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poetas da escola

(...) o poeta se aproxima da criança,


que vê o mundo com olhos virgens e que,
por quase nada saber, está aberta ao mistério
das coisas. Para a criança — como para o
poeta — viver é uma incessante descoberta da vida.
Ferreira Gullar
Cenpec

Fundação Itaú Social

Ministério da Educação
Apresentação
Bem-vindo à Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro!
Ela é resultado da parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação
Itaú Social e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (Cenpec).
A união de esforços do poder público com a iniciativa privada e a sociedade civil
visa um objetivo comum: proporcionar ensino de qualidade para todos.
O MEC encontrou no Programa Escrevendo o Futuro a metodologia adequada
para realizar a Olimpíada — uma das ações do Plano de Desenvolvimento da
Educação, idealizado para fortalecer a educação no país.
Este Caderno do Professor vai ajudá-lo na preparação dos seus alunos para a
Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. É uma ferramenta que
poderá ser incorporada ao dia-a-dia escolar, contribuindo para que os alunos
escrevam textos cada vez melhores e ampliem o domínio da leitura e da escrita.
O tema proposto para o concurso é “O lugar onde vivo”. Escrever sobre a comuni-
dade onde se vive estimula novas leituras, pesquisas e estudos, proporcionando
um outro olhar sobre a realidade e uma perspectiva de transformação social.
O envolvimento de todos na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o
Futuro é fundamental para ampliar e enriquecer o trabalho nas nossas escolas
e para que sejam produzidos melhores textos por crianças e jovens dos vários
cantos do Brasil.
Desejamos a você um ótimo trabalho!

Cenpec Fundação Itaú Social Ministério da Educação


Copyright © 2008 by Cenpec e Fundação Itaú Social

Coordenação técnica Créditos da publicação


Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Coordenação
Cultura e Ação Comunitária – CENPEC Sonia Madi
Autora
Anna Helena Altenfelder
Colaboradoras
Beatriz Cortese
Dileta Delmanto
Maria Antonieta A. R. de Oliveira
Maria Aparecida Laginestra
Maria Tereza A. Cardia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Regina Andrade Clara
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Zoraide Faustinoni Silva
Altenfelder, Anna Helena Leitura crítica
Poetas da escola / Anna Helena Altenfelder.
Isabel Cristina Santana
São Paulo : Cenpec : Fundação Itaú Social ;
Brasília, DF : MEC, 2008. Edição
Bibliografia.
Adriano Quadrado
Organização da publicação
ISBN 978-85-85786-69-4
Alice Lanalice
1. Olimpíada de Língua Portuguesa 2. Poemas
Projeto gráfico e capa
3. Poesias escolares brasileiras 4. Textos 5. Versos
escolares I. Título. Criss de Paulo e Walter Mazzuchelli

08-00402 CDD-371.0079
Ilustração
Criss de Paulo
Índices para catálogo sistemático:
1. Olimpíada de Língua Portuguesa : Escolas : Editoração e revisão
Educação 371.0079 AGWM Editora e Produções Editoriais

Contato
Rua Dante Carraro, 68
05422-060 — São Paulo — SP
Telefone: 0800-7719310
e-mail: escrevendofuturo@cenpec.org.br
www.escrevendofuturo.org.br
Professor,
Você está recebendo este Caderno do Professor — Orientação para produção de
textos porque se inscreveu na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
O conjunto de cadernos é composto por Poetas da escola (4 a e 5a séries do Ensino Funda­
mental ou 5o e 6o anos do Ensino Fundamental de Nove anos — Categoria I), Se bem me lembro...
(7a e 8a séries ou 8o e 9 o anos do Ensino Fundamental de Nove anos — Cate­goria II) e Pontos de
vista (2o e 3o anos do Ensino Médio — Categoria III).
Aparentemente é apenas um concurso de textos, mas, na realidade, a Olimpíada constitui
uma estratégia de mobilização que oferece aos professores oportunidade de formação.
Apostamos na idéia de que os professores possam vivenciar uma metodologia de ensino de
língua que trabalha com gêneros textuais por meio de seqüências didáticas.
Essa metodologia, anteriormente adotada pelo Programa Escrevendo o Futuro, tem
despertado o interesse dos alunos e melhorado os textos que eles escrevem, tornando
evidentes sua evolução e conquistas.
A Olimpíada inclui os participantes numa rede de conhecimento, oferecendo publicações
periódicas com análise e divulgação dos textos dos alunos e dos relatórios dos professores.
A rede também inclui uma comunidade virtual de aprendizagem e cursos on-line.
O ponto de partida é o roteiro de atividades deste Caderno. Ele foi preparado com muito
cuidado e utilizado por milhares de professores e alunos de todo o país.
Convidamos você a mergulhar neste material e a preparar a realização das oficinas que
se seguem. Explore bem o Caderno antes de iniciá-las. Veja quanto tempo você vai precisar
para realizar cada uma delas. Faça um plano de trabalho.
Você ficará satisfeito em descobrir que muitos dos conteúdos didáticos abordados nas
oficinas estão contidos no seu planejamento anual. Portanto, é importante desenvolver as
atividades com todos os alunos da classe.
Poderão ser incluídas atividades e feitas adaptações de acordo com as necessidades e
oportunidades que surgirem. Mas recomendamos que a ordem das oficinas seja mantida,
porque elas estão organizadas numa seqüência didática.
Nessa Olimpíada, não estamos em busca de talentos, nosso propósito é contribuir para
a melhoria da escrita de todos os alunos das turmas participantes.
O que importa é que cheguem ao final dessa caminhada sabendo se expressar no
gênero estudado. Isso fará do aluno um cidadão mais bem preparado.
E é você, professor, que possibilitará essa conquista.
Antes de começarmos, mais um recadinho: no final deste Caderno há um texto chamado
“Para saber mais ainda”, no qual você pode encontrar as concepções de língua, ensino e
aprendizagem em que este trabalho se apóia.
Bem-vindo à Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Um ótimo trabalho
para você e sua turma!
Equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro
Sumário

Introdução 8 4 Memória de versos 21


Sobre poemas e poetas •Ampliar o repertório dos alunos
com a apresentação de novos poemas.
• Resgatar e valorizar a cultura da comunidade.

1 Mural de Poemas 11
• Planejar o Mural de Poemas. 5 Os clássicos 25
• Resgatar a experiência dos alunos com poemas. • Conhecer poemas consagrados da
literatura brasileira.
• Conhecer o repertório de poemas dos alunos.
• Reconhecer os poemas em suas diversas formas.

2 O que faz um poema 15 6 Rimando 29


• Conhecer as características do • Identificar rimas em poemas.
poema: rimas, versos e estrofes. • Criar rimas.

3 Primeiro ensaio 19 7 Sons e quadras 33


• Apresentar a situação de produção. • Identificar rima, aliteração e
•Pedir aos alunos que escrevam um repetição de versos.
poema para avaliar o que já sabem. • Criar quadras.
8 Poeta do povo 39 12 Nosso poema 61
• Escrever acrósticos. •Produzir um texto coletivo.
• Trabalhar com poema popular.

9 Metáforas 45 13 Virando poeta 65


• Identificar e usar comparações, • Escrever um poema com o tema
imagens e metáforas. “O lugar onde vivo”.

10 O lugar onde vivo 49


14 Últimos retoques 69
• Estudar poemas sobre a terra natal
de diferentes autores. • Aprimorar os poemas produzidos.
• Resgatar sentimentos sobre o lugar onde
os alunos vivem.

Critérios de avaliação 74

Textos recomendados 75

Recado final 82
11 Um novo olhar 55
Para saber mais ainda 83
• Propiciar um olhar novo e original
sobre o lugar onde os alunos vivem.
Referências bibliográficas 88
Introdução
Sobre poemas e poetas
Seus alunos certamente já leram ou ouviram poemas. Canções, cantigas de
roda, trava-línguas que fazem parte das brincadeiras deles, as músicas que ouvem
e cantam, repentes, quadras e cordel. Tudo isso são poemas.
É difícil definir as características próprias de um poema. Um texto escrito em ver-
sos rimados é um poema, mas outro feito sem rimas também pode ser. Um texto
cujas palavras se organizam na folha de papel lembrando a forma do girassol tam-
bém pode ser um poema. Poemas têm várias formas e falam de diferentes temas.
Ao tomarmos como exemplo poemas consagrados da língua portuguesa,
co­mo “Infância”, de Carlos Drummond de Andrade; “Canção do exílio”, de Gonçal-
ves Dias; “A onda”, de Manuel Bandeira; ou “Emigração e as conseqüências”, de
Patativa do Assaré, observamos que revelam sentimentos como tristeza e angústia,
cantam saudades e belezas da terra natal, contam uma história, ou ainda denunciam
injustiças e desigualdades sociais, ou seja, versam sobre diferentes temas.
Os poetas escrevem para emocionar, divertir, convencer, fazer pensar o mun-
do de um jeito novo. Eles usam diferentes recursos, como rimas, repetições, metá-
foras e até formas diferentes de colocar as palavras no papel. Tudo para transmitir
idéias, experiências e emoções ao leitor.
O poeta pode jogar com a sonoridade, rimando as palavras, repetindo sons
parecidos nos versos, fazendo que eles ecoem ao longo do texto.
Esses autores também trabalham com ritmo. Fazem que o poema tenha
cadência, como um tambor batendo a intervalos regulares. Por isso é tão gostoso
ouvir poemas sendo declamados!
Poetas também usam como recurso a comparação. Podem ir além e trans-
mitir a impressão que algo lhes causou, criando imagens. Quando fazem isso,
criam metáforas. Assim, dão às palavras um sentido mais rico, como se elas qui-
sessem dizer algo mais.

 poemas
Apesar de tantas possibilidades, podemos identificar dois aspectos comuns
a todos os textos. O primeiro é a maneira original de os poetas verem as coisas,
que encanta e emociona o leitor. O segundo, o uso das palavras de forma especial,
de modo diferente do habitual. Nas oficinas, vamos estudar esses aspectos. E,
também, tratar de alguns recursos poéticos que ajudarão os alunos a ler, analisar
e produzir poemas.
Marisa Lajolo, no livro Palavras de encantamento, da Coleção Literatura em
Minha Casa, nos fala de poetas, poemas e poesia:

“[...] poeta brinca com as palavras... parece que o poeta diz o


que a gente nunca tinha pensado em dizer [...]”
“[...] um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de pal­a­
­­vras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila,
palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do
dia-a-dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposi­
ção na página, os poemas representam uma maneira original
de ver o mundo, de dizer coisas [...]”
“[...] poeta é, assim, quem descobre e faz poesia a respeito de
tu­­­­do: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia-a-dia da
vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com
pessoas que conhecemos, de episódios que nunca imaginamos
que poderiam acontecer e até a própria poesia! [...]”

Poema ou poesia?
Qual é a diferença entre poesia e poema? Poesia, segundo o Minidicionário Aurélio da língua
portuguesa, é a “arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em
que se combinam sons, ritmos e significados”. Já o poema é definido como “obra em verso
ou não em que há poesia”.
Então, esta é a diferença: quando falamos em poema, estamos tratando da obra, do próprio
texto; e, quando falamos em poesia, tratamos da arte, da habilidade de tornar algo poético.
Uma pintura, uma música, uma cena de filme também podem ser poéticas.

poemas 
O tempo das Oficinas
Cada oficina foi organizada para tratar de um
tema, de um assunto; algumas poderão ser
feitas em trinta ou quarenta minutos e outras
levarão três ou quatro aulas. Por isso, é essencial
que você, professor, leia todas as atividades
com calma. Aproprie-se dos objetivos e estra­
tégias de ensino, providencie o material e
estime o tempo necessário para que sua turma
faça o que foi proposto. Enfim, é preciso planejar
cada passo, pois só você, que conhece seus
alunos, conseguirá determinar qual a forma
mais eficiente de trabalhar com eles.

10 poemas
Mural de Poemas
Objetivos
• Planejar o Mural de Poemas.
oficina

• Resgatar a experiência dos alunos com poemas.


• Conhecer o repertório de poemas dos alunos.
• Reconhecer os poemas em suas diversas formas.

poemas 11
Atividades
1ª- etapa
A idéia agora é descobrir o que os alunos já sabem de
poemas para depois ampliar o repertório deles. Se a maio-
ria conhece só poemas infantis, vamos apresentar alguns
clássicos. Mas, se eles conhecem os grandes poetas, vamos
lhes apresentar alguns populares. O levantamento do re-
pertório serve, portanto, para cada professor saber os pon-
tos do trabalho que devem ser mais enfatizados, de modo
que os alunos possam compreender e apreciar mais e me-
lhor os poemas.

Divida a classe em grupos de quatro ou cinco alunos para


que conversem e compartilhem os poemas lidos ou ouvi-
dos que guardam na lembrança.
Cada grupo deve escolher um relator, que vai expor para a
classe como foi a conversa que tiveram. Relacione na lousa
o título dos poemas ou os versos lembrados pelos alunos.

Em seguida, cada grupo seleciona um dos poemas relacio-


nados e o copia em uma folha de papel. Diga que esse tra-
balho será usado na próxima etapa da atividade.

12 poemas
2ª- etapa
Você não acha que seria interessante fazer um registro de
tudo o que os alunos vão aprender? Para isso, sugerimos a
montagem de um mural na sala de aula. Nele, os alunos
vão fixar, ao longo deste trabalho, os poemas estudados.
No final das oficinas, a turma terá uma coletânea dos
poemas conhecidos, dos descobertos e dos preferidos.

Registrar é importante
O registro é muito importante para você, professor, aperfeiçoar seu trabalho. No en-
tanto, muitas vezes precisamos desenvolver esse hábito e vencer a falta de tempo. Mas
tomar nota ajuda a fazer questionamentos e a descobrir soluções que nos fazem crescer.

Registre as oficinas. Escreva sobre as atividades desenvolvidas, suas impressões, as dificulda-


des e as reações do grupo. Como nos diz a educadora Madalena Freire (1996): “O registrar de
sua reflexão cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem”.

Lembre-se de que cada professor de aluno semifinalista da Olimpíada deverá, com base em
seus registros, escrever um “relato de experiência” e com ele concorrerá a prêmios. Esse é mais
um motivo para você registrar o percurso vivido em sala de aula!

Confeccione com os alunos o mural. Converse com eles para


planejar a organização. Onde ele vai ser colocado? Como
deixá-lo bem organizado e bonito?

Para inaugurar o mural, coloque os poemas que, na etapa


anterior, foram copiados em uma folha de papel.

Um mural caprichado
O visual do mural merece muita atenção. Ele pode ser ilustrado e bem chamativo. Mas o
mais importante é que facilite a leitura dos poemas. Afinal, eles são a alma do projeto, a razão
de ser desse mural.

poemas 13
14 poemas
O que faz
um poema
Objetivo
• Conhecer as características
do poema: rimas, versos e estrofes.
oficina

poemas 15
Atividades
Agora vamos estudar as características dos poemas. A idéia não é dar
uma aula teórica, mas conversar com a turma sobre alguns aspectos
importantes dos poemas. Provoque os alunos para que pensem,
troquem idéias, tirem conclusões, busquem informações. Seu papel
é coordenar e esquentar a conversa.

Para iniciar, faça perguntas sobre os poemas que estão no mural. Por
que escolheram esses poemas? Como sabem que são poemas?
Por que eles são diferentes de uma notícia de jornal, de uma receita
de bolo ou de um conto?

Como eles se organizam no papel? Eles preenchem todo o espaço


das linhas, da margem esquerda à direita? Os versos pulam linhas?
Do que tratam os poemas?

Quando for necessário, dê informações sobre poemas, rimas, versos,


estrofes. Relacione o que eles já sabem com as informações novas.
No final, organize e sistematize as idéias surgidas no grupo.
Em seguida, copie na lousa o poema “Tem tudo a ver”, de Elias
José, do livro Palavras de encantamento, da Coleção Literatura em
Minha Casa.

16 poemas
Tem tudo a ver
A poesia A poesia
Tem tudo a ver Tem tudo a ver
Com tuas dores e alegrias, Com a plumagem,
Com as cores, as formas, os cheiros, O vôo e o canto do pássaro,
Os sabores e a música A veloz acrobacia dos peixes,
Do mundo. As cores todas do arco-íris
O ritmo dos rios e cachoeiras,
A poesia O brilho da lua, do sol e das estrelas,
Tem tudo a ver A explosão em verde, em flores e frutos.
Com o sorriso da criança,
O diálogo dos namorados, A poesia
As lágrimas diante da morte, — é só abrir os olhos e ver —
Os olhos pedindo pão. Tem tudo a ver
Com tudo.

Poesia: uma lente para ver o mundo


Nesse poema, o autor mostra que a poesia é viva, dinâmica, e
fala de pessoas, de animais, de objetos, de acontecimentos, de
tudo. Muita gente acha que a função da poesia é cantar amores
ou falar do que é belo. Mas seus alunos precisam entender
que, na verdade, a poesia coloca em palavras a maneira como
o poeta enxerga o mundo. E ela pode falar de qualquer coisa,
não só das grandes e belas.

Faça perguntas aos alunos. Sobre o que fala o poema? Por que o autor diz que
“poesia tem tudo a ver com tudo”? O que os poemas podem exprimir?

Depois de discutir com o grupo o conteúdo do poema “ Tem tudo a ver”, incentive
os alunos a pensar nos recursos que o autor usou para compô-lo, e continue
fazendo perguntas. Esse poema tem rimas? É possível compor poemas sem rima?

poemas 17
O que rima combina
Palavras que rimam são palavras que se combinam, pois terminam
com o mesmo som. A rima é um dos recursos que os poetas usam, mas
nem todo poema precisa ser rimado.

Antigamente havia normas para escrever versos. O poeta tinha regras


definidas sobre as rimas e o número de sílabas de cada verso. Mas hoje
já não é assim. O autor tem liberdade para seguir ou não essas regras.

Se os seus alunos acham que poema tem que ter rima, leia e comente os poemas
de Cora Coralina e de Ferreira Gullar em “Textos recomendados”, ao final deste
Caderno. Eles vão deixar claro que o poeta pode usar outros recursos para dar
cadência e ritmo ao texto.

Vamos pensar agora na organização do poema. Explique-lhes que o poema de


Elias José tem vinte e quatro versos e quatro estrofes. E pergunte em seguida se
alguém sabe dizer o que é verso e o que é estrofe.

Ajude o grupo a chegar à definição correta de verso e de estrofe e registre-a na


lousa. Observando o mural, identifique com os alunos os versos e as estrofes dos
poemas lá afixados.

Pergunte a eles o que aprenderam a respeito de poemas. Faça com a turma uma
lista de tudo o que foi aprendido. Escreva os itens na lousa à medida que os alunos
forem falando.

Divida a classe em grupos e distribua tiras de papel. Cada grupo vai copiar um
item e depois todos vão organizar as tiras no mural.

Versos e estrofes
Verso é cada uma das linhas do poema. Estrofe é cada grupo de versos
separados do grupo seguinte por um espaço.

Um poema pode ter uma ou várias estrofes. E cada estrofe, um número


variado de versos.

18 poemas
Primeiro ensaio
Objetivos
oficina
• A presentar a situação de produção.
• P edir aos alunos que escrevam um
poema para avaliar o que já sabem.

poemas 19
Atividades
As crianças agora vão escrever o primeiro poema delas. Antes,
lembre-lhes que cada gênero de texto tem características pró­prias.
Um artigo de opinião tem forma muito diferente de um poema ou
de um texto de memórias.

Isso porque a situação de produção também varia: quem escreve


(autor do texto), para quem escreve (os leitores do texto), com que
finalidade escreve (divertir o leitor ou convencê-lo de alguma idéia,
por exemplo), e, finalmente, onde será publicado (jornal, livro,
revista, internet).

Diga aos alunos que agora eles serão os poetas, aqueles que escrevem
para mostrar o mundo de um jeito novo, com o intuito de emocionar,
fazer pensar ou divertir os leitores. Explique-lhes que seus poemas
serão conhecidos por muitas pessoas. Embora apenas um poema
possa ser escolhido para representar a escola na Olimpíada Escrevendo
o Futuro, os outros não precisam ficar na gaveta.

Todos os textos podem ser reunidos em um livro a ser produzido pelo


grupo e entregue para os pais, para a biblioteca da escola ou a da cidade.
Podem ser apresentados em cordéis, em grandes murais, em saraus.

Distribua uma folha de papel para cada aluno e peça-lhes que es­­
crevam um poema. O tema é “O lugar onde vivo”.

Primeira escrita
A produção inicial aponta o que os alunos já sabem sobre o gênero e dá pistas para
que o professor possa melhor intervir no processo de aprendizagem. Esse primeiro
texto também é importante para que os alunos avaliem a própria escrita. Com sua aju-
da, eles podem perceber o que é preciso melhorar e poderão envolver-se mais nas
atividades das oficinas. Além disso, será possível comparar essa produção com o texto
final e identificar os avanços, constituindo um processo de avaliação continuada.

Atenção: se você for semifinalista da Olimpíada, precisará levar a primeira produção


para o encontro regional.

20 poemas
Memória de
versos
oficina Objetivos
• Ampliar o repertório dos alunos com
a apresentação de novos poemas.
• Resgatar e valorizar a cultura
da comunidade.

poemas 21
Atividades
1ª- etapa
Nesta oficina, você lerá para os alunos o texto da página
ao lado: “Cantador”, de Antonio Gil Neto, e vai propor a eles
que se tornem colecionadores de poemas, pesquisando os
textos conhecidos pela comunidade.

Antecipar o conteúdo de um texto é uma boa estratégia


para despertar o interesse dos alunos. Assim, apre­sente o
“Cantador” para a turma e faça perguntas. Pensando no
título, o que vocês acham que a história vai contar? Vocês
conhecem algum cantador?

Leia para a classe os primeiros quatro parágrafos do texto e


pergunte:
O que será que aconteceu naquele dia em Alvorada do Norte?

Em seguida, leia o restante do texto em voz alta e no final


converse com a turma. O que sentiram ao ouvir a história?
Podemos dizer que essa é uma história poética?

Lembre-lhes que poético, segundo o dicionário, não são só


poe­mas, mas tudo aquilo que “produz inspiração, que tem
qualidade, atmosfera, encanto, ou características da poesia”.
O “Cantador (de sentimentos escondidos)”, embora seja um
conto, é poético, pois traz encanto, produz inspiração.

22 poemas
Cantador (de sentimentos escondidos)
Esta pequena história foi contada por meus bisavós, que contaram aos meus avós que, por
sua vez, recontaram aos meus pais, que me contaram de novo... Agora a conto a você.
Era um tempo em que Alvorada do Norte era uma cidade pequena e próspera. Vivia seus
dias de trabalho e mansidão alternados, como se alternam os dias e as noites, o sol e a lua, a
chuva e o vento.
O que aconteceu é que naquele belo dia a cidadezinha amanheceu de um jeito um tanto
diferente. Uns minutinhos antes das dezenas de galos soltarem seus cocoricós costumeiros, as
pessoas da minha cidade, ainda abraçadas a seus travesseiros ou mesmo de pé, no preparo da
labuta do dia, ouviram algo diferente adentrando por portas e janelas ainda fechadas: “Acorda,
Maria Bonita / Levanta vai fazer o café / que o dia já vem raiando / e a polícia já está de pé...”
Mais ou menos no ritmo de um leve susto e do escuro se encontrar com o claro daquela
manhã, os alvoradenses foram se dando conta do que acontecia: “Meu coração / não sei por
quê / bate feliz / quando te vê / E os meus olhos ficam sorrindo / E pelas ruas / vão te seguindo /
Mas mesmo assim / foges de mim...”
Vou contar logo, porque não é fácil de explicar. Pelas ruas poucas da cidade passava
naquele dia, como aparição, miragem, encomenda, um presente dos deuses. Era um jovem
cantador.
O que mais sei do que me foi dito é que ele apenas falava bem falado, cantava pelo ar
palavras bem bonitas que deixavam todo mundo encantado, curioso, incomodado. Umas pes-
soas riam, outras se embeveciam e ainda outras experimentavam emoções pouco sentidas:
Logo que alguém abria a janela, soltava: “Menina, minha menina / faz favor de entrar na roda /
cante um verso bem bonito / diga adeus e vá-se embora...”
Vez por outra ele surpreendia seu cantar misturando-o com um achado pelo caminho.
Rodopiando e declamando, cheirava solenemente uma flor e a entregava ao seu ouvinte — es-
pecialmente se fosse uma bela garota — como um adereço.
Eu só sei que ele andou e voltou várias vezes pelas ruelas principais entoando com cerimô-
nias de gesto e voz algumas preciosas palavras que tocaram de perto o sentimento das crianças,
dos jovens e dos adultos. E depois, sem passe de mágica, nem mais, nem menos, sem dizer
adeus a ninguém, ele foi embora: “Adeus amor eu vou partir / ouço ao longe um clarim...”
Desapareceu pelo ziguezague das estradas, com seu maracatu de corpo. Acho que ele foi
encantar outros corações em outros lugares, penso eu...
O que sei, com certeza, é que até hoje, quando escuto um barulho diferente na minha
rua, que já não é a mesma de outrora, seja de vento leve na folhagem, passarinho querendo
fazer ninho ou até mesmo de alegria inventada, levanto bem de mansinho e espreito na minha
janela para ver o cantador de palavras bonitas passar.
Antonio Gil Neto, verão, 2007.

poemas 23
2a etapa
Proponha a seus alunos que se transformem em “cole-
tores de poemas”, assim como o saltimbanco do texto
coletava poemas e os espalhava, encantando os cora-
ções dos moradores da cidade.

Planeje com eles a forma de coletar os poemas que a


comunidade conhece. Os alunos podem sair pela cida-
de, pelo bairro, ou simplesmente pela rua da escola, e
entrevistar os moradores. A pesquisa também pode ser
feita na própria escola, com professores, funcionários e
colegas mais velhos. E, como tarefa de casa, peça-lhes
que entrevistem pais, avós, vizinhos e parentes.

A idéia é entrevistar uma ou mais pessoas, fazendo di-


versas perguntas. Você gosta de poemas? Sabe o nome
de algum poeta? Você conhece algum poema?

O aluno deve solicitar ao entrevistado que recite ou es-


creva um poema. Se ele não souber nenhum de cor, o
aluno pode pedir a ele que copie poemas de um livro
que tenha. Ou mesmo que empreste esse livro.

Se na cidade morar algum poeta, é interessante convi-


dá-lo a ir à escola para conversar com os alunos. O gru-
po pode escrever uma carta a ele pedindo que envie
um de seus poemas para a turma.

No final, escolham os melhores poemas coletados e


coloquem no mural. Assim eles poderão ser relidos
para encantar os corações.

24 poemas
Os clássicos
oficina Objetivo
• Conhecer poemas consagrados
da literatura brasileira.

poemas 25
Atividades
Para esta oficina, você usará os textos recomendados
que estão no final deste Caderno. Faça cópia deles. Você
também pode ampliar a seleção incluindo seus poemas
preferidos.

Divida a classe em grupos de três ou quatro alunos e


distribua as cópias dos poemas entre eles.

Peça a cada grupo que leia o poema recebido. Você pode


percorrer os grupos, ajudando na leitura. Para isso, veja
orientações no quadro “Buscando sentido”, da página ao
lado, bem como as orientações da página 28.

Depois de trabalhar a leitura, uma idéia interessante


para motivar os alunos é promover um sarau, que é
uma reunião festiva para conversar, ouvir apresentações
musicais ou trechos de livros e poemas.

Organize o sarau com seus alunos. Cada grupo vai criar


um modo de apresentar para a classe o poema lido.
Afinal, os poemas podem ser declamados de várias
maneiras: com gestos e movimentos ou em forma de
jogral, por exemplo. Escolha você também um poema
para declamar aos alunos.

O importante é que a declamação mexa com os ouvintes.


O declamador deve preparar a leitura, cuidando do ritmo,
das pausas e da entonação da voz.

Peça aos alunos que escolham alguns dos poemas reci-


tados para serem copiados e afixados no mural.

26 poemas
Arrume “a casa” para o sarau
Organize com os alunos o ambiente para o sarau: mude a disposição das carteiras, fazendo um
círculo, ou escolha um outro espaço da escola. O local escolhido pode ser enfeitado, decorado.
Se possível, ofereça um lanche para encerrar o encontro.

Buscando sentido
Já não podemos pensar o ensino da escrita desconectado da leitura. É por
isso que convidamos você, professor, a valorizar também as atividades de
leitura ao desenvolver as oficinas. Para ler um texto não basta identificar as
letras, sílabas e palavras, é preciso buscar o sentido, compreender, interpre-
tar, relacionar e reter o que for mais relevante.

Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar informação, ampliar


o conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura é mobilizar as
estratégias que o leitor vai utilizar. Sendo assim, ler um artigo de jornal é di-
ferente de ler um romance, uma história em quadrinhos ou um poema.

Geralmente, quando lemos um poema, temos como objetivo o entreteni-


mento, a busca do encantamento com a forma original e diferente que os
poetas têm de ver o mundo. Diferentemente de outros gêneros de texto, um
poema pode ser lido muitas vezes e a cada leitura despertar uma nova emo-
ção, novas idéias, novas sensações...

Por outro lado, ler poemas traz desafios para o leitor. É preciso buscar signi-
ficados, sentidos, descobrir como o poeta “brincou com as palavras”. Nossos
alunos, na maioria das vezes, não têm familiaridade com a leitura de poe-
mas. Assim, é tarefa sua, professor, ajudá-los a vencer esse desafio.

poemas 27
Relacionamos abaixo algumas orientações para que você trabalhe
a leitura de poemas. As sugestões podem e devem ser usadas em
todas as oficinas.
• Leia poemas em voz alta para os alunos, pois para apreciarmos devida­
men­te um poema é preciso escutá-lo.

• Poemas evocam sensações, impressões, sentimentos. Ajude seus alunos


a descobrir o que o poema desperta em cada um deles. Você poder fazer
perguntas como:
O que sentiram ao escutar/ler o poema? Ouvir esse poema nos faz lembrar
de coisas alegres ou tristes? Fechando os olhos, vocês conseguem imaginar
o que o poeta quis nos mostrar?

• Poetas exprimem um olhar único e original sobre um acontecimento, seus


sentimentos, as belezas do lugar onde vive, mas muitas vezes nós nos
identificamos com aquilo que o poema exprime. Ajude seus alunos a
relacionar o poema lido com as próprias experiências deles, sensações,
sentimentos, perguntando, por exemplo:
Você já se sentiu da mesma forma que o poeta? Já ocorreu algum fato
parecido com você? Você se lembra de um lugar (ou pessoa) que causou
em você a mesma impressão que o autor desse poema descreve?

• Identificar a forma inovadora e diferente dos recursos poéticos também é


uma estratégia que deve ser adotada na leitura de poemas. Para isso você
pode perguntar aos seus alunos:
Por que o poeta usou essas palavras em seus versos?

• É preciso também compreender os efeitos de sonoridade que o poeta usou


para encontrar o ritmo certo para a declamação.

• Atividades nas quais os alunos são convidados a declamar poemas são


muito interessantes para o trabalho com a leitura. Para declamar um poema
é necessário compreendê-lo e apreender os sentimentos que o autor quis
exprimir para encontrar o “tom“ adequado a ser usado na declamação. Se
possível, ouça com os alunos CDs com poemas declamados por autores
famosos, por exemplo: “Coleção Poesia Falada”, da editora Nossa Cultura;
“Ou isto ou aquilo”, da gravadora Luz da Cidade (poemas de Cecília Meireles
declamados por Paulo Autran).

Enfim, é importante preparar a apresentação com cuidado, e isso


vale também para você, professor.

28 poemas
Rimando

oficina
Objetivos
• Identificar rimas em poemas.
• Criar rimas.

poemas 29
Atividades
Compor rimas é um exercício divertido, mas requer dedicação. Muitas
vezes, é preciso recorrer à memória e ao dicionário para encontrar
palavras que normalmente não usamos. Mas vale a pena, porque os
poemas podem ganhar originalidade.

Nesta oficina, a turma vai compor um texto coletivo. Não se trata de


uma simples colagem de frases. O texto, como um todo, tem que
fazer sentido e ser harmonioso.

Para iniciar, diga aos alunos que eles irão trabalhar com o texto “Duas
dúzias de coisinhas à-toa que deixam a gente feliz”, de Otavio Roth.

Peça a eles que contem sobre as coisas do dia-a-dia (“coisinhas à-toa”)


que os deixam felizes. Talvez alguns falem de coisas grandes e im­
portantes, como a paz no mundo ou a preservação do meio ambiente.
­­­Mas insista para que pensem em coisas simples. Então, leia o texto
para eles.

Duas dúzias de coisinhas à-toa


que deixam a gente feliz
Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.
Gato andando no telhado, cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.
Pão quentinho de manhã, dropes de hortelã, grito do Tarzan.
Tirar a sorte no osso, jogar pedrinha no poço, um cachecol no pescoço.
Papagaio que conversa, pisar em tapete persa, eu te amo e vice-versa.
Vaga-lume aceso na mão, dias quentes de verão, descer pelo corrimão.
Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo.
Anãozinho de jardim, lacinho de cetim, terminar o livro assim.
Otavio Roth. Duas dúzias de coisinhas à-toa que deixam a gente feliz. São Paulo, Ática, 1994.

30 poemas
Converse com os alunos. Que sensações e sentimentos o
texto desperta? Comente que Otavio Roth brinca com as
palavras, produzindo um texto original e divertido.

Discuta a sonoridade. Vocês sabem como se chama a


repetição de sons no final das palavras? Que sons se
repetem no texto? Quais são as palavras que rimam? Copie
o texto na lousa e assinale as rimas junto com os alunos.

Lance o desafio. Vamos escrever o nosso “Duas dúzias de


coisinhas à-toa que nos deixam felizes”? O texto não precisa
ter duas dúzias. Pode ter quatro dúzias, duas dúzias e meia,
dependendo do número de alunos.

Peça aos alunos que pensem em uma “coisinha”. Em se­gui­


da, deverão procurar outros dois colegas cuja coisinha rima
com a dele, formando grupos de três.

Se os alunos não conseguirem a rima, vão ter de mudar as


palavras. Eles podem tentar achar sinônimos ou trocar as
palavras até encontrarem as rimas. O importante é que
cada trio consiga obter três “coisinhas” que rimem.

Incentive seus alunos a procurar palavras para enriquecer


suas rimas; para tanto, sugira que façam listas e procurem
no dicionário. Os alunos devem evitar o uso de aumen­
tativo e diminutivo para não ficar fácil demais. Passe pelos
grupos para ajudar com sugestões, quando for preciso.

Cada trio apresentará então suas coisinhas. Escreva as rimas


na lousa ou numa folha grande de papel. Conte quantas
coisinhas à-toa deixam a classe feliz. E peça aos alunos que
sugiram um título para o poema da turma.

poemas 31
32 poemas
Sons e quadras
Objetivos
• Identificar rima, aliteração e repetição de versos.
na

• Criar quadras.
ici
of

poemas 33
Atividades
1a etapa
Para encantar os leitores, transmitir idéias e emoções de forma original, os poetas
utilizam recursos poéticos. Rimas, aliterações e repetições possibilitam o jogo
com a sonoridade das palavras, fazendo que ecoem ao longo do poema.

Incentive a turma a usar esses e outros recursos que estudaremos nas próximas
oficinas. Assim, farão poemas que vão encantar os leitores.

Pergunte quem conhece uma quadra. Vale dar dicas a eles.

Portuguesa, com certeza


As quadras são estrofes compostas por quatro versos. Elas nasceram com o povo portu-
guês na era medieval. Quadra é uma forma antiga e popular de organizar os versos e é
usada até hoje no Brasil. As crianças conhecem muitas quadras populares, algumas
como cantigas de roda:

O cravo brigou com a rosa,


Debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.

Transcreva na lousa as quadras seguintes:

Não sei se vá ou se fique


Não sei se fique ou se vá
Ficando aqui não vou lá
E ainda perco o meu pique
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil.
São Paulo, José Olympio, 1954.

34 poemas
Ô seu moço inteligente
Faça o favor de dizer
Em cima daquele morro
Quanto capim pode ter?
Ricardo Azevedo. Armazém do folclore.
São Paulo, Ática, 2000.

Pergunte se os versos rimam e com quais palavras?


Veja se a turma consegue descobrir a diferença entre os dois esquemas de rima.

Fique rima com pique


Os versos podem rimar de diferentes formas. Na primeira quadra, recolhida por Sílvio Ro-
mero, o primeiro verso rima com o quarto (fique e pique) e o segundo verso rima com o
terceiro (vá e lá). Já Ricardo Azevedo rima o segundo verso com o quarto (dizer e ter).

Escreva na lousa a próxima quadra.

Lá no fundo do quintal
Tem um tacho de melado
Quem não sabe cantar verso
É melhor ficar ________________________
Ricardo Azevedo. Armazém do folclore.
São Paulo, Ática, 2000.

Pergunte qual palavra rima com “melado” para completar a que está faltando. A
palavra que o autor usou é “calado”, mas seus alunos podem dar outras sugestões.
O importante é construir a rima sem perder o sentido do verso.

Muitas vezes os alunos ficam tão preocupados em encontrar palavras que rimam
que se esquecem de verificar se o verso construído transmite ao leitor uma idéia,
um sen­­­­­­­­­timento ou uma sensação. Você pode e deve conversar a esse respeito.
Leia e analise com a turma os poemas que estão em “Textos recomendados” e
mostre como os poetas, ao usarem o recurso da rima, são cuidadosos na escolha
das palavras. Os versos e as estrofes não são construídos apenas com palavras que
rimam entre si; eles devem articular-se como um conjunto que produz sentido.

poemas 35
2a etapa
Entre os grandes poetas que compuseram quadras está Fernando Pessoa, um
dos maiores da língua portuguesa.

“A quadra é um vaso de flores que o povo põe à janela da sua alma”, escreveu ele.
Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatrocentas quadras, muitas das
quais sem data. Acredita-se que ele tinha a intenção de formar um livro com elas,
mas isso nunca ocorreu.

Inicie a atividade apresentando o poeta aos alunos. Fale de sua importância e leia
a frase que ele escreveu sobre as quadras.

Poeta maior
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa (Portugal) em 1888. Ele é con-
siderado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos
os tempos. Em sua obra, usou vários “heterônimos”, isto é, ele
usava nomes diferentes para assinar seus poemas.

Mais do que pseudônimos, esses heterônimos eram personagens


completos. Tinham biografia, estilos literários diferentes, manei-
ras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encar-
nasse outras personalidades.
Em alguns poemas, Pessoa assinava seu próprio nome. Em outros,
assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da
natureza, escrevia com a linguagem simples e o vocabulário limi-
tado. Em outros, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma hu-
manística de ver o mundo, procurava o equilíbrio dos clássicos.
Outro heterônimo era Álvaro de Campos, um poeta moderno, um
homem identificado com seu tempo.

Na página 58, você encontrará um poema de Alberto Caeiro.

Copie na lousa ou tire cópias das quadras de Fernando Pessoa.

36 poemas
Quadras ao gosto popular
Eu tenho um colar de pérolas Vale a pena ser discreto?
Enfiado para te dar: Não sei bem se vale a pena.
As pérolas são os meus beijos, O melhor é estar quieto
O fio é o meu penar. E ter a cara serena.
............................................ ............................................
A caixa que não tem tampa Não digas mal de ninguém,
Fica sempre destapada Que é de ti que dizes mal.
Dá-me um sorriso dos teus Quando dizes mal de alguém
Porque não quero mais nada. Tudo no mundo é igual.
............................................
No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem estar.
Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1969, pp. 645-665.

Pergunte aos alunos quais as palavras que rimam e qual o esquema


de rima usado por Fernando Pessoa. Nas três quadras à esquerda,
o segundo verso sempre rima com o quarto, nas duas outras
também o primeiro rima com o terceiro.

Mostre que o poeta não usa apenas verbos no infinitivo (por


exemplo: cantar, dançar, chorar) para fazer as rimas, porque aí
ficaria muito fácil e pouco criativo.

Ele também não usa palavras no aumentativo (terminadas em “ão”)


e no diminutivo (terminadas em “inho”), pelo mesmo motivo. Em
suas rimas, há muita variedade: verbos, substantivos e adjetivos.

Divida a classe em trios e peça a cada grupo que crie uma quadra.

poemas 37
3a etapa
Mostre aos alunos que há outras formas de brincar com as palavras. Uma bem
interessante é a usada por Cruz e Souza no poema “Violões que choram”.

Violões que choram


Cruz e Souza

Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Cruz e Souza. Obras completas.
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1997.

Desafie os alunos com algumas perguntas. Por que esse poema pode ser
considerado sonoro e musical? Qual é o som que se repete ao longo dele?

Diga que Cruz e Souza, neste poema, além da repetição de palavras, usou como
recurso a aliteração, ou seja, a repetição de fonemas nas palavras que compõem os
versos, como vozes, violões e vivas.

Mais aliterações
Há muitos outros poemas compostos com base na aliteração. “A onda”
de Manuel Bandeira é um bom exemplo. Cecília Meireles usa esse recurso
em vários de seus versos, como nos poemas “O colar de Carolina” e “O
menino dos ff e rr”. “As três tias”, de Elias José, também apresenta aliteração.
Esses poetas são bastante conhecidos, por isso não é difícil encontrar suas
obras. Procure-as na biblioteca da escola ou na do município.

38 poemas
Poeta do povo
Objetivos
oficina • Escrever acrósticos.
• Trabalhar com poema popular.

poemas 39
Atividades
1a etapa
Além de poetas clássicos e modernos, existem os chamados “poetas
populares”, que compõem versos que encantam e emocionam o leitor,
como o cordel.

Nesta oficina, os alunos vão conhecer um dos nossos maiores poetas


populares: Patativa do Assaré. Além de folhetos de cordel, esse poeta tem
inúmeros poemas publicados em livros, revistas e jornais.

Faça perguntas. Quem conhece um folheto de cordel? Vocês já ouviram


ou leram cordel? Quais autores de cordel vocês conhecem?

Poemas pendurados no varal


Cordel é um estilo de poema popular da tradição nordestina.
Cantado ou declamado, ele está presente nos festejos da co-
munidade sertaneja: feiras, festas religiosas, comícios. É uma
poesia narrativa, ou seja, conta uma história. Geralmente o
tema é o cotidiano, a denúncia dos sofrimentos do povo, a
exaltação de heróis, as lendas nativas. Chama-se “cordel” por-
que, nos pontos de venda, os livre­­­­tos costumam ser pendura-
dos em um varal de fios de algodão — os cordéis.

Peça aos alunos que leiam o cordel “Emigração e as conseqüências”, de


Patativa do Assaré. Explique que o poema conta a história da seca no
Nordeste, do sofrimento do povo, das injustiças sociais, da migração
para o sul. Fala da luta, do trabalho e do perigo da entrada dos filhos na
marginalidade.

Faça cópias ou copie o poema na lousa. Usando as orientações sobre leitura


de poemas da página 28, da Oficina 5, leia o cordel com seus alunos.

40 poemas
Emigração e as conseqüências
Nesse estilo popular Nem também conto as vitórias
Nos meus singelos versinhos, Do herói com seu brasão
O leitor vai encontrar Nem o mar com suas águas
Em vez de rosas espinhos Só sei contar minhas mágoas
Na minha penosa lida E as mágoas de meu irmão.
Conheço do mar da vida .......................................
As temerosas tormentas Meu bom Jesus Nazareno
Eu sou o poeta da roça Pela vossa majestade
Tenho mão calosa e grossa Fazei cada pequeno
Do cabo das ferramentas. Que vaga pela cidade
Por força da natureza. Tenha boa proteção
....................................... Tenha em vez de uma prisão
Sou poeta nordestino Aquele inferno medonho
Porém só conto a pobreza Que revolta e desconsola
Do meu mundo pequenino Bom conforto e boa escola
Eu não sei contar as glórias Um lápis e o caderno.
Patativa do Assaré. Uma voz do Nordeste. São Paulo, Hedra, 2000.

Mostre a eles que todo poema tem um tema, isto é, um assunto principal, e
faça perguntas:
Qual o tema desse poema? Do que fala Patativa do Assaré?

Estilo versus Tema


Estilo = maneira de se expressar de um escritor ou de um grupo literário.
Tema = principal assunto ou mensagem de um poema.

poemas 41
Leia os seguintes versos e pergunte aos alunos o que eles
entenderam.

Nesse estilo popular


Nos meus singelos versinhos,
O leitor vai encontrar
Em vez de rosas espinhos

Comente que belos versos, como os de Patativa, também


podem falar sobre sofrimento e dificuldades. Afinal, a poesia
traduz a forma como o poeta vê o mundo. E no mundo
também há coisas tristes.

Explique que nesses versos Patativa anuncia o estilo de poesia


que ele faz, o popular. Ele avisa que o leitor não vai encontrar
apenas “rosas” (coisas belas), mas também “espi­nhos” (tristeza
e problemas).

Leia mais uma vez o poema em voz alta para eles. Peça a eles
que fechem os olhos e escutem atentamente. Pergunte se
perce­bem o ritmo do poema.

Como se fosse um tambor...


Muitos poetas querem que seus versos tenham ritmo e cadên-
cia, como se houvesse um tambor batendo a intervalos regu-
lares. Patativa conseguiu esse efeito em seu poema. Chame a
atenção dos alunos para o ritmo dos versos, mostrando como
esse efeito encanta o leitor. Isso pode ajudá-los na hora de es-
crever poemas.

42 poemas
Transcreva na lousa mais alguns versos de Patativa do Assaré.
Ressalte a primeira letra de cada verso e lance o desafio. Quem
descobre algo diferente nesse poema?

Posso dizer que cantei


Aquilo que observei
Tenho certeza que dei
Aprovada a relação
Tudo é tristeza e amargura
Indigência e desventura
Veja, leitor, quanto é dura
A seca no meu sertão.
Patativa do Assaré. ABC do Nordeste flagelado. São Paulo, Hedra, 2001.

Comente que Patativa do Assaré ordenou as letras iniciais dos


versos para formar uma palavra. Nesse caso, o próprio nome do
autor: Patativa. Esse recurso é chamado “acróstico”.

Mais um recurso poético


Acróstico é um recurso poético em que as letras iniciais dos versos formam uma palavra
ou frase na vertical. Muitas vezes os acrósticos revelam um nome próprio. Os poetas popu-
lares usam muito o recurso do acróstico com o próprio nome para identificar seus textos.
Assim, indicam que os cordéis expostos em espaços públicos, como feiras, são deles.

poemas 43
2a etapa
Sugira a cada aluno que crie um acróstico com o nome deles. Para compor os
versos, eles podem falar de suas características, seu jeito de ser, as coisas de
que gostam.

Para ajudar, escreva na lousa as frases a seguir, e peça a eles que completem
os espaços.

Eu sou ___________________________________
Eu gosto muito quando _______________________
Fico triste quando ____________________________
Meus amigos dizem que _____________________
Fico desanimado quando ____________________
Minha maior qualidade é _____________________
Às vezes eu ___________________________________
Sonho com ___________________________________

Peça aos alunos que escrevam o nome deles na vertical. E depois procurem
palavras e frases para contar um pouco sobre eles. Podem inspirar-se no
exercício que acabaram de fazer. Ajude a turma na escolha de uma ou mais
palavras para cada verso, respeitando a letra no início da linha. Você pode usar
este exemplo para auxiliar os alunos:

Pequena
Alegre
Um dia eu fui...
Livre, leve
Agora eu sou.

Agora é só finalizar os versos dos acrósticos e mostrar para o grupo. Escolha


alguns acrósticos para colocar no mural.

44 poemas
oficina
Metáforas
Objetivo
• Identificar e usar comparações,
imagens e metáforas.

poemas 45
Atividades
1a etapa
Ao ver o mundo de um modo poético, os poetas fazem comparações e criam
metáforas. Nesta oficina, os alunos vão ler, compreender e apreciar esses
recursos.

Diga que você lerá a letra de uma canção infantil feita por um poeta famoso,
Vinicius de Moraes. Se seus alunos conhecerem a melodia, podem cantar a
música.

O leão
Leão! Leão! Leão! Tua goela é uma fornalha
Rugindo como o trovão Teu salto, uma labareda
Deu um pulo, e era uma vez Tua garra, uma navalha
Um cabritinho montês. Cortando a presa na queda.
Vinicius de Moraes. A arca de Noé. São Paulo,
Leão! Leão! Leão! Companhia das Letras, 1991, p. 38.
És o rei da criação! Autorizado pela VM Empreendimentos
Artísticos e Culturais Ltda. ©VM

Pergunte aos alunos por que no verso “rugindo como o trovão” o poeta compara
o rugido do leão a um trovão? Converse sobre o significado de força, de poder e
de volume de som que a comparação rugido–trovão traz ao poema.

Explique que, quando usamos as expressões “é pequeno como...”, “sua garra é


afiada como...”, estamos fazendo comparações.

Mas podemos ir além. Quando dizemos que alguém tem “olhos de jabuticaba”,
referimo-nos aos olhos muito pretos dessa pessoa. Quando dizemos que “choveu
canivetes”, damos a idéia de que choveu muito forte.

Esse é um jeito poético e eficiente de fazer comparações. Há outros exemplos


nos versos de Vinicius de Moraes. Mostre aos alunos:

46 poemas
Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.

O que o poeta quis dizer com “tua goela é uma fornalha”? E com “tua garra, uma
navalha”? Explique que esse tipo de recurso se chama “metáfora”.

Com a metáfora, nós falamos de um objeto ou de uma qualidade com palavras


que se referem a outros objetos ou qualidades, mas podem ser tomadas em­
prestadas para fazer comparação.

Por exemplo, se nós dizemos que uma pessoa tem “vontade de ferro”, tomamos
emprestada a força do ferro para dizer que aquela pessoa tem uma vontade
muito forte.

2a etapa
Copie na lousa os versos do poema “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu. Peça
aos alunos que observem o uso da metáfora.

O céu bordado d’estrelas,


A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Pergunte aos alunos se eles podem imaginar um céu bordado d‘estrelas. Como
seria?

Qual é o sentido dos versos “ondas beijando a areia” e “a lua beijando o mar”?

Mostre como a metáfora deixa o verso mais interessante. Se o poeta dissesse


apenas que “havia muitas estrelas no céu” e “a lua refletia sua luz no mar” os ver­sos
não seriam tão poéticos.

poemas 47
Peça aos alunos que procurem no mural outros versos que tenham comparações
ou metáforas.

Agora os alunos vão fazer comparações para contar sobre o lugar onde vivem.
Você pode fazer um ensaio com eles na lousa, criando coletivamente as com­
parações e as metáforas. Façam juntos uma lista de características, qualidades
e problemas do lugar onde vivem. O registro das comparações e imagens feitas
deve ser usado mais tarde para ajudar na produção final.

Convide a turma a pensar no rio, no mar ou na rua da escola. Pensar em uma


praça, uma árvore, um lugar da cidade de que eles gostem. Faça perguntas sobre
as sensações que esse lugar desperta. Quais as cores que percebem. E os sons e
os cheiros que lá existem.

Copie o exercício na lousa e peça aos alunos que o completem fazendo as


comparações. Vamos usar como exemplos o rio, a cidade e a rua, mas você deve
adaptar o exercício aos lugares que sejam significativos para os alunos.
Essa tarefa pode ser feita em duplas ou individualmente.

O rio é __________________ como _____________________________


O rio tem cheiro de __________________________________________
A cor do rio parece __________________________________________
A minha rua tem um barulho como ____________________________
Minha cidade até parece ______________________________________

Agora incentive a turma a criar metáforas como fazem os poetas.


Este exercício ajudará a produzir poemas mais interessantes e originais.

O rio _______________________________
Minha rua __________________________
O céu ______________________________
Minha cidade _______________________

48 poemas
O lugar
onde vivo

oficina
Objetivos
• E studar poemas sobre a terra
natal de diferentes autores.
•  esgatar sentimentos sobre
R
o lugar onde os alunos vivem.

poemas 49
Atividades
1a etapa
Para esta oficina trabalharemos com: “Milagre no Cor­co­
vado”, de Ângela Leite de Souza, e “Cidadezinha”, de Mário
Quintana. Providencie cópias das pági­­nas 51 e 52 para
seus alunos.

Na primeira etapa, vamos tratar do tema dos poemas. O


tema escolhido foi o lugar onde viveu o poeta. Na segunda
etapa, vamos ver que os poetas, apesar de falarem do
mesmo tema, usam recursos poéticos diferentes.

Comece perguntando se os alunos conhecem o Rio de


Janeiro. Já viram fotos ou imagens na televisão? O que
conhecem do Rio de Janeiro? O que mais os impressiona?

Pergunte-lhes se já viram fotos do Cristo Redentor, no Cor­


covado. Se possível, leve imagens do Rio de Janeiro, prin­
cipalmente do Corcovado. Depois, leia o poema “Milagre
no Corcovado”, de Ângela Leite de Souza.

Para fazer a leitura dos poemas, não se esqueça de retomar


as orientações da página 28, Oficina 5.

50 poemas
Milagre no Corcovado
Todas as noites
De céu nublado
No Corcovado
Faz seu milagre o Redentor:
Fica pousado no algodão-doce
Iluminado
Como se fosse
De isopor
Mas todos sabem
Que bem de perto
Esse Jesus
É um gigante
De mais de mil
E cem toneladas...
Suba de trem,
Vá pela estrada,
Quem chega lá,
Ao pé do Cristo, vira mosquito.
E olhando em volta
Para a cidade
De ponta a ponta maravilhosa
A gente sente um arrepio:
O milagre é o próprio Rio!
Ângela Leite de Castilho Souza. Meus Rios. Belo Horizonte, Formato, 2000, pp. 19-20.

Após a leitura do “Milagre no Corcovado”, faça perguntas a seus alunos. Qual


o tema desse poema? Sobre o que fala a autora? Fechando os olhos, vocês
conseguem imaginar o que a poetisa quis nos mostrar?

Leia a seguir o poema “Cidadezinha”, de Mário Quintana.

poemas 51
Cidadezinha
Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça...
Sua igrejinha de uma torre só...

Nuvens que venham, nuvens e asas,


Não param nunca nem um segundo...
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...

Eu que de longe venho perdido,


Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida poder morar!


Cidadezinha... Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar...
Mário Quintana. Prosa e verso. São Paulo, Globo.
© by Elena Quintana

Qual é o tema desse poema? Ele nos faz lembrar de coisas alegres ou tristes?
Vocês conseguem imaginar a “Cidadezinha” que Quintana descreve em seu
poema? Como é essa cidade? É parecida ou muito diferente da nossa cidade?

Agora faça perguntas sobre a diferença entre os dois textos. O que esses poemas
têm em comum? Por que eles tratam do mesmo assunto e ainda assim têm
títulos diferentes? O que os títulos dizem para quem vai ler os poemas?

Reforce para seus alunos a diferença entre título e tema. O tema do poema que
eles vão produzir é “O lugar onde vivo”. Mas eles não devem repetir o tema no
título. É melhor que eles criem algo original e sugestivo. Embora todos devam
escrever sobre o mesmo tema, cada aluno poderá escolher um título diferente.

52 poemas
2a etapa
Retome os dois poemas. Copie-os numa folha grande de papel ou na lousa e
pergunte aos alunos como cada poeta consegue mostrar seu olhar único sobre
o lugar onde vive.

Peça-lhes que identifiquem os recursos poéticos que cada autor usou: rimas,
comparações, metáforas.

Que recurso poético Quintana usou em seu poema? Peça que observem as
palavras que rimam. Será que ele só se preocupou em encontrar as rimas ou
também conseguiu mostrar como era a cidadezinha? Leia com eles o poema em
voz alta. É possível perceber o seu ritmo?

E no poema “Milagre no Corcovado”, a autora usa rimas? Que recursos poéticos


ela usa? Como consegue contar suas impressões sobre o Cristo no Corcovado?
Identifique com eles as comparações e as metáforas do poema.

Termine a oficina lembrando aos alunos que eles também podem usar recur­sos
poéticos para falar sobre o lugar onde vivem de forma inovadora.

Diferentes recursos
Mário Quintana usa o recurso da rima para ex-
primir a simplicidade e o encanto da sua cidade.
Além de usar rimas originais, ele se preocupou
com o ritmo do poema.

Ângela Leite de Castilho Souza não rima seus


ver­sos. Mas usa outros recursos, como a compa-
ração e a metáfora. No verso “fica pousado no
algo­dão-doce” ela mostra sua visão do Cristo
ilumina­do à noite, cercado pelas nuvens. Para a
autora, é um milagre o gigante de muitas tonela-
das pousado no algodão-doce.

poemas 53
54 poemas
Um novo olhar
Objetivo

oficina
• Propiciar um olhar novo e original
sobre o lugar onde os alunos vivem.

poemas 55
Atividades
1a etapa
Nossa intenção nesta oficina é ajudar os alunos a se
inspirarem e encontrarem o que dizer em seus textos.

A maioria dos poetas têm uma fonte em que buscam


inspiração para compor poemas. Muitas vezes essa
fonte é o lugar onde vivem ou viveram.

Manuel Bandeira, por exemplo, tem no Recife de sua


infância um de seus temas preferidos. Da mesma for­­­­­­
ma, a vivência interiorana e a paisagem de Minas Gerais
marcam a obra de Carlos Drummond de Andrade.

Seus alunos também devem se inspirar no lugar onde


vivem. A fonte de inspiração, porém, não é só a cidade,
mas o bairro, a rua, as paisagens, os locais interessantes
e seus moradores, a cultura e as peculiaridades.

Você irá ajudá-los a buscar essa inspiração, res­gatando


impressões, sensações e sentimentos. Assim, eles vão
encontrar um olhar pessoal e único sobre o lugar onde
vivem.

O poema que irão escrever não precisa falar sobre to­dos


os aspectos da cidade. Se a preocupação for enu­me­­­­r­­ar
muitos elementos, os versos podem ficar longos e
desinteressantes. Por outro lado, o poema deve revelar
peculiaridades do lugar que podem encantar e con­du­
zir o leitor ao mundo do poeta.

56 poemas
Leia para a classe os versos abaixo, escritos por poetas que retratam
o lugar onde viveram.

Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas...
Sentimento do mundo. Rio de Janeiro, Record.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond.
<www.carlosdrummond.com.br>.

Alma cabocla
E, na doçura que encerra
Esta simpleza daqui,
Viver de novo, na serra,
Entre as gentes desta terra,
A vida que eu já vivi...
Paulo Setúbal. Obras completas.
São Paulo, Saraiva, 1958.

Ter o que dizer


Buscar o que dizer num poema é muito diferente de buscar
assunto para outros tipos de texto.

Por exemplo, quando ensinamos nossos alunos a escrever um


artigo de opinião, é preciso fazer uma pesquisa para a coleta de
vários dados. Mas, no caso dos poemas, isso é bem diferente.

Fazer poesia não é organizar informações objetivas em forma de


versos. O ofício do poeta não é descrever aquilo que vê, mas ex-
pressar sentimentos e vivências interiores. Do contrário, o poe-
ma pode perder seu encantamento e originalidade.

poemas 57
Converse com seus alunos sobre o lugar onde vivem: a cidade, o bairro,
as ruas, os espaços interessantes que os impressionam de alguma forma.
Se possível, organize um passeio pelos arredores da escola ou por lugares
importantes da cidade.

O objetivo não é coletar dados, mas incentivar a turma a observar pe­


quenos detalhes, perceber as impressões e as sensações causadas por
essa observação. O que eles sentem? Qual a cor predominante? Quais
os ruídos do lugar onde vivem? O sol, as nuvens, o calor, o frio... que
sensações despertam?

Depois do passeio e da conversa sobre a cidade, pergunte aos alunos


qual a impressão que têm dos lugares. O que mais chama a atenção? Se
tivessem que descrever esses lugares para pessoas que não os conhecem,
como o fariam?

Explique ao grupo que, para escrever sobre o lugar onde vivem, é preciso
antes de tudo aprender a olhar para esse lugar. Tem que ser um olhar
diferente daquele do dia-a-dia, como nos explica Alberto Caeiro:

Não basta abrir a janela


Para ver os campos e rios.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e flores.

O que o poeta quis dizer com esses versos? Como podemos olhar de
forma diferente para o lugar onde vivemos? Interrogue seus alunos.

Comente que muitas vezes olhamos as coisas com pressa ou de maneira


superficial. Assim deixamos de ver todos os detalhes, de observar coisas
que estão ocultas à primeira vista.

58 poemas
A matéria-prima da poesia
Poemas não falam só de lugares. Poemas também podem tratar de pessoas, da sabedoria
do povo. Como já vimos, há os que falam de problemas e aflições. São inúmeras as possi-
bilidades. Essas são algumas. Provavelmente você e seus alunos descobrirão outras.

2a etapa
Proponha uma viagem imaginária em que todos serão convidados a olhar
sem pressa para os lugares visitados ou sobre os quais vocês conversaram.
Diga a eles que você vai ser o guia desse passeio.

Peça a todos que se sentem o mais confortavelmente possível, fechem os


olhos e pensem nesses lugares. Vá mencionando os locais, incentivando
a turma a identificar as impressões, sensações e sentimentos que
despertam.

No final da viagem, peça a cada um deles que escreva no caderno pa­


lavras soltas ou frases sobre o que viram e sentiram.

Monte com eles um painel, usando a lousa como base. Cubra toda a lousa
com um grande papel ou com várias folhas emendadas. Aquele espaço
representará o lugar onde vocês vivem. O que eles gostariam de registrar?
Os alunos podem usar lápis, recortes ou tinta para compor um desenho.

O painel deve ser feito em conjunto, e isso requer organização. Antes de


começar, não se esqueça de planejar as etapas, dividir tarefas e funções.

Agora, cada aluno vai escolher uma ou duas palavras que escreveu no
caderno para copiar em pedaços de papel. Depois, deve procurar um
lugar no painel para colar a palavra ou palavras escolhidas.

No final, todos vão observar atentamente o resultado. Peça-lhes que


conversem um pouco sobre o painel. O que mais podemos falar a respeito
do lugar em que vivemos?

poemas 59
60 poemas
Nosso
poema
Objetivo
• Produzir um texto coletivo.

oficina

poemas 61
Atividades
1a etapa
Nesta oficina, os alunos vão escrever um poema coletivamente. Esse
“ensaio geral” irá ajudá-los a resgatar e organizar uma síntese para
incorporar os recursos aprendidos nas oficinas anteriores ao texto final.
Será um trabalho na chamada “zona proximal” do desen­vol­vimento
cognitivo dos alunos, quando a troca de informações entre estudantes
de uma mesma turma permite que os colegas que estão em um
momento mais avançado do conhecimento auxiliem o processo de
aprendizagem dos demais e o seu próprio, pois aquele que ensina
sempre aprende.

Zona proximal
A expressão “zona proximal” foi criada por Lev
Vygotsky (1896-1934), psicólogo bielo-russo
(nas­­­­­­­cido na Bielo-Rússia, país da Europa orien-
tal que faz divisa com Polônia, Rússia, Letônia e
Ucrânia).

Zona proximal nomeia as aprendizagens que os


alunos fazem com a ajuda de colegas mais ex-
perientes em determinada matéria. Ela antece­­­de
a zona real do conhecimento, quando o aluno
consegue fazer a tarefa sem ajuda.

No nosso caso, o texto individual será escrito na


zona real do conhecimento. Mas, antes, haverá a
produção coletiva, um trabalho na zona proxi-
mal do conhecimento.

62 poemas
Diga aos alunos que nesta oficina eles escreverão juntos um
poema. Para começar, peça à turma que observe o Mural
de Poemas. Mostre quanto trabalho foi feito e pergunte a
eles o que aprenderam até aqui.

Ajude fazendo perguntas, dando sugestões, lembrando o


que eles possam ter esquecido.

Vocês podem fazer um quadro-resumo do que foi realizado


ao longo das oficinas.

• Relembramos, ouvimos e lemos vários poemas.


• Aprendemos o significado de diversas palavras, como
poema, poesia, poeta, verso, estrofe, estilo, tema.

• Com a poesia podemos expressar emoções e sentimen­


­­­ enquanto falamos sobre pessoas, paisagens e ou­tros
tos
temas.

• O poeta usa a linguagem de maneira diferente da que


fazemos no dia-a-dia. Emprega recursos poéticos, como
rimas, alite­rações, repetições, comparações e metáforas.

poemas 63
2a etapa
Antes de iniciar a produção do texto, voltem ao painel montado na
oficina anterior para decidir sobre o que o poema vai falar. Você pode
copiar na lousa as palavras escolhidas. Pergunte a eles se o que foi
selecionado é suficiente. O lugar onde vivemos é realmente assim? Será
que não estamos nos esquecendo de coisas importantes?

Agora que já conversaram sobre “o que” dizer, é hora de resolver o “como”


dizer. Decidam juntos quantos versos e quantas estrofes o poema vai
ter. E também quais os recursos poéticos que vão usar, entre rimas,
versos livres (sem rimas), aliterações, repetição de palavras ou frases,
comparações e metáforas.

Comecem a compor o poema de acordo com o que ficou combinado.


Escreva na lousa os versos criados em conjunto. Vá fazendo perguntas,
incentivando o uso de recursos poéticos.

A cada estrofe, você pode parar e reler o que foi feito para ajudá-los a
pensar em formas mais originais de escrever os versos. Por exemplo,
se seus alunos decidiram usar rimas, ajude-os a encontrar palavras e
sinônimos. Pergunte se, além de rimar, o texto também tem sentido.
Ajude-os a fazer comparações e criar metáforas.

Leia os versos em voz alta para que os alunos percebam se não estão
muito longos ou muito curtos, ou seja, se o ritmo está adequado. Veri­
fique se conseguem fugir dos chavões e escrever de forma original.

Releia o poema com a turma para ver o que ainda pode ser melhorado.
Por fim, criem um título bem sugestivo e atraente.

Na Oficina 14, você encontrará um roteiro para melhorar o poema de­


pois de concluído pelo aluno.

64 poemas
Virando
poeta

oficina
Objetivo
• Escrever um poema com
o tema “O lugar onde vivo”.

poemas 65
Atividades
Chegou a hora tão esperada! Nesta oficina, seus alunos es­­­­cre­
verão individualmente o poema para o concurso. Não se es­
queça de que seu entusiasmo pela tarefa contagiará a todos.

A fim de motivar a turma, leia para a classe o poema de Carla


Marinho Xavier, aluna da professora Maria Luiza Alves da Silva.
Elas foram as vencedoras da categoria “Poesia” da terceira
edição do Prêmio Escrevendo o Futuro, em 2006.

Mostre aos alunos os recursos que Carla usou para fugir do


lugar-comum e mostrar um olhar único sobre sua terra.

66 poemas
14243
O título sugestivo
instiga o leitor e, ao
O mundo dentro da represa do Frade mesmo tempo, antecipa
o conteúdo do poema.

1444444444444444444424444444444444444444443
A represa é presa
Presa com água
E feita de pedra, pesada
Com mil toneladas de água

14243 1442443 14444244443 14444244443


Lá embaixo os peixes:
Cascudo, cará, carapeba
Brincam de esconde-esconde Faz comparações e cria
imagens para transmitir
Se entocando nas pedras.
suas impressões.
Pegando na mão do
Desce a correnteza, correndo
leitor, a autora apresenta
Descansa na represa a ele seu mundo.
E cai pelo caidor
Fazendo cócegas nas pedras
Não são utilizadas rimas
para compor os versos. A água de baixo
A sonoridade é conseguida Temendo a água de cima Revela de forma muito
com a repetição de Faz onda para escapar original os elementos
palavras, sílabas ou sons Fugindo para outro lugar da represa. Água, vento
ao longo dos versos. e árvores ganham vida
e sentimentos. A água
Sobre a estreita ponte
faz cócegas, o vento
O danado do vento assusta as pessoas e as
Vem assustar a gente árvores têm medo.
Com seu sopro violento

As árvores nas beiras O texto encanta a


Se seguram na areia todos ao ultrapassar
Temerosas o lugar-comum,
Não querem ser levadas brincando com o
Pela força da correnteza sentido das palavras.

Da minha janela vejo esse A autora conclui o poema


mundo: reafirmando seu olhar
Um mundo dentro do outro único e pessoal sobre o
lugar onde vive.
Preso nas muralhas da represa

poemas 67
Vamos iniciar, então, a produção do poema. Retome com seus
alunos a situação de produção. Eles, como participantes da
Olimpíada, vão escrever um poema sobre o lugar onde vivem.
Cada aluno deve exprimir, no texto, a visão pessoal e original do
lugar onde vivem.

Para mostrar impressões e sentimentos, devem usar as pala­­­­­­


vras de forma diferente. Os recursos poéticos estu­dados ao
longo das oficinas deverão ser utilizados.

O tema proposto é “O lugar onde vivo”. Pensando no tema,


o aluno escolhe o que vai falar e faz um primeiro rascunho,
deixando a emoção fluir e soltando a imaginação.

Depois desse primeiro ensaio, ele vai tomar algumas decisões.

• O poema terá rimas ou não?


• O poema será composto em quadras?
• O poema terá aliterações, repetições de palavras ou versos?
• Como fazer para que o poema tenha um ritmo harmônico e
cadenciado?

• É possível fazer algumas comparações ou até mesmo criar


metáforas?

Com base nas decisões tomadas, cada aluno escreve um poe­­ma.


Na próxima oficina, você vai ajudá-los a melhorar e rees­cre­ver
o poema quantas vezes forem necessárias.

68 poemas
Últimos
retoques

oficina
Objetivo
• Aprimorar os poemas
produzidos.

poemas 69
Atividades
1a etapa
Para compor poemas, mesmo os poetas consagrados ficam muito tempo me­
lhorando seus versos, arrumando, organizando, mexendo nas palavras. É preciso
tempo, não só para fazer correções, mas para aprimorar o texto. É assim que os
poetas deixam de lado o lugar-comum, rompem com os clichês e conseguem
encantar o leitor com um texto original e criativo.

Explique aos alunos que você vai copiar na lousa exemplos de estrofes que devem
ser melhoradas. Juntos, vocês vão pensar em formas de aprimorar os versos.

O lugar onde vivo


Minha cidade é bela
É mesmo especial
Eu gosto muito dela
É tudo muito legal.
............................
Lá tem muita coisa legal
Alegria e felicidade
Outra não tem igual
Assim é minha cidade.

Leia com eles esses versos e depois faça perguntas. É possível imaginar como é
esse lugar? O autor consegue mostrar como é o lugar onde vive? Que sugestão
vocês dão para melhorar o poema?

Chame a atenção dos alunos para o título, que repete o tema proposto: o lugar
onde vivo. Se o autor pro­cu­rasse um título mais criativo, seu poema ganharia
em qualidade.

Nesse exemplo, o autor não consegue mostrar ao leitor o lugar onde vive. Por
que o lugar é legal e especial? Faltam informações.

70 poemas
É preciso acrescentar versos que mostrem como é o lugar onde vive o autor.
Essas informações é que vão revelar o olhar e as impressões dele.

O autor usa duas vezes a palavra “legal”. A repetição pode ser um recurso que
dá ritmo ao poema. Mas, nesse caso, parece que a palavra foi repetida porque
o poeta não descobriu alternativa. Ele deveria ter usado outras palavras.

Copie na lousa uma outra estrofe que deve ser melhorada.

A escola onde estudo


É Imaculada Conceição
Que muito tem se empenhado
Em cumprir sua missão.

Questione os alunos. Como podemos melhorar esses versos? Será que, se reti­
rássemos algumas palavras, os versos não ganhariam um ritmo mais caden­
ciado? Que palavras podemos tirar sem comprometer o sentido dos versos?

Explique aos alunos que, para obter maior concisão e elegância, é possível
eliminar algumas palavras. No caso dos poemas rimados, isso pode contribuir
para o ritmo do texto. Mostre como fica melhor desta maneira:

A escola onde estudo


Imaculada Conceição
Muito tem se empenhado
Em cumprir sua missão.

poemas 71
2a etapa
Agora, convide seus alunos a aprimorar os poemas que
escreveram. Copie no quadro os itens abaixo. Depois,
peça a cada um deles que verifique se o texto dele atende
a todos os aspectos.
• O título do poema é criativo?
• O texto tratou do tema, mostrando características e
peculiaridades do lugar onde vivem?
• O poema usa alguns dos recursos estudados nas ofi­
cinas: rima, quadra, aliteração, comparação, metáfora?
• O poema tem um ritmo cadenciado?

Depois desse exercício, você pode pedir a eles que passem


os poemas a limpo e os coloquem no mural.

Escolha junto com a classe os três melhores poemas e os


envie para a comissão julgadora da escola.

Para finalizar, sugerimos a realização de um novo sarau.


Dessa vez com poemas escritos pelos próprios alunos.
Prepare uma cerimônia especial. Convide os pais e a co­
munidade para a apresentação dos poemas. É hora de
celebrar a conquista de todos!

72 poemas
Afinando um pouco mais o olhar
Apontamos alguns problemas que geralmente aparecem nos textos dos alunos,
mas sabemos que eles não são os únicos. Relacionamos a seguir mais algumas
questões às quais você deve ficar atento.

• É preferível evitar rimas muito comuns, como o diminutivo e o aumentati­­vo


das palavras (“inho” e “ão”). Rimas ricas ocorrem quando o poeta combina
palavras de categorias gramaticais diferentes: adjetivos, substantivos, ver-
bos. Mostre de novo a primeira estrofe do poema “Cidadezinha”, de Mário
Quintana, e chame a atenção dos alunos para esse fato.

• Podem ser revistos os poemas que deslizam para a expressão de sentimentos


pessoais e se esquecem de contar como é “o lugar onde vivo”. Nesse caso,
acrescente uma ou duas estrofes que ressaltem algum aspecto interessante
do lugar: uma paisagem bonita, um jeito de ser do povo, um acontecimen-
to curioso, uma festa popular.

• Às vezes, o poeta desrespeita intencionalmente as regras gramaticais: pon-


tuação, concordância, ortografia. Ele pode usar a transcrição oral de uma pala-
vra para mostrar o jeito de falar do povo, por exemplo. Mas verifique se seus
alunos estão usando intencionalmente esse recurso ou estão errando por não
saberem a grafia correta de uma palavra ou uma regra de concordância.

poemas 73
Critérios de avaliação

Para a comissão julgadora


A comissão julgadora deve manter a coerência e valorizar os mesmos critérios usados
pelos professores nas oficinas. A avaliação deve considerar, sobretudo, se o texto inspira e
desperta emoção no leitor. A tabela a seguir orientará cada avaliador a atribuir os pontos.

Categoria I – Gênero Poesia


(4 a e 5a séries do Ensino Fundamental ou 5o e 6o anos do Ensino Fundamental de Nove anos)

Os 10 pontos ficam assim divididos:


•O
 poema está apropriado ao tema
proposto “O lugar onde vivo” , compreendendo
Pertinência ao tema proposto 2,5 não só a cidade, mas o bairro, a rua, os locais
interessantes e seus moradores, aspectos
culturais e peculiaridades regionais.

• O poema mostra um conjunto que produz sentido.


• O poema apresenta alguns dos recursos poéticos
Observação dos elementos da poesia 2,5 trabalhados nas oficinas.
• Esses recursos despertam a sensibilidade do leitor.

•O
 texto deixa transparecer que o autor
Busca de informações sobre o tema 2,5 observou um aspecto especial do lugar onde
vive e conseguiu expressá-lo.

• O texto surpreende o leitor por trazer inovação.


Originalidade 2,5
• O título do poema é sugestivo.

74 poemas
Textos recomendados

Sertão
Ascenso Ferreira

Sertão! — Jatobá!
Sertão! — Cabrobó!
— Cabrobó!
— Ouricuri!
— Exu!
— Exu!
Lá vem o vaqueiro, pelos atalhos,
Tangendo as reses para os currais...
Blém... blém... blém... cantam os chocalhos
dos tristes bodes patriarcais.
E os guizos fininhos das ovelhinhas ternas
dlin... dlin... dlin...
E o sino da igreja velha:
Bão... bão... bão
.....................................
Poemas de Ascenso Ferreira. Recife, Nordestal, 1981, p. 26.

poemas 75
Coisas do reino da minha cidade
Cora Coralina
(nome literário de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)

Olho e vejo por cima dos telhados patinados pelo tempo


copadas mangueiras de quintais vizinhos.
Altaneiras, enfolhadas, encharcados seus caules,
Troncos e raízes das longas chuvas do verão passado.
Paramentadas em verde, celebram a liturgia da próxima florada.
Antecipam a primavera no revestimento de brotação bronzeada,
onde esvoaçam borboletas amarelas.
As mangueiras estão convidando todos os turistas,
para a festa das suas frutas maduras, nos reinos da minha cidade.
................................................................................................
Estas coisas nos reinos de Goiás.
Cora Coralina. Vintém de cobre — Meias confissões de Aninha.
Coisas do reino da minha cidade. 9a ed. São Paulo, Global, 2007.

Mar azul
Ferreira Gullar

mar azul marco azul


mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
Toda criança do mundo. Rio de Janeiro, Objetiva, v. 1, 2002, p. 35.
Coleção Literatura em Minha Casa.

76 poemas
Episódio sinistro
de Virgulino Ferreira (II)
Carlos Pena Filho

A feira de Vila Bela


tem chocalhos para vacas.
Na feira de Vila Bela,
feijão e pó nas barracas.
Na feira de Vila Bela,
arreios, cordas e facas.
Na feira de Vila Bela,
chapéus de couro, alpercatas.
Na feira de Vila Bela,
um ceguinho pede esmola.
Na feira de Vila Bela,
o cego e sua viola:
— Dona, siga o meu conselho,
vá rezar uma oração,
porque eu já vejo a distância
a ira de Lampião.
Fiquem somente os soldados,
o sargento e o capitão.
Fico eu também que sou cego
E não sei da claridade.
Se Lampião me matar,
mata somente a metade,
que a outra já levou Deus
po r sua agreste vontade.
....................................
Livro geral. 2a ed. Recife, Liceu, 1999, p. 26.

poemas 77
Infância
Carlos Drummond de Andrade
A Abgar Renault

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.


Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala — e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo,
olhando para mim.
— Psiu... Não acorde o menino.
Pára o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Alguma poesia. Rio de Janeiro, Record.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond.
<www.carlosdrummond.com.br>.

78 poemas
Na rua Mário de Andrade
Manoel de Barros

Na rua Mário de Andrade Saberão quem foi esse homem


vou andar — bom — o da rua Lopes Chaves? Bem —
Por ter sido Tarumã mas também ele não sabia
e hoje ser Mário de Andrade quem fora Lopes Chaves
Ainda não sei onde é Não há como não saber
mas vou procurar — quem foi o nome da rua
na rua Mário de Andrade em que se morou ou vai morar
vou andar... Se nome de gente, é bom
Vou ir com Macunaíma que ele desapareça
rente às paredes completamente
vou ir com Mário de Andrade Não seja mais nem lembrança
Ele, Mário, me diz: é preciso nem a sombra de um homem
flanar... — como queria o poeta Bandeira
Eu digo a ele — ó Mário, Talvez melhor conservar
era o que eu ia te falar rua Tarumã
É preciso flanar em ruas mas vai ver que lá não existe
— os passos levando sempre um pé de tarumã!
para nenhum lugar sequer uma criança
E Mário me diz: — Poeta, que conheça tarumã
nenhum-lugar é o melhor ...............................
lugar de um poeta chegar Se houver flores nessa rua
Não há que ter nem começo Mário de Andrade — a todos nós
nem fim ela agradará
essa antiga rua Tarumã Se houver sobrados líricos
Como serão seus moradores? com janelas azuis ou verdes —
Vou até lá pronto!
Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1990.

poemas 79
Canção do exílio
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu´inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Cinco estrelas. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001, p. 44.
Coleção Literatura em Minha Casa.

80 poemas
Na minha terra
Álvares de Azevedo

Amo o vento da noite sussurrante a restinga da areia onde rebenta


a tremer nos pinheiros, o oceano a bramir,
e a catinga do pobre caminhante onde a lua na praia macilenta
no rancho dos tropeiros; vem pálida luzir;
e os monótonos sons de uma viola e a névoa e flores e o doce ar cheiroso
no tardio verão, do amanhecer na serra,
e a estrada que além se desenrola e o céu azul e o manto nebuloso
no véu da escuridão; do céu da minha terra.
..................................
Antologia poética. 3 a ed. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1960, p. 204.

Pátria minha
Vinicius de Moraes
..................................................
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes.”
“Pátria minha”, in: Ferraz, Eucanaã (org.).
Vinicius de Moraes: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2004.
Autorizado pela VM Empreendimentos Artísticos e Culturais Ltda. ©VM

poemas 81
Recado final

Um dedo de prosa sobre


a conversa que não acaba aqui
Pois é, professor, encerramos as atividades sobre poemas.
Mas o trabalho com leitura e escrita continua.
Um texto vai puxando outro, como uma conversa sem fim.
Neste Caderno falamos diretamente com você, que está
na sala de aula “com a mão na massa”. Para preparar estas
oficinas, também conversamos com outras pessoas que
discutem ou discutiram a escrita e seu ensino.
Você talvez queira conhecer algumas de suas idéias.
No “Para saber mais ainda” há um resumo de algumas delas.
Em “Referências bibliográficas” encontra-se uma relação de
textos e livros que foram consultados para a elaboração
deste Caderno.

82 poemas
Para saber mais ainda

Por dentro da proposta.


Para cada lugar, um jeito de falar.

Língua, discurso e gênero


Pela manhã, a mãe deixa um bilhete para o filho e faz a lista de compras. Chegando
ao trabalho, prepara o material para a discussão com sua equipe. Na hora do almoço,
telefona para o filho para saber se ele está bem. À tarde, antes de sair, anota os com-
promissos do dia seguinte. Após o trabalho vai ao mercado e preenche o cupom para
o sorteio de um carro. Na volta para casa, encontra um amigo e conversam durante
alguns instantes. À noite, ao ler o jornal, depara-se com um artigo do qual discorda e
resolve escrever uma carta para a coluna do leitor.
No decorrer do dia, essa pessoa produziu diversos textos orais e escritos: telefo-
nema, conversa, bilhete, lista de compras, mensagens, lembretes...
Todos nós produzimos diversos textos que se dão em diferentes gêneros — orais
ou escritos, formais ou informais. Cada situação exige o uso de uma forma particular de
comunicação.
Afinal, não nos expressamos da mesma maneira quando escrevemos uma carta
reclamando de um produto defeituoso ou quando comentamos o mesmo assunto
com um amigo. As finalidades são distintas, os interlocutores são diferentes e os meios
de circulação do texto não são os mesmos.
Muitos gêneros são aprendidos informalmente, nas relações sociais, com familiares
ou amigos. Para ler ou escrever uma lista de compras ou um bilhete, por exemplo,
basta ser alfabetizado e compartilhar com pessoas essa prática.
Outros gêneros, porém, exigem aprendizagem sistematizada, como os textos
literários, científicos e jornalísticos. A escola é responsável pelo ensino dos gêneros
formais. Essa aprendizagem amplia nossa competência lingüística e discursiva e nos
dá mais possibilidade de participação social.

poemas 83
O papel da escola
A escola não tem condições de ensinar todos os gêneros existentes, nem pode
prever todos aqueles que os alunos utilizarão em sua vida futura. Ainda assim, o tra-
balho escolar é muito importante. Até mesmo para que o aluno se torne autônomo,
capaz de aprender sozinho os gêneros de que vai necessitar no futuro.
É preciso garantir a todos os alunos os saberes lingüísticos necessários para o
exercício da cidadania. Isso porque uma vida digna em sociedade pressupõe o domí-
nio das competências de ler, escrever e refletir sobre a língua escrita.
A pessoa que fala, lê ou escreve está imersa numa história, numa cultura e em
diferentes grupos sociais nos quais exerce papéis variados. Trata-se de um processo de
construção de sentido que ocorre na relação entre os interlocutores e o contexto em
que atuam.
Uma reflexão sobre a concepção de língua e de ensino e aprendizagem que fun-
damentam as práticas escolares pode ser um bom começo para uma ação pedagógica
mais sintonizada com as necessidades dos sujeitos no mundo.
A escola precisa identificar situações autênticas de comunicação. Por exemplo, os
alunos de determinada escola recebem uma revista feita para jovens, mas comentam
com a professora que os assuntos não são de seu interesse. Surge a oportunidade. A
professora pergunta o que eles poderiam fazer para que a revista tratasse de novos
temas. Como os alunos podem não ter idéia de que é possível usar a escrita para isso, a
professora propõe que escrevam uma carta à redação da revista. Cria-se uma situação
autêntica de produção de texto.
Provavelmente os alunos já tiveram contato com cartas pessoais, mas essa nova
situação exige linguagem formal. Torna-se necessário, portanto, ensinar como escrever
a carta. Está criada uma situação de produção de texto com base numa necessidade
efetiva — a carta tem uma finalidade definida e será, de fato, enviada ao destinatário.
Quanto mais a escola estiver sintonizada com seus alunos, mais condições terá de
identificar e, mesmo, provocar situações em que eles tenham real necessidade de ler
e produzir textos.
Como promover situações semelhantes a essa? Por exemplo, a simulação de júris
em que alunos assumem os papéis de réu, de juiz, de promotor, de jurados. Ou de uma
redação de jornal, em que os alunos representarão as diferentes funções nela existen­­­tes:
repórter, redator, editor, revisor.
Também há os textos escritos em situações de provas, concursos, olimpíadas. Nesse
caso, o aluno precisa demonstrar domínio na produção de determinado gênero.
Seja qual for a situação, é necessário dar instrumentos para o aluno escrever da
melhor forma possível. Na sala de aula o texto, além de ser a materialização de práticas
reais de linguagem, torna-se também objeto de ensino e aprendizagem. E isso requer
um trabalho planejado, contínuo, em que a atuação do professor é crucial.

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É importante acolher os conhecimentos que os alunos trazem, introduzir novos
conteúdos e valores por meio de situações desafiadoras e fazer a mediação entre os
discursos dos alunos — geralmente construídos em esferas cotidianas de interação,
como a família e a vizinhança — e os discursos produzidos em outras esferas, como as
da ciência, da política e da mídia.
O ensino de leitura e produção de texto torna mais claro ao aluno o que dele se
espera. Isso ocorre, sobretudo, quando dizemos exatamente qual é a proposta: com
que finalidade o aluno vai escrever, para quem, sobre qual assunto, em que gênero.

Seqüência didática
Seqüência didática é um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para
ensinar um conteúdo etapa por etapa. Essa seqüência de atividades permite que os alunos
cheguem gradualmente ao domínio de determinado conteúdo ou competência.
Ao organizar a seqüência didática para o ensino de gêneros textuais (orais ou escri-
tos), o professor planeja seu trabalho para orientar seus alunos a ler, escrever e escutar
ativamente, a explorar diversos exemplares do gênero escolhido. Assim, eles dominarão
pouco a pouco suas características e produzirão textos dos gêneros estudados.
O trabalho com seqüências didáticas supõe um rico processo de interação em
aula — com a participação e orientação do professor como parceiro mais experiente
e conhecedor do conteúdo que ensina —, cria um campo que favorece a apropriação,
por parte dos alunos, de um dos instrumentos culturais elaborados historicamente
pelo homem — os gêneros textuais.
É importante enfatizar que a idéia central do trabalho com seqüências didáticas “é a de
que se devem criar situações com contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e
no detalhe a situação concreta de produção textual, incluindo sua circulação, ou seja, com
atenção para o processo de relação entre produtores e receptores” (Marcuschi, 2002).
No Caderno do Professor — Orientação para produção de textos, a seqüência didá-
tica apresenta o seguinte passo-a-passo para o ensino dos gêneros textuais.

Passo 1
Apresentação do projeto de escrita e da situação de produção
O professor inicia a seqüência didática apresentando o gênero a ser estudado, ressal-
tando a importância de ler e produzir textos daquele gênero. Aqui há uma boa oportuni-
dade para verificar se os alunos sabem em que situações sociais esses textos são produzidos,
com que finalidade, para quem ler, e em que suportes textuais são encontrados.
O professor também apresenta o plano de estudo do gênero, o objetivo da pro-
posta e cada uma das etapas de trabalho, que ele deve registrar num cartaz para que
todos possam consultá-las quando necessário.

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Passo 2
Diagnóstico inicial
O diagnóstico inicial tem por objetivo verificar o que a turma já sabe do gênero
que será estudado. O professor deve avaliar se eles sabem em que situações sociais esse
gênero é utilizado, se eles já leram ou escreveram algum texto desse gênero e em que
contextos o fizeram.
O professor pede à turma que escreva o texto, indicando os elementos da situa-
ção de produção: a quem se destina o texto (pais, colegas, pessoas da comunidade),
qual é a sua finalidade (convencer, divertir, informar), onde será publicado (coletânea,
jornal da escola ou da cidade, mural).
Como as turmas são heterogêneas, a avaliação inicial favorece o planejamento de
intervenções diferenciadas, possibilitando que todos cheguem ao final da seqüência
didática proposta com maior domínio do gênero.

Passo 3
Leitura de textos
Para que os alunos ampliem seu repertório e se aproximem do gênero estudado,
eles precisam ler bons e variados textos.
O professor deve atuar como mediador entre os estudantes e o texto, incentivando,
questionando, dando informações sobre o autor, seu tempo, suas fontes, sua obra, seus
interlocutores, seu estilo etc.

Passo 4
Estudo das características do gênero
Para o estudo do gênero, são propostas várias atividades de oralidade, leitura, escrita
e reflexão sobre a língua. Elas levam o aluno a identificar as características peculiares do
gênero, como formas de composição, expressões próprias e tempos verbais utilizados.

Passo 5
Pesquisa sobre o tema
Em qualquer situação comunicativa, é preciso conhecer o assunto sobre o qual se
escreve ou fala. A pesquisa é fundamental — consultar diferentes fontes, entrevistar
pessoas, analisar documentos e coletar dados da cultura local. Essas informações são
organizadas em uma síntese (cartaz ou quadro) para serem compartilhadas com o
grupo e consultadas sempre que necessário.

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Passo 6
Produção coletiva do texto
Na produção coletiva do texto, orientada pelo professor, os alunos organizam e
sintetizam o que foi aprendido. A troca de informações entre colegas permite ao alu-
no que está em uma etapa mais avançada de conhecimento auxiliar no processo de
aprendizagem dos demais.
Durante as discussões, aparecem diferentes pontos de vista, e os alunos podem
compreender que há vários modos de dar tom ao texto. Na negociação sobre o que
deve ser escrito, de que maneira e em que ordem, há a possibilidade de autoria cole-
tiva. Além de incentivar a participação de todos, essa produção oferece um modelo
para a escrita do texto individual.

Passo 7
Produção individual
O desafio dessa etapa é a escrita individual do texto, tendo em mãos o roteiro
que orienta a produção do gênero estudado. Para mobilizar os alunos, o professor
pode relembrar a situação de comunicação proposta no início da seqüência didática.
Além disso, deve rever as aprendizagens sobre elementos do gênero feitas ao longo
da seqüência didática. Espera-se, nessa produção final, que o aluno ponha em prática
grande parte do que foi ensinado.

Passo 8
Aprimoramento e reescrita do texto
Depois da escrita individual, o aluno — de posse de um roteiro e com auxílio do
professor — fará a revisão e as reformulações necessárias para o aprimoramento de
seu texto.

Passo 9
Publicação do texto produzido
Para finalizar o trabalho, o professor prepara os textos produzidos pelos alunos para
publicação. Por exemplo, se trabalhou com artigos de opinião, pode publicá-los no
jornal local, jornal mural ou na internet. No caso dos poemas, pode apresentá-los em
um sarau ou organizá-los em uma coletânea. Se o gênero foi memórias literárias, pode
transformar os textos elaborados em um livro de memórias.
Por fim, para valorizar a conquista dos alunos, o professor pode promover uma
cerimônia especial de lançamento da publicação ou de inauguração do mural. Pode
ainda realizar um sarau com a participação das famílias dos alunos.

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