia Divina. Nesta consciéncia projetam-se as conscldnclas psíqui
cas de todos os Mestres e todos os Adeptos podem harmonlzar-se com
ela. A Consciéncia Cósmica sabe tudo, o passado, o presente e o futuro,
porque ela é tudo" (p. 168s).

— 107 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

b) Reencarnacá©: Segundo a filosofía da Rosa-Cruz em


geral, dá-se a reencarnacáo ou a pluralidade de vidas terres
tres para um só individuo.

Além disto, o «Manual Rosa-Cruz» da AMORC prop3e


descricóes do templo, do altar, do «sanctum» sagrado, das ceri-
mónias é dos ritos c6m oragóes e béngáos..., que dáo aspecto
fortemente religioso as reunióes das Lojas rosacrucianas.
Existe até mesmo urna cerimónia rosa-cruz comparável ao
Batismo: dá-se entáo um nome & manga e os pais prometen
proporcionar a esta urna educacáo «em escolas nao sectarias»
e encaminhá-la para a AMORC, desde que tenha a idade exi
gida (cf. «Manual Rosa-Cruz» p. 184).
Como se vé, este conjunto de doutrinas e ritos assume o
lugar de religiáo em um adepto da Sociedade Rosa-Cruz; é
impossível ser cristáo e, ao mesmo tempo, compartilhar as
idéias e práticas rosacrucianas. '

2.2. Inlclacáo e segredo

Homens e mulheres- podem ingressar na AMORC, caso


seu pedido de ingresso seja aceito pelos dirigentes da Ordem.

A iniciacao se faz geralmente por correspondencia sob


forma de licóes semanais, que o candidato recebe pelo correio
em troca de determinada taxa. Antes de receber a primeira
remessa, deve o candidato assinar a seguinte declaragáo:

"Um dos privilegios da flllagfio á Rosa-Cruz é o receblmento de qua-


tro. monografías, todos os meses, as quais contém os estudos exotéricos
e esotéricos da filosofía Rosa-Cruz. Elas me sSo emprestadas pela Ordem
enquanto me conservar como membro atlvo e, caso delxe, por quaiquer
razfio ou em qualquer época, de manter (lliacSo atlva, compreendo que
essas monografías devem ser devolvidas á Ordem Rosa-Cruz (AMORC).
urna vez que elas sao sua proprledade legal".

Depois de seis semanas de doutrinagáo por corresponden


cia, a pessoa que esteja suficientemente preparada, pode ser
iniciada no Primeiro Grau da Ordem; o ritual respectivo é
realizado na casa mesma do candidato. Seguem-se mais dois
graus, que podem ser galgados em cerca de dez meses, de
modo que dentro de um ano aproximadamente o novo membro
da Ordem atinge os graus preliminares. Depois disto, se o
socio é aprovado, pode receber ulteriores instrugóes no decor-
rer de mais doze graus de iniciacáo, chamados «graus do
— 108 —
A «ROSA-CRUZ» : QUE É ?

Templo», que exigem sempre previo juramento de lealdade e


segredo. As monografías entáo distribuidas versam sobre
cosmología (1* grau), psicología (2' grau), curandeirismo (6*
grau), mística (7« grau), reencarnagáo (8» grau), relagáo do
homem com Deus (9« grau). As linóes dos tres graus supre
mos (10», 11« e 12») sao táo elevadas e conferem poderes tao
extraordinarios que nao podem ser adequadamente expressas
por palavras; por isto sao comunicadas «psíquicamente»; os
que nelas sejam iniciados, vém a ser os «üluminati» (Ilumi
nados) que integram o governo geral da Ordem, diretamente
sob a direcáo do «Imperator» e dos Mestres Cósmicos. Nin-
guém pede admissáo aos graus dos «Iluminados», mas é con
vidado quem se mostra digno.

O segredo é mantido na AMORC sob rigorosa disciplina;


há palavras de passe, toques, sinais e saudacóes diferentes em
cada grau; o ingresso de cada pessoa numa Loja é severa
mente controlado. Antes de assinar o seu nome inteiro no
Livro Negro oficial de determinada Loja, o candidato deve
jurar nos seguintes termos:

"Diante do sinal da cruz prometo por mlnha honra nfio revelar a


nlnauém que nao se|a conhecldo como Frater ou Sóror desta Ordem, os
slnals secretos ou palavras que aprenderel antes, durante ou depols de ter
passado pelo Primeiro Grau".

Embora este juramento obrigue urna vez por todas, existe


um juramento antes da iniciagáo em cada grau subseqüente.

2.3. Finalidade

O próprio «Manual Rosa-Cruz» á p. 27 informa que a


AMORC «é principalmente um movimento humanitario, com
a finalidade de conseguir a maior saúde, felicidade e paz na
vida terrena de todo o género humano.» Acrescenta: «Note-se
particularmente que dizemos na vida terrena de todos os
homens, porque nada temos a fazer com doutrinas consagra
das aos interesses de individuos que vivam nalguma condicáo
futura e desconhecida. O trabalho do rosa-cruz é para ser
feito aquí e agora...»

Mais adiante o texto do Manual se explícita, propondo


como finalidade da Ordem «capacitar a todos, homens e mu-
lheres, a levar vidas puras, normáis e naturais, segundo os
propósitos da Natureza, e desfrutar de todos os privilegios,

— 109 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

dons e beneficios que esta tem reservado para o género hu


mano; e libertá-los das cadeias da superstigáo, das limitagóes
da ignorancia e dos sofrimentos do karma evitáveb.

A base de tal programa da AMORC é o panteísmo ou


monismo professado por essa Sociedade: se a Divindade, o
mundo e o homem sao manifestagóes de urna só e única subs
tancia, entende-se que o homem será feliz se conseguir entrar
em sintonía com os elementos da Natureza que o cerca...
Essa harmonía, a Rosa-Cruz pretende ensiná-la, comunicando
aos seus iniciados programas de higiene e de psicología, assim
como outras normas que ajudam a viver e trabalhar metódi
camente. Tais programas podem ser válidos por motivos cien
tíficos, nao, porém, porque o seu fundamento filosófico (o
panteísmo) seja razoável e aceitável.

3. A Fraternidade Rosa-Cruz de Heindel

3.1. Origem

Max Heindel (f 1919) era um teósofo alemáo que viveu


nos Estados Unidos da América. Estava convicto de que
Christian Rosenkreutz fora o fundador da Fraternidade Rosa-
-Cruz, como ele mesmo professa no seu livro «Concepto Rosa-
cruz del Cosmos» (Buenos Aires 1947), pp. 429s, em que trata
das reencarnagóes de Christian Rosenkreutz:

"O nasclmento de Christian Rosenkreutz como tal * rnarcou o Inicio


de urna nova época de vida espiritual no mundo ocldental. Depols disso
esse Ego particular esteve em continuas existencias físicas em um ou outro
país europeu. Tomava corpo novo sempre que seus sucessivos veículos per-
diam a sua vitalldade ou quando as circunstancias Impunham a mudanca de
campo de suas ativldades. Hoje em día está encarnado, sendo um iniciado
de grau superior, potente e atlvo fator nos assuntos do Ocidente, embora
desconhecldo para o mundo. Trabalhou com os alquimistas durante varios
sáculos, antes do advento da ciencia moderna. Fol ele que, por um interme
diarlo, Insplrou as obras agora mutiladas de Bacon, Jacob Boehme e outros;
estes receberam dele a inspiracio que iluminou suas obras espiritual-
mente. Ñas obras do ¡mortal Goethe e ñas do maestro Wagner, encontramos
a mesma Influencia".

Convicto destas teses, Max Heindel fundou «The Rosi-


crucian Fellowship», com sede central em Oceanside, Califor
nia (U.S.A.).

1 Isto ó, na encarnacSo em que teve este nome.

— 110 —
A <ROSA-CRUZ> : QUE É ? 19

As idéias de Max Heindel multo se aproximan* das do


antroposofista Rudolf Steiner, seu contemporáneo, sendo que
ambos se inspiraram na Doutriaa Secreta de Helena Bla-
vatsky, urna das fundadoras da teosofíax. Heindel procurou
dar as concepcóes que o inspiraram urna índole aparentemente
crista e, por isto, pouco afim á linguagem da mística hinduista.

Vejamos agora algumas das proposigóes de Max Heindel.

3.2. Concep;6es doutrinárias

As teses que Heindel apresenta aos seus discípulos, sao


obscuras; utiiizam vocábulos da astrologia e do Cristianismo,
estes, porém, totalmente esvaziados do seu significado clás-
sico. — Eis alguns espécimens:

Ao se conceber a historia da humanidade, devem-se dis


tinguir sete períodos: o de Saturno, o Solar, o Lunar, o Ter
restre, o de Júpiter, o de Venus e o de Vulcano. — Cada
periodo se subdivide em sete revolugóes; cada revolugáo em
sete globos; cada globo em sete épocas. O género humano já
viveu os períodos de Saturno, o Solar e o Lunar e tres revo-
luíóes e meia do periodo Terrestre. As sete épocas do periodo
terrestre se chamam: Polar, Hiperbórea, Lemúrica, Atlántica,
Aria, Nova Galüéia e Reino de Deus. Vivemos agora na
quinta época do quarto globo da quarta revolugáo do quarto
período, que é a época chamada Aria. Os homens que vive
ram no primeiro período (o de Saturno), chamam-se Senhores
da Mente; os que viveram no periodo Solar, chamam-se Arcan-
jos; os que viveram no período Lunar, chamam-se Anjos. O
maior iniciado do período de Saturno era o Pai; o maior ini
ciado do período Solar era o Senhor Cristo; o maior iniciado
do período Lunar era o Espirito Santo ou Jeová. Jesús foi

i A teosofía (do grego Théoa, Deus, e sophla, sabedoria) é um sistema


filosóftco-religioso de índole pantelsta e ocultista; Insplra-se em teses e
prátlcas das antigás religISes da India e do Tlbé. Fol fundada no sáculo. XIX
por Helena Blavatsky e o Coronel H. Olcott.
Da teosofía derlvou-se a antroposofla (ánthropos = homem). Esta é
urna forma cristianizada de Teosofía, devlda ao pensador alemfio Rudolt
Steiner, que em 1913 se separou da Sociedade Teosólica. Conservou as
tendencias pantetstas e slncretlstas da teosofía, procurando concillar pan
teísmo e Mística crista (o que é Imposslvel).
A propósito veja PR 3/1958, pp. 97-100 (antroposofla) e 17/1959,
pp. 179-185 (teosofía).

— 111 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 183/1975

um grande iniciado no atual período terrestre; no momento


do Batismo encarnou-se nele a natureza angélica do Senhor
Cristo...

No tocante a Deus e á alma humana, M. Heindel professa


aproximadamente os mesmos conceitos que a AMORC, como
se depreende do seguinte texto do mestre:

"A doutrlna rosacruz é que cada alma é parte Integrante de Daua.


Cada qual se esforca por obter experiencias mediante repetidas encarnacdes
em corpos de sempre maior perfeicfio; por conseguinte, morre e nasce mul
tas vezes. Em cada vida ela consegue um pouco mals de experiencia e pro-
grlde asslm paulatinamente da nesciencia a onlscléncla, da (raqueza á onl-
poténcla" (Max Heindel, "Filosolia Rosacruz em Perguntas e Respostas",
resposta á pergunta nf 177).

Como se vé, panteísmo e reencarnacionismo ressaltam


deste texto.

Na base da sua visáo panteísta, Heindel julgava poder


ensinar processos terapéuticos. A Fraternidade Rosa-Cruz por
ele fundada costumava distribuir anualmente a seus socios um
cartáo especial com a indicacáo dos dias mais favoráveis ás
curas. Assim, por exemplo, para o ano de 1957 foi difundida
a seguinte advertencia: "

"Cada semana, quando a Lúa está em um signo cardeal, nos reunimos


com o propósito de gerar por meló de fervorosa oracSo e concentracáo a
tarca curativa, que podo ser canalizada pelos IrmSos Matares e aqueles que
trabalham sob a sua dlrecao, para curar os enfermos e confortar os aflitos.
Que a nossa mais fervorosa gratldáo se eleve até o Grande Médico pelas
curas e béncfios que nos toram concedidas. Ñas datas que se seguem
abalxo, ás 6,30 da tarde, segundo o seu relógio, retire-se a um lugar tran
quilo, cerré os olhos, Imagine mentalmente a Rosa Branca e Pura no centro
do emblema Rosacruz, no muro deste Templo em Oceanslde; concentre-se
com toda a Intensldade de sentlmento de que se|a capaz sobre o Amor Divino
Curativo. Asslm voce podará converter-se em um canal vivo do Poder Cura
tivo Divino, que nos choga dlretamonte da Pal Celestial.

Datas de Curas em 1957:

Janeiro 7-14-20-27 Julho 3-10-17-24-30


Fevereiro 3-10-16-23 Agosto 6-14-21-27
Marco 3-10-16-22-30 Setembro 2-10-17-23-30
Abril 6-12-19-26 Outubro 7-14-21-27
Malo 3-10-16-24-31 Novembro 3-11-17-23
junho 6-13-20-27 Dezembro 1-8-14-21-28".

A Fraternidade recomenda a seus membros sobriedade na


comida, abstinencia de carne, de bebidas alcoólicas, prática de
jejum, meditagáo, etc.

— 112 —
A «ROSA-CRUZ» : QUE £ ? 21

4. FRC e FRA

1. Em 1939 foi apresentada ao Poder Legislativo dos


Estados Unidos e lida em sessáo plenária por ura senador
americano a «Secunda Fama Fraternitatis». Formou-se entáo-
a «Federagáo Universal de Ordens, Fraternidades e Sociedades
de Iniciados», que unia entre si as irmandades «genuínas,
legalmente constituidas e legítimamente existentes» nos Esta
dos Unidos, na Franga, na Bélgica, na Suíga, na Holanda, na
Inglaterra, na Polonia, no México, e em Madagascar.

A essa Federagáo filiaram-se a «Fraternitas Rosae Cru-


cis» (FRC) e a «Fraternitas Rosicruciana Antiqua» (FRA),
também dita «Igreja Gnóstica». A «Secunda Fama Frater
nitatis», atrás mencionada, apresenta urna Declaracáo de Prin
cipios da Federagáo, que, entre outras coisas, reza o seguinte:

"Cremos no Ser Supremo... de quem todos somos partes, e de quem


todo aquele que o deseja e quer, pode participar llvre e abundantemente...
Sustentamos que a Leí atua por InvolucSo e Evolucáo, mediante a Leí da
Reencarnado e do Karma, ou principio de causa e efeito... Situamos nossa
orlgem ñas antlqülssimas Idades dos Mestres Antlgos da Sabedorla e ñas
grandes Escolas ocultas das Idades remotas, e possulmos ensinamentos ori
gináis, verdaderamente esotéricos e ocultos, dos Fllhos da Luz ou Fllhoa
de Deus. A Sagrada Doutrlna e os enslnos das antigás Escolas Esotéricas,
preservados, e a nos entregues na filosofía essenclal, ética e os ensinamentos
da Fraternldade Hermética e da Ordom original da Rosa Áurea e da Cruz
Rosada, sfio declarados como fundamentáis para esta Confederacfio. Abra
camos e reconhecemos todos os credos religiosos sfios e, sem condenar a
nenhum, os reconciliamos a todos".

Seguem-se alguns ítens sob o título «Nosso Credo e Cá


nones Éticos», dos quais podem ser salientados os seguintes:

"8) Concedemos toda a nossa simpatía e estimulo aqueles que cons


cientemente buscam a Pedra Filosofal e o Elixir da Vida e Ihes sugerimos
emulacfio e persistencia, recordando-lhes que, no uso do Solvente Universal
para a pratlca da Arte de TransmutacOes e o conheclmento do Grande Se-
gredo do Poder Crlador-Regeneíadoi, nio há dlficuldades para quem dese-
Jar, e verdaderamente o queira. A estes dlzemos: Experimental I Atrevel-vos
6em desfaleclmonto.

11) Acreditamos que a Chispa Celestial e Inefável da Olvindade reside


na Alma do homem e que o homem é uno com o Todo-Pal-M5e e que, por
consegulnte, as possibilidados de todos os homens e mulheres sao Infi
nitas..."

... Para a gloriosa Era Egipcia, nasceram Oslris e seu Sacerdocio;


para a segunda, Jesús, o Cristo e a Reilgifio Crista com sua Mística; e,
para a tercolra o final desta Tilndade, nasceu a Confederac&o de Iniciados,
hordelros de todas as Idades, iniciadores do presente e do futuro".

— 113 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 183/1975

2. Quanto 'á Igreja Gnóstica em particular, ela pode


ser conhecida através do livro «A Igreja Gnóstica> dá autoría,
do Dr. Arnold Kraumm-Heller, alemáo, que tomou o nome
iniciático de «Huiracocha», tornando-se o «Soberano Comen
dador» dessa «Igreja». O livro é apresentado com os seguin-
tes dizeres:

"Nos, Arceblspos e Bispos da Santa Igreja Gnóstica, reunidos em Con


cillo Plenárlo com a devida autotlzacio do Pat.iarca da Suprema Hlerarquia
da igreja e com pleno poder da Fiaternldade Branca, á qual pertencernos.
enviamos nossa Béngfio Apostólica a todos os Irmloa sem diatlncao de sexo,
castas, ra9a ou cor, desojando que a Roda Evolutiva deste Ciclo de Vida
aceleré o seu passo para que a Fraternidade Universal se faga carne entre
fodos os Fllhos do Pal e o Lógos divino Jaca florescera Rosa bendita da
Espiritualidade sobre a gigantesca C-uz da nossa Térra. Nos, com os poderes
que nos foram conferidos, autoi Izamos o Arceblspo de nossa Santa Igreja.
Frater Huiracocha, para que dé publlcidade a este Mvro no qual <sefazurna
exposicSo doutrinéria sobre o número e o s gnl.lcado de n°ss°3 MJst* os¿
já que chegou o momento em que a P.ImhWa e Vesdadelra Igre4ai Crista
sala ao encontró da Humanldade nesta Era piecedente ao Nasclmento do
Aquárlo".

A seguir, lé-se o seguinte convite:

"Vlnde. pols, bebel desta Fonte. A lg-e¡a Gnóstica nSo é urna Igreja,
mas um novo Ideal Religioso Inventado a propósito dos lempos.^É a Igreja
de Cristo, a que Jesús pregou, o divino Rabbl da Galiléla, com todos os
seus Sagrados Misterios Iniciátlcos. É a Ig-e-a da Redencáo. a Primitiva
Igreja Crlstfi, que sofreu todos os embates do Sectailsmo Católico...

Depois de passar rápidamente em revista as ori^ens e as


idéias das correntes de pensamento compreendidas sob o nome
«Rosa-Cruz», perguntamo-nos:

5. Que pensar a respefto?

Nao há necessidade de longas reflexóes para se definir a


posieáo crista frente ao Rosacrucianismo.

1) As duas idéias básicas desta filosofía — o panteísmo


e o reencarnacionismo — nao se conciliam com a doutrina da
Biblia nem resistem ao crivo da razáo.

Com efeito, o panteísmo é ilógico: Deus (Infinito, Eterno,


Absoluto) nao pode ser identificado com o mundo e o homem
(que sao finitos, contingentes, relativos). Deus é transcen
dente, ou seja, por sua natureza é radicalmente diverso de

— 114 —
A «ROSA-CRUZ» : QUE fi ? 23

qualguer criatura. Verdade é que Ele imprimiu sua imagem


e semelhanga no homem, dando-lhe inteligencia e amor; isto,
porém, nao quer dizer que a alma humana ou a mente do
homem seja parcela de Deus; Deus nao pode ter partes, pois,
cada parte sendo finita, Deus seria finito; o Infinito nao resulta
da soma de partes finitas.

Quanto á tese da reencamacáo, ela nao pode ser demons


trada; a S. Escritura a excluí, propondo-nos como modelo a
imitagáo de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou num
corpo glorioso urna vez por todas.

2) A Rosa-Cruz pode fascinar porque parece correspon


der a sede de maravilhoso e de experiencia mística que todo
homem traz em si. É preciso reconhecer, porém, que, no
decorrer dos sáculos até nossos días, a fantasía e a imaginacáo
muitas vezes preponderaran! sobre o raciocinio e a lógica, em
se tratando de fenómenos maravilhosos e da aquisigáo de pode
res secretos. Tal é o caso da Rosa-Cruz: propóe divulgagóes
imaginosas destituidas de qualquer fundamentagáo racional ou
de documentado histórica adequada. Afirma gratuitamente
coisas que o bom senso nao deveria aceitar sem credenciais sufi
cientes. Quem aceita tais coisas, aceita-as sem ter evidencia
lógica, racional, de que corresponden! á verdade ou de que
merecem crédito; aceita-as em fé cega. Ora a auténtica fé,
embora ultrapasse os exiguos limites da razáo, nao dispensa
o crivo da razáo. Quem se afasta dos parámetros da razáo e
da lógica, sujeita-se a cair nos mais grosseiros erros.

Ver a propósito : ■

Fr. Boaventura Kloppenburg, "O Rosacruclanlsmo no Brasil". Colecáo


"Vozes em Defesa da Fé" n"? 10. Petrópolis 1959.

K. Algermlssen, "Rosenkreuzor", em "Lexlkon fOr Theologlo und Kirche".


Bd. 9. Freiburg i./Br. 1964, cois. 49s.

L. Cristian!, "Rosacroce", em "Enciclopedia Cattolica", t. X Citta del


Vaticano, cois. 1343s.

— 115 —
Honra ao mérito:

alcoólicos anónimos em revista :

Em tíntese: O alcoolismo (ou dependencia de alguém em relacfio ao


élcool) é dos plores llágalos da humanidade; nSo somente afeta o paciente,
mas tambóm o seu lar e os seus fllhos (nao raro sujeUos a calr na crimina*
Ildade). Para combater esse mal, os familiares e amigos do alcoólatra, apll-
cam conselhos e ameacas...; colocam por vezes remódlo ou droga nos
alimentos da pessoa viciada a lim de que esta conceoa náuseas trente ao
élcool; conseguem levar a vltlma ao módico ou ao psiquiatra, proporcionan-
do-lne internacao em clínica e desimoxicaceo... loaavia nenhum desses
recursos é eilcaz se o piópiio paciente nao está dlsposto a colaborar na sua
recuperacáo. Para ajuda-lo a tanto, recomenda-se seja o alcoólatra posto
em contato com algum grupo de Alcoólicos Anónimos (A.A.). Estes sfio
homens e mulneres que, lando conseguioo superar o vicio, se decidem a
traoainar conjuntameme em prol da recuperacao de seus semelhantes subju-
gados pelo álcool. A Sociedade dos Alcooilcos Anónimos está espalhada ana-
vos de noventa países; isenta de colorido político ou religioso, aoie-se a
qualquer alcoólatia desejoso de auxilio moral. Os A.A. publlcam varios llvros
e tolnetos. entre os quals está o impresso Imitulado "Os doze passos"; este
apiesenta doze eiapas pela3 quals o alcoólat.a é encaminhado á plena re-
cuperacao de si mesmo. O programa tem sua conotacáo religiosa, pols os
A.a. reconnecem a necesslaaae da oracao e da g>aga de Deus para libertar
os dependentes do áicool. (Jomo quer que soja, as sugesioes de te em
Deus apresemadas pelos A. a. podem ser eruenaldas em sentido tai que
nao violente a consciencia aos alcooiauas que se ciizum agnObiiuua ou awus.

A Sociedade dos A.A. merece aplausos e dlvulgacáo da parte do


público em geial.

Comentario: O alcoolismo ou a dependencia de numero*


sos cidadáos em relagáo ao álcool tem-se tornado um flagelo
mundial de escala crescente. Muitas vezes as vitimas dessa
dependencia ignoram a gravidade do mal que as acomete.
Quanto aos familiares e amigos, compartilham a desgrasa do
alcoólatra, mas infelizmente pouco entendem do problema e
nao sabem como proceder a fim de livrar o paciente da ruina
física e moral que o acomete cada vez mais. — Em vista das
angustiantes situagóes assim geradas, PR oferece aos seus lei-
tores certos dados informativos que podem contribuir eficaz
mente para a recuperagáo das vitimas do álcool. Esbogaremos
Bucessivamonte o problema do alcoolismo e as possiveis manei-

— 116 —
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4
ALCOÓLICOS ANÓNIMOS EM REVISTA 25

ras de ir-lhe ao encontró; dentre estas, sobressai o contato


com grupos de Alcoólicos Anónimos (A.A.) e o íoteiro de
doze passos para a recuperacáo.

1. Alcoolfsmo: o problema social

1. Por «alcoolismo» entende-se a dependencia de alguém


frente ao álcool; este estado supóe o hábito inveterado de
beber, com as daninhas conseqüéncias físicas e psíquicas que
Ihe estáo anexas.

Pode-se dizer que o abuso do álcool tem sido poderoso


fator de criminalidade no mundo inteiro. Tem abalado nume
rosos lares, prejudicando de modo especial a prole. Afeta, de
múltiplos modos e gravemente, a saúde física e psíquica do
alcoólatra, provocando a decadencia do tipo humano; tem
deformado o caráter moral das pessoas e desencadeado a psi-
cose em individuos predispostos. Note-se também que, me
diante o consumo do álcool, o homem é levado a adquirir
outros hábitos nocivos a si e á sociedade; o alcoólatra é, sim,
propenso a procurar novas fontes de intoxicagáo, como os bar-
bitúricos, as anfetaminas, a cocaína, o opio, a maconha...

2. Desde a mais remota antigüidade apontam-se os efei-


tos nocivos do álcool. Assim a Biblia narra o caso do Patriarca
Noé, embriagado, que seu filho Ci escarneceu (cf. Gen 9,21).
Quatro mil anos antes de Cristo, os egipcios celebravam as fes-
tas do Nilo com o consumo de urna cerveja fermentada dita
trag. Tres mil anos antes da era crista, a vinha e seu produto
eram ocasiáo de tantos males na China que o Imperador Foushi
mandou decapitar o inventor do fabrico do vinho. Entre os
brámanes da india anterior a Cristo usava-se ñas festas reli
giosas urna bebida fermentada que tinha o nome de soma.

Entre os árabes, o vinho, que estava em uso, foi proibido


pelo Alcoráo; dizia Maomé que o vinho e os jogos de azar
eram abominares inventadas por Sata. Nao obstante, o pro-
cesso de distiíagáo da aguárdente deve-se aos árabes, que
deram a esse produto o nome de álcool, isto é, sutil.

Os grcgos aprenderam dos fenicios a vinicultura e tanto


aprego tinham por esta que reivindicavam para si a honra de
ser a patria de Baco. Os abusos foram tais que Dracon insti-
tuiu a pena de morte para os ebrios e proclamou que a defesa
das criangas contra o vicio do álcool era dever patriótico.

— 117 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

Os romanos deixaram-se seduzir pelo álcool, cujo consumo


Ihes foi ensinado pelos gregos, a ponto de provocar a deca
dencia do Imperio Romano.

Depois de Cristo, os mestres e bispos cristáos puseram-se


a enaltecer a sobriedade, despertando a consciéncia dos fiéis
para os efeitos nocivos do álcool. S. Agostinho (t 430), de
modo especial, lamentava, indignado, que as solenidades dos
mártires fossem ocasiáo para orgias alcoólicas. De entáo por
diante, nao cessaram as advertencias dos sabios a respeito dos
perigos do alcoolismo.

Em 1852, Magnus Huss descreveu as mais evidentes


conseqüéncias daninhas do álcool, criando entáo o termo
alcoolismo. Cem anos mais tarde, a Organizacáo Mundial de
Saúde declarou ser a toxicofilia um grave problema de Saúde
Pública: classificou o alcoolismo como a terceira molestia que
mais seres humanos mata no mundo atual. No Brasil o «Có
digo Nacional de Saúde», em seu oapitulo «Normas Gerais
sobre Defesa e Protecáo da Saúde», propóe o alcoolismo como
doenga capaz de comprometer irreversivelmente a pessoa e
causar-lhe danos permanentes.

Se, pois, o alcoólatra é um enfermo, umversalmente reco-


nhecido como tal, deve ser tratado através desta perspectiva
e nao propriamente com medidas judiciárias, que, na maioria
dos casos, nao resolvem, mas agravam o mal. A própria
doenea tira ao alcoólatra a capacidade de dominar-se. Ele
pode, com freqüéncia, desistir de beber; isto lhe dá a crer que
ele nao é alcoólatra. Mas o paciente acaba por vo'tar a beber,
provocado por um hábito que ele nao pode controlar. O pro
blema, para um alcoólatra, nao é parar de beber, mas é nao
voltar a beber.

3. No Brasil contam-se cerca de dois milhóes de pessoas


abaladas em seu sistema nervoso pelo álcool; tém suas crises
periódicas (que tendcm a se tornar cada vez mais freqüentes);
prejudicam cerca de um milháo de cidadáos que convivem
(seja no lar, seja na vida profissiona!, seja na sociedade em
geral) com essas vltimas do álcool; tais enfermos sao geral-
mente incapazes de se reconhecer doentes ou, ao menos, de se
livrar do mal que os afeta.
Dentre treze pessoas que bebem, urna vem a ser afetada
pelo alcoolismo; o «bem-estar» que pequeña dose de álcool
proporciona, pode levar o consumidor a tornar-sa alcoólico
inveterado, totalmente dominado pela bebida.

— 118 —
ALC06UC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 27

2. Alcoolismo : os síntomas

1. Dizem os peritos que é muito difícil diagnosticar o


alcoolismo. Esta seria a única doenga de cujo diagnóstico só
o paciente pode estar certo. Nao adianta tentar a recupera-
cáo de um alcoólatra enguanto ele mesmo nao se convence
de que está subjugado pelo álcool.

E, para que a pessoa possa adquirir certeza a respeito,


recomenda-se-lhe o seguinte:

Nao julgue que a sua solugáo está em tentar parar de


beber por certa temporada; o paciente poderia consegui-lo, mas
é de crer que cedo ou tarde voltaria a beber como antes; a
dependencia nao estaría cancelada; até mesmo os alcoólatras
mais inveterados conseguem abster-se da bebida, as yezes por
períodos consideráveis.

O teste indicado é o seguinte: durante pelo menos tris


meses, tente a pessoa beber urna dose fixa diariamente, nao
ultrapassando tres tipos de bebidas alcoólicas; jamáis aumente
a quantidáde ou a dose estipulada durante o período de teste,
sob pretexto algum (casamentes, herangas inesperadas, mortes
.subitáneas na familia, promogáo no emprego, encontró com
velhos amigos, etc.). Caso o paciente se permita urna só exce-
gáo, terá falhado o teste. Ora, dizem os peritos, o alcoólatra
difícilmente supera tal prova.

2. E quais seriam os sintomas do alcoolismo?


— Distinguem-se tres fases da molestia:

a) Fase inicia! (que pode durar de dez a quinze anos)

A pessoa comega a beber em reunióes sociais, sem a mí


nima intengáo de se viciar. Depois passa a beber habitual-
mente, criando os seus horarios para este fim. A seguir,
bebe descontroladamente, prometendo a si e aos outros: «Da
próxima vez hei de me controlar». Ilude-se dizendo: «Bebo
quando quero e paro quando quero». Comega a mentir, mini
mizando o número de tragos que ingeriu. Bebe antes de ir
para urna festa na qual sabe que haverá bebida. Comega a
sentir necessidade de beber em ocasióes determinadas: antes
das refeigóes,^. após o trabalho, durante um acontecimento
extraordinario (um jogo de futebol, um velorio, urna reuniáo

— 119 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

de negocios...). A pessoa bebe para aliviar o cansago, para


superar seu nervosismo, para combater a depressáo psíquica,
enfim... sob os mais variados pretextos.

Depois de criar o hábito, o paciente experimenta os pri-


meiros «apagamentos» ou instantes de anamnesia em que nao
se lembra dos acontecimentos mais recentes.

Nesta primeira fase do alcoolismo, o paciente comega a


depender do áicool para fazer o que as pessoas normáis fazem
por si. Verifica-se cada vez mais a tendencia a beber em vez
de enfrentar urna situajáo. O alcoólatra freqüentemente reco-
nhece que nao deve beber numa hora ou num lugar determi
nado; todavía nao consegue superar a propensáo a tomar «urna
só»...; depois dessa, já nao há controle. A bebedeira que se
segué, dá-lhe a impressáo de incapacidade, inferioridade ou de
«nao prestar».

b) Fase Intermediaria (que dura aproximadamente cinco


anos)

Continuam a se manifestar, em escala ampliada, os sin-


tomas anteriores. O paciente passa a mentir com freqüéncia
para ocultar seus desmandos, para evitar criticas, para tentar
convencer-se de que domina o áicool, para salvar a sua fama
ou o seu emprego. Vai beber onde nao o conhecem, para que
ninguém o controle. Perde o apetite, e, por conseguinte, come
irregularmente.

O alcoólico bebe por qualquer motivo: em dia de chuva,


para se aquecer; em dia de calor, para se refrescar; ao perder
ou ao ganhar um,grande negocio; em momento aflitivo, para
esquecer... Bebe precisamente quando mais contra-indicado,
como, por exemplo, antes de urna entrevista. Anda constante
mente nervoso, deprimido, culpando os outros pelo seu estado.
Chegando a situagóes duras e quase insustentáveis, para de
beber por semanas, meses ou mesmo anos; todavía, ao melho-
rarem as conduces de saúde, o alcoólatra volta a beber. E,
em breve, está bebendo mais do que nunca.

O alcoólico, nesta fase, experimenta ressacas dolorosas,


acompanhadas de remorso interior, nojo de si mesmo e fortes
tremedeiras. Os «apagamentos» se tornam freqüentes. Pode
acontecer que acorde de manhá tremendo e precise de áicool

— 120 —
ALC06LIC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 29

(ou qualquer outro sedativo) para acalmar-se. Se tomar cal-


mantés ao mesmo tempo que beber, entrará em perigo de
morte, pois essa combinagáo é muitas vezes fatal.

O paciente acha que nao funciona bem sem uns «golezi-


nhos». Contudo, envergonhado, nao permite que lhe falem de
suas bebidas. Quanto mais deprimido se senté interiormente,
mais responde com agressividade e arrogancia. Vítima de soli-
dáo, procura pessoas que, como ele, bebem, pois julga (e com
certa razáo) que sao as únicas que o compreendem.

c) Fase final (que termina na loucura, na morte ou no


desejo sincero de recuperacáo)

A vida do paciente se torna intolerável com a bebida,


mas impossivel sem ela. O alcoólatra entáo bebe para viver
e vive para beber. As bebedeiras aumentam em freqüéncia,
intensidade e duracáo. Quando possivel, é internado em clí
nicas ou sanatorios «para tratar dos ñervos». Mas, ao sair
da cura, desintoxicado, entra no primeiro botequim «para
tomar um trago só», e na mesma noite chega em casa total
mente bébado.

Perde o emprego e nao consegue outro. Passa a depen


der da familia, que nao raro tenta encobrir o caso, evitando
que o alcoólatra sofra as conseqüéncias da sua bebedeira;
assim o infeliz vé menos claramente os motivos para parar e
continua bebendo. Os amigos o abandonam. Torna-se rebelde
e agressivo, principalmente com as pessoas de quom mais
depende. Perde por completo o senso da responsabilidade.

Do ponto de vista psico-físico, o alcoólatra, nesta fase,


senté a necessidade de manter constantemente certa quanti-
dade de álcool no corpo. As ressacas que lhe ocorrem cada
vez que acorda, ele as apaga com mais bebida. Comega a
ouvir sons inexistentes. O colapso físico se aproxima. As tre-
medeiras sao táo violentas que o infeliz nao consegue levar á
boca o primeiro copo do dia com urna só máo. Quase nao se
alimenta mais, nem toma banho.
Senté extrema vergonha e também autocompaixáo. Pensa
constantemente em suicidio, mas nao tem coragem para se
matar. Gostaria de morrer bébado ou inconsciente, sem pas-
sar por dor alguma. É difícil convencé-lo de que poderá vol-
tar a urna vida feliz.
Pergunta-se agora:

— 121 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

3. Como ajucfar um alcoólatra?

Nao há dúvida, familiares e amigos podem ser úteis a um


alcoólatra; além do que (e isto é importante), o próprio
paciente pode e deve ajudar a si mesmo, a fim se livrar da
molestia.

3.1. Parantes e amigos

Os familiares que acompanham o alcoólatra, nao podem


deixar de sentir compaixáo e conceber o desejo de o aliviar.

Antes do mais, dirigem-lhe conselhos, apelos e ameacas,


que vém a ser contraproducentes, pois o alcoólatra costuma
interpretá-los como interferencia em assunto que os outros
nao compreendem. Em reacáo, o infeliz tende a beber mais
ainda.

Nao é raro que os familiares coloquem na sopa ou nos


alimentos de um alcoólatra algum remedio ou droga que lhe
provoque aversáo á bebida (Abstenil, Antabuse, Antieta-
nol...); fazem-no geralmente >sem que o paciente o saiba.
Ora tal comportamento em nada resulta; é mesmo nocivo se
o alcoólatra sofre do coragáo. — Os remedios detal género só
sao eficazes, se o interessado os toma conscientemente, para
fortalecer sua decisáo de parar de beber.

O que os familiares tém de melhor a fazer, consta de dois


ítens:

— procurem encaminhar a pessoa em foco para o con


vivio dos Alcoólicos Anónimos (A.A.), dos quais falaremos
adíante; ""

— entrem em contato com algum grupo familiar de Al-


-Anom. O AI-Anom compóe-se de esposas, maridos, pais,
filhos e amigos de alcoólatras, ou seja, de pessoas que passam
todas pela mesma experiencia de conviver com um alcoólatra.
Tais pessoas se reunem com duas finalidades: 1) trocar expe
riencias e conhecimentos a respeito do alcoolismo; 2) tornar-se
pessoas serenas e equilibradas, praticando programa de vida
espiritual semelhante ao que se propSe aos A.A.

Essas reunióes sao necessárias, dado que o alcoólatra


torna neuróticas ou altamente nervosas todas as pessoas que

— 122 —
ALCOÓUCOS ANÓNIMOS EM REVISTA 31

com ele convivem durante muitos anos. Ora pessoas de ñer


vos fortemente afetados nao estáo em condigóes de ajudar um
doente alcoólatra. O alcoolismo assim indiretamente atinge a
familia inteira; se nao se recuperam todos, é possível que nao
se recupere o alcoólatra.

A experiencia dos grupos familiares de Al-Anom sugere


que jamáis se deve tratar mal um alcoólatra. Antes, reco-
nhega-se que é um doente, cujo comportamento reprovável é
derivado de sua situagáo patológica. Por outro lado, devem
os familiares permitir que o alcoólatra se trate mal; isto quer
dizer: nao deveráo pagar seus cheques sem fundos; sua esposa
nao deverá telefonar ao chefe da empresa para dizer-lhe que
o marido nao irá trabalhar por «estar gripado»; nao deveráo
evitar que perca seu emprego por causa de bebedeiras; nao
devem permitir que viva á custa dos outros. Embora- duros,
estes conselhos visam a acelerar a recuperagáo do alcoólatra,
pois este só conceberá eficazmente o desejo de nao mais beber
no dia em que sentir as conseqtténdas das suas bebedeiras.

3.2. O próprio alcoólatra

Encare o problema com sinceridade; é algo de doentio


mais do que moral. Nao pense em procurar a sos urna solu-
gáo, pois nunca a conseguirá. Eis os principáis subsidios de
solugáo a que pode recorrer:

3.2.1. Tratamento médico

O hábito prolongado de beber provoca a intoxicacáo do


organismo, que exige tratamento de desintoxicagáo. A medi
cina pode realizar esta tarefa em menos de urna semana; os
casos mais graves, porém, requerem internagao mais demo
rada em sanatorio. — A desintoxicagáo ainda nao é a cura
do paciente; mas é de grande valor na preparagáo física e
mental do alcoólatra para que siga um programa de recupe
ragáo direta e sistemática.

3.2.2. Tratamento psiquiátrico

A psiquiatría ajuda a diagnosticar o alcoolismo, diferen-


ciando-o de outra forma de desordem emocional. Ajuda tam-

— 123 —
32 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 183/1975

bém o alcoólatra a reconhecer a necessidade de solucionar o


problema e a decidir qual o caminho de recuperagáo mala
adequado.

Urna vez tendo reconhecido o mal e o perigo que o amea-


cam, o alcoólatra nao tem melhor opcáo do que a de procurar
freqüentar um grupo de Alcoólicos Anónimos (A.A).

3.2.3. Alcoólicos Anónimos

«Alcoólicos Anónimos» é o nome de urna sociedade inter


nacional esparsa por mais de noventa países, cujos membros
sao alcoólicos (e somente alcoólicos); unem-se voluntariamente
a fim de se ajudarem uns aos outros e ajudar aos que
estáo distantes e precisam de conseguir urna sobriedade serena.
Trata-se de homens e mulheres que compartiíham suas expe
riencias, torgas e esperanzas em vista da solucáo de seu grave
problema. ÍEssas pessoas descobriram que por si sao incapa-
zes de controlar o seu hábito de beber; sabem, porém, que
nao o podem entreter, pois arruinariam a si e aos seus; asso-
ciam-se entáo em pequeñas comunidades, que nao estáo vin
culadas a algum credo religioso ou a algum movimento polí
tico ou a alguma instituicáo ou classe social. Os seus mem
bros nao pagam taxas nem mensalidades; os grupos sobrevi-
vem grasas as contribuigóes espontáneas de seus membros. O
único requisito para que alguém se filie a um grupo desse tipo,
é o desejo de deixar de beber.

A.A. nao tem diretoria; ninguém chefía propriamente os


grupos, pois o alcoólatra, no inicio da sua recuperagáo, nao
aceita imposigóes. Existe, porém, urna «comissáo de orienta-
<;áo» para cada grupo, de curto mandato. Chega a 15.000 o
total de grupos de A.A.; mais de 600 desses funcionam em
hospitais e ácima de 800 em instituigóes correcionais.

A.A. nao apoia nem combate alguma causa, nem mesmo


o uso de bebidas alcoólicas, pois reconhece que, para a maioria
dos seus consumidores, elas nao sao nocivas. Ñas reuniSes
informáis de A.A. contam-se experiencias pessoais, que ora
sao dramáticas, ora tristes e humilhantes, ora altamente
engracadas. Os membros de A.A. dispóem-se a atender a
convites de médicos, religiosos, assistentes sociais, diretores de
empresas para expor em particular ou em palestras as suas
experiencias, de modo a servir de auxilio a quem disto pre-

— 124 —
ALOOÓLICOS ANÓNIMOS EM REVISTA 33

dse. Visitam a qualquer hora e em qualquer lugar o alcoóla-


tra que necessite da ajuda de um semelhante sempre que o
próprio alcoólatra solicite essa ajuda.

Os A.A. distribuem vasta bibliografía sobre o alcoolismo e


o respectivo tratamento, podendo os interessados dirigir-se ao
seguinte enderego: Centro de Distribuicáo de Literatura A. A.
para o Brasil, Caixa postal 3180, 01000 Sao Paulo (SP).
Nos Estados Unidos, o endereco é: General Service Office of
A.A., P.O. Box 459, Grand Central Station, New York, N.Y.
10017 (U.S.A.).

É através principalmente dos seus «Doze Passos» que os


A.A. realizam a sua obra de recuperagáo. Eis a razáo do
novo titulo abaixo.

4. «Os Doze Passos»

Sao doze as etapas que, conforme o programa dos A.A.,


um alcoólatra deve percorrer para poder libertar-se da depen
dencia em relacáo ao álcool. Trata-se de atitudes interiores
que suscitam comportamento visível cada vez mais coerente,
como veremos abaixo.

4.1. 19 Passo: "Admitimos incapacldade..."

O enunciado completo deste primeiro passo de quem


queira superar o álcool é o seguinte:

«Admitimos que éramos impotentes perante o álcool,...


que tinhamos perdido o dominio sobre nossas vidas».

Trata-se, pois, de um ponto de partida realista ou de reco-


nhecer a verdade: o álcool subjuga. Quem admite isto, pode
sentir-se humilhado, mas, ao mesmo tempo, constituí urna
base firme para poder levantar-se e reconstruir a sua vida.
Em linguagem figurada, pode-se dizer que o alcoólatra deve,
antes do mais, tocar o fundo do seu poco, por o pé no íntimo
de sua consciéncia e deixar que a verdade ou a realidade de
sua triste situacáo lhe salte aos olhos da mente sem subter
fugio algum.

A consciéncia da incapacidade de se livrar dos grilhóes


do vicio leva a criatura a elevar-se ao Criador. Eis por que
assim se coloca o segundo Passo:

— 125 —
34 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

4.2. 2? Passo: "Um Poder Superior..."

Eis a fórmula completa: «Viemos a acreditar que um Po


der Superior a nos mesmos poderia devolver-nos á sanidade».

Esta proposicáo tende a avivar a fé dos alcoólatras, mas


nao incute especial conceito de Deus; cada qual desperté e
cultive as nogóes de fé que tenha.

Todavía alguém poderá conceber a dúvida: eu, que sou


ateu, terei de admitir a existencia de Deus para ser curado
do alcoolismo?

Respondem os mestres: nao é necessário, no caso, que os


ateus passem a crer em Deus; basta que admitam o movi-
mento dos A.A. como «forga superior». Nesse movimento
encontra-se grande número de pessoas que solucionaram o seu
problema; representam assim urna forga superior ao alcoóla-
tra, que ainda está para resolver a sua situagáo; tais homens,
tendo vencido o alcoolismo, merecem crédito. Pois bem; basta
que um ateu conceba esse crédito ou essa fé; a maioria dos
que assim comegaram, chegou a crer dirétamente em Deus
depois de haver superado a obsessáo alcoólica. O que importa,
para comee,ar, é que o homem se despoje da sua auto-sufi-
ciéncia e com humildade reconhega Deus ou algo que no mo
mento se lhe aprésente como «forga superior».

4.3. 39 Passo: "Entrega da vontade e da vida..."

Eis a íntegra da proposigáo: «Decidimos entregar nossa


vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que
O concebíamos».

Essa proposigáo está intimamente ligada com a anterior, da


qual é conseqüencia lógica. Quem eré em um Poder Superior
ou em Deus, dispóe-se a confiar nele e a pautar a sua vida
pessoal por Ele; trata-se de urna dependencia (em relagáo a
Deus) que assegura a independencia (em rélagáo ao álcool).
Essa disposicáo interior pode ser entretida, principalmente
ñas horas de hesitagáo, mediante a seguinte prece: «Conce-
dei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas
que nao posso modificar; coragem para modificar as que
posso, e sabedoria para distinguir urnas das outras. Seja feita
a vossa vontade, e nao a minha».

— 126 —
ALC06LIC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 35

4.4. 49 Passo: "Minucioso e destemido inventario moral"

Ou seja: «Fizemos minucioso e destemido inventario mo


ral de nos mesmos».

Já os sabios antigos diziam: «Conhece-te a ti mesmo».


Toda criatura tem seus instintos, nao raro cegos e desarrazoa-
dos, que lhe sao causa de ruina moral. Há, pois, toda vanta-
gem em descobri-los e em averiguar as desgrasas que esses
instintos causam ao paciente e a outras pessoas. Note-se que é
espontáneo ao homem atribuir a causa e a culpa de seus males
a outras pessoas. Na medida em que se inocenta, julgando-se
mera vítima, o hqmem foge da tarefa de se corrigir; recorre
mesmo mais intensamente á bebida para «compensar as suas
desgranas». Ora um exame de consciéncia enérgico e sincero
liberta dessa ilusáo e possibilita a recuperagáo do paciente.
Todavía, para que isto se dé realmente, requer-se que a pes-
soa interessada se liberte do Orgulho e do medo.

4.5. 59 Passo: "Admitimos... nossas faltas"

Eis a íntegra desta fórmula: «Admitimos perante Deus,


perante nos mesmos e perante outros seres humanos a natu-
reza exata de nossas faltas».

Trata-se, pois, de reconhecer os próprios defeitos diante


de quem pode ajudar a vencé-los. A confissáo desses males
no circulo dos A.A. suscita um clima de solidariedade, que
brando o isolamento do paciente; pode ser feita apenas a urna
pessoa escolhida a dedo por inspirar o máximo de confianca.
Muitos ateus ou agnósticos alcoólatras declararam que por
ocasiáo do quinto Passo sentiram pela primeira vez a presenca
de Deus.

4.6. 69 Passo: "Delxar que Deus remova os defeitos"

Ou seja: «Prontificamo-nos inteiramente a deixar que


Deus removesse todos esses defeitos de caráter».

Certamente tal disponibilidade é difícil; está sujeita a ser


contraditada pelas incperencias e fraquezas do paciente. To-

— 127 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 183/1975

davia requer-se que este reconstitua sempre o seu propósito


firme de permitir que Deus nele aja; esta constante reafirma-
cáo é penhor de éxito.

4.7. 7? Passo: "Rogamos a Ele que nos llvrasse..."

Ou ainda: «Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse


de nossas imperfeigóes».

A humildade é mais urna vez mencionada nesta proposicáo;


torna-se urna tánica do processo de recuperagáo do alcoólatra.
Quem é humilde, reconhece que depende de outrem para se
libertar da servidáo do álcool, e pede a graga a quem é maior
ou a Deus. O simples fato de pedir a Deus a superagáo do
vicio já é um comego de ressurreigáo; alias, para pedir, nao
é necessário ter títulos ou méritos, mas basta clamar das pro-
fundezas do abismo. A oragáo é o instrumento mais fácil e
mais indispensável que possamos aplicar á solucáo de qualquer
problema. Está claro que ela nao dispensa a a?5o enérgica e
coerente, mas obtém de Deus a eficacia dessa agáo.

4.8. 89 Passo: "Reparar os danos"

A proposicáo completa reza: «Fizemos urna relagáo de


todas as pessoas a quem tinhamos prejudicado e nos dispuse-
mos a reparar os danos a elas causados».

Vé-se que o programa toma agora urna dimensáo social.

Nao é difícil compreender que a intemperanga leve o ebrio


a prejudicar o próximo: mau humor, mentira, egoísmo, pertur-
bagáo do ambiente... sao, entre outros, males decorrentes do
alcoolismo. É para desejar que o alcoólatra procure restaurar
no seu ambiente e nos seus semelhantes os valores violados.
Isto será feito mediante palavras e agóes, segundo as circuns
tancias próprias de cada caso.

Embora o alcoólico possa ter motivos de queixa contra


os seus semelhantes, compete-lhe, sem dúvida, reconhecer e
reparar os males que provoquem as justas queixas alheias.

— 128 —
ALC06LIC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 37

4.9. 99 Passo: "ReparacSo direta"

Com todos os termos dir-se-ia: «Fi2emos reparagóes dire


tas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possivel,
salvo quando fazé-lo significasse prejudicar a elas ou a
outrem».

A pessoa é convidada a passar da disposigáo interior para


a realizacáo prática da reparacáo. Todavía nao é possivel
proceder do mesmo modo em relagáo a todas as pessoas atin
gidas por algum agravo: há aqueles a quem se pode prestar
urna reparacao adeqüada e cabal; há outras pessoas &s quais
apenas se pode oferecer reparagáo parcial, para que revela-
Cóes completas nao causem a elas ou a outrem danos ainda
maiores. Há também casos que exigem o adiamento de qual-
quer intervengáo, e outros nos quais é impossível um contato
pessoal direto do ofensor com a pessoa ofendida.

Em todo e qualquer caso, porém, importa que naja since-


ridade e senso de responsabilidade por parte de quem verifica
ter prejudicado o próximo.

4.10. 10? Passo: "Continuamos o inventarlo..."

A frase completa soa: «Continuamos fazendo o inven-,


tário pessoal e, quando estávamos errados, nos o.admitíamos
prontamente».

Este Passo insiste na revisáo do comportamento da pes


soa que quer progredir no bem: o exame de consciéncia ou o
balancete de vida no fim de cada dia ou a intervalos regulares
é altamente importante para manter um ritmo eficaz de pro-
gresso espiritual.

4.11. 119 Passo: "Prece e meditacao"

Ou ainda: «Procuramos, através da prece e da meditagáo,


melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em
que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua
vontade em relajáo a nos e forgas para realizar essa vontade».

Descortina-se aqui o imenso tesouro da oragáo, extrema


mente útil e válida para quem tem auténtica fé. As pessoas
que nao créem em Deus, ou só pálidamente créem, experi-

— 129 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

mentaráo certo mal-estar diante deste programa do undé


cimo Passo (como, alias, diante de anteriores). Todavía nao
se perturbem; esforcem-se por ser'incondicionalmente sinceras
na procura da verdade e do bem. E chegaráo a melhor com-
preensáo deste Passo 11.

4.12. 12? Passo: "Procuramos transmitir esta


mensagem..."

Em toda a sua extensáo reza o principio: «Tendo expe


rimentado um despertar espiritual, gragas a estes Passos, pro
curamos transmitir esta mensagem aos alcoólatras e praticar
estes principios em todas as nossas atividades».

Este Passo supóe urna certa superagáo do problema por


parte do A.A. e o desejo ardente de colaborar na solugáo de
casos alheios. É comum dizer-se entre os A.As. que nenhuma
salvagáo é mais profunda do que a de um décimo segundo
Passo bem executado.

O itinerario assim descrito nao é mera utopia. Já foi per-


corrido com éxito por numerosas vitimas do álcool, que con-
seguiram recompor sua vida e a vida de seu lar, descobrindo
de novo a felicidade. Como dito, os grupos de A.A. existem
ñas principáis cidades do Brasil, dispostos a servir a seus
semelhantes. Merecem ser louvados e exaltados como bene
méritos nesta hora em que o álcool constituí grave flagelo
social.

Visando a servir, publicamos abaixo os enderecos de Gru


pos de Alcoólicos Anónimos da Zona Sul da cidade do Rio de
Janeiro (RJ):

Intergrupal Zena Sul (Rio de Janeiro)


Caixa postal 12315 — Rio de Janeiro (RJ) ZC-07
Informagóes: Tel.: 257-8543

Reunióes

2as. feiras: Grupo Gloria — Matriz do S. Coragáo de Jesús


Rúa Benjamim Constant — 19 h 30 min

3as feiras: Grupo Copacabana — The Unión Church


Rúa Paula Freitas 99 — 20 h

. _ 130 — ■ j
ALCOÓLICOS ANÓNIMOS EM REVISTA 39

4as. feiras: Grupo IV Centenario — Soc. of Our Lady of


Mercy
Rúa Visconde de Caravelas, 48 — 20 h

5as. feiras: Grupo Ipanema — Faculdade Candido Mendes


Rúa Visconde de Pirajá, 351, 3» andar, Praga
Na. Sra. da Paz — 19 h 30 min
6as. feiras:. Grupo Mourisco — Matriz de S. Joáo Batista
Rúa Voluntarios da Patria, 287 (Fundos) — 20 h
Sábado: Grupo Leme Matriz Na. Sra. do Rosario
Rúa General Ribeiro da Costa, 164 — 19 h 30 min

Bibliografía:

Dentre as brochuras distribuidas pelos A.A., merecern destaque:

"Alcoótlcos Anónimos". SSo Paulo, sem data.


"As Doze Traduces", ídem.
"Os Doze Passos", ídem.
"A.A. 44 Perguntas e Respostas", ídem.
"O alcoolismo e vocé", ídem.
"A.a. — Els o A.A.", ídem.
"Vocé deve procurar o A.A.?", ídem.
"Alcoólicos Anónimos na sua comunldade", ídem.

APÉNDICE

Da vasta bibliografía distribuida pelos Alcoólicos Anóni


mos (A.A.), transcrevemos abaixo interessante questionário,
que bem ilustra o mal do alcoolismo e sugere pistas para a sua
solugáo.

"VOCÉ DEVE PROCURAR O A.A.?"

"Somente vocé poderá determinar se o programa de A.A.


— a maneira de viver de A.A. — tem algum sentido para vocé
e pode ajudá-lo.

É urna decisáo que vocé terá de tomar por sua própria


conta. Ninguém em A.A. poderá fazé-lo por vocé.

Nos, que ho]e somos membros, Ingressamos em A.A. por


que reconhecemos que a bebida se havia convertido em um
problema que nao podíamos controlar sozlnhos. A principio,
muitos de nos nao queríamos admitir que nao conseguíamos

— 131 —
40_ «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

mais beber normalmente. Mas, quando membros veteranos


de A.A. nos contaram que para eles o alcoolismo era urna
doenca que, como a diabete, poderia ser detida, co mesamos
a procurar em nos mesmos os síntomas dessa enfermldade.

Encaramos os fatos referentes a esta doenca em parti


cular, da mesma forma como enfrentaríamos qualquer outro
problema serio de saúde. Demos respostas honestas a per-
guntas realistas sobre a noss? naneira de beber e seus efei-
tos na nossa vida cotidiana.

Eis algumas das perguntas a que tivemos de responder.


Sabemos por experiencia própria que qualquer pessoa que
responder SIM a QUATRO ou mais destas doze perguntas,
tem claras tendencias para o alcoolismo (e poderá já ser um
alcoólatra).

Por que nao tentar, vocé mesmo, responder a estas per


guntas? Lembre-se de que nao há desonra em admitir que
vocé tem um problema de saúde. Se existe realmente um
problema, o importante é solucioná-lo.

1 JA TENTOU PARAR DE BEBER POR UMA Slm Nio


SEMANA (OU MAIS), SEM CONSEGUIR ( ) ( )
ATINGIR SEU OBJETIVO?

Multos de nos "largamos a bebida" mullas vezes antes de procurar


o A.A. Flzemos serias promessas aos nossos familiares e empregadores.
Flzemos juramentos solenes. Nada funclonou até que Ingressamos em A.A.
Agora nSo luíamos mais. Nao prometemos nada a ninguém, nem a nó3
mesmos. Slmplesmente esforcamo-nos para nSo tomar o prlmelro gola
ho|e. Mantéenosnos sobrios um día de cada vez.

2 RESSENTE-SE COM OS CONSELHOS DOS Slm N3o


QUE TENTAM FAZÉ-LO PARAR DE BEBER? ( ) ( )
Multas pessoas Sntam ajudar viciados na bebida. Porém, a maloria
dos alcoólatras ressentem-se com os "bons conselhos" que Ihes dSo.
A A n8o ImpSe esse tipo de conselho a ninguém. Mas, se solicitados,
contaríamos nossa experiencia e daríamos algumas sugestóes prátlcas sobre
como vi ver sem o álcool.

3 JA TENTOU CONTROLAR SUA TENDENCIA Slm Nao


. PARA BEBER DEMAIS, TROCANDO UMA (.).-( )
BEBIDA ALCOÓLICA POR OUTRA?
Sempre procurávamos urna fórmula "salvadora" de beber. Passamoá
das bebidas destiladas para o vlnho e a cerve|a. Ou confiamos na agua

— 132 —
ÁLC06LIC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 41

para "diluir" a bebida. Ou, entfio, tomamos nossos goles sem mlsturá-los.
Tentamos aínda beber somonte em determinadas horas. Porém, fosse qual
fosse a fórmula adotada, Invarlavelmente acabamos embriagados.

4 TOMOU ALGUM TRAGO PELA MANHA Slm N3o


NOS ÚLTIMOS DOZE MESES? ( ) ( )
A maloria de nos estamos convencidos (por experiencia próprla) de
que a resposta a esta pergunta fornece urna chave quase Infallvel sobre
se urna pessoa está, ou nfio, a caminho do alcoollsmo ou já se encontra
no limite da "normalldade" no beber.

5 INVEJA AS PESSOAS QUE PODEM BEBER Slm Nao


SEM CRIAR PROBLEMAS? ( ) ( )

t obvio que milhSes de pessoas podem beber (ás vezes multo) em


seus contatos socials sem causar danos serlos a si mesmos ou a outros.
Vocé parou alguma vez para perguntar-se por que, no seu caso, o álcool
é, tfio freqüentemente, um convite ao desastre?

6 SEU PROBLEMA DE BEBIDA VEM-SE TOR- Sim N3O


NANDO CADA VEZ MAIS SERIO NOS ÚLTI- ( ) ( )
MOS D~OZE MESES?

Todos os (atos médicos conhecldos Indlcam que o alcoollsmo é urna


doenca progressiva. Urna vez que a pessoa perde o controle da bebida,
o problema se torna plor, nunca desaparece. O alcoólatra só tem, no flm,
duas alternativas: (1) beber ató morrer óu ser Internado num manicomio,
ou (2) afastar-se do álcool em todas as suas formas. A escolha ó simples.

7 A BEBIDA JA CRIOU PROBLEMAS NO SEU Sim Nao


LAR? ( )-( )

Muitos de nos dizlamos que bebíamos por causa das sltuacóes desa-
gradávels no lar. Raramente nos ocorrla que problemas deste tipo sao
agravados, em vez de resolvidos, pelo nosso descontrole no beber.

8 ÑAS REUNIOES SOCIAIS ONDE AS BEBÍ- Sim NSo


DAS SAO LIMITADAS, VOCÉ TENTA CON- ( ) ( )
SEGUIR DOSES "EXTRAS"?

Quando tínhamos de participar de reunISes deste tipo, ou nos "fortl-


ficávamos" antes de'chegar, ou conseguíamos geralmente Ir alóm da parte
que nos cabla. E freqüentemente contlnuávamos a beber depols.

— 133 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975 __
9 APESAR DE PROVA EM CONTRARIO, Slm NSo
VOCÉ CONTINUA AFIRMANDO QUE "BEBE ( ) ( )
QUANDO QUER"?
Iludir a si mesmo parece ser próprlo do viciado na bebida. A mate
ria de nos que hoje nos encontramos no A.A. tentamos parar de beber
repetidas vezas sem ajuda de íora. Mas n&o conseguimos.
10 FALTOU AO SERVIQO, DURANTE OS ÜLTI- Slm NSo
MOS DOZE MESES, POR CAUSA DA BE- ( ) ( )
BIDA?
Ouando bebíamos e perdíamos dias de trabalho na oficina ou no
escritorio, freqüentemente procurávamos Justificar nossa "doenca". Apela
mos para varios males para desculpar nossas ausencias. Na verdade, enga-
návamos somonte a nos mesmos.
11 JA EXPERIMENTOU ALGUMA VEZ UM "APA- Slm N3o
GAMENTO" DURANTE UMA BEBEDEIRA? ( ) ( )
Os chamados "apagamentos" (em que continuamos funcionando sem,
contudo, poder lembrar, mals tarde, do que aconteceu) parecen) ser um
denominador comum nos casos de mullos de nos que hoje admitimos ser
alcoólatras. Agora sabemos multo bem quals os problemas que tlvemo9
nesse estado "apagado" e irresponsével.
12 JA PENSOU ALGUMA VEZ QUE PODERIA Sim N3o
APROVEITAR MUITO MAIS A VIDA, SE ( ) ( )
NAO BEBESSE?
A.A., em si, nSo pode resolver todos os seus problemas. No que se
refere, porém, ao atcoollsmo, podemos mostrar-lhe como vlver sem 03
"apagamentos", as ressacas, o remorso ou o desconsoló que acompa-
nham as bebedeiras desenfreadas. Urna vez alcoólatra, sempre alcoólatra.
Portante, nos, em A.A., evitamos o "prlmeiro gole". Quando se faz isto,
a vida se torna mals simples, mals promissora e muitisslmo mals feliz.
TOTAL
QUAL FOI A CONTAGEM?
Qual foi a contagem? Respondeu SIM quatro vezes ou mais? Em
caso positivo, é provável que voce tenha um problema serlo de bebida,
ou poderá te-lo no futuro.
Por que dizemos isto? Somonte porque a experiencia de milhares de
alcoólatras recuperados nos ensinou algumas verdades básicas a respelto
dos síntomas do alcoollsmo — e de nos mesmos.
— 134 —
ALC06UC0S ANÓNIMOS EM REVISTA 43

Vocd ó a única pessoa que poderá dlzer, com certeza, se deve ou


nfto procurar o A.A. Se a resposta for SIM, teremos satisfacio em mos-
trar-lhe como conseguimos parar de beber. Se aínda nSo puder admitir
que vocó tem um problema de bebida, nao faz mal. Apenas sugerimos
que vocé encare sempre a questSo com mentalldade aborta. Se algum
dia precisar de ajuda, teremos satlsfac&o em recebd-lo em nossa frater-
nldade".

«Se o seu caso é BEBER, o problema é seu.


Se o seu caso é PARAR DE BEBER, o problema é nosso.
PRIMEIRA CENTRAL DE SERVICOS DE ALCOOLICOS
ANÓNIMOS
Caixa Postal 15070, Rio de Janeiro (RJ) - ZC-06»

ERRATA

Em PR 181/1975 ocorreram os seguintes erros de relevo,


pelos quais pedimos desculpas:

P. 15, linha 3 de balxo para cima: substltua-se o texto


impresso pelo seguinte: pretenda ter valor universal ou ser
urna mensagem aplicávei.

P. 25, linha 1 de cima para baixo, em vez de sobre,


ieia-se sofrer.

— 135 —
QuestSo de clareza:

e a maneira de citar a biblia ?

Se a Biblia é, como dizem, o maior «best-seller» nos paí


ses ocidentais, compreende-se que seja também citada com fre-
qüéncia nao somente em escritos religiosos, mas também em
trabalhos de índole filosófica, jurídica, moral, literaria...
Todavía as maneiras de a citar sao as mais diversas possiveis;
enquanto algumas ainda obedecem a certos criterios, outras
(e nao poucas) obedecem antes á intuigáo momentánea de
quem éscreve. Daí se origina, em muitos leitores, a dificul-
dade de ler e compreender certas citagóes da Biblia.
Em vista do problema assim esbocado, vamos abaixo pro-
por urna forma assaz funcional de citar os liyros Vblicos,
forma adotada na nova tradus&o brasileira da Biblia que está
atualmente sendo elaborada a partir dos origináis (segundo
as opgóes da chamada «Biblia de Jerusalém»). Sabe-se que
a «Biblia de Jerusalém» («La Sainte Bible traduite en fran-
cais sous la directíon de l'École Biblique de Jerusalém») e
urna traducáo francesa elaborada pela Escola dos Padres Do
minicanos de Jerusalém, que contaram com a colaboracáo de
numerosa equipe de exegetas e literatos. Essa versáo fran
cesa, acompanhada de introdugóes e notas, foi táo bem suce
dida que as suas opcóes, introdugóes e notas serviram de
modelo a tradugáo da Biblia a partir dos origináis para outras
línguas vivas, como o inglés, o alemáo, o espanhol, o italiano.
A tradiráo brasileira está sendo preparada por urna equipe
de especialistas e deverá sair em 1975 (Novo Testamento) e
1976 (Antigo Testamento), aos cuidados das Edigóes Paulinas
(Sao Paulo, SP).
Eis as regras ai adotadas para se citarem os livros
bíblicos:
1) Cada livro é mencionado, sempre que posstvel, pela
consoante inicial do seu titulo e a seguinte, ou seja, pelas con-
soantes que, via de regra, iniciam respectivamente as duas
primeiras silabas do nome. Por exemplo, Génesis = Gn; Le-
vítico = Ly; Números = Nm...
2) Há casos em que esta regra nao se pode aplicar.
Admitem-se entáo as devidas excepcóes, como seriam Ex
(Éxodo), Jó (Jó), Jo (Joáo)...

— 136 —
MANEIRA DE CITAR A BIBLIA 45

3) Há também casos em que a aplicagáo da regra dá


lugar a ambigüidades. Fizeram-se entáo também as neces-
sárias opcóes: Judite = Jt; Judas = Jd; Crónicas = Cr; Co
rintios = Cor.
4) O número que ocorra anteriormente á abreviatura,
precede-a sem intervalo: lCr, 2Cor, lMc (= 1 Macabeus, ao
passo que Me sem número designa Marcos).
5) Nunca se usa(m) ponto(s) depois das abreviaturas.
Portante nao se escreva Me. nem Me: — Qualquer sinal de
pontuacáo ai é inútil; consomé tempo, espaco e energía sem
necessidade.
Na base de tais regras, elaborou-se a seguinte tabela de
abreviaturas:

ANTIGO TESTAMENTO

Génesis = Gn Proverbios Pr
Eclesiastes Ecl
Éxodo = Ex
Levítico — Lv Cántico Ct
Números = Nm Sabedoria Sb
Deuteronómio = Dt Eclesiástico Eclo
Isaías Is
Josué = Js
Jufzes = Jz Jeremías Jr
Rute = Rt LamentacSes Lm
Baruque Br
19 Samuel = 1Sm
29 Samuel = 2Sm Ezequiel Ez
Daniel Dn
19 Reis = 1Rs
Oséias Os
29 Reis = 2Rs
19 Crónicas = 1Cr Joel Jl
Amos : Am
29 Crónicas = 2Cr
Esdras — Esd Abdias Ab
Neemias = Ne Joñas Jn
Miquéias : Mq
Tobías = Tb
Naum : Na
Judite = Jt
Ester — Est Hab?cuque : Hab
19 Macabeus = 1Mc Sofonias : Sf
29 Macabeus = 2Mc Aqeu : Ag
Jó .= Jó Zacarías : ZC
Salmos = SI Malaquias : MI

NOVO TESTAMENTO
JoSo Jo
Mateus = Mt
Atos dos Apostólos At
Marcos = Me
Romanos Rm
Lucas = Le

137
45 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975 _-%

Gálatas = Gl Filémon = Fm
Efésios = Ef Hebreus = Hb
Filipenses = Fl Tlago * = Tg
1? Corfntios = 1Cor 1? Pedro = 1Pd
29 Corfntios = 2Cor 2? Pedro = 2Pd
Colossenses = Cl 1? Joáo = Uo
1? Tessalontcenses = 1Ts 2? Joáo = 2Jo
2? Tessalonlcenses = 2Ts 3? Joáo = 3Jo
1? Timoteo = 1Tm Judas = Jd
2? Timoteo = 2Tm Apocalipse = Ap
Tito = Tt

6) Quanto aos capítulos dos livros bíblicos, sao indicados


por números árabes e nunca por romanos (que no caso nSo
sao funcionáis). Portante Is 38, e nao Is XXXVHL
7) Para separar capítulo de versículos, usa-se a virgula:
bS8,2.
Para separar capitulo de capitulo, usa-se ponto e vírgula:
Is 38; 40; 56.
Para separar versículos entre si, usa-se o ponto: Is 38,
2.5.10.
O hífen separa tanto versículos como capítulos, inclulndo
na dtacáo os versículos e capítulos intermediarios. Portante,
Is 38, 10-12; Mt 4, 1-11; Le 5-7; ICor 1-4...
8) Um s após um número indica a unidade imediata-
mente seguinte. Quando se quer indicar mais de urna uni
dade, nao se usa ss (ambiguo!), mas colocam-se explícitamente;
os números intencionados, para evitar ambigüedades. Assim
Mt 10, 12s, mas Mt 10, 12-14 ou Mt 10, 12-15.
9) As letras a, b, c colocadas após o número de um
versículo designam respectivamente a prlmeira, a segundaba
terceira parte desse versículo (supondo-se que a pontuagáo
desse versículo sugira a distincáo em partes). — Assim em
At 26,1 há evidentemente duas partes separadas por um ponto.
O mesmo ocorre em At 26,7; Jo 13,26; Le 1,41...
A abreviatura Jo 1,1-2,4. 7-9. 12 lé-se do seguinte modo:
Evangelho segundo Sao Joáo capítulo 1, versículo 1 até cap. 2,
vers. 4; pulam-se os versos 5 e 6 para continuar nos versí
culos 7,8 e 9; acrescenta-se aínda o versículo 12.
Doravante em PR seguiremos a tabela de abreviaturas
atrás apresentada.

_ 138 —
Em pouces pdavras:

por que páscoa nao tem data fixa ?

Todos os anos, ao se aproximar a Semana Santa, levan-


ta-se aquí ou acola a pergunta referente 'á mobilidade da data
de Páscoa e, conseqüentemente, do Carnaval, da quarta-feira
de Cinzas, de Pentecostés (que se celebra cinqüenta días após
Páscoa). Pelo fato de ser a maior festa do Cristianismo, Pás-
coa nao deveria ter data fixa, como Natal tem a sua data
fixa?

A pergunta assim formulada responderemos, propondo


primeiramente algumas notas sobre a Páscoa judaica, pois a
Páscoa dos cristáos segué fundamentalmente o calendario da
Páscoa dos judeus.

1. A Páscoa de Israel

Mandava a Lei de Moisés que todos os anos os judeus cele-


brassem a sua Páscoa a 14 de Abib (mais tarde, Nisá), que
era o primeiro mes do ano (supondo-se que o ano comecasse
com a primavera); Abib ou Nisá correspondía, pois, a marco-
-abril. O 14» dia era o da Lúa cheia. Nessa data, os israe
litas imolavam o cordeiro pascal á tardinha, e o comiam após
o por do sol. Já que os judeus contavam os dias de ocaso a
ocaso, com o ocaso comecava novo dia; era, pois, ñas pri-
meiras horas de 15 de Nisá que os filhos de Israel consumiam
o cordeiro pascal.

No dia 15 de NisS comecava também a festa dos Ázimos,


que durava sete dias; nessa ocasiáo nao devia ficar ñas casas
parcela alguma de pao levedado e de fermento.

Tenham-se em vista, entre outros, os seguintes textos da


Leí:

"No primeiro mes, no décimo quarto día, pela tarde ofereeerels a


Páscoa ao Senhor. E no día décimo quinto desso mes terú lugar a festa
dos Azlmo9 em honra do Senhor; durante sote días comercia ázimos.
O primeiro dia será para v6s de santa convocasáo. NSo Jareis nonhum
trabalho servil. Ofereeerels ao Senhor um sacrificio pelo fogo durante
sete dias seguidos. No sétimo dia havera convocado santa. Nao tárela
nenhum trabalho servil" (Lv 23, 6-6).

— 139 —
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 183/1975

"No mes de Abib cuida da celebrar a Páscoa em honra do Senhor


teu Deus, porque (ol no mes de Ablb que o Senhor teu Deus te fez salí
do Egito durante a noite" (Dt 16, 1).

Examinando com atencáo as passagens bíblicas concer-


nentes á Páscoa judaica, os críticos deseobrem nesta celebra-
gáo vestigios de diversas tradigóes dos povos semitas em geral
(festas pastoris e festas agrícolas), cujos símbolos se entre-
lagam no cerimonial da Páscoa de Israel. Essas tradicóes
assumidas pelo povo de Abraáo serviram de moldura e de
ritual para que os judeus celebrassem um acontecimento típico
da sua historia, acontecimento que lhes lembrava o seu pas-
sado (a servidáo no Egito e a respectiva libertacáo) e lhes
evocava o futuro (a plena libertagáo da servidáo do pecado,
que se daría com a vinda do Messias).

A vinculacáo de Páscoa a acontecimentos da vida de um


povo agrícola explica que a data da sua celebracáo depen-
desse do curso da Lúa (que, para os agricultores antigos
tinha grande importancia).

Vejamos agora a maneira como os cristáos herdaram a


tradicáo pasca! judaica.

2. A Páscoa idos cristáos

1. Jesús Cristo, na sua última ceia, observou o ritual


de Páscoa dos judeus, dando-lhe, porém, um conteúdo novo.
Cristo mesmo seria o Cordeiro cujo sangue derramado selaria
a nova e definitiva Alianca de Deus com os homens. Assim a
Páscoa judaica se consumou na Páscoa de Cristo e dos cris
táos. E dos cristáos..., sim, pois o Senhor Jesús mandou
que seus discípulos contínuassem a celebrar a Páscoa, fazendo
o que Ele fizera na última ceia (cf. Le 22,19; ICor ll,24s).

Por conseguinte, a data da Páscoa crista, desde os pri


mordios da Igreja, foi sendo estipulada segundo os criterios
do texto bíblico. Em linguagem moderna, dir-se-ia:... em
funcáo da primeira Lúa cheia depois do equinóxio da pri
mavera (no hemisferio Norte), ou seja, depois de 22 de
marco. Em Roma, porém, no resto do Ocidente, como tam-
bém em numerosas regióes orientáis, os cristáos houveram por
bem deslocar a Páscoa para o domingo que se seguisse ime-
diatamente a 14 de Nisá ou a primeira Lúa cheia da prima
vera. A razáo disto é que Cristo ressuscitou no domingo,

— 140 —
tendo morrido na sexta-feira e passado o sábado no sepulcro.
O domingo é, pois, o dia, por excelencia, do Senhor, ao passo
que 14 de Nisá se tornou propriamente o dia da imolagáo do
Cristo. Estes dados explicam que a festa de Páscoa no calen
dario cristáo possa ocorrer dentro do período que vai de 22
de margo a 25 de abril.

2 Na Igreja antiga, porém, registrou-se uma contro


versia a respeito da data de Páscoa. Com efeito, na Asia
proconsular ou Asia Menor, os fiéis nos séc. I e II celebra-
vam Páscoa precisamente a 14 de Nisá, ou seja, na Lúa cheia,
independentemente do dia da semana em que caisse. Essa
praxe foi chamada quartodecimanismo. Tinha sua justifica
tiva no fato de que a morte de Cristo já foi o inicio da Vitoria
sobre o pecado e a morte; o misterio de Páscoa contém tanto
a realidade do Calvario como a do sepulcro vazio. Todavia a
praxe singular dos fiéis da Asia Menor causava mal-estar entre
os cristáos de outras regióes, pois patenteava divisáo (embora
acidental) em torno de uma celebragáo muito cara á S. Igreja.
Ocorreram tentativas de chegar a entendimento entre
ocidentais e orientáis. O bispo S. Policarpo de Esmirna, ja
anciáo, foi a Roma para tratar do assunto com o Papa Ani
ceto por volta de 155; nao houve, porém, acordó; mas tam-
bém nao se deu ruptura da comunháo fraterna. O Papa Vítor
(189-198) pouco depois fomentou a realizado de Sínodos
tanto no Oriente como no Ocidente para estudar a questáo; o
litigio entáo se agravou, pois esses Concilios locáis condena-
ram o costume dos cristáos da Asia Menor. Estes, dirigidos
por Polícrates, bispo de Éfeso, ficavam fiéis ao quartodecima
nismo O Papa Vítor chegou a excomungá-los; todavia a me-
diagáo do bispo S. Ireneu de Liáo obteve a paz para a Igreja
e a reconciliacáo dos excomungados. No decurso do séc. II os
fiéis da Asia,'com poucas excegóes, foram abandonando a sua
praxe particular. Por ocasiáo do Concilio de Nicéia (325),
as igrejas da Asia Menor foram enumeradas entre aquelas que
celebravam a Páscoa «no tempo certo», ou seja, no domingo.

Vé-se, pois, que a mobilidade da festa de Páscoa se deve


a razóes bíblicas; merece ser respeitada, pois pertence ás notas
mais antigás da celebragáo, constituindo um elo dos cristáos
com a tradigáo judaica. Todavia a Igreja Católica nao recusa
ría a fixagáo da festa de Páscoa, se o calendario universal
viesse a ser reformado.

3 Quanto ao Natal, deve-se dizer que nos é desconhe-


cida a data exata em que Jesús Cristo nasceu; os Evangelhos
nada referem que insinué algo de satisfatório a tal resP|ito.
A celebracáo de táo magno acontecimento foi fixada a 25 de
dezembro por motivo contingente. Com efeito, o día 25 de
dezembro, assinalando o solsticio do invernó, era festejado
pelos romanos como dia do nascimento do Deus Sol (Natalis
Solis Invicti), ao qual os cidadáos do Imperio prestavam culto
férvido desdé o Imperador Aureliano (270-275). Frovavel-
mente os bispos, desejosos de desviar do paganismo as popu-
lacóes de seus territorios, julgaram oportuno «cnstianiza» o
dia festivo de 25 de dezembro, apresentando entao, emi lugar
do Deus Sol, o Senhor Jesús, que é o verdadeiro Sol deJus-
tica a brilhar sobre os homens. Pode-se dizer que a celebragao
do Natal a 25 de dezembro comecou na primeira metade do
séCl W' Estévao Bettencourt O.S.B.

QUEM É JESÚS CRISTO PARA VOCÉ?

«EM MIM, HÁ COMO QUE DUAS IMAGENS DUAS


PRESENQAS DE JESÚS CRISTO. A QUE ME VEM DA IN-
FÁNcTa E, EM PARTICULAR, DA MINHA PRIMEIRA COMU-
NHÁO- ESTA FOI UM ENCONTRÓ ÍNTIMO, DO QUAL ME
LEMBRAREI SEMPRE. E JESÚS CRISTO FOI COMO QUE A
CONSCIÉNCIA DA MINHA CONSCIÉNCIA.
DEPOIS CHEGADO A IDADE CRÍTICA, EM QUE A
PRIMEIRA IMAGEM ERA GESTIONADA ESTUDEI MUITO,
PROCURANDO OS MESTRES, TANTO OS DA SOMBRA
WENAN LOISY, COUCHOUD) COMO OS DA LUZ (POUGEL

S
JESÚS.
ASSIM NO OCASO DA MINHA VIDA A

TEZA.»
ÜEAN GUITTON, DA ACADEMIA FRANCESA)

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