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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriarñ)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

Palavra e Vida

"A Máe do Redentor"

"O Dom da Vida". Resposta a Questóes de Bioética

As Réplicas á Bioética

"Bem-aventurados os que Sofrem Perseguicáo"

Ordenado de Homem Casado

As "Riquezas" do Vaticano

5 Ano Mariano
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o-

ANO XXVIII JULHO 1987 302


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JULHO-1987
Publicacáo mensa I N5 302

Oiretor-Responsável: SUMARIO
Estévao Bettcncourt OSB
PALAVRA E VIDA 289
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico A nova Encíclica de Joáo Paulo II:
"A MÁE DO REDENTOR" 290
Oiretor-Administrador
Congregacáo para a Doutrína da Fé:
D. Hildebrando P. Martins OSB "O DOM DA VIDA". Resposta a
Questóes de Bioética 299
Admintstracáo e distribuicáo:
Na ¡mprensa:
Edipóes Lumen Christi AS REPLICAS Á BIOÉTICA 312
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501
Entrevista de Bispo eslovaco:
Tel.:(021)291-7122 "BEM-AVENTURADOS OS QUE
Caixa postal 2666 SOFREM PERSEGUigÁO" 317
20001 - Rio de Janeiro - R J
No Sul do Brasil:
ORDENACÁO DE HOMEM
"UAKQUES-SARMVA-
CASADO 327
CMfKos e «woar.» s «
Fala-se muito de»
AS "RIQUEZAS" DO VATICANO . . 332

ANO MARIANO 335

ASSINATURA EM 1987: NO PRÓXIMO NÚMERO:

303-Agosto- 1987
A partir de Janeiro de 1987 CzS 200,00
Número avulso: CzS 20,00

"Casamientos que nunca deveriam ter


Queira depositar a importancia no Banco existido". - Batlzar crianzas mortas? - Es
do Brasil para crédito na Conta Corrente cola particular: direito do cidadáo. - "A
n? 0031 304-1 em nome do Mosteiro de Missáo" {filme). - "O Nome da Rosa" (fil
Sao Bento do Rio de Janeiro, pagável na me). - Parábola do nosso tempo.
Agencia da Praca Mauá (n- 0435) ou en
viar VALE POSTAL pagável na Agencia
Central dos Correios do Rio de Janeiro.
COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

COMUNIQUE-NOS QUALQUER
RENOVÉ QUANTO ANTES
MUDANCA DE ENDERECO
A SUA ASSINATURA
Palavra e Vida
Varias sao as propostas filosófico-religiosas que interpelam o ho-
mem de hoje: as de origem crista, as espiritas, as hindulstas, as japone
sas, as esotéricas... Isto torna muitas pessoas relativistas no tocante á
verdade religiosa: por que crer nesta mensagem mais do que naquela?
Tal ceticismo é favorecido pela aversáo á Metafísica e a tendencia a pre
ferir os dados concretos táo apregoadas pela filosofía existencialista. Em
conseqüéncia, diz-se freqüentemente: "É preciso crer em alguma coisa,
qualquer que ela seja! Nao importa a mensagem!"

Esta atitude leva-nos a refletir.

é certo que a fé nao é urna atitude cega, meramente emotiva, "ta


pa-buraco" ou "muleta" de quem é fraco. Ela se volta para a Verdade re
velada por Deus e oferecida á inteligencia do homem. Crer é ato do ser
inteligente, pois Deus interpela o que há de mais nobre no homem ou a
sua racionalidade. Por conseguinte, Fé, Verdade e Inteligencia estáo inti
mamente relacionadas entre si, nao no sentido de que o intelecto possa
provar as verdades da fé, mas no sentido de que a razáo pode examinar
as diversas proposicóes religiosas que se Ihe oferecem, testando as ere-
de nciais de cada urna, a fim de aderir áquela que satisfaz ás exigencias da
critica inteligente. É a inteligencia, e nao a emecáo, que deve inspirar a
opeáo religiosa do homem.

Acontece, porém, que muitos nao se sentem dispostos a mover o


raciocinio para chegar á fé; nao dáo grande importancia á Verdade reli
giosa. Todavia algo ¡mpressiona sempre o homem de hoje: o testemunho
de vida de quem professa urna mensagem; este fala mais do que a pala
vra oral ou a prédica, em muitos e muitos casos. Daf o especial valor da
auténtica vivencia crista por parte daqueles que Cristo chamou á sua
Igreja. Os homens de hoje querem ver fatos concretos,... fatos que mere-
gam atencáo. Ora nada há de mais chamativo do qufl um testemunho de
vida corajoso, que fuja da mediocridade e esteja disposto a todo sacrificio
para nao trair seu ideal. Nesta época de hedonismo e consumismo, tor-
na-se sinal eloqüente o cristáo que creia coerentemente, sem recear
zombarias ou humilhacóes..., o cristáo que mostré que Deus é Vida, e nao
letra estéril..., o cristáo que traduza a Utopia ou o Sonho (as Bem-aven
túrenlas) do Cristianismo em realidade concreta, virilmente sustentada
através das contradicóes que a cercam. - Éste torna-se a Palavra mais
significativa; despena os homens da mediocridade e do torpor hedonista
para a indagacáo do Misterio que assim transfigura a vida dos homens.-
Queira Deus multiplicar tais arautos da mensagem entregue por Cristo a
Pedro e á Igreja, para que o mundo creia... (cf. Jo 17,21)1

E.B.

269
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXVIII - N? 302 - Julho de 1987

A nova Encíclica de Joáo Paulo II:

"A Máe do Redentor"


Em sfntese: Ao aproximarse o fím do segundo milenio cristáo, o S. Pa
dre quer chamar a atengáo do Povo de Deus para aqueta que o Verbo esco-
Iheu para ser sua Máe na térra. A comemoragáo dos dois mil anos do nasci-
mento de Jesús há de ser também urna comemoragéo mañana. A Virgem SS.,
que esteve presente a toda a vida terrestre de Jesús, hoje glorificada, acom-
panha a Igreja em sua carrínhada de fé, como intercessora qualifícada. Alias,
a Igreja-Máe vé em Mana o seu modelo..., e nao somente modelo, pois Mana
coopera para que os homens nasgam na Igreja; a mesma Virgem SS. também
é iator de unidade entre os cristáos separados. Todas estas verdades háo de
ser objeto de especial meditagáo por parte dos Seis durante o Ano Mariano
preparatorio do fím do segundo milenio cristáo..., ano que comecou em Pente
costés de 1987 (07/06) e terminará na solenidade da Assuncao de 1988
(15/08). Possa a Máe de Deus e dos homens socorrer a humanidade que hoje
¡uta para nao cairou que, tendo caldo, luta para se reerguer!

Aos 25/03 pp., festa da Anunciacáo de Maña, o S. Padre Joáo Paulo II


assinou a sua nova Encíclica, iniciada pelas palavras Redemptorís Ma-
ter (A Máe do Redentor), a qual versa sobre a Virgem Maria. Assim, a pos
haver escrito sobre o Pai (Ene. Oives ¡n Misericordia, Rico em Misericor
dia), sobre o Filho (Ene. Redemptor Hominis, Redentor do Homem) e so
bre o Espirito Santo (Ene. Dominum et Vrvificantem. Senhor e Fonte de
Vida), o S. Padre se volta para a Virgem SS., que ocupa lugar muito im
portante na historia da salvacáo. Propóe longa e profunda meditagáo,
nutrida de textos bíblicos e documentos da Tradicáo, a respeito daquela
que é a mais bendita de todas as mulheres. O texto, prenhe de rica dou-
trina, procura sempre mostrar o nexo existente entre Maria, as tres Pes-
soas Divinas, o misterio da Encarnacáo, a Igreja, os cristáos separados e
o mundo contemporáneo. - Passamos a percorrer o conteúdo desse Do
cumento, pondo em relevo alguns tópicos salientes do mesmo.

290
"A MÁE DO REDENTOR'

Após a Introducáo (n? 1-6), a Encíclica apresenta tres Partes: I. Ma


ria no Misterio do Cristo (n? 7-24|; II. A M3e de Deus no Centro da Igreja
em Marcha In? 25-37); III. A Mediacáo Materna (n? 38-50). Segue-se a
Conclusáo ln?51s).

INTRODUgÁO (n? 1-6)

O Documento se abre com urna alusáo á plenitude dos tempos, na


qual Deus se dignou enviar ao mundo seu Filho nascido de urna mulher,
para que nos pudéssemos renascer para a vida do próprio Deus (cf. Gl
4,4-6). A perspectiva do ano 2000 que se aproxima, leva a pensar no bi-
milenário do nascimento de Jesús. Ora María precedeu, no tempo, Je
sús, quando Ihe deu a natureza humana no misterio da Encarnacáo; é o
que nos leva a olhar agora para Maria como a estrela da manhá ou como
aquela que anunciou a aurora da Redencáo. Por isto também nos, cris-
táos, nos últimos anos que antecedem o ano 2000, ao celebrarmos a exe-
cucáo progressiva desse plano de salvacáo, sentimos a necessidade de
por em relevo a presenca singular da Máe de Cristo na historia (n? 1-3).

Alias, como Maria está envolvida no misterio da Encarnacáo e do


Cristo Jesús, ela está também envolvida no misterio da Igreja, pois esta é
o Corpo de Cristo (cf. Cl 1,24): "A realidade da Encarnacáo encontra, por
assim dizer, o seu prolongamento no misterio da Igreja Corpo de Cristo.
E nao se pode pensar na realidade mesma da Encarnacáo sem evocar
Maria, Máe do Verbo Encarnado" (n? 4).

A Encíclica tenciona desenvolver o liame de Maria com Cristo e a


Igreja através da historia do Povo de Deus ou de todos aqueles que partí-
cipam da mesma caminhada. Alias, a peregrinacáo de fé que María pes-
soalmente realizou outrora na térra, é referencial nao so para cada cris-
táo, mas também para todos os povos e para a humsnidade inteira: Ma
ria glorificada nos céus mostra a cada um e a todos o termo ao qual leva
a vida cotidiana animada pela fé e pelo amor a Cristo (n? 5-6).

Parte I. MARÍA NO MISTERIO DO CRISTO (n? 7-24)

Esta secólo apresenta a fundamentacáo bíblica da Mariologia, ex


planando, de maneira minuciosa e precisa, os textos escriturfsticos que
de algum modo se referem a Maria.

1.Cheiadegraca(n?7-11)

O S. Padre parte do texto de Ef 1,3: "Bendito seja o Deus e Pai de


Nosso Senhor Jesús Cristo, que nos abencoou com toda especie de bén-
caos espirituais nos céus em Cristo". Ora esse plano, que tem em vista a

291
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

humanidade inteira, reserva um lugar único á multier Máe de Cristo. Ela


se encontra profeticamente esbocada no primeiro anuncio da salvagáo
(Gn 3,15) como também ñas palavras de Is 7,14, que prometem urna Vir-
gem Máe do Emanuel (Deus Conosco).

Na plenitude dos tempos Deus enviou o seu Filho nascido de urna


mulher... É pela anunciacáo do anjo que Maria vem introduzida no mis
terio de Cristo. O mensageiro divino chama-a "cheia de graca" (kechari-
toméne) e nao Myriam, como se aquele fosse o verdadeiro nome de Ma
ria. Este apelativo - cheia de graca - há de ser entendido á luz de Ef 1,3:
Maria recebeu em plenitude a riqueza interior cu a comunháo de vida
com Deus que o Pai nos quis transmitir mediante Jesús Cristo; escolhida
para ser Máe do Filho de Deus feito homem, Maria foi especialmente
dotada de pureza interior e santidade. Com efeito, Ela foi preservada da
heranca do pecado original. Por isto também ela participa, de modo sin
gular, da luta contra a serpente e a sua linhagem: "Maria, Máe do Verbo
Encarnado, se sitúa no centro mesmo dessa luta que marca a historia da
humanidade sobre a térra e a própria historia da salvacao" (n? 11).

2. Bem-aventurada aqueta que acreditou (n912-19)

Tendo concebido o Filho de Deus, Maria foi visitar sua parenta Isa
bel. Esta, ao vé-la, exclamou: "Bem-aventurada és tu, que acreditaste"
(Le 1,45). O acreditar ou a fé de María é precisamente a resposta da Vir-
gem de Nazaré ao dom de Deus: "Ela respondeu com todo o seu eu hu
mano femínino, e esta resposta de fé comportava urna cooperacáo per-
feita com a graca... de Deus e urna disponibilidade perfeita para a acáo do
Espirito Santo" (n? 13).

Pode-se comparar a fé de María á de Abraáo. Como este foi heroi


co, esperando contra toda esperanca quando Deus Ihe pediu que imolas-
se o seu filho no monte Moriah (cf. Gn 22,1-19; Rm 4,18), assim María
caminhou na fé de maneira heroica, sustentando o Fíat (Faga-se) que ela
proferirá diante do anuncio do anjo, até presenciar a morte do seu Filho
na Cruz.

Alias, o velho Simeáo jé Ihe predissera que urna espada Ihe trans-
passaria o coracao, pois seu Filho seria um sinal de contradicáo (cf. Le
2,34s). Em varios momentos da infancia e da vida pública de Jesús, a fé
de Maria teve a ocasiáo de se exercer de maneira pungente; ela foi assim
associada ao despojamento do seu Filho, cuja mensagem O levou até a
crucifixáo.

A fé de Maria, tenaz até o extremo, teve o papel de recapitulado,


como afirmam os antigos escritores da Igreja. Sim; a primeira mulher,

292
"AMAE DO REDENTOR"

Eva, foi incrédula ou rejeitou a Palavra de Deus, que convidava a huma-


nidade ao consorcio da Vida divina; em contraparte, a segunda Eva foi
dócil á Palavra de Deus, apagando assim a incredulidade da primeira Eva;
é S. Ireneu quem o diz: "O no da desobediencia de Eva foi desatado pela
obediencia de Maria; e, aquilo que a Virgem Eva atou com a sua incredu
lidade, a Virgem Maria desatou-o com a sua fé" {Contra as Herestas III
22,4; Constituido Lumen Gentíum 56, nota 6). Ver n? 14-16.

3. Eis a tua Máe (n9 20-24)

Segundo Sao Lucas, certa mulher exclamou diante de Jesús:


"Bem-aventuradas as entranhas que te trouxeram e os seios que te ama-
mentaram!" (Le 11,27). Jesús respondeu: "Antes sSo bem-aventurados
aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a poem em prática!" (Le 11,28).

Neste episodio é posta em relevo a maternidade de María..., Mater


nidade que foi, antes do mais, fidelidade á Palavra de Deus; María foi
Máe do Filho de Deus pela fé; ela conservava a Palavra e a meditava em
seu coracáo (Le 1,38.45; 2,19.51). Foi a primeira a ouvir a Palavra de Deus
e pó-la em prática. Em conseqüéncia da sua fidelidade, tornou-se Máe
segundo nova dimensáo; ela recebeu o Filho dé Deus em sua carne sem
perder a integridade virginal. Cf. n? 20.

A profunda uniáo de Maria com o seu Divino Filho revelou-se logo


por ocasiáo do primeiro sinal realizado por Jesús em Cana da Galiléia.
Embora o Senhor nao Ihe tenha dado a certeza de que Ihe atendería,
María de tal modo entendía seu Filho que mandou aos servidores exe-
cutassem tudo o que Jesús ordenasse (Jo 2,5). - O mesmo episodio evi
dencia outro aspecto da Maternidade de Maria: ela foi solicita em relacáo
aos esposos e aos convivas das bodas de Cana, como é solícita em rela
cáo aos homens em geral: "A partir da descricáo dos fatos de Cana, es-
boca-se aquilo em que se manifesta concretamente essa maternidade
nova, segundo o espirito e nao somente segundo a carne, ou seja, a soli-
citude de Maria para com os homens, o seu ir ao encontró deles na vasta
gama das suas carencias e necessidades" (n? 21). María faz-se de media-
neira entre o seu Filho e os homens atribulados e carentes; na sua posi-
cáo de Máe, ela sabe que tem o direito de fazer presentes ao Filho as ne
cessidades das criaturas. A sua mediacáo tem um caráter de intercessao.
Cf.n?21.

É de notar que a funcáo maternal de María para com os homens de


modo nenhum obscurece ou diminuí a única mediacáo de Cristo; mani
festa, antes, a sua eficacia, pois ela promana da superabundancia dos
méritos de Cristo e destes depende inteiramente, haurindo ai todo seu
valor (cf. Const. Lumen Gentíum n? 60s). A Maternidade de María na dis-

293
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

pensacáo da graca perdura sem interrupcáo até a consumacáo perpetua


de todos os eleitos (ib. n? 62). Ver n? 21s.

Alias, no mesmo Evangelho segundo S. Joáo, outra passagem


confirma a maternidade de María em relacáo aos homens. Com efeito;
antes de morrer, Jesús, referíndo-se a Joáo, disse á sua Máe: "Mulher,
eis o teu filho!" e a Joáo: "Eis a tua Máe!" Assim a Máe de Cristo foi da
da a todos e cada um dos homens como Máe. "A Tradicáo e o Concilio
do Vaticano II nao hesitam em chamar Maria 'Máe de Cristo e Máe dos
homens'; ela está, como descendente de Adío, associada a todos os ho
mens; mais aínda, é verdaderamente Máe dos membros de Cristo..., pois
cooperou com o seu amor para que os fiéis nascessem na Igreja" (Const.
Lumen Gentíum n? 53s). Cf. n? 23.

O lugar singular que Maria assim ocupa no plano divino da salva-


cao, corresponde exatamente áquela profecia do proto-evangelho: "A l¡-
nhagem da mulher esmagará a cabega da serpente". O apelativo "Mu
lher" que Jesús dirige á sua Máe ñas bodas de Cana e pendente da Cruz,
longe de ser depreciativo, há de ser entendido á luz do termo Mulher
ocorrente em Gn 3,15: Maria é a Mulher que traz o Salvador ou o Vence
dor da Serpente; cf. n9 24.

A maternidade de Maria se prolonga na Igreja e pela Igreja. Maria


está, sim, ñas origens da Igreja, isto é, acompanha os Apostólos no Cená
culo para receber com eles o Espirito Santo.

"Existe urna correspondencia singular entre o momento da Encar-


nacáo do Verbo e o momento do nascimento da Igreja. E a pessoa que
une esses dois momentos, é Maria: Maria em Nazaré e María no Cená
culo de Jerusalém... Assim aquela que está presente no misterio de
Cristo como Máe, torna-se, por vontade do Filho e por obra do Espirito
Santo, presente no misterio da Igreja. E também na Igreja continua a ser
presenca materna" (n? 24).

Parte II. A MÁE DE DEUS NO CENTRO


DA IGREJA QUE ESTÁ A CAMINHO (nS 25-37)

Esta seccáo compreende tres sub-partes.

1. A Igreja, Povo de Deus presente em todas as nacóes da térra (n?


25-28).

A Igreja é um povo em marcha, á semelhanca do Israel da Antiga


Alianca que peregrinava através do deserto. Todavía o caráter essencial
da peregrinacáo da Igreja é interior; trata-se de urna peregrinacáo me
diante a fé. A tal caminhada Maria está presente, Eta que outrora pere
grinava na fé. Cf. n? 25.

294
"A MÁE DO REDENTOR"

A presenca de Maria na Igreja peregrina tem, por assim dizer, a sua


geografía específica assinalada pela Térra Santa, patria do Salvador do
mundo e de sua Máe; pelos numerosos Templos que a fé crista ergueu no
decorrer dos séculos em Roma e no mundo inteiro, e aínda por Guadalu
pe, Lourdes, Fátima, Jasna Gora e outros santuarios, onde o Povo de
Deus procura encontrar-se com a Máe de Cristo a fim de consolidar a sua
própria fé na presenca materna "daquela que acreditou" (n? 28).

2. A caminhada da Igreja e a unidade de todos os Crístáos (n?


29-34).

"O Espirito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a


acáo em vista de que todos, segundo o modo estabelecido por Cristo, se
unam pacificamente num só rebanho e sob um só pastor" (Const. Lumen
Gentium n° 15). Ora os cristáos sabem que a unidade entre eles só po-
derá ser reencontrada verdadeiramente se estiver fundada sobre a uni
dade da sua fé. "Devem resolver discordancias nao leves de doutrinas
quanto ao misterio e ao ministerio da Igreja e quanto á funcao de Maria
na obra da salvacáo" <n? 30). - María, Máe do Verbo e Máe da Igreja, será
a guia e a tutora dos crístáos no dialogo para a unidade: "Por que nao
olharmos todos conjuntamente para a nossa Máe comum, que intercede
pela unidade da familia de Deus...?" (n? 30).

Alias, é bom presságio que muitás comunidades eclesiais separadas


da Igreja Católica reconhecam o lugar singular que toca a Maria no plano
da salvacáo. Entre os cristáos orientáis, a piedade para com a Máe de
Deus tem raizes profundas, que se exprimem nos belos textos da Liturgia
e dos teólogos ortodoxos. "Tamanha riqueza de louvores, acumulada
pelas diversas formas da grande tradicáo da Igreja, poderia ajudar-nosa
fazer que a mesma Igreja torne a respirar plenamente com os seus dois
pulmóes: o Oriente e o Ocidente. Como já afirmei por mais de urna vez,
isto é necessário mais do que nunca nos dias atuais" (n? 34).

3.0 "Magníficat" da Igreja que está a caminho (n? 35-37)

A Igreja, que desde o inicio modela sua caminhada terrena pela


caminhada da Máe de Deus, repete constantemente, em continuidade
com ela, as palavras do Magníficat.

Na profundidade da fé da Virgem Maria... a Igreja vai haurir a ver-


da de acerca do Deus da Alianca; acerca de Deus, que é todo-poderoso
e faz grandes coisas no homem; 'Santo é o seu nome'. "No Magníficat
a Igreja vé debelado ñas suas raizes o pecado do principio da historia
terrena do homem e da muiher: o pecado da incredulidade e da pouca fé
em Deus" (n* 37).

295
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

O amor preferencial pelos pobres acha-se admiravelmente inscrito


no Magníficat de Maria... A Virgem está profundamente impregnada do
espirito dos pobres de Javé, que, segundo os salmos, esperavam de Deus
a sua salvafio, pondo nele toda a sua confianca (SI 24; 30; 34 e 54). Maria
proclama a vinda do Messias dos pobres. A Igreja, inspirando-se na fé de
Maria, sabe que nao se pode separar a verdade a respeito de Deus que
salva, da manifestacáo do seu amor preferencial pelos pobres e pelos
humildes, amor que, depois de cantado no Magníficat, se encontré ex-
presso ñas palavras e ñas obras de Jesús (n? 37).

Parte III. MEDIAgÁO MATERNA (n? 38-50)

1. María, serva do Senhor (n? 38-41)

Se Maria foi dada aos homens como Máe, compreende-se que Ela
seja medianeira de grapas em favor destes. Na verdade, Deus suscita ñas
criaturas urna cooperacáo variegada ou diversas formas de mediacáo da
graca, derivadas e dependentes da mediacáo de Cristo. Acontece, porém,
que a mediacáo de Maria possui caráter especificamente maternal, que a
distingue da mediacáo das outras criaturas.

Ao afirmar tal verdade, a Igreja nao esquece que "um so é o Me


diador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesús, que se entregou
como resgate por todos" (1Tm 2,5s). A Igreja sabe e ensina que "todo
o influxo salutar da Santfssima Virgem em favor dos homens se deve ao
beneplácito divino e... dimana da superabundancia dos méritos de Cristo;
funda-se na sua mediacáo; déla depende absolutamente, haurindo af to
da a sua eficacia, de modo que nao impede o contato ¡mediato dos fiéis
com Cristo, antes o facilita" (Const. Lumen Gentium n? 60).

A mediagáo de María se manifestou pela primeira vez em Cana da


Galiléia, e continua na historia da Igreja e do mundo. Desse modo a ma-
ternidade de María perdura incessantemente na Igreja como mediacáo
que intercede; a Igreja exprime a sua fé nessa verdade invocando-a sob
os títulos de Advogada, Auxiliadora, (Perpetuo) Socorro e Medianeira;
ver Lumen Gentium n? 62.

A intercessáo da Virgem tende, de modo especial, a levar a Igreja ¿


sua consumacao celeste, da qual já desfruta Maria SS., assumida em cor-
po e alma na gloria definitiva. "Se já, como Virgem Máe, Maria estava a
Cristo unida singularmente na sua primeira vinda, pela sua continua co
operado com Ele estará também unida na expectativa da segunda vinda:
'Remida de modo mais sublime, em atencJio aos méritos de seu Filho',
(LG n9 53), Ela exercerá também aquele papel, próprio da Máe, de me-

296
"AMÁE DO REDENTOR" 9

dianeira de clemencia, na vinda definitiva, quando todos os que sao de


Cristo forem vivificados e quando o último inimigo a ser destruido será a
morte"(n?41).

2. María na vida da Igreja e de cada cristao (n9 42-47)

María, a Virgem fiel, é honrada pela Igreja com culto especial já


desde os tempos mais antigos. Essa veneracao é absolutamente singular,
pois exprime o vinculo profundo que existe entre a Mié de Cristo e a
Igreja.

Nao somente a Igreja cultua Maria, mas também a imita, acolhendo


em si com fidelidade a Palavra de Deus e garando para urna vida ¡mortal,
mediante a pregacáo e o Batismo, os filhos concebidos por obra do Espi
rito Santo. Assim como Maria está ao servíco do misterio da Encarnacio,
também a Igreja permanece ao servico do misterio da adocao dos.filhos
mediante a graca.

Ao mesmo tempo, a exemplo de Maria, a Igreja permanece a Vir


gem fiel ao próprio Esposo. Essa virgindade precisamente, a exemplo da
Virgem de Nazaré, é fonte de especial fecundidade espiritual: é fonte da
maternidade no Espirito Santo.

Assim vé-se que Maria nao é apenas modelo da Igreja; na verdade


ela coopera com amor de MSe para a regeneracáo e formacáo dos filhos
e filhas da Mié Igreja (n? 44).

Mais ainda. Quando Jesús disse a Maria SS.: "Eis o teu filho" (Jo
19,26), Ele quis indicar a dimensáo mariana de cada um dos discípulos
de Cristo. O Redentor confia Maria a Joáo na medida em que confia Joáo
a María. Aos pés da Cruz, teve intcio aquela especial entrega do homem á
Mae de Cristo que, ao longo da historia da Igreja, foi posta em prática e
expressa de diversas maneiras (n- 45).

A devocáo a Maria assim fundamentada nao pode deixar de estar


orientada para Cristo. É Maria quem ordena: "Fazei tudo o que Ele vos
dísser" (Jo 2,5). Na verdade, Jesús é o único Mediador entre Deus e os
homens; a Virgem de Nazaré tornou-se a primeira testemunha de Cristo
e a sua humilde serva sempre e em toda parte.

A dimensáo mariana da vida crista projeta luz também sobre a


condicao feminina ou sobre a mulher enquanto tal, pelo fato de que
Deus, no sublime acontecimento da Encarnacáo, se confiou aos bons
prestimos da mulher. "Á luz de María, a Igreja lé no rosto da mulher os
reflexos de urna beleza, que é espelho dos mais elevados sentimentos que

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

o corando humano pode albergar: a totalidade do dom de si por amor;


a forca que é capaz de resistir aos grandes sofrimentos; a fidelidade sem
limites, a operosidade incansável e a capacidade de conjugar a intuicao
penetrante com a palavra de apoio e encorajamento" (n- 46).

3.0 sentido do Ano Mariano (n9 48-50)

Oesejoso de por em relevo a presenca especial da Máe de Deus no


misterio de Cristo e da sua Igreja, o Santo Padre promoveu um Ano Ma
riano neste fim do segundo milenio do nascimento de Cristo: comecou na
solenidade de Pentecostés, a 7 de junho de 1987, e estende-se até 15 de
agosto de 1988, solenidade da Assuncao de Maria. O seu objetivo é
aprofundar a doutrina do Concflio sobre a Virgem Maria, á qual se refere
a presente Encíclica; o melhor conhecimento da doutrina levará a urna vi
vencia de fé renovada em preparacáo do terceiro milenio da era crista.

CONCLUSÁO (ns 51s)

Ao terminar a Liturgia das Horas, a Igreja canta: "Ó Santa Máe do


Redentor, Porta do céu sempre aberta, Estrela do mar, socorrei o vosso
povo, que cai e anela por erguer-se. Vos que gerastes, com grande ad-
miracao de todas as criaturas, o vosso Santo Genitor!"

Estas palavras exprimem a admiradlo de fé que acompanha o


misterio da Maternidade divina de Maria. Expressam-outrossim a grande
mudanca de situacáo acárretada pelo misterio da Encarnacio- mudanca
do cair para o erguer-se, do pecado para a graca, da morte para a vida.

Ñas atuais circunstancias da historia, a Igreja pensa, pressurosa, no


povo que cai e anela por reerguer-se e repete enfáticamente a prece:
"Socorrei...!" Socorrei a humanidade na luta incessante entre o bem e o
mal, para que nao caia ou, se caiu, para que se reergal Cf. n9 52.

BIOÉTICA

A PROPÓSITO DE UMA NOTÍCIA DA IMPRENSA DE 11/06/87


SOBRE UM CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENDOSCOPIA,
GINECOLOGÍA, FERTILIDADE IN VITRO E REPRODUCÁO HUMA
NA, O ABAIXO-ASSINADO DECLARA QUE SEGUÉ ESTRITAMEN-
TE AS POSICÓES DA INSTRUCÁO "DONUM VITAE" EMANADA
DA CONGREGACÁO PARA A DOUTRINA DA Fé E APRESENTADA
EM ANEXO. POR CONSEGUINTE, NAO TENCIONA DEFENDER A
INSEMINACÁO ARTIFICIAL NEM HOMOLOGA NEM HETERÓLOGA.
EstévSo Bettencourt O.S.B.

298
Congregado para a Doutrina da F6:

"ODomdaVida"
Resposta a Questóes de Bioética

Em síntese: A Instrucáo Donum Vitae (O Dom da Vida) tomaposigSo


negativa diante das modernas técnicas dé reprodugáo que menosprezam o
que há de especifico na procriacáo humana, equiparando-a pravamente á
dos animáis inferiores. Na verdade, o carpo humano nSo é mero conjunto de
tecidos e órgSos, mas, penetrado por urna alma espiritual, vem a ser o espe-
Iho da pessoa humana; conseqüentemente quem toca o corpo, toca a pessoa;
quem trata o corpo como coisa, inflige tal tratamento á pessoa. Esta nao pode
ser tratada como algo (mero objeto ou coisa), mas é sempre alguém (sujeito).

Dal o respeito que a transmissSo da vida humana merece e que nao é


levado em consideragáo pelas técnicas de manipulacáo das sementes vitáis e
dos embrides humanos.

O único berco digno de um novo ser humano é o ato sexual realizado


entre cónjuges. Estes, dando-se reciprocamente numa comunháo de amor
total, sao chamados pelo próprio Deus a participar na transmissSo da vida.

Com a data de 22/02/1987 foi publicado pela Congregarlo para a


Doutrina da Fé um documento tongamente esperado, ou seja, a Instrucáo
sobre o Respeito á Vida Humana Nascente e a Dignidade da Procriacáo.
Assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger e aprovado pelo S. Padre Joao
Paulo II, este texto responde a numerosas e insistentes ¡nterrogagóes le
vadas a Santa Sé por clérigos e leigos (cientistas, casáis...) a respeito das
novas técnicas biomédicas referentes á procriacáo e ao feto humano: se-
riam licitas aos olhos da Moral Católica?
Desde o comeco de 1980, foram recolhidos dados científicos e teo
lógicos; foram também consultados Bispos, cerca de sessenta peritos
moralistas e vinte e dois cientistas (geneticistas, biólogos, médicos, se
xólogos, psiquiatras) de nacionalidades e tendencias diversas para se po
der ter urna visáo objetiva e lúcida de táo delicadas questóes. O texto bá
sico derivado de tais estudos foi retido por especialistas, que contribui-

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

ram para aperfeicoá-lo e finalmente julgaram oportuno dar-lhe a forma


de um questionário com suas respostas, a fim de que pudesse considerar
atentamente os diversos casos que a problemática geneticista propóe
hoje á Moral católica.

A Instrucáo Donum Vrtae (o Dom da Vida) assim oriunda apresen-


ta-se, pois, como um documento cuidadosamente elaborado sobre um
assunto delicado e complexo, no qual, em última análise, estáo em jogo a
identidade e a dignidade da pessoa humana. Trata-se de saber se a cien
cia e a técnica contemporáneas, poderosas e fascinantes como sao, estáo
subordinadas a Ética ou se acham emancipadas desta, de modo a nao
conhecer limites, nem mesmo aqueles que a dignidade da pessoa huma
na Ihes impóe. A posicáo assumida pela Instrucao é coerente com toda a
doutrina da Igreja; esta apregoa a subordinacáo da ciencia á consciéncia
moral, a fim de que a ciencia contribua para o engrandecimento do ho-
mem e do seu Criador, e nao se volte contra estes (como pode acontecer
nos casos da ecología e da energia nuclear). Por conseguinte, os muitos
NSo que a Instrucao formula diante de certas técnicas de reproducáo,
vem a ser um Sim dito ao homem e á sua ¡nconfundível dignidade; é,
pois, o amor da Igreja ao homem, inseparável do amor a Cristo, que mo-
ve a Igreja a se pronunciar sobre a complexa questao biogenética. A boa
intencáo de dentistas e cónjuges desejosos de produzir ou transmitir a
vida humana por meios novos nao basta para justificar as recentes ex
periencias e técnicas, se estas nao levam em conta a peculiaridade psicos-
somática ou a espiritualidade da pessoa humana.

Estas verdades seráo explanadas ñas páginas seguintes, em que


percorreremos o texto da Instrucao, procurando por em relevo os seus
pontos principáis.

O documento se desenvolve do seguinte modo:

Introducao: Principios fundamentáis de Antropología e Moral, ne-


cessários para elaborar as respostas á problemática.

Parte I: O respeito aos embrides humanos.

Parte II: Intervencóes na procriacáo humana:


A. Fecundacao artificial heteróloga
B. Fecundacao artificial homologa.

Parte III: Moral e Lei Civil

Condusao

300
"O DOM DA VIDA" 13

Examinemos sucessivamente estas etapas.

INTRODUQÁO (NSs 1-5)

Este proemio enfatiza que

- a Igreja intervém na biogenética a pedido de muitos homens, que


a reconhecem "perita em humanidade" e esperam déla urna palavra sa
bia e amorosa (n? 1);

- a ciencia e a técnica estáo a servico da pessoa humana; nao sao


valores absolutos, mas acham-se subordinados á Ética e aos direitos ina-
lienáveis do ser humano (n- 2);

- A pessoa humana, embora conste de um corpo constituido por


tecidos e órgáos, como o do demais animáis, nao pode ser tratada como
estes. De modo especial, a procriacáo humana está ligada a valores que
nao se encontram em nenhum outro vivente criado. A corporeidade no
homem está integrada num conjunto que também é espiritual; em con-
seqüéncia, quem toca o corpo, toca a pessoa com seus aspectos espiri-
tuais e transcendentais; criado á imagem e semelhanca de Deus, o ho
mem é chamado a se realizar plenamente em Deus. Isto quer dizer que
nenhum biólogo ou médico pode, em nome da ciencia, decidir sobre a
origem e o destino dos homens. É licito, sim, ao cientista instituir suas
pesquisas genéticas desde que guarde sempre o respeito á pessoa hu
mana (ne 3).

- Os criterios moráis para se julgarem as novas experiencias sao


dois:

a) a vida do ser humano nao é apenas o resultado de reapóes


físico-químicas, mas é o patrimonio de alguém chamado á eternidade;

b) a transmissáo da vida humana foi, pela natureza, associada


ao amor conjugal, que é sempre pessoal e consciente; por conseguinte,
nao deve ser realizada fora do contexto conjugal (n- 4).

- O magisterio da Igreja tem-se pronunciado repetidamente sobre


a Antropología, lembrando, entre outras coisas, que a alma espiritual de
todo homem é ¡mediatamente criada por Deus (Pió XII, Encíclica Humani
Generis, 1950; Paulo VI, Credo do Povo de Deus. 1968)..., que Deus é o
único Senhor da vida humana (Pió XII, Aos Médicos em 12/11/1944)...,
que a transmissáo da vida se realiza entre esposo e esposa segundo as
leis da natureza (Constituicáo Gaudium et Spes n? 51) (n? 5).

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

Parte I: O RESPEITO AOS EMBRIÓES HUMANOS {n? 1-6)

Esta Parte aborda seis perguntas:

1. Que respeho se deve ao embriio humano levando-se em conta


a sua natureza e a sua identidade?

- O ser humano há de ser respeitado como pessoa desde o pri-


meiro instante da sua existencia:

"A partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugurase urna no


va vida que nSo éa do pai ou a da mSe, e sim a de um novo ser humano, que
se desenvolve por conta própria. Nunca se tomará humano sejá nao o é des
de entéo. A esta evidencia de sempre... a ciencia genética moderna fornece
preciosas confirmacóes. Esta demonstmu que desde o primeiro instante ¡i se
encontra fíxado o programa daquilo que será este vívente: um homem, este
homem-indivlduo com as suas notas características já bem determinadas.
Desde a fecundacéo tem inicio a aventura de urna vida humana, cujas gran
des capacidades exigem cada urna lempo para organizar-sé e para encontrar
se prontas a agir" (Congregacáo para a Doutrína da Fé, Declarado sobre o
Aborto Provocado, n! 12s).

2. O diagnóstico pré-natal é moralmente licito?

Se o diagnóstico pré-natal respeitar a vida e a ¡ntegridade do em-


briao e do feto humano e se orientar para a sua salvaguarda e para a sua
cura individual, a resposta será afirmativa.

É, porém, ilícito o exame pré-natal planejado com a finalidade de


eliminar os fetos atingidos por deformacóes ou doencas hereditarias ou
délas portadores.

3. As intervencóes terapéuticas no embriSo humano sao licitas?

- Como qualquer intervencao médica, as intervencóes no embriao


humano sao licitas sob a condicSo de que respeitem a vida e a ¡ntegrida
de do embrido, nao comportem para ele riscos desproporcionáis e sejam
orientadas para a sua cura, para a melhora de suas condicóes de saúde
ou para a sua sobrevivencia individual.

4. Como julgar moralmente a pesquisa e a experimentacáo com


embrioes e fetos humanos?

- Antes da resposta, observe-se que

302
"O DOM DA VIDA" • 15

- por pesquisa se emende todo processo indutivo-dedutivo


que tenda a promover a observacáo de um fenómeno ou a testar urna hi-
pótese decorrente de observacóes anteriores;

- por experimentacáo,entende-setoda pesquisa na qual o ser


humano vem a ser objeto sobre o qual os cientistas tencionam observar
os efeitos de determinado tratamento (farmacéutico, cirúrgico, teratogé-
nico...)

Resposta: A pesquisa médica deve abster-se de intervencdes em


embrides vivos, a menos que haja a certeza moral de nao causar daño
nem á vida nem a integridade do nascituro e da m§e e contanto que os
pais tenham consentido na ¡ntervengSo, de modo livre e informado.

Disto se segué que qualquer pesquisa, aínda que limitada á mera


observacáo do embriáo, se torna ilícita desde que, por causa dos méto
dos empregados ou dos efeitos produzidos, implique um risco para a ¡n-
tegridade física ou para a vida do embriSo.

Os embrides vivos, viáveis ou nao, devem ser respeitados como to


das as pessoas humanas. Quanto á experimentado nao diretamente te
rapéutica com embrides, é sempre ¡lícita, porque subordina, sem mais, a
pessoa aos interesses da pesquisa. Conseqüentemente compreende-se
que a prática de mantér em vida embrides humanos, no organismo femi-
nlno ou em proveta, para fins experimentáis ou comerciáis, é absoluta
mente contraria á dignidade humana.

Ainda é de notar: os cadáveres dos embrides ou fetos humanos,


voluntariamente abortados ou nao, devem ser respeitados como os res
tos mortais dos outros seres humanos. Isto significa que a venda de tais
despojos a fábricas de sabonetes ou cosméticos é grave ofensa á pessoa
humana, ofensa de que dáo noticia os jornalistas Michael Lichtfield e Su-
san Kentish no livro Bebés para Queimar (ed. Paulinas 1977); cf. PR
213/1977, pp. 377-390.

5. Como julgar moralmente o uso, para fins de pesquisa, dos em


brides obtidos mediante a fecundacáo in vitro?

- Os embrides humanos produzidos em proveta sao seres huma


nos e tém seus direitos, que devem ser respeitados. Por isto é imoral

produzir embrides humanos destinados a servir de material


biológico para pesquisa;

303
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

expor deliberadamente á morte embrides humanos obtidos


em proveta. Com efeito, quando se dá a fecundando em laboratorio, nem
todos os óvulos fecundados s§o aproveitados para o transplante no or
ganismo feminino; em conseqüéncia, os "excedentes" sao expostos a
morte ou sao explicitamente eliminados pela morte. Isto fere a dignidade
humana, porque reduz o ser humano a categoría de mero material de
pesquisa.

6. Como ¡ulgar os outros procedimentos de manipulado de em-


brióes, ligados ás "técnicas de reproducio humana"?

- Trata-se aqui das tentativas de fecundado entre gametas de se


res humanos e de animáis irracionais; também se tém em vista a gesta-
fáo de seres humanos em úteros de animáis irracionais ou em úteros ar
tificiáis (máquinas incubadoras)... ou ainda a obtengSo de um ser huma
no independentemente da cópula sexual, ou seja, mediante fusáo geme
la r, clonagem ou partenogénese... - Todos estes procedimentos sao con
trarios a Moral e ferem tanto a dignidade da procriacáo humana quanto a
da unido conjugal.

Leve-se em conta outrossim a intervengo no patrimonio cromos-


somico ou genético nao para fins terapéuticos, mas para produzir seres
humanos selecionados de acordó com criterios preestabelecidos ou para
obter series de pessoas programadas (intelectuais, artistas, esportistas,
líderes militares...). Esta forma de manipulado é outro atentado á identi-
dade humana.

O congelamento de embrióes - ainda que tenha em mira conservar


a vida do feto - constitui urna ofensa ao ser humano, pois o expóe a ris
cos de morte ou de danos á sua integridade física, privando-o, ao menos
temporariamente, da acolhida e da gestacSo maternas...

PARTE II: INTERVENGO NA PROCRIACÁO


HUMANA (N«s.1-8)

As intervencóes dos dentistas na procriafáo humana deram origem


a chamada "fecundado ou inseminacáo artificial". Esta pode realizar-se
por interferencia direta no organismo feminino (o espermatozoide ex
traído do organismo masculino é colocado diretamente ñas vias genitais
da mulher) ou pode ser praticada dentro de proveta (há a fecundacáo in
vhro e a transferencia do embriáo para o organismo feminino; donde o
nome FIVETE).

304
"O DOM DA VIDA" 17

Ora a fecundando in vhro supóe muitas tentativas de fecundacáo;


algumas sao totalmente esteréis, outras só tém sucesso parcial (originam
um ser humano defeituoso), poucas logram pleno éxito. - Os cientistas
costumam eliminar os deficientes; dentre os bem sucedidos, há os "exce
dentes", que nao sSo implantados ñas vias genitais da mulher. Mesmo
dentre os embrióes implantados, as vezes alguns sao sacrificados por ra-
zóes eugénicas, psicológicas ou económicas. - Tal destruicáo voluntaria
de seres humanos é contraria aos principios de Moral já recordados.

Visto que a fecundacSo in vitro está freqüentemente ligada é des


truicáo de embrióes humanos (defeituosos ou íntegros), tal prática se
torna moralmente ilícita; por ela o homem pretende ser senhor da vida e
da morte dos seus semelhantes - o que nao Ihe cabe.

Posto este principio, a Instrucáo examina sucessi va mente a fecun


dacáo artificial heteróloga e a homologa.

A. Fecundacáo artificial heteróloga (n* 1-3)

Por fecundacáo artificial heteróloga entendem-se as técnicas que


visam a produzir um feto humano mediante a intervencáo de um doador
ou de terceira pessoa (diversa do esposo e da esposa). Essas técnicas po-
dem realizar-se por implantado dos espermatozoides do doador direta-
mente ñas vias genitais da mulher ou por recurso a uma proveta, onde se
encontram os óvulos da mulher e os espermatozoides do doador.

A propósito tres perg untas se colocam:

1. Por que a procriacáo humana deve ocorrer dentro do matrimo


nio?
- Para que a procriacáo seja realmente assumida com responsabili-
dade, deve ser fruto do matrimonio ou de um compromisso estável entre
esposo e esposa que se disponham a gerar e educar a sua prole. - Tam-
bém a fidelidade dos esposos ao seu matrimonio implica o direito de se
tornarem pai e máe somente através um do outro. Com efeito; os geni
tores tem no filho uma confirmacéo e um complemento da sua doacáo
reciproca; a prole, por seu lado, é a imagem do amor mutuo de esposo e
esposa; além disto, é através da referencia segura aos seus genitores que
a prole descobre a sua identidade.

Mais: o equilibrio da sociedade exige que os filhos venham ao


mundo no seio de uma familia e que esta seja estavelmente fundada no
matrimonio.

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

2. A fecundacáo artificial heteróloga é conforme com a dignidade


dos esposos e a verdade do matrimonio?

- O recurso aos gametas de terceira pessoa (mediante proveta ou


nao) constitui urna violacSo do compromisso reciproco dos esposos e
falta grave contra aquela propriedade essencial do matrimonio que é a
sua unidade.

Além disto, a fecundacáo heteróloga lesa direitos do filho, privan-


do-o da relac.áo filial com um dos seus genitores- o que pode prejudicar
o amadurecimento da identidade pessoal da prole.

Observe-se ainda que a alteracáo das relacóes pessoais dentro da


familia repercute na sociedade civil; aquilo que ameaga a unidade e a es-
tabilidade da familia, é fonte de desordens e injustipas em toda a vida so
cial.

Por razóes ainda mais imperiosas, entende-se que a fecundacáo


artificial de urna mulher nao casada - solteira ou viúva - seja quem for o
doador, nao pode ser justificada no plano moral.

3. A matemidade "substitutiva" é moralmente licita?

- Antes do mais, notemos que por "máe substitutiva" se entende

a) a mulher que traz em gestacáo um embriáo transplantado em


seu útero e que Ihe é genéticamente estranho, porque obtido mediante a
uniáo de gametas de doadores com o compromisso de entregar a chan
ga, urna vez nascida, a quem encomendou ou contratou tal gestacáo;

b) a mulher que traz em gestacáo um embriáo para cuja concepcáo


contribuiu com a doafáo do seu próprio óvulo, fecundado pelo esperma
de um homem diverso do seu próprio marido, com o compromisso de
entregar o filho, urna vez nascido, a quem encomendou ou contratou a
gestacáo.

Dito isto, observamos que a matemidade substitutiva nao é licita


pelas mesmas razóes que levam a rejeitar a fecundacáo artificial heteró
loga. Com efeito; é contraria á unidade do matrimonio e á dignidade da
procriacáo humana.

Além do mais, a matemidade substitutiva geralmente é paga, como


se se pagasse o aluguel de urna máquina incubadora. Ora isto degrada a
novo titulo o ser humano, especialmente a mulher, que tende a reivindi
car para si o filho que ela gestou.

306
"ODOMDAVIDA" 19

B. Fecundado artificial homologa (nS 4-8)

Por fecundacáo artificial homologa entendem-se as técnicas desti


nadas a obter um embriáo a partir dos gametas dos dois esposos sem
intervengo de terceira pessoa (doador). Pode ser efetuada ou por trans
ferencia direta dos espermatozoides, recolhidos artificialmente, para as
vias genitais da esposa ou por encontró dos gametas do esposo e da es
posa dentro de urna proveta (FIVETE).

Colocam-se a propósito as perguntas n- 4-8.

4. Do ponto de vista moral, que llame é exigido entre procriacáo e


ato conjugal?

- 0 Criador fez o ato conjugal unitivo e fecundo. Em conseqüéncia,


a cópula sexual entre esposos, por sua estrutura mesma, torna-os aptos
para a geracao de nova vida segundo as leis inscritas no organismo do
horneen e da mulher. Donde se deduz que nao é Ifcito provocar a produ
cto de um ser humano que nao seja o fruto direto do amor de esposo e
esposa.

Com outras palavras: a origem de urna pessoa humana é o resulta


do de urna doacSo. O filho deve ser o. fruto do amor de seus país. Nao
pode ser programado e concebido como o produto de técnicas médicas e
biológicas; isto equivaleria a reduzi-lo a condicao de um artefato da tec-
nologia científica. A ninguém é lícito submeter a vinda ao mundo de urna
enanca a condicóes de eficiencia técnica, avaliadas segundo criterios de
controle e dominio.

5. A fecundacio homologa "in vitro" é moralmente licita?

- Nao há dúvida, o desejo de um filho da parte de casáis esteréis é


muito legitimo. Ora o processo do FIVETE parece ser as vezes a via -
a única via - para a realizacáo de tal anseio.

Notemos, porém, que a boa intencio nao é suficiente para dar legi-
timidade á fecundacao artificial homologa in vitro. Esta há de ser julgada
em si mesma ou como tal. Ora verifica-se que

- o FIVETE implica a destruicáo de seres humanos, tidos como ex


cedentes ou indesejáveis - o que é ilícito;

- mesmo que se tomem todas as cautelas para nao matar embrides


humanos, o FIVETE homólogo dissocia um do outro o ato de fecundacáo

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

e o ato de cópula conjugal. Com efeito; mediante gestos de terceiros, cuja


competencia técnica determina o sucesso da intervencáo, entrega a vida e
a identidade do embriáo ao poder dos médicos e biólogos e instaura o
dominio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana. Ora
isto fere as características especificas da pessoa. A geracio humana, no
caso, já nao é o fruto de um ato conjugal em que os esposos se tornam
cooperadores de Deus para a transmissáo da vida.

6. Como julgar, do ponto de vista moral, a inseminacáo artificial


homólogo?

- Esta há de ser avaliada segundo os criterios já propostos: dissocia


a cópula sexual, expressáo do amor conjugal, do ato de fecundar e pro-
criar. A própria masturbacáo, que seria um dos recursos aplicados para
se obter a sementé vital masculina, é um ato solitario ou um ato queca-
rece da doacáo mutua que a natureza associou a genitalidade. Por isto a
masturbacáo, mesmo quando provocada em vista da fecundacáo artifi
cial, é um ato defeituoso ou um narcisismo que contradiz á natureza.

Só se pode admitir a intervencáo da técnica dentro do relaciona -


mentó sexual dos cónjuges quando visa a facilitar ou completar a acáo da
natureza por ocasiáo da própria cópula. Neste caso, os recursos artificiáis
n§o substituem o ato conjugal, mas ajudam-no a obter a sua finalidade
natural.

Alias, sobre a inseminacáo artificial homologa a Igreja ¡á se pro-


nunciou algumas vezes, sempre no mesmo sentido, desde o ano de 1897.
Cf. PR 226/1978, pp. 414s.

7. Que criterio moral deve ser proposto a respeito da intervencáo


do médico na procriafio humana?

- A acáo do médico nao deve ser avaliada apenas segundo os seus


aspectos técnicos, mas também, e principalmente, em funcáo da sua fi
nalidade, que é o bem das pessoas, tanto no plano corporal como no físi
co. Por isto a medicina deve respeitar a sexualidade no que ela tem de
específicamente humano; n§o Ihe é licito dominar as funcóes genitais á
revelia das leis da natureza, obtendo um embriáo que nao seja o fruto do
ato conjugal de esposo e esposa.-A humanizacSo da medicina, táo apre-
goada hoje em dia, exige o respeito da dignidade integral da pessoa hu
mana, especialmente no ato e no momento em que os esposos transmi-
tem a vida a um novo ser. Os médicos católicos e os responsáveis por clí
nicas ou outros estabelecimentos católicos háo de se empenhar espe
cialmente para que tais normas sejam observadas.

308
"ODOMDAVIDA" 21

9.0 sofrimento da estarílidade conjugal

O sofrimento dos esposos que nao podem ter filhos ou que receiam
ter um filho excepcional, merece ser compreendldo e avallado. O desejo
de prole exprime a vocacáo á paternidade e á maternidade inscrita no
amor conjugal.

Todavía o matrimonio nao confere aos conjuges o direito de ter um


filho, mas apenas o direito de realizar aqueles atos naturais que, de per si,
sao dirigidos á procriacáo.

Com efeito, um direito ao filho seria contrario á dignidade do pró-


prio filho, pois este nao pode ser considerado objeto de propriedade; é
um dom, o maior e o mais gratuito dom feito aos conjuges; é o testemu-
nho vivo da doacáo reciproca dos genitores.

Os esposos que se encontram nestas condicóes, procurem ver ñas


mesmas a oportunidade de participar da cruz do Senhor, fonte de fecun-
didade espiritual. Os casáis esteréis nao devem esquecer que, mesmo
quando a procriacáo nao é possfvel, nem por isto a vida conjugal perde o
seu valor; com efeito, a esterilidade física pode ser ocasiáo, para os espo
sos, de prestar outros importantes servicos á vida, tais como a adocáo de
enancas, as obras educativas, o auxilio a outras familias, ás enancas po
bres e excepcionais.

Os homens de ciencia sao exortados a prosseguir.as suas pesquisas


a fim de prevenir as causas da esterilidade ou mesmo levar-lhes o devido
remedio.

PARTE III: MORAL E LEÍ CIVIL

O direito de todo individuo humano inocente á vida e os direitos da


familia e da instituicáo matrimonial sao elementos constitutivos da socie-
dade civil e da sua ordem jurídica.

Por ¡sto as novas possibilidades técnicas abortas no campo da bio


logía exigem a ¡ntervencáo dos legisladores, pois o recurso incontrolado
a tais técnicas poderia levar a conseqüfincias altamente prejudiciais a so-
ciedade. Os direitos inalienáveis da pessoa devem ser respeitados e fa
vorecidos pela legislacao civil; nao sao urna concessáo do Estado, mas
pertencem a natureza humana por forca do ato criador que Ihe deu ori-
gem.

Em varias nacóes, as leis autorizam a supressao direta de inocentes;


em tais casos, o Estado nega a igualdade de todos perante a lei. Quando

309
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

o Estado nao se empenha pelos direitos dos cidadSos, especialmente dos


mais fracos, sao ameacados os fundamentos mesmos de um Estado de
direito. Por conseguinte, as autoridades civis nao podem aprovar que
certos seres humanos sejam chamados á existencia mediante processos
que os exponham aos gravlssimos riscos de ser eliminados segundo os
criterios da técnica. A lei civil deve também estar a servico da familia; por
isto n§o poderá dar a sua cháncela ¿s técnicas de procriacáo artificiáis
que lesem a intimidade das relacóes conjugáis. Bancos de gametas, ou de
embrides, ¡nseminacáo "apos a morte" e maternidade substitutiva sao
facanhas que a lei, tutora do bem-comum, nao pode apoiar nem oficiali
zar.

Nos países em que as leis contrariam os difames da natureza no to


cante á procriacáo, é para desejar que se reconheca e fomente a "objecáo
de consciéncia", ou seja, o direito que toca aos cidadSos, de se furtar a
obedecer a tais leis. Também se torna necessário que os homens de boa
vontade se esforcem para que sejam reformadas as leis inaceitáveis e
corrigidas as práticas ilícitas. Alias, em nossos dias já comeca a se impor
á consciéncia moral de muitos cidadáos, especialmente na área das cien
cias biomédicas, a exigencia de resistir a legitimacao de práticas contra
rias á vida e á dignidade do homem.

CONCLUSÁO

Intervindo em materia biomédica, a Igreja nao tenciona senáo de


fender o homem contra os excessos do seu próprio poder e, ao mesmo
tempo, lembrar-lhe os títulos da sua verdadeira nobreza: o homem é
criatura singular no conjunto dos demais seres vislveis e, por isto, nSo
pode ser tratado como o sao os irracionais, ou seja, segundo criterios
pragmáticos, utilitaristas, tecnicistas, cientificistas, economicistas... A
Igreja nao tenciona cercear o esforco de reflexSo e pesquisa dos estudio
sos, mas antes favorecer um impulso renovado da ciencia dentro da fide-
lidade á ¡ndelével dignidade humana; o homem só poderá ser feliz se ele
viver e amar dentro dos parámetros da sua natureza chamada a se reali
zar plenamente na transcendencia ou no encontró com o Criador.

Por isto, é formulado um apelo também aos teólogos e moralistas,


para que tornem sempre mais acesslvel aos fiéis e a todos os homens o
ensinamento da Igreja, penhor de sadio desabrochamento da pessoa e da
familia humanas.

Até aqui o texto da Instrucáo. Após a ter lido, o estudioso observa


que as suas respostas estao todas baseadas em determinada antropolo-

310
"O DOM DA VIDA" 23

gia ou conceituacáo do ser humano: afinal que é o homem, cuja p/ocria-


cáo a ciencia contemporánea vem pesquisando? Se nao se leva em conta
tal conceituacáo, o teor da Instrucáo se torna incompreensível.

A Introducido do Documento explana tal premissa antropológica em


breves parágrafos, mas talvez seja este o segmento que menos atencáo
merece de quem procura respostas a questóes concretas. Eis por que o
Cardeal Ratzinger, ao apresentar a imprensa a Instruyo, quis, nos ter
mos abaixo, sintetizar as grandes linhas da antropología subjacente ao
mesmo, que é a do ensinamento constante da Igreja.

1) A pessoa humana consta de corpo e alma, de tal modo que o


corpo nao é simplesmente redutível ás leis da bioquímica, mas integra
um eu ou urna pessoa chamada a participar da vida eterna. O corpo é a
manifestado da pessoa ou é a pessoa na sua visibilidade, de modo que o
respeito devido á pessoa se traduz em respeito devido ao corpo. Conse-
qüentemente, quando o corpo é tratado como objeto ou coisa, deve-se
dizer que é a própria pessoa que sofre tal tratamento.

2} A pessoa humana é dotada de tal dignidadé que ela jamáis pode


ser considerada como objeto, mas é sempre e somente sujeito; ela nao
é algo, mas alguém. Ora a lógica de muitas técnicas atuais de reproducáo
é a lógica da reproducáo de "objetos":Jógica que estabelece urna relacáo
de desigualdade entre o técnico (aquel'e que produz) e aquilo que é pro-
duzido, relacáo de dominio do primeiro sobre o segundo. Embora a ¡n-
tencáo dos cientistas seja boa, ela nao é suficiente para legitimar certos
tipos de experiencia que eles vém realizando. A mentalidade do homem
que assume o lugar de Deus frente ao seu semelhante, já produziu em
nosso século os mais nefastos efeitos e ainda pode originar outros graves
males.

3) Somente o ato sexual realizado entre dois cOnjuges reúne as


condicóes correspondentes é dignidadé da procriacáo humana. Com
efeito; a sexualidade conjugal é a expressáo do dom definitivo que cada
cónjuge faz de si ao outro; assim ela confirma e alimenta entre os espo
sos urna comunháo de amor total e indissolúvel; tal comunháo é chama
da por Deus a participar na obra do Criador (Constituicáo Gaudium et
Spes n- 50,1). Por conseguinte, nao é por acaso que o ato conjugal tem
as duas características de ser unitivo e fecundo. Separar a fecundidade da
comunháo de amor vem a ser um desrespeito tanto a procriagüo como
ao amor humano. O ato de amor conjugal é, portento, o único bergo dig
no do novo ser humano.

Sao estas as grandes verdades que perpassam a Instrucáo Donum


Vhaee inspiram as suas respostas.

311
Na imprensa:

As Réplicas á Bioética

Em slntese: A imprensa notidou reagóes negativas de prolessores e


eclesiásticos franceses á Instrugáo Donum Vitae tía Congregacáo para a
Doutrina da Fé. - VSo abaixo publicadas declaracóes oficiáis do episcopado
da Franca a respeito de tal Documento e das atiludes tomadas em um hospital
francés (regiáo de Ule): as intervencOes desaprovadas pela Santa Sé foram
praticadas sem que o Sr. Bispo responsável o soubesse. Ademáis, Mons. Si-
monneaux, Bispo de Versailles, desmentía formalmente as críticas á Instrucáo
que Ihe foram atribuidas pela imprensa.

Os meios de comunicado social no Brasil publicaram com certo


destaque noticias segundo as quais dentro da própria Igreja Católica -
especialmente na Franca - se teráo feito ouvir vozes contrarias á Instru
cáo Donum Vrtae; até em hospital católico terá ocorrido urna fecundacao
in vhro.

A propósito transcrevemos declaracóes do Episcopado francés que


evidenciam ter havido equivoco em alguns casos ou, em outros casos,
nao se tratar de protestos oficiáis, mas de atitudes de pessoas e grupos
que, em seu nome próprio, procederam contrariamente as normas da
Igreja.

1. Conselho Permanente do Episcopado Francés

"O Conselho Permanente do Episcopado Francés estudou a im


portante Instrucao da Congregacáo para a Doutrina da Fé 'sobre o res-
peito á vida humana nascente e a dignidade da procriacáo', a fim de de-
duzir as suas linhas fundamentáis e considerar a maneira como esse Do
cumento pode esclarecer os católicos e todos aqueles que na Franca se
interessam pelas questóes ai abordadas.

312
RÉPLICAS Á BIOÉTICA 25

1. Na fonte da reflexáo proposta pela Congregado para a Doutrina


da Fé, o Conselho Permanente enfatizou a articulacáo entre os tres ele
mentos que fundamentam o julzo moral: 1) o respeito moral pelo em-
briáo humano desde a sua concepcáo; 2) o respeito pelo ato conjugal; 3) a
recusa de submeter-se a urna lógica técnica como a da 'fabricacao' de
seres humanos.

Estes fundamentos, que todos podem considerar com a perspicacia


da razáo apenas, sao iluminados pela fé: Deus, em seu misterio de comu-
nháo, está na origem de cada ser humano.

2. O esquecimento destes principios em nossa sociedade acarreta


desde já, e por um prazo prolongado, conseqüéncias negativas. A Instru
yo oferece a ocasiio de melhor se avaliar tal situacáo.

3. Quanto ás conclusóes referentes a algumas práticas biomédicas,


a Instrucáo convida a proferirmos um julzo sobre os atos na sua objetivi-
dade. Esta orientacao nao é fácilmente aceita pela mentalidade do ho-
mem contemporáneo, principalmente quando se trata de casos dolorosos
que afetam familias e médicos. O Conselho Permanente confirmou a ne-
cessidade de tornar compreenslveis as graves exigencias recordadas pela
Instrucáo, mediante difusao, comentario e aprofundamento da mesma
em circuios de pessoas interessadas. Nao se trata de dogmatismo, mas
de servico ao homem e ao próprio futuro da humanidade.

4. Foi mencionado o contexto no qual o Vaticano se viu induzido


a tomar a palavra. O Cardeal Ratzinger lembrou que, desde anos tendo
recebido solicitacóes do mundo inteiro para se pronunciar, nao podia
protelar urna tomada de posicáo clara a tal respeito, ainda que fosse pre
ciso mais tarde desenvolvé-la ulteriormente. A Instrucáo nao tem a fina-
lidade de dar urna aula a humanidade, mas tenciona prestara esta o ser-
vico que todos tém o direito de esperar da Igreja".

2. Mons. Vitnet, Bispo de Lílle e Presidente da Conferencia


dos Bispos da Franca

1) Aos 12/03/87*, Mons. Vilnet comunicou que nao fora informado


a respeito das ¡ntervencóes efetuadas pelos médicos da Faculdade Católi
ca de tille, ¡ntervencóes que haviam acarretado o nascimento de urna
enanca por fecundacáo in vitro. Após ter tomado conhecimento do caso
pela imprensa e tendo lido os comentarios feitos por alguns responsáveis
dessa prática médica, o prelado manifestou as reservas que julgava ne-
cessárias.

Esta data corresponde ao teor do texto original francés fNota do tratu-


dor)

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

2) Aos 18/10/86*. Mons. Vilnet se pronunciou a respeito de um nas


cimento por fecundacáo ¡n vhro no Hospital S. Filisberto, dependente do
Instituto Católico de Lille. Eis o teor do seu pronunciamento:

"Em setembro de 1986* ocorreu um nascimento por fecundacáo in


vitro no Hospital S. Filisberto, que depende do Instituto Católico de Lille.
Nessa ocasiáo, foi difundida ampia informacáo que insistía no fato de que
tal caso era o primeiro a ocorrer na Franca sob a responsabilidade de um
corpo de médicos pertencentes a urna Faculdade Católica de Medicina (a
única existente na Franca).

Alguns comentarios de jornalistas deram a entender que tal caso


fundamentava urna especie de jurisprudencia nova para a Moral Católica;
a afirmacáo foi mesmo endossada por um dos médicos que participaram
dessa experiencia de fecundacáo ¡n vitro. Um jornal semanario católico
do Norte da Franca - que nao depende dos Bispos daquela regiao - pu-
blicou duas páginas a tal propósito com urna avaliacáo ética da qual al
guns tópicos sao contestáveis.

Em virtude dos Estatutos oficiáis do Instituto Católico de Lille e da


Federacáo Universitaria, o Chanceler (que é de direito o Bispo de Lille) só
goza de poderes muito limitados no Instituto, a diferenca do que ocorre
em outros Institutos Católicos da Franca. O Chanceler nao possui autori-
dade direta sobre a marcha e as decisóes do Instituto Católico, que tem
como responsável o seu Presidente eleito. A funcáo do Chanceler é re
presentar os Bispos de Cambrai, Arras e Lille junto ás instancias de deci-
sao e de funcionamento do Instituto. Ele está atento á fidelidade da Ins-
tituicao ás regras da tgreja, especialmente em materia doutrinária (artigo
8). Geralmente posso confiar no Instituto Católico e naqueles que o diri-
gem: o senso eclesial que os anima, é seguro; o mesmo se diga do espi
rito que eles comunicam ao Instituto em vista do servico á ciencia, á pes
quisa e ao ensino em fidelidade á Igreja.

No caso particular mencionado, só tive noticia do nascimento por


fecundacáo ¡n vitro quando a noticia comecou a se difundir pela impren
sa. Nao me foi solicitado parecer algum, nem previo nem concomitante á
¡ntervencao.

Os comentarios feitos pelo Vice-Reitor para a imprensa, o radio ea


televisao foram claramente fiéis a doutrina da Igreja e nao tomaram a

Esta data corresponde ao teor do texto original francés (Nota do tratu-


dor)

314
RÉPLICAS Á BIOÉTICA 27

dianteira sobre o magisterio da Igreja. Todavía tive que fazer as devidas


restricóes a certos comentarios oficiosos provenientes de tal médico ou
de tal sacerdote. Em particular, declare! que nao era lícito considerar essa
facanha médica ocorrida em Hospital Católico como fundamento de urna
jurisprudencia que precedería ou condicionaría o magisterio da Igreja.
Lamentei que tenham tornado pública essa intervengo dos médicos. De-
clarei que eu nao poderia aprovar todas as suas modalidades (que nSo
me sao todas conhecidas). Lembrei aos responsáveis que num setor t§o
novo e delicado concernente á concepteo e ao nascimento de urna pes-
soa humana, quaisquer que sejam as condicóes e os anseios dos genito
res, o objetivo nao justifica os meios que os médicos aplicam. Disse mais
que urna extrema delicadeza se impóe para nao desrespeitar as normas
moráis cristas quando se trata de urna pessoa humana como Deus Cria
dor a quer, e chamada segundo o seu amor."

3. A Universidade Católica de Lille

Aos 10/03/87 esta Instituicáo publicou a seguinte Nota:

"A Universidade Católica de Lilte acaba de receber a Instruyo da


Congregado para a Doutrina da Fé referente ao respeito da vida humana
nascente e á dignidade da procriafáo.

Este Documento está sendo estudado com o máximo cuidado por


todos os Departamentos que ele interpela. Em particular, devemos exa
minar, dentro dos prazos oportunos, e em diálogo com todos os interés-
sados, o que esse Documento implica para a prática médica e hospitalar
da nossa Universidade Católica, levando-se em conta tanto a nossa filia-
(3o a Igreja quanto as exigencias específicas da sua missáo universitaria
de pesquisa e a ligacSo dos nossos servicos ao Servico Público Hospita
lar.

Michel Falise
Reitor

Jóróme Régnier
Vice-Reitor"

Estes textos foram traduzidos dos origináis franceses publicados


por S.N.O.P. (Servico Catholique Francals de Presse et d'lnforma-
tion) n? 663 (18/03/87), pp. 8-10. Trata-se de Boletim oficial da Secretaria
Geral do Episcopado Francés e do Secretariado Nacional da OpiniSo Pú
blica da Conferencia dos Bispos da franca.

315
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

4. Mons. Símonneaux, Bispo de Versailles

Aos 15/03/87, Mons. Simonneaux, Bispo de Versailles, fez a se-


guinte declarado:

"Urna Agencia de Noticias atribui-me propósitos que desminto


formalmente:

Aceito a totalidade do Documento 'Instrucáo sobre o Respeito á Vi


da Humana Nascente e a Dignidade da Procriacáo', do primeiro ao último
ponto:

- A enanca nao é devida aos pais, mas é um dom.

- A crianca só deve nascer no grande ato de amor da uniáo


sexual conjugal.

Apenas a respeito do último ponto 'Inseminacáo Artificial entre Es


posos', marido e mulher, eu disse que, se o documento romano - o qual
considera nao aceitável essa forma de procriacao - tivesse dito que ela
pode ser Ifcita em certas situacóes, isto nao me teria causado surpresa.

Com efeito; podemos interrogar-nos, em tais casos, a respeito da


relafáo do natural e do artificial, a respeito da ajuda ou da substituido
trazida pela técnica médica.

Mas eu também disse que permitir a fecundacio artificial homologa


é, sem dúvida, abrir a porta para muitos outros abusos ou desvíos, de
nunciados pela Instrucáo.

De todo modo, a Congregacáo para a Doutrina da Fé fez sua opeáo


e apresentou suas razóes. A atitude do católico há de ser a aceitagáo obe
diente e lúcida".

Traduzido do mesmo Boletim S.N.O.P., edicáo de 25/03/87,


n?664,p.4.

Em apéndice observamos: Mons. Simonneaux julga que nao teria


sido surpreendente ver a Santa Sé admitir a fecundacáo artificial homo
loga (entre marido e mulher), porque, no caso, se pode supor que a téc
nica médica t rabal he na linha do amor existente entre esposo e esposa. -
Como quer que seja, haveria urna certa despersonalizacSo ou mecanici-
zacSo do ato de conceber, que como tal seria ¡ndesejável (a ejaculacáo se
faria fora do organismo feminino e a ¡mplantacio dos espermatozoides
se daria fora do ato de cópula).

316
Entrevista de Bispo eslovaco:

"Bem- aventurados os
que sofrem perseguido"

Em slntese: Mons. Jan Chrysostom Korec SJ.. Bispo eslovaco sep


tuagenario que muito sofreu pela fé, dá testemunho do seu otimismo em reía-
cao ao futuro do Cristianismo..., otimismo que nao se baseia em perspectivas
sódo-pollBco-económicas, mas, sim, na conviccáo de que o Evangelho é
fonte de vitalidade imperecfvel; o próprio sofrimento pelo Evangelho, aceito em
imiáo com Cristo, é fecundo, pois o Senhor sabe aproveitá-lo para derramar
as suas gracas sobre a humanidade carente. - O depoimento de Mons. Korec
é simples, profundo e etoqüente.

Aos 24/08/1986 o Bispo eslovaeo Mons. Jan Chrysostom Korec S.J.


celebrou 35 anos de ordenando episcopal, dos quais oito ele viveu em pri-
sáo e mijitos outros como operario. Atualmente, com 72 anos de idade, o
prelado se acha residente em Bratislava (Eslováquia). Interrogado por
amigos a respeito da situacáo da Igreja na sua patria, Mons. Korec res-
pondeu em tom sereno e confiante, dando belo testemunho de fé e zelo
cristáos.

As palavras de Mons. Jan Korec esclarecem o leitor a respeito da


"Igreja do silencio" e de seus heróis, cuja conviccáo é altamente signifi
cativa. Eis por que traduzimos e publicamos nestas páginas a entrevista
concedida pelo prelado. O texto foi editado em italiano na revista La Ci-
vitta Cattolica, n* 3280,21/02/87, pp. 358-368.

1. A ENTREVISTA

Pergunta: "Como V. Excia. vé os seus 35 anos de episcopado, radi


calmente diversos dos de outros Bispos?"

Resposta: "Nao sonriente a minha vida, mas também a de muitos e


muitos outros, tem sido bem diferente daquela que planejamos quando
jovens e, em particular, daquela que eu imaginei quando em 1939 entrei
na Companhia de Jesús na Eslováquia.... Para muitos sacerdotes e lei-

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

gos, a vida do nosso país reservou surpresas e mudanzas. A Igreja inteira


as experimentou na Eslováquia e na Boémia.

Nao escolhemos a hora do nosso nascimento nem o ambiente his


tórico da nossa vida; tudo isto nos é dado. Em qualquer situacáo, o im
portante é trabalharmos para o bem do próximo, cumprindo a missáo
que nos é assinalada. Para nos, fiéis, é decisivo estarmos convencidos de
que, tudo isto, Deus o sabe e de que Ele está perto de nos. Quando e on
de Tomás Moro realizou melhor a sua missáo: como Chanceler do rei ou
como prisionero? E quando é que Sao Joáo Crisóstomo com mais efica
cia serviu a Deus, á Igreja e aos fiéis: quando ocupava a sé patriarcal de
Constantinopla ou quando estava no exilio ás margens do Mar Negro?
Creio que nao havia diferenca: ambos cumpriam igualmente a sua mis-
sio numa e noutra situacáo.

Segundo o Evangelho, os Apostólos tinham que dar testemunho


nos tribunais perante os reis e os pagaos. Como fiéis e sacerdotes, nao
recebemos a promessa de urna vida fácil, mas a promessa da bem-
aven tu ranea mesmo para os momentos e os anos da nossa penosa tarefa
de testemunhar o Cristo através de injurias, trabalhos toreados e cárcere.
Conforme os Atos dos Apostólos, quando em filipos foram presos pela
primeira vez na Europa, Paulo e Silas 'rezaram e cantaram a Deus', e o
guarda da prisáo, 'com toda a sua casa', se converteu e recebeu o sacra
mento do Batismo. Sao Paulo foi sempre grande e santo Apostólo 'na
gloria e na infamia', nos afagos e ñas tribulacoes, 'como catigado, mas
n3o mono; como aflito, mas sempre alegre'. A cruz é urna especie de es
tatuto da vida crista, e, de modo particular, da vida sacerdotal.

Como vejo os anos passados? - Fui feliz, e por esta felicidade nao
cesso de dar gracas ao Senhor Deus, porque nunca estive privado de
consolacáo, ao menos nao por muito tempo. Por que nao deverlamos
também na Eslováquia testemunhar a nossa gratidáo pelo dom milenar
da fé e o nosso compromisso com o bem da nsefio mediante urna vida
um pouco mais dura? A minha vida teve momentos tremendamente du
ros, como os ocorrentes durante os meus vinte e quatro anos de trabalho
de operario, debaixo da chuva, da nevé e das intemperies. Julgo, porém,
que só com o estudo da Filosofía e da Teologia, se eu só tivesse prepara
do pregacóes e conferencias, provavelrnente nao teria chegado á com-
preensáo e ao conhecimento que agora ten no..., conhecimento de que
Deus é realmente fiel enquanto nos nos esforcemos por ser fiéis a Ele.
Naqueles anos tudo era contrario á vida, mas em tudo estava presente e
vivo Cristo crucificado e ressuscitado, com o seu Esptrito de Verdade e de
Fél Nunca eu quisera, nem hoje desejaria, trocar a vida que viví por urna
vida diferente. Eu nao invejo nenhum de meus contemporáneos, nem os
meus amigos, que fizeram carreira e puderam aplicar os seus dons e ca
pacidades em funcóes de prestigio. Ainda agora rezo por eles, a fim de

318
"BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS"

que nao se apresentem um dia diante de Deus com as máos vazias. En-
contrei no meu caminho muitos obstáculos diflceis e muitos espinhos,
mas também muita paz e alegría. Em particular, agradeco ao Senhor por
nunca ter perdido o desejo de vi ver.

Nao me atribuo grandes méritos. Quanto mais os anos passam,


tanto mais vejo claro que tudo o que tem importancia, pertence a graca,
isto é, a Deus. Tudo é benevolencia e misericordia de Deus. É por bonda-
de dele que estamos na térra, que vivemos, que temos algumas prendas
e dons, que temos forca para suportar e permanecer fiéis, que servimos
aos outros, etc.; 'tudo é graca', como diz Sao Paulo. Além do mais, tudo é
misericordia divina. Todos fomos remidos pela Cruz de Cristo no Batis-
mo, e a nossa redencáo se renova por efusáo de um perdáo continuo.
Quem de nos nao precisa de perdáo? Quantas coisas nao nos esmagam?
De quantas coisas nao'somos responsáveis 'por causa das nossas omis-
sóes', como lembramos no infrio de cada Missa?! Creio que, da parte de
Deus, existe muito mais coragem e heroísmo, se assim posso dizer, do
que da nossa parte. Realmente tudo o que há de bom em nos, é tSo-so-
mente graca. Éstou contente por sentir-me cada vez mais profundamente
convicto destas coisas."

Pergunta: "Como é que no seu ¡solamento V. Excia, vive a catolici-


dadeda Igreja?"

Resposta: "O meu isolamento exterior é certamente grande, mas


interiormente eu nao me sinto ¡solado. Vivemos a uniáo com a Igreja,
principalmente dentro da consciéncia, no coracáo, com a fé e com o
amor. Desta maneira vivemos a nossa uniáo com os fiéis, com os sacer
dotes, com os Bispos, com o Vigário de Cristo, mesmo quando estáva
mos no caree re. Ainda que as noticias sobre a vida da Igreja sejam escás-
sas para nos, sabemos o suficiente para a podermos amar sempre
mais. Qualquer noticia nos exalta, mesmo a mais breve, que nos informe,
por exemplo, sobre o modo como os Bispos, os sacerdotes, os fiéis cum-
prem a sua missao na Alemanha, em El Salvador ou no Zaire e ñas Fili
pinas. A Igreja é una, santa, católica e apostólica! Teve um Sao Vicente
de Paulo, hoje tem Madre Teresa. Teve ñas suas fileiras gente que paga-
va a liberdade dos escravos com a própria vida, mas também em nossos
dias teve um Maximiliano Kolbel Ela teve grandes Papas, como Sao Le9o
Magno; hoje temos Joáo Paulo II. A Igreja encontra dificuldades e é criti
cada, mas tenta superar estas dificuldades com tenacidade; responde as
críticas com a sua vida; purifica-se. E, quando anuncia com entusiasmo e
coragem as verdades evangélicas no mundo inteiro, neste mundo que
parece ter perdido a medida e o bom senso, Ela defende o homem, cada
um em particular, protege a familia e a tutela, estuda os ensinamentos e
as sugestóes do Concilio procurando inseri-los na vida. Criticam-na á

319
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

direita e á esquerda; atacam-na, perseguem-na, mas Ela cumpre a sua


missáo sempre com grande confianza".

Pergunta: "Para V. Excia., quem é o Papa?"

Resposta: "Quem é o Papa para mim? É o Santo Padre. Mais o ata-


cam, e mais agradecemos a Oeus que nos tenha sido concedido. Todos
os dias. Admiramos a sua inteligencia, a sua capacidade, a sua forca e a
sua tenacidade, a sua espontaneidade e a sua fantasía, a sua fé e o seu
amor. Dá-se a todos, e está muito próximo de todos nos, até de nos, es
lovacos. A Igreja precisava dele como testemunha da fé e do amor, como
mensageiro da unidade. Ele era necessário a este mundo dilacerado pelo
odio. Lembrai-vos ainda de que, quase em agonia, no terceiro dia a pos o
atentado, gravou com voz f raca o Ángelus do domingo e perdoou ao seu
agressor? Depois disto, chegou a visitá-lo na priséo. Os malvados ínter-
pretaram mal também este gesto. Na nossa situacSo a pessoa do S. Pa
dre é, para nos, o sinal fundamental da unidade, que nos sustenta e dá
forca. Guando ouvimos a sua voz, nos nos sentimos, aqui na Eslováquia,
como que urna só familia, como domestica Dei, como filhos de Deus na
sua Igreja. Sentimos que pertencemos á familia dos fiéis do mundo in-
teiro. Toda oracáo de Bispos, sacerdotes e fiéis em qualquer parte do
mundo, proferida em nosso favor, vem a ser para nos um poderoso en-
corajamento. Somos realmente gratos por qualquer palavra verídica dita
a respeito de nos, em defesa nossa, e somos gratos na mesma medida,
proferida que seja na Austria, na Alemanha ou na Franca. Em tais mo
mentos sentimos a unidade da Igreja e um santo orgulho para com Ela,
cuja pedra fundamental é Pedro, e hoje Joáo Paulo II".

Pergunta: "Na Tchecoslováquia tende-se a dividir a Igreja em duas:


urna legal e a outra clandestina. Como V. Excia. vé essa divisáo, dado que
em 1951 foi V. Excia. ordenado Bispo secretamente?"

Resposta: "Bem sei que se fala de 'Igreja clandestina'; a respeito es-


crevem os jomáis, incluindo-nos nela. E muito interessante. Mas nin-
guém procura as causas desta situacáo; ninguém pergunta por que entre
nos há sacerdotes e Religiosos excluidos da vida pastoral ou por que, há
alguns decenios, foram ordenados. Bispos, aos quais durante decenios
nao foi permitido nem mesmo aproximar-se do altar das igrejas católi
cas. Ninguém toma a iniciativa de explicar realmente por que nao exis-
tem Igrejas clandestinas, por exemplo, na Austria e na Franga, nem
mesmo na República Democrática Alema, onde nSo é proibido aos sacer
dotes e aos fiéis exercer publicamente atividades religiosas. Pelo que me
diz respeito, nunca distinguí, na Eslováquia, Igreja clandestina e Igreja
n3o clandestina. Existe urna só Igreja. Também o sacerdocio é um só: o
de Cristo. Os sacerdotes tfim a possibilidade de ser fiéis e infléis. Muitls-

320
"BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS" 33

simos sacerdotes ativos na vida pastoral podem ser apontados como


modelos de vida apostólica. Educam as enancas, ministram os sacra
mentos e celebram a Eucaristía, até mesmo em situares diflceis. E os
casos de infidelidade? O sacerdote infiel deve saber ler na sua própria
consciéncia, deve pensar no que prometeu por ocasiáo da sua ordenacáo
e compará-lo com o que ele hoje faz. Os bons sacerdotes sao realmente
estimados pelos fiéis. O bom sacerdote, na Eslováquia, assemelha-se a
um bom pai de familia; os nossos fiéis nao perderam a fé por causa dos
maus padres, como nao renegaram o Evangelho por causa de Judas;
este era, sim, zeloso pelos pobres, mas por trinta moedas de prata traiu o
Mestre.

Os sacerdotes aos quais se proibe o exerclcio do ministerio, nao


deixam de ser sacerdotes. Nem os Religiosos deixam de ser tais. Consa-
grar-se ao Senhor é coisa que todos podem fazer na térra e, por isto,
também na Eslováquia, pública ou secretamente. A isto ninguém se pode
opor. Se hoje temos na Eslováquia e na Boémia leigos que pensam e vi-
vem com a Igreja, sao um dom do Senhor ¿ nossa Igreja. Nos Ihes somos
profundamente gratos... Cada um de nos deve ser luz, sal, fermento - o
sacerdote, o Religioso, cada fiel. - Devemos, porém, permanecer sempre
unidos á Igreja e deixar-nos guiar por fia. A nenhum fiel, a nenhuma
comunidade é lícito romper este vinculo da unidade e considerar-se uma
élite independente, se nSo se quer separar da Igreja. NSo basta ter a Bi
blia ñas mSos e lé-la. É a Igreja que nos explica também a S. Escritura. É
segundo as diretrizes da Igreja que exercemos o apostolado, ministramos
e recebemos os sacramentos. Tudo com a Igreja e na Igreja."

Pergunta: "As peregrinajes, em 1985, a Levoca, Sastfn, Trnava,


Velehrad mostram que a juventude manifesta com vivacidade sua fideli-
dade á religiSo. Segundo V. Excia., trata-se de fenómeno meramente
humano ou é sinal de processo muito mais profundo?"

Resposta: "Para quem eré, nenhum fenómeno é meramente huma


no. Ninguém escapa a Deus, que guia e governa a vida dos individuos e
das nacóes. De modo particular, porém, devemos dizer que a renovado
da vida religiosa na Eslováquia e na Boémia nao é apenas obra humana.
É obra do Espirito Santo, que concede copiosamente os seus dons e ca-
rismas. O primeiro dom é a própria fé. Se esta é viva, atesta a presenca
viva do Espirito Santo, cujos dons sao ás vezes táo manifestos e surpre-
endentes que parecem quase milagres. Está perto do milagroso o fenó
meno que observamos nos últimos anos entre nos, a saber: milhares e
milhares de pessoas, jovens especialmente, mas também nao jovens,
procuram Deus com insistencia e O encontram através do seu Filho na
Igreja. Depois que O encontram, a sua fé, vivificada pelo amor, nao se
deixa mais acorrentar. Parece um novo Pentecostés. Cada um procura

321
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

urna comunidade de fiéis. Surgem novas propostas e novos programas,


com entusiasmo organizam-se movimentos de espiritualidade e assim a
vida crista se desenvolve. Quase em todas as cidades, e agora também
em todas as aldeias. É um fenómeno maravilhoso que se manifesta com
sacriftcio, com espirito de iniciativa e com coragem. Temos urna juventu-
de maravilhosa, temos jovens esposos e casáis menos jovens, como tam
bém avós e avos dignos de admiracáo. Reúnem-se em torno do sacer
dote. Agrupam-se ao redor de leigos fiéis e cheios de entusiasmo, que
estáo em contato com os sacerdotes e, mediante estes, com toda a Igreja.
Ouvem as palavras do Santo Padre, meditam o Evangelho, participam
diariamente da Eucaristía, estudam e aprofundam as questóes da fé, da
vida espiritual e as necessidades da Igreja de hoje. Participam das vía-
gens, que reforcam o seu amor para com as comunidades cristas, e tes-
temunham esse amor perante aqueles que estáo á procura de Deus...

Tudo isto seria meramente humano? N3o... É um dom do Espirito


Santo. Nao merecido, como nao o sao as gracas. Mas na dispensario da
salvacáo parece que Deus instituiu urna especie de ordem ou de regra: a
oracéo e os sacrificios de uns ajudam os outros. Hoje milhares de pessoas
que sofrem, rezam pelo dom do apostolado; e nos anos passados milha
res de sofredores, de modo diverso, desde a doenca até os cárceres, pe-
diam a fidelidade dos sacerdotes e a fé dos jovens de hoje. Nenhuma fa
milia, nenhum estudante, nenhuma crianca na escola, nenhum pai em
seu posto de trabalho sofreu inútilmente. Nenhum sacerdote, nem mes-
mo os Bispos Vojtassak e Gojdic sofreram inútilmente."

Pergunta: "No povo reinam ceticismo e cansaco, como se se en-


contrassem num beco cegó, sem salda. Nao so em nossa patria, mas no
mundo inteiro. Em tal situacáo, que é que a Igreja traz e oferece d patria,
a nació, ao mundo? Como vé V. Excia., neste contexto, a atividade da
Charta 77 e do Comité de Defesa dos injustamente Perseguidos?"

Resposta: "Sao tantas as perguntas assim feitas. Estáo a resolvé-las


os sociólogos, os historiadores da cultura e muitos outros estudiosos.
NSo nos deve surpreender o fato de haver no mundo, e também entre
nos, tanto desánimo e perplexidade. Nos nossos Samizdat1 li em língua
eslovaca e tcheca cartas táo perturbadoras que me deram dor de cabeca.
Isto me faz sofrer, porque tais escritores nao tém urna vislo crista nem
atitudes cristas. Para eles, tudo é apenas marasmo, lama, sujeira, dejetos;
neles nao se percebe urna chamazinha de esperance. Tais ensaios foram
escritos por autores cheios de cinismo ou desespero. Nao posso reco
mendar essa literatura; que adianta lé-la? Ide, antes, procurar os nossos

1Escritos clandestinos que os dissidentes fazem circular nos países co


munistas.

322
"BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS" 35

jovens, rapazes e mofas, cheios de fé. Conversai com eles, sal com eles
para fazer esqui, partid pai da Via Sacra deles ou tomai parte numa es
calada alpinista com eles. Entáo veréis algo de diferente. Veréis o ceticis-
mo as avessas. É a coisa mais preciosa que temos na Igreja, columna ve-
rítatis, a coluna da verdade.

Entre as realidades fundamentáis da nossa vida crista, está a espe


rarla, vivificada pela fé e principalmente pelo amor. Nao se trata de re
tórica. Observai urna máe crista. Ela nao tem tempo para o ceticismo; ela
ama os seus filhos e por eles tudo sacrifica. Vede aquele jovem que, de-
pois de haver passado pelo exame de maturidade, quer ser sacerdote!
Quer sacrificar-se para o bem dos fiéis, porque vé que os homens preci-
sam nao só de médicos e de pedreíros, mas experimentam também as
necessidades da alma e do espirito, e ele quer oferecer-se exatamente
para atender a esta tarefa. Um tal desejo nao pode brotar do ceticismo.
Trata-se, antes, de admirável boa vontade, entusiasmo, interesse, pro
grama e visSo do futuro, que tenciona ajudar, formar, criar. Observai ou-
tros ainda: os que se dedicam aos doentes; também estes nao s§o céticos,
porque, com o amor a Cristo, salvam e enriquecem a vida, tornando-a
suportável. Tudo isto se difunde em nosso país; mas nao se trata apenas
de nos, e sim da Igreja inteira. Observai Madre Teresa e as suas filhas es-
pirituais; apaixonam o mundo inteiro. Observai os missionários em todos
os continentes. Entre eles há também os nossos missionários eslovacos.
Também estes nao sao inspirados pelo ceticismo; sao, antes, levados pela
fé e o amor.

Observai o Santo Padre! NSo Ihe falta entusiasmo. Numa viagem


apostólica a Asia, profere dezenas e dezenas de discursos: aos diploma-
tas, sos dentistas, aos jovens e aos sacerdotes, e ainda acha tempo para
os leprosos e para os encarcerados. Para todos ele tem urna palavra de
encorajamento.

NSo, nos nao afundamos, nem queremos cair no ceticismo. Nem


queremos estar sempre a recordar as páginas obscuras da vida. Conhe-
cemo-las suficientemente. NSo gosto de falar apenas de insuficiencias.
Isto deprime. Sabemos como deveria ser a vida conforme o Evangelho;
por isto vivemos assim e tentamos exprimi-la ao mundo. A Igreja nao
quer saber do ceticismo da capitulado; mas também nao se desinteressa
dos problemas do mundo. Pessoalmente, sinto-me feliz quando pensó
que no Japao, onde o número dos católicos é tio reduzido, a Igreja conta
quase 7.000 Religiosas, que dirigem escolas e tratam dos doentes nos
hospitais; a Igreja lá mantém escolas elementares e medias, escolas pro-
fissionais e Universidades, com dezenas de milhares de estudantes. A
Igreja nao os orienta para o ceticismo, mas para as atividades da vida...

Isto tudo atesta o contrario do ceticismo e da defeccdo; é, antes, o


sinal da vida e da criatividade do Evangelho. É verdade que no mundo

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

muitos problemas pesam sobre nos. Ás vezes nem todos concordamos


sobre a maneira de os resolver. Mas, se permanecemos no plano da fé,
tornamo-nos capazes de procurar e tentar solucdes. É justamente isto
que a Igreja faz no mundo. A Igreja nao vive apenas nos templos. Após a
Missa os fiéis se váo pelas rúas da cidade e das aldeias, com a sua missáo
crista de testemunhar e de servir. Todos sabem disto. Sabem-no mesmo
os governantes dos países que nao sao favoráveis a Igreja ou até que
Ihe sao decididamente hostis. A Igreja goza da estima mesmo dos povos
nao cristáos. Para nos, é muito significativa a noticia de que, na fndia dos
últimos cem anos, nenhuma visitante ou nenhuma personalidade foi re-
cebida com tantas honras quanto Joáo Paulo II em 1986.

Por isto o nosso povo nao sonriente estima a Igreja, mas a ama. Foi
através da Igreja que o nosso povo renasceu; Ela nos sustentou em nossa
vivencia de nacáo durante séculos, mesmo nos momentos mais difíceis.
A Igreja nos falou nos seus sermóes e no confessionário, em nossa Itn-
gua; manteve as nossas escolas; criou Universidades em Trnava e Kosice;
os seus sacerdotes defenderam e orientaram a nacáo; deram ao povo es
critores como Bento Sólesi S. J., Jan Baltazár Magin, Bernolák, Holly,
Moyses, Radlinsky. A Igreja nos deu poetas até Janko Silan; educou
muitos cientistas. Sim; a nacáo viveu com o Cristianismo e este viveu no
povo. Sládkovic, Hviezdoslav e Vajansky foram homens de fé. Urna tal ri
queza nao será obscurecida nem reduzida ao silencio por algum medio
cre escritor atual ou por algum poeta de pouco valor. A nossa tarefa con
siste em lembrar á juventude aquilo que outros querem esconder, isto é,
que, desde a sua origem nos tempos dos Santos Cirilo e Metódio, a na
cáo viveu alimentando-se da Igreja e do Evangelho. A Igreja em nossa
patria está estritamente ligada á nacáo, e o povo a Ela está ligado. A his
toria nao pode ser mudada nem alterada. Estou firmemente convicto de
que alguns milhares de individuos nao conseguiráo modificá-la. Stat
Cnix dum votvhur orbis.1 É verdade que muita coisa depende de nos...
Cada gerapáo é responsável pela continuidade espiritual da nacjo. Mas,
se vivermos na fé e tivermos amor á nacáo, o Senhor nao nos abando
nará..."
Pergunta: "Para terminar, ainda urna pergunta. A Tchecoslováquia
é governada por um sistema que quer eliminar a religiáo da vida da so-
ciedade. Segundo V. Excia., nacóes tao pequeñas como a Eslováquia e a
Boémia tém esperanca de conservar a sua fé na Igreja, se, do ponto de
vista estritamente humano, a luta é desigual, para nao dizer ¡mpossfvel?"*

Resposta: "... O nosso povo conservou e desenvolveu a sua vida em


meio a circunstancias históricas desfavoráveis, nao só gracas ao pao que
ele cultivava nos campos, mas também gracas á Palavra de Deus, ali
mento que a Igreja Ihe dava; assim o povo sabia por que vivia... A sua

'/\ Cruz permanece de pé, enquanto o mundo gira.

324
"BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS" 37

identidade, velhos e jovens a viviam com o rosario ñas máos em casa,


nos campos, em viagem; exprimiam-na em proverbios, canches, em es
culturas de lenho ou de pedra, nos bosques e ñas pragas...; concretiza-
ram-na construindo igrejas, onde festejavam a sua consciéncia crista...
todos os domingos, em cada Natal, em cada Sexta-feira Santa e em cada
manhá de Páscoa. A nacáo-vivia e criava em espirito de fé. E, quando so-
brevieram os tártaros e os turcos, a nacáo nao aceitou os costumes de
les e se defendeu com as armas; a alma do povo nao aceitou os elemen
tos estranhos; a nacáo resistiu; como um estómago sadio rejeita o ali
mento envenenado, assim fez o povo eslovaco. Em nossa nacáo nao en-
controu terreno fértil o lluminismo1 avesso ao Cristianismo, á religiao, á
Igreja. Tsmbém hoje a nossa gente resiste, em notável proporgáo, a to
das as dificuldades; senté que a sua vida é um misterio... O povo eslovaco
nao está disposto a renegar o Cristianismo; isto seria o mesmo que Ihe
quebrar a coluna dorsal... Numa nacáo como a nossa, o ateu nao encon-
tra terreno fácil. Provavelmente o próprio ateu no seu íntimo nao está táo
convencido de que tudo é materia e de que Deus ndo existe. Sim; é muito
difícil ser ateu até o último suspiro. Conheco casos como"o de um profes-
sor universitario que, doente de cáncer, se pos a chorar e consentiu em
chamar um sacerdote. Freqüentemente acontece que um personagem
saliente se prepare para a morte com um sacerdote ao lado e, antes de
morrer, exprima o desejo de ser sepultado cristámente. Encontramos fi-
Ihos e filhas de genitores militantes na política que se proclamam ateus,
mas que estáo á procura de Deus, comecam a ler o Evangelho e, com as
lágrimas nos olhos, voltam para ou encontram o verdadeiro caminho na
Igreja. Um autor ateu escreveu que conhece casos nos quais os moribun
dos exprimem o desejo de que se Ihes leia a Biblia, mas nao conhece ne-
nhum caso no qual o paciente tivesse solicitado que se Ihe lesse algum
trecho do O Capital.

Estes e outros sinais reforcam a minha conviccáo e a minha con


fianza em Deus de que os nossos povos, eslovaco e tcheco, se conserva-
rSo na fé para o futuro. E, se nos, fiéis, formos testemunhas verdadeiras,
a familia dos crentes se ampliará e confirmará, porque aqueles que foram
traídos por outras perspectivas de esperanza veráo o nosso testemunho
vivo e a nossa vida feliz em Deus.

A luta é desigual? - Quem o pode dizer com certeza, se nos esta


mos com Deus e Ele está conosco? Parece impossível? Mas no Evangelho
está escrito, e eu aprendi a acreditá-lo com todo o coráceo, que, aquilo
que é impossfvel ao homem, Deus o pode fazer. Na Eslováquia, já sao
milhares aqueles que manifestam coragem, fidelidade e entusiasmo mis-
sionário. Muita gente perdeu o medo, porque éncontrou de novo a con-
fianca em Deus. Sobre todos nos pesa a ameaca atómica e todos um dia

1Corréate filosófica racionalista do sáculo XVIII ("Nota do tradutorj.

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

teremos que nos apresentar á presenca de Deus. Que é que queremos


salvar, se nao salvarmos a nossa alma e perdermos a eternidade? Por isto
muitos dos nossos fiéis estáo dispostos a enfrentar sacrificios e a dar
testemunho; querem copiar textos e difundi-los em comunháo com a
Igreja. Hoje para muitos irmáos o problema da fé é fundamental e, para
nao a renegar, renunciam á carreira, a um salario mais elevado, porque
nao conseguem conceber a vida sem a fé. Urna estudante ginasial vive a
sua fé com tanta naturalidade que, por ocasiáo de um inquérito referente
a um retiro espiritual realizado numa choupana de bosque, nada respon-
deu a um policial; quando este se enfureceu, a menina respondeu com
calma que ela nao era muito dada a falar, mas que sabia cantar bem e, se
ele o desejasse, ela Ihe poderia cantar algo. NSo é belo? Naturalmente a
ira do policial esvaneceu-se. Um povo que tem tal juventude, nao é um
povo sem esperanza!

As vezes parece que em nossos dias nao podemos fazer quase nada
pela fé e pela Igreja, quando na verdade podemos fazer muitas coisas.
Basta que cada um olhe em torno de si, e n§o se isole. A Igreja está em
meio ao nosso povo há mais de um milenio I Eis o que escreveu um
grande poeta nosso cristáo, Janko Silan: 'A última tarefa nossa será a de
nao ceder, mas vigiar sobre as metas. Permanecer aqui firmemente, é o
nosso deverl' E acrescentou: 'A luta nao nos surpreenderá. A nossa fonja
brota da verdade. Nao sao homens aqueles que renunciam ao direito'....
Temos urna palavra ainda mais forte, a Palavra de Deus, que diz: 'Pai
Santo, guarda no teu nome aqueles que me deste, para que sejam um só
como nos..., para que tenham em si mesmos a plenitude da minha ale
gría' (Jo 17,11-13). Estas palavras de Jesús contém para nos urna torga
sem igual. Ele nos considera seus filhos e nos protege. Por isto, mesmo
conscientes da nossa fraqueza e fragilidade, devemos ter firme confianza
nele. Pois é certo que em toda batalha travada em prol da fé a última pa
lavra éde Deus!"

É muito reconfortante perceber ñas declaracóes de um septuage


nario perseguido em clima hostil tSo sadia confianca nos valores espiri-
tuais. Mons. Jan Korec nao se deixa abater nem pelo quesofreu nem
pelo que a Igreja sofre hoje. Ele sabe que o próprio sofrimento, aceito
com Cristo, é fecundo e salvffico; ele-eré nos designios da Providencia
Divina, que nao abandona os seus fiéis. Ele conhece a resistencia heroica
e a atividade de jovens e adultos que trabalham clandestina e aberta-
mente pelo progresso do Reino de Deus.

Possam as palavras do venerando pastor avivar o ánimo dos seus


leitores! É certo que Deus chama todo cristáo a trazer em si a disponibili-
dade generosa dos mártires.

326
No Sul do Brasil:

Ordenado
de homem casado

Em vista dos comentarios da imprensa escrita e-talada ao caso do


Diácono Ivo Schmitt, que fo¡ ordenado presbítero aos 02/05/87 em Fre-
derico Westphalen (RS), publicamos, a seguir, carta do Sr. Bispo diocesa
no D. Bruno Maldaner, que explica a tramitacáo canónica pressuposta
por tal cerimdnia. O esclarecimento é de fonte auténtica e dissipa os
equívocos que os fatos possam ter suscitado.

A CARTA DO SR. BISPO

"Frederioo Westphalen, 16 de abril de 1987

Estimados srs. Párocos e


demais Irmáos no Sacerdocio.

1. - Como é do conhecimento de todos, o Diácono permanente,


casado, IVO SCHMITT, do Clero da nossa Diocese, obteve recentemen-
te. do Papa Joáo Paulo II, a dispensa do impedimento do vinculo ma
trimonial, para poder ser admitido á Ordem do Presbiterato.

2. - O canon 1042 do Código de Oireito Canónico diz:

"Sao simplesmente impedidos de receber as ordens (sacras):

1S. - o homem casado, a nao ser que se destine ao diaconato


permanente."

3. - Mas o canon 1047, no § 2. assim reza:

"Também a ela listo é, á Só Apostólica) é reservada a dispensa


das seguintes irregularidades e impedimentos para a recepcio das Or
dens:

327
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

1!.

2!

3-. - do impedimento mencionado no canon 1042, n. 1."

4. - Tendo presente estas disposicdes do Código de Direito Ca


nónico, o Diácono Ivo Schmitt, etn maio de 1986, encaminhou ao San
to Padre, com a recomendacáo do Bispo Diocesano, um pedido de dis
pensa daquele impedimento para poder receber a ordenacáo sacerdotal.

5. - Alguns meses depois, o Secretario da Sagrada Congregacio


dos Sacramentos, que é o Dicastério da Curia Romana competente na
materia, solicitou mais os seguintes documentos:

a) Currlculo de estudos e testemunhos sobre a idoneidade do


Orador, relativamente as qualidades que sao requeridas dos candidatos
ao sacerdocio pelas normas do Direito, principalmente no que diz res-
peito aos estudos filosófico-teológicos;

b) Documento escrito e assinado - válido também no Foro Civil


-, no qual a esposa declara explícitamente que renuncia, livremente e
para sempre, a todos os direitos conjugáis;

c) Documento por escrito, no qual o Orador declara que conhece


perfeitamente e assume livre e espontáneamente os deveres decorren-
tes da ordenacáo sacerdotal, principalmente do celibato eclesiástico, e
que está disposto a observá-los firme e fielmente até o fim.

6. - Toda esta documentacáo foi providenciada e encaminhada i


Santa Sé, via Nunciatura Apostólica, no día 20 de outubro de 1986.

7. - Em meados de dezembro de 1986 o Bispo recebeu do Prefei-


to da Sagrada Congregacio dos Sacramentos, Cardeal Agostinho Ma-
yer, o Rescrito Prot. n? 982/86, no qual ele comunicava que o Santo
Padre, na audiencia concedida no dia 13 de novembro de 1986, depois
de ouvir o Relatório do Emo. Sr. Cardeal Secretario de Estado, tendo
presente a exposicao feita pelo Bispo de Frederico Westphaten, e le
vando em cdnsideracio as circunstancias especiáis do caso, se dignou
conceder a graga solicitada, de tal modo que o mesmo Bispo de Frederi
co Westphalen pode, segundo o seu prudente jufzo, admitir o Diácono
Ivo Schmitt á sagrada Ordem do Presbiterato. Acrescentava ainda o
Rescrito que, para remover por acaso a admiracao dos fiéis, o candidato
fosse destinado a um lugar e a funcdes mais aptas a ele.

328
ORDENADO DE HOMEM CASADO 41_

8. - Convém esclarecer que o Diácono Ivo Schmitt, há mais de


dsz anos, convive com a sua esposa como se irmáos fossem, devido a
doenca física ¡rreverslvel, da parte déla. Portento, há mais de dez anos
eles nao tem mais vida conjugal, e vivem como irmSo e irmi.

9. - Cortamente esta foi urna das principáis razóes pelas quais o


Santo Padre concedeu ao Diácono Ivo Schmitt a graca da ordenacáo
sacerdotal.

10. - Praticamente, todos os padres que formam o Presbiterio da


Diocese de Frederico Westphalen, como também as liderancas leigas da
Paróquia da Catedral, onde o Diácono Ivo já exerce o ministerio diaco
nal, e onde val exercer, depois, o ministário sacerdotal, receberam com
grande alegria a noticia, e manifestaran) por escrito o seu reconheci-
mento ao Santo Padre Joáo Paulo II, pela graca concedida ao Diácono
Ivo.

11. - Ñas paróquias em que trabalhou como Diácono, Ivo Sch


mitt granjeou a estima e a amizade dos paroquianos, pela humildade, o
equilibrio e o bom sendo e, sobretudo, pela piedade e pelo testemunho
de vida que a todos deixou.

12. - Peco aos srs. Párocos e demais Sacerdotes que os fiéis das
suas paróquias sejam suficientemente esclarecidos sobre as circunstan
cias e as condicóes em que esta greca foi concedida ao Diácono Ivo.
Deste modo, a sua ordenacáo sacerdotal será recebida sem estranheza
nem admiracáo, mas com naturalidade, pelo povo fiel.

13. - A ordenado sacerdotal do Diácono Ivo Schmitt está mar


cada para o dia 2 de maio, sábado, ás 16 horas, na Igreja Catedral de
Frederico Westphalen. Todos os padres sao convidados.

Fraternalmente,

Dom Bruno Maldaner


BIspo Diocesano"

OBSERVACÓES

Para ilustrar o caso, observe-se:

1} A Igreja permite a ordenacáo diaconal de homens casados. Estes


nSo devem pleitear a ordenado sacerdotal.

329
42 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

2) O diácono Ivo Schmitt nao se separou da esposa, com quem vi


ve como irmSo há mais de dez anos; portanto, nao a desamparou nem
mudou seu comportamento para com ela.

3) A fim de se ordenar, o diácono Ivo Schmitt nao pos fim ao seu


relacionamento conjugal com a esposa. Este foi definitivamente extinto
por urna doenca irreverslvel há mais de dez anos. A Providencia Divina,
sabia como é, permitiu este evento.

4) Verifica-se que Ivo Schmitt foi ordenado diácono em 1? de fe-


vereiro de 1981; portanto,... já depois de nao ter mais vida conjugal com
a esposa. Foi-se sentindo cada vez mais chamado ao servico de Deus;
pelo que pediu a ordenacáo sacerdotal. Esta Ihe foi concedida, visto que
nao causaría daño á consorte do candidato.

5) A palavra "Rescrito" tem sua origem no fato de que amiga


mente as respostas as peticóes dirigidas á Santa Sé eram escritas na fo-
Iha mesma da peticáo. Esta assim se tornava um documento re-escrito ou
escrito de novo.

Canónicamente, "rescrito é o ato administrativo baixado pela auto-


ridade competente executiva, mediante o qual, por sua própria natureza,
se concede privilegio, dispensa ou outra graca, a pedido de alguém" (ca
non 59 §1?).

BREVE CURRÍCULO DE VIDA

Ivo Schmitt é filho de Vilibaldo Schmitt e de Paulina Land Schmitt,


ambos falecidos. Tem onze irmáos, dos quais dois falecidos. Nasceu no
dia 16 de novembro de 1920, na localidade de Colonia Itagiba, interior do
Municipio de Taquara (RS).

Trabalhou com seus pais na agricultura até os 23 anos de idade. In-


gressou entáo na Escola Normal Rural da Arquidiocese de Porto Alegre,
cujo curso teve que ¡nterromper por falta de recursos financeiros.

Reiniciou seus estudos em 1957 no Ginásio Comercial Gen. Osório


em Rolante, onde exerceu o cargo de Agente de Estatlstica do Instituto
Brasileiro de Geografía e Estatística.

Fez a quarta serie no Ginásio Estadual de Humaitá (RS) em 1969. A


seguir, fez o curso de Técnico em Contabilidade na Escola Comercial
Fernando Ferrari na mesma cidade. Nessa época freqüentou também a
Escola Paulo VI em Santa María em curso de ferias intensivo, preparan-
do-se para receber a Ordem do Diaconato.

330
ORDENACÁO DE HOMEM CASADO 43

Á custa de milito esforzó, tornou-se Bacharel em Ciencias Sociais e


Jurídicas pela Faculdade de Direito de Santo Angelo (RS), onde também
fez o estágio na O.A.B. (Secfio RS).

Aposentado como Exator Estadual, recebeu a Ordem do Diaconato


permanente a 1? de fevereiro de 1981 na cidade de Humaitá (RS). Passou
entáo a exercer seu ministerio na Pardquia de Irat por dois anos.

Transferiu residencia para Passo Fundo, onde, com a devida autori


zado de D. Bruno Maldaner, freqúentou o Curso de Teología no Instituto
de Teología e Pastoral com freqüéncia normal, juntamente com os de-
maís teólogos, dos quais onze já foram ordenados presbíteros.

É casado com a Sra. Adulina Nitsche Schmitt. Nao tem filhos vivos.
Tem um filho adotivo, Mario, homem casado e paí de dois filhos.

Vé-se, pois, que a ordenacáo sacerdotal de Ivo Schmitt é urna exce-


cáo dentro da praxe da Igreja..., excecao justificada pelos antecedentes
apontados. Especialmente leve-se em conta o fato de que nSo prejudicou
a esposa do candidato, a qual foi devidamente consultada e outorgou seu
livre consentimento.

A guisa de complemento, observamos que no Brasil houve em 1986


caso paralelo (embora dotado de características próprias) na diocese de
Nazaré da Mata (PE); ver PR 290/1986, pp. 334s.

Em circunstancias bem diferentes a Santa Sé tem permitido a or


denado de homens casados», quando se trata de ministros anglicanos
convertidos ao Catolicismo. Tém sido varios esses casos, a ponto que a
Santa Sé declarou em 1981 nao tencionar extinguir o celibato sacerdotal,
mas conceder dispensas esporádicas e pessoais, em vista das característi
cas de cada candidato; ver PR 259/1981, pp. 387-391.

Ainda recentemente a imprensa publicava a seguinte noticia, que


mostra como os casos se repetem, mas sempre em caráter esporádico:

"Casados sao ordenados padres

O Vaticano autorizou dois padres anglicanos casados a receber a orde-


nagáo sacerdotal na Igreja Católica. O Dr. Peter ComweII. 52 anos, era vigário
anglicano da Universidade de Oxford e se converteu há dois anos. O Dr. Da~
vid Mead-Briggs, 76 anos, já se convertera em 1955. Ambos contínuarño ca
sados" (O SAO PAULO, 22 a 28/05/87).

331
Fala-se milito de...

As "riquezas" do Vaticano

A propósito das famosas riquezas do Vaticano, o jornal O GLOBO,


em sua edicSo de 16/04/87, p. 16, publicou as seguintes noticias muito es-
clarecedoras:

"PATRIMONIO DO VATICANO É DE US$ 561 MILHÓES


CIDADE DO VATICANO - Em entrevista ao jornal especializado em
assuntos económicos "II Solé 24 Ore", o Cardeal Giuseppe Caprio, Pre-
feito para Assuntos Económicos do Vaticano (cargo equivalente ao de
Ministro do Tesouro), revelou que o patrimonio total da Santa Sé, inclui
dos os ¡movéis e investimentos em acóes, é de 561 milhóes de dólares.
Ele esclareceu, no entanto, que mais da metade desse capital nao
só nao produz renda, como dá prejuízos, tal como ocorre com as escolas
e hospitais mantidos pela Santa Sé em Roma. Assim sendo, acrescentou,
o patrimonio produtivo nao ultrapassa os 269 milhdes de dólares.
A entrevista foi dada a propósito do envió, no mes passado, de urna
carta do conselho cardinallcio encarregado de estudar os problemas fi-
nanceiros do Vaticano, aos tres mil bispos católicos de todo o mundo.
Estes foram instados a sensibilizar os cerca de 800 milhóes de católicos
do planeta para a necessidade urgente de destinarem maiores quantias
ao Óbolo de Sao Pedro, a coleta feita anualmente a 29 de junho, destina
da específicamente á Santa Sé.
Oom Giuseppe Caprio classificou de fantasías as constantes afirma-
cóes sobre supostas riquezas do Vaticano, dizendo que, além desses exa-
geros, os cálculos sao feitos sobre urna base falsa, pois neles estáo inclui
dos os tesouros artísticos. As pessoas que dizem isso - explicou - nio le-
vam em conta o fato de que tais tesouros sao inalienáveis, e além do
mais improdutivos, obrigando o Vaticano a gastar altas somas com sua
guarda e conservacáo.

GRANDES TESOUROS ESTÁO A VISTA DE TODOS


Inalienáveis bens da Humanidade

Os maiores tesouros artísticos do Vaticano nao estSo escondidos,


como muitas pessoas supóem, mas a vista de todos, na própria Basílica

332
AS "RIQUEZAS" DO VATICANO 45

de Sao Pedro, como a "Pieta", ou na Cápela Sistina, onde estáo os famo


sos afrescos, criacóes, nos dois casos, de Michelangelo. Outras pecas de
valor ¡mpossfvel de ser sequer estimado sao a "Transfigurado", de Ra
fael, ou o "S3o Jerónimo", de Leonardo da Vinci.

Embora o patrimonio artístico e arqueológico dos museus do Vati


cano possa ser comparado ao do Museu Británico, ao do Metropolitan,
de Nova York, e ao do Ermitage, de Leningrado, esse acervo, por disposi-
cáo da própria Santa Sé, que o considera patrimonio de toda a humani-
dade, é ¡nalienável.

Outros grandes tesouros, que igualmente jamáis passaráo para


outras máos, só podem ser vistos, contudo, por poucos religiosos e por um
número aínda menor de leigos escolhidos. Sao documentos, pergami-
nhos, miniaturas, Bulas papáis e outros testemunhos de toda a historia
do Cristianismo até nossos días. Compreensivelmente, eles estáo encer
rados a seis metros abaixo do solo, em um aposento de 700 metros qua-
drados, especialmente construido com espessas paredes de cimento ar
mado revestido de chumbo, á prova de ataques atómicos. Em outro
"bunker" com as mesmas características, igualmente no subsolo, estáo
encerradas reliquias como manuscritos de Sao Pedro, Biblias milenares
escritas a pena por monges, urna edicao da "Divina Comedia" com ilus-
tracóes origináis de Botticelli, as atas do Concilio de Trento e centenas de
preciosidades do mesmo nivel".

Até aqui a noticia de jornal. Clara como é, possa contribuir para dis-
sipar falsas concepcóes, freqüentemente expressas ds cegas, numa do
lo rosa repeticáo de "chavóes"!

A propósito faz-se oportuno lembrar alguns dados jé referidos em


PR 292/1986, p. 401:

1) As financas do Vaticano estáo passando por momentos diflceis,


pois a Igreja tem desenvolvido e multiplicado seus servicos após o Conci
lio do Vaticano II, a ponto de sentir serio problema económico. Assim
pensemos na ajuda que a Santa Sé envia a todos os países de missáo na
África, na Asia, na América; pensemos também ñas muitas Comissóes
que se criaram em Roma nos últimos tempos para atender ao diálogo
com os cristáos separados, com as religióes nao cristas, com os ateus,
com os homens de cultura...; existem Comissóes de Justica e Paz, para o
Apostolado dos Leigos, o Pontificio Conselho Cor Unum... Estas Comis
sóes sao internacionais, de modo que acarretam despesas de viagens,
publicares, pesquisas, etc. Isto explica o aumento de gastos, sem que
haja receita regular correspondente.

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

2} O patrimonio territorial que a Igreja possui (Cidade do Vaticano


com museus, pinacotecas, basílicas...) resulta de doagóes que foram sen
do feitas á Santa Sé desde o sáculo IV. Na Idade Amiga e na Idade Media
muitos cristáos, ao morrer ou ao entrar no Mosteiro, doavam suas térras
ao bispo de Roma (= o Papa). Em conseqüéncia, foi-se formando em
torno da cidade de Roma o chamado "Patrimonio de Sao Pedro"; o Pa
pa, sem ser Chefe de Estado, garantía a boa ordem e a paz em favor dos
habitantes daquelas térras, enquanto em outras regióos havia desordens
e guerras causadas pelas invasóes dos bárbaros (vándalos, godos, lom
bardos...). Finalmente em 756 Pepino o Breve da Franca reconheceu ofi
cialmente o Estado Pontificio, que se formara a partir do amor dos fiéis ao
Papa, em conseqüéncia da tutela amiga que o Pontífice exercia em prol
das populaqóes vizinhas. Foi assim que surgiu o Estado Pontificio. Em
1870 este caiu, quando a Italia {que era um conjunto de pequeños Esta
dos independentes) foi unificada. Em 1929 foi restaurado o Estado Ponti
ficio como o menor de todos os Estados existentes (= 0,44 km2); os Pa
pas nao renunciaram a este minúsculo territorio porque Ihes garante au
tonomía para exercer a sua missáo pastoral, que atinge os fiéis do mundo
inteiro. Que poderia fazer o Papa se estivesse sujeito ao controle de co-
municac.óes telefónicas, telegráficas e outras por parte do Governo da
Italia? Por conseguinte, o Estado Pontificio hoje é urna heranca legitima
do passado, reduzido ao mínimo e destinado a servir á missáo da Igreja.

O que está nos museus do Vaticano (quadros de Michelangelo, Ra


fael, Leonardo da Vinci, monumentos do Egito...) resulta do incentivo que
os Papas sempre deram ás artes, ou provém de doapóes. Sao um bem
comum de toda a humanidade.

3) O cerimonial que cerca por vezes o Santo Padre, é legado de


épocas distantes; teve sua plena razáo de ser outrora, quando os costu-
mes o exigiam; hoje em dia está sendo mais e mais simplificado; vemos o
Papa tomando crianzas nos bracos, visitando hospitais, prisóes, favelas,
etc. - A Igreja, porém, jutga que, para o culto divino (celebrado da S.
Missa, por exemplo), se deve sempre utilizar o que haja de melhor; nao
se trata de usar alfaias ricas, mas objetos dignos e capazes de exprimir
eloqüentemente a fé e o amor dos cristáos a Deus.

4) Aqui no Brasil há dioceses que possuem térras, resultantes de


doacóes feitas aos Bispos na época colonial; essas propriedades ajudam a
exercer a missáo da Igreja, que exige publicares, meios de comunicapáo
social, escolas, templos, etc. Mas também (sao a maioria) há dioceses
muito pobres, que predsam de recursos de outras dioceses e organiza -
(oes para poder desenvolver a sua atividade pastoral. Sabemos como é
difícil a vida de um Bispo ou de um sacerdote em muitas regides do Bra
sil e da América Latina.

334
Ano Mar ia no

A 25? Assembléia Geral da CNBB, realizada em Itaici de 22 de abril


a 1- de maio, aprovou serie de sugestóes para vivencia do Ario Mariano
no Brasil:

- Promover a verdade acerca de María: suas bases bíblicas e as ri


quezas da Tradicáo, seu lugar bem preciso no Plano da Salvacao, seu
significado no misterio de Cristo, sua presenca ativa e exemplar na vida
da Igreja, sua peregrinacáo da fé, sua riqueza e profundidade na genulna
piedade de nosso povo.

- Refletir sobre o Magníficat, já que nesta oracáo de María trans-


parece sua experiencia pessoal profundamente impregnada do Espirito
dos pobres de Javé, que esperavam de Deus a própria salvacao, pondo
nele toda a sua confianca.

- Revalorizar o pensamento de Joáo Paulo II sobre a Virgem Ma


ría, expresso em Puebla e no Brasil.

- Revalorizar a longa reflexáo do documento de Puebla sobre Ma


ría, especialmente a relacáo Maria-Evangelizacáo.

- Incentivar reflexóes sobre as rafzes da devocáo mariana no Bra


sil, seus componentes, suas riquezas e também, para su pera-las, suas
ambigüidades.

- Programar e incentivar peregrinacóes a santuarios marianos, lo


cáis onde o Povo de Deus busca o encontró com a Máe de Cristo, as
Igrejas e outros centros de devocáo mariana, dando destaque á solicitude
de María pelos homens, á sua funcáo maternal, ao seu apelo á conversáo.

- Valorizar as varías formas de devocáo e os píos exerclcios de pie


dade mariana, aprovados pela Igreja, como por exemplo, o rosario,
o Ángelus, as ladainhas marianas.

- Valorizar as festas marianas e do calendario litúrgico, precedidas


por novenas com pregacoes especiáis.

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 302/1987

- Motivar os fiéis a fazerem sua consagrado a Cristo pelas mSos


de María, como meio eficaz para viverem os compromissos batismais e
para salientar a dimensáo mañana da vida dos discípulos de Cristo.

Finalmente, é oportuno meditar nestas palavras da Carta do "Co


mité Central", constituido pelo Papa para o Ano Mariano:

"Da Útáote cristológica e eclesial de nossos estudos e cetebracCes, re-


sultaráo um amor mais profundo, urna mais auténtica veneragSo a Bem-
aventurada Wgem María, urna espiritualidade cada vez mais crista, realizando
a consciéncia da vocacáo universal á santidade para todos os cristáos, a
exemplo mesmo da Virgem que é o modelo períeito da discfpula de Cristo'.

Estévao Bettencourt O.S.B.

• * •

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Antigo e do Novo Testamento.

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ciencia, pecado, virtudes-.) e setores especiáis (Fe, Esperance, Caridade,
Justica, Religiio, Vida Humana, Matrimonio...).

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b) Edición anotada, a cargo de Pedro Lombardia - Universidad de Navarra,
Instituto Martín de Azpilcueta; CzS 1.700,00
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Echeverría (Salamanca) (Ed. BAC.) CzS 1.200,00
2. NUEVO TESTAMENTO TRILINGÜE - Edición de José M. Bover y José
O'Callaghan. 1987. 1380p. (Ed. BAC.) CzS 2.600.00
3. LOS EVANGELIOS APÓCRIFOS - Edición Crítica y Bilingüe. Coleción de
textos griegos y latinos, versión crítica, estudios introductorios y comentarios
por Aurelio de Santos Otero. 1985. 7O5p. (Ed. BAC.) CzS 1.600,00
3. PAORES APOSTÓLICOS, Ed. bilingüe completa - Versión, introducción y
notasde Daniel Ruiz Bueno. 5a.edición. 1985,1130.(Ed.BAC) CzS 1.300,00
4. PROBLEMAS DEL CRISTIANISMO - Julián Marías. 1979, 142p. (Ed.
BAC.) CzS 200,00
5. SAN PABLO - HERALDO DE CRISTO: Josef Holzner - com Apéndice de
Grabados. 1980, 570p. (Herder) CzS 900,00
6. OBRAS COMPLETAS DE SAN BERNARDO - Edición Bilingüe. Edición
preparada por Los Monjes Cistercienses de España. (OBRA EM 04 VOLU-
MES). 1985, (Ed. BAC) CzS 7.200,00
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Girones. 1980, 485p. (Ed. Mari Montana) CzS 700,00
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1) SALTERIO LITÚRGICO - Os Salmos da Liturgia das Horas com introdu-
coes, Oracóes Sálmicas e uso Litúrgico. Secretariado Nacional de Liturgia.
(Ed. da Gráfica de Coimbra) 1984, 545p. CzS 500,00
2) MISSAL POPULAR: - DOMINGOS, FESTAS E SACRAMENTOS. 2a. ed.
remedelada e atualizada. (Ed. da Gráfica de Coimbra) CzS 450,00
3) CONFISSÓES DE SANTO AGOSTINHO - 11a. ed. 400p. (Liv. Apostolado
da Imprensa) CzS 400,00
4) Meu CRISTO PARTIDO: - Ramón Cúe. (Ed. Perpetuo Socorro)
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5) MEU CRISTO PARTIDO DE CASA EM CASA - Ramón Cúe - (Ed. P.
Socorro) ...,..„ Gz$ - 308-,08" •
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muito ao dia quanto a problemática atual; a documentacao
é rica e bem dominada e a apresentacao clara e ordenada,
faz do livro ao mesmo tempo urna excelente obra de inicia-
pao á fé, de aprofundamento em seu estudo, e de meditacao
sobre as riquezas da mensagem crista" (V.M. Leroy, na
"Revue Thomiste" 78, 1979, p. 350)." 690 págs. (23 x 16).
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Folch Gomes. Professores e alunos de Teología, nos semina
rios, sentem a falta de um tratado "De Deus Uno e Trino",
em portugués, de orientacao tomista e de índole didática. A*
lacuna vai ser preenchida com este livro, que traduz o curso
ministrado em Roma, na Pontificia Universidade Santo
Tomás de Aquino, pelo autor P. Alberto Patfoort. - O
estilo da_obra é essencialmente didático; por isto as ¡nume
ras divisoes e sub-divisdes, a preocupacao da clareza, a
precisao desataviada, e um mínimo de bibliografía auxiliar
adaptada ao público seminarístíco. 228 págs. - Cz$ 150.00
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A vida de Jesús é apresentada no seu aspecto histórico e
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