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RESUMO
Inseridos num plano de loteamento em estudo para o local, foram recentemente realizados na zona de Marinhas
do Mulato, em Vila Franca de Xira, vários aterros experimentais com o objectivo de analisar a evolução do
processo de consolidação da fundação lodosa desses aterros, associada à instalação de malhas de geodrenos com
diferentes espaçamentos. Nos aterros foram instaladas marcas para medição de assentamentos e na fundação
foram instaladas células para medição de pressão da água intersticial. A evolução do processo de consolidação
da fundação desses aterros foi modelada numericamente com base em soluções de diferenças finitas.
Apresentam-se neste trabalho, para além das características gerais da obra, os resultados de observação obtidos
e a sua comparação com os resultados da solução numérica desenvolvida, inferindo-se, deste modo, o valor dos
principais parâmetros geotécnicos que controlam a consolidação desses materiais lodosos.
S50 Aterro 2
S57 N
M5 C3M6 S56
S5
S55 M7 C4M8
M9 M10 S65
S54
Sondagem
Escala
Marca de assentamento
RIO TEJO 0 50m 100m 150m Célula de pressão intersticial
2002 foi centrado na formação lodosa ocorrente no identificação, ensaios de corte rotativo, ensaios
local, uma vez que certamente seria aquela que iria edométricos e ensaios triaxiais. Com base nos seus
condicionar o comportamento dos aterros a executar. resultados foi elaborado um estudo (Consulgeo, 2003)
As sondagens realizadas (ver Figura 1) permitiram com a caracterização das formações ocorrentes, em
identificar, genericamente, a presença dos complexos particular a da formação lodosa.
que seguidamente se referem. Dada a proximidade de locais e semelhança das
características dos materiais detectados nesta zona e
Formações actuais a recentes na zona do Forte da Casa (para a qual já tinha sido
C1A - Depósitos de aterro arenosos, areno-argilosos e realizado um estudo de caracterização geotécnica
argilosos (SPT médio entre 10 e 20 golpes). semelhante), no presente trabalho os respectivos
C1B - Depósitos aluvionares constituídos por lodos, resultados foram considerados conjuntamente.
por vezes com conchas dispersas, muito moles Pretendendo-se abordar neste trabalho apenas o
(SPT quase sempre nulo). comportamento dessa formação lodosa no que
C1C - Depósitos aluvionares constituídos por areias respeita à sua compressibilidade e consolidação, são
de granulometria variável, lodosas, areão e em seguida referidos os principais resultados desse
seixos dispersos (SPT entre 10 e 30 golpes). estudo no que respeita a esse tipo de características,
Formação quaternária incluindo-se ainda as características de plasticidade.
C2 - Formação heterogénea constituída por areias,
por vezes argilosas, areão e seixos dispersos, a) Plasticidade
medianamente compacta a muito compacta (SPT
médio entre 30 golpes e a “nega”). Estes materiais lodosos são materiais de alta
Formação miocénica plasticidade, com valores do limite de liquidez da
C3 - Formação heterogénea constituída por arenitos ordem de 60 a 70% e valores do índice de plasticidade
de granulometria variável, margosos a calcários da ordem de 30 e 40%.
e argilosos (SPT correspondendo à “nega").
b) Compressibilidade
1.6
sendo d o comprimento inicial de drenagem e
1.4
t50 o tempo correspondente a 50% de
consolidação primária. A curva obtida para 1.2
um dos referidos patamares de carga é
1.0
apresentada na Figura 3. Como se pode
observar existe uma reduzida dispersão de 0.8
resultados, a qual, em parte, pode ser
0.6
explicada pelo facto de a altura dos provetes
1 10 100 1000 10000
ensaiados ser variável. Da interpretação dos Tensão efectiva (kPa)
resultados obtiveram-se valores do
coeficiente de consolidação primária vertical, Figura 2 - Curvas de compressão dos lodos
cv, de 3,9x10-4cm2/s e 3,5x10-4cm2/s,
respectivamente para o primeiro e segundo 1E+00
Velocidade de consolidação (mm/min)
1E-03
4 ATERROS EXPERIMENTAIS E
INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA
1E-04
Tendo em vista a análise do comportamento
dos materiais lodosos ocorrentes na zona no 1E-05
que respeita à evolução do seu processo de 0.1 1 10 100 1000
consolidação, foram executados, na sequência Tempo (min)
do estudo de caracterização geotécnica
anteriormente referido, quatro aterros Figura 3 - Curvas de consolidação dos lodos
experimentais, representados na planta da para o patamar de carga 50kPa-80kPa
Quadro 1 - Características gerais dos aterros e equipamentos de observação
espaçamento cota superf. cota topo cota base marcas de células de pressão
Aterro
geodrenos (m) terreno (m) lodos (m) lodos (m) assentamento intersticial (cota)
M1, M2, C1a (-2m), C1b -8m)
1 1,7 2,8 0,5 -8,5
M3, M4 C2a (-2m), C2b (-8m)
M5, M6, M7, C3 (-3m)
2 s/geod. 3,0 0,5 -5,0
M8,M9, M10 C4 (-3m)
M11, M12, C5a (-2m), C5b (-8m)
3 1,4 2,6 0,5 -10,0
M13, M14 C6a (-2m), C6b (-8m)
M15, M16, C7a (-2m), C7b (-9m)
4 2,0 2,7 0,5 -12,0
M17, M18 C8a (-2m), C8b (-10m)
64 6
igualmente de um comportamento médio da 56 4
camada e os segundos do comportamento de 48 2
Cota do aterro (m)
Trata-se de um aterro na fundação do qual foi Figura 5 - Aterro 1 - Excessos de pressão intersticial
admitindo como única alteração ao modelo base que modelo numérico e resultados de observação é
a cota inicial do terreno se situava a 3,8m em vez de bastante bom, sendo que a aplicação do modelo base
2,8m, considerando-se, deste modo, de forma conduz a menores velocidades de consolidação que as
indirecta, a eventual sobreconsolidação dos lodos. observadas em qualquer marca.
Ainda relativamente à Figura 4, de notar a A explicação encontrada para a necessidade de
mudança de comportamento das curvas dos modelos adoptar valores de cv cerca de 2 a 4 vezes superiores
numéricos próximo do início de Dezembro de 2003 ao valor do modelo base está associada à eventual
associada à instalação dos geodrenos e, por isso, ao presença, no seio da camada lodosa, de níveis de
acelerar do processo de consolidação. material mais permeável, os quais, reduzindo o
Quanto aos resultados obtidos em termos de caminho de percolação, aceleram o processo de
excesso de pressão instersticial é de referir uma vez consolidação. O efeito da presença destes níveis pode
mais que as curvas associadas ao modelo numérico ser tido em conta num modelo numérico deste tipo
reproduzem comportamentos médios da camada e, por tomando para o coeficiente consolidação um valor
isso, não têm pretensão de traduzir o comportamento equivalente para toda a camada (é sabido, por
de qualquer célula específica. As duas curvas exemplo, que, do ponto de vista teórico, a presença de
associadas ao modelo numérico representadas na um nível permeável a meio da camada lodosa
Figura 5 correspondem às duas situações já analisadas corresponde a tomar para o coeficiente de
em termos de assentamentos, correspondendo a curva consolidação vertical equivalente um valor 4 vezes
superior à aplicação do modelo base. Da análise da superior ao coeficiente de consolidação vertical do
figura verifica-se que há um razoável ajuste -40 8
de resultados de observação e numéricos, -30 6
reproduzindo estes últimos velocidades de -20 4
consolidação da mesma ordem de grandeza -10 2
Assentamento (cm)
64 6
pode ser explicado por variação da geometria 56 4
das camadas ou sobreconsolidação, uma vez 48 2
Cota do aterro (m)
64 6
Quanto à variação dos excessos de pressão 56 4
intersticial (Figura 9), o comportamento 48 2
Cota do aterro (m)