You are on page 1of 10

1

Vulgarmente, confunde-se luxação com entorse. A entorse corresponde à rotura de


ligamentos ao contrário da luxação que ocorre quando há um deslocamento
repentino e duradouro das extremidades ósseas de uma articulação, uma em relação
à outra. A luxação é um pouco mais grave que uma entorse e geralmente as entorses
estão presentes aquando das luxações. Surge quando uma força actua na articulação,
empurrando um dos ossos para uma posição anormal.
Normalmente é acompanhada por uma dor intensa, aumento de volume,
alongamento e encurtamento, deformidade e impotência funcional por vezes
associada a fractura. É necessária a recolocação da articulação no local e eventual
tratamento fisioterapêutico posterior.

2
Algumas articulações são particularmente susceptíveis a sofrer luxações sobretudo
devido à falta de suporte dos ligamentos, à forma da superfície articular e à falta de
suporte muscular adequado.
As luxações mais comuns são: do pulso, do cotovelo, do tornozelo, do ombro, do
joelho e a da articulação temporomandibular.
No entanto debruçarmo-nos-emos especificamente sobre a luxação do tornozelo.

3
Em relação a este tipo de problema, os ossos envolvidos são: a tíbia, o perónio, o
astrágalo e o calcâneo, que podem sofrer deslocamento uns em relação aos outros.
A tíbia está localizada no plano anterolateral da perna, articulando-se proximalmente
com o fémur e o perónio e distalmente com o perónio e o astrágalo.
A zona distal da tíbia é composta pelo maléolo medial, pela superfície articular do
maléolo – face lateral do maléolo medial voltada para o astrágalo –, superfície
articular inferior – superfície de articulação localizada de frente para o astrágalo –,
incisura fibular – depressão na superfície lateral da extremidade distal que articula
com o perónio – e pelo sulco maleolar – onde passa o tendão do músculo tibial
posterior.
O perónio situa-se posterolateralmente à tíbia. Enquanto que a tíbia suporta o peso
do corpo, este serve para a fixação dos músculos. Articula-se com a tíbia e com o
astrágalo.
Apresenta distalmente o maléolo lateral, a superfície articular do maléolo e a fossa
maleolar lateral – depressão que fixa o ligamento talofibular posterior.

4
A força que actua para o surgimento de uma luxação afecta ou a articulação astrágalo-crural
ou a sub-talar.
No astrágalo podemos encontrar em vista lateral: na face anterior está a cabeça do osso e a
superfície articular com o navicular; no corpo do osso estão localizados a face articular com a
extremidade distal da tíbia e a superfície articular com o maléolo medial; na face posterior
encontra-se o sulco para a inserção do músculo flexor longo do hálux e os tubérculos medial
e lateral do astrágalo.
Em vista inferior temos: na parte posterior de novo o sulco para a inserção do músculo flexor
longo do hálux e a superfície calcaneal posterior; na parte intermédia podemos observar o
colo do astrágalo e a superfície calcaneal média; na parte anterior existe a superfície
calcaneal anterior e superfície articular com o navicular.
Quanto ao calcâneo, em vista superior: na parte posterior temos a parte medial da superfície
posterior onde se insere o tendão calcaneal e a parte superior da superfície posterior; na
zona intermédia tem a superfície articular com a parte posterior do astrágalo e na parte
medial o sustentáculo do astrágalo, o sulco calcaneal e a superfície articular com a parte
intermédia do astrágalo; na zona anterior existe a superfície articular com a parte anterior do
astrágalo.
Em vista inferior: na parte posterior temos a tuberosidade calcaneal ou parte inferior da
superfície posterior, as apófises lateral e medial nas faces lateral e medial respectivamente e
a chanfradura ao centro; na parte anterior estão localizados o tubérculo calcaneal, o sulco
para inserção do tendão do músculo flexor longo do hálux e a superfície articular com o osso
cuboide.
Na vista lateral podemos observar: na parte intermédia a ligação com a parte
calcaneoperoneal do ligamento lateral colateral da articulação do tornozelo, a tróclea
peroneal, a superfície articular com a parte posterior do astrágalo e o sulco calcaneal; na
parte anterior as superfícies articulares com as partes anterior e média do astrágalo.
Estes ossos estão articulados entre si e este conjunto quando articula com a extremidade
distal da tíbia e do perónio forma então a articulação talocrural (astrágalocrural) ou
articulação do tornozelo.

5
Existem inúmeras articulações no tornozelo, mas apenas três apresentam um papel importante na
função biomecânica, são elas: A articulação astrágalo-crural, a subtalar e tíbioperonial distal.
A articulação tíbioperonial distal encontra-se proximalmente à articulação do tornozelo, na porção
distal do perónio e da tíbia, sendo uma importante articulação.
Das três articulações referidas as mais afectadas em caso de luxação no tornozelo são a astrágalo-
crural e subtalar, desse modo a sua morfologia, será de seguida, mais aprofundada.
A articulação astrágalo-crural é formada quando a extremidade distal da tíbia e o seu maléolo medial
se articulam com o astrágalo, e o maléolo lateral do perónio articula-se com o astrágalo.
A articulação subtalar estabelece ligação entre o astrágalo e o calcâneo.
Como articulações sinuviais que são, estas encontram-se revestidas por uma cápsula articular
composta por tecido denso regular. Cada cápsula contém um líquido sinovial lubrificante contido no
interior da cavidade articular. Este líquido é secretado por uma membrana sinovial fina que reveste a
cápsula articular por dentro, é rico em ácido hialurónico e albumina, contendo também células
fagocíticas que limpam os resíduos de tecidos que resultam do desgaste das cartilagens articulares
(camada fina de cartilagem hialina que reveste os ossos que se articulam numa articulação sinovial).
Este tipo de articulações é auxiliado por ligamentos, sendo estes constituídos por tecido conjuntivo
denso regular formando cordões flexíveis que conectam com os ossos que se articulam, dando-lhes
suporte. Estes ligamentos tanto podem estar localizados dentro da cavidade articular como no lado de
fora da cápsula.
Na articulação astrágalo-crural, a cápsula articular envolve as articulações dos três ossos, e quatro
ligamentos sustentam a articulação do tornozelo do lado externo da cápsula: O forte ligamento
deltóide (5) que se liga à tíbia, e o ligamento colateral lateral constituído pelo ligamento
astrágaloperonial anterior (2), o ligamento astrágaloperonial posterior (1) e o ligamento
calcaneoperonial (3) que está associado com o perónio.
No caso da articulação subtalar, os ligamentos que a sustentam são o ligamento astrágalocalcaneano
medial (6), o ligamento astrágalocalcaneano posterior (7) e o ligamento astrágalocalcaneano lateral (4)
(ligamento que une a tróclea do astrágalo à parte lateral do calcâneo).
As articulações sinoviais são classificadas em 6 categorias principais, tendo por base as suas estruturas
e os movimentos que permitem. As seis categorias são: plana, gínglimo ou dobradiça (trocleartrose),
pivô (trocartrose), elíptica (condilartrose), em sela (epifiartrose) e em esfera (enartrose).

6
No caso específico das duas articulações que se estão abordar, estas são classificadas
em articulações gínglimo, tipo mais comum das articulações sinoviais. Este tipo de
articulação caracteriza-se por ser monoaxial (tal como a dobradiça de uma porta)
permitindo apenas movimentos num único plano. A superfície de um osso é sempre
côncava e a outra convexa (Nota: Não confundir com articulação esferóide, neste
caso são formadas pela articulação de uma superfície convexa arredondada de um
osso com uma cavidade em forma de cálice e outro osso, sendo uma articulação
multiaxial).

7
Sendo a articulação do tornozelo (astrágalo- crural) uma articulação Monoaxial, pois
nesta articulação o movimento ocorre apenas num eixo, os tipos de movimento
envolvidos são:
Dorsiflexão- movimento no qual o dorso do pé é voltado para a cabeça. Os músculos
envolvidos neste movimento são o tibial anterior e o extensor longo dos dedos. A
amplitude de movimento é de 0 - 20º.
Flexão Plantar - movimento pelo qual a planta do pé é voltada para o chão. Os
músculos envolvidos neste movimento são o gastrocnémio e o sóleo e a amplitude
de movimento é de 0 - 50º.
Qualquer uma das amplitudes de movimento podem ser variáveis quando
submetidas a factores como treino físico de flexibilidade.
A articulação subtalar contribui muito pouco neste tipo de movimento.

8
Como os termos usados para descrever movimentos generalizados à volta de eixos não se
aplicam para movimentos em certas articulações e zonas do corpo, outros termos terão de
ser obrigatoriamente utilizados. É o exemplo dos movimentos de eversão e inversão do pé
Eversão - movimento no qual se vira a planta do pé para a parte lateral da perna. Os
músculos envolvidos são o extensor longo dos dedos e os fibulares longo e curto.
Inversão - movimento no qual se vira a planta do pé para a perna ou medialmente. Os
músculos envolvidos são o tibial anterior e posterior.
Neste caso é a articulação subtalar que trabalha maioritariamente para que este tipo de
movimento aconteça.
O tornozelo é a articulação principal mais frequentemente lesada no corpo.
Uma luxação do tornozelo é quase sempre uma lesão em inversão, que envolve a torção do
pé que sustenta o peso. A pessoa pisa uma superfície irregular e o pé é energicamente
invertido. Podem então ocorrer distensões do ligamento colateral lateral que é comum em
desportos em que é frequente saltar e correr e isto acontece porque o ligamento colateral
lateral é muito mais fraco que o ligamento colateral medial, muitas fibras do ligamento
astrágaloperoneal anterior são dilaceradas parcial ou completamente resultando em
instabilidade da articulação talocrural assim como no ligamento calcaneoperoneal. Em
luxações graves, o maléolo lateral do perónio pode ser fracturado.
A fractura por luxação da articulção talocrural (em eversão) , fractura de Pott, ocorre quando
o pé é energicamente evertido, o que traciona o ligamento colateral medial extremamente
forte podendo arrancar o maléolo medial. O astrágalo move-se então lateralmente
arrancando o malélo lateral ou, mais comummente, fracturando o perónio acima da
articulação tibioperoneal inferior.

9
10

You might also like