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Não é à toa que as administrações das usinas seguem tranqüilas e continuam sem
fornecer direitos básicos aos cortadores contratados, tais como os exigidos pela Lei que
as obriga a direcionar 2% de seu faturamento para a capacitação dos boias-frias, um dos
principais instrumentos de formação que visam mitigar a falta de opção destes quando
ficam desempregados ou por que, após apenas 12 safras, ficam fisicamente imprestaveis
para qualquer outra atividade ou por que são alijados das usinas em função da
mecanização, que avança dia a dia
A sociedade civil organizada não pode mais continuar dando as costas e fingindo não
saber o que se passa dentro da maior parte das grandes usinas do setor sucro alcooleiro.
Os abusos são de diversas formas e constantes. Os azarados bóias-frias são
pressionados a produzir um mínimo de 15 toneladas diárias, pois do contrario podem ser
demitidos; são levianamente roubados em complexas "metodologias" de contagem; tudo
que a usina lhes fornece é integralmente descontado em seus suados ganhos. Desde a
comida, passando pelos instrumentos de trabalho, que são totalmente inadequados e
obsoletos, machucando as mãos e pes ate sangrar. Tudo é cobrado pelas usinas, até o
transporte que os leva às plantações e os alojamentos que muitas vezes não passam de
tendas de lona, sem qualquer condição de higiene básica. Muitos ficam doentes e só tem
o INSS para tratá-los e se param por mais de dois dias, são sumariamente demitidos.
Todas semana ouvimos relatos de pelo menos uma morte por semana causada por
excesso de trabalho dos cortadores de cana.
Nosso digno presidente tem realmente muita sorte por não precisar mais se empregar
como um boia-fria "contratado" em usina de cana de açucar, mas o mínimo que ele
poderia fazer alem de observar um pouco mais as consequencias de suas infelizes
palavras seria aumentar a atuação das equipes volantes de fiscalização do ministerio do
trabalho para que as leis trabalhistas basicas sejam pelo menos cumpridas e estes
coitados não se tornem os novos escravos modernos travestidos de trabalhadores rurais
na nova era do ciclo da cana e agora, do etanol.
[O Globo] BRASÍLIA. Quatro dias depois de dizer que o trabalho nas minas de carvão é
tão ou mais degradante que a atividade nos canaviais, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva voltou ao assunto ontem, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social (CDES). Lula utilizou um exemplo do qual havia se valido na
Espanha, na segunda-feira, para se contrapor aos críticos.
Agora, as pessoas só vão cortar cana porque não tiveram oportunidade de estudar ou
não têm um emprego melhor - afirmou.
O presidente defendeu mais uma vez o programa de biodiesel brasileiro e criticou, sem
citar nomes, países que atacam a produção de etanol do Brasil por causa da exploração
da mão-de-obra nos canaviais.
Etanol brasileiro será alvo de ataques, afirma Lula Apesar de concordar que o trabalho
nos canaviais é estafante e degradante, Lula comparou mais uma vez o serviço com a
atividade nas minas de carvão, matriz energética utilizada em alguns países europeus e
asiáticos.
- Eu preferia trabalhar a vida inteira no corte de cana do que trabalhar numa mina de
carvão.
De acordo com Schneider, no mês que vem o Brasil alcançará a marca de 4 milhões de
veículos flex. A perspectiva é que, em 2013, essa frota atinja 15 milhões de carros.
- Temos certeza que o biocombustível é uma solução ambiental, econômica e social para
o país - afirmou.
Para que a matéria não fique incompreensível por falta de contexto, abaixo publicamos
matéria do O Globo sobre as citadas declarações na Espanha:
DO CARVÃO À CANA, A POLÊMICA DA EXPLORAÇÃO
[O Globo, 19/09/2007] SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou
nova polêmica ao defender segundafeira, em Madri, o etanol brasileiro, seu tema
predileto nas recentes viagens internacionais.
Para Romano, quem ouviu a resposta de Lula continuou em dúvida sobre as condições
de trabalho nos canaviais do país: - Ele simplesmente respondeu retoricamente, como é
de seu costume. Trata-se de pensamento abstrato no pior sentido da palavra.
Em defesa do presidente, o consultor sindical João Guilherme Vargas Neto disse que a
declaração foi pertinente e não teve a intenção de esconder problemas nas usinas.
Segundo ele, o processo de mecanização no campo é a melhor resposta, desde que o
governo adote políticas para aproveitar a mão-dedeobra que deixará os canaviais.
Segundo ele, a mecanização já alcança 66% da área plantada de cana em São Paulo,
índice que chega a 80% no Centro-Oeste - nas regiões que concentram a produção de
cana no país: - É como numa guerra: é preciso produzir o etanol e, para isso, tem de se
lutar para melhorar as condições de trabalho.Isso está sendo feito.
O debate sobre o trabalho nas minas de carvão não se limita à academia. A literatura
dita social guarda centenas de páginas sobre o tema. Um desses exemplos é "Germinal",
considerada a obra máxima do escritor francês Émile Zola (1840-1902), que descreve a
vida de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França, durante o
auge da Revolução Industrial.
Para escrever o livro, Zola trabalhou dois meses na extração de carvão. Conheceu o
problema do calor e da umidade dentro da mina, o trabalho insano necessário para
escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Em protesto
contra essas condições, os mineiros chegaram a organizar uma greve geral, reprimida
pelo governo local.
O Brasil, de seu lado, hoje é o maior produtor de cana do mundo, seguido por Índia e
Austrália.Essa fartura, porém, ainda convive com denúncias de trabalho precário no
campo.
Não acredito que ele pense isso, mas que respondeu assim sob pressão. Foi realmente
uma reação infeliz.
ara tentar melhorar as condições de trabalho, o governo estabeleceu em 2005 garantias
mínimas de saúde e segurança nos canaviais, como tempo para descanso e alimentação,
água fresca e sombra. Em 2006, o MP e o Ministério do Trabalho fiscalizaram 89 usinas
do interior paulista, e nenhuma atendia a todas determinações. A fiscalização neste ano
foi antecipada para março, no período de plantio. O objetivo é fiscalizar até dezembro
mais de cem usinas.