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Índice
1) Agradecimentos -----------------------------------------------------------------------2
2) Prólogo---------------------------------------------------------------------------------3
6) O regime político:
O PREC-------------------------------------------------------------------------- 22
Mudanças no ensino------------------------------------------------------------ 29
→ A reintegração -------------------------------------------------------------- 34
9) Bibliografia -------------------------------------------------------------------------- 46
Agradecimentos
Prólogo
Ou será que, uma vez que a história é escrita pelos vencedores, há situações
decorrentes desta revolução que não foram tão benéficas mas que no calor do momento
foram esquecidas na hora de relatar os acontecimentos?
Será que poderemos de facto dizer que o 25 de Abril foi o melhor que aconteceu
à sociedade portuguesa?
Para tentar analisar essa situação, optei por dividir o trabalho em temas (já
apresentados no índice) e, quando se revelar necessário, apresentarei alguma informação
nos anexos.
Passemos então à análise do que foi a evolução da sociedade portuguesa não em
todos mas em alguns dos seus aspectos mais fundamentais, após o 25 de Abril de 1974:
economia, cultura... terminando com uma breve apreciação do que é Portugal hoje, o
“herdeiro” dos objectivos de Abril.
1
Para este factor concorreu também o conhecimento por parte das instituições de que o seu
prestígio estava dependente de se voltarem a identificar com a Nação, uma vez que se reconheciam como
um dos grandes responsáveis da crise económica, social, política e moral que o país atravessava.
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principais funções era a defesa do Estado? Se lermos as razões que este movimento
apresenta para a sua formação, poderemos perceber bastante bem o porquê do
descontentamento em que se encontravam:
perante o País e por este perante terceiros. E ficamos na plena consciência de haver
cumprido o dever sagrado da restituição á Nação dos seus legítimos e Legais poderes.”
2
Cf. Anexo: “Aliança Povo-MFA”
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SANTOS, B. S., “O Estado e a Sociedade em Portugal (1974-88)”
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Idem
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Creio que está então visto o importante papel que este grupo militar, evoluído do
Movimento dos Capitães, teve no despoletar da revolução de 1974. No fundo, vieram
dar ao povo o que ele mais queria – liberdade; mas temos sempre que nos lembrar que o
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O facto de do golpe de estado não terem resultado muitos mortos – na verdade, não chegou a
uma dezena - deve-se aos 46 anos de paz interna que não criou ódios violentos.
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fizeram, em primeiro lugar, para derrubar um regime que insistia em manter uma guerra
colonial que face ao contexto europeu (falando já fora do âmbito humanitário) era já
completamente obsoleta.
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Tabela elaborada pela aluna
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Tabela das ajudas internacionais na Ponte aérea África – Portugal após abertura
do aeroporto de Huambo
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Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, criado pelo Decreto-Lei n.º 369/75.
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Desde muito cedo que Portugal foi um país colonizador, possuindo colónias em
praticamente todo o Mundo.
No entanto, devemos lembrar-nos que, após a II Guerra Mundial, se tenta pôr
em prática os princípios da Carta do Atlântico, documento segundo o qual cada nação
deveria possuir o direito de se auto dirigir, de escolher o regime político mais adequado,
ou seja, de ser o próprio responsável sobre si próprio.
Devemos ainda relembrar que em 1955 Portugal adere à ONU, organismo que
impõe como condição de pertença a não possessão de colónias (torna-se curioso notar a
mudança de terminologia que Portugal passa a usar, transformando as “colónias” em
“províncias ultramarinas”, de modo a não encontrar problemas face à sua pertença a este
organismo).
Para percebermos ainda melhor o âmbito internacional do processo de
descolonização português, temos que nos lembrar que, para todos os efeitos, o mundo se
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No total, foram financiados 8350 projectos, num investimento global de 20 milhões de contos,
criando assim em cerca de ano e meio aproximadamente 65.000 postos de trabalho.
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Deste modo, um dos grandes problemas em 1975 é perceber até que ponto a
influência russa estaria de facto enraizada em África. No entanto, não haveria motivo
para alarme, uma vez que com o passar do tempo se chegou à conclusão de que os
interesses russos apenas estavam centrados em alguns sítios, em alguns “alvos de
oportunidade”.
Qual vai ser então a política de Portugal nos seus antigos territórios, face a esta
influência russa (ainda que em pequena escala)? Em primeiro lugar, tentar atenuar (não
eliminar) a influência russa; em segundo lugar, tentar ao máximo evitar conflitos
armados, promovendo soluções alternativas; manter uma margem de manobra face a
todos os interessados na região (para que não aparecesse nenhuma potência
hegemónica); apoiar integridade territorial dos novos Estados, o estabelecimento do
português como língua oficial dos PALOP’s e finalmente apoiar/promover uma política
de cooperação bi/multilateral com estes mesmos PALOP’s.
No entanto, podemos ainda ver o conflito de blocos em África de um modo mais
violento quando se dá a subida de Ronald Reagan à Presidência dos Estados Unidos;
este conflito é apreciável de um modo ainda mais substancial em Angola, que como se
sabe teve o processo de descolonização mais difícil e violento de todos.
menos” do que recebe: ocupa um papel mais importante como exportador do que como
importador.
Para mais, Portugal investe muito nas suas ex-colónias, o que se pode comprovar
pelo investimento privado português efectuado em Angola (190 milhões de contos) e
Moçambique (150 milhões de contos).
Se bem que economicamente, neste período, há algumas melhorias, estas não
alastram aos factores sociais: instaura-se um pessimismo pós-revolucionário, pois as
pessoas apercebem-se que a revolução não melhorou as suas vidas do modo tal como
imaginavam (basta ver o caso do ensino, de que se falará um pouco mais à frente).
Esta constatação é também efectuada ao nível do corporativismo.
Na realidade, se consultarmos a página 424 do Dicionário de História de
Portugal, podemos ler que
O Regime Político:
A Constituição de 1976
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Cf. Anexo, “Constituição de 1976”
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“Ao contrário do que por vezes se julga, não foi (ou não foi apenas) a viragem
ocorrida a partir de Novembro (ou, já, desde Setembro) de 1975, que trouxe consigo o
triunfo da concepção constitucional democrática. Ela deu-se, logo em Julho e Agosto de
1975, dentro da própria Assembleia Constituinte, ao adoptarem-se decisões cruciais:
prioridade na sistematização da Constituição, dos direitos fundamentais sobre a
organização económica, e dos direitos, liberdades e garantias sobre os direitos
económicos, sociais e culturais; votação na generalidade dos Princípios Fundamentais;
definição da República como Estado Democrático (art.º 2.º) e não como Estado
Democrático Revolucionário; referência do Estado Democrático ao pluralismo e não à
pluralidade, de expressão e organização política democráticas [...]; fixação do exercício
da soberania pelo Movimento das Forças Armadas nos termos da Constituição [...]; não
inclusão da defesa do regime democrático dos ataques da contra-revolução entre as
tarefas fundamentais do Estado [...]; reconhecimento da mesma dignidade social a todos
os cidadãos [...]; interpretação e integração de todos os preceitos sobre direitos,
liberdades e garantias de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem
[...]”
Como se pode ver, estes breves artigos dizem muito sobre os objectivos que
haveriam de ser alcançados por Portugal. Enfoca grandemente os direitos e deveres dos
cidadãos, definindo o que é uma família, ou estabelecendo o direito à greve e supressão
do lock-out, estabelece o carácter obrigatório de defesa à Pátria por parte dos cidadãos,
bem como a obrigatoriedade das Forças Armadas protegerem a República. Este ponto
não aparece sem antecedentes, uma vez que não nos podemos esquecer do importante
papel que este grupo teve na consecução da revolução de 1974. Resulta curioso ver que
neste artigo se estabelece a impossibilidade partidária das Forças Armadas, bem como a
impossibilidade de se revoltarem contra os órgãos de governo (como haviam feito
anteriormente).
No entanto, esta constituição não foi definitiva, tendo sofrido três remodelações.
A primeira revisão ocorreu entre 23 de Abril de 1981 e 12 de Agosto de 1982, e
as suas alterações fundamentais situam-se ao nível da componente ideológico-
programática original; talvez a alteração mais importante tenha sido a eliminação de
toda e qualquer linguagem que pudesse dar a entender que se tratava de u m texto
10
Ascensão e crise do neoliberalismo, declínio e colapso dos sistemas comunistas, crise de
adaptação do socialismo democrático são apenas algumas das características que vão justificar esta
alteração constitucional, pois face às novas características da sociedade, a antiga Constituição tinha-se
tornado desadequada e desadaptada ao quotidiano.
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Serviço Nacional de Saúde
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Mudanças no Ensino
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Algumas destas medidas seriam a abertura e desideologização da educação, a alteração das
velhas práticas educativas, prolongamento da escolaridade obrigatória como forma de lutar contra o
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analfabetismo (o que ainda hoje não se conseguiu, e a conflito actual entre professores e a Dra. Maria de
Lurdes Rodrigues é prova disso), diversificação do ensino superior, aumento da oferta educativa e criação
de melhores condições de aceso e sucesso educativo para todos os jovens em idade escolar. Estas
reformas, apesar de se saberem benéficas para o país, foram fortemente contestadas, pois os sectores mais
conservadores consideravam-nas extremamente perigosa para a estabilidade do regime.
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Hoje em dia, existe uma modalidade semelhante, chamada “9º+1”, que se destina a alunos fora
da idade de escolaridade obrigatória (16 anos) mas que não conseguiram acabar o 9º ano de escolaridade,
até há pouco tempo o limite mínimo de estudos; esta modalidade dá aos alunos a possibilidade de
frequentarem aulas práticas em vários domínios – arqueologia, electrotecnia, carpintaria... – que os
preparam para uma vida activa e profissional, sendo benéfico porque muitas vezes entram no mercado de
trabalho com sucesso muito antes dos estudantes que se licenciam.
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Se são não programadas, como se pode falar numa estabilização do sistema? Parece-me um
pouco contraditória, esta posição.
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Escola Superior de Educação; é curioso notar que vem competir de forma directa com as
Universidades que também oferecem preparação de professores. Ainda que teoricamente não seja assim, a
verdade é que o acesso a uma ESE e a formação que nela é dada é mais fácil que numa Universidade. Isto
concorre para uma deficiente preparação docentes, que por sua vez vão deficientemente preparar os seus
educandos, o que vai levar a um menor nível cultural e científico, o que vai concorrer para que haja
menos possibilidades de acesso a uma Universidade e a maiores possibilidades de acesso e ESE’s... é no
fundo um círculo vicioso do qual não se sabe como sair.
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Ministério da Educação.
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Serviços de Apoio às Dificuldades de Aprendizagem
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Unidades de Orientação Educativa
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A revolução de 1974, como já tem vindo a ser dito, alterou muito o panorama
social português, e outro dos pontos em que o fez foi precisamente a nível cultural, mais
especificamente no respeitante aos cantores de intervenção, dos quais penso que haja a
destacar Zeca Afonso (de seu nome completo José Manuel Cerqueira Afonso dos
Santos).
Para percebermos o porquê de ser considerado um cantor de intervenção, temos
que perceber um pouco a sua vida: relembremos então a forte vinculação que tinha a
África, quase o seu continente-mãe; relembremos o facto de até tarde nunca se ter
apercebido dos horrores da guerra colonial e da existência do apartheid; relembremos a
convivência forçada a que se viu obrigado com um tio claramente de extrema-direita,
apoiante forte de Franco e Hitler.
Desde que vai estudar para Coimbra que Zeca Afonso, como é tradicionalmente
conhecido, começa a cantar os problemas sociais que vê à sua volta (nascendo após uma
visita ao Porto o seu “Menino do Bairro Negro”), e a partir de 1967 converte-se num
símbolo da luta pela democracia, acusando a cantar o regime fascista em que se vivia e
que o perturbava tanto.
Várias são as suas músicas “de intervenção”, e conhecendo um pouco das suas
letras, percebemos porque motivo este cantor era tão “incómodo” para o regime. É
curioso no entanto fazer notar que muitas das suas músicas se servem de metáforas
(talvez para escapar ao “lápis azul”?...), que não obstante eram perfeitamente entendidas
e descodificadas.
Na minha opinião, existem duas músicas20 extremamente significativas não só
em termos de denúncia do regime fascista e repressor em que se vivia mas também na
19 19
Neste ponto do trabalho falarei apenas de Zeca Afonso, por me parecer ser o cantor mais
vinculado à luta contra o regime português; no entanto, nos anexos deste trabalho, colocarei algumas
músicas de intervenção completas não apenas deste cantor mas também de outros autores e autoras como
Ermelinda Duarte.
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Cf. Anexos “Músicas de Intervenção”.
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2. A reintegração:
No caso de Zeca Afonso, por exemplo, podemos ver que a maior parte das suas
discografias têm uma completa aceitação por parte do povo, existindo inclusivamente
um disco que conta com a participação de Quim Barreiros, um dos cantores do estilo
“pimba” mais apreciados em Portugal.
Em todos os seus discos há um carácter de luta pela liberdade, tão grande que,
no caso específico de “As minhas tamanquinhas” (disco em conjunto com Quim
Barreiros” leva José Niza a considerar a sua obra como um grito de denúncia, “ (...)
sincero e exaltado, talvez exagerado se ouvido e lido ao fim de 20 anos, isto é, hoje.”
Este pedido de liberdade é tão grande, e encontra tamanha repercussão na
sociedade portuguesa que por duas vezes Zeca Afonso esteve por ser condecorado pela
Presidência da República com a Ordem da Liberdade. No entanto, não tendo aceitado a
condecoração pela primeira vez, oferecida por Otelo Saraiva de Carvalho enquanto
ainda era vivo, a sua esposa encarregou-se de que também não a recebesse
postumamente, aquando da oferta de Mário Soares, alegando estar a cumprir a vontade
do marido.
Outro exemplo do carácter de reintegração dos cantores de intervenção é
também simbolizado pelo facto de Zeca Afonso, após ter sido expulso do ensino oficial
em 68 (quando Caetano ascende a Presidente do Conselho), nele ter sido reintegrado
(ainda que apenas em 1983).
No entanto, nunca nos devemos esquecer que tudo tem duas faces, e se é
verdade que durante muito tempo as pessoas estiveram “enfeitiçadas” pelo género de
intervenção (pois como já foi referido, necessitavam exprimir a sua revolta pelos
tempos de ditadura e a sua alegria perante a liberdade recém conquistada), também é
verdade que houve facções da sociedade, nomeadamente pessoas mais jovens, que
começam a lutar pelo direito da existência de outro tipo de música que não apenas a da
intervenção.
Surge assim nos anos 80 o gérmen do Rock Português, cujo maior expoente será
Rui Veloso, que com o seu “Ar de Rock” terá despoletado o “boom” do rock português.
No entanto, isso não se insere no tema do trabalho, pelo que não me debruçarei mais
sobre este assunto.
Brevemente, é esta a história da reintegração dos cantores de intervenção, cujo
paradigma para mim é Zeca Afonso por todas as razões já demonstradas e explicadas.
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Lembremos por exemplo, já em período da “Primavera Marcelista”, o que aconteceu com a
adaptação da peça de Almeida Garret, “O Arco de Sant’Ana”, em que os Serviços de Exame Prévio do
Porto a censuram, dizendo: “Não pode dizer que foi proibida; pode no entanto dizer-se que já não vai à
cena”.
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Ver anexo “Constituição de 1933”.
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Na verdade, este fim da censura vem lançar o país numa desordem informativa,
pois com a liberdade de expressão recentemente ganha, deixa de haver proibições sobre
o que se diz em termos de política. Partidários de campos diferentes enfrentam-se nos
meios de comunicação, lançando a confusão entre o povo. Na fase pós-revolucionária,
avultam as incompatibilidades entre as várias tendências ideológico-partidárias, que
afectam directamente os próprios meios de comunicação. Multiplicam-se os conflitos
entre administrações e direcções com as comissões de trabalhadores e os conselhos de
redacção, entretanto eleitos. Estes conflitos atingem, por vezes, proporções extremadas
e inconciliáveis, como sucede no "caso República", em Maio e Junho de 1975, que
adquire projecção internacional Os confrontos levam ao encerramento do vespertino que
se publicava há 62 anos. O que na realidade acontece é uma “lavagem cerebral”
político-ideológica feita à população, o que vai originar que a população rapidamente se
sinta como uma vítima destas “injecções ideológicas”. Na realidade, apesar de agora
existir liberdade para ver, ouvir, escrever e dizer o que a cada um aprouvesse, é
plausível equacionar (ou melhor dizendo, afirmar) se não terá sido esta mesma liberdade
a causadora do aumento obrigatório do sentido crítico face ao que os mass media
veiculavam, pois na verdade, apesar do “apartidarismo” teórico, na verdade o que se
veiculava eram mensagens codificadas, que apenas alguns conseguiam decifrar na sua
totalidade mas que bombardeavam ideologicamente qualquer cidadão que ligasse a
televisão ou a rádio: lembremos o que nos é dito no volume nono da História de
Portugal dirigida por José Mattoso: “Os órgãos de informação assemelhavam-se, na fase
inicial, a um puzzle de mensagens contraditórias, misturadas ao sabor da força das
células partidárias e dos grupos de pressão. A capacidade de análise e selecção era
diminuta. A informação era servida «em bruto», mal digerida, tal como saía dos
palácios governamentais, das sedes partidárias ou dos quartéis mais influenciados pelas
doutrinas políticas”23. Segundo Sartre, o mais grave disto tudo é que a imprensa
portuguesa não se procurava servir da sua recém-liberdade para explicar alguns
acontecimentos importantes da vida política nacional. Na verdade, ela apenas
“bombardeava” as pessoas com informação, mas não as procurava elucidar sobre o seu
significado. Como obviamente se pode perceber, isto apenas vem aumentar o já critico
23
Pg. 363.
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Não nos podemos no entanto esquecer que esta lei só foi aplicada ao nível da comunicação
escrita; o regime legal do audiovisual só aparece em 1979, e penso que seja isto que pode explicar a
situação atrás já explicada neste ponto do trabalho, sobre a confusão mental e desorganização que
reinavam nos mass media – televisão, rádio...
25
Conflito aberto entre a CCT (ou seja, a Comissão Coordenadora de Trabalhadores) e a
Administração/chefia de Redacção deste periódico: a CCT acusa estas últimas de estarem a tentar tornar o
periódico num meio aberto de apoio ao Partido Socialista, que quando sabe do que se passa e quando se
dá conta que as instalações do “República” são fechadas (o conhecido cerco), se concentra à sua porta
para apoiar a antiga direcção. O ministro da Comunicação Social, Correia Jesuíno, é chamado ao local e
proclama que, à luz da Lei de Imprensa de 1975 – que cortara a censura – a direcção e a chefia do jornal
poderiam fazê-lo sair da prensa como quisessem. Na minha opinião, o facto mais chamativo neste conflito
prende-se aos gritos de protesto dos apoiantes socialistas – entre os quais podemos situar nem mais nem
menos que Mário Soares – contra o MFA, Álvaro Cunhal... ou seja, contra quem mais lutou pela
liberdade que agora lhes permitia ter o apoio de um periódico. Parece-me no mínimo paradoxal.
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Lembremos que nestas eleições para Câmaras Municipais (=ayuntamientos), o Partido
Socialista, ao qual pertencia Guterres, apenas consegue ganhar 127 Câmaras Municipais, face às 144
ganhas pelo Partido Social-democrata, centro-direita. No fundo, Portugal revestiu-se de laranja (cor do
PSD) para protestar contra o marasmo político em que se encontrava. Precisamente para evitar este
marasmo, apesar de não ser obrigado a tal, o Primeiro-Ministro Socialista demite-se, para assim restaurar
a confiança já perdida entre governantes e povo.
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Que se assemelha ao “panem et circem”...
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República Dr. Jorge Sampaio a usar o seu poder de dissolver o governo. É demitido a
10 de Dezembro de 2004.
Isto são apenas alguns exemplos do que tem sido a política portuguesa nos
últimos anos.
A nível social, assiste-se hoje em dia a uma grande polarização social, em que se
acentuam as diferenças económicas entre vários grupos sociais, facto que está
indubitável e vergonhosamente ligado à cor política das pessoas. Apenas como
exemplo, podemos referir que a maior parte dos cargos administrativos ou dirigentes de
empresas, companhias, et caetera, mudarem quando muda o governo. Há um
favoritismo claro, que se vai traduzir em melhores rendimentos para essas pessoas,
enquanto o resto da população vê os seus salários congelados, vê as suas reformas
diminuírem28, vê o nível de vida a baixar e os preços quotidianos a aumentarem. Isto
está sem dúvida nenhuma ligado ao fenómeno da emigração, que se prevê que aumente,
uma vez que as pessoas preferem trabalhar no estrangeiro tendo a certeza de que vão o
nível de vida é melhor29. Um dos grandes destinos é precisamente o país vizinho,
Espanha.
Mas e a nível cultural, aspecto que a revolução tanto veio modificar, o que
podemos assistir hoje em dia?
Creio que um dos aspectos mais flagrantes do nível cultural é o nível de ensino
da população. E o ensino português encontra-se atacado por todos os lados.
Obrigatoriedade até ao 12º, medida imposta há quatro anos, virá, na minha opinião,
acentuar o fenómeno já tão flagrante de facilitismo educacional, o que se traduzirá
indubitavelmente numa crescente incultura geral.
Outro dos pontos polémicos em relação ao ensino actual prende-se às acções
tomadas pela Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, acusada por sindicatos
e professores de possuir “um ódio pela classe que representa”; na verdade, Maria de
28
Uma das medidas políticas mais polémicas a nível económico que foi tomada há relativamente
pouco tempo refere-se à percentagem de reforma a que cada pessoa terá direito. Apesar de terem
descontado toda uma vida de trabalho, apenas terão direito a 80% – ou em certos casos ainda menos – da
sua reforma.
29
Isto nem sempre é verdade; muitos portugueses emigram clandestinamente – como aliás,
sempre aconteceu e sempre acontecerá – e trabalham em condições quase de autêntica escravatura. A
comunicação social tem trazido à luz do dia vários casos desses, com testemunhos de portugueses na
primeira pessoa, relatando os armazéns onde são mantidos prisioneiros, os míseros euros que ganham por
dia e que mal dão para sobreviver...
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seus trabalhadores (mais uma vez, anos depois da obra de Boaventura Santos ter sido
publicada, a situação de salários em atraso é assustadoramente pungente na nossa
sociedade; como exemplo, podemos referir a Academia de Música de Évora, que há
dois anos viu a maior parte dos seus docentes abandonarem o estabelecimento, pois não
recebiam salário há 14 meses); outras vezes, por acidentes (ou incidentes?...) como
explosões, fogos... Seja qual for a razão, fecham e cada dia existem mais
desempregados nas ruas portuguesas.
De facto, o 25 de Abril veio restaurar liberdades individuais... mas lançou o país
numa desordem política, social, económica da qual ainda não recuperou.
Porém, ainda que seja esta a situação, creio que, para responder à questão por
mim colocada no prólogo deste trabalho, apesar de sem dúvida terem existido elementos
negativos decorrentes dos acontecimentos de 1974, o 25 de Abril terá siso algo benéfico
para Portugal, pois creio ser preferível a liberdade à censura, a democracia ao
autoritarismo, os erros políticos tomados ingenuamente por se acreditar nos políticos à
manipulação de resultados e eleições.
Bibliografia
1996
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Http://www.verbojuridico.net/legisl/codigos/crp_2001.html
Constituição de 1976:
(...)
Artigo 13.º
(Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou
isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,
religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.
Artigo 14.º
(Portugueses no estrangeiro)
Os cidadãos portugueses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da protecção do
Estado para o exercício dos direitos e estão sujeitos aos deveres que não sejam incompatíveis
com a ausência do país.
Artigo 15.º
(...)
TÍTULO II
Direitos, liberdades e garantias
CAPÍTULO I
Direitos, liberdades e garantias pessoais
Artigo 24.º
(Direito à vida)
1. A vida humana é inviolável.
2. Em caso algum haverá pena de morte.
(...)
Artigo 36.º
(...)
Artigo 55.º
(Liberdade sindical)
1. É reconhecida aos trabalhadores a liberdade sindical, condição e garantia da construção da
sua unidade para defesa dos seus direitos e interesses.
2. No exercício da liberdade sindical é garantido aos trabalhadores, sem qualquer discriminação,
designadamente:
(...)
Artigo 67.º
(Família)
1. A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à protecção da sociedade e
do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus
membros.
Artigo 68.º
(Paternidade e maternidade)
1. Os pais e as mães têm direito à protecção da sociedade e do Estado na realização da sua
insubstituível acção em relação aos filhos, nomeadamente quanto à sua educação, com garantia
de realização profissional e de participação na vida cívica do país.
2. A maternidade e a paternidade constituem valores sociais eminentes.
3. As mulheres têm direito a especial protecção durante a gravidez e após o parto, tendo as
mulheres trabalhadoras ainda direito a dispensa do trabalho por período adequado, sem perda da
retribuição ou de quaisquer regalias.
4. A lei regula a atribuição às mães e aos pais de direitos de dispensa de trabalho por período
adequado, de acordo com os interesses da criança e as necessidades do agregado familiar.
(...)
Artigo 74.º
(Ensino)
1. Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de
acesso e êxito escolar.
2. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:
(...)
Artigo 114.º
Artigo 115.º
(Referendo)
1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser chamados a pronunciar-
se directamente, a título vinculativo, através de referendo, por decisão do Presidente da
República, mediante proposta da Assembleia da República ou do Governo, em matérias das
respectivas competências, nos casos e nos termos previstos na Constituição e na lei.
2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à Assembleia da
(...)
TÍTULO II
Presidente da República
CAPÍTULO I
Estatuto e eleição
Artigo 120.º
(Definição)
O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência
nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por
inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas.
Artigo 121.º
(Eleição)
1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, directo e secreto dos cidadãos
portugueses eleitores recenseados no território nacional, bem como dos cidadãos portugueses
residentes no estrangeiro nos termos do número seguinte.
2. A lei regula o exercício do direito de voto dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro,
devendo ter em conta a existência de laços de efectiva ligação à comunidade nacional.
3. O direito de voto no território nacional é exercido presencialmente.
Artigo 122.º
(Elegibilidade)
São elegíveis os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos.
Artigo 123.º
(Reelegibilidade)
1. Não é admitida a reeleição para um terceiro mandato consecutivo, nem durante o quinquénio
imediatamente subsequente ao termo do segundo mandato consecutivo.
2. Se o Presidente da República renunciar ao cargo, não poderá candidatar-se nas eleições
imediatas nem nas que se realizem no quinquénio imediatamente subsequente à renúncia.
(...)
Artigo 195.º
(Demissão do Governo)
1. Implicam a demissão do Governo:
2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para
assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.
(...)
TÍTULO X
Defesa Nacional
Artigo 273.º
(Defesa nacional)
1. É obrigação do Estado assegurar a defesa nacional.
2. A defesa nacional tem por objectivos garantir, no respeito da ordem constitucional, das
instituições democráticas e das convenções internacionais, a independência nacional, a
integridade do território e a liberdade e a segurança das populações contra qualquer agressão ou
ameaça externas.
Artigo 274.º
Artigo 275.º
(Forças Armadas)
1. Às Forças Armadas incumbe a defesa militar da República.
2. As Forças Armadas compõem-se exclusivamente de cidadãos portugueses e a sua
organização é única para todo o território nacional.
3. As Forças Armadas obedecem aos órgãos de soberania competentes, nos termos da
Constituição e da lei.
4. As Forças Armadas estão ao serviço do povo português, são rigorosamente apartidárias e os
seus elementos não podem aproveitar-se da sua arma, do seu posto ou da sua função para
qualquer intervenção política.
5. Incumbe às Forças Armadas, nos termos da lei, satisfazer os compromissos internacionais do
Estado Português no âmbito militar e participar em missões humanitárias e de paz assumidas
pelas organizações internacionais de que Portugal faça parte.
6. As Forças Armadas podem ser incumbidas, nos termos da lei, de colaborar em missões de
protecção civil, em tarefas relacionadas com a satisfação de necessidades básicas e a melhoria
da qualidade de vida das populações, e em acções de cooperação técnico-militar no âmbito da
política nacional de cooperação.
7. As leis que regulam o estado de sítio e o estado de emergência fixam as condições do
emprego das Forças Armadas quando se verifiquem essas situações.
Artigo 276.º
(Defesa da Pátria, serviço militar e serviço cívico)
1. A defesa da Pátria é direito e dever fundamental de todos os portugueses.
2. O serviço militar é regulado por lei, que fixa as formas, a natureza voluntária ou obrigatória, a
duração e o conteúdo da respectiva prestação.
3. Os cidadãos sujeitos por lei à prestação do serviço militar e que forem considerados inaptos
para o serviço militar armado prestarão serviço militar não armado ou serviço cívico adequado à
sua situação.
Artigo 287.º
(Novo texto da Constituição)
1. As alterações da Constituição serão inseridas no lugar próprio, mediante as substituições, as
supressões e os aditamentos necessários.
2. A Constituição, no seu novo texto, será publicada conjuntamente com a lei de revisão.
Artigo 288.º
(Limites materiais da revisão)
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
Artigo 289.º
(Limites circunstanciais da revisão)
Não pode ser praticado nenhum acto de revisão constitucional na vigência de estado de sítio ou
de estado de emergência.
(...)
Artigo 299.º
(Data e entrada em vigor da Constituição)
1. A Constituição da República Portuguesa tem a data da sua aprovação pela Assembleia
Constituinte, 2 de Abril de 1976.
2. A Constituição da República Portuguesa entra em vigor no dia 25 de Abril de 1976.
Músicas de Intervenção:
São os mordomos Do universo todo Eles comem tudo Eles comem tudo
Senhores à força Mandadores sem lei Eles comem tudo E não deixam nada
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
O lápis Azul:
21 de Janeiro de 1973
Manifestações anticoloniais em Lisboa.
Maio de 1973
Protesto dos militares à tentativa de apoio das Forças Armadas ao Governo por parte do
Congresso dos Combatentes a realizar de 1 a 3 de Junho.
1 de Junho de 1973
Início do I Congresso dos Combatentes do Ultramar, no Porto, que mereceu a oposição do
"Movimento dos Capitães". Ao mesmo tempo, circula um manifesto de Oficiais do Exército
contra o Congresso e a legislação que pretende apoiar.
13 de Julho de 1973
Publicação do Decreto-Lei n.º 353/73, que possibilitava aos milicianos do Quadro Especial
de Oficiais ultrapassarem os capitães do quadro permanente nas suas promoções, mediante a
frequência de um curso intensivo na Academia Militar, equiparado aos cursos normais, o
que originou viva contestação dos capitães do quadro permanente.
21 de Agosto de 1973
Primeira reunião clandestina de capitães em Bissau.
28 de Agosto de 1973
Eleição da primeira comissão do "Movimento dos Capitães", constituída pelos Capitães
Almeida Coimbra, Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano.
9 de Setembro de 1973
Nasce o MFA na primeira reunião plenária (clandestina) dos capitães, no Monte Sobral em
Alcáçovas, com a presença de 95 Capitães, 39 Tenentes e 2 Alferes.
24 de Setembro de 1973
A Guiné-Bissau proclama unilateralmente a independência.
6 de Outubro de 1973
Reunião quadripartida do MFA (por razões de segurança), sendo um dos locais a casa do
Capitão Antero Ribeiro da Silva, no n.º 24, 2º Dto da rua Prof. Dr. Augusto Abreu Lopes,
em Odivelas.
12 de Outubro de 1973
O Ministro do Exército e da Defesa Nacional, Sá Viana Rebelo, suspende os Decretos-Lei
n.º 353/73 e 409/73, o que não evita a crescente contestação dos capitães.
23 de Outubro de 1973
Circular clandestina onde se faz o ponto da situação.
26 de Outubro de 1973
Reconhecimento da Guiné Bissau como estado soberano pela ONU.
28 de Outubro de 1973
Eleição de deputados à Assembleia Nacional. A oposição desiste antes do acto eleitoral,
devido à inexistência de garantias mínimas de seriedade.
7 de Novembro de 1973
Demissão do Ministro Sá Viana Rebelo, na sequência da contestação do "Movimento dos
Capitães" aos referidos decretos.
24 de Novembro de 1973
Reunião plenária, na Parede, onde o Tenente-Coronel Banazol defende, pela primeira vez, a
tese de golpe militar, que transita para discussão em próxima reunião.
Dezembro de 1973
Denúncia pelo Major Carlos Fabião, numa aula de Instituto de Altos Estudos Militares, de
um golpe de estado de direita em preparação, que seria conduzido por Kaúlza de Arriaga.
1 de Dezembro de 1973
Reunião plenária em Óbidos, onde se votam três teses alternativas:
• golpe militar;
• continuação da luta contra os Decretos 353/73 e 409/73 com perspectivas de passar a
golpe militar;
• continuação da luta legalista contra os Decretos.
É aprovada a última tese, mas a primeira que fala de um golpe militar ganha apoios,
perspectivando-se o carácter revolucionário do "Movimento" e elege-se a primeira
Comissão Coordenadora do "Movimento dos Capitães" constituída por 19 oficiais e
escolhidos os Generais Costa Gomes e António de Spínola para servirem de ligação.
5 de Dezembro de 1973
Reunião da Comissão Coordenadora na Costa da Caparica, onde se rejeita a tese do
Tenente-Coronel Banazol e onde se elege um executivo do "Movimento", constituído pelos
Majores Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves e o Capitão Vasco Lourenço. É criado um
Cadeira: História de Portugal
Docente: Doutor Ramón Villares
Universidade de Santiago
Junho de 06
66
“Portugal: do 25 de Abril de 1974 aos nossos dias”
Ana Rita Faleiro
grupo de trabalho para elaborar o Programa do MFA, coordenado pelo Major Melo Antunes
e constituído pelos:
22 de Fevereiro de 1974
Publicação do livro "Portugal e o Futuro", do General António de Spínola, que abalou o
regime e, em particular, Marcelo Caetano.
5 de Março de 1974
Reunião de cerca de 200 oficiais dos três ramos das Forças Armadas, em Cascais, no atelier
do arquitecto Braula Reis. Pela primeira vez se fala na possibilidade do fim da guerra
colonial e no derrube a ditadura para o estabelecimento de um regime democrático. É
aprovado o documento «O "Movimento" as Forças Armadas e a Nação», apresentado pelo
Major Melo Antunes.
8 de Março de 1974
O Governo transfere os Capitães Vasco Lourenço e Carlos Clemente para os Açores, Antero
Ribeiro da Silva para a Madeira e David Martelo para Bragança, com o objectivo de
enfraquecer o "Movimento dos Capitães". O Capitão Clemente é levado à força para o
Aeroporto, mas o "Movimento" rapta os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva e
esconde-os.
9 de Março de 1974
Os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva apresentam-se voluntariamente no Quartel
General da Região Militar de Lisboa, na companhia do Capitão Pinto Soares, sendo os três
detidos e enviados para a Casa Reclusão da Trafaria.
11 de Março de 1974
14 de Março de 1974
Marcelo Caetano recebe Oficiais-Generais dos três ramos das Forças Armadas, numa
reunião que ficou conhecida como a "Brigada do Reumático", no intuito de tentar provar
que o regime tinha tudo sob controlo.
15 de Março de 1974
Demissão dos Generais Costa Gomes e António de Spínola por se terem recusado a
participar na "Brigada do Reumático
16 de Março de 1974
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da
Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares, alguns
deles decisivamente envolvidos na preparação da "Revolução dos Cravos".
24 de Março de 1974
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, em casa do Capitão
Candeias Valente, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar entre 22 e 29
de Abril. O Major Otelo Saraiva de Carvalho fica responsável pelo "Plano Geral das
Operações".
21 de Abril de 1974
Aprovação da versão definitiva do Programa do MFA.
22 de Abril de 1974
Está pronto o "Plano Geral das Operações: Viragem Histórica" e as Unidades Militares
afectas ao MFA ficam à espera do início do golpe militar. Por decisão de Otelo é escolhido o
Regimento de Engenharia N.º 1 na Pontinha, para instalar o Posto de Comando das
operações.
24 de Abril de 1974
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do
programa "Limite" dessa noite, na Rádio Renascença.
Aliança Povo/MFA