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A Renascença
1. Introdução à Renascença
1.1. Contexto histórico
Desde 1580 e até 1640 Portugal perde a sua independência e a corte
desloca-se para Madrid ou Valladolid. É o período conhecido como Monarquia
Filipina.
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1.4. Formas
A forma mais usada é o soneto de versos decassílabos, mas a medida
nova não impede a continuação da medida velha (redondilha) embora esta seja usada
para temas considerados menos importantes (lúdicos, folclóricos). Mas há uma
excepção: “Sôbolos rios que vão” de Camões, composição em que se trata um tema
sério em redondilhas.
António Ferreira repudiara a medida velha e mesmo criticara os poetas
coetâneos que a usam.
2. As descobertas
2.1. Fase dos navegadores
1) Inicia-se em 1415, quando os portugueses chegam a Ceuta e conseguem
conquista-la. Nesta expedição participam vários membros da dinastia de Avis,
como D. João I, D. Duarte ou D. Henrique, o Navegador. Esta conquista é
recolhida na Crónica da tomada de Ceuta de Gomes Eanes de Zurara
(continuador de Fernão Lopes). É muito salientável a figura de D. Henrique,
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Obra publicada de jeito póstumo. O título também é colocado postumamente pela admiração que tem
à pátria portuguesa.
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uma certa saudade do apogeu passado. Destaca também o papel dos missionários
jesuítas, tema presente na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.
3. Bernardim Ribeiro
3.1. Vida
Há diversas hipóteses sobre a biografia de Bernardim Ribeiro, mas há
muito poucos documentos que as justifiquem:
1) Origem:
a) Alguns teóricos defendem que é de Torrão (Alentejo), já que numa das
suas éclogas aparece um pastor que diz ser desse lugar e interpreta-se esta
personagem como um alter ego do autor.
b) Outros autores crêem que tem de ser dalgum lugar o norte de Portugal pela
não distinção entre / / e / /.
2) Formação: por Menina e moça sabemos que domina o estilo palaciano e que
é quem de usar vocabulário jurídico.
3) Profissão: há um alvará do rei D. João III em que se nomeia a um Bernardim
Ribeiro como escrivão / notário, mas não há certeza de que seja o mesmo
autor de Menina e moça.
4) Confissão: é muito aceitada a tese de que é de origem judia, por razões como:
a) Menina e moça edita-se pela primeira vez em Itália, na tipografia do judeu
judeu Abrão Usque. Da sua tipografia sairam obras de tema religioso ou
textos sagrados para os judeus, em hebreu ou latim. Em português só
editou:
■ Menina e moça;
■ Consolação das tribos de Israel, do seu irmão Samuel Usque, uma
apologia do povo judeu.
b) Uma das leituras que admite Menina e moça é uma leitura religiosa ligada
ao povo judeu.
5) Relação com Sá de Miranda: há indícios de que Bernardim Ribeiro e Sá de
Miranda se conhecessem:
a) Na obra de Sá de Miranda há referências a um Bernardim Ribeiro ligado
à introdução do bucolismo em Portugal e do que se diz que esteve em
Itália.
b) Numa écloga de Bernardim Ribeiro aparece uma personagem chamada
Franco de Sandomir, que é interpretado por alguns estudiosos como um
anagrama2 de Francisco Sá de Miranda.
3.2. Obra
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O anagrama é um recurso muito utilizado na Renascença.
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3.2.2. Éclogas
A) Edições:
1) Em 1554 é editada na cidade italiana de Ferrara, na tipografia do judeu
Abrão Usque3 sob o título de História de Menina e Moça por Bernardim
Ribeiro agora de novo estampada e por suma diligência emendada. A
locução de novo tem sido interpretada à moderna, de modo que implica a
existência de edições anterior, mas no século XVI também podia significar
pela primeira vez e tudo parece indicar que esta é a primeira edição da obra.
2) Posteriormente reedita-se em Évora e adiciona-se uma quinta parte: O
romance de cavalarias.
1) Manuscritos:
a) Manuscrito A, data-lo pelo professor Asensio em 1543, já que na ultima folha se
faz referência à morte de Rui de Sá Pereira e do Bispo de Coimbra, que foi nesse
ano.
b) Manuscrito M, encontrado em Madrid. Data da segunda metade do século XVI e
é mais breve que o anterior.
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Desde 1545 a Inquisição perseguia os judeus em Portugal, razão pela que muitos fugirom para a
Itália, entre eles Abrão Usque.
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2) Edições:
a) Edição de Ferrara (1554), a cargo de Abrão Usque. Contém também 5 éclogas,
poesias menores e uma carta a Cristóvão Falcão.
b) Edição de Évora (1557/1558), a cargo de André de Burgos. Contém 5 éclogas
e o romance Ao longo da Ribeira.
c) Edição de Colónia (1559), uma repetição da de Ferrara publicada por Arnold
Birkman, conhecido pelos seus interesses comerciais em Antuérpia, um dos
lugares aos que iam os judeus exilados da Espanha e Portugal.
Há certas variantes na língua e no texto das diferentes edições, mas
geralmente segue-se a edição de Ferrara.
3) Títulos:
a) História da Menina e Moça: edição de Ferrara e manuscrito perdido do
bilibliógrafo Francisco Inocêncio da Silva.
b) Tratado de Bernardim Ribeiro: manuscrito A.
c) Saudades: manuscrito M e edição de Évora.
d) Saudades ou tristezas: manuscrito perdido de Nicolau António.
e) Menina e moça: título posto pelos leitores tendo em contas as primeiras palavras
da obra.
C) Género:
não é possível classifica-la como novela ou romance já que, embora
tenha diferentes partes pouco conectadas entre sim, tem também uma grande
complexidade.
D) Partes não muito ligadas, senão que são uma espécie de adição:
1) O romance de Belisa5 e Lamentor:
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Também pode aparece como Binmarder ou Bimarder.
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Os nomes das personagens são anagramas em muitos casos:
- Belisa Isabel;
- Aónia Joana;
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- Anima Maria;
- Avalor Álvaro.
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■ Presença do autor, que faz que a novela também possa ser qualificada de
autobiográfica. Assim, narra-se o percurso do povo hebraico ao mesmo
tempo que o de Binmarder, personagem que se identifica com Bernardim
Ribeiro.
■ Temática da tristeza (esta parte inicia-se com uma elegia pela morte de
Belisa).
■ Repete-se a modo de glosa todo o relatado na primeira parte.
■ Há mais acção:
durante o pranto de Aónia pela morte da sua irmã Belisa um cavaleiro
apaixona-se por ela e, para conquista-la, muda a sua vestimenta de
cavaleiro para a de pastor e o seu nome trocando-lhe as letras.
O resultado é que o cavaleiro fica com o nome de Binmarder, que
também tira da frase Bin m’arder!, pronunciada por um pastor que fugia
de ser queimado.
Sob a nova e falsa identidade consegue o amor de Aónia, abandonando
a Aquelísia, uma mulher com a que tinha uma relação de modo oficial e
por obrigação.
Aónia casa com outro cavaleiro como estratégia para esconder a sua
relação com Binmarder, mas este não sabe que é uma estratégia e foge
pelo bosque.
■ Simbolismo:
Binmarder parece o alter ego de Bernardim Ribeiro.
O fogo do que foge o pastor simboliza o fogo da Inquisição, já que os
judeus que não se arrependiam eram queimados vivos, mentes que os
que si se arrependiam eram mortos antes de serem queimados.
Aquelísia é um anagrama e Eclesia, pelo que a relação de Binmarder
com a Igreja tinha sido por obrigação e não por devoção. Isto é uma
referência à obrigação que tinham os judeus conversos de fingirem que
praticavam a fé cristã.
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3) As aventuras de Avalor:
■ Intertextualidade com as novelas de cavalarias, já que contém as
aventuras cavaleirescas de Avalor.
■ Acção:
Avalor é levado pelas ondas a uma praia deserta, onde o visita o seu
próprio espectro da morte e parece dizer-lhe que não pertence a este
mundo. Introduz-se de novo um elemento enigmático.
Posteriormente ouve a voz duma donzela (elemento característico das
novelas de cavalarias) que lhe pede ajuda. Esta donzela representa a
sua própria alma, condenada a partir e errar pelo mundo.
Avalor vai ajudar a dama que tinha sido abandonada no monte com as
mãos atadas por uma rede de caça e, antes de empreender a aventura,
conta que ao seu pai lhe tinha acontecido o mesmo com outra dama.
Depois desafia ao cavaleiro que lhe tinha quitado a honra à dama e a
obra termina assim: disse [...] estas palavras:, um fim que não sabemos
se é consciente ou se a obra está inacabada.
■ Interpretação em chave hebraica: destino do povo judeu errante depois
de ser expulso da Espanha e de Portugal (édito de expulsão sob o reinado de
D. Manuel I).
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4) O romance de cavalarias:
■ Acréscimo da edição de Évora (1557), que não estava incluído na de
Ferrara. Em geral, não se inclui nas edições modernas ou inclui-se como um
apêndice. A maioria terminam com [...] ou um laus Deo depois da quarta
parte. A razão de que apareça este acréscimo na edição de Évora
desconhece-se.
■ A autoria desta parte não está clara. Mesmo se tem lançado a teoria de que
Menina e moça é uma colecção de escritos de diferentes épocas
remodelados de forma que parecessem um conjunto, mas no que
intervieram diferentes autores.
■ Acção:
Começa com um discurso dum cavaleiro, mas que não é o mesmo que
ia falar ao final da quarta parte.
A donzela é reposta nos seus direitos e recupera a honra e os bens, mas
a partir de certo momento Avalor é substituído por outro cavaleiro
andante: Tasbião.
Tasbião vê-se implicado em combates, traições, lutas com feras...
Aparece também um ermitão que ora pelas almas de Aónia e
Binmarder, das que se diz que estão no “outro mundo”.
Para evitar polémicas é enviado por D. João III a Roma e, mais tarde,
seria capitão de várias fortalezas na África.
De volta a Portugal seria preso de novo por agredir um fidalgo, até que
consegue uma carta de perdão.
Finalmente casa com outra nobre.
■ Quando a família real volve a Lisboa (estava fora da corte por causa da
peste) penaliza às pessoas que tinham fomentado esta persecução.
3) Em 1540 instaura-se a Inquisição em Portugal e os judeus fugiram ou foram
expulsos e, ademais, mesmo os que tinham sido expulsos tinham de pagar um
resguardo à Coroa para poder sair de Portugal.
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