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Patriarcalismo: uma discussão do conceito em Oliveira


Vianna, Gilberto Freyre e Antonio Candido
Leandro C. Câmara

O objetivo desse trabalho é realizar uma releitura do conceito de patriarcalismo

na sociedade brasileira colonial. Para tal, discutiremos três autores centrais na

consolidação desse conceito: Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e Antonio Candido 1 . Em

suas obras percebemos a construção de uma certa interpretação da sociedade brasileira

ancorada numa perspectiva familista.

Tal perspectiva, em linhas bem gerais, aponta para a centralidade da família no

movimento de colonização portuguesa na América. Deste modo, era apenas no seio

familiar que os indivíduos encontravam espaço de atuação na sociedade. Em

decorrência, a estrutura familiar era tipicamente extensa, formada por um grande

número de parentes e agregados, todos submetidos aos poderes do patriarca.

Finalmente, eram estas estruturas familiares que controlavam a Igreja, o Estado e as

Instituições econômicas locais 2 .

Entretanto, este modelo começou a ser criticado por pesquisas mais recentes,

especialmente aquelas produzidas a partir da década de 70. A obra de Eni de Mesquita

Samara foi pioneira nesse sentido 3 . A autora, utilizando as listas nominativas de

habitantes da cidade de São Paulo no início do século XIX, demonstrou que uma parte

1
Oliveira Vianna, Populações meridionais: populações rurais do centro sul; Gilberto Freyre, Casa-
Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos; Antonio Candido, The Brazilian Family.
2
Conferir Eni de Mesquita Samara. Patriarcalismo, Família e Poder na Sociedade brasileira (séculos
XVI-XIX) p. 11-16.
3
SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família: São Paulo, século XIX. Além das
obras de Samara, os trabalhos de Iraci Del Nero da Costa e de Maria Luiza Marcílio tiveram destacado
papel na crítica do modelo patriarcal tradicional.
2

significativa dos domicílios locais eram bem menos complexos do que se pensava: “Em

resumo, percebemos que as famílias eram em sua maioria nucleares, com poucos filhos,

considerando que interferiam nesse quadro fatores como: mobilidade espacial da

população e alta taxa de mortalidade infantil” 4 .

Na mesma linha crítica temos o artigo “Repensando a família patriarcal

brasileira” de Mariza Correa. A autora critica enfaticamente a adoção de um modelo

único de família, homogeneizando uma realidade social muito mais complexa e

diversificada 5 . Para a autora, tanto Gilberto Freyre quanto Antonio Candido

compartilham “com muitos outros estudiosos a ilusão de que o estudo da forma de

organização familiar do grupo dominante, ou de um grupo dominante numa

determinada época e lugar, possa substituir-se à história das formas de organização

familiar da sociedade brasileira” 6 .

O problema dessas interpretações seria o aspecto simplificador da realidade,

tentando acomodar todos os elementos multifacetados da sociedade num modelo

familiar único. Corrêa defende que a família patriarcal pode ter existido de fato, mas ela

não existiu sozinha e nem foi o modelo preponderante da família brasileira no passado 7 .

4
Conferir Eni de Mesquita Samara. Patriarcalismo, Família e Poder na Sociedade brasileira (séculos
XVI-XIX) p.23.
5
“A história das formas de organização familiar no Brasil tem-se contentado em ser a história de um
determinado tipo de organização familiar e doméstica – a família patriarcal –, um tipo fixo onde os
personagens, uma vez definidos, apenas se substituem no decorrer das gerações, nada ameaçando sua
hegemonia, e um tronco de onde brotam todas as outras relações sociais” em Mariza Corrêa, Repensando
a família patriarcal brasileira, p. 13
6
Mariza Corrêa, Repensando a família patriarcal brasileira, p. 17.
7
“A ‘família patriarcal’ pode ter existido, e seu papel ter sido extremamente importante, apenas não
existiu sozinha, nem comandou do alto da varanda da casa grande o processo total de formação da
sociedade brasileira” e continua “O conceito de ‘família patriarcal’, como tem sido utilizado até agora,
achata as diferenças, comprimindo-as até caberem todas num mesmo molde que é então utilizado como
ponto central de referência quando se fala de família no Brasil” em Mariza Corrêa, Repensando a
família patriarcal brasileira, p. 25.
3

Outros historiadores, ao trabalharem com diversas localidades, também

questionaram o modelo patriarcal. Com pesquisas voltadas para a família escrava, os

papéis sociais das mulheres na sociedade, os sistemas de casamento, as estruturas

domiciliares, estes autores relativizaram o modelo único de família extensa e o alcance

dos poderes do patriarca 8 .

Esse conjunto de estudos revisionistas, apesar da grande diversidade de opções

teórico-metodológicas, apresenta dois pontos comuns na sua crítica. Em primeiro lugar,

calcados em dados empíricos demográficos, apontam para a pequena porcentagem de

domicílios patriarcais ou extensos 9 . Assim, questionam a posição central da família

patriarcal no conjunto da sociedade brasileira. Seria possível falar de patriarcalismo

numa sociedade onde apenas uma minoria das famílias realmente se organizava nesses

moldes?

A segunda crítica é, em certa medida, um desdobramento da primeira. A família

patriarcal não seria um modelo válido para todo o Brasil. Ao contrário, seria um modelo

regional típico da sociedade do açúcar seicentista. Logo, o erro de autores como Vianna,

Freyre e Candido foi desdobrar essa realidade específica para a colônia como um todo.

Em outros termos, patriarcalismo achata a complexa realidade social da colônia

extirpando qualquer outro modelo alternativo de família em prol da família patriarcal.

8
“The beginning of the revision of the great myths and archetypes of Brazilian society in the 1970s laid
the groundwork for greater pluralism in the studies undertaken in the 1980s. These studies dealt with
gender roles, marriage, cohabitation, sexuality, families in the despossessed sectors, and the process of
transferring fortunes” em Eni de Mesquita Samara e Dora Isabel Costa Paiva, Family, Patriarchalism,
and social change in Brazil, p. 215.
9
José Flávio Motta deixa bem claro essa identificação de família patriarcal com família extensa: “(...) na
medida em que se identificou a família patriarcal com a família extensa, isto é, com as estruturas
domiciliares mais complexas, verificou-se que, em muitos casos, a família patriarcal teve de fato pouca
expressão” em Demografia histórica no Brasil, p. 477-478.
4

Mais recentemente, todavia, Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria e B. J.

Barickman 10 colocaram em dúvida a pertinência de tais críticas. Assim, Vainfas aponta

que patriarcalismo não é sinônimo de família extensa e que autores como Gilberto

Freyre ou Antônio Cândido não deram ênfase ao “número de moradores em cada

domicílio, mas tão-somente acentuaram-se as estruturas de poder que norteavam a

vida social da Colônia, historicamente ligadas à escravidão, à prepotência senhorial e

às tradições culturais ibéricas” 11

Já Barickman crítica dois aspectos dos estudos revisionistas. O primeiro é aquilo

que ele chamou de refutações indiretas. Como a maior parte dos estudos demográficos

analisam a região centro-sul (especialmente São Paulo) no final do século XVIII e XIX,

e Freyre privilegiou em suas análises o nordeste, não é possível um confronto direto dos

dados demográficos com as reflexões de Gilberto Freyre 12 .

O segundo aspecto, e o mais relevante, é a confusão conceitual dos estudos

revisionistas. Argumentando de forma similar a Ronaldo Vainfas, Barickman aponta

que esses trabalhos tendem a identificar família patriarcal com domicílio extenso,

10
Ronaldo Vainfas. Trópico dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil Colonial; Sheila
de Castro Faria. História da Família e Demografia Histórica; B. J. Barickman. E se a casa-grande não
fosse tão grande? Uma freguesia açucareira do recôncavo baiano em 1835.
11
Ronaldo Vainfas. Trópico dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil Colonial. p. 110.
(grifos nossos). Esta ressalva é importante, contudo, nem todas as pesquisas que criticaram o modelo de
família extensa negaram a importância das relações familiares na constituição das estruturas de poder.
Neste sentido, Eni de Mesquita Samara é bastante clara quando diz que “No plano social mais amplo,
laços de solidariedade, parentesco e trabalho redundavam em dependência mútua entre os indivíduos e as
famílias locais. Assim, articulação de poder também se insere no plano das relações familiares, se
pensarmos que os grupos sócio-econômicos definiam estratégias para a sua sobrevivência” em Eni de
Mesquita Samara. Patriarcalismo, Família e Poder na Sociedade brasileira (séculos XVI-XIX), p.31.
12
“No entanto, apesar de suas valiosas contribuições, a literatura revisionista tem pelo menos um ponto
fraco: quase todos os estudos baseados em censos nominativos focalizam São Paulo e Minas Gerais. (...)
Como resultado, as pesquisas revisionistas podem, no máximo, refutar de modo indireto a visão
tradicional da casa-grande patriarcal que se associa a Freyre” em B. J. Barickman. E se a casa-grande
não fosse tão grande? Uma freguesia açucareira do recôncavo baiano em 1835, p. 83-84.
5

demonstrando a seguir que essa estrutura domiciliar era numericamente pouco

significativa. Em sua opinião, o conceito de patriarcalismo “pouco ou nada tem a ver

com a presença de noras, genros, netos, filhos casados, sobrinhos e outros parentes

como moradores da unidade doméstica. Antes, é um conceito que remete sobretudo ao

poder pátrio, à autoridade dada aos pais e aos maridos, como pais e maridos, sobre

suas filhas e esposas” 13 .

Logo, tanto para Vainfas quanto para Barickman o problema do patriarcalismo

reside longe da estrutura domiciliar, o argumento central dos trabalhos revisionistas.

Nossa idéia de realizar uma releitura dos “clássicos” nesse trabalho segue essa

problemática. Se existe uma “confusão conceitual” é fundamental retornar aos

trabalhos que lançaram as bases do referido conceito. Assim, tentaremos aqui retomar

tais obras buscando entender de que modo os três autores – Vianna, Freyre e Candido –

desenvolveram em suas reflexões a noção de patriarcalismo.

Nesse sentido, são duas as questões centrais de nosso trabalho: o que significa

patriarcalismo? Esse conceito ainda é pertinente para compreender a sociedade

colonial? O percurso desse trabalho é uma tentativa de responder tais questões.

“Populações Meridionais: populações rurais do centro sul” de Oliveira Vianna

Oliveira Vianna começou a publicar seus trabalhos na década de 1920. Sua

primeira obra, talvez a de maior impacto e repercussão, foi a parte inicial de

“Populações Meridionais: populações rurais do centro sul” lançada em 1920. É,

portanto, anterior às grandes reflexões ensaísticas da década de 1930 – especialmente

Raízes do Brasil e Casa Grande & Senzala – marcando a produção intelectual da época.

13
B. J. Barickman. E se a casa-grande não fosse tão grande? Uma freguesia açucareira do recôncavo
baiano em 1835, p. 120-121.
6

Como aponta Lucia Lippi Oliveira, a reflexão de Vianna foi fortemente marcada

por seu tempo, sendo este autor o elo de ligação entre a chamada geração de 1870 e o

pensamento nacionalista brasileiro pós Primeira Guerra Mundial 14 . Sua obra, assim

como o discurso intelectual da época, é fortemente impregnada de categorias próprias

do evolucionismo social e do darwinismo social 15 .

Visto como um autor conservador e autoritário e fortemente identificado com o

Estado Novo 16 , Oliveira Vianna foi praticamente esquecido pela tradição acadêmica por

muitas décadas. Foi apenas a partir de 1980 que seus trabalhos começaram a ser

revisitados e relidos.

Entretanto, mesmo com essa acolhida crítica bastante desfavorável, sua obra

marcou profundamente o pensamento social brasileiro e muitos autores sofreram

influência de sua obra. Como aponta José Murilo de Carvalho, há uma

“inegável influência de Oliveira Vianna sobre quase todas as principais

obras de sociologia política produzidas no Brasil após a publicação de

Populações meridionais. Dele há ecos mesmo nos autores que discordam de

sua visão política. A lista é grande: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Nestor

Duarte, Nelson Werneck Sodré, Victor Nunes Leal, Guerreiro Ramos e

Raymundo Faoro, para citar os mais notáveis” 17

Nesse sentido, parece-nos ideal começar o percurso desse trabalho com a leitura

do primeiro volume de “Populações meridionais”. Essa leitura pretende

fundamentalmente identificar como o autor trabalha com o conceito de patriarcalismo.


14
Lucia Lippi Oliveira, Uma leitura das leituras de Oliveira Vianna em O pensamento de Oliveira
Vianna, p. 242.
15
Sobre essa temática consultar a obra de Lilia Moritz Schwarcz, O espetáculo das raças.
16
Oliveira Vianna fez parte do governo de Getúlio Vargas na década de 30 e sua obra foi identificada
como suporte ideológico desse governo. Ver Lucia Lippi Oliveira, Uma leitura das leituras de Oliveira
Vianna em O pensamento de Oliveira Vianna
17
José Murilo de Carvalho, A utopia de Oliveira Vianna em Estudos Históricos, vol 4, n. 7, p. 83
7

--- x ---

O objetivo de Oliveira Vianna com seu livro era “estabelecer a caracterização

social do nosso povo, tão aproximado da realidade quanto possível, de modo a

ressaltar quanto somos distintos dos outros povos, principalmente dos grandes povos

europeus, pela história, pela estrutura, pela formação particular e original” 18 . Essa

caracterização, entretanto, não pode ser homogênea. O autor acredita que existam três

organizações sociais bastante diferentes no Brasil: a população do norte (os sertanejos),

a do centro-sul (os matutos) e a do extremo sul (o gaúcho). O primeiro volume de sua

obra se volta apenas paras as populações do centro sul, já que cabe a estas o papel

histórico preponderante do povo brasileiro 19 .

As influências teóricas de Vianna vão desde a antropogeografia de Ratzel, a

antroposociologia de Gobineau e Lapouge, a psicofisiologia de Ribots, aos trabalhos de

Le Play e outros 20 . Esse conjunto de autores dá o tom evolucionista que marca com

tanta força sua obra. Logo, determinismos raciais ou geográficos estão presentes a todo

o momento no livro de Oliveira Vianna 21 .

O grande objetivo da obra é, portanto, identificar o que há de específico e único

na organização social do centro-sul do Brasil. Para Vianna a chave dessa especificidade

é a forte herança rural deixada pelo processo de colonização e formação do povo

brasileiro.

Essa herança é o resultado do embate entre o espírito peninsular aristocrático,

acostumado a vida em cidades, e o novo meio inóspito e selvagem. Logo, nos primeiros

tempos os portugueses estabelecem algumas vilas e cidades, mas rapidamente as

18
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 15
19
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 282
20
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 14
21
Um exemplo claro desse tipo de determinismo é quando Vianna aponta que “não há tipos sociais fixos,
e, sim, ambientes sociais fixos” Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 18.
8

exigências do ambiente estabelecem um efeito centrífugo em direção ao campo. Daí,

ocorre um processo de decadência da vida urbana e organização de um modo de vida

tipicamente rural.

Oliveira Vianna vê nessa adaptação a raiz de nossa especificidade: “Ora, a

verdade é que este retraimento [das cidades] significa apenas que a vida social dos

colonizadores do Brasil se está organizando, diferenciando e adquirindo uma

fisionomia própria” 22

Portanto, a força do meio e a necessidade de adaptação vão criando lentamente

no território colonizado uma organização social bastante distinta. As cidades vão se

encolhendo e a vida no campo vai florescendo. E este florescimento vai ter uma atuação

decisiva no modo de organização social do centro-sul.

Com o retraimento urbano acontece também um profundo retraimento da vida

social. Os laços comunitários vão cedendo espaço para os laços familiares. A

organização dessa sociedade vai sendo mais e mais voltada para a vida doméstica.

Oliveira Vianna aponta que essa preponderância da vida familiar vai influenciar

significativamente a mentalidade dessa sociedade, tornando-a uma “classe doméstica” 23

Dessa forma, sob a influência desse modo de vida rural a família se torna a

forma mais importante de organização social desse tipo de sociedade. No entanto, para

Vianna não existe apenas uma forma de família. Ele vai identificar uma diferença

profunda na organização familiar dos estratos superiores da sociedade (os fazendeiros)

daquela encontrada nos estratos inferiores (aqueles sem terras):

“Nesse ponto, a organização da família fazendeira se distingue nitidamente

da organização da família nas classes inferiores, na plebe rural. Nesta, o

princípio dominante da sua formação é a mancebia, a ligação transitória, a

22
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 31
23
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 49.
9

poliandria difusa – e essa particularidade de organização enfraquece e

dissolve o poder do pater-familias. Daí o ter a nossa família plebéia, em


24
contraste com a família fazendeira, uma estrutura instabilissima”

Logo, a família dos grupos superiores é marcada pela estabilidade, pela ligação

oficial e permanente, e pelo poder do pai de família. Já no restante da sociedade,

marcado por aqueles que não possuem terra e escravos, o que reina é a instabilidade, as

ligações não-oficiais e o grande enfraquecimento da autoridade paterna.

Nesse trecho é possível identificar outro desdobramento importante do

acentuado desenvolvimento da vida rural: a propriedade da terra é a grande marca

distintiva na sociedade. Logo, Oliveira Vianna aponta que

“os que não conseguem um grande domínio agrícola com farta escravaria

ou tendo-o conseguido, fracassaram, ficam à margem, nesse grupo

indefinido da plebe, entra a escravaria e a mestiçagem (...). Premidos pelos

preconceitos sociais e pela necessidade, esses desclassificados se mergulham

nas zonas obscuras dessa sociedade ruralizada. Fazem-se clientes dos


25
grandes latifundiários”

Quem tem terra consegue se classificar socialmente. Quem não tem terra vive a

margem da sociedade, sem um lugar definido e claro. A única alternativa que resta a tais

“desclassificados” é estabelecer relações clientelares com os grandes proprietários. E é

apenas através do grande domínio rural que se fundamenta o poder nessa sociedade

ruralizada. Surge daí a imagem dos senhores envoltos por uma vasta parentela e

agregados agindo em comum acordo 26 .

24
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 49 (grifos nossos)
25
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 60
26
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 65
10

Para Oliveira Vianna, esses homens agregados se diferenciam dos escravos pela

sua origem étnica, pela sua situação social um pouco mais favorável e, o mais

significativo, pela “sua residência fora da casa senhorial”, habitando em “pequenos

lotes aforados, em toscas choupanas, circundantes ao casario senhorial, que, do alto da

sua colina os centraliza e domina” 27

Portanto, já vemos claramente duas formas bastante diferentes de organização

familiar nessa sociedade. De um lado, esses homens livres pobres que habitam em casas

miseráveis e vivem de forma instável graças a submissão aos grandes proprietários. Do

outro lado, temos os grandes fazendeiros habitando em imensos solares, assim descritos

por Vianna:

“Dentro do solar fazendeiro, o núcleo familiar deve ser grande, maior do

que o do IV [sic] século. O tipo conventual das antigas fazendas coloniais,

com a sua série interminável de janelas e as suas inúmeras alcovas e os seus

pomposos sobrados, denunciam o tamanho da família senhorial desses

tempos. Os parentes, em número já considerável, são acrescidos ainda de

alguns agregados de melhor extração, que se incorporam à família


28
senhorial como amigos, comensais ou favoritos do senhor”

Famílias instáveis de um lado, Famílias extensas e luxuosas do outro. Essa é

uma oposição fundamental na representação da família de Oliveira Vianna. É a terra o

elemento que distingue uma da outra.

O desdobramento desse processo de ruralização é a profunda simplificação da

organização social brasileira. Essa simplificação se dá por conta das próprias

necessidades das grandes propriedades: “Dispersos e isolados na sua desmedida

27
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 65-66
28
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 66 (grifos nossos)
11

enormidade territorial, os domínios fazendeiros são forçados a viver por si mesmos, de

si mesmos e para si mesmos” 29

As grandes propriedades se isolam, produzindo tudo aquilo que precisam para

sua sobrevivência. Logo, não existe espaço para cidades, comércio ou indústrias nesses

territórios 30 . A grande fazenda basta por si só, e é ela sozinha que sustenta os pilares da

sociedade colonial.

Essa caracterização é importante para Oliveira Vianna pois é através dela que se

explica as relações de poder. Sendo a grande propriedade a base da organização social,

não é difícil de perceber que todas as relações sociais convergem na direção do grande

proprietário de terras. É esse grande patriarca, comandando uma vasta parentela e

agregados, a única fonte de poder e justiça nessa sociedade. Vianna caracteriza essa

estrutura como o “clã fazendeiro”, sendo nessa sociedade simplificada a única forma de

solidariedade social realmente existente 31 .

Outro conceito importante que decorre dessa organização é a idéia de “anarquia

branca”. Estando o poder nas mãos desses oligarcas locais fica claro que a justiça e

qualquer amparo social ficam marcados pela vontade dos potentados locais. São eles

que mandam e desmandam na vida local. Logo, “as instituições de ordem

administrativa e política, que regem a nossa sociedade durante a sua evolução

histórica, não amparam nunca de modo cabal, os cidadãos sem fortuna, as classes

inferiores, as camadas proletárias contra a violência, o arbítrio e a ilegalidade” 32

29
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 113
30
“Em síntese, [não existe] nem classe comercial; nem classe industrial; nem corporações urbanas” em
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p. 119
31
“é o clã fazendeiro a única forma militante da solidariedade social em nosso povo” em Oliveira Vianna,
Populações meridionais, p. 145
32
Oliveira Vianna, Populações meridionais, p.142
12

A única alternativa para essa população é agregar-se aos grandes clãs

fazendeiros 33 . Existe uma lógica circular que rege essa sociedade: o poder dos

potentados atrai para si as camadas inferiores, e é essa atração que permite o

fortalecimento do poder do clã rural, reforçando a anarquia e o desmando.

Esse é o ponto fundamental para entender o conceito de patriarcalismo na obra

de Oliveira Vianna. A formação desses poderosos clãs rurais marca profundamente a

vida social da colônia. Sustentados por imensas hordas de capangas, parentes, agregados

e escravos, os potentados locais definem a sua feição as relações políticas nessa

sociedade. Não existe nenhuma instituição que possa fazer frente a tal poderio.

Essa sociedade é patriarcal porque tudo converge para o patriarca dos clãs rurais.

Nesse sentido, patriarcalismo significa muito mais do que família extensa ou imensos

domicílios. Esse talvez seria o aspecto material e concreto dessa sociedade. Mas além

do concreto há uma forma própria de organização política, onde o poder se encontra

fragmentado pelos diversos potentados locais, onde reina uma espécie de anarquia

difusa pautada pelos mandos e desmandos dos senhores de terra.

O argumento central do livro de Oliveira Vianna é justamente a crítica dessa

forma de organização social. A preocupação de Vianna é identificar as raízes desse

espírito faccioso tão presentes na política brasileira. O objetivo de seu livro não é

entender como funcionava no passado a família brasileira, mas buscar na organização

dessa família as bases de uma estrutura de poder que tinha profundas implicações na

organização da sociedade brasileira.

Logo, esse nos parece ser um caminho mais fecundo para entender o conceito de

patriarcalismo na obra de Oliveira Vianna. Como um conceito que não se limita apenas

33
“Só à sombra patriarcal deste grande senhor de engenhos, de estâncias, de cafezais vivem o pobre e o
fraco com segurança e tranqüilidade” em Oliveira Vianna, Populações meridionais, p.142 (grifos
nossos)
13

a morfologia do domicílio ou da família brasileira, se esparramando por todos os

aspectos da vida social, econômica e política. Em suma, patriarcalismo é muito mais

uma forma de exercer o poder e a sociabilidade nessa sociedade do que um tipo definido

de família.

“Casa-Grande & Senzala” e “Sobrados e mucambos” de Gilberto Freyre

Os trabalhos de Gilberto Freyre marcaram profundamente o pensamento

brasileiro. Desde a publicação de Casa-Grande & Senzala no início da década de 1930,

os estudos de Freyre inovaram em diversos sentidos a reflexão sobre a sociedade

brasileira. Essa renovação foi especialmente importante no campo dos estudos da

família brasileira. As imagens da família mais fortemente cristalizadas no nosso

imaginário social foram, sem nenhuma dúvida, elaboradas nas diversas obras de

Gilberto Freyre 34 .

A concepção de patriarcalismo e de família patriarcal deve muito as diversas

leituras feitas de sua obra a partir da década de 1930. Dessas leituras se consolidou uma

determinada interpretação do passado colonial fortemente amparada numa noção

familista da sociedade. Essa noção apontava para a centralidade da instituição familiar

na vida social. Nesse sentido, a família patriarcal extensa se tornou a base e o modelo da

sociedade colonial.

No entanto, como já apontamos no início do trabalho, uma historiografia

revisionista a partir da década de 70 começou a questionar a validade das interpretações

34
“(...) foi Gilberto Freyre o grande idealizador da noção de família que predominou durante décadas na
historiografia brasileira” em Sheila de Castro Faria, História da Família, p. 252. Eni de Mesquita Samara
é da mesma opinião: “É inegável a importância e influência da obra de Gilberto Freyre na historiografia
brasileira, especialmente nos estudos de família” em Relendo os “clássicos” e interpretando o Brasil, p.
303
14

e das leituras da obra de Gilberto Freyre. O modelo patriarcal de família e a validade de

muitos dos argumentos de Freyre foram duramente criticados e questionados.

Mas o que significa patriarcalismo e família patriarcal? Será que podemos

assumir patriarcalismo como sinônimo de família patriarcal e esta como sinônimo de

família extensa? A dificuldade em responder tais questões justifica uma releitura dos

trabalhos de Gilberto Freyre.

Logo, o que tentaremos fazer aqui é buscar em “Casa-Grande & Senzala“ e

“Sobrados e mucambos”, dois textos centrais na discussão de patriarcalismo, um

melhor entendimento do significado de patriarcalismo na reflexão de Gilberto Freyre.

--- x ---

“Casa-Grande & Senzala” inaugurou uma série de quatro livros 35 voltados

para a formação e o desenvolvimento da sociedade brasileira. Gilberto Freyre pensou

esse conjunto de trabalhos como uma “Introdução à história da sociedade patriarcal

no Brasil”. Portanto já nos títulos podemos perceber a importância central que o

conceito de patriarcalismo apresenta na obra de Gilberto Freyre.

No entanto, Freyre nunca chegou a definir com clareza o que entendia por

patriarcalismo. Pelo contrário, encontramos em suas obras uma imensa quantidade de

referências a tal expressão sem um maior cuidado com a clareza. Assim, Freyre fala de

uma “família patriarcal ou “parapatriarcal” 36 , de um “regime patriarcal de

economia” 37 , de uma “formação patriarcal do Brasil” 38 , de um “sistema patriarcal de

35
Os quatro livros são: Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime de
economia patriarcal; Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento
urbano; Ordem e Progresso: processo de desintegração das sociedades patriarcal e semipatriarcal
no Brasil sob o regime de trabalho livre; O quarto e último volume, com título provisório Jazigos e
cova rasa não chegou a ser preparado.
36
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 136, nota 55
37
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 44
38
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 47
15

colonização portuguesa” 39 , de um “sistema patriarcal-escravocrático” 40 , e daí por

diante. Nessa profusão de conceitos já notamos aquela imprecisão apontada por muitos

comentadores como típica da argumentação de Gilberto Freyre 41 .

De qualquer modo, patriarcalismo não parece se referir apenas a um tipo

específico de família, ou a forma de organização familiar brasileira. Mais do que isso, é

a idéia de patriarcalismo que forma o fio condutor de todo o desenvolvimento da

sociedade brasileira. O que Freyre tentou com suas obras foi explicar a formação, a

decadência e a desagregação de um tipo de sociedade específica: a sociedade patriarcal.

É nessa perspectiva que se torna importante voltar para a colonização portuguesa na

América já que para Freyre está é a chave para o entendimento dessa sociedade 42 .

Com a colonização “formou-se na América tropical uma sociedade agrária na

estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio – e mais

tarde de negro – na composição” 43 . São essas as características básicas da colonização.

E é sob o efeito desses traços que vai se formar na colônia uma sociedade distinta da

portuguesa.

A base dessa sociedade agrária foi o binômio casa-grande/senzala. Foi através da

família que Portugal conseguiu encontrar condições materiais de desenvolver esse

processo colonizador. Daí, a afirmação de Freyre:

“A família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado nem nenhuma

companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador no

39
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 48
40
Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 67
41
“Efetivamente, a ‘imprecisão’ conceitual é vista como um dado constitutivo da argumentação freyriana”
em Jessé Souza, Gilberto Freyre e a singularidade cultural brasileira, p. 73
42
“Freyre propôe diversas teses fundamentais em Casa-Grande, que são repetidas ao longo do livro. A
mais importante é seu argumento de que o Brasil moderno foi indelevelmente marcado pelo legado do
complexo colonial do latifúndio escravocrata e plantações (...) e a estrutura familiar patriarcal que o
acompanhava” em Thomas E. Skidmore, Raízes de Gilberto Freyre, p. 52
43
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 79.
16

Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as

fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra

em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da

América. Sobre ela o rei de Portugal quase que reina sem governar” 44

Nesse contexto a família ganha proeminência sobre todas as demais instâncias

sociais, tornando-se o motor e a base do processo de formação social do Brasil. No

processo de colonização prevaleceu um espírito privatista, com o poder pessoal do

grande senhor de escravos submetendo as autoridades externas (como o Estado e a

Igreja).

Assim, na reflexão de Freyre a casa-grande senhorial funciona como um

microcosmo da sociedade, lançando as bases para o desenvolvimento dessa sociedade e

de sua economia. Desse modo, quando Freyre fala de uma economia patriarcal está se

referindo a essa economia agrícola subordinada ao poder do pater familias 45 .

Portanto, a família tinha suas funções políticas, econômicas e sociais ampliadas

nessa sociedade. Em outras palavras, em decorrência das especificidades da colonização

portuguesa, a família tornava-se o elemento central dessa sociedade: “A casa-grande,

completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social, político: de

produção (a monocultura latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (...);

de religião (...); de vida sexual e de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do

corpo e da casa (...); de política (o compadrismo)” 46

Portanto, sociedade patriarcal é aquela que possuiu como unidade social básica a

família. Nessa sociedade não existem limites para autoridade pessoal do senhor de terras

44
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 92
45
Ana Cristina Veiga de Castro, Intepretações da colônia no pensamento brasileiro, p. 26-27.
46
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 96.
17

e escravos 47 . Para Gilberto Freyre, nem a Igreja e nem o Estado conseguem se impor

acima e além do pater familias. Nessa acepção podemos entender a existência de um

“regime patriarcal de economia” ou um “sistema patriarcal-escravocrático”.

Nesse sentido, podemos distinguir patriarcalismo de família patriarcal. O

primeiro seria essa preponderância da família sobre as demais instituições sociais, seria

uma espécie de sistema ou modo de organização social, norteando as relações de poder

e as relações institucionais da sociedade. Já a família patriarcal seria a materialização

desse patriarcalismo. Seria ao redor dessas famílias patriarcais que flutuaria a sociedade

colonial. E em nenhum momento Freyre identifica essas famílias como do tipo extenso

e tampouco as identifica como o tipo de família mais representativo dessa sociedade.

Para Freyre, a família patriarcal não é única e nem a mais numerosa, ela é apenas aquela

para qual as relações de poder convergem 48 .

Essa acepção de patriarcalismo fica ainda mais clara em “Sobrados e

mucambos”. Se no primeiro livro o que estava em questão era a formação da sociedade

patriarcal, nessa obra o ponto central é o “embate entre a tradição patriarcal e o

processo de ‘ocidentalização’ a partir da influência da Europa ‘burguesa’” 49 . Em

outros termos, o que está em questão é o choque do tradicional (o patriarcal) com o

moderno (o burguês).

47
“Por muito tempo as Câmaras, os juízes, as Ordens Reais, quase nada puderam contra particulares tão
poderosos. A sombra feudal da casa-grande do rico ou do jesuíta caía em cheio sobre as cidades” em
Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 34.
48
“Parece-nos inegável a importância da família patriarcal ou parapatriarcal como unidade colonizadora
no Brasil. É certo que o fato dessa importância antes qualitativa que quantitativa, não exclui o fato,
igualmente importante, de entre grande parte da população do Brasil patriarcal ‘a escravidão, a
instabilidade e segurança econômicas’ terem dificultado a ‘constituição da família, na sua expansão
integral, em bases sólidas e estáveis’” em Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 136, nota 55.
49
Jessé Souza, Gilberto Freyre e a singularidade cultural brasileira, p. 72
18

A urbanização, o desenvolvimento do comércio, o fortalecimento do Estado, a

vinda da família real, são alguns dos fatores que começam a transformar a sociedade

patriarcal que foi se consolidando na América Portuguesa. Com isso, o poder patriarcal

foi lentamente dissolvido, estabelecendo novas formas de sociabilidade e de relações de

poder. É essa, em linhas gerais, a idéia desse livro.

Essa lenta dissolução, entretanto, não significou a desagregação do

patriarcalismo. Longe disso, o que se deu foi uma certa transplantação da sociedade

patriarcal agrária para as cidades. E no prefácio do livro Freyre retoma e explica com

um pouco mais de clareza o que entende por patriarcalismo, já que este continua sendo

um conceito fundamental para entender a sociedade brasileira da virada do século XVIII

para o XIX.

Assim, Freyre começa apontando que em seus estudos centralizou a atenção ao

estudo da casa e do espaço privado pois o desenvolvimento no Brasil desde o século

XVI se fez “patriarcalmente: em torno do pater familias, dono de casas características

menos do seu domínio de homem, que do domínio da família representada por ele” 50

Essa passagem é reveladora. O poder do pater familias não vem de seu poder

enquanto homem, mas vem do poder que a família tem sobre a sociedade. Portanto,

patriarcalismo não tem a ver apenas com a esfera privada da família, mas com a família

se lançando para o espaço público. Isso se dá pois a família é a instituição fundamental

da vida social. Como já apontamos, o principal desdobramento da idéia de

patriarcalismo é familismo enquanto uma forma de exercer poder nessa sociedade 51 .

Em seguida, Freyre aponta que:

50
Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 52.
51
Outra passagem igualmente interessante é a seguinte: “[Família patriarcal] ou ‘tutelares’, como diria o
professor Zimmermamm, a quem repugna a expressão ‘patriarcal’ pelo que parece atribuir de absoluto ao
poder do patriarca-indivíduo, quando esse poder seria antes da família investida de funções tutelares do
que do seu chefe” em Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 58.
19

“A nós, parece, hoje evidente – depois de estudos já longos da formação

brasileira – que o Brasil teve no complexo ou sistema patriarcal, ou tutelar,

de família, de economia, de organização social, na forma patriarcal de

habitação (...) e na forma patriarcal de devoção religiosa, de assistência

social e de ação política – seu principal elemento sociológico de unidade.

Mais do que a própria Igreja (...) foi a família patriarcal ou tutelar o


52
principal elemento sociológico de unidade brasileira”

Essa passagem sintetiza bem tudo aquilo que viemos apontando até agora.

Patriarcalismo é um modo de organização onde o “principal elemento sociológico de

unidade” é a família, onde esta subordina e se impõe a todas as demais esferas sociais.

Além disso, temos a própria família patriarcal, materializando essas relações sociais.

Para Gilberto Freyre, a verdadeira base da colonização portuguesa foi

unicamente a família. Foi ela quem sustentou o desenvolvimento do complexo agro-

exportador e da sociedade em seu conjunto. E mais importante, foi o desenvolvimento

desse “sistema patriarcal-escravocrático” que diferenciou a colônia da metrópole 53 .

É importante não perder de vista essa perspectiva sistêmica adotada por Gilberto

Freyre. É nessa perspectiva que a família torna-se uma “instituição total” 54 que explica

e da sentido ao conjunto das reflexões do autor. É sob a lógica familista que Freyre

entende nosso passado colonial.

52
Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 63.
53
“A verdade é que foi o sistema patriarcal-escravocrático, ou tutelar escravocrático, que, de suas bases
(...) deu efetivo significado econômico e importância política ao Brasil, identificado principalmente com o
açúcar aqui produzido. Foi o sistema patriarcal-escravocrático que se tornou a base principal da cultura
diferenciada de Portugal que foi aqui se desenvolvendo” Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 67.
54
“Acredito que o patriarcalismo familial rural e escravocrata para Freyre envolvia a definição de uma
instituição total, no sentido de um conjunto articulado onde as diversas necessidades ou dimensões da
vida social encontravam uma referência complementar e interdependente” em Jessé Souza, Gilberto
Freyre e a singularidade cultural brasileira, p. ?
20

Logo, muito mais do que uma reflexão sobre um tipo de família o que Gilberto

Freyre faz é construir uma reflexão sobre o ethos social do brasileiro. Essa organização

social se desdobrava em redes de sociabilidade e de poder de um tipo bastante

específico. Mais do que isso, formava-se um estilo de sociedade ancorado em valores

específicos: familismo, privatismo e personalismo 55 .

Portanto, a desintegração do patriarcalismo não significa apenas a formação de

famílias nucleares e simplificadas, como poderia ficar subentendido por certas leituras

críticas de sua obra, mas significa a afirmação de um ethos burguês, especialmente a

afirmação do individualismo 56 . Nesses termos fica muito mais clara a oposição entre

tradicional/moderno que percorre sua obra. Patriarcalismo está para o tradicional assim

como a sociedade burguesa está para o moderno.

Podemos concluir essa leitura com dois desdobramentos importantes. Em

primeiro lugar, patriarcalismo não é um traço típico de uma determinada região (o

nordeste açucareiro), mas da empresa colonial como um todo 57 . Em segundo lugar, a

sociedade não será mais ou menos patriarcal de acordo com o número de domicílios

extensos existentes, sendo preciso dissociar totalmente patriarcalismo e família

patriarcal de domicílio extenso 58 .

“The Brazilian Family” de Antonio Candido

55
“Para Freyre, houve no passado um estilo brasileiro de sociedade baseado no patriarcalismo, com seus
atributos de personalismo, familismo e privatismo, atributos esses que são despóticos e segregadores,
de um lado, mas democráticos e inclusivos, de outro. É a dialética desses pólos que tem garantido a
longevidade do patriarcalismo brasileiro” em Lucia Lippi Oliveira, Ordem e Progresso em Gilberto
Freyre, p. 143.
56
Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos, p. 90.
57
“A casa-grande, embora associada particularmente ao engenho de cana, ao patriarcalismo nortista, não
se deve considerar expressão exclusiva do açúcar, mas da monocultura escravocrata e latifundiária em
geral” em Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala, p. 55.
58
Ver nota 48.
21

O breve ensaio “The Brazilian Family” de Antonio Candido, publicado numa

coletânea de textos sobre o Brasil voltada para o público americano 59 ocupa um lugar

central nas críticas feitas pela historiografia revisionista. É nesse texto que, salvo

engano, encontramos a definição mais precisa e concreta da noção de família patriarcal

brasileira. Logo, grande parte das críticas feitas pelos revisionistas é feita a partir de

uma certa leitura do texto de Candido.

Ainda assim, esse é um ensaio pouco lido. É uma daquelas obras mais criticadas

do que verdadeiramente lidas. A falta de uma tradução ou publicação do texto no Brasil

talvez ajude a entender essa situação. Apesar disso, essa breve reflexão retoma de modo

bastante interessante o conceito de família patriarcal, dialogando diretamente com os

trabalhos de Oliveira Vianna e Gilberto Freyre.

Com a leitura do texto de Antonio Candido finalizamos o percurso desse

trabalho. O objetivo dessa leitura é, novamente, identificar o que significa

patriarcalismo para Candido. E de que modo se funda a organização familiar numa

sociedade patriarcal.

--- x ---

Em seu texto, Antonio Candido tenta realizar um estudo sociológico numa

perspectiva histórica da família brasileira. Nesse sentido, o autor pretende estudar a

família sob três perspectivas: sua estrutura, sua função e seus aspectos morais. Daí, seria

possível identificar de que modo transformou-se a família brasileira desde sua forma

patriarcal (patriarchal family) até a moderna família conjugal (modern conjugal

family).

59
Lynn Smith e Alexander Marchand (org.), Brazil portrait of half a continent.
22

No entanto, a ênfase do texto não é na família moderna, e sim em sua forma

patriarcal, já que está é a base da família moderna 60 . Foi junto ao processo de

colonização que o modo de organização patriarcal foi se afirmando no Brasil, sendo um

modelo familiar típico dos estratos sociais dos colonizadores portugueses.

Isso não significa, entretanto, que houve uma simples transposição das famílias

portuguesas no território colonial 61 . A falta de mulheres brancas, a escravidão, as

relações extraconjugais e a miscigenação marcaram profundamente a família brasileira.

Logo, para evitar a desagregação a família patriarcal foi obrigada a se adaptar e

se definir sobre novas bases. É dessa adaptação que surge a famosa estrutura dual da

família brasileira:

“Frequently the solution was found in the patriarchal organization of the

family itself, which presented a double structure: a central nucleus,

legalized, composed of the white couple and their legitimate children; and a

periphery not always well delineated, made up of the slaves and agregados,

Indians, Negroes, or mixed bloods, in which were included the concubines of


62
the chief and his illegitimate children”

A família patriarcal era, portanto, antes de tudo uma organização de

acomodação. Os diversos grupos sociais hierarquicamente diferenciados podiam se

integrar através da agregação à estrutura da família patriarcal. É uma idéia bastante

similar com a noção de clã familiar de Oliveira Vianna. A função da família seria antes

60
“The emphasis upon the patriarchal family of the past centuries is justified by the fact that it was the
base upon which developed the modern conjugal family, whose traits can be understood only if we
examine its origins” em Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 291.
61
“Actually, although in theory and, in many cases, in practice the Portuguese familial organization was
transplanted here at the beginning of the colonial period, it did no find a favorable environment in the
colony” em Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 292.
62
Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 294. (grifos nossos)
23

de tudo dar estabilidade para as discrepâncias sociais. Como veremos depois, aqueles

que se mantivessem fora dessa estrutura acabavam se tornando socialmente

desclassificados flutuando a deriva na sociedade.

O núcleo central era a base da família e da sociedade. Era dentro desse grupo

que se encontravam os elementos socialmente mais destacados e era daí que emanava o

poder e prestígio social. Novamente, como em Oliveira Vianna, era o chefe de família a

grande força do nosso passado colonial:

“The legal nucleus was the core of the domestic organization and from the

beginning it developed according to molds which persisted until a few

decades ago. The chief’s dominance was almost absolute, corresponding to

the necessities of social organization in an immense country lacking police,

and characterized by an economy which depended upon large-scale initiative

and the command over a numerous labor force of slaves. It was a type of

social organization in which the family necessarily was the dominant group

in the process of socialization and integration, a group in which the distances


63
were rigidly marked and regulated by the hierarchy”

Além de sua função estabilizadora a família também era a base da organização

social mais ampla. Era ela a fonte de poder e de controle da sociedade. Numa economia

baseada na grande produção escravista e na ausência de instituições disciplinadoras

atuantes, cabia ao senhor e pai de família disciplinar e controlar a sociedade.

Logo, já identificamos dois aspectos do tripé apontado no início. Quanto a

estrutura, a família patriarcal era definida por dois grupos distintos mas relacionados: o

núcleo e a periferia. Quanto a sua função era dupla: garantir a coesão social e assegurar

o domínio político-econômico dessa sociedade.

63
Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 294. (grifos nossos)
24

A decorrência direta disso era o pleno poder da autoridade paternal. Era ao pai

de família que cabia a ação da justiça e do policiamento, era ele quem decidia os rumos

dos demais membros da família, bem como de todos aqueles elementos agregados que

circulam pela periferia da família.

Antonio Candido, no entanto, relativiza um pouco esse poder quanto trata do

papel da mulher nessa sociedade. Ainda que subordinada ao marido, esta ocupava uma

função complementar aquela do marido 64 . De qualquer modo, ainda que com certa

margem de liberdade, a mulher é somente o outro lado do poder patriarcal. É nessa

complementaridade que a família patriarcal pode continuar cumprindo sua função

política-econômica.

O núcleo central compunha apenas um lado da estrutura da família patriarcal.

Esta era completada pela sua periferia composta de agregados, escravos, parentes

distantes, capangas, etc. Era essa extensão da família, englobando todo um conjunto de

pessoas ao redor do pai de família que dava as bases do poder político e econômico à

família patriarcal.

Todos aqueles que não fossem amealhados pelas estruturas desse sistema

patriarcal tornavam-se socialmente desclassificados:

“Therefore if we adopt the criterion of the organization and the self-

determination of the group we may say that colonial society was divided into

two parts, familial and nonfamilial. The former, composed of the double

structure that has already been analyzed, was made up of an autonomic

group (the nucleus) and a heteronomic one (the periphery). The nonfamilial

portion consisted of a nameless mass of the socially degraded, those cast off

64
“They are two complementary spheres, each with its ethos more or less differentiated from that of the
other, often in conflict, but generally supporting each other in the maintenance of a considerable
sociological balance” em Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 295-6.
25

by the family groups or brought up outside them. They reproduced


65
themselves haphazardly and lived without regular norms of conduct”

Logo, não existia apenas uma forma de organização familiar (a patriarcal), no

entanto todos aqueles que não estivessem ligados de alguma forma a esta organização

estavam excluídos das redes de poder e sociabilidade nesta sociedade. Portanto, para

Antonio Candido a família patriarcal era mais do que uma estrutura definida de família,

ela era a base da sociabilidade nesta sociedade 66 . Nesse sentido, os aspectos funcionais

e morais da família patriarcal convergiam para estes aspectos políticos, econômicos e

sociais.

O que Antonio Candido entende pela transição da família patriarcal para a

família conjugal moderna é justamente a progressiva perda de suas funções econômicas

e políticas para manter apenas funções afetivas e sentimentais:

“The history of the Brazilian family during the last 150 years consists

essentially of an uninterrupted series of restriction upon its economic and

political function and the concentration upon the more specific functions of
67
the family (from our point of view)”

Essa transformação está intimamente atrelada com a modernização e a

urbanização do país. Com a crescente divisão social do trabalho advinda dessa

urbanização o pai de família começa a perder seu poder e sua liderança. Daí, os

65
Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 304. (grifos nossos)
66
“To some extent it may be said that it [a família patriarcal] constituted the fundamental organization of
the colonial period, production, administration, defense, and the social status of the individual being
dependent upon it. It is as a function of this organization that we are able to understand the society of the
time, because one who did not belong to it lacked means of participation in the collective life” em
Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 303
67
Antonio Candido, The Brazilian Family, p. 304.
26

membros da família ganham maior individualidade e a estrutura dual da família perde

seu sentido, desagregando-se.

Nesse sentido, o significado de família patriarcal para Candido vai muito além

da pura morfologia domiciliar como certas críticas apontam. Família patriarcal seria

uma forma própria de organização social e de sociabilidade em oposição a forma

moderna e individualizada de sociedade. O exemplo mais claro disso é a profunda

imbricação da esfera privada (a família) com a esfera pública (a política ou a economia).

Em nenhum momento Antonio Candido coloca claramente que toda a estrutura

da família patriarcal reside sob um mesmo domicílio ou conjuntamente. Isso nem

importa muito. O que é importante é a presença da solidariedade parental como o

vínculo social mais importante nessa sociedade. Portanto, podemos entender

patriarcalismo como o prevalecimento da esfera familiar sob as demais esferas sociais.

Parece-nos que essa acepção é mais adequada com aquilo proposto por Candido em seu

texto. Logo, provar que a maioria dos domicílios não são extensos é uma crítica

adequada a esse modelo? Acreditamos que não...

Considerações finais

Ao longo do trabalho buscamos entender o significado de patriarcalismo nos

trabalhos de Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e Antonio Candido. Com isso, pudemos

notar uma profunda semelhança na argumentação dos três autores. Essa convergência

pode nos ajudar a estabelecer uma definição, ainda que provisória e incipiente, do

conceito de patriarcalismo.

Em primeiro lugar, para todos os autores é a especificidade da colonização

portuguesa na América o nexo explicativo central para se entender a formação de uma

sociedade patriarcal. Foi com o processo colonizador que essa sociedade foi ganhando
27

uma feição particular, um modo de organização que privilegia a família como elemento

de sociabilidade central.

É esse foco na família o segundo ponto em comum nos autores. De um jeito ou

de outro todos apontam para sua centralidade nas relações sociais, políticas e

econômicas. Foi através da família que a empresa colonial conseguiu se estabelecer e se

desenvolver. Era também no seio da família que se encontravam as bases de poder nessa

sociedade.

Outro ponto em comum é a oposição tradicional/moderno tendo como eixo o

familismo. Para todos os autores a superação dos traços tradicionais do Brasil está

relacionada com a formação familiar. É com a superação dessa sociabilidade familiar

que se torna possível a afirmação de valores burgueses modernos.

Nessa perspectiva, patriarcalismo parece muito próximo de um ethos social.

Patriarcalismo seria um modo tradicional de organização. Uma organização centrada na

família e que sufoca outras instâncias sociais como o Estado ou a Igreja. Portanto,

patriarcalismo é fundamentalmente uma forma de exercício do poder nessa sociedade.

Nessa sociedade não seriam os indivíduos, mas sim as famílias que ganhariam

importância social e econômica.

Se entendermos patriarcalismo como esse ethos tradicional, como uma forma de

organização que privilegia a família, fica difícil concordar com a crítica dos

revisionistas. Afinal de contas, não é a importância quantitativa da família patriarcal que

torna essa sociedade patriarcal. Falar em patriarcalismo é falar de relações de poder e de

sociabilidade e o estudo dos domicílios dificilmente pode tratar desses temas.

Assim, fica claro que o problema das críticas é muito mais um problema

conceitual e teórico do que um problema metodológico e empírico. O problema surge


28

desde o princípio ao assumir que patriarcalismo significa domicílios de tipo extenso.

Mas não é isso. Ou melhor, nossa leitura não aponta nesse sentido.

Com tudo isso, ficou claro que o conceito ainda apresenta uma grande

pertinência para compreender a sociedade colonial. É impossível discutir poder local,

relações senhor/escravo, sociabilidade cotidiana, transmissão de riquezas, questões de

gênero, entre outros assuntos, sem dialogar com o conceito de patriarcalismo.

É evidente que isso não significa reificar o conceito. Colocar a família como um

nexo fundamental das relações sociais não significa dizer que ela é o único nexo. Outras

instituições, como as câmaras municipais ou as instituições religiosas, são tão

fundamentais quanto a família para a compreensão das relações sociais. Também é

preciso historicizar o conceito. O próprio Gilberto Freyre apontou que em certo

momento a sociedade patriarcal começou a se diluir e se transformar. Logo, é preciso

tratar o conceito como ele é, ou seja, como um modelo, não como a realidade concreta.

Nessa perspectiva, os estudos da família ganham uma importância central na

compressão da sociedade colonial. Perder de vista a centralidade da família nessa

sociedade pode inviabilizar sua própria compreensão. É preciso, portanto, mais do que

nunca pensar a sociedade colonial como uma sociedade patriarcal.

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