You are on page 1of 6

Texto traduzido1 para uso acadêmico do Grupo de Pesquisa Actividade (coord.

por
Milton Athayde), vedado seu uso comercial

MONTMOLLIN, Maurice de (1997). Vocabulaire de l’Ergonomie.


Toulouse : Octarès, 2a. edição revista e ampliada.
Obs.: * - indica que o vocábulo poderá ser acessado no Vocabulário

ATIVIDADE
(pp. 26-29)

Exercício da possibilidade que possui todo ser vivo de agir sobre seu ambiente e de
reagir às estimulações que dele recebe. Mas a atividade não é o comportamento*; ela é o
processo* pelo qual o comportamento é engendrado. Ela pode ser puramente mental ou
comportar também elementos motores observáveis (ver Ação*). Em geral se é levado a
especificá-la: assim, vai-se falar da atividade oculomotriz – que rege a percepção visual; ou
ainda, ela será especificada em função de um alvo a atingir ou efeitos esperados: a atividade
de conduta (de um ônibus ou de um trem).
Em ergonomia este termo se refere a um vasto campo conceitual. Pode-se distinguir:

1 – A atividade como comportamentos:


Não se privilegia somente as performances finais (produção, defeitos...), mas
inclui-se na descrição o detalhe das sequências de comportamentos, gestos (e os “traços”
que eles deixam), posturas, olhares, verbalizações*, dos operadores. A análise da atividade
como comportamentos permite assim a reconstituição fina das sequências de ação que
conduzem à realização das tarefas*. Ela introduz uma primeira visada dos aspectos
coletivos do trabalho (por via da análise das interações).
Uma variante da análise da atividade como comportamentos utiliza o modelo da
tarefa prescrita para descrever a atividade, aqui concebida como “realização da tarefa”. Mas
este procedimento redutor é perigoso, pois ele se prive assim de levar a sério a atividade

1
Tradução de Vladimir Athayde e revisão técnica de Milton Athayde
como processo específico, autônomo, e surpreendente.

2 – A atividade como lógicas de ação:


Restringir a análise apenas aos comportamentos revelou-se insuficiente para
explicar as atividades em que os componentes cognitivos são predominantes. Daí a análise
da atividade como lógicas de ação é hoje, sem dúvida o domínio mais estudado. Trata-se de
buscar reconstituir os encadeamentos (os “cursos da ação”*, as “histórias”*) que preparam,
eliciam, conduzem e, portanto, explicam as ações dos operadores. Encontra-se na maior
parte das análises das lógicas de ação o conceito comum de significações para a ação.
Deve-se aí precisar: para e pela ação.
A concepção da atividade como criatividade, ou enação, prolonga e enriquece a
precedente. Este modelo de análise considera o operador-ator em sua “acoplagem
estrutural” com a situação, que ele cria tanto quanto ela o constrange. Esta concepção é
aproximada à da corrente da atividade situada (Suchman) e da cognição situada. Ela se
opõe a uma concepção da atividade como realização da tarefa (ou atividade como
finalizada por um alvo).

3 - A atividade como vivido

As situações de trabalho que comportam perigos, ou – particularmente no setor de


serviços – interações afetivas (cuidados médicos, atendimentos em guichês, por exemplo)
exigem que os ergonomistas concebam modelos e métodos que levem em conta as
emoções, os sentimentos, as manifestações no campo da afetividade, da subjetividade, do
“psiquismo”. Isso coloca para a Ergonomia difíceis problemas metodológicos e
deontológicos.

4 - A atividade como processos biológicos


Em paralelo às sequências de comportamentos e de lógicas de ação, e na medida
que isto se revela necessário para sua explicação, o ergonomista pode analisar os ritmos
cardíacos, o diâmetro pupilar, as secreções hormonais, etc.
Os modelos* de analise do trabalho* que privilegiam as atividades, mais que as
estruturas e as tarefas, caracterizam a Ergonomia dita, precisamente, “centrada na
atividade”, por oposição à Ergonomia clássica, ou “do componente humano”, que ao
contrário parte de taxonomias preestabelecidas de “características e limites” dos seres
humanos de uma parte, e de “exigências da tarefa” de outra parte (ver Ergonomias*).
MM & GPLB

A ATIVIDADE PARA VIGOTSKI


Foi L. S. Vygotsky (1896-1934) que propôs à Psicologia o estudo da atividade. Ele
foi recentemente redescoberto graças aos antropólogos cognitivos norte-americanos.
Para Vygotsky, as funções psíquicas superiores não podem ser explicadas pela
fórmula reducionista de remeter aos processos elementares; existem diferentes níveis de
funcionamento psicológico, cada um tendo características específicas e irredutíveis. Para o
conhecimento destas funções psíquicas superieores, Vygotsky propôs uma abordagem que
insiste sobre aspecto consciente e histórico delas, tomando por objeto a atividade e por
noção central a mediação simbólica: « no que a Psicologia ignora o problema da
consciência, ela se impede de aceder à investigação dos problemas complicados do
comportamento humano, e a eliminação da consciêcia da esfera da psicologia científica tem
como consequência maior a manutenção de todo dualismo e espiritualismo da psicologia
subjetiva antiga» (Vygotsky, 1985, p. VI).
O pensamento e a consciência não constituem, após Vygotsky, uma emanação de
características estruturais ou funcionais internas (ou seja, “situadas no interior da pele”,
segundo a fórmula de Watson, fundador do Behaviorismo), mas elas têm ao contrário
determinadas pelas atividades externas e objetivos realizados com os congêneres, em um
ambiente social determinado. Daí a idéia de uma gênese social do pensamento, que liga
cognição, percepção, ação* e comunicação em uma “história do desenvolvimento das
funções psíquicas superiores”. Daí também o desenvolvimento de uma metodologia que
busca religar experimentação em laboratório e o estudo de campo, e mesmo estudos
históricos de produtos culturais, tais como os contos folclóricos, os costumes e a
linguagem’.
Isto porque Vygotsky considera a atividade como objeto central da psicologia. Ela é
definida como a unidade de análise, integrando as características sociais – interativas e
individuais – cognitivas das condutas. Esta atividade conecta ações, comunicações e
discursos privados:
«Nossas experimentações demonstram dois fatos importantes:
 O discurso da criança é tão importante quanto o papel da ação no atingimento do alvo.
Não somente as crianças falam do que elas estão por fazer, mas seu discurso e sua ação
faz parte da mesma e única função psíquica complexa, dirigida para a solução do
problema.
 Mais a ação exigida pela situação é complexa, e menos direta é sua solução, maior é a
importância operada pelo discurso na operação como todo. Algumas vezes o discurso
assume uma importância tão vital que, se não lhe é permitido utilizá-lo, as jovens
crianças não podem dar conta da tarefa que lhe é dada. Estas observações têm me
levado à conclusão que as crianças resolvem as tarefas práticas com a ajuda de seu
discurso, tanto quanto de seus olhos e suas mãos. [Há] unidade da percepção, do
discurso e da ação... (Vygotsky, 1985, p. 25).

Vemos d’emblée o interesse de tal reflexão no que concerne à atividade de um


operador, que se desenvolve tanto em ações quanto em comunicações, e cuja aprendizagem
é mediada pela linguagem: seu discurso interno como o discurso que lhe é dirigido pelos
especialistas.

Jacques Theureau (CNRS-COSTECH, Campiègne)

Bibliografia
Schneuly B. & Bronckart J. P. (Eds) (1985). Vigotsky aujourd’hui. Neuchâtel / Paris :
Delachaux & Niestlé.
Vygotsky L. S. (1985). Pensée et langage. Paris : Editions Sociales2.

2
Este livro foi publicado em 1934 (meses após a morte do autor), juntando ensaios avulsos em um todo
coerente, condensando uma fase destacada da obra do autor, apresentando de forma bem fundamentada uma
teoria original acerca do desenvolvimento “intelectual”. Encontramos em português duas versões do livro,
ambas publicadas pela editora Martins Fontes (São Paulo). Cronologicamente a primeira foi publicada em
1987, reproduzindo em português a versão em língua inglesa, só que a nosso ver escandalosamente alterada
(cortando dois terços do livro original), pois “simplificada”, com a pretensão de “tornar mais claro o estilo de
Vigostski”, nas palavras dos que elaboraram o prefácio. Uma segunda tradução, agora da obra completa,
diretamente do russo, foi enfim publicada em 2001, embora com problemas (o título original foi alterado para
A construção do pensamento e linguagem, certamente com o objetivo comercial de manter ambos à venda; o
conceito que até então em português aparecia como “zona de desenvolvimento proximal” o tradutor do russo
muda para “zona de desenvolvimento imediato”, o que não nos parece resolver o problema, criando outro).
(Nota do revisor técnico).
ATO (p.25)

Unidade isolável no curso do desenrolar de um comportamento*. O problema do


recorte da atividade* em atos é delicado; é a significação do ato que dá ao recorte sua
legitimidade.

Gilberte Piéraut - Le Bonniec (Laboratoire LPBD, CNRS-EPHE, Paris)

AÇÃO (p. 26)

Intervenção com a meta de modificar um estadpo de coisas, seja com vistas a iniciar
uma transformação, seja com, vistas a deter uma transformação em curso, seja com vistas a
impedir uma transformação que arriscaria se produzir se não se interviesse. Uma ação
comporta geralmente vários atos que constituem unidades isoláveis da ação (ver na análise
do trabalho* o problema colocado pelo recorte em unidades). Uma ação pode ser
planificada (ver planificação* ) em função das contraintes da situação*: objetivos a atingir
e meios disponíveis, normas que devem levadas em conta. Porisso pode-se falar de uma
lógica da ação. O lógico Von Wright (1963), a este respeito, distingue três tipos de normas:
as prescrições que têm sua fonte no querer de uma autoridade, as regras que são
convenções que permitem a um sistema funcionar e as diretrizes, ou normas técnicas, que
indicam como certas ações permitem atingir um certo alvo.

Gilberte Piéraut-Le Bonniec (Laboratório LPBD, CNRS-EPHE, Paris)

Bibliografia
Von Wright, G. H. (1963). Norm and Action. Londres: Paul Kegan.

You might also like