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MAURO NOGUEIRA FONTENELLE

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS


DE MINAS GERAIS

BELO HORIZONTE
UFMG – ESCOLA DE ENGENHARIA
2006
MAURO NOGUEIRA FONTENELLE

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS


DE MINAS GERAIS

Monografia apresentada ao DESA em atendimento a uma exigência


do Curso de Especialização em Engenharia Sanitária e Meio
Ambiente da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial à obtenção do título de Especialista em Engenharia Sanitária
e Meio Ambiente.

Área de Concentração: Meio Ambiente

Professor Orientador: Marcos von Sperling

BELO HORIZONTE
UFMG – ESCOLA DE ENGENHARIA
2006

ii 2
AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve uma contribuição inestimável de todos os autores de livros e


artigos que consultamos, pois de forma involuntária ajudaram com idéias,
informações e dados que possibilitaram o seu término.

Faço um agradecimento especial ao prof, Dr. Marcos von Sperling, que por meio de
suas aulas magistrais despertaram grande interesse de nossa parte sobre os temas
relativos ao tratamento de águas residuárias.

A ele externo também minha gratidão e amizade pela orientação espontânea,


dedicada e atenciosa quando da leitura e correção do texto final de nossa
monografia.

Agradeço também à Direção das EMPRESAS A, B e C (cujos nomes não são


citados face aos aspectos de confidencialidade), que abriram as portas de suas
empresas para me ajudar com informações, dados operacionais e fotografias que
pedi fossem tiradas.

Faço também um agradecimento especial a minha querida esposa que me


incentivou e deu força para que eu fizesse o curso de especialização em Engenharia
Ambiental no DESA - Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, da UFMG.

Ainda a minha querida esposa e a meus filhos agradeço pela compreensão quando
se viram privados de minha companhia durante incontáveis horas de aulas noturnas
e infindáveis fins de semana em que passei estudando.

Agradeço ainda a DEUS por me ter dado ânimo e persistência no desempenho


dessa tarefa.

iii3
RESUMO

O consumo mundial de leite atingiu a cifra média de 80 kg/hab/ano, em 2005. O Brasil está
numa situação confortável em relação a este valor, já que se estima que nosso consumo tenha
chegado a 138 kg/hab/ano em 2005. Essa situação é, entretanto, relativa, pois comparada com
alguns paises desenvolvidos, que consomem até 180 kg/hab/ano, temos muito a crescer nesse
aspecto. Considerando-se que na industrialização do leite se gasta, no Brasil, uma média de
até 5 litros de água por litro de leite processado, pode-se ter idéia de quanto efluente é gerado
a cada dia pelas indústrias de laticínios. Não bastasse o grande volume de efluente líquido
gerado, deve-se considerar que comparativamente ao esgoto doméstico, esse efluente tem uma
DBO5 de 2 a 10 vezes superior. Esse fato é muito grave porque tanto no Estado de Minas
Gerais como no Brasil, a maior parte dos laticínios descarta seus efluentes diretamente nos
corpos de água, sem nenhum tipo de tratamento. As conseqüências são bem conhecidas: a
matéria orgânica do efluente retira o oxigênio dissolvido na água para se estabilizar,
acarretando a morte dos peixes e outros organismos aquáticos por asfixia. Baseando-se nessas
informações e considerando que o Estado de Minas Gerais é o maior produtor de leite do
Brasil, com cerca de 28% do volume total produzido, essa monografia foi planejada de forma
a proporcionar uma visão geral da questão, no Estado de Minas. Assim, o trabalho contempla
informações da indústria de laticínios do Estado, em termos operacionais, tipos e volumes de
efluentes gerados, tecnologias em uso para tratamento dos efluentes e resultados obtidos em
três empresas visitadas pelo aluno. Esse trabalho apresenta também a seqüência das
operações de tratamento em cada empresa visitada e as fotografias correspondentes às
instalações industriais envolvidas nesse tratamento.

iv4
ABSTRACT

The average of world milk consumption has reached 80 kg/inh/year, in 2005. Brazil is in a
comfortable situation relatively to this datum if we consider that our consumption in 2005 has
reached 138 kg/inh/year. This comfortable situation is therefore relative and when we
compare it with some developed countries where the consumption has grown up till 180
kg/inh/year we realize we have a large way to go. Considering that it is spent an average of
about 5 liters of water per liter of milk processed in Brazil, one can have an idea about the
wastewater generated every day by the dairy industry. As if it was not enough the big volume
of the effluent produced, one has to consider that dairy effluent has a BOD from 2 to 10 times
greater than for domestic effluent. It is a big problem in the State of Minas Gerais and in
Brazil as a whole because the great majority of dairies make the disposal of its effluents
directly in the waterways without any kind of treatment. Consequences are well known:
organic material from effluents uses oxygen dissolved in water to be stabilized, carrying
fishes and other aquatic organisms to death by asphyxia. It was to promote a general view
about dairy effluents that this report was planned taking these information into account and
considering that the State of Minas Gerais is the biggest milk producer in Brazil, with 28% of
the total amount. So, this study contains data from the dairy industries in Minas Gerais in
terms of operation, types and volumes of produced wastewaters, different technologies in use
to treat these effluents and the obtained results in three industries visited by the student. This
study also presents the sequence of treatment operations in each of the industries visited and
the photos of the facilities involved in this treatment.

v5
SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS

1 – INTRODUÇÃO....................................................................................... ................ ........11

2 – OBJETIVO.................................................................................................. ........... .........12

3 – REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... .... .........13

3.1 - A indústria de laticínios de Minas Gerais......................................................... ........ .....13

3.2 – Os processos geradores dos principais efluentes líquidos e resíduos


sólidos destes efluentes, em empresas controladas pelo SIF................................... .......... ....13
3.2.1 - Processo de avaliação da qualidade do leite.................................................. ......... ....13
3.2.2 – Processo de recepção do leite ........................................................................ .......... ..14
3.2.3 – Processo de limpeza dos silos e de tanques de armazenamento de leite e soro .........15
3.2.4 – Processo de fabricação de queijo......................................................................... .... ..15
3.2.5 – Processo de fabricação de manteiga...................................................................... .. ..15
3.2.6 – Processo de limpeza e desinfecção.......................................................................... ..16
3.2.7 – Processo de limpeza de pisos em geral.................................................................... . .16

3.3 – Os efluentes líquidos..................................................................................................... 17

3.4 – Processo para redução de volume dos efluentes líquidos em uma indústria ..................17

3.5 - Tratamento dos efluentes líquidos das indústrias de laticínio.................................. .....17


3.5.1 – Considerações gerais.....................................................................................................17
3.5.2 - Tratamento preliminar................................................................................................. 21
3.5.3 – Tratamento primário.....................................................................................................22
3.5.3.1 - Caixas de gordura e flotadores................................................................................ 22
3.5.3.2 - Decantador primário...................................................................................................23
3.5.3.3 - Tanque de equalização e acerto de pH........................................................................23
3.5.4 – Tratamento Secundário............................................................................... ...............24
3.5.4.1 – Processos Anaeróbios................................................................................................24
a) Lagoa Anaeróbia...................................................................................................................24
b) RAFA ou UASB – Reator anaeróbio de fluxo ascendente...................................................25
c) Filtro Anaeróbio....................................................................................................................26
3.5.4.2 – Processos Aeróbios....................................................................................................27
a) Lagoa Aeróbia.......................................................................................................................27
a.1) Lagoa Aerada Facultativa..................................................................................................27
a.2) Lagoa Facultativa (não aerada)..........................................................................................28
b) Lodos Ativados.....................................................................................................................29
b.1) Lodos Ativados Convencional – Fluxo Contínuo.............................................................29
b.2) Lodos Ativados de Aeração Prolongada – Fluxo Contínuo..............................................29
c) Filtro Biológico Percolador...................................................................................................31

3.6 – Disposição do efluente líquido tratado.............................................................................31

vi6
3.6.1 – Análise crítica da disposição do efluente tratado no solo.............................................32
3.7 - Sólidos gerados nos processos de tratamento dos efluentes líquidos...............................33
3.7.1 – Tratamento e disposição do lodo..................................................................................33

4 – METODOLOGIA.......................................................................................................... ..35

5 – INDÚSTRIAS DE LATICÍNIOS VISITADAS, TECNOLOGIAS


USADAS E RESULTADOS DOS TRATAMENTOS DE EFLUENTES LÍQUIDOS...... ..36

5.1 - Empresa A.................................................................................................................... 36


5.1.1 – Dados gerais ............................................................................................................. 36
5.1.2 – Constituição do efluente......................................................................................... 36
5.1.3 – Fluxo de tratamento do efluente líquido da Empresa A.......................................... ..37
5.1.4 – Seqüência operacional do sistema de tratamento................................................... ...38
5.1.5 – Resultados do tratamento dos efluentes................................................................. 39
5.1.6 – Análise crítica e comentários acerca dos dados da tabela 8 .......................... ..40
5.1.7 – Geração de lodo no sistema de tratamento............................................................ ....41

5.2 – Empresa B.................................................................................................................... .41


5.2.1 – Dados gerais .......................................................................................................... ...41
5.2.2 - Constituição do efluente......................................................................................... ....42
5.2.3 – Geração de efluentes e descarte do lodo gerado....................................................... .42
5.2.4 – Fluxo de tratamento dos efluentes líquidos da Empresa B..................................... ...42
5.2.5 – Seqüência operacional do sistema de tratamento.................................................. ....43
5.2.6 – Resultados do tratamento dos efluentes.................................................................... .44
5.2.7 - Análise crítica e comentários acerca dos dados das tabelas 12 ....................... ...44

5.3 – Empresa C................................................................................................................. ....45


5.3.1 – Dados gerais ......................................................................................................... ....45
5.3.2 - Constituição do Efluente ........................................................................................... .46
5.3.3 – Fluxo de Tratamento dos Efluentes......................................................................... ..46
5.3.4 - Seqüência operacional do sistema de tratamento em lagoas................................... ...47
5.3.5 - Resultados do tratamento do efluente..................................................................... ...48
5.3.6 - Análise crítica e comentários acerca dos dados da tabela 14................................. ....49

6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................................... ....50

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... ..51

8 - ANEXOS ...................................................................................................................... ..52

8.1 – Fotografias da seqüência operacional de tratamento de efluentes da Empresa A..... ...52

8.2 – Fotografias da seqüência operacional de tratamento dos efluentes da Empresa B... ...55

8.3 – Fotografias da seqüência operacional do tratamento dos efluentes da Empresa C.... ...57

vii7
LISTA DE SIGLAS

CIP – Sistema de Limpeza de vasilhames, tanques e tubulações em laticínios (Cleaning in


place)

CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

COPAM: Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais

DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio

DN: Deliberação Normativa

DQO: Demanda Química de Oxigênio

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPA: Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos Estados


Unidos)

ETE: Estação de Tratamento de Efluentes

FEAM: Fundação Estadual do Meio Ambiente

IN: Instrução Normativa

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PCA: Plano de Controle Ambiental

RAFA ou UASB: Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente ou Upflow Anaerobic Sludge


Blanket

RC – Resolução CONAMA

SIF: Serviço de Inspeção Federal

viii
8
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classes das águas doce e respectivos usos, conforme a RC 20/86

Tabela 2: Características dos principais níveis de tratamento dos esgotos

Tabela 3: Principais mecanismos para remoção de poluentes no tratamento de águas


residuárias.

Tabela 4: Vantagens e limitações do sistema de lodos ativados

Tabela 5: Vantagens e limitações do sistema de disposição no solo.

Tabela 6: Consumo específico médio de água

Tabela 7: Seqüência operacional do tratamento do efluente na EMPRESA A

Tabela 8: Resultados do monitoramento do afluente e do efluente

Tabela 9: Parâmetros do COPAM para lançamento em corpo receptor

Tabela 10: Taxa média mensal de geração de resíduos sólidos e lodo

Tabela 11: Seqüência operacional do tratamento do efluente na EMPRESA B

Tabela 12: Resultados do monitoramento do afluente e do efluente

Tabela 13: Seqüência operacional do tratamento do efluente na EMPRESA C

Tabela 14: Informações sobre o afluente e efluente da EMPRESA C

ix
9
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Geração de efluente devido à limpeza de piso na EMPRESA B

Figura 2: Fluxograma geral de um sistema de tratamento de efluente

Figura 3: Desenho de um tratamento preliminar

Figura 4: Caixa de gordura da EMPRESA A

Figura 5: Flotador da EMPRESA B com raspadores movidos por correntes

Figura 6: Esquema simplificado de um tratamento primário

Figura 7: Tanque de equalização e acerto de pH, da EMPRESA A

Figura 8: Lagoa anaeróbia da EMPRESA C

Figura 9: Desenho esquemático do Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente

Figura 10: Desenho esquemático de filtro anaeróbio

Figura 11: Lagoa facultativa não aerada, da EMPRESA B

Figura 12: Desenho esquemático de sistema de Lodos Ativados Convencional

Figura 13: Desenho esquemático de sistema de Lodos Ativados de Aeração Prolongada

Figura 14: Desenho esquemático de sistema de Valos de Oxidação

Figura 15: Desenho esquemático do filtro biológico percolador

Figura 16: Leitos de secagem de lodo da EMPRESA A

Figura 17: Fluxograma do tratamento de efluentes da EMPRESA A

Figura 18: Fluxograma do tratamento e efluentes da EMPRESA B

Figura 19: Tanques para armazenamento de soro para doação, na EMPRESA C

Figura 20: Tratamento do efluente sanitário por meio de Fossa Séptica e Sumidouro

Figura 21: Tratamento do efluente do laticínio por uma seqüência de lagoas

x
10
1 – INTRODUÇÃO

A indústria de laticínios ocupa lugar de destaque em nível mundial por ser geradora de
produto básico para a nutrição e saúde humana.

Embora de inestimável importância para o desenvolvimento humano, o consumo “per capita”


de leite não tem acompanhado o crescimento populacional e sua oferta diminuiu nos últimos
anos em paises desenvolvidos, que concentram 65% da produção mundial. Um aspecto
também relevante e negativo é que o corte de subsídios ao setor de laticínios, na União
Européia, fez diminuir a oferta de leite em toda essa região. Outro aspecto igualmente
relevante é que vários paises apresentaram crescimento muito baixo ou negativo, como o
Japão, EUA, Canadá, Noruega e Suíça (MINAS AMBIENTE, 2002).

O mesmo tem ocorrido no Brasil, onde a evolução do consumo não tem acompanhado o
crescimento populacional e cuja produção de leite está praticamente estabilizada em 25
bilhões de litros/ano. Desse total, a região sudeste é a maior produtora, representando
aproximadamente 40%, no ano de 2004. Sozinhos, os estados de Minas Gerais, São Paulo,
Rio Grande do Sul, Goiás e Paraná respondem por mais de 65% da produção, sendo Minas o
maior produtor nacional, com cerca de 28% (Revista Leite e Derivados no 79, agosto de
2004).

Considerando-se que em média são gastos 5 litros de água para o processamento de 1 litro de
leite ou derivados, pode-se ter idéia do volume de efluentes líquidos de laticínios a serem
tratados. O tratamento destes efluentes é o foco do trabalho a ser desenvolvido pelo aluno.

11
2 – OBJETIVOS

Objetivo geral

Identificar as principais tecnologias de tratamento de esgotos sanitários e, dentre estas


tecnologias, aquelas que têm sido usadas para tratamento de efluentes líquidos em indústrias
de laticínios.

Objetivos específicos

- Conhecer as características da indústria de laticínios de Minas Gerais e os processos


geradores de efluente líquidos.
- Descrever e avaliar as soluções de tratamento implementadas em algumas indústrias
visitadas.
- Identificar as limitações existentes nos sistemas de tratamento dos efluentes líquidos,
nas indústrias visitadas.

12
3 – REVISÃO DE LITERATURA

3.1 - A indústria de laticínios de Minas Gerais

Minas Gerais é o maior produtor de leite e derivados no Brasil, respondendo por cerca de 28%
do total da produção.

São aproximadamente 1250 indústrias das quais mais da metade não tem controle do Serviço
de Inspeção Federal - SIF. A maioria é formada de pequenas indústrias com poucas opções de
produtos. Independentemente do porte, poucas são aquelas que têm destinação adequada para
seus efluentes líquidos e resíduos sólidos deles originados, sendo que a grande maioria
promove o descarte desses resíduos diretamente nos cursos d’água ou no solo, sem nenhum
tratamento.

A Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM tem desenvolvido um trabalho junto às


indústrias de laticínios tentando conscientizá-las para a necessidade de tratar seus efluentes
líquidos e outros resíduos, como forma de atenderem à legislação. Apesar desse esforço,
poucas têm sido as iniciativas nesse sentido e, por esse motivo, parte dessas indústrias poderá
ser penalizada e/ou, até mesmo, ter suas atividades interrompidas dentro de pouco tempo.

As pequenas indústrias, que são maioria, ainda recebem o leite em latões, de fornecedores
sem condições de refrigeração do leite. Esse fato aliado ao transporte do leite, muitas vezes
inadequado, coloca em risco sua qualidade já na recepção nas indústrias.

3.2 – Os processos geradores dos principais efluentes líquidos e


resíduos sólidos destes efluentes, em empresas controladas pelo
Serviço de Inspeção Federal - SIF
3.2.1 - Processo de avaliação da qualidade do leite
De cada carreta de leite recebida, são retiradas amostras em cada um dos compartimentos do
tanque e enviadas ao laboratório para avaliação de sua qualidade por meio de ensaios físico-
químicos e microbiológicos rápidos.

Nessa fase são feitos testes para determinação de acidez (Método titulométrico com solução
de NaOH 0,111N), da carga microbiana*, do teor de gordura (Método Gerber é o mais
usado), da presença de resíduos de antibióticos (Método Charm e Método Snap são os mais
usados), eventual fraude por adição de água (Crioscopia)** , desnate*** e/ou fraude por
adição de soro (Método colorimétrico)

*Pela IN 51 de setembro de 2002, pelo menos uma vez por mês, deve-se colher amostra do
leite de cada produtor para que seja feita avaliação por um laboratório credenciado. Na região
metropolitana de Belo Horizonte o laboratório credenciado é o da UFMG.

** Esse teste é feito em todo leite recebido.

*** A conclusão sobre existência ou não do desnate depende de análise crítica dos
parâmetros seguintes: % de gordura, % de estrato seco (Total ou desengordurado) e resultado
da crioscopia.

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Nessa fase de avaliação da qualidade do leite, é possível que seja constatada a eventual
acidificação do leite. É o leite ácido.

O leite, ao sair do úbere, é ligeiramente ácido - em torno de 16 a 20º Dornic - equivalente a


um pH de 6,6 a 6,7, cerca de 1,60 a 2,00 gramas de ácido láctico por litro. Pelas normas
vigentes, o leite é considerado ácido se apresentar uma acidez acima de 18º Dornic. Uma
acidez acima de 18º Dornic é proveniente da acidificação do leite, causada pelo
desdobramento da lactose provocada por germes que se acham em multiplicação no leite. À
medida que o tempo passa, a acidez aumenta, por influência da temperatura e, principalmente,
pela falta de higiene com os equipamentos utilizados durante a ordenha (SCARLATELLI,
1996).

Uma acidez superior a 18º Dornic, corresponde a valores de pH inferiores a 6,5. Devido aos
processos de refrigeração do leite na origem e seu transporte em caminhões isotérmicos,
pode-se dizer que atualmente o leite ácido não chega mais às indústrias de maior porte.

Se, eventualmente, esse fato ocorrer, o leite ácido pode ter destinações diversas como:
- devolução ao produtor;
- utilização para produção de produtos como queijo parmesão, requeijão, mussarela, etc.
- utilização como ração animal, e
- descarte como efluente a ser tratado, o que representará simplesmente custo para a indústria.

O grande problema hoje está relacionado com o leite que apresenta resultado positivo no teste
de resíduos de antibióticos. Há uma fuga de responsabilidades entre o Ministério da
Agricultura e Ministério do Meio Ambiente quanto ao destino ideal desse leite contaminado.

Conceitualmente, este leite não deve ser devolvido ao produtor, para que não venha ser
destinado a outra indústria, mas retê-lo e/ou processá-lo como efluente é um custo que onera
indevidamente a indústria.

Quando no teste de crioscopia fica comprovada a adição de água ao leite, o fornecedor é


proporcionalmente penalizado, com descontos exigidos pela indústria. Embora o maior
percentual do leite seja constituído de água, sua adição ao leite constitui prática fraudulenta
que poderá levar à contaminação do leite e fatalmente à perda de seu valor nutritivo face à
diluição do mesmo.

3.2.2 – Processo de recepção do leite


As carretas que chegam às indústrias são lavadas externamente para uma limpeza grosseira.
Em seguida é efetuado o descarregamento do leite e, em seqüência, limpeza interna de seu
tanque na seguinte seqüência:
a) Enxágüe com água potável a 40º C.
b) Limpeza com solução alcalina (NaOH) a 1%, a 75º C.
c) Enxágüe com água potável à temperatura ambiente.
OBS: Um mesmo caminhão / carreta deve ter seu tanque limpo, uma vez por semana,
adicionalmente à seqüência anterior, com solução ácida (HNO3) a 1% e a 75º C. Após essa
limpeza, deve-se fazer enxágüe com água à temperatura ambiente, novamente.

14
3.2.3 – Processo de limpeza dos silos e de tanques de armazenamento de leite e soro.

Esse processo é o mesmo adotado na recepção de leite, gerando o mesmo tipo de efluente.

3.2.4 – Processo de fabricação de queijo

O queijo pode ser considerado como um concentrado de proteína e gordura do leite, obtido
pela precipitação ou coagulação da caseína que, arrastando a gordura, vai formar o coágulo. A
caseína coagulada e a gordura são separadas do soro, moldadas, salgadas, maturadas ou não,
dependendo do tipo de queijo a ser elaborado. (MINAS AMBIENTE, 2002)

O soro é a parte líquida do leite resultante da produção de queijos. A sua composição varia de
acordo com a composição do leite processado e de acordo com as perdas dos constituintes do
leite, durante os processos de fabricação dos diversos tipos de queijos. O teor de água do soro
varia entre 91 e 95% e o seu extrato seco é bastante reduzido, em média, 7% do peso total. Na
composição desse extrato tem-se 70 a 80% de lactose, 10 a 14% de compostos nitrogenados
(proteínas), 1,5 a 4% de minerais e 0,05 a 0,6% de lipídios (gordura) (GREIG e HARRIS,
1983; MELLO, 1987).

O soro pode ser ácido (quando há adição de ácido láctico ao leite) ou doce (quando há adição
de fermento e coalho ao leite). Ele é gerado na proporção aproximada de 90% do total do
leite processado. Esse soro pode ser aproveitado total ou parcialmente, principalmente na
fabricação de soro em pó, ricota, bebidas lácteas e lactose. Quando não aproveitado
internamente em uma indústria, o soro é normalmente vendido para outra empresa.

Se o soro se acidifica naturalmente, ele é doado para aproveitamento como ração animal.
Conceitualmente, poderia ser tratado como efluente, mas isso não é feito devido ao alto custo
incorrido.

3.2.5 – Processo de fabricação de manteiga

A manteiga é o produto obtido pela aglomeração mecânica da matéria gorda do leite.


Do leite de qualidade, na indústria, é retirado o creme por meio do processo de centrifugação.
O creme é uma massa opaca, amarelada e formada por um aglomerado de glóbulos
gordurosos de 1,3 a 10 micras, bem como de pequenas porcentagens de outros elementos do
leite que os acompanham.

O creme fermentado ou maturado é levado para ser batido em equipamento apropriado


(batedeira), por meio de “tombos” sucessivos contra as pás e paredes desse equipamento. A
bateção persiste até que seja feita toda a separação do leitelho – líquido que se separa do
creme, que, quando puro, tem uma composição aproximada à composição do leite desnatado
(MINAS AMBIENTE, 2002).

O leitelho típico contém: 90% de água, 4,4% de lactose, 3,5% de proteínas, 0,2% de gordura,
0,6% de ácido láctico e 0,7% de minerais. O leitelho é um produto que pode ser obtido
quando da acidificação total ou parcial do leite desnatado e pasteurizado, após receber um
cultivo de bactérias lácticas selecionadas (Lactobacillus bulgaricus, Streptococcus lactis ou a
mistura de ambos, e outros). Ele conterá, no mínimo, 8,5% de sólidos do leite, excluída a
gordura. Incuba-se o leite a 37°C até que a acidez alcance 0,75-0,85%, expresso em ácido

15
láctico. Agita-se bem para se obter um produto homogêneo e cremoso e armazena-se em
temperatura baixa para que sua acidez não aumente. (MONTES, 1997).

Com 100 kg de creme com 37% de gordura tem-se 37 kg de gordura pura + leite + água.
Desse total obtém-se 45,12 kg de manteiga + 54,88 kg de leitelho puro + 6,44 litros de
leitelho aguado, oriundo da lavagem da manteiga com água gelada ainda no interior da
batedeira. O leitelho é portanto um subproduto do processo de fabricação da manteiga que
poderá ser misturado ao soro para aproveitamento na fabricação de leite em pó modificado ou
na produção de bebidas lácteas. Na fase de bateção há uma eliminação natural de parte do
leitelho por dispositivo da própria batedeira. Este leitelho que cai no chão é posteriormente
lavado, formando um efluente que é encaminhado ao tratamento para diminuir ou eliminar
sua carga poluidora. (Tecnólogo da EMPRESA A)

3.2.6 – Processo de limpeza e desinfecção

No processo de limpeza e desinfecção de utensílios, tubulações e equipamentos, que é o


mesmo já descrito para limpeza dos tanques das carretas - item 3.2.2, ocorre a geração de um
efluente líquido constituído de água misturada a determinados produtos químicos, leite, polpa
de frutas usada na fabricação de iogurte, resíduos de bebidas lácteas em geral e pedaços de
produtos sólidos de derivados do leite.

Esse efluente, como os demais anteriormente considerados, possui forte carga poluidora em
termos de DBO e por essa razão deve ser tratado, como nos casos anteriores, antes de seu
lançamento nos corpos receptores.

3.2.7 – Processo de limpeza de pisos em geral

Em praticamente todos os processos operacionais de um laticínio há perdas naturais e


derramamentos eventuais que acabam nos pisos. Estes pisos são diariamente lavados e geram
efluente de água misturada a essas perdas ou derramamentos, conforme pode ser visto abaixo.

Figura 1 - Geração de efluente devido à limpeza de piso na EMPRESA B

16
3.3 – Os efluentes líquidos

Como visto em 3.2, os principais efluentes líquidos são os seguintes:


- soro acidificado naturalmente e não encaminhado para alimentação animal, gerado no
processo de fabricação de queijo;
- leitelho e água, gerado no processo de fabricação de manteiga, e
- mistura água, leite e sólidos de derivados do leite, gerada quando da limpeza e desinfecção
de utensílios, tubulações, equipamentos, tanques das carretas e pisos.
Esses efluentes devem ser tratados antes de lançados nos corpos de água ou no solo.
Entretanto, independentemente do tratamento e das tecnologias envolvidas neste tratamento,
devem ser tomadas ações para redução do volume desses efluentes.

3.4 – Processo para redução de volume dos efluentes líquidos em uma


indústria

Inicialmente deve-se fazer um levantamento para identificação dos efluentes, quantificação


dos volumes e análise físico-química dos mesmos. De posse desses dados iniciais deve-se
definir um processo de redução e controle dos volumes gerados, objetivando diminuição das
dimensões dos sistemas de tratamento e dos investimentos em tecnologias e gastos
necessários à diminuição das cargas poluidoras. Esse processo poderia incluir programas
específicos como os seguintes:

a - segregação da maior parte possível dos despejos em condutos separados para posterior
destinações específicas;
b – recirculação da água não poluente (refrigeração, etc);
c – redução da concentração de NaOH e HNO3 nas operações de limpeza (sistema CIP -
cleaning in place) e desinfecção.
d – utilização da última água do sistema CIP como água de reposição para desinfecção e/ou
limpeza inicial.
e – redução de: transbordamentos com instalação de controladores de nível; vazamentos
mediante manutenções corretivas imediatas e execução de preventivas programadas; perdas
acidentais mediante maior conscientização e cuidados operacionais. (BRAILE e
CAVALCANTI, 1970)

Se os volumes são reduzidos, tanto as dimensões das instalações poderão ser menores como
também os gastos com infra-estrutura, pessoal, dispositivos de controle e medições e insumos
para tratamento. Assim, também, se os volumes a serem tratados são menores, menores
também serão os volumes descartados / pós-tratamento e maiores serão as facilidades de
enquadramento à legislação aplicável.

3.5 - Tratamento dos efluentes líquidos das indústrias de laticínios

3.5.1 – Considerações gerais

Um sistema de tratamento de efluentes domésticos pode ser composto por processos físicos,
químicos e biológicos. Nos primeiros predomina a aplicação de forças físicas (Ex:
gradeamento, mistura, floculação, sedimentação, flotação, filtração). Nos processos químicos
a remoção ou conversão dos contaminantes ocorre devido à adição de produtos químicos ou
reações químicas (Ex: precipitação, adsorção, desinfecção). Nos processos biológicos a

17
remoção dos poluentes se dá por meio da atividade biológica dos micro-organismos (Ex:
remoção da matéria orgânica carbonácea, desnitrificação, etc). (von SPERLING, 2005).

Nas indústrias de laticínios os efluentes líquidos também podem ser tratados com tecnologias
disponíveis para tratamento de esgotos domésticos, pelos mesmos processos físicos, químicos
e biológicos em níveis preliminar, primário, secundário e terciário. O tratamento terciário de
efluentes nas indústrias de laticínios ainda é raro, no Brasil.

Nos estudos de concepção do sistema de tratamento de efluentes líquidos, devem ser bem
caracterizados os seguintes aspectos:
• impacto ambiental do lançamento no corpo receptor
• objetivo do tratamento (principais constituintes a serem removidos)
• nível do tratamento;
• eficiências de remoção desejadas.

Em relação ao impacto ambiental, devem ser feitos estudos quanto aos níveis de poluição por
matéria orgânica, contaminação por microrganismos patogênicos, eutrofização dos corpos
d’água e grau esperado de atendimento à legislação aplicável (von SPERLING, 2005).

Por sua vez, o objetivo principal é o atendimento à legislação aplicável e, nesse aspecto, duas
referências devem ser consideradas. São elas:
Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 357/05 : dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e
DN (Deliberação Normativa) 010/86 do COPAM (Conselho de Política Ambiental):
estabelece normas e padrões para a qualidade das águas e lançamento de efluentes nas
coleções de águas, para o Estado de Minas Gerais. A razão de se referir à DN 010 se deve ao
fato de conceitualmente uma legislação estadual poder ser mais restritiva que uma federal.

A RC (Resolução CONAMA) 357/05 classifica as águas de nosso território em águas doce


(salinidade ‹ 0,5%), salobras (salinidade entre 0,5% e 30%) e salinas (salinidade › 30%).

A seguir, na tabela 1, é mostrada uma adaptação da RC 357/05, exclusivamente para águas


doce.

Tabela 1: Classes das águas doce e respectivos usos


Classes das águas doce
Uso Especial 1 2 3 4
Abastecimento para consumo humano X (a) X (b) X (c) X (d)
Preserv. equilíbrio natural das comunidades aquáticas X
Preserv. de amb. aquát. em unid. de conserv. de prot. integral X
Proteção das comunidades aquáticas X (h) X
Recreação de contato primário (*) X X
Irrigação X (e) X (f) X (g)
Aqüicultura e atividade de pesca X
Pesca amadora X
Dessedentação de animais X
Recreação de contato secundário X
Navegação X
Harmonia paisagística X
(a) com desinfecção
(b) após tratamento simplificado
(c) após tratamento convencional
(d) após tratamento convencional ou avançado

18
(e) hortaliças consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem
remoção de película
(f) hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa
vir a ter contato direto
(g) culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras
(h) de forma geral, e em comunidades indígenas
(*) conforme Resolução CONAMA 274/2000

A remoção dos poluentes objetivando adequar à legislação está associada aos conceitos de
nível e eficiência do tratamento (von SPERLING, 2005).
Quanto aos níveis de tratamento, as seguintes opções são possíveis:

Tratamento preliminar: objetiva apenas a remoção dos sólidos grosseiros.


Tratamento primário visa à remoção de sólidos sedimentáveis e parte da matéria orgânica.
Em ambos predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes.
Tratamento secundário: há predominância de mecanismos biológicos e seu objetivo é
principalmente a remoção de matéria orgânica e eventualmente nutrientes (Nitrogênio e
fósforo).
Tratamento terciário: objetiva a remoção de poluentes específicos (Usualmente tóxicos ou
compostos não biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de poluentes não
suficientemente removidos no tratamento secundário.
Nota:
Os níveis de tratamento acima listados são típicos no tratamento de esgotos e são também usados, nessa monografia, a
exemplo do livro Minas Ambiente – Controle Ambiental nas Pequenas e Médias Indústrias de Laticínios.

A tabela 2 é bem elucidativa quanto às características de cada nível.

Tabela 2: Características dos principais níveis de tratamento dos esgotos


Nível (1)
Item Preliminar Primário Secundário
Sólidos grosseiros Sólidos sedimentáveis Sólidos não sedimentáveis
DBO em suspensão DBO em suspensão fina
Poluentes removidos DBO solúvel
Eventualmente nutrientes
Eventualmente patógenos
- SS: 60 a 70% DBO: 60 a 98%
Eficiência de remoção DBO: 25 a 35% Coliformes: 60 a 99%
Coliformes: 30 a 40%
Mecanismo de tratamento Físico Físico Biológico
predominante
Cumpre padrões de Não Não Usualmente sim
lançamento usuais? (2)
Montante de Tratamento parcial Tratamento mais completo (para
elevatória. Etapa intermediária de remoção de matéria orgânica)
Aplicação Etapa inicial de tratamento mais completo
todos os processos
de tratamento

Notas:
1) Uma ETE em nível secundário usualmente tem tratamento preliminar, mas pode ou não ter tratamento primário (depende do
processo)

(2) Padrão de lançamento, tal como expresso nas legislações ambientais estaduais mais usuais. O órgão ambiental poderá
autorizar outros valores para o lançamento, caso estudos ambientais demonstrem que o corpo receptor continuará enquadrado
dentro da sua classe. (von SPERLINGg, 2005)

Deve-se observar, no entanto, que a eficiência de remoção mostrada na tabela é válida para
tratamento de esgoto doméstico e pode não ser válida para o efluente típico da indústria de
laticínios.

A análise da eficiência de remoção é importante para se manter a qualidade das águas dos
corpos receptores dentro das condições estabelecidas para suas respectivas classes. Para tanto,

19
deve-se ter como referência a tabela 3 que apresenta os principais mecanismos para remoção
de poluentes de águas residuárias.

Tabela 3: Principais mecanismos para remoção de poluentes no tratamento de águas


residuárias
Poluente Dimensões Principais mecanismos para remoção
Sólidos Maiores dimensões Gradeamento Retenção de sólidos com dimensões superiores ao
(maiores que 1cm) espaçamento entre barras.
Dimensões Sedimentação Separação de partículas com densidade superior à do
intermediárias esgoto.
(maiores que 0,001mm)
Dimensões diminutas Adsorção Retenção na superfície de aglomerados de bactérias ou
(menores que 0,001 mm) biomassa.
Matéria Dimensões superiores a Sedimentação Separação de partículas com densidade superior à do
orgânica 0,001mm esgoto.
Adsorção Retenção na superfície de aglomerados de bactérias ou
biomassa.
Estabilização Utilização pelas bactérias como alimento, com
conversão a gases, água e outros compostos inertes.
Dimensões inferiores a Adsorção Retenção na superfície de aglomerados de bactérias ou
0,001mm biomassa.
Estabilização Utilização pelas bactérias como alimento, com
conversão a gases, água e outros compostos inertes.
Organismos Radiação ultra- Radiação do sol ou artificial
transmissores violeta
de doenças Condições Temperatura, pH, falta de alimento, competição com
ambientais adversas outras espécies.
Desinfecção Adição de algum agente desinfetante, como o cloro.
(BARROS et al., 1995)

Na escolha e aquisição de mecanismos e tecnologias aplicáveis, e economicamente viáveis, é


de fundamental importância que se possa garantir o treinamento e efetiva qualificação do
pessoal que irá operá-los.

Outro aspecto relevante a ser considerado antes da identificação de mecanismos e tecnologias


de tratamento de efluentes é a adoção de ações visando à redução dos volumes gerados e de
suas respectivas cargas poluidoras, conforme já explicitado em 3.4.

Deve-se esclarecer que o sucesso na implementação dessas ações depende fundamentalmente


da qualificação e motivação das equipes de produção e manutenção de equipamentos, pois a
qualificação inadequada e a falta de motivação dessas equipes são as duas principais causas
de perdas operacionais, levando à geração de grandes volumes de efluentes e à conseqüente
perda de produtividade das indústrias.

Tendo sido apresentados os aspectos de impactos ambientais, objetivos e níveis de tratamento


e de eficiência de remoção, apresenta-se agora uma alternativa de fluxograma geral de um
sistema de tratamento de efluentes de laticínios.

20
Tanque de equalização e
acerto de pH

Tratamento Tratamento
Tratamento Tratamento Secundário Corpo
Preliminar Primário
Primário receptor

-Grade / Peneiras -Caixa de gordura / Flotador


-Desarenador -Decantador primário

Anaeróbio Aeróbio Disposição no solo


-Lagoa anaeróbia -Lagoa aeróbia
-RAFA ou UASB -Lodos ativados
-Filtro anaeróbio -Filtro biológico

Tratamento do lodo:
-Leito de secagem
-Filtro prensa

Figura 2: Fluxograma geral de um sistema de tratamento de efluente, adaptado de MINAS


AMBIENTE, 2002

Esse fluxograma apresenta uma concepção geral das tecnologias disponíveis para as indústrias
de laticínios, mas deve-se ter em mente que a configuração efetiva a ser adotada por um dado
laticínio vai depender dos tipos de efluentes, suas características, volumes gerados e classe do
corpo receptor do efluente após tratamento. Independentemente desses fatores, são
apresentadas a seguir as diferentes tecnologias do fluxograma proposto.

3.5.2 - Tratamento preliminar

Como dito anteriormente, este tratamento se destina à remoção de material grosseiro,


inclusive areia, por meios físicos.
Os principais equipamentos utilizados no tratamento preliminar são as grades, peneiras e
caixas para deposição de areia ou caixas de desarenação.

As grades são normalmente feitas de barras de aço paralelas com aberturas compatíveis com o
tamanho dos sólidos que se quer reter. As barras podem ser verticais ou inclinadas. É
importante que sejam freqüentemente desobstruídas para evitar que o nível do efluente a
montante se eleve de tal forma que se corra o risco de um maior fluxo de maior velocidade, no
momento da desobstrução, venha a carrear o material que se planejou reter.

As peneiras têm o mesmo objetivo, mas promovem a retenção de material bem mais fino.

Após sua separação, os sólidos grosseiros podem ser removidos de forma manual ou por
dispositivos mecânicos e essa remoção tem as seguintes finalidades:
- proteger as unidades de tratamento
- proteger as bombas e tubulações e
- melhorar a qualidade estética dos corpos receptores.

21
Especificamente sobre a areia, oriunda principalmente da lavagem de pisos e caminhões na
plataforma de recepção de leite, sua remoção objetiva:
- evitar a abrasão nos equipamentos e tubulações,
- eliminar ou diminuir a possibilidade de entupimento em tubulações e outras unidades do
sistema de tratamento, e
- facilitar o transporte do líquido.

A figura 3 mostra um desenho para o tratamento preliminar.

Nível de efluente
Grade
Chegada do afluente
Saída do efluente

Caixa de areia
Areia sedimentada

Tratamento Preliminar

Figura 3: Desenho de um tratamento preliminar, adaptado de


BARROS et al., 1995.

3.5.3 - Tratamento primário

Conforme tabela 2, o objetivo do tratamento primário é a remoção de sólidos em suspensão


sedimentáveis e DBO em suspensão (sólidos flutuantes). Para tanto são normalmente usados
caixas de gordura e flotadores.
As principais finalidades da remoção de gordura são:
• evitar obstrução de tubulações,
• evitar aderência nas peças especiais da rede de esgotos,
• evitar acúmulo nas unidades de tratamento, o que provoca odores desagradáveis e
problemas no funcionamento dos dispositivos de tratamento, e
• evitar aspectos desagradáveis nos corpos receptores. (MINAS AMBIENTE, 2002, p.
111)

3.5.3.1 - Caixas de gordura e flotadores

Nestas caixas o material flutuante de menor densidade como óleos e graxas são removidos na
superfície juntamente com parte da matéria orgânica. A remoção, nos laticínios visitados pelo
aluno era manual e as caixas eram de pequenas dimensões. As fotos que se seguem, mostram
uma caixa de gordura da EMPRESA A e um flotador da EMPRESA B.

22
Figura 4 - Caixa de gordura da Figura 5 - Flotador da EMPRESA B
EMPRESA A com raspadores movidos por
correntes

3.5.3.2 - Decantador primário

Neste equipamento, que pode ter forma circular ou retangular, o efluente entra pela parte
inferior e é distribuído na superfície por uma haste rotativa ou jorra na parte central do
equipamento. Os sólidos suspensos mais pesados que a parte líquida se sedimentam e vão
para o fundo. O material sedimentado é chamado de lodo primário bruto.

Este lodo pode ser removido por meio de raspadores ou por sucção por meio de bombas e
enviado para tratamento em digestores anaeróbios. Após esses processos e antes da disposição
final o lodo deverá ter sua umidade reduzida ao máximo em leitos de secagem, filtro prensa
ou ambos. Quando o sistema de tratamento incluir lodo ativado, os decantadores primários
podem deixar de ser usados. Aliás, nenhuma das empresas visitadas pelo aluno usava
decantador primário.

A figura 6 mostra um esquema simplificado de um tratamento primário.

Cx. Gordura / Flotador


Decantador primário
Chegada
do afluente

Saída efluente p/
trat. secundário
Efluente
Saída do Lodo
decantado

Tratamento Tratamento
preliminar primário

Figura 6: Esquema simplificado de um tratamento primário, adaptado de


BARROS et al., 1995

3.5.3.3 - Tanque de equalização e acerto de pH

O tanque de equalização visa à homogeneização, controle de vazão do efluente e, se


necessário, acerto de seu pH, antes de ser enviado às etapas seguintes de tratamento.

23
Eventualmente, ele pode ser posicionado após a caixa de gordura e antes do flotador ao qual
se fez referência no item 3.5.3.1. Um exemplo de tanque de equalização é mostrado a seguir.

Figura 7 - Tanque de equalização e acerto de pH, da EMPRESA A

3.5.4 – Tratamento secundário

A principal característica do tratamento secundário é a tentativa de se reproduzir as condições


naturais de remoção biológica dos poluentes do efluente, mediante estabilização da matéria
orgânica, pela ação de microrganismos, através de processos bioquímicos que ocorrem em
condições ambientais de temperatura e pH favoráveis. Tem a vantagem de fazê-lo em menor
tempo, menor espaço e sob condições controladas.

O tratamento secundário objetiva a remoção dos seguintes poluentes:


• Matéria orgânica em suspensão fina, remanescente do tratamento primário (DBO
suspensa ou particulada);
• Matéria orgânica na forma de sólidos dissolvidos (DBO solúvel), a qual não é
removida no tratamento primário.

Esse tratamento é o único que possui eficiência capaz de atender aos padrões de lançamento
da legislação ambiental. O tratamento nessa fase pressupõe as operações do tratamento
preliminar, mas pode prescindir dos equipamentos de tratamento primário. (BARROS et al.,
1995)

Como visto no fluxograma mostrado na figura 2, essa etapa de tratamento envolve processos
anaeróbios e aeróbios

3.5.4.1 – Processos Anaeróbios

a) Lagoa Anaeróbia

Esta lagoa é normalmente profunda, variando de 4 a 5 metros. A profundidade tem a


finalidade de impedir que o oxigênio produzido na superfície, alcance as camadas mais
profundas da lagoa. A matéria orgânica com maior densidade que a fase líquida se
sedimentada no fundo e é estabilizada pela ação de microrganismos em ausência de oxigênio.
A ausência de oxigênio se deve ao fato de se lançar grande quantidade de efluente por
unidade de volume da lagoa, produzindo grossa camada de escuma na superfície e impedindo
a penetração da luz solar, inibindo o desenvolvimento de algas e a penetração do oxigênio. A
eficiência dessa lagoa em relação à remoção de DBO é da ordem de 50 a 70% e a geração de
lodo é baixa devido ao longo tempo de permanência do mesmo no fundo da lagoa
24
(aproximadamente 20 anos). Outra característica desta lagoa é a sua pequena área superficial,
quando comparada com sua profundidade (von SPERLING, 2005).

A figura 8 ilustra a lagoa anaeróbia da EMPRESA C.

Figura 8 – Lagoa anaeróbia da EMPRESA C

b) RAFA ou UASB – Reator anaeróbio de fluxo ascendente

Este reator é também conhecido com dois outros nomes: Reator de fluxo ascendente e manta
de lodo e Reator UASB, cuja sigla vem de seu nome em inglês (Upflow anaerobic sludge
blanket). Apesar de o aluno não ter visto esse equipamento em funcionamento em um
laticínio, mas considerando que ele foi contemplado no fluxograma geral de tratamento de
efluente, mostrado na figura 2, apresenta-se, a seguir, resumo de seu funcionamento, adaptado
de MINAS AMBIENTE, 2002.

O efluente contendo matéria orgânica entra pelo fundo do reator e sobe encontrando o lodo
que está na zona de digestão, onde ocorre a digestão anaeróbia com produção do gás metano.
As partículas suspensas aderem à parte inclinada externa, do separador de fases, e ao se
acumularem e, em função de seu peso, se desprendem e voltam à zona de digestão e ao fundo
do reator.

No corte do equipamento, pode-se ver que os gases são direcionados ao centro do reator,
pelos defletores de gases, e são liberados pela parte superior. Lateralmente, na parte superior
sai também o efluente tratado.

25
Saída de Gás

Efluente
Separador Tratado
Trifásico

Defletor de
Gases

Manta de
Lodo

Leito de
Lodo

Efluente
Industrial

Figura 9: Desenho esquemático do Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente, extraído de


MINAS AMBIENTE, 2002

Esses reatores podem ser construídos em formas cônica, tronco-cônica, cilíndrica, prismática
ou retangular e em diferentes materiais como concreto armado, aço, PVC, fibra de vidro ou
cimento amianto. A principal característica desse equipamento é o separador de fases e duas
zonas conhecidas como leito de lodo e manta de lodo. No leito de lodo, a concentração em
sólidos totais está compreendida entre 40 e 100 g/L. A manta de lodo, por sua vez, é
constituída por sólidos em suspensão onde se encontram aderidos microrganismos anaeróbios,
cuja atividade é responsável pela degradação da matéria orgânica. À medida que os sólidos
que constituem a manta aumentam sua massa, sedimentam-se e passam a constituir o leito de
lodo. Periodicamente, o lodo constituinte do leito deve ser retirado e submetido a tratamento
adequado.

c) Filtro Anaeróbio

Este filtro opera normalmente com fluxo ascendente, de forma que o efluente entra pela parte
inferior e sai tratado na parte superior. O tratamento do efluente se dá basicamente pela ação
de microrganismos aderidos ao meio suporte, que pode ser constituído de pedra britada,
blocos cerâmicos, anéis plásticos, escória, esferas de polietileno, etc, no qual a biomassa fica
aderida. Um dos principais problemas operacionais dos filtros anaeróbios é a colmatação ou
entupimento do meio suporte. (MINAS AMBIENTE, 2002)

Esse filtro opera freqüentemente tratando efluentes de tanques ou fossas sépticas. Trata-se do
sistema chamado tanque séptico / filtro anaeróbio, onde o tanque séptico remove a maior parte
dos sólidos em suspensão que após sedimentarem sofrem digestão anaeróbia no fundo do

26
tanque, ficando a remoção complementar da DBO por conta do filtro anaeróbio. (von
SPERLING, 2005).

A figura 10 apresenta um desenho esquemático desse filtro.

Saída de Gás

Efluente
Tratado

Meio Suporte
Efluente
Industrial

Descarte do Lodo

Figura 10: Desenho esquemático de filtro anaeróbio, extraído de MINAS AMBIENTE, 2002

3.5.4.2 – Processos Aeróbios

a) Lagoa Aeróbia

Lagoas aeróbias são processos de tratamento biológico de efluentes com custo moderado
quando comparadas com sistema de lodos ativados.

A indústria de laticínios usa, normalmente, lagoas de estabilização aeróbias que podem ser
lagoas facultativas aeradas ou não. Pode-se optar também pelo processo australiano, que
associa uma lagoa anaeróbia seguida de uma lagoa facultativa. A adoção desse último
processo apresenta a vantagem de necessitar de uma área inferior àquela de uma única lagoa
facultativa (von SPERLING, 1995, apud MINAS AMBIENTE)

a.1) Lagoa Aerada Facultativa

Esta lagoa difere da lagoa facultativa convencional pelos motivos apresentados abaixo:
• O oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos, enquanto nas lagoas facultativas ele
é fornecido pela fotossíntese realizada pelas algas.
• Exige menor área e menor volume, pois a maior introdução de oxigênio no meio
líquido faz com que o volume necessário seja menor assim como o tempo de detenção
(5 a 10 dias) e, como conseqüência, menor área.

27
Por outro lado, há uma semelhança com as lagoas facultativas convencionais. Enquanto a
energia mecânica gerada pelos aeradores é suficiente para a obtenção do oxigênio, o mesmo
não ocorre quanto à manutenção dos sólidos (bactérias e sólidos do esgoto) em suspensão na
massa líquida. Esse fato faz com que haja sedimentação da matéria orgânica, formando o lodo
no fundo da lagoa, o qual será estabilizado anaerobiamente como numa lagoa facultativa
convencional. (von SPERLING, 2005).
a.2) Lagoa Facultativa (não aerada)

É uma lagoa de fácil operação, já que não possui equipamentos de aeração. Dependendo da
profundidade, pode apresentar 3 zonas distintas: a parte superficial ou aeróbia, o fundo da
lagoa ou zona anaeróbia e a parte intermediária ou zona facultativa, onde a estabilização da
matéria orgânica se dá por bactérias facultativas que podem sobreviver tanto na presença
como na ausência de oxigênio.

Essas lagoas têm normalmente profundidade variando de 1,5 a 2,0 metros e larga aplicação
em regiões tropicais onde há grandes períodos de insolação, ao logo de todo o ano. Outro
aspecto relevante para adoção dessas lagoas, adicionalmente à grande necessidade de
incidência de luz solar, é a disponibilidade de áreas com preço competitivo. Nessas lagoas o
afluente entra por um lado e sai pelo outro. Face à grande área dessas lagoas, o tempo de
detenção do efluente em processo, usualmente é superior a 20 dias.

Uma característica dessas lagoas é o equilíbrio entre consumo e produção de oxigênio e gás
carbônico na zona aeróbia. Enquanto as bactérias consomem oxigênio e produzem gás
carbônico, através da respiração, as algas agem inversamente na realização da fotossíntese. As
reações envolvidas são praticamente as mesmas com direções opostas, como mostrado a
seguir.
Fotossíntese: CO2 + H2O + Energia solar Matéria Orgânica + O2

Respiração: Matéria Orgânica + O2 CO2 + H2O + Energia

O tratamento de efluentes em lagoas seqüenciadas tem eficiência quase sempre superior a


90% em termos de DBO e é mais barato que outros processos convencionais, mas demanda
muita área.

Figura 11 - Lagoa facultativa não aerada, da EMPRESA B,


com aproximadamente 7.000 m2

28
b) Lodos Ativados

O lodo ativado é o floco produzido num esgoto bruto ou decantado pelo crescimento de
bactérias zoogléias ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido e acumulado em
concentração suficiente graças ao retorno de outros flocos previamente formados no tanque de
decantação (JORDÃO e PESSOA, 1995, apud MINAS AMBIENTE, 2002).

O sistema de lodos ativados é um tratamento biológico cujo objetivo principal é a remoção da


matéria orgânica ainda presente no efluente do tratamento primário. O sistema é normalmente
constituído de uma unidade de aeração (Reator aeróbio ou valo de oxidação) e outra de
decantação (Decantador secundário). Para aumentar-se a eficiência do sistema, o lodo
depositado no fundo do decantador secundário retorna ao aerador.

A seguir, aborda-se as principais variações do sistema de lodos ativados.

b.1) Lodos Ativados Convencional – Fluxo Contínuo

Nessa variante, pressupõe-se a existência de um decantador na fase primária de tratamento do


afluente. O sistema convencional é constituído de um reator aerado e um decantador
secundário. Parte do lodo do decantador secundário enviado ao reator funciona como
floculador e a outra parte é encaminhada ao decantador primário.
Nesse sistema a idade do lodo é de 4 a 10 dias e o tempo de retenção do efluente no reator é
de 6 a 8 horas. (MOTA, 2000)

Aeradores

Decantador Decantador
Efluente do primário secundário
tratamento Efluente
preliminar tratado

Reator

* O lodo primário: pode ser encaminhado para um digestor anaeróbio e, em seqüência, a um leito de
secagem ou, simplesmente, a um leito de secagem.

Figura 12: Desenho esquemático de sistema de Lodos Ativados Convencional,


adaptado de MOTA, 2000

Nota: No sistema convencional, o excesso de lodo deve ser encaminhado para tratamento via adensamento, digestão
complementar e desidratação (von SPERLING, 2005).

b.2) Lodos Ativados de Aeração Prolongada – Fluxo Contínuo

Nesse sistema o tempo de detenção do líquido é bem maior, de 16 a 24 horas e a permanência


do lodo no sistema de 20 a 30 dias. Esse sistema não pressupõe existência de decantador
primário e nem unidade de digestão do lodo à frente. Parte do lodo decantado no decantador
secundário é recirculado no reator aerado, para aumentar a eficiência do sistema e parte é
encaminhado aos leitos de secagem ou e a uma unidade de adensamento e desidratação. A

29
remoção de DBO nesse sistema é maior que no sistema convencional de lodos ativados, mas
apresenta a desvantagem de gastar mais energia elétrica com os aeradores. (MOTA, 2000)
Aeradores

Decantador
secundário
Efluente do Efluente
tratamento tratado
preliminar

Reator

Retorno do lodo

Excesso de lodo para


secagem ou adensamento /
desidratação

Figura 13: Desenho esquemático de sistema de Lodos Ativados de Aeração Prolongada,


adaptado de MOTA, 2000

Nota: No caso de aeração prolongada, o excesso de lodo é encaminhado para tratamento via adensamento e desidratação
(von SPERLING, 2005).

Uma das modalidades de aeração prolongada é representada pelos valos de oxidação.


Eles são unidades de tratamento biológico que operam com os mesmos princípios básicos do
processo de lodos ativados, com períodos de aeração maiores que os adotados nos sistemas
convencionais. (JORDÃO e PESSOA, 1996, apud MINAS AMBIENTE)

Os valos de oxidação podem trabalhar interligados com um decantador secundário, que recebe
seu efluente e do qual recebem e recirculam o lodo para aumentar sua eficiência do
tratamento. Em visita à EMPRESA A, o aluno viu esta instalação funcionando interligada a
um decantador secundário, cujas fotos A10 e A11 podem ser vistas no ANEXO, item 8.1.
Abaixo, pode-se ver um desenho desse sistema de tratamento.

Decantador secundário

Lodo excedente Efluente


para tratamento tratado
Retorno
Aerador
do lodo

Valo de Oxidação

Efluente industrial Parede separadora

Figura 14: Desenho esquemático de sistema de Valos de Oxidação, adaptado de von


SPERLING (1995), apud MINAS AMBIENTE

30
As principais vantagens e limitações do sistema de lodos ativados são mostradas na tabela 4,
adaptada de von Sperling (1997), apud MINAS AMBIENTE, 2002.

Tabela 4: vantagens e limitações do sistema de lodos ativados


Vantagens Limitações
- Elevada eficiência; - Substancial investimento de capital;
- Baixos requisitos de área; - Alto custo operacional;
- Flexibilidade operacional; - Supervisão contínua;
- Boa resistência a cargas de choque; - Necessidade do tratamento do lodo e da sua
-Menor possibilidade de insetos e maus disposição;
odores. - Possibilidade de ruídos e aerossóis.

c) Filtro Biológico Percolador

Trata-se de um de um equipamento para tratamento aeróbio, onde a biomassa cresce aderida a


um meio suporte (brita, escória de alto forno, material plástico, etc.). Nesse equipamento, o ar
circula nos vazios do meio suporte, fornecendo oxigênio para a respiração dos
microrganismos.

Nesse filtro o efluente é aplicado sob forma de gotas ou jatos lançados na superfície pelo
braço de um distribuidor e percola até o fundo do filtro onde se localizam os drenos. Na
passagem do efluente pela população microbiana aderida ao meio suporte, ocorre a
degradação ou estabilização da matéria orgânica. A figura 15 mostra desenho esquemático
desse filtro. (MINAS AMBIENTE, 2002)

Parede do filtro Braço do distribuidor


Camada suporte

Efluente
Sistema
Efluente Industrial Distribuidor tratado
de
rotativo
drenagem

Figura 15: Desenho esquemático do filtro biológico percolador,


extraído de MINAS AMBIENTE, 2002

3.6 – Disposição do efluente líquido tratado

As rotas tradicionais de disposição do efluente tratado são o lançamento em corpos de água


superficiais e a disposição no solo. O lançamento em corpos de água deve ser precedido de
estudo sobre a compatibilidade das características do efluente com a classe do corpo receptor
disponível, conforme já visto no item 3.5.1.

31
Quanto à disposição no solo, pode-se considerá-la como uma forma final de tratamento do
efluente do sistema de tratamento. A disposição no solo pode se dar por infiltração ou
escoamento superficial. O sistema de infiltração se divide em: infiltração lenta (irrigação),
infiltração rápida e infiltração subsuperficial.

• Infiltração lenta: as taxas de aplicação do efluente são baixas. O líquido percola no


solo, mas a maior parte é absorvida pelas plantas ou evaporada para a atmosfera. A
exigência de área é grande.

• Infiltração rápida: o liquido é disposto em bacias rasas e percola pelo fundo poroso,
sofrendo tratamento. Há menos necessidade de área e as taxas de aplicação são altas e
intermitentes para permitir que o solo se restabeleça. (von SPERLING, 1995, apud
MINAS AMBIENTE)

• Infiltração subsuperficial: o efluente é disposto abaixo do nível do solo. Pontos de


infiltração são escavados com meio poroso, onde se dá o tratamento.

O sistema de escoamento superficial caracteriza-se pela declividade do solo (de 2 a 8%),


baixa permeabilidade do terreno, baixa percolação e recolhimento do efluente não absorvido
pelo solo e plantas em uma vala localizada na parte inferior do terreno. Os capins da rampa de
escoamento (ex: Brachiaria humidicola e Tifton), funcionam como uma barreira ao livre
escoamento superficial do efluente no solo, aumentam a retenção de sólidos em suspensão e
evitam a erosão. Proporcionam ainda um “habitat” para a biota que facilita a ação dos
microrganismos. (von SPERLING, 2005)

A seguir, são apresentadas algumas vantagens e limitações do sistema de disposição no solo.

Tabela 5: Vantagens e limitações do sistema de disposição no solo


Vantagens Limitações
- Elevada eficiência de remoção de DBO - Elevada necessidade de área
- Tratamento e disposição simultâneos - Possibilidade de maus odores, insetos e
- Facilidade construtiva e operacional vermes (menos na infiltração subsuperficial)
- Baixo custo operacional - Relativa dependência do clima
- Não há lodo a ser tratado. - Possibilidade de impacto químico no solo,
vegetais e lençol freático
(MINAS AMBIENTE, 2002)

3.6.1 – Análise crítica da disposição do efluente tratado no solo

Para que se possa dispor o efluente tratado no solo, devem ser observados os seguintes itens:
características do solo, tipo de cultura existente ou pretendida, volume de efluente a ser
lançado e as características do próprio efluente.

No caso de esgotos domésticos há sempre o risco de contaminação por microrganismos


patogênicos, mas em se tratando de um efluente de laticínios, não haverá nenhum risco nesse
aspecto. Evidentemente, essa afirmação é válida para o efluente tratado oriundo do processo
produtivo. Considera-se, portanto, que o esgoto doméstico das unidades administrativas seja
coletado e tratado separadamente.

Um aspecto limitante da disposição do efluente tratado no solo é a elevada necessidade de


área, que é função do volume de efluente a ser lançado. Apesar da limitação que o item “área”

32
possa representar, deve-se considerar que a qualidade do efluente final é excelente e que os
custos de implantação e operação são baixos. (von SPERLING, 1995 e EPA, 1973, apud
MINAS AMBIENTE).

Baseando-se na informação acima, pode-se concluir que a disposição dos efluentes tratados
no solo pode ser uma excelente alternativa de efetivo tratamento final, principalmente para os
pequenos laticínios.

3.7 - Sólidos gerados nos processos de tratamento dos efluentes líquidos

Como nas demais indústrias, os laticínios geram resíduos sólidos diversos, tais como: papel,
papelão, plástico, lixo em geral, sobras de alimento e lodo retirado das lagoas, das unidades
de decantação (Decantadores primários e secundários) e de filtros e reatores anaeróbios.

Um dos focos do presente trabalho se volta para o lodo. De modo geral, o lodo retirado das
lagoas tem aproximadamente a seguinte constituição: 89% de água e 11% de sólidos, sendo
que, destes sólidos, 10 % são óleos e graxas e o restante, sólidos típicos como, por exemplo,
proteína desnaturada. (Químico responsável pela área de Meio Ambiente das empresas A e
B.)

O lodo dos decantadores primários (lodo primário) é constituído pelos sólidos em suspensão
no efluente. Por sua vez, o lodo dos decantadores secundários (lodo secundário) é composto
de microrganismos (biomassa) que se reproduzem às custas da matéria orgânica do efluente.
Ambos são retirados continuamente, mas existem outros que permanecem longo tempo no
sistema de tratamento. Esse é o caso daqueles localizados no fundo das lagoas, que
permanecem de 5 a 20 anos ou mais e os gerados nos reatores anaeróbios, que podem
permanecer vários meses no sistema de tratamento. (BARROS et al., 1995.)

3.7.1 – Tratamento e disposição do lodo

Como o lodo possui basicamente água e matéria orgânica, seu tratamento visa basicamente a
redução de volume, pela redução da umidade, e a redução da matéria orgânica, pela
estabilização do lodo.

Para a redução de seu volume a alternativa mais barata é a adoção de leitos de secagem. Esta
alternativa apresenta, entretanto, a desvantagem de ter sua eficácia drasticamente reduzida em
épocas de chuva.

Uma opção mais técnica seria a adoção de um sistema constituído de um adensador por
gravidade, um digestor anaeróbio e, finalmente, um filtro prensa ou outro tipo de desidratador
mecânico. Evidentemente, essa opção demanda mais investimento em equipamento e pessoal
e não se sabe se seria economicamente viável para a grande maioria dos laticínios existentes
em Minas Gerais. Entretanto, essa é uma opção apresentada por BARROS et al, 1995.

Na figura 16, pode-se ver 4 células ou leitos de secagem, usadas na EMPRESA A

33
Figura 16 - Leitos de secagem de lodo da EMPRESA A

O lodo tratado em qualquer das alternativas pode ser disposto em aterro sanitário, por meio do
Serviço de Limpeza Urbana, mas deve-se buscar sempre que possível sua utilização na
agricultura como fertilizante e recompositor da camada superficial do solo. Para uso dessa
última alternativa, torna-se imprescindível fazer-se uma avaliação da probabilidade de
transmissão de doença ao homem, via consumo de vegetais (BARROS et al, 1995).

Uma alternativa que pode se impor à disposição em aterro sanitário ou no solo, como
fertilizante, seria sua doação ou comercialização com indústrias que possam usá-lo como
matéria prima em outros processos. Essa última opção não é usada no Brasil, mas o é na
Europa.

34
4 – METODOLOGIA
A metodologia aplicada contempla as seguintes etapas:

a) Identificação das empresas a serem visitadas.


Os critérios de seleção se basearam nos seguintes aspectos: facilidade de contato com a
direção das empresas, diversidade de tecnologias de tratamento de efluentes empregadas,
diferença de porte das indústrias e diversidade dos processos de produção.

b) Definição do escopo das visitas técnicas.


Foram programadas visitas aos processos produtivos para se identificar os pontos de geração
de efluentes e visita ao sistema de tratamento destes efluentes, com coleta de dados
operacionais acerca do resultado do tratamento.

c) Apresentação da seqüência operacional dos tratamentos de efluente e dos resultados


obtidos.

d) Análise crítica e comentários sobre os dados obtidos, tendo-se como referência


comparativa os parâmetros da legislação, aplicáveis ao lançamento dos efluentes tratados em
cursos de água e no solo.

35
5 – INDÚSTRIAS DE LATICÍNIOS VISITADAS, TECNOLOGIAS
USADAS E RESULTADOS DOS TRATAMENTOS DE EFLUENTES
LÍQUIDOS
Aplicando-se a metodologia planejada, foi possível a identificação de três empresas para
serem visitadas.

Durante as visitas técnicas o escopo planejado foi integralmente cumprido. Na EMPRESA A,


foram realizadas 4 visitas que possibilitaram que o aluno visse em detalhes tanto o processo
produtivo como o sistema de tratamento de efluentes. Na EMPRESA B o aluno teve igual
oportunidade, mas a visita se limitou a um único dia. Na EMPRESA C, o aluno só visitou o
sistema de tratamento de efluentes porque a produção estava parada no dia da visita. Mesmo
assim, e como nas demais empresas, foi possível colher dados importantes do tratamento dos
efluentes líquidos.

A seguir, são mostrados dados gerais das empresas visitadas, dados operacionais sobre
afluente e efluente dos sistemas de tratamento, a seqüência operacional dos tratamentos
realizados e análise crítica dos dados obtidos, mediante confrontação dos mesmos com a
legislação aplicável para os efluentes tratados a serem lançados nos corpos d’água ou no solo.

5.1 - Empresa A

5.1.1 – Dados gerais

Matéria prima: A EMPRESA A recebe leite “in natura”, colhido de tanques de refrigeração
nas propriedades dos fornecedores, em caminhões próprios da empresa. Os caminhões são
isolados termicamente para manter o leite a baixa temperatura de forma a chegar na fábrica
sem risco de perda de qualidade, quanto à acidez.

Produtos: leite esterelizado, leite em pó, bebida láctea e creme de leite. Hoje mais de 98% de
sua produção está concentrada em leite esterelizado e leite em pó.

Volume de leite e soro processados: 343.000 litros / dia (Média do ano de 2005)

Consumo de Água (Referente a leite e soro): 838.000 litros / dia (Média do ano de 2005)

Número de funcionários: 330

Processo formal de qualificação de pessoal na área ambiental: Não há processo formal


objetivando a redução do volume de efluentes e da carga poluidora.

5.1.2 – Constituição do efluente

O efluente é constituído de mistura de água dos procedimentos de limpeza e higienização de


utensílios, tubulações e equipamentos, lavagem de pisos em geral, leite de eventual
derramamento ou vazamentos em tubulações, sólidos de leite ou de polpa de frutas usadas em
bebidas lácteas, óleos e graxas e esgotos sanitários, etc.

Um dado importante para o dimensionamento de qualquer sistema de tratamento de efluentes


diz respeito ao consumo de água por litro de leite (ou leite e soro)* processado em um dia. A
seguir, pode-se ver o valor médio desse consumo para o ano de 2005.

36
* As indústrias podem também processar soro, quando o recebem de outras indústrias,
objetivando produzir soro em pó, ricota, bebidas lácteas, etc.

Tabela 6 – Consumo específico médio de água


MÉDIA DIÁRIA VOL. ÁGUA (m3) VOL. LEITE e SORO (m3) LEITE (m3)
838 343 232
Consumo médio de água (m3 ) 2,52 3,62

Na EMPRESA A, as redes de esgotamento sanitário e de efluentes industriais são


independentes, mas se encontram à entrada da ETE – Estação de Tratamento de Efluentes.
Nesta estação, a água residuária é submetida ao tratamento físico, biológico e físico-químico,
e após essas fases, é lançada no corpo receptor.

5.1.3 – Fluxo de tratamento do efluente líquido da EMPRESA A

Abaixo é mostrada a seqüência operacional do tratamento.

Caixa de
Grade Gordura

Afluente
Industrial C. Areia

Tanque de Estação
C. Parshall equalização elevatória

Lagoa Lagoa
aerada 2 aerada 1

Valo de
oxidação Tanque de
aeração

Decantador
secundário
Tanque
misturador
Lagoa de
polimento

Lodo

Leitos de Floco-decantadores e Filtros


secagem

Corpo
Sistema de Lodo Ativado receptor

Figura 17 – Fluxograma do tratamento de efluentes da EMPRESA A

Nota: O sistema de lodo ativado já existia quando houve necessidade de se implantar as lagoas aeradas face ao aumento da
geração de efluentes e maior carga orgânica dos mesmos, oriundos do aumento da produção.

37
5.1.4 – Seqüência operacional do sistema de tratamento

A tabela 7 detalha cada etapa do processo de tratamento adotado pela empresa. Assim como
para as demais empresas visitadas, as fotografias referidas na coluna da direita da tabela
poderão ser vistas no anexo, item 8.

Tabela 7: Seqüência operacional do tratamento do efluente na EMPRESA A


ETAPAS /
EQUIPAMENTOS OBJETIVOS CARACTERÍSTICAS FOTO
1 – Grade Separar sólidos As grelhas têm espaçamento de 2,5 cm. A A.1
grosseiros. limpeza é manual e diária.
2 - Caixa de areia Permitir deposição de A caixa de areia tem aproximadamente 35 A.2
sólidos pesados, no cm de largura por 2,5 metros de
fundo da caixa, antes do comprimento e 40 cm de profundidade. A
tratamento do efluente. limpeza é manual e diária.
3 – Calha Parshall Permitir medição da Estreitamento da caixa de areia, com largura A.3
vazão do efluente. de 3 polegadas. A medida é feita usando-se
escala graduada. Pela altura do fluxo,
calcula-se a vazão numa matriz de
correspondência.
4 – Caixa equalizadora. Regularizar vazão e Essa caixa tem volume de 60 m3. Sua A.4
características físico- alimentação é feita por meio de 4 tubos de 6
químicas do efluente. polegadas cada, interligados ao canal
existente após a Calha Parshall.
5 – Caixa de gordura Separar a gordura Essa caixa tem aproximadamente 6 m2 de A.5
sobrenadante, para superfície por 1 m de profundidade e foi
(Veja observação no 2 diminuir a carga dimencionada para um tempo de detenção
após a tabela) orgânica do efluente das de 20 minutos.
lagoas aeradas.
6 – Estação elevatória Transportar o efluente Por meio de uma bomba o efluente é Não há
do tratamento primário bombeado para a Lagoa n° 1, situada em foto
para o tratamento nível mais elevado, próximo ao laboratório
secundário de análises químicas.
7 – Lagoa Aerada n° 1 Tratamento biológico A lagoa tem área retangular de 31 m x 25 m. A.7
(Esta lagoa e a de no 2 aerado do efluente do Sua profundidade útil é de 2,5 m. É aerada
entraram em operação tratamento primário por 4 aeradores de superfície de potência
em etapa de expansão total igual a 50 cv. Sua eficiência na
do sistema inicial de eliminação da DBO foi projetada para 50% ,
tratamento) mas hoje é inferior a esse valor devido ao
aumento da carga orgânica e da vazão dos
efluentes.
8 – Lagoa aerada n° 2 Tratamento biológico A lagoa n° 2 possui as mesmas dimensões A.8
aerado do efluente. da anterior. É aerada por 2 aeradores de
Encontra-se a jusante da superfície de potência total igual a 30 cv.
lagoa aerada 1. Sua eficiência na eliminação da DBO foi
também projetada para 50% , mas sua
eficiência é igualmente baixa pelo mesmo
motivo já explicitado.
9 – Tanque de aeração Ajudar na estabilização É parte do sistema de lodo ativado. Possui A.9
(Sistema de lodo ou oxidação da matéria as seguintes dimensões: 12 m x 8 m x 3 m
ativado) orgânica. Encontra-se a de profundidade com dois aeradores de 10
jusante da lagoa aerada cv.
2.
10 – Valo de oxidação Ajudar na estabilização Tanque de superfície retangular na parte A.10
(Sistema de lodo ou oxidação da matéria central e semi-circular nas laterais, com
ativado) orgânica. parede central e 1 aerador de cada lado da
parede, para permitir a rotação do fluxo de
efluente e promover sua oxidação. Tem
aproximadamente 400 m2 de área e
profundidade de 1,25 m.
11 – Decantador Permitir a deposição de Esse decantador tem aproximadamente 6,55 A.11

38
(Sistema de lodo lodo no fundo do m de diâmetro com alimentação central e
ativado) equipamento. por baixo. Parte do lodo decantado é
bombeado de volta ao valo de oxidação e ao
tanque de aeração e parte é periodicamente
enviada para 4 células de secagem para
controlar a quantidade de material em
suspensão, cujo limite é de 6000 mg/L. O
projeto inicial previa 8 células.
12 – Tanque Receber e homogeneizar Esse tanque tem aproximadamente 2 m2 de Não há
misturador o efluente do decantador, superfície por 1 m de profundidade e nele foto
com produtos químicos são adicionados os seguintes produtos:
que vão auxiliar a Policloreto de alumínio (floculante),
coagulação e decantação Polieletrólito (coadjuvante da floculação) e
do lodo. Hidróxido de Sódio (Acerto de pH, para
coagulação ideal).
13- Floco-decantadores Reduzir os sólidos em Existem 2 equipamentos interligados de A.13
suspensão ainda aproximadamente 1,6 m de diâmetro por 4
restantes, a demanda m de altura. Sua alimentação se dá pela
bioquímica e fósforo sob parte inferior e sobe até a parte superior,
forma de fosfato. sendo submetido a uma chicana formada por
tubos concêntricos. O líquido clarificado é
enviado a outro equipamento de mesma
dimensão. O líquido clarificado do segundo
equipamento é submetido a filtragem em
filtros de areia pressurizados. O lodo dessa
unidade é bombeado de volta ao sistema de
lodo ativado.
14 - Filtros de areia Filtrar o efluente São 4 filtros com cerca de 0,8 m de A.14
sobrenadante dos floco- diâmetro e 1,4 m de altura.
decantadores
15-Lagoa de polimento Desnitrificar o efluente. Lagoa de formato irregular com cerca de A.15
1500 m2 de aérea e 0,8 m de profundidade.
Nela ocorre a redução de sólidos em
suspensão, nutrientes e microrganismos.

OBS 1: Esses dados registrados pelo aluno nos dias 13, 15, 20 e 23 de março de 2006, foram
gentilmente revisados pelo Químico das Empresas A e B.

OBS 2: Segundo o mesmo Químico, a adoção de caixa de gordura, para retenção de


óleos/graxas em laticínios, não funciona adequadamente, como ocorre para esgotos
domésticos ou tem baixa eficiência devido ao fato de a gordura encontrar-se na forma de
emulsão. Devido a esse fato, o tempo de retenção hidráulica, adotado nos projetos que
conhece, não tem sido suficiente para permitir a adequada separação da gordura. Alega ainda
que normalmente nos sistemas de tratamento de efluentes de laticínios, onde são usadas
caixas de gordura em detrimento de uma instalação de flotação, a flotação desses óleos/graxas
ocorre nas lagoas aeradas ou no sistema de lodo ativado, tornando-se um grande
inconveniente, do ponto de vista operacional, devido à dificuldade de se retirar o material
sobrenadante e ao fato de ele gerar cheiro desagradável face à sua putrefação.

5.1.5 – Resultados do tratamento dos efluentes

A seguir é apresentada a tabela 8 com dados do afluente e do efluente da ETE.

39
Tabela 8: Resultados do monitoramento do afluente e do efluente
Período de coleta: 03/2005 a 02/2006
Afluente Efluente
Parâmetro Valor Valor Valor Valor Valor Valor
mínimo médio máximo mínimo médio máximo
Temperatura 31 33 34 25 26 30
(° C)
pH 8,0 9,6 10,2 7,7 8,0 8,2
DBO5 944 1373 1918 19 41 55
(mg O2/L)
DQO 1416 2751 5668 60 75 88
(mg O2/L)
Sólid. Susp. 308 381 453 31 46 57
(mg/L)
Sólid. Sedim. 0,4 0,8 2,1 0,1 0,1 0,1
(mg/L)
Óleos / Graxas 45 105 155 1 9 13
(mg/L)
Detergentes 0,10 0,17 0,26 0,10 0,10 0,10
(mg/L)
Vazão 612 767 855 597 748 833
(m3/ dia)

(Tabelas 6, 7 e 8 e foram adaptadas daquelas cedidas pelo Químico das Empresas A e B)

5.1.6 – Análise crítica e comentários acerca dos dados da tabela 8

O aspecto relevante da análise a ser feita diz respeito à eficiência do tratamento. Esta
eficiência pode ser vista em termos de remoção ou diminuição da concentração dos poluentes
do afluente ao sistema de tratamento.

A eficiência pode ser medida da seguinte fómula:

E = (Ca – Ce) x 100 / Ca


na qual:
E = eficiência do tratamento
Ca = Concentração do poluente no afluente
Ce = Concentração do poluente no efluente

Esta fórmula será aplicada para os seguintes parâmetros: DBO5, sólidos suspensos, sólidos
sedimentáveis e óleos / graxas. Os comentários acerca da eficiência levam em consideração os
parâmetros do COPAM, cujos valores são apresentados na tabela 9.

Tabela 9: Parâmetros do COPAM para lançamento em corpo receptor


Sólidos Suspensos Sólidos
DBO5 Óleos e Graxas
(mg/L) sedimentáveis
(mg/L) (mg/L)
(mg/L)
Limite e/ou 60 Máximo diário = 100 Até 1 50
condição Média mensal = 60

a) Eficiência necessária na remoção da DBO5 para atender ao limite de concentração definido


pelo COPAM: E = (1373 – 60) x 100/ 1373 = 96%

40
Eficiência obtida: E = (1373 – 41) x 100 / 1373 = 97% .
Logo, o valor obtido atende plenamente à legislação.

b) Eficiência necessária na remoção de sólidos suspensos para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM: E = (381 – 60) x 100 / 381 = 84%

Eficiência obtida : E = (381 – 46) x 100 / 381 = 88%. Logo, o valor médio obtido para o
período de medições atende ao valor limite definido para a média diária. Entretanto, não
podemos afirmar que a concentração máxima diária permitida (100 mg/L) atenda, pois esse
dado não foi explicitado pela empresa. É preciso que este dado seja monitorado para servir de
evidência objetiva, quando de uma auditoria.

c) Eficiência necessária na remoção de sólidos sedimentáveis para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM: Torna-se desnecessário fazer-se esse cálculo, porque o
valor no efluente já é inferior ao limite permitido. Logo, esse parâmetro atende à legislação
estadual.

d) Eficiência necessária na remoção de óleos e graxas para atender ao limite de concentração


definido pelo COPAM: E = ( 105 – 50) x 100 / 105 = 52%

Eficiência obtida
E = (105 – 9) x 100 / 105 = 91% . Logo, esse parâmetro atende plenamente a legislação.

5.1.7 – Geração de lodo no sistema de tratamento

A tabela 10, apresenta a geração média mensal de resíduos sólidos. Em negrito está destacada
a geração de lodo no sistema de tratamento de efluentes líquidos, para o período 03/2005 a
02/2006

Tabela 10: Taxa média mensal de geração de resíduos sólidos e lodo


PERIODO TAXA DE GERAÇÃO (Kg de resíduo / m3 de leite e soro recebido)
MENSAL Lixo Lodo Embal. Longa Vida Papel Plástico
Média 0,63 4,53 0,95 0,86 0,31
(Fonte: Químico das Empresas A e B)
3
Nota: Como a média diária mensal de recebimento de leite e soro é de 343 m , conclui-se que a geração de lodo é de 1.554 kg
/ dia, perfazendo aproximadamente 46 ton/mês. Esse lodo é doado a agricultores da região e quando necessário, é
encaminhado para tratamento final na ETE da COPASA em Ipatinga.

5.2 – Empresa B

5.2.1 – Dados gerais

Matéria prima: A empresa recebe sua matéria prima exatamente como na empresa A.

Produtos: A empresa produz leite em pó, queijos diversos e manteiga, nas seguintes
proporções: Leite em pó: 50 % ; Queijo: 30 % e Manteiga: 20 %.

Volume de leite processado: 81.335 litros / dia, em 2005.

Consumo de água diário: 230.000 litros / dia, em 2005

41
Número de funcionários: 180

Processo formal de qualificação de pessoal na área ambiental: Não há processo formal


objetivando a redução do volume de efluentes e da carga poluidora.

5.2.2 - Constituição do efluente

As redes de esgotamento sanitário e de efluente industrial são independentes, mas se


encontram à entrada da ETE. Assim, o efluente total é mistura de água de lavagem de pisos,
leite e água de limpeza e desinfecção de utensílios, tubulações e equipamentos, leite de
derramamento / vazamentos, sólidos de leite, leitelho, óleos e graxas e esgotos sanitários, etc.

5.2.3 – Geração de efluentes e descarte do lodo gerado

Os efluentes são tratados na ETE onde há geração do efluente tratado que é lançado no rio e
lodo oriundo de três pontos. São eles:
• Da caixa de gordura
• Da instalação de flotação.
• Do tanque no 2 de aeração.
O lodo da caixa de gordura é colocado em bombonas. Aquele oriundo do sistema de flotação
é posto em grandes caixas e aquele recolhido no tanque aerado no 2, em um tanque cilíndrico
de aço. Semanalmente um caminhão de uma empresa licenciada e especializada nesse tipo de
transporte recolhe o lodo desses locais e o encaminha à ETE da COPASA em Ipatinga.

Por tratar-se de um sistema de tratamento implantado há poucos anos, o lodo decantado no


fundo das lagoas ainda não foi retirado.

5.2.4 – Fluxo de tratamento dos efluentes líquidos da EMPRESA B

Abaixo é mostrada a seqüência operacional do tratamento.

Adição de
Flotador
prod. químicos
Esgoto Despejo
sanitário industrial

Tanque Desaren Cx. de Estação


homogenei Grade ador gordura elevatória
zador Afluente
desativado
Bruto

Corpo Receptor

Depósito Tanque de
homogenei
Temporário de Lodo
zação

Disposição Lagoa Escada Lagoa Tanque Tanque


do efluente Estabili- Estabili- aerado aerado
Tratado zação 2 zação 1 2 1

Figura 18: Fluxograma do tratamento e efluentes da EMPRESA B

42
5.2.5 – Seqüência operacional do sistema de tratamento

A tabela 11, a seguir, detalha cada etapa do processo de tratamento adotado pela EMPRESA
B.

Tabela 11: Seqüência operacional do tratamento do efluente na EMPRESA B (Apresenta


somente as partes do fluxo que diferem daquelas expressas em tabela correspondente da
empresa A).
ETAPA/
EQUIPAMENTO OBJETIVO CARACTERÍSTICAS FOTO
1 – Flotação: Adição Auxiliar a flotação do Em um tambor é preparada solução de B.1
de produtos químicos material sólido policloreto de alumínio. E no outro solução
de poli-eletrólito, que por meio de uma
bomba são adicionadas no flotador
2 – Flotação: Flotador Permitir flotação de parte O flotador possui duas câmaras de flotação, B.2
do material sólido do sendo que cada uma é dotada de raspador
efluente mecânico do sobrenadante.
3 – Flotação: Caixas Separar o lodo primário As caixas têm aproximadamente 1,8 m de B.3
de retenção de lodo para diminuir o volume e diâmetro e 1,2 m de profundidade, que
primário gastos com o tratamento recebem o material raspado.
posterior do efluente.
4 – Estação elevatória Bombear o efluente para A estação é constituída de 2 bombas de 40 Não há
as etapas seguintes, que se cavalos-força cada uma, sendo uma foto
encontram em nível mais mantida como reserva.
elevado e há uns 250
metros, do outro lado do
rio.
5 – Tanque de Homogeneizar e ao Tanque circular com diâmetro aproximado B.4
homogeneização ou mesmo tempo aerar o de 12 metros e 1,5 m de profundidade.
de equalização. efluente para aumentar o Possui um aerador de 5 cavalos de
oxigênio dissolvido no potencia. Este tanque recebe retorno do
mesmo efluente do tanque aerado 2 para aumentar
a eficiência do sistema de tratamento.
6 – Lagoa aerada 1 Tratamento aeróbio do Tem forma quadrada de aproximada 25 m B.5
efluente de lado e possui 4 aeradores com 10
cavalos de potência.
7 – Lagoa aerada 2 Tratamento aeróbio do Tem as mesmas dimensões do anterior, B.6
efluente mas possui somente 2 aeradores de 10
cavalos de potência.
8 – Tanque para Formar um volume tal que O lodo sobrenadante do tanque aerado 2 é B.7
deposição temporária justifique a vinda do retirado diariamente e é depositado neste
de lodo. caminhão coletor. tanque que possui aproximadamente 8 m3
de capacidade de armazenamento.
9 – Lagoa de Permitir a estabilização da Lagoa facultativa sem aeração com B.8
estabilização 1 matéria orgânica (lodo aproximadamente 7.000 m2 de área e 1,5 m
sedimentado), pela ação de profundidade. É separada da lagoa
das bactérias. Parte da estabilizadora no 2 por uma escada, que
matéria sobrenadante é promove a aeração do efluente.
também estabilizada por
bactérias.
10 – Lagoa de Complementar a Lagoa sem aeração (De polimento). Possui B.9
estabilização 2 estabilização da matéria aproximadamente 3.000 m2 de área e 1,5 m
orgânica sobrenadante de profundidade. É comum ver patos
pela ação das bactérias que selvagens nadando nas suas águas, o que é
sobrevivem devido ao bom indicativo de qualidade do efluente
oxigênio fornecido pelas nesta fase.
algas, no processo de
fotosíntese.
11 – Saída do efluente B.10
tratado para descarte - -
no rio

43
5.2.6 – Resultados do tratamento dos efluentes

A tabela 12, mostra os resultados do monitoramento do afluente e do efluente do sistema de


tratamento.

Tabela 12: Resultados do monitoramento do afluente e do efluente


Período de coleta: 03/2005 a 02/2006
Afluente Efluente
Parâmetro Valor Valor Valor Valor Valor Valor
mínimo médio máximo mínimo médio máximo
Temperatura 29 31 33 24 26 27
(° C)
pH 4,5 5,4 6,1 7,4 7,9 8,2
DBO5 1233 1596 2325 15 36 51
(mg O2/L)
DQO 1323 3416 9920 * 30 58 82
(mg O2/L)
Sólid. Susp. 214 396 520 25 46 57
(mg/L)
Sólid. Sedim. 0,4 1,1 3,0 0,1 0,1 0,3
(mg/L)
Óleos / Graxas 109 165 235 2 9 13
(mg/L)
Detergentes O,10 0,18 0,26 0,10 0,10 0,10
(mg/L)
Vazão 259 339 403 233 305 329
(m3/dia)
* Resultado anômalo provavelmente devido a uma descarga acidental de soro, potencializado pelo fato de a amostragem se
dar antes do tanque de homogeneização / equalização.

5.2.7 - Análise crítica e comentários acerca dos dados da tabela 12

a) Pela análise dos dados referentes ao pH de saída, percebe-se que houve uma correção do
pH do afluente provavelmente para não haver comprometimento do resultado do tratamento e
dos equipamentos, pela possibilidade de corrosão.

b) Eficiência necessária na remoção da DBO5 para atender ao limite de concentração definido


pelo COPAM: E = (1596 – 60) x 100/ 1596 = 96%

Eficiência obtida: E = (1596 – 36) x 100 / 1596 = 98% .


Logo, o valor obtido atende plenamente à legislação.

c) Eficiência necessária na remoção de sólidos suspensos para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM: E = (396 – 60) x 100 / 396 = 85 %

Eficiência obtida: E = (396 – 46) x 100 / 396 = 88 %. Logo, o valor médio obtido para o
período de medições atende ao valor limite definido para a média diária. Entretanto, não
podemos afirmar que a concentração máxima diária permitida (100 mg/L) atenda, pois esse
dado não foi explicitado pela empresa. É preciso que este dado seja monitorado para servir de
evidência objetiva, quando de uma auditoria.

d) Eficiência necessária na remoção de sólidos sedimentáveis para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM: E = (1,1 – 1,0) x 100 / 1,1 = 9 %

44
Eficiência obtida: E = (1,1 – 0,1) x 100 / 1,1 = 91 %
O valor obtido demonstra de forma clara que o parâmetro medido é muitíssimo inferior ao
limite permitido pela legislação.

e) Eficiência necessária na remoção de óleos e graxas para atender ao limite de concentração


definido pelo COPAM:
E = ( 165 – 50) x 100 / 165 = 70 %

Eficiência obtida
E = (165 – 9) x 100 / 165 = 94 % . Logo, esse parâmetro atende plenamente a legislação.

5.3 – Empresa C

5.3.1 – Dados gerais

Matéria prima: A empresa recebe sua matéria prima em caminhões tanque, como nas
empresas A e B.

Produtos: leite, queijo, manteiga, requeijão e doce de leite pastoso. A produção de queijo é de
aproximadamente 90% da produção.

Volume de leite processado: 55.000 litros / dia (Média do ano de 2005).

Consumo de água: 110.000 litros / dia (Baseado no Consumo Específico de Água constante
do PCA).

Número de funcionários: 58

Processo formal de qualificação de pessoal na área ambiental: Não há processo formal


objetivando a redução do volume de efluentes e da carga poluidora.

O soro gerado na produção de queijo é vendido a outras indústrias. Aquele que não atinge o
padrão de qualidade é armazenado nos silos abaixo e é doado para alimentação animal.

Figura 19 – Tanques para armazenamento de soro para doação

45
5.3.2 – Constituição do Efluente

O efluente industrial é coletado separadamente do efluente sanitário. Este efluente vai direto a
uma fossa séptica cujo efluente é enviado a um sumidouro. O efluente do laticínio, como nas
demais empresas, é constituído de leite eventualmente derramado e água de limpeza de piso e
de limpeza e sanitização de utensílios, tubulações e equipamentos.

5.3.3 – Fluxo de Tratamento dos Efluentes

A EMPRESA C adota dois sistemas de tratamento, um para o esgoto sanitário oriundo dos
escritórios e outro específico para o efluente do laticínio propriamente dito, que são mostrados
a seguir.

a) Tratamento do efluente sanitário

Tampa p/
Tampa de retirada do Tampa de
acesso lodo acesso
Entrada do afluente
sanitário

Inflitração no
solo
Lodo

Fossa séptica
Sumidouro

Figura 20 – Tratamento do efluente sanitário por meio de Fossa Séptica e Sumidouro

b) Tratamento do efluente do laticínio

Peneira/Cx.
Gordura/
C.Parshall Lagoa
anaeróbia
Lagoa
facultativa

Lagoa de
maturação

Lagoa
anaeróbia

Lagoa
facultativa

Lagoa de
maturação
Casa de Entrada
bombas do
efluente
Caixa de
do
gordura
laticínio
Saída do efluente
tratado para o corpo
receptor
Figura 21 – Tratamento do efluente do laticínio por uma seqüência de lagoas

46
5.3.4 - Seqüência operacional do sistema de tratamento em lagoas

Todo o efluente do laticínio vai para uma caixa coletora, localizada no sub-solo. O material
sólido aderido às paredes desta caixa é periodicamente retirado e doado a pescadores que,
após prensagem, fazem dele boa isca. Da caixa coletora, o efluente é bombeado para
tratamento num sistema constituído de 6 lagoas em seqüência, cujo detalhamento é mostrado
na tabela 13.

Tabela 13: Seqüência operacional do tratamento do efluente


ETAPAS OBJETIVO CARACTERÍSTICAS FOTO
Ponto de chegada C.1
do efluente - -
Peneiras e caixa Peneiras: separação doO efluente cai em 4 peneiras C.2
de gordura material grosseiro como dispostas em “caixas de
plásticos e sólidos em geral.
supermercado”. A gordura
Caixa de gordura: coletar a do efluente é separada
gordura sobrenadante. manualmente e é doada para
fabricação de sabão.
Calha Parshall Facilitar a medição de vazão Estrangulamento da C.3
do efluente. passagem do fluxo. A
medida que é feita com uso
de régua graduada não tem
sido utilizada..
Lagoa Anaeróbia Permitir a estabilização ou É uma lagoa totalmente C.4
1 oxidação da matéria orgânica coberta por escuma que
por meio de bactérias impede a passagem da luz.
anaeróbias. Não há, portanto, o processo
de fotosíntese. Esta lagoa
tem 880 m2 de área, por 5 m
de profundidade.

Escada para Promover a aeração do Escada de muito degraus e C.5


aeração efluente da lagoa anterior. com desnível de
aproximadamente 0,4 m
entre um e outro.
Lagoa Promover a estabilização ou Esta lagoa tem 800 m2 de C.6
Facultativa 2 oxidação da matéria orgânica área por 3 m de
por bactérias anaeróbias no profundidade e possui
fundo da lagoa e bactérias grande quantidade de algas
aeróbias na superfície, que na superfície.
respiram o oxigênio gerado
no processo de fotosíntese,
pelas algas..
Escada para Promover a aeração do Escada de muito degraus e C.7
aeração efluente da lagoa anterior. com desnível de
aproximadamente 0,3 m
entre um e outro.
Lagoa Maturação Conceitualmente, esta lagoa Esta lagoa tem 800 m2 de C.8
ou Polimento 3 deve promover a remoção de área e 1,5 m de
organismos patogênicos. profundidade. Apresenta
grande quantidade de algas
na superfície.

47
Lagoa Anaeróbia Tem o mesmo objetivo do da Esta lagoa tem 306 m2 de C.9
4 lagoa 1 área e 3m de profundidade.
Apresenta grande
quantidade de algas de
pequenas dimensões, se
comparadas com aquelas da
lagoa 3.
Lagoa Tem o mesmo objetivo da Esta lagoa tem 961 m2 de C.10
Facultativa 5 lagoa 2 e, pela qualidade área e 1,5 m de
superficial da água e baixa profundidade. A água da
profundidade, trata-se de uma lagoa é relativamente limpa,
lagoa aeróbia. tem criação de peixes e
muitos patos e gansos
habitam esta lagoa.
Lagoa de Com este nome, deveria ter o Esta lagoa tem 464 m2 de C.11
Maturação ou mesmo objetivo da lagoa área e 1,5 m de
Polimento 6 número 3. profundidade.
Coleta de Monitorar a qualidade do C.12
efluente tratado efluente tratado.

Nota 1: Os nomes e dimensões das lagoas foram tirados do PCA que nos foi disponibilizado
pela Direção da EMPRESA C. Observa-se que as lagoas formam um duplo conjunto, em
seqüência, sendo que cada um é constituído de: Lagoa anaeróbia – Lagoa facultativa – Lagoa
de maturação.

Nota 2: Se o aluno tivesse de propor um sistema de tratamento, preservando o número atual


de lagoas, ele proporia o duplo conjunto em paralelo ou a seguinte seqüência: Lagoas de
estabilização (Lagoa anaeróbia – Lagoa facultativa) e 4 Lagoas de maturação ou polimento,
porque além de promoverem a remoção de eventuais organismos patogênicos, as lagoas de
maturação / polimento complementariam a remoção da DBO.

5.3.5 - Resultados do tratamento do efluente

Este efluente tem as características mostradas na tabela que se segue, cujos valores são da
análise apresentada ao aluno quando de sua visita em 30/03/2006.

Tabela 14: Informações sobre o afluente e efluente da EMPRESA C

PARÂMETROS AFLUENTE NA EFLUENTE DA LAGOA 6 /


ENTRADA DA LAGOA LANÇAMENTO NO CÓRREGO*
1*
Temperatura (°C) 24 22
pH 7,02 9,08
DBO5 (mg/L) 767 2,2
DQO (mg/L) 2313 18
Sólidos em 282 14
suspensão (mg/L)
Sólidos ≤ 0,3 ≤ 0,3
sedimentáveis

48
(mg/L)
Óleos e graxas 243 2
(mg/L)
Detergentes (Surfactantes 0,25 ≤ 0,06
aniônicos) (mg/L)

* Dados fornecidos pela Direção da empresa e pela Gerente Geral, extraídos do relatório
ambiental entregue por empresa prestadora de serviços de controle ambiental, na semana da
visita do aluno.

5.3.6 - Análise crítica e comentários acerca dos dados da tabela 14

a) Pela análise dos dados referentes ao pH do efluente, acredita-se que a atividade


fotossintética possa ter contribuído para um valor mais elevado do mesmo, superando
ligeiramente a faixa (6,5 a 8,5 ± 0,5) definida pelo COPAM.

b) Eficiência necessária na remoção da DBO5 para atender ao limite de concentração definido


pelo COPAM:
E = (767 – 60) x 100/ 1596 = 92 %

Eficiência obtida:
E = (767 – 2,2) x 100 / 767 = 100 % .
Logo, o valor obtido atende plenamente à legislação.

c) Eficiência necessária na remoção de sólidos suspensos para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM:
E = (282 – 60) x 100 / 282 = 79 %

Eficiência obtida
E = (282 – 14) x 100 / 282 = 95%. Logo, o valor médio obtido para o período de medições
atende ao valor limite definido para a média diária. Entretanto, não podemos afirmar que o
valor obtido atenda à concentração máxima diária permitida (100 mg/L), pois esse dado não
foi explicitado pela empresa.
É preciso que este dado seja monitorado para servir de evidência objetiva, quando de uma
auditoria.

d) Eficiência necessária na remoção de sólidos sedimentáveis para atender ao limite de


concentração definido pelo COPAM: torna-se desnecessário avaliar a eficiência de remoção
porque o valor deste parâmetro, no afluente, já é inferior ao limite definido pelo COPAM,
para o efluente que é de 1 mg/L.

e) Eficiência necessária na remoção de óleos e graxas para atender ao limite de concentração


definido pelo COPAM:
E = ( 243 – 50) x 100 / 243 = 79%

Eficiência obtida
E = (243 – 2) x 100 / 243 = 99% . Logo, esse parâmetro atende plenamente a legislação.

Embora as eficiências obtidas sejam bem elevadas, ressalta-se que as mesmas tiveram origem
em uma única amostra e podem não expressar a realidade média do tratamento e/ou dos
valores diários.

49
6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A publicação do livro Controle Ambiental nas Pequenas e Médias Indústrias de Laticínios, do
Projeto Minas Ambiente, tem contribuído de forma significativa para a melhoria da
conscientização do empresariado.

A adoção de caixa de gordura, para retenção de óleos/graxas, tem baixa eficiência , pelo
menos nos laticínios visitados. Acredita-se que esta baixa eficiência esteja ligada ao fato de a
gordura dos laticínios encontrar-se na forma de emulsão. Em contraposição a esse fato, a
adoção de uma unidade de flotação no sistema de tratamento tem-se mostrado eficiente na
remoção de gordura, evitando excesso de material sobrenadante nas lagoas aeradas.

Os sistemas de tratamento de efluentes dos laticínios A e B se mostraram eficientes no


atendimento à legislação, quanto aos valores limites de concentração definidos pelo COPAM.
Apesar de o texto apresentar somente os valores superiores, inferiores e médios, para os
principais parâmetros de controle ambiental desses dois laticínios, o aluno pôde atestar
também a eficiência do tratamento em relação aos valores máximos diários dos referidos
parâmetros. Quanto à EMPRESA C a mesma eficiência se confirmou em relação aos valores
apresentados em um único relatório disponibilizado ao aluno. Não se pode, portanto, fazer-se
nenhuma afirmação, baseada em evidência objetiva, de que o sistema de tratamento visitado
atenda de forma contínua aos parâmetros da legislação.

O volume de efluentes gerado nas empresas pode ser consideravelmente diminuído com
reflexos diretos nas dimensões dos sistemas de tratamento, de vez que foi constatado que
nenhuma das empresas visitadas possui um processo ou programas formais de
conscientização, qualificação e motivação dos funcionários das áreas gerenciais, operacionais,
de manutenção e controle da qualidade para a redução e controle de volumes de efluentes e
de suas cargas poluidoras.

Face às conclusões acima, pode-se recomendar as seguintes ações:

• Investir na conscientização, qualificação e motivação da mão de obra gerencial,


operacional, de manutenção e de controle da qualidade, de forma planejada, contínua e
persistente, de forma a diminuir a geração de efluentes e de suas cargas poluidoras.

• Conscientizar a equipe de que só faz sentido produzir se for de forma sustentada, em


que o consumo dos recursos naturais nos dias de hoje não venha comprometer seu uso
pelas futuras gerações.

• Medir, monitorar e melhorar resultados dos sistemas de tratamento de efluentes


líquidos e dos sólidos resultantes, de forma a atender continuamente à legislação
ambiental quantos aos valores máximos diários e médios mensais .

Adicionalmente pode-se fazer uma recomendação não específica às empresas visitadas, mas
de aplicação geral:

• Ver os resultados das auditorias e fiscalizações ambientais como indicativos de


oportunidades para se melhorar a conduta de respeito e preservação do meio ambiente,
mediante um tratamento mais eficaz dos efluentes industriais.

50
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7.1 – BARROS, Raphael T. de V. et al., Manual de saneamento e proteção ambiental para os


município, volume II – DESA – UFMG, 1995, cap. 5, p.143 - 160

7.2 – BRAGA, Benedito et al., Introdução à Engenharia Ambiental, Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária, 2004, p. 122-
123

7.3 – BRAILE, P. M e CAVALCANTI, J. E. W. A, Manual de Tratamento de Águas


Residuárias Industriais, 1979, p.139 a 154

7.4 – CONAMA – RC 274/2000: sistemáticas de avaliação da qualidade ambiental das águas.

7.5 - CONAMA – RC N° 357/2005: classificação de corpos de água e diretrizes para seu


enquadramento / condições e padrões de lançamento de efluentes.

7.6 – COPAM – DN N° 010/1986: normas e padrões para qualidade das águas e lançamento
de efluentes nas coleções de água, para o Estado de Minas Gerais.

7.7 - GREIG e HARRIS, 1983; MELLO, 1987, citados por Minas Ambiente, 2002, cap 4,
p.81.

7.8 – MAPA - IN 51, 2002: Regulamentos técnicos de produção, identidade, qualidade, coleta
e transporte de leite

7.9 - MINAS AMBIENTE. Controle Ambiental nas Pequenas e Médias Indústrias de


Laticínios, Projeto Minas Ambiente, 2002, cap 1, p.19-26; cap 2, p.27-47; cap 4, p. 81-96; cap
5 p.97 - 136;

7.10 - MONTES, ADOLFO LEANDRO, citado por TOMELIM, BÁRBARA e PEPLAU,


PATRÍCIA, na revista Leite & Derivados, maio-junho de 2005, Edição n° 84.

7.11 – MOTA, SUETÔNIO, 2000 – Introdução à Engenharia Ambiental, cap. 7, p. 265 – 276.

7.12 – SCARLATELLI, FERNANDO PROCÓPIO, 1996 – Pesquisador da EMBRAPA: O


que é o leite ácido?

7.13 – VON SPERLING, M. (2005). Princípios do tratamento biológico de águas residuárias.


Vol. 1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG. 3ª ed. 452 p.

51
8 - ANEXOS

8.1 – Fotografias da seqüência operacional de tratamento de efluentes


da empresa A

A.1 - Grade recebendo descarte dos efluentes


diretamente do laticínio. Em tubulação anterior A.2 – Caixa de areia
a esta, existe a chegada do afluente sanitário,
na mesma calha.

A.3 – Calha Parshall e régua graduada. A.4 – Caixa equalizadora

A.7 – Lagoa Aerada 1


A.5 – Caixa de gordura
OBS: Não há foto A.6

52
A.8 – Lagoa Aerada 2 A.9 – Tanque de Aeração

A.10 – Valo de Oxidação A.11 – Decantador secundário

A.13 e 14 – Floco-decantadores (cilindros


A12 – Leito de secagem de lodo maiores) e Filtros de Areia (Cilindros
menores).

53
A.15 – Lagoa de Polimento ao fundo

54
8.2 – Fotografias da seqüência operacional de tratamento dos efluentes
da EMPRESA B

OBS: Não foram tiradas fotografias dos equipamentos de tratamento preliminar, constituído
de Grade, Caixa de Areia e Caixa de Gordura pelo fato de já terem sido apresentadas para a
EMPRESA A.

B.2 – Unidade de flotação com pás


B.1 – Tambores para adição de produtos raspadoras de lodo comandadas por
químicos e unidade de flotação ao fundo.
corrente.

B.3 – Caixas receptoras de lodo B.4 – Tanque de homogeinização /


equalização. Possui 1 aerador. Na direita,
tubulação despejando retorno de efluente
da lagoa aerada 2.

B.6 – Lagoa aerada 2, com 2 aeradores


B.5 – Lagoa aerada 1, com 4 aeradores

55
B.7 – Tanque para depósito temporário de
lodo ao fundo, vendo-se carrinho de mão B.8 – Lagoa de estabilização 1 (sem
para transporte de lodo e rampa de aeração)
acesso ao tanque.

B.10 – Saída do efluente tratado que é


B.9 – Escada de aeração do efluente da lançado no corpo receptor.
lagoa de estabilização 1 e lagoa de
estabilização 2 ao fundo.

56
8.3 – Fotografias da seqüência operacional do tratamento dos efluentes
da EMPRESA C

C.1 – Ponto de chegada do efluente C.2 – Caixa de gordura. O efluente cai e


bombeado da caixa de subterrânea de passa inicialmente pelas peneiras
homogeneização existentes dentro das 4 caixas com o
objetivo de reter o material grosseiro.

C.3 – Calha Parshall e Lagoa Anaeróbia 1 C.4 – Lagoa Anaeróbia 1


O efluente é lançado no meio da lagoa a
cerca de 1 m de profundidade.

C.6 – Lagoa Facultativa 2


C.5 – Escada para aeração do efluente da
lagoa anaeróbia

57
8 – Lagoa de Maturação ou Polimento 3
C.7 – Escada de aeração do efluente da
lagoa facultativa 2

C.9 – Lagoa Anaeróbia 4 C.10 – Lagoa Facultativa 5


Nesta lagoa há criação de patos e gansos
para combate aos caramujos

C.11 – Lagoa de Maturação ou Polimento C.12 – Coleta de amostra do efluente


6. Nesta lagoa há grande quantidade de tratado, oriundo da lagoa 6.
peixes.

58

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