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HIPERATIVIDADE PODE SER EXCESSO DE

CRIATIVIDADE REPRIMIDA

MOVIMENTO DE ARTE ESPONTÂNEA

Como arteterapeuta venho me deparando com um tema que gostaria de dividir com
vocês, leitores da hora. Muitos pais e professores se queixam de tema cada vez mais
crescente: a hiperatividade das crianças. O depoimento mais comum, tanto de educadores
quanto dos responsáveis, é de as crianças estão sem limites e agem como se quisessem
“tudo ao mesmo tempo agora”. O que fazer com essas crianças?
Antes as crianças eram chamadas de bagunceiras, peraltas, malcriadas. Hoje elas
são hiperativas. A minha intenção é a de fazer apenas um alerta para o quanto estamos
patologizando as nossas vidas.
Lançamos mãos de significados médicos como se fossem banalidades para se dizer
a qualquer hora ou em qualquer lugar. Abusamos de termos sérios, que implicam em
angústias severas para quem os realmente têm, como as síndromes, distúrbios, depressão,
fobias, etc, etc. Antigamente, no tempo de nossas avós, dizíamos, mais ou menos assim:
fulano está insatisfeito com o trabalho, a menina está triste com a separação dos pais, meu
filho é muito bagunceiro na escola. Falávamos de sentimentos humanos que são saudáveis e
necessários. A vida era mais sã. Ou não? Apenas uma reflexão, uma pequena análise do
discurso que nos remete à semiologia do significante e significado.
O termo hiperatividade, por exemplo, é muitas vezes atribuído em crianças criativas
que não encontram espaço para escoarem seu imenso potencial artístico. O significante, que
passa na entrelinha quando chega um pai pedindo para “dar um jeito no menino” é de que
“precisamos prepará-lo para uma futura vida profissional de sucesso, mas ele não se
concentra em nada”. O que percebo nos ateliês de arte, quando eles podem optar por um
material plástico, seja pintura, argila, construção, é uma concentração invejável a qualquer
Picasso da vida. Aliás, certa vez o pintor declarou que “nasceu pintando como um Rafael
mas que precisou de uma vida inteira para pintar como uma criança”. Picasso viveu
bastante e pode realizar esse sonho.
É razoável que pais e educadores se preocupem com o futuro de um filho. Mas
também é importante lembrar que as mudanças só acontecem no presente. E criança, jovem
e até adulto é presente. Essa precipitação do futuro, sobretudo profissional, gera ansiedade,
que gera hiperatividade. Sem percebermos estamos, subliminarmente, passando a
informação “cresça já”. E, assim, vivemos repetindo o jargão do coelho branco de Alice No
País da Maravilha “é tarde, tão tarde até que arde”. E haja tempo para uma rotina que
garanta “esse futuro brilhante”.
E o que dizer dos mais velhos, os desmemoriados geriátricos. Onde já é tarde, e já
arde. E muito. Nesse caso não seria melhor esquecer? Relaxar? Deixar a vida levar?
Perguntas, que por agora, não precisam de respostas. Elas virão desde que abramos os
ouvidos “dos ouvidos” e os olhos “dos olhos”, como disse Rubem Alves.
Já na outra ponta, temos uma outra questão que também tem virado tema de muitas
famílias que procuram consultórios e aconselhamentos: o Mal de Alzheimer . Em minutos,
após algumas perguntas padrões feitas por um profissional de saúde, o parente querido vira
uma espécie de bolinha de sabão. Diagnosticado: Mal de Alzheimer. E na tela da mente a
família antevê um futuro que levará seu ente querido a se evaporar. E o chão se desaba.
E quando esses dois diagnósticos, hiperatividade jovem e esquecimento do idosos
ocorrem no mesmo lar, as paredes se desabam.
Nesta hora, devemos dar uma respirada funda, lá no fundo, há um bip bip que pode
estar sinalizando que algo precisa se equilibrado, sobretudo, em nossas escolhas de vida.
Se por um lado, vivemos quase que uma epidemia de diagnósticos de hiperatividade
e déficit de atenção, do outro lado, acompanhamos crescentes diagnósticos de adultos com
possibilidades de estarem com o Mal de Alzheimer. Bem, nessa hora, ajuda lembrar o velho
e surrado conselho de buscar o “caminho do meio”. Estudos comprovam, por exemplo, que
o Mal de Alzheimer é uma doença rara. De mil pessoas é possível que uma desenvolva a
doença. Queremos logo o diagnóstico definitivo. E quando ele não vem, inventamos um que
dê conta da nossa ansiedade de buscar respostas fora da gente através de ressonâncias
magnéticas, tomografias, testes psicológicos, etc,etc. É sabido que ao se rotular um produto
fica mais fácil saber onde e como usá-lo.
A arte é uma maneira de buscar a resposta dentro da gente. Assim como a dança, a
poesia, a música, são formas de terapias que permite encarar a vida fora dos padrões da
patologia e encarar a vida de uma forma mais leve.
O movimento de arte espontânea é uma forma de poesia plástica, as imagens surgem
e a cor se manifesta sem julgamentos estéticos, sem censuras, rótulos. Idosos diagnosticados
com Alzheimer têm conseguido produzir pinturas e trabalhos artísticos que devolvem a
dignidade de ainda pertencerem a esse mundo. O mesmo vem ocorrendo com crianças que
esquecem que são hiperativas e se tornam hipercriativas.
Cada modalidade expressiva tem propriedades terapêuticas inerentes e específicas. Num
ateliê de arteterapia, por exemplo, o profissional auxilia a pessoa a adequar as modalidades
expressivas e materiais às necessidades de cada um. Durante o processo, pode-se adotar
uma multiplicidade de modalidades ou uma só, que será intensificada à medida que a pessoa
conseguir explorar mais facilmente suas possibilidades expressivas.
Lembre-se que um diagnóstico pode ser apenas uma oportunidade de abrir o coração
“do coração”.

Lou Fernandes

Arteterapeuta-RJ

ATELIÊ DE ARTETERAPIA – SISAL


(xx21) 4105-1951
www.sisalarteterapia.com.br

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