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A evolução do uso da cor na pintura

por Carlos Ebert, ABC

Foram os materiais à disposição dos artistas, juntamente com as idéias e a estética da época em que viveram,
que orientaram o desenvolvimento da pintura através dos tempos. Na origem da representação pictórica, há
aproximadamente 4500 anos atrás, eram usados como pigmentos apenas as terras e os extratos vegetais.

O mais antigo pigmento sintético de que se tem notícia, surgiu no Egito. Era um azul, produzido pela
calcinação de uma parte de óxido de cálcio, uma parte de óxido de cobre e quatro partes de sílica. Era usado
na pintura de paredes.

Na Grécia antiga, segundo o historiador romano Plínio, pintava-se com apenas quatro cores: preto, branco,
amarelo e vermelho, o que segundo ele era suficiente para artistas sóbrios.

Na Idade Média ocorre uma explosão de novas cores em decorrência das experiências levadas a cabo pelos
alquimistas, que em sua busca pela transformação de minerais ordinários em ouro, criaram inadvertidamente
inúmeros pigmentos sintéticos, logo aproveitados pelos pintores.
A cor mais valorizada então era o azul ultramarino, conseguido através de um complicado refino do lápis-
lázuli, um mineral que existe apenas no Chile e no Afeganistão, de onde era importado na época. O processo
envolvia a moagem fina da pedra e sua mistura com cera derretida, óleos vegetais e resinas que permitiam a
precipitação do pigmento azul.

Embora a maioria dos pigmentos coloridos descobertos pelos alquimistas fossem de origem mineral (verdes,
azuis, amarelos e laranjas), outros eram obtidos de plantas e até de insetos. Um dos pigmentos mais
característicos da Idade Média, o Kermes, era extraído de um inseto, o kermes vermilio, cujo habitat eram os
carvalhos escarlates da costa do Mediterrâneo.

A paleta de cores foi se expandindo no séc XV, ao mesmo tempo que a pintura deixava de ser devocional, e
se encaminhava para a representação da natureza. Junto com a adoção da perspectiva e do jogo de luzes e
sombras, tivemos a introdução por Jan van Eyck, da técnica da pintura a óleo (basicamente linhaça e
papoula), que permitiu a construção das cores em camadas superpostas, criando mais profundidade na cor.
Até então os pigmentos eram aplicados com clara de ovo, numa técnica conhecida como têmpera, que por
secar muito rápido não permitia misturar os pigmentos sobre a superfície que estava sendo pintada. A técnica
do óleo sobre tela ou madeira permaneceu basicamente inalterada até o séc XVIII.

A revolução industrial trouxe, com os enormes avanços da química, uma grande variedade de novos
pigmentos. Sais de cádmio deram origem a amarelos e laranjas vibrantes, compostos de cromo originaram
inusitados amarelos e verdes, e os derivados de cobalto, azuis de tonalidades surpreendentes.
Entretanto, nem todos estes pigmentos permaneceram estáveis ao longo do tempo. Reações químicas com os
solventes somados à ação da luz, causaram grandes mudanças em alguns deles. Bellini, Rafael e Tintoretto no
séc XVI usaram verdes preparados com derivados e cobre diluídos em terebentina, que com o passar do
tempo se transformaram em pretos. Mesmo na atualidade alguns pigmentos se mostram instáveis. Mark
Rothko teve os rosas escuros que utilizou num tríptico e, 1962 alterados para um azul claro.

No sec XX, a técnica do impressionismo recebeu forte influência dos novos corantes fabricados pela
indústria química então em ascensão (Rhône-Poulenc, Basf etc...) Hoje existem milhares de tipos de
pigmentos, solventes e emulsificantes à disposição dos artistas. Entretanto, o que mais revolucionou as artes
visuais foi seu casamento com a informática. Afinal que artista antes disso pode contar com uma paleta de 17
milhões de cores?

© carlos ebert - 2002

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