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OUTRAS PALAVRAS

Boletim Informativo do Centro Acadêmico Afonso Pena - CAAP - ANO LII-II - MAIO 2006
A quem acompanha atentamente a atividade políti-
ca na nossa Faculdade, não é estranha a metáfora
que aproxima a Vetusta Casa de uma espécie de
“Principado feudal”. (...)
2
VOZ CIENTÍFICA
Todo edifício é como uma colméia, cujas pequenas cavida-
des podem ser vistas todas de um ponto central. O inspetor
invisível reina como um espírito (...)
4

VOZES QUE ECOAM


Ademais, a emissão de poluentes atmosféricos é notadamente
menor quando da utilização de automóveis movidos a álcool, ha-
vendo uma melhora na qualidade do ar das grandes cidades (...) 5

VOZES DO MOVIMENTO
Aqueles que verborragiam contra a Reforma Universitária apenas
colaboram para que o atual modelo de Universidade Pública,
instituída no regime militar pela Lei 5.540/68, não mude (...) 6

VIVA VOZ
Ora, a política está implícita em qualquer filme no sentido em
que, todos eles, trazem em seu conteúdo, no mínimo, um
princípio ou uma idéia. (...) 8

OUTRAS VOZES
E m p o u c a s s e man as, o prédio já estava dividido
e m d u a s f a c ç õ e s bem definidas. (...) 10

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Distribuição Gratuita
EDITORIAL CALENDÁRIO
O “Voz Acadêmica” é uma publicação

EXPEDIENTE
C
mensal do Centro Acadêmico Afonso
umprindo as diretrizes da Gestão Outras 13/04 - Reunião de Pauta Pena, entidade que representa os estudan-
Palavras, o Voz Acadêmica toma, a partir Aqui serão decididos quais textos
produziremos, quais autores e por qual
tes da Faculdade de Direito da Universida-
do presente número, uma nova cara. Tudo bem, de Federal de Minas Gerais.
razão.
ele já está acostumado. Afinal, com mais de meio
século de história, esse coroa aprendeu a ser uma Nota: é comum e desejável que mais textos do
que o necessário sejam produzidos.
CONSELHO EDITORIAL:
metamorfose ambulante, servindo a gregos e Gestão Outras Palavras: superar e construir.
troianos.
NOSSA VOZ
Acolheu discursos, diálogos (e monólogos!), 17/04 - Entrega dos textos | PRAZO FINAL PROJETO E DIAGRAMAÇÃO:
gritos, desabafos, risadas, gemidos, sussurros... Projeto Editorial:
Paradoxalmente, carrega a obstinada missão de 18/04 - Definição do Conselho Editorial (CE) Diretoria de Comunicação
Indicação dos membros pelos órgãos com
se manter eternamente jovem, com a irreverência
cadeiras fixas e sorteio das vagas reminiscentes, IMPRESSÃO: Fumarc
e a ousadia dos vinte anos, já que, pressupondo- de acordo com Edital.
se pelo seu nome, espera-se deste Jornal que ele TIRAGEM: 3000 exemplares
seja autêntica expressão do que se passa nas mais 24/04 - Reunião do Conselho Editorial
variadas mentes estudantis da Vetusta. Aqui serão definidos quais daqueles textos CONTATO REDAÇÃO:
Cientes do desafio que aí se encontra, não vamos propostos como pauta entrarão para o jornal e
Leonardo Bedê Lotti - Tel: 31. 9247 0737
com quais correções. Todos os textos devem
nos abster de assumi-lo. ter sido lidos por todos os membros do CE
Porque não devemos nos encaretar, CONTATO COMERCIAL:
porque não devemos nos acomodar, Clarice Calixto - Tel: 31 9104 4828
24/04 a 01/05 - Revisão e diagramação
porque não devemos nos amesquinhar,
porque não devemos nos adestrar, 02/05 a 07/05 - Impressão
porque não devemos nos resignar, E-MAIL REDAÇÃO:
não vamos nos calar. 08/05/2006 - DISTRIBUIÇÃO
Para democratizar a Diretoria de Comunicação do
Centro Acadêmico Afonso Pena publicou edital de
convocação para a formação do Conselho Editorial CARTAS
deste Jornal. Visando torná-lo um instrumento
transparente e plural, em sua composição estão Caso você tenha algo a declarar, escreva
previstas cadeiras vinculadas (ao CAAP, ao CRT, para a nossa seção de CARTAS:
à AAA, aos Projetos de Pesquisa e Extensão da
faculdade) e uma cadeira desvinculada, destinada Comentários, réplicas ou reclamações serão
a qualquer aluno interessado. As inscrições para publicadas e devidamente identificadas. 1 NOSSA VOZ
ocupar tais cadeiras estarão sempre abertas, assim |EDITORIAL|
Esperamos que nossos leitores saibam que
como todas as reuniões do Conselho. este é um espaço democrático e aberto. 2 OUTRAS PALAVRAS
É com esse espírito que convocamos todos os |CAAP|

ÍNDICE
alunos da Vetusta a imprimir suas boas idéias (ou VOZ_ACADEMICA@YAHOOGRUPOS.COM.BR
sentimentos, quem sabe?) nestas páginas, ampliando
4 VOZ CIENTÍFICA
a diversidade de tons e volumes da nossa voz |PESQUISA|
acadêmica. Núcleo de Prática Jurídica 4 SOLTE O VERBO
Fique de olho no Calendário de Atividades do |OPINIÃO|
Voz, a ser divulgado, no início de cada mês, nos
murais da Faculdade. Qualquer dúvida, procure o Caso você tenha se feito alguma dessas per- 5 VOZES QUE ECOAM
Diretor de Comunicação ou contacte a Redação.
guntas: |EXTENSÃO|
A todos os alunos que enviaram textos, artigos, - Como faço para reconhecer estágio? 6 VOZES DO MOVIMENTO
charges e idéias para a confecção deste número, a - Quantas horas de estágio são necessárias? |MOVIMENTO ESTUDANTIL|
equipe do Voz agradece e se compromete a estar - Sou funcionário público, e ai?
sempre de portas abertas.
7 VOZ JURÍDICA
PROCURE O NPJ (Núcleo de Prática Jurídica) |DIREITO|
Horário de Funcionamento: 08:00 às 17:00 8 VIVA VOZ
Local: 3º andar do Edifício Villas Boas |CULTURA|
Telefone: 3217-4642
9 VOZES DE BAIXO
|HUMOR|
10 OUTRAS VOZES

1
Eleições para Diretor: uma oportunidade para mudar?
F aculdade de Direito, Outros exemplos podem ser tomados e outros estão à vida estritamente acadêmica, sem participação em funções

OUTRAS PALAVRAS
um principado Feudal espera para poderem se realizar: os meios materiais de gestão administrativas, ou aos sucessos “franciscanos” alcançados
de que se valem nossos dirigentes estarão muito visados fora da Academia, portanto, também sem participar de
Antecipo ao leitor que não respondo a pergunta do nas próximas semanas. Alguns concursos se realizarão e funções administrativas. A atividade política acaba nas
título, apenas a coloco em outros termos. Já que ninguém em tempos eleitorais… O CAAP terá muito trabalho para mãos da base e dos mais jovens, sendo assim absorvida
fala aberta e publicamente sobre eleição, vai aí uma primeira continuar a fiscalização iniciada neste ano.1 pela autoridade tradicional de figuras mais influentes de
manifestação. Na última década, essa estrutura política evoluiu de outros Departamentos ou por figuras pitorescas como
A quem acompanha atentamente a atividade política na modo que, atualmente, as relações feudais entre nossos o atual vice-Diretor e a atual sub-Coordenadora da Pós-
nossa Faculdade, não é estranha a metáfora que aproxima duques aproximam-se muito da estrutura departamental, Graduação, esta candidata a sucessora daquele. O DIC é,
a Vetusta Casa de uma espécie de “Principado feudal”. E é que passo a mapear. no final, um manancial de votos sem dono, com toda a
mesmo assim que acontece por aqui: importância que isso tem numa eleição.
Um conjunto de “Estados”, ou Departamentos, que se A conjuntura política de um Principado O DIN se divide ao meio por qualquer questão
estratificam em “ordens”, ou áreas, menores. Esses Estados às vésperas da escolha de um novo Príncipe e na eleição não deve ser diferente. Academicamente
unidos conformam um Principado, do qual o “Príncipe”, irrelevante, administrativamente irrelevante, politicamente
ou Diretor, é apenas mais um dos “senhores”, assim como Atualmente, às vésperas de uma eleição, o Principado irrelevante e eleitoralmente irrelevante… A esperança está
os outros “Duques departamentais”. Cada senhor com é dirigido por dois de seus quatro Estados. Os nos mais jovens. Atualmente, contudo, eles não parecem
seu território e seus vassalos num Reino sem mobilidade Departamentos dirigentes são o DIT e, sobretudo, o DIP. suficientemente fortes para surpreender.
social, isolado e estagnado. Esses Departamentos, juntos, controlam quase todos os Identificados os agentes, passo às relações de poder
Essa ordem feudal se legitima tão-somente pelo poder órgãos da Faculdade: NIEPE, Direção, Coordenação do entre eles.
tradicional e pelo poder carismático de seus dirigentes, uma vez Colegiado de Pós (e a coordenação de fato do Colegiado Com a candidatura do Barão Salgado, com a Profa.
que não há qualquer estatuto legal que a fundamente. de Graduação). Sobram, em administrações pálidas, apenas Silma de vice, existe uma forte tendência de os seus súditos
Quanto ao poder tradicional: é evidente o relevo político a vice-Direção, a sub-Coordenação da Pós, e o Colgrad e vassalos departamentais o acompanharem. Entretanto,
da antiguidade das linhagens de nossos dirigentes. Na para o DIC. Ao DIN não resta nada.2 justamente pelo perfil consensual que o dito Barão
Vetusta, é esse o princípio que determina os tipos de O DIP divide-se em três grandes agrupamentos, cujos imprimiu ao seu Departamento, também é forte o boato
agrupamento político. As chamadas “áreas” nada mais centros de agregação são o Prof. Aloízio, atual Diretor; de que ele não se candidataria se houver forte disputa. De
são que a continuidade tradicional de antigas relações de o Prof. João Bosco, Titular, Chefe do Departamento e todo modo, em caso de candidatura, o Barão conta com
poder, sem qualquer preocupação epistemológica, nem, candidato a Diretor; e o Prof. Florivaldo, docente influente um dos mais importantes Estados do Reino.
sequer, pedagógica. e coordenador de fato do Colegiado de Graduação. Para Ao que tudo indica, a partir do boato de que o Barão
Quanto ao poder carismático: os íntimos e familiares laços além dos que se reúnem em torno desses líderes, há outros se retiraria em caso de disputa, Sua Majestade, o Príncipe,
de afeição entre os membros de uma mesma linhagem, setores menores e dispersos, às vezes mais próximos de articulou uma candidatura forte: o Prof. João Bosco, Titular
embora tipicamente constitutivos dessa estrutura, não outros Departamentos, às vezes completamente distantes e Chefe do segundo maior Departamento da Escola.
consistem no único fundamento de legitimidade dos líderes da realidade, às vezes ambas as coisas. Assim, o DIP fecha com duas de suas lideranças, Aloízio
carismáticos. É importante lembrar também os motivos O DIT tem como Barão, Duquesa e Arquiduque, e João Bosco, em torno de um candidato, o que coloca
pelos quais os súditos desse Principado aceitam obedecer respectivamente, o Prof. Salgado, Titular e Coordenador os Estados dirigentes em franco conflito, acentuado ainda
àqueles dirigentes. Refiro-me aos meios materiais de gestão, da Pós; a Profa. Maria Helena, Chefe do Departamento; e pela escolha do vice: o Prof. Guedes, antigo companheiro
como bolsas de pesquisa, concursos, cargos, influências, o Prof. Antônio Álvares, Titular. Pela supremacia do Barão, do clã do Barão Salgado.3
verbas de fundações, capazes de garantir a obediência é um Departamento de fisionomia consensual, apesar Com a candidatura do Prof. João Bosco, o anúncio
dos súditos aos senhores através de uma relação de troca do poder de seus bravos opositores internos, a saber, os da candidatura do Prof. Roberto Luiz fica ofuscado. Para
entre fidelidade política, de um lado, e prestígio social (ou Profs. Márcio Túlio; e Miracy. Sem a coragem e a coerência vingar, essa candidatura dependia exclusivamente da
acadêmico) e retribuição material, de outro. desses opositores, há, ainda, alguns docentes jovens e disposição e da influência da possível vice: a Profa. Juliana
Dessas relações de poder, baseadas na obediência, oportunistas, que, sorrateiramente, fogem ao consenso e, Cordeiro. Poderia ser a candidatura apoiada pelo DIC,
tradicional, promíscua e comprada, resulta uma estrutura muito recentemente, estiveram, ou ainda estão, à frente mas a professora de Processo ainda não tem doutorado
administrativa viciada em vários setores. de importantes postos. O consenso instaurado nesse e, portanto, não pode se candidatar. As opções restantes,
Como exemplo, tome-se o descrito no primeiro Departamento depende de uma relação sempre pendular Moema e Fabiana de Menezes, tornariam a candidatura
URTIGA publicado pelo CAAP esse ano: “nosso problema entre os Titulares: Salgado e Antônio Álvares. Essa relação uma anedota histórica.
fundamental é a insuficiência numérica de professores”. deve ser sempre observada para se compreender bem a Nesse contexto, assumem importância nevrálgica os
Ora, além das circunstâncias nacionais que envolvem dinâmica do Departamento. próximos movimentos do Prof. Florivaldo, que podem
o tema, originadas de oito anos de total sucateamento Os outros Estados ficam à margem da disputa e, apontar para quatro direções distintas: ou a inércia num
das Universidades e seguidos por outros quatro anos exatamente por isso, muito insatisfeitos. A insatisfação do momento crucial para a Faculdade; ou uma aliança que
de políticas educacionais insuficientes, existem motivos DIN é absorvida pela falta de comando e pelas disputas unifique os líderes do DIP; ou uma aproximação com o
internos para o problema. O isolamento medieval da nossa internas entre as gerações desse Estado. A insatisfação do DIT, numa troca de traições: Guedes e João Bosco para um
Faculdade em relação à Universidade; as quase sanguinárias DIC é relevante: trata-se do maior Estado do Principado lado, Florivaldo e Salgado para o outro; ou até mesmo uma
disputas entre nossos clãs nos Departamentos e na Pós; em termos numéricos e eleitorais. quarta candidatura. Nesta última hipótese, o feudalismo
o esvaziamento dos nossos órgãos representativos (um Os líderes destacados do DIC não alcançam influência acadêmico da Vetusta Casa de Afonso Pena estaria finalmente
ano sem reunião da Congregação!); a completa inaptidão política. É um Estado sem guerreiros. São os clérigos da ameaçado. Infelizmente, é a opção menos provável. No
de alguns docentes, estranhamente ingressos por Vetusta. O destaque que alcançam deve-se ou à “jesuítica” caso da primeira, mais triste e mais provável, faria sentido
concurso; a dedicação exclusivamente externa de outros afirmar que a Faculdade tem os governantes que merece.
1
Todos sussurram baixinho: …bira… o que?… Vamos esperar Assim, o DIC, juntamente com o Prof. Florivaldo,
docentes; a complacência com práticas moralmente e
para conhecer. O CAAP está de olhos abertos. ganham destaque. Até agora, só a Profa. Silma representa
administrativamente inaceitáveis; e a total ausência de 2
DIP – Departamento de Direito Público; o DIC entre os candidatos. Definitivamente, não se trata
uma preocupação acadêmica são problemas genuinamente
DIT – Departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao
internos, originados daquela estrutura feudal, e responsáveis, Estudo do Direito;
não só pela insuficiência de professores, mas por toda sorte DIC – Departamento de Direito e Processo Civil e Comercial;
3
Ao que tudo indica, o anúncio do vice, o Prof. Guedes, é mais
de problemas com que convivemos diuturnamente. DIN – Departamento de Direito e Processo Penal. importante que a candidatura em si…

2
de uma forte representante. Ponto para o Prof. Florivaldo. O debate eleitoral Esse é o pano de fundo das eleições e, se essas coisas
O DIC, numa disputa entre DIP e DIT, é que tem maiores entre a estrutura e a conjuntura não forem discutidas, o debate será reduzido à baixeza de
chances de barganhar. Dos cortejos que o Departamento uma disputa sem emoção ou à baixaria de uma disputa sem

OUTRAS PALAVRAS
receberá daqui para frente, poderão surgir três situações: Como ficou claro no texto, as eleições que se razão.
o apoio maciço a alguma das candidaturas já lançadas, o aproximam têm dois aspectos importantes e bem distintos: Ainda mais profundamente, podemos discutir
que é pouco provável; a divisão do Departamento entre as as disputas de momento e suas peculiaridades; e as questões alternativas que rompam definitivamente com a trajetória
candidaturas já lançadas, a mais provável das alternativas; institucionais de médio e longo prazo, estas as questões medieval da Faculdade. Precisamos de uma alternativa
e o apoio a uma quarta candidatura, o que é ainda menos centrais das eleições no Reino.
provável, embora fosse extremamente saudável. Nas duas
academicista e democrática (representativa), baseada na
Eleição no Reino?! Soa mesmo estranho. Mas é legitimidade de um estatuto legal que ainda nem mesmo
últimas hipóteses, haveria um acirramento das posições exatamente assim que os preparativos pré-eleitorais estão existe5, capaz de expropriar nossos barões, duques, condes,
entre os professores, o que daria peso aos votos dos sendo arranjados, como se fossem eleições para Príncipe. vassalos e servos dos meios materiais de gestão, reunindo
estudantes e dos funcionários. Além da paridade, essas E o primogênito da linhagem real já foi abençoado: Sua tais poderes em torno da instância de Representação
são as únicas formas de esses segmentos participarem Majestade, Prof. João Bosco? Cabe ao Barão Salgado da Comunidade Acadêmica, a Egrégia Congregação, que
efetivamente na eleição. reclamar a coroa. Do modo como as atuais candidaturas atualmente, aliás, nem mesmo se reúne. Não é mais possível
Esses os agentes e as relações de poder que eles mantêm. estão aparecendo (a do Prof. Salgado, baseada na tradição que tudo continue sendo decidido aristocraticamente, pelo
Agora uma opinião sobre as candidaturas: de o poder central circular entre os Departamentos; e a Diretor e pelos outros senhores feudais: quem entra na
João Bosco e Guedes: Suspeita-se que o candidato do Prof. João Bosco, baseada numa articulação do atual Faculdade, quem ganha bolsa, quem vence eleições. Tudo
a Diretor desista em nome do Barão Salgado ou que, Diretor), os preparativos das eleições não apontam para uma isso é de interesse de toda a Escola, que deve reger-se por
na realidade, esteja fazendo campanha para tornar-se disputa que reflita as contradições estruturais da Faculdade. normas prévias e governadas por quem efetivamente a
Coordenador do Colegiado de Pós. De todo modo, É uma disputa de momento, uma no sem-número de atritos representa. À Congregação cabem os poderes de decidir,
significa a continuidade da opção institucional medíocre entre nossos senhores feudais e suas linhagens. Disputas uma vez que é ela, e apenas ela, o órgão que representa a
representada pelo atual Diretor. assim obscuras, obtusas e personalistas acabam esvaziando Faculdade.
Salgado e Silma: É a candidatura da qual se fala há mais de conteúdo político as eleições, transformando-as num Nesse sentido, o debate sobre a paridade não pode
tempo. A tentativa é reunir em torno do Barão Salgado conjunto de telefonemas e conversas de corredor sem mais ser adiado. Não só quanto à paridade de votos entre
todos aqueles que se opõem superficialmente à Direção interesse para a coletividade. estudantes, funcionários e professores, mas, principalmente,
do Prof. Aloízio. Eles buscam o apoio quanto à representação paritária desses setores na
do DIC e é mesmo lá que será decidida Egrégia Congregação. É um completo e inaceitável
a eleição. O que se tem que frisar é que absurdo que, numa leitura da conjuntura política
Salgado e Aloízio, há um ano atrás, “Esse é o pano de fundo das eleições e, se da Escola, não conste, por eleitoralmente
dirigiam juntos a Faculdade. Assumir a essas coisas não forem discutidas, o de- irrelevante que é, a organização dos estudantes e
função de opositor agora é hipocrisia. dos funcionários. A Escola é de todos nós, não é
Quem não está contente com a gestão bate será reduzido à baixeza de uma dispu- só dos docentes. Isso é escolha institucional.
do atual Diretor não poderá se contentar ta sem emoção ou à baixaria de uma disputa O isolamento físico e acadêmico a que
com a do Barão Salgado. A oposição é sem razão.” estamos submetidos, insulados no centro
falaciosa e muitos dos erros cometidos da cidade, sem acesso às discussões de uma
pelo atual Diretor são de responsabilidade Universidade, às pesquisas universitárias (salvam-
do Barão. João Bosco, Aloízio e Salgado se os esforços dos professores que lutam para
são definitivamente uma e a mesma coisa, O que precisa ser discutido é a opção institucional garantir os projetos de pesquisa), aos projetos
este menos fiel ao Diretor que aquele. tomada pela Faculdade, responsável por várias de nossas de extensão universitários (salva-se o Pólos, os estudantes
Uma observação especial em relação à candidata ao insatisfações. Hoje, temos, do lado dirigente, professores salvam o NEDA, e que Deus salve a DAJ!), à uma Vida
cargo de vice-Diretora: sua candidatura é a prova política que querem formar operadores do Direito e só. Essa opção Universitária. Isso é escolha institucional.
cabal de que a decadência da Faculdade não tem tamanho está materializada no símbolo concreto e violentamente Esses debates que nunca começaram, embora
nem pudor; e de que os ventríloquos da Vetusta não têm tangível de um Juizado (!!!), incrustado numa das melhores representem os reais caminhos que estamos trilhando,
tamanho nem pudor. Afinal, o vice-Diretor, na triste instalações de nossa Faculdade, local que já abrigou a Sala são o fruto de aspirações a respeito de uma eleição que
hipótese de vitória do Salgado, não seria ela, não teria dos Professores. É o prolongamento do nosso Castelo não conseguiu nem mesmo se publicizar ainda. Temos
tamanho, nem muito menos pudor. E aí? Você já sabe de medieval. A transformação do Castelo em Palácio. Um candidatos? Onde estão? Por que são candidatos? Para
quem estou falando?! Ou ainda acredita na lenda de que a princípio de absolutização do poder do Diretor e da escolha que? Quais os objetivos? Cadê os debates?
atual Diretoria do CAAP é pelega?4 institucional que ele representa. Nesse quadro medieval, com os guerreiros, clérigos e
Roberto Luiz: Uma candidatura inviável eleitoralmente. Para além dos dirigentes, de forma embrionária e nobres em seus figurinos e cenários descritos, cada agente
Apesar do receio que provoca em muitos, dada sua peculiar dispersa, temos a possibilidade de construir agora uma move suas ações de acordo com a leitura que faz da história.
personalidade e seus excessivos rigorismos, tem condições alternativa academicista. O laboratório do bacharel não Esta é apenas uma primeira leitura… E o que não é, de
de se fixar como uma opção minoritária, mas digna. Para é o fórum, nem o Juizado, como nossos aristocratas nenhuma forma, admissível, é que seja a única, ou que seja
tanto, é preciso cuidado para não se proceder uma escolha têm afirmado nos últimos anos. É a sociedade! Assim, desconsiderada, ou, pior: vinculada a outras forças que não
incauta como as que se tem pensado. preocupam as amarras do direito positivo sobre as a estudantil. Não só porque tudo isso seria injusto, mas,
Surpresas podem aparecer das regiões marginais de pouquíssimas disciplinas de Política que temos; preocupa principalmente, porque seria um tremendo erro político.
cada Estado departamental e seria bom para a disputa a dogmática e o conservadorismo excessivos; preocupam
que aparecessem. Ainda há um boato em torno do Prof. as condições da nossa biblioteca e, principalmente, suas Jeferson Mariano Silva.
Marcio Túlio... A Profa. Miracy teria, de início, mais votos prioridades. Não é apenas de manuais que precisamos, mas Coordenador de Representação Discente – CAAP
Membro da Egrégia Congregação da Faculdade
que todos os supracitados, entre os estudantes, entre os de uma biblioteca inteira de autores que sequer constam no Conselheiro Universitário – UFMG
funcionários e até mesmo entre os professores… nosso currículo. Isso é escolha institucional.
jefersonmariano@gmail.com6
5
Não há normas no Reino: em curiosa ironia, a Faculdade de
4
A propósito… por onde anda o articulador da candidatura do Direito não conta com Regimento Interno. Caberia à Congregação 6
Uma última observação: Aqueles que tiverem críticas ou
Salgado? Há boatos de que ele se afastou para garantir a vitória aprovar um. No passo que estamos, contudo, reuni-la já é grande comentários sobre o texto, por favor, encaminhem para o
do Barão. vitória. Mas claro, também não há Parlamento no Reino… e-mail: jefersonmariano@gmail.com

3
E depois da academia,
A evolução histórica da pena: Jeremy Bentham e o Panótipo como fica a Academia?
F alar da evolução histórica da pena é essencial para a
compreensão das atuais formas de punição e dentre elas, a
mais importante: a pena de prisão. Sem dúvida, pode-se dizer
e hábitos laboriosos, sendo que os réus “saem dali para
serem impelidos outra vez ao delito pelo aguilhão da miséria,
submetidos ao despotismo subalterno de alguns homens
A vida possui variantes. A essência vital de cada ser humano,
porém, é a mesma. O consciente se auto-engana na tentativa
contumaz de controlar o inconsciente. O desejo não domina
que a visão que se tem do crime está intrinsecamente ligada ao geralmente depravados pelo espetáculo do delito e uso da o intentado. A razão perde a batalha contra a personalidade
contexto, vale dizer: relações de poder, costumes, influência da tirania. (...) Em relação à moral, uma prisão é uma escola individual. O caráter é o cunho especial diferenciador das pessoas.
religião na política, etc. Ao caminhar pela história da punição onde se ensina a maldade por meios mais eficazes que os

SOLTE O VERBO
Os caminhos nunca dantes percorridos, freqüentemente, são

VOZ CIENTÍFICA
vê-se que ela é repleta de idas e vindas, marcada sempre pela que nunca poderiam empregar-se para ensinar a virtude: o surpreendentes. A tendência, contudo, é se esquivar das trilhas
convivência de velhos e novos métodos punitivos, o que não tédio, a vingança e a necessidade presidem essa educação de desconhecidas. Almejar com muito fervor pode nos trazer
retrata nada mais do que a transformação paulatina do pano perversidade”3. avanços. As decepções, entretanto, não restam excluídas. O engano
de fundo que permeia todas as demais relações sociais. pertence ao rol de possibilidades. A análise profunda costuma
Dentre as maiores transformações dos métodos punitivos O panótipo revelar o íntimo, isto é, a cripta face concedida voluntariamente
está aquela que se pode chamar de humanização penitenciária, Sob o ponto de vista penalógico, uma das contribuições
à alteridade.
movimento fundado nas idéias de razão e liberdade. Para mais importantes de Jeremy Bentham foi o panótipo. Segundo
O não pensar como soía, mas permanecer com a mesma alma.
Foucault, esta pretensa humanização seria, na verdade, um Michel Foucault, ele teria se inspirado na casa de feras que Le
A esperança jaz, mas as mudanças, quando plausíveis, deixam de
discurso que daria lugar à utilização de uma sutil tecnologia do Vaux construiu em Versailles. “O panótipo é um autêntico
persistir. A indolência reinante permite, amiúde, a insensibilidade
poder. De qualquer modo, denominarei este movimento de zoológico: o animal está substituído pelo homem – agrupado
moral fruto de uma impassibilidade, melhor dizendo, de uma
humanização penitenciária. ou individualmente – e o rei pela maquinaria de um poder
negligente apatia constante. Não há arrependimentos de si mesmo.
Os primeiros a criticarem o direito penal em suas bases e os furtivo”4. A grande preocupação era com a observação
Algo muito peculiar e autêntico forma o espírito. A sua estrutura
excessos da legislação foram Montesquieu, Voltaire e Rousseau. individualizadora e com a disposição analítica do espaço,
fundamental se constitui da forma desvinculada da matéria
Para estes filósofos o fim do estabelecimento da pena não procurando assim controlar com mais facilidade o maior
conformadora e deformadora. O limite da mente é o ilimitado. Na
deveria ser “atormentar”. A pena deveria ser proporcional ao número possível de pessoas.
medida em que se pode pensar tudo, esse pleno, compreendido
crime e levar em consideração as circunstâncias pessoais do Bentham, ao descrever o panótipo, diz: “[é] uma casa
sem um nexo temporal, é caótico. Não se pode, todavia, fazer
delinqüente e o seu grau de malícia, produzindo a impressão de Penitência. Segundo o plano que lhes proponho, deveria
tudo. O que cada um faz é reflexo de sua propensão intrínseca.
de ser mais eficaz sobre o espírito dos homens e, ao mesmo ser um edifício central, ou melhor dizendo, dois edifícios
As percepções rodeiam os não conhecedores de um processo
tempo, a menos cruel para o corpo do delinqüente. Foucault encaixados um no outro. Os quartos dos presos formariam
ultrapassador do sensível e só pode ser entendido no apreendido,
diz que, a partir disto, a punição se desloca do corpo do o edifício da circunferência com seis andares, e podemos
não com um mero dado a priori, mas como algo que possui
apenado para atingir a sua alma.1 O movimento de idéias em imaginar esses quartos com umas pequenas celas abertas pela
concepção irreal, uma vez que não se manifesta na realidade (na
torno da reforma do sistema punitivo atingiu seu apogeu na parte interna, porque uma grade de ferro bastante larga os
natureza). É o abstrato, uma espécie de espaço geométrico fora de
Revolução Francesa. Dentre os pensadores que se ocuparam deixa inteiramente à vista. Uma galeria em cada andar serve
sua funcionalidade. O modelo propiciador do desvendamento do
do tema, destacam-se Beccaria, Howard e Bentham. Neste para a comunicação e cada pequena cela tem uma porta que
que parece obscuro, não obstante seja nítido. Tão claro que sua
breve artigo analisarei as idéias de apenas um deles: o pensador se abre para a galeria. Uma torre ocupa o centro, que é o
luz, radiante como o Sol, não raras vezes, oculta a visão dos mais
inglês Jeremy Bentham. lugar dos inspetores: mas a torre não está dividida em mais
crédulos.
Bentham procurou um sistema de controle social, um do que três andares, porque está disposta de forma que cada
A realidade imaginada pode corresponder à realidade mesma.
método de controle do comportamento humano de acordo um domine plenamente dois andares de celas. A torre de
com um princípio ético. Este princípio se basearia na idéia de inspeção está também rodeada de uma galeria coberta com Não é um problema intelectivo, porquanto desvia do conhecer
ato útil, pelo qual se busca o benefício, o prazer e a prevenção uma gelosia transparente que permite ao inspetor registrar simples, mas, sem ignorá-lo por completo, o incorpora e, além do
da dor. Foi também um autor consciente da arquitetura todas as celas sem ser visto. Com uma simples olhada vê um cognoscível, engendra o sensível. O sensível não se reduz apenas
penitenciária e idealizou o Panótipo, exercendo muita terço dos presos e movimentando-se em um pequeno espaço ao sentimento, mas alia-se à sensibilidade mesma e, mais que um
influência nesta área. pode ver a todos em um minuto. Embora ausente, a sensação querer, é um saber querer. É um almejar desejar. O contrário
A prevenção geral seria o fim maior da pena, ficando a de sua presença é tão eficaz como se estivesse presente. (...) é apenas refluxo, não sendo uma mera sombra. Não é real,
prevenção especial em segundo plano. Bentham acreditava Todo edifício é como uma colméia, cujas pequenas cavidades tampouco irreal. Não intentar e, concomitantemente, pretender,
no uso da pena para enfraquecer o motivo que produziu o podem ser vistas todas de um ponto central. O inspetor é uma contradição insuperável.
delito: “por maior que seja o proveito do delito, sempre pode invisível reina como um espírito”5 Fenecem as tentativas mais perspicazes. A sagacidade cede
ser maior o mal da pena”2. Percebe-se a concepção utilitária Apesar da grande preocupação com o controle e com a espaço à mordacidade. Enfraquece a astúcia. Expira-se a penetração
que tinha do fenômeno do crime, considerando-o como um segurança, Bentham procura também a estimulação da emenda espiritual. Há uma inequívoca preferência pela maledicência, ao
ato racional em que o indivíduo fizesse uma avaliação das do réu. Baseado nesta preocupação, recusa o isolamento mesmo tempo satírica e corrosiva. A busca por uma superação
vantagens e desvantagens de sua ação. Desta forma, se a pena celular permanente e sustenta que o trabalho desenvolvido depende de modo categórico de um esforço contingente.
representasse uma desvantagem maior que a vantagem do não pode ser penoso e inútil, mas, sim, produtivo e atrativo. O Poucos, no entanto, vêem-se dispostos em empreendê-lo. Labor
crime, ocorreria a prevenção do mesmo. Quanto à prevenção trabalho não pode se tornar detestável. Com o fim de permitir imensurável e de glória duvidosa.
especial, acreditava que a separação dos delinqüentes em uma reforma mútua, propôs a integração de pequenos A propaganda nefasta esconde apenas o viés gabola dessa
diferentes seções permitiria que meios diversos de educação grupos, classificados previamente de acordo com seu grau perturbação insistente em alastrar por todos os lados, negando-
se adequassem à diversidade de estado moral. de perversidade. Embora não acreditasse na crueldade dos se em reconhecer a sua completa insignificância. A fuga nada
Bentham dava uma grande importância aos aspectos castigos, propunha um castigo moderado, formado pela resolve. A solução está no enfretamento destemido. A coragem
externos e cerimoniais da pena, que deveria ser cruel apenas disciplina severa, vestimenta humilhante e alimentação encarada como virtude, promissora da verdadeira excelência. A
na aparência. Não via a crueldade da pena como um fim em grosseira, o que alcançaria bons resultados do ponto de vista dignidade ressurge quando se elevam os sentimentos mais nobres.
si mesmo e, sim, como um meio para o fim de intimidação. da prevenção geral e especial. A enorme expectativa deve se transformar em um agir. É forçoso
Segundo ele, as penas infamantes descartam qualquer O conceito do panótipo não chegou a se desenvolver o discernimento capaz de propiciar uma vivência transformadora.
possibilidade de reabilitação do condenado. Além disso, para plenamente, mas seu projeto é um antecedente imediato Ele reside justamente no desprendimento propiciador dessa
garantir o objetivo reabilitador da pena, pontuava a necessidade do desenho radial que muitas prisões apresentam. Foi nos experiência. É extremamente motivador, quando embalado pelos
de uma assistência pós-penitenciária. Estados Unidos que as idéias de Bentham tiveram maior auspícios éticos. Frise-se, contudo, não se tratar de uma ética
Em relação às condições criminógenas da prisão, Bentham acolhida, mesmo que não em sua total concepção. graduável. Urge o reconhecimento do ser humano como ente
– muito à frente de sua época – anteviu o que se chama máximo e, conseqüentemente, a promoção imediata de sua total
hoje de subcultura carcerária. Acreditava que as condições Carolina Barreto Lemos libertação.
inapropriadas das prisões destroem qualquer noção de honra Pesquisadora junto ao Departamento de Direito Penal São Paulo, 23 de dezembro de 2005.

1
Michel Foucault, Vigiar e Punir: o nascimento da prisão, Petrópolis, 3
J. Bentham, El panóptico, p.56. Osvaldo Alves de Castro Filho
Mestrando em Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade
Vozes, 1987. 4
Michel Foucault, Vigiar y castigar, p.206.
2 de Direito da Universidade de São Paulo. E-mail: oacf@usp.br
Jeremy Bentham. Princípios de legislación y jurisprudência, p. 288. 5
J. Bentham, El panótipo, p.40.

4
Crise energética norte-americana,
álcool combustível e impactos ambientais no Brasil

VOZES QUE ECOAM


O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no
seu discurso sobre o Estado da União, realizado em
janeiro, defendeu um amplo programa de investimentos
nas denominadas fontes alternativas de energia – dentre elas
o etanol – e o desenvolvimento de automóveis elétricos
acionados por células de hidrogênio. Considerando, nas
encontrarão fortes barreiras no que tange à tentativa de
acesso ao mercado estadunidense. Primeiramente, salienta-
se que o governo Bush almeja uma solução “doméstica”
e autônoma para a superação do dominante uso de
fontes tradicionais de energia. Conforme anteriormente
salientado, inúmeros subsídios são fornecidos a produtores
A plantação de cana-de-açúcar no Brasil remonta ao
período colonial. Na costa nordestina, região cujo clima
sempre foi propício ao desenvolvimento de canaviais,
desenvolveram-se, especialmente ao longo do século
XVII, inúmeros latifúndios produtores, acarretando sérios
e irreversíveis impactos ambientais ao longo da Mata
próprias palavras do presidente Bush, que a “América é de milho (base produtora do álcool etílico norte-americano) Atlântica. À criação de engenhos seguiu-se o crescimento
viciada em petróleo”, a busca por novas fontes, haja vista e a indústrias fabricantes do combustível. Afirmando tal de pequenas cidades habitadas por senhores atraídos pelo
a conjuntura atual, torna-se uma verdadeira necessidade, tendência, verifica-se que os EUA cobram US$ 0,54 de crescimento exponencial da monocultura de cana e pelas
tendo o presidente almejado uma redução, até 2025, de tarifa alfandegária sobre a importação de cada galão de riquezas por ela proporcionadas.
75% das taxas de importação de petróleo do Oriente Médio etanol com o intuito de proteger a incipiente (mas crescente) Nos séculos seguintes, tendo o eixo econômico
e uma conversão do país à era da superação da dependência produção nacional, o que equivale a um aumento de 25% brasileiro se deslocado para a região sudeste, a importância
de energias fósseis. do preço final do combustível importado nas bombas dos da agricultura canavieira decresceu, embora inúmeras
A campanha, nos EUA, pela massiva adoção do postos. propriedades rurais, ao longo da Zona da Mata e Agreste
álcool como combustível para carros e caminhões parece Nesses aspectos, compete ao governo Lula, apoiando-se nordestinos, permaneceram intocadas, persistindo as duas
irresistível e não é injustificada. A medida eliminaria a nas prévias vitórias comerciais no âmbito da Organização facetas complementares das sub-regiões – o latifúndio
maior parte do consumo de gasolina no país, considerando Mundial do Comércio (OMC), buscar novas conquistas no monocultor ambientalmente insustentável e a pobreza
que o preço atual do barril de petróleo, hidrocarboneto que se refere à quebra de políticas protecionistas. do trabalhador rural, representando a força das velhas
não-renovável, está no patamar recorde dos 70 dólares, Caso consiga acesso a mercados internacionais, a estruturas sócio-ambiental-econômicas locais.
aliado ao constante clima de incerteza e volatilidade acerca produção nacional deverá ser suficiente para atender Em 1975, o governo brasileiro instituiu o “Pró-Álcool”,
dos fornecedores, em sua maioria árabes, do mercado aos consumos interno e externo, através de constantes na tentativa de enfrentar a primeira crise do petróleo,
estadunidense. O boicote destes à exportação de petróleo, investimentos no setor. O aumento da demanda e a oriunda do conflito árabe-israelense do Yom Kippur. O
durante o conflito árabe-israelense do Yom Kippur, em conseqüente insuficiência da oferta levariam a instabilidades amplo incentivo dado à produção e à comercialização do
1973, elevando em 300% o preço do barril, é um pesadelo econômicas acerca do preço do álcool combustível. O álcool combustível, no Brasil, evidenciou-se pelo crescente
recorrente das grandes potências capitalistas ocidentais. BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico número de veículos, por ele movidos, comercializados no
As desavenças internacionais quanto ao programa e Social) se propôs a financiar empresas brasileiras que país durante a década de 80. As frentes agrícolas cultivadoras
nuclear iraniano representam um novo campo fértil de almejam a instalação de novas indústrias produtoras de de cana-de-açúcar se alargaram, proporcionando visível
instabilidades no mercado petrolífero global. O Irã é o álcool etílico, tanto no Brasil como em outros países da e inquestionável degradação ambiental, como no bioma
quarto maior produtor mundial do combustível fóssil e uma América Latina, conforme reportagem do jornal Folha Cerrado, embora relegada por um governo defensor de
suspensão das suas exportações levaria, irremediavelmente, de S.Paulo (BNDES financiará projetos de etanol na América amplo e quase irrestrito crescimento econômico. Quando
a uma crise global de desabastecimento. A Venezuela Latina, Folha – caderno Dinheiro – 14/02/2006). os produtores de cana passaram a concentrar suas vendas
chavista, membro da Organização dos Países Exportadores Certamente, o álcool nacional é mais competitivo em no mercado externo, em razão do aumento expressivo do
de Petróleo (OPEP), também evoca imprevisão, relação ao norte-americano. O etanol brasileiro, produzido preço do açúcar em 1989, os preços do álcool combustível
principalmente em relação aos norte-americanos. a partir da cana-de-açúcar, requer menos mão-de-obra subiram sensivelmente, levando à estagnação do programa
O etanol, na forma do composto E85, já vem sendo, nos e menos fertilizante que o milho. O baixo custo da força por razões econômicas – e não técnicas. A gasolina voltou
últimos anos, produzido e desenvolvido, à base do milho, de trabalho é um outro fator que possibilita o seu preço a reinar nos anos 90 e o incentivo ao consumo de novos
nos EUA. O setor de etanol deste país é composto por 95 reduzido. Ademais, fornece quase oito vezes mais energia, combustíveis pareceu não ter retorno.
usinas que, em 2005, produziram cerca de 15 bilhões de segundo dados científicos do Centro de Tecnologia As suspeitas dos consumidores continuaram intensas
litros de álcool, quantidade irrisória frente aos 532 bilhões Canavieira, localizado em Piracicaba (SP). durante a década passada e somente foram superadas
de litros de gasolina consumidos na maior economia do em 2003, quando os fabricantes de veículos lançaram
planeta. O governo propõe um aumento de 80% no uso de Impactos ambientais oriundos do crescimento os motores “flex fuel”. A produção de cana-de-açúcar
fontes alternativas de energia até o ano 2012. da utilização do álcool combustível voltou a crescer amplamente, tendo novas plantações
Para alcançar os objetivos propostos, a produção de se estabelecido em áreas anteriormente ocupadas pela
álcool etílico passou a ser amplamente subsidiada nos Nos primórdios da era do automóvel, Henry Ford atividade pecuária. Assim sendo, emergem, por parte de
termos da nova lei de energia, que prevê, por exemplo, previu: “O álcool etílico é o combustível do futuro”. Na ambientalistas, preocupações acerca da possibilidade de
créditos tributários de até US$ 30 mil a postos que ofereçam atual conjuntura, o sensível aumento da demanda global de deslocamento de pastagens ocupadas pelo setor canavieiro
combustíveis alternativos. Nos EUA já existem veículos energia – especialmente em razão do boom econômico chinês em direção à Amazônia, encorajando um desmatamento
“flex” e diversas fabricantes, como a Ford e a General – gera a necessidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento ainda maior na região.
Motors, prometeram elevar a produção de automóveis de fontes alternativas de energia. As taxas de produção e Os impactos ambientais seriam mais intensos e
daquela qualidade. consumo global de petróleo se aproximam, acarretando preocupantes, se, eventualmente, o álcool etílico brasileiro
pressões no mercado. Isso explica a guinada dos governos tiver amplo acesso ao mercado consumidor norte-americano.
Exportações brasileiras de álcool combustível de grandes potências econômicas em direção à tentativa de No entanto, muitos dizem que, no curto prazo, a aceitação
independência em relação ao uso de combustíveis fósseis, do consumidor americano à adoção do álcool combustível
Há quem acredite que o discurso do presidente Bush tradicionais. encontrará obstáculos no menor teor energético desse em
abra inúmeras oportunidades para a economia brasileira, Nos Estados Unidos, em razão do amplo incentivo relação à gasolina (o que torna necessário abastecer numa
pois, considerando a sua disposição em eliminar o petróleo dado pelo governo a agricultores e usineiros, as plantações maior freqüência) e na necessidade de compra de um novo
do topo da matriz energética norte-americana, teríamos de milho no meio-oeste do país vêm se ampliando veículo, apto a ser movido por um novo produto. Ademais,
um vasto mercado consumidor de álcool etílico. Ademais, consideravelmente. há de se ressaltar a diferença climática existente entre
o Brasil tem reais condições técnicas de atender à demanda, Em tempo de vacas magras no mercado petrolífero o Brasil e os Estados Unidos. Em um país de clima frio
já que o país detém o domínio, desde os anos 70, da internacional, o Brasil, neste ano, tornou-se auto-suficiente há maior dificuldade de dar partida num motor movido a
tecnologia de utilização do etanol como combustível, bem em petróleo, 50 anos após a criação da Petrobrás. No álcool.
como é líder global de sua produção, a partir da cana-de- entanto, a importância histórica e contemporânea da cana- Segundo Clair Izinho Benfica, diretor de gestão
açúcar. de-açúcar e do álcool combustível representam traços operacional da Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte,
Os produtores brasileiros de cana, no entanto, inquestionáveis do país. a sustentabilidade e o equilíbrio no que tange à produção

5
de álcool etílico no Brasil é viável. Para o ambientalista, “o
Brasil tem condições de ser um grande produtor mundial Novos tempos para o Movimento Estudantil
D
do combustível, em razão das suas condições climáticas

VOZES QUE ECOAM

VOZES DO MOVIMENTO
esde a eleição de Lula em 2002, os movimentos sociais brasileiros passaram por uma importante mudança de
favoráveis, suprindo as demandas internacionais de
atitude em sua atuação política com relação ao governo federal. Isso se deve, em um primeiro momento, pelo
energia”. No entanto, adverte que há a necessidade de um
fato de a vitória eleitoral da esquerda, no Brasil, ter representado um importante avanço na luta contra o neoliberalismo
duplo olhar – o econômico e o sustentável –, já que “não
e posteriormente, por ter o atual governo instituído uma política de permanente diálogo com os movimentos sociais
deve ser pensada a lógica de 400 anos atrás”. Clair, ainda,
organizados.
defende investimentos em pesquisa e biotecnologia, para
que possa haver maior produtividade e menor expansão da No caso da Educação Superior, saímos de um longo período de privatização do ensino e desmonte da Universidade
fronteira agrícola. Pública e abriu-se uma nova perspectiva com a proposta de Reforma Universitária pelo atual governo. Apenas para ilustrar
Apesar dos desafios a serem enfrentados pelo o quadro anterior, em 1994, 25,6% das Instituições de Ensino Superior (IES) eram públicas e 74,4% eram privadas; em
crescimento da produção e utilização do álcool proveniente 2003 as públicas representavam 11,1% e as privadas 88,9%*. A desregulamentação neoliberal produziu uma verdadeira
da cana-de-açúcar, conquistas hão de ser consideradas frente explosão de instituições privadas de ensino sem que houvesse qualquer acompanhamento quanto à melhoria da qualidade
ao consumo de combustíveis fósseis, como o petróleo. e as Universidades Públicas entraram em crise por seu desfinanciamento progressivo.
Evitar-se-ia, por exemplo, os custos, a morosidade e os No governo Lula houve a instituição de um controle maior sobre o crescimento da rede privada de ensino. No
impactos ambientais no âmbito da construção de refinarias e caso dos cursos de Direito, por exemplo, um grupo de trabalho composto de representantes do Ministério da Justiça e
plataformas petrolíferas. Estas proporcionam, por exemplo, da OAB instituiu critérios rigorosos de qualidade para abertura de novas faculdades. Em relação ao financiamento da
desequilíbrios no plâncton marinho. Ademais, a emissão de Educação Pública Superior houve crescimento significativo (ver tabela abaixo). A expansão da rede pública de ensino foi
poluentes atmosféricos é notadamente menor quando da retomada com a criação de três novas Universidades Federais e de 32 novos campi e o Projeto de Reforma Universitária
utilização de automóveis movidos a álcool, havendo uma foi amplamente debatido com a participação de mais de 230 entidades representativas dos diversos seguimentos da
melhora na qualidade do ar das grandes cidades. comunidade universitária.
Usinas produtoras de etanol também refletem a relativa
sustentabilidade do álcool combustível. Elas já vêm
utilizando energia elétrica proveniente do bagaço da cana
para o funcionamento dos meios de produção. Outros
resíduos tornam-se fertilizantes nos campos onde a cana-
de-açúcar é plantada.
Cientistas brasileiros, financiados pelo governo do
estado de São Paulo, mapearam o genoma da cana. Isso
abre a possibilidade do plantio de mudas geneticamente
modificadas – havendo aquiescência do governo federal – e,
conseqüentemente, da produção mais eficiente de etanol. A
biotecnologia, novamente, há de ser analisada tendo como
pressuposto o princípio ambiental da precaução.

Considerações finais

Desenvolvimento e sustentabilidade: expressões


indissociáveis sob o prisma de análise do direito a um Fonte: Ministério da Educação – Informativo Julho 2005
meio ambiente ecologicamente equilibrado, a que nos Nesse sentido, é plenamente justificável e necessária uma mudança de postura do movimento estudantil no presente
alude a Carta Magna de 1988, no seu art. 225. Digo mais. momento político, sem, obviamente, deixar de cumprir com independência sua tarefa de pressionar e mobilizar
O desenvolvimento sustentável é força e sustentáculo da sistematicamente para o aprofundamento das mudanças que já vêm ocorrendo no país. Aqueles que verborragiam contra
cidadania. Meio ambiente e cidadania se interrelacionam, a Reforma Universitária apenas colaboram para que o atual modelo de Universidade Pública, instituída no regime militar
conforme ensinamentos do célebre jornalista Gilberto
pela Lei 5.540/68, não mude.
Dimenstein, da Folha de S.Paulo. Escrevo estas
A mudança na Educação Pública Superior é urgente e necessária e os militantes do movimento estudantil em geral
considerações finais após ter o privilégio de vê-lo e ouvi-lo
precisam compreender que conquistas efetivas para os estudantes só se concretizarão a partir do momento em que, na
em um seminário realizado na cidade de Belo Horizonte.
qualidade de lideranças, amadurecerem sua postura política e institucional quando diante de situações mais favoráveis às
A vivência em cenários urbanos e rurais equilibrados
pretensões da coletividade que representam.
é de fundamental importância à sociedade em geral. É
A atuação do DCE-UFMG, a título de exemplo, tem sido fracassada nesse sentido. Ao adotar uma postura política
inquestionável a causalidade existente entre um meio
ambiente íntegro e o bem-estar populacional. Em apriorística e estreita, de enfrentamento com tudo e com todos, sem abertura ao diálogo e à participação, joga por terra
última análise, efetiva-se a dignidade da pessoa humana, todas as possibilidades de tornar efetivas muitas das principais demandas do estudante universitário como: mudanças na
fundamento de nossa República, assim como se consolida educação superior, democratização do acesso ao ensino público e participação nos fóruns do movimento estudantil.
a qualidade de cidadãos. A Reforma Universitária teve importante participação da UNE e, em função disso, há de trazer conquistas significativas
Nesses aspectos, o desenvolvimento econômico, para os estudantes. O Anteprojeto explicíta que a Educação não é mercadoria, mas um bem público que consolida um
embora relevante, requer cerceamento. A reflexão acerca modelo de desenvolvimento para o país; vincula 75% das verbas da União com educação para as Instituições Federais
dos impactos oriundos da expansão da fronteira agrícola de Ensino Superior (IFES) e de no mínino 9% da verba das Universidades para a Assistência Estudantil; estabelece a
brasileira – neste texto, referente às plantações de cana- eleição direta para reitor com a extinção da lista tríplice; e determina a criação de um marco regulador preciso para o setor
de-açúcar – não somente é pertinente como também privado na educação**. Essas são algumas das principais conquistas dos estudantes durante os debates sobre a Reforma
é necessária. Busca-se algo mais. Almeja-se, enfim, a Universitária e se a UNE tivesse adotado um posicionamento inconseqüente, como praticado pelo DCE-UFMG, por
conquista de um Estado de Bem-estar Ambiental. exemplo, tenho minhas dúvidas se muitas dessas conquistas constariam do atual Anteprojeto de Reforma.
São novos tempos para o Movimento Estudantil e inovadora deve ser sua atuação!
André Oliveira
Amílcar S. Felipe da Silva
8 período de Direito - UFMG
* Censo da Educação Superior (2003)
** Os demais dados constantes deste texto podem ser encontrados em www.mec.gov.br/reforma/

6
O fascinante (e intrigante) papel do Ministério Público
no Estado Democrático de Direito brasileiro
U ma das instituições de especial relevo dentro da
estrutura do Estado Democrático de Direito brasileiro
é precisamente o Ministério Público, considerado, em
apuração de eventual prática de infração penal. No entanto, a
nosso ver, essa não parece ser a orientação mais adequada às
finalidades do Direito moderno.
da própria proposta orçamentária e de gestão, desde que
respeitados os limites estabelecidos pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias3 (art. 4º da Lei n.º 8.625/93, denominada Lei
sede constitucional, instituição democrática de natureza Em verdade, tanto a Polícia (seja ostensiva ou judiciária), Orgânica Nacional do Ministério Público). Tal autonomia
permanente, portador de prerrogativas e funções essenciais como o Ministério Público, reputam-se órgãos públicos administrativo-financeira justifica-se pelo fato de que não
à garantia da eficiente e equânime prestação jurisdicional encarregados de promover a eficiente e justa persecução poderia o Ministério Público “realizar plenamente as suas
por parte do Estado. Impende compreender, pois, o quão criminal, por meio da apuração da prática de fatos delituosos. funções se ficasse na dependência financeira de outro órgão
grandiosa é a posição do Parquet no cenário jurídico nacional, Nessa linha, o que se busca essencialmente é a repressão de controlador de suas dotações orçamentárias”.4
sobretudo em relação às suas atribuições de tutela da ordem condutas criminosas, o que ensejaria, reflexamente, a tutela Dadas essas funções, cumpre salientar, ainda, a íntima
jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos de interesses afetos a toda a coletividade, na medida em que relação que o Ministério Público deve possuir com a
VOZ JURÍDICA
coletivos e individuais indisponíveis dos cidadãos brasileiros se conquistaria a paz e o equilibro sociais. Isso porque, ao imprensa, não só quanto ao aspecto da fiscalização popular
(art. 127 da Constituição da República de 1988). coibir sobremaneira as atividades que infringem a lei penal, sobre a atuação dos órgãos públicos, mas principalmente
Com efeito, da correta análise do texto constitucional obtém-se uma estabilidade e segurança desejáveis no convívio na divulgação, pelos meios de comunicação, das conquistas
moderno, infere-se que o Ministério Público adquiriu um humano, protegendo direitos verdadeiramente indisponíveis. obtidas na proteção dos interesses coletivos. A veiculação
inovador perfil de atuação após o ano de 1988, não mais De tal sorte, torna-se despropositada uma interpretação de tais informações é de extrema importância para garantir
restrito, quase que exclusivamente, à sua função primordial estritamente gramatical da Constituição, possibilitando, ao a ampla repercussão social da proteção jurídica, tão cara ao
de promoção da Ação Penal Pública em âmbito criminal. se conceder também ao Ministério Público o poder-dever Direito, o que faz do Ministério Público atualmente uma das
Nos moldes atuais, o Ministério Público, em virtude da de instaurar inquéritos criminais de cunho investigativo, instituições de maior credibilidade perante a esmagada massa
ampliação significativa do leque de faculdades a ele agora o atendimento satisfatório do objetivo da persecutio criminis, de cidadãos, emergindo-se como fator de esperança jurídica
outorgadas para a proteção dos direitos metaindividuais, consubstanciada na contenção ativa dos eventos criminosos. para a efetivação do regime democrático.
passa a ser um guardião efetivo dos interesses maiores da Corrobora-se tal entendimento, ainda, o fato de Contudo, é de se frisar que não cabe apenas à imprensa
sociedade, incumbindo-lhe exercer, inclusive na esfera a Constituição da República de 1988 ter estendido relacionar-se adequadamente com o Ministério Público. Em
cível, um papel de defesa dos interesses difusos, coletivos e significativamente a gama de funções ministeriais em nosso Estado Democrático de Direito, é papel obrigatório do
individuais homogêneos que eventualmente se encontrem âmbito cível e coletivo, conferindo ao Ministério Público cidadão, que cada vez mais adquire influência nos decisórios
em risco ou ameaça de lesão. Não por outra razão, é de se titularidade ativa para instauração de Inquéritos Civis, de políticos, participar ativamente na defesa de seus próprios
alcançar, diante da atmosfera plural, fraterna, solidária e sem cunho eminentemente investigativo, e para propositura de interesses, mediante oferecimento de representações e
preconceitos ambicionada pela Constituição, a conclusão Ações Civis Públicas. Portanto, desfruta o Parquet, agora, encaminhamento de notitia criminis às Promotorias de Justiça
da “indispensabilidade da atuação ministerial na defesa dos de instrumentos jurídico-processuais que possibilitam a e Procuradorias da República.
direitos humanos como elemento indissociável do ambiente defesa da legalidade e da moralidade administrativa, bem Ante essas prerrogativas, fácil constatar que é hoje o
democrático”1 de nosso Estado Democrático de Direito, como a fiscalização da regularidade das funções estatais, Ministério Público uma das instituições públicas de maior
detendo o Parquet, para tanto, nobres funções de tutela da por intermédio do ajuizamento de demandas que visem a relevância na sociedade, possuindo uma infra-estrutura
própria estrutura e organização de nosso Estado, destinadas reprimir os atos de improbidade administrativa. invejável, com instalações robustas, corpo técnico de pessoal
a garantir o fiel cumprimento da lei e o resguardo dos Como se não bastasse, compete ainda ao Parquet a extremamente qualificado e materiais de primeira linha.
interesses gerais da coletividade. proteção dos direitos e interesses coletivos das chamadas Lamentavelmente, essa pujante estrutura ministerial contrasta
Fato é que, com vistas a assegurar a consecução de “minorias”, tais como, índios, crianças, idosos, interditos, com uma Defensoria Pública paupérrima e decadente, que,
tais desideratos, a Constituição da República conferiu ao questões afeitas ao direito de família, interesse de incapazes, sem possuir recursos financeiros e orçamentários bastantes,
Ministério Público uma vasta gama de funções institucionais, estado de pessoa, poder familiar, tutela, curatela, declaração não cumpre perfeitamente sua nobre função de assistência
que respaldam e norteiam a atuação de seus membros, de ausência e inventários, dentre outros, bem como a tutela jurídica e defesa judicial dos hipossuficientes (art. 134 da
denominados em primeiro grau de Promotores de Justiça, dos direitos relativos à educação, saúde, patrimônio público Constituição da República). Nesse ponto, há de se ressaltar a
quando oficiam em nível estadual, e de Procuradores da e seguridade social. Cabe-lhe, ademais, atuar na apuração ausência de vontade política e mentalidade social de nossos
República, quanto atuantes no plano federal. de irregularidades e ilegalidades na defesa dos chamados governantes, que deveriam, como se espera de homens
Entre essas destacadas funções, cabe relevar, interesses difusos (tais como meio ambiente, consumidor, sensatos, destinar recursos mais vultosos à proteção dos
primeiramente, sua precípua atribuição em âmbito criminal, patrimônio histórico e cultural), e no resguardo da ordem carentes e necessitados.
porquanto detém a titularidade ativa exclusiva para aforamento econômico-financeira, buscando o respeito dos postulados Como restou percebido, o atual Estado Democrático de
da Ação Penal Pública, independentemente de representação constitucionais da livre-iniciativa e da livre-concorrência. Direito consagra o Ministério Público como fator propulsor
do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça, quando Pela análise de tais funções, percebe-se o incrível da concretização material das liberdades individuais e
a lei não as exigir. Nesse sentido, compete ao Parquet deduzir alcance da intervenção ministerial no curso das demandas garantias fundamentais, pretendendo buscar, acima de
sub judice sua pretensão punitiva contra determinado réu, para coletivas, com a almejável proteção dos interesses maiores da tudo, a realização dos ideais democráticos e de um Estado
fins de repressão de práticas de delitos e aplicação de sanções sociedade. De fato, é o Ministério Público a instituição pública “promotor de justiça social”.5 Nos últimos dias, a atuação
àquele que transgrediu a norma penal incriminadora. Isso responsável pelo resguardo de direitos que não se cingem ministerial mostrou-se digna de honroso destaque, quando
porque, como se sabe, o ius puniendi é direito privativo da a uma esfera jurídica particular, mas que dizem respeito a foi oferecida, pelo Procurador-Geral da República Antônio
esfera jurídica estatal. todo um corpo social. Dessa forma, a correta e competente Fernando de Souza, denúncia contra quarenta envolvidos no
Ademais, toca ao Ministério Público o controle externo atuação do Parquet é requisito indispensável para se conquistar esquema do “mensalão”, em virtude da prática de diversos
da atividade policial, por meio da requisição de diligências um pacífico convívio social, dirimindo conflitos de interesses delitos capitulados no Código Penal, tais como formação de
investigatórias e da instauração de inquéritos policiais para que atingiriam um amplo espectro social de cidadãos. quadrilha, evasão ilegal de divisas, peculato, corrupção ativa
apuração da materialidade delitiva e da autoria dos eventos Não por outra razão, a Lei Maior conferiu ao Ministério e passiva, expressando uma luta árdua contra a impunidade.
criminosos eventualmente sob exame. Nesse ponto, reside Público prerrogativas de autonomia funcional no exercício de Isso porque, como já se bem pontificou, “o Ministério
a mais complexa discussão atual sobre a atuação ministerial, suas atribuições, ou seja, delineou os limites de sua atuação Público não promove a defesa dos interesses dos governantes,
qual seja, acerca da possibilidade de o Ministério Público apenas àquelas restrições determinadas pelas prescrições de quem se acha desvinculado, mas busca a realização dos
promover diretamente a investigação criminal, sem constitucionais e disposições legais, “não podendo nenhum interesses da sociedade”.6
ingerências da Polícia Judiciária (Polícia Civil Estaduais e de seus membros receber instruções vinculantes de nenhuma
Polícia Federal). autoridade pública de nenhum dos poderes do Estado”.2 Isso Marcelo Veiga Franco
Quanto ao debate, não há entendimento doutrinário e significa que seus membros gozam de plena independência
jurisprudencial pacíficos. Alguns sustentam, alicerçando-se no desempenho de seus ofícios e atividades, desvinculados
na estrita literalidade do texto constitucional, que cabe ao de qualquer espécie de subordinação hierárquica a qualquer 3
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 21ª
Ministério Público tão somente a atribuição de fiscalizar outro órgão estatal, porquanto subordinados apenas à
Ed. São Paulo: Malheiros, 1995.
externamente a atividade policial, detendo as autoridades Constituição e às leis (corolário do princípio da legalidade). 4
policiais, para tanto, a privativa incumbência de promover a Como decorrência direta da autonomia funcional, detém MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público na Constituição de
o Parquet, igualmente, autonomia na esfera administrativo- 1988. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 61.
1 financeira, traduzida pela capacidade ministerial de elaboração 5
SILVA, José Afonso da. Curso de Directo Constitucional Positivo. 22ª
GONÇALVES CORREIA. Marcus Orione. Magistratura e
Ministério Público: Atuação no processo e edificação do Estado Ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 120.
2
LAVIÉ, Humberto Quiroga. Estudio analítico de la reforma constitucional.
6
Democrático de Direito. In: Revista dos Tribunais, São Paulo, Buenos Aires: Depalma, 1994. p. 65. Apud: MORAES, Alexandre de. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 12ª Ed.,
o/2005. Vol. 833, ano 94. p. 27. Direito Constitucional. 12ª Ed., São Paulo: Atlas, 2002, p. 497. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 941.

7
Cinema é politicamente irrelevante

O tema do presente texto foi bem delineado por uma


grande amiga, que me incumbiu de elaborá-lo:
cinema e política.
me a dizer. Tem seus méritos óbvios, posto que não são
todos aptos a relacionar libertinagem à psique humana.
Espanhóis são mestres nisso.
cronológica ou não. Até este instante, as injustiças
cometidas pelo ser humano não foram interrompidas em
momento algum. As guerras, estas sim, são constantes e
Poderia ficar aqui com aquela retórica de crítico de No meio deste imbróglio de idéias e opiniões lançadas permanentes.
cinema, dividindo as obras cinematográficas entre as ao público por inúmeros filmes, é até estranho como Arte, arte e mais arte, até a sétima delas, criada no
denuncistas e as ilustrativas, de acordo com o foco da alguém consegue odiar tanto um em que Martin Luter momento em que os irmãos Lumière projetaram o
história. Entretanto, como este texto não possui qualquer King, com seus poderes telepáticos, combate Malcon X, primeiro filme, sanando pretensiosamente a inquietação
propósito didático-pedagógico, não vou fazer distinção mestre do magnetismo, e, paradoxalmente, adora assistir humana em registrar os movimentos.
alguma. Iniciarei, pois, com um questionamento: o que um indivíduo estourando a cara de outro com um Após cerca de 100 anos de cinema, como Nicole
seria o “Cinema político”? Seriam filmes, de quaisquer extintor de incêndio num filme francês de Gaspar Noé. Kidman bem disse após ganhar seu oscar em março
gêneros, que têm como tema central a “política”? Chatos não admitem dar uma risada pra uma idiotice de 2003, no opulento Hotel Hollywood Roosevelt,
Ora, a política está implícita em qualquer filme no de Will Ferrel, no entanto, adoram ver um tetraplégico quatro dias depois dos EUA invadirem o Iraque sem
sentido em que, todos eles, trazem em seu conteúdo, discutir com um padre se pode ou não cometer suicídio motivo algum, a arte é feita, simplesmente porque é
no mínimo, um princípio ou uma idéia. Você pode ir com uma ajudinha. São apenas preconceitos dos pseudo- importante.
com sua avó assistir um filme como “Era do Gelo”, do cults, que se acham donos da verdade cinéfila... Qualquer Desde sua criação o cinema teve sua importância

VIVA VOZ
nosso conterrâneo Carlos Saldanha, e se deparar com filme exerce certa influência, direta ou reflexa. sim: entreter. Obviamente estão aqui ressalvados os
uma epopéia sobre companheirismo e amizade. Pode, Um adendo aqui: no nosso país só assiste cinema casos em que o cinema serviu como local de aglutinação
também, alugar um clássico como “Cidadão Kane”, quem tem grana. Admitam: as baixas castas só de pessoas, para que indivíduos mentalmente instáveis
de Orson Wells, e ver uma crítica profunda ao american freqüentam as salas de exibição para arrumar um canto metralhassem toda a platéia com maior eficiência, além
way of life. Em qualquer filme idéias são lançadas ao seu escuro para praticar atos não tão idôneos contra seu de servir, também, de inspiração para garotinhos pré-
interlocutor, quem posteriormente irá interpretá-lo e parceiro amoroso (aqui tratado de forma extensiva, adolescentes entrarem na sua própria escola atirando
discuti-lo, numa dialética política. devido aos oscares distribuídos em 2006). Conclui-se, com uma escopeta em alunos e professores (incidente
Como a própria política pressupõe o embate entre assim, que a classe dominante assiste ela mesma criticar este que deu fulcro a um documentário ótimo, por
pontos de vista divergentes, todos os filmes são políticos, o mundo. menção!).
de certa forma, já que lançam à sua platéia algum ponto Se todos os filmes têm seu aspecto político, o ponto Se ao menos algum Tyler Durden capoeirista,
de vista sobre determinado assunto, que certamente nodal é: o cinema é politicamente relevante? após ter lido “O Grande Sertão Veredas” e assistido
quer se fazer viger, e tendencia a platéia a uma ulterior Pode-se dizer que, de acordo com a crítica e diretores um monólogo de Epicuro, numa sala decorada com
discussão. brasileiros patrocinados pela Petrobrás, ex vi da Lei da uma réplica da estátua de Davi e uma reprodução
Talvez alguns filmes, como o nazista “O Jovem Cultura, filmes politicamente relevantes seriam aqueles de Guernica, ao som da Nona Sinfonia de Bethoven,
Hitlerista” ou o palanquista “Fahrenheit 09/11”, que contêm um “tema relevante”. Uma comédia sobre totalmente comovido pela influência destas grandiosas
possam ser classificados como um “Cinema Político” cheerleaders bem fornidas, obviamente, não contém um obras, contemplasse a explosão (armada por ele mesmo)
propriamente dito. O primeiro filme foi encomendado tema relevante. Fome, tráfico de drogas, desigualdade de todas as sedes mundiais de cartões de crédito, poderia
pelo próprio Estado Alemão, com a finalidade de tutelar social, poluição, eutanásia, ou seja, desgraças em geral, afirmar que a arte prestaria para mudar de forma enfática
a geração mais nova para os preceitos nazistas e o seriam os aclamados “temas relevantes”. O problema é o nossa realidade.
segundo, por um militante partidário, com a finalidade seguinte: pode o cinema, tratando de “temas relevantes”, Se tudo até hoje demonstrado pelo cinema fosse
de ganhar uma eleição. São casos isolados porque, no acrescentar algo? Filmes podem ser politicamente convertido em atuação real do homem sobre seu próprio
mais, tal classificação é frágil, posto que conforme já dito relevantes? Utilizar-me-ei de minhas capacidades meio, de forma eficaz, poderíamos cravar um grande V
acima, todos os filmes contêm discussões políticas. Além “Mainardianas” e dar-lhe-ei uma resposta: NÃO. de validade e relevância política da arte cinematográfica
disso, como se pode depreender dos exemplos dados, A realidade de um país não vai mudar porque sobre a sociedade.
o “Cinema Político” stricto sensu, tende a ser autoritário, Walter Salles quis mostrar o que Che viu numa viagem No entanto, até a data atual, mesmo com tantas idéias
impositivo e um tanto quanto cretino. pela América do Sul. Até onde tive ciência, não houve esdrúxulas e toscas trazidas à tela grande, o cinema nem
Filmes franceses são ótimos para exercitar nossa mudança alguma nesse país, mesmo após José Padilha ao menos foi capaz de prever que alguém raptaria um
reflexividade interminável e nosso pedantismo mostrar por A + B, como ocorreu o incidente do ônibus avião para destruir o principal símbolo do capitalismo
cinematográfico. Variam de comédias inteligentes sobre o 174 ou depois que MV Bill afixou câmeras de vídeo na mundial. Cinema serve mesmo é para comer pipoca e
mundo corporativista a crônicas sobre a modernidade. escopeta de aviõezinhos na favela. entreter. É politicamente irrelevante.
Os odiados filmes americanos talvez são os que Assim como fechamos a janela do nosso carro no
melhor demonstram a dominação econômica-política sinal de trânsito, fechamos nossa sensibilidade para o
dos Estados Unidos. Na década de 80 Rambo invadia o cinema. Lágrimas eventualmente podem cair dos olhos Alan Smithee
Afeganistão e o Vietnã. Na década de 90, Rocky Balboa do público que assiste a trágica história dos pivetes ou
trocava socos com um soviético em Moscou. Atualmente, dos meninos do trafico. No entanto, lágrimas caem,
árabes vêm sitiando Nova York nas telas gigantes. também, nos filmes do Bambi ou em quaisquer outros
Filmes alemães têm, muitas vezes, seus roteiros daqueles bem estúpidos e repetidos que têm como
ligados a um contexto político-econômico de uma tema central um amor não correspondido ou a morte
época. Edukators ensinando como dar adeus a Lênin. do cachorro da família. Já vi amigos saírem aos prantos
Provavelmente, sofrem efeitos pós-guerra. das salas de exibição, no entanto, nenhum saiu de lá
Filmes iranianos, altamente introspectivos, mostram querendo constituir uma ONG para salvar o mundo.
menininhos pobres com cara suja correndo atrás de O cinema é arte. Mas a arte pode mesmo mudar
pipas ou bolas de meia. Obviamente é um tratamento nossa realidade? Poderia ela evitar as injustiças do nosso
metafórico da liberdade ou da democracia buscada e mundo?
inalcançada nos regimes autoritários muçulmanos. Por lá, No momento em que o primeiro australopithecus
alguns preferem fazer cinema, outros, virarem homens- começou a bater a cabeça numa pedra, em ritmo
bomba do Hamas. constante, foi criada a música, demonstração artística
Filmes espanhóis exploram a nudez e sexo. No mais primária do ser humano. Depois dela ainda vieram
entanto, a cópula tem todo um sentido freudiano, arrisco- dança, pintura, escultura, teatro e literatura, nesta ordem

8
VOZES MALDITAS
EMED – Pérolas dos queridos futuros juristas dessas Minas Gerais

VOZES DE BAIXO
“Adão era fofoqueiro e maria-vai-com-as-
outras”
Alice Monteiro de Barros, no primeiro dia de aula
do semestre
“Eu vim aqui só pra beber!
Eu vou beber até morrer!
Eu sou da UFMG!
E que se foda a ACG!!!”
Hino do EMED
(versão atualizada do hino dos Jogos Jurídicos)

“Em véspera do Dia das Mães, a professora “Remediar nunca é o melhor remédio”
pediu à turma que fizesse uma redação com o Aluna de Direito nos corredores do EMED “Como é que tem gente que vem pro EMED só pra
beber??”
título ‘Mãe, só tem uma’. Joãozinho então es- “As minorias geralmente são minoritárias” Caloura questionando-se. Ao fundo, ecoava o hino do
creveu: ‘Eu tava sentado no sofá com a minha Colega no Grupo de Trabalho (GT) sobre preconceito EMED.
mãe e ela pediu que eu fosse na geladeira pegar
duas cocas. Quando abri a porta da geladeira, “O voto tem que ser aberto. E isso por uma razão “Não vem discutir socialismo comigo. Aposto que
gritei: Mãe, só tem uma!’” bem simples: a sentença do juiz não é aberta?” você nunca viu a capa do Manifesto Comunista!”
Defesa do sufrágio aberto no GT de representação política Argumento de autoridade levantado por colega em GT
Paulo Edson, explicando o princípio da unicidade
“O Brasil é um país comunista e agrário graças a “Cadê a caneca?”
Che Guevara” Voz ríspida do guarda noturno da UFU quando uns
“Os ministros do Sup... são minhocas. Olha, Colega do Direito gastando seus conhecimentos alunos tentaram entrar sorrateiramente no Campus às 2
sem querer insultar as minhocas”. geográficos, políticos e históricos. da manhã carregando uma placa de trânsito.

“Igualdade é tratar os iguais igualmente, os desiguais Obs.: A caneca no EMED funcionava como o crachá de
Zé Rubens desigualmente na medida que a desigualdade os identificação dos participantes do evento.
desiguala”.
Princípio aristotélico da igualdade anunciado por um
“Alguém aí tem celular? Viu, todo mundo le- colega “Os negros precisam parar de acreditar que existe
vantou a mão!” desigualdade. Se eles acreditarem que ela existe, aí
“Eu sou do 4º período, nunca estudei isso na é que ela vai existir mesmo!”
Thibau, exemplificando ao explicar o instituto do Constituição. Mas achei muito legal!” Colega otimista no GT sobre preconceito
inte-resse coletivo acrescenta em seguida a colega entusiasmada
“O nosso EMED vai ser muito melhor. Tem azulejo
“Eu sou contra a política de cotas porque diploma até no teto do banheiro!”
não quer dizer nada. Meu pai tem só até a 3ª série e Apresentação feita pela Faculdade de Pouso Alegre que
“Advogado sem código é o mesmo que padre é dono da maior fábrica de caixa d´água de Minas pretendia e vai sediar o próximo EMED.
sem bíblia” Gerais, ou melhor, do Brasil.”
“Para acabar com a desigualdade entre os negros tem
Manoel Cândido que fazer igual com os índios: uma lei específica.”
“Proponho que seja votada na plenária final a Solução proposta por colega em GT
extinção do MST.”
“O Advogado de porta de cadeia é o alicerce do Proposta encaminhada em GT O EMED só serve para uma coisa: discutir a sede
Estado Democrático de Direito” do próximo EMED
“Passa a fala pra ela. Ela é bonitinha” Francisco Paiva Brito
Sérgio Luiz colega sugerindo burlar a lista de inscrições no GT
Não viemos aqui para roubar, viemos apenas pedir
“Acho que a gente tá no inferno.” dinheiro para beber
“Antes fosse. Lá pelo menos tem água quente...” Lema da “Empresa Jr.” montada pela turma da manguaça
“A vida pode ser menos SALGADA...” Conversa no banheiro feminino (ou container, como foi para mendigar no sinal ao final dos malabarismos
apelidado)
Menelick, prestes a viajar para Brasília

“Novo procurador da Universidade Assista aos próximos Concursos para Professor Adjunto!
Prof. Luciano Ferraz assumiu chefia

O Professor Doutor Luciano de Araújo


Ferraz é o novo Procurador Geral da
UFMG. Ele é o professor adjunto
Seu primeiro ato de destaque na Direito
Constitucional
nova função foi multar o DCE- Concurso
de Direito Administrativo da nossa UFMG e o DA-IGC em 50 Ubirajara! Ubirajara! Ubirajara!
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Faculdade e de Direito Financeiro na


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mil reais, atendendendo à nova


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PUC-MG (licenciado). Mestre e doutor


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política da Reitoria de arrecadar


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em Direito Administrativo pela UFMG.


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fundos arrancando dinheiro dos


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Ex-servidor de carreira e ex-assessor da


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estudantes.
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Presidência do Tribunal de Contas de


Minas Gerais. Membro da Comissão
de Estudos Constitucionais da seção mineira da Só podia ser filho da PUC !
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)”
Sino do Samuel, março-abril de 2006

9
Coluna - Pelota Imperador De boas intenções, elevadores e Democracia

C om o intuito de estimular o relacionamento entre os A pós uma saída conturbada da república onde moravam
anteriormente e duas semanas na casa de parentes. Álvaro
novas facções denominadas facções de centro-alto e centro-
baixo racharam dos dois grupos anteriores e deram origem

VOZES DE BAIXO

VOZES DE BAIXO
alunos da Vetusta, a organização e Ricardo, pai e filho, chegam ao apartamento onde irão morar às alianças políticas no prédio. Porém, como os moradores de
PELOTA IMPERADOR a partir de então. O apartamento é pequeno, bem menor que o baixo não confiavam nos do alto e vice-versa, as novas facções
anterior. O apartamento permanece com uma mobília antiga, voltaram a se unir com as facções das quais eram dissidentes.

OUTRAS VOZES
irá propor parceria ao CAAP com os seguintes dogmas:
provavelmente de uma proprietária um tanto cafona. As Nos últimos dias antes da eleição do novo síndico, as facções
poltronas de estampa floral, o lustre de vidros coloridos e mesa “altista” e “terreira” se equivaliam. Porém a facção centro-baixo
P 3 Calouradas por semestre de compensado definitivamente não denotam bom gosto. Além superava em numero a facção centro-alto. Porém, como os
desses móveis há uma geladeira velha e um quadro representando centro-alto se uniram aos “terreiros”, e os centro-baixo se uniram
P 12 festas anuais (6 calouradas; 2 festas juninas uma divindade hindu. Ricardo, o filho supôs que o antigo aos “altistas”, o síndico eleito foi um adepto dos “altistas”,
– com direito a banda sertaneja tocando “Como morador fosse uma senhora já idosa, provavelmente católica. mesmo sendo o maior o número de pessoas que queriam que o
um anjo” 5 vezes; 2 Vetustrance realizadas no Mais tarde ele descobriria que na verdade o antigo morador era elevador ficasse no térreo.
porão da Guajajaras; 2 churrascos do CAAP) um jovem vestibulando, como ele fora no ano anterior. Ou então O resultado das eleições causou enorme frustração nos
Promover parceria junto à Atlética para proibir o era uma senhora que estava tentando medicina na Uni-camp. “terreiros” que passaram a reivindicar um sistema parlamentarista
Além da sala, havia um quarto, do mesmo tamanho, onde onde todas as facções pudessem ser representadas. Como o
uso de camisas no Vetustete estavam um guarda-roupas, já recheado com travesseiros, e uma síndico “altista” não podia administrar o condomínio sem
cama de casal com um colchão manchado de não-sei-o-quê. o apoio dos “terreiros”, que eram a maior facção, aceitou a
P Extinção imediata das butecadas, substituídas Como não tinham escolha, era o colchão ou o chão, jogaram um exigência e ficou resolvido que seriam criados partidos e que os
pelas SURUBADAS cobertor e dormiram por cima. Os outros cômodos, se é que moradores que desejassem se tornar síndicos deveriam se filiar.
podemos chamá-los disso, eram um banheiro de dois metros Ricardo que a tudo assistia atônito, depois da derrota
P BINGÃO DO PELOTÃO: Sorteio de putas na por um e um arremedo de cozinha na qual mal cabia o fogão. acachapante nas urnas, dele e do antigo síndico, passou a não
calourada No dia seguinte, Tiago, um amigo de ambos, chegou. Recém mandar mais o elevador para andar nenhum e preferiu deixá-
saído da república dos gatos “sete vidas”, ele instalou sua cama lo no andar em que parasse. Com o apoio do síndico antigo,
P CAAP HILLS: Utilização, mediante o aluguel da na sala, ao lado da mesa. Com ele, veio outra geladeira, um ele fundou o primeiro partido, o PDEOE, Partido do Deixe o
salinha do CAAP para fornicar durante as festas computador, uma televisão e uma estante, entulhando ainda Elevador Onde ele Está. Como apenas os dois se filiaram, eles
mais o apartamento quase pequeno. desistiram da idéia e fecharam o partido.
P Declarar os Paçoqueiros “campeões morais do No edifício Dona Cotinha, onde residiam, era hábito dos As facções clássicas também fundaram seus partidos. O
Vetustão” moradores tomar o elevador e deixá-lo no próprio andar onde PENT, Partido do Elevador No Térreo, o PEE, Partido do
desciam. Passados alguns dias, no entanto, Ricardo achou que Elevador Elevado, o PCB, Partido Centro Baixista e o PCA,
seria melhor “devolver” o elevador para o primeiro andar e Partido Centro Altista.
P Instalação imediata dos canais SEXY HOT e começou a agir dessa forma. Toda vez que ele subia de elevador Nos meses anteriores às eleições a articulação foi terrivelmente
PLAYBOY no CAAP enviava-o de volta para o térreo. Acreditando que a partir de pesada e os partidos centrais acabaram se unindo, enquanto
então, os demais moradores fariam o mesmo. Alguns moradores o PENT e o PEE permaneceram isolados. A coligação dos
P Cancelamento das assinaturas dos jornais Folha aderiram à idéia, e também, passaram a “devolver” o elevador. partidos centrais elegeu maioria e fez o primeiro síndico. Porém,
de São Paulo e Estado de Minas para a assinatura Porém, como Ricardo morava nos primeiros andares, alguns as divergências internas se tornaram insustentáveis e a coligação
das revistas SEXY, PLAYBOY e TARA BRASIL, moradores dos andares mais altos acharam que ele fazia isto para rachou e o primeiro síndico caiu. Porém, como nenhum dos
muito mais GOSTOSAS de ler ter o elevador sempre perto de seu apartamento e decidiram partidos conseguiu maioria expressiva, o novo primeiro síndico
retaliar. Passaram a enviar o elevador, sempre, para o 21º, último também não obteve respaldo e caiu em pouco tempo. Nos
P Utilização de toda a verba do CAAP para andar do prédio. Deu-se a discórdia. últimos meses do ano oito síndicos se alternaram no poder.
distribuição gratuita de CERVEJA Em poucas semanas, o prédio já estava dividido em duas Nenhum, no entanto, conseguiu administrar o condomínio
facções bem definidas. Os adeptos do elevador no alto e os devido à insegurança do mandato.
P CONCURSO GAROTA MOLHADA: eleger, adeptos do elevador no térreo. Em pouco tempo, as facções Com as sucessivas crises, o condomínio começou a sofrer
mediante voto secreto, a mais molhadinha da começaram a denominar a rival de “altistas” e “terreiros”. as conseqüências da má-administração e dois porteiros e
Vetusta Acreditando que a rivalidade não faria bem ao prédio, Ricardo uma faxineira pediram demissão, além de entrarem na justiça
decidiu escrever um texto explicando porque seria melhor deixar buscando os salários atrasados. Além disso, houve falta de gás e
o elevador no térreo e que tal atitude beneficiaria até mesmo a água foi cortada duas vezes. Os partidos passaram a se revezar
P Salas de aula abertas nas Calouradas para os moradores dos andares mais altos. Elaborou até um gráfico no poder. Todos usavam a má administração do síndico anterior
promover: SEXO GRUPAL e HARDCORE demonstrando que a probabilidade de encontrar o elevador no e a promessa de mudarem a forma da administração como
andar desejado seria maior se ele permanecesse no chão. argumento para serem eleitos. Quando eram eleitos, sustentavam
P FESTA “QUEM PEGAR É DELE”: Decretar A repercussão não poderia ter sido melhor entre os o poder pelo maior tempo que conseguiam colocando a culpa
o direito institucional de cada aluno do 9º “terreiros”, já os “altistas”, acharam o texto um desaforo e na administração anterior. Até que também caíssem e fossem
PERÍODO ATUAL receber as calouras para por pouco não partiram para a violência. No dia seguinte, os substituídos por outro candidato que fazia uso dos mesmos
uma festinha particular e poder ARTICULÁ- “terreiros” elegeram Ricardo seu líder e passaram a escrever argumentos e das mesmas práticas e assim sucessivamente.
LAS PESADO outros textos apoiando o manifesto. Os “altistas” não ficaram No final de dois anos, a república onde moravam Ricardo,
atrás e anarquicamente passaram a escrever textos de repúdio Álvaro e Tiago, foi desfeita e eles se mudaram do edifício
P Projeto FORME FÁCIL: Fim dos Seminários, ao morador do 208 (pois evitavam agora até mencionar o nome Dona Cotinha. Mudaram-se para casas diferentes onde não
venda de ACG’s e apoio explícito aos professores de pessoa tão vil). E contra-atacaram com mais matemática havia elevadores nem condomínios e eles poderiam viver suas
Picaretas demonstrando através de novos gráficos que se o elevador vidas tranqüilamente. O antigo síndico, do período anterior às
permanecesse no alto o tempo de espera para quem quisesse disputas pelo elevador, também mudou para outro condomínio
descer o prédio seria menor, inclusive para os moradores de onde foi novamente eleito síndico. Mas o Edifício Dona Cotinha
P Campeonato de Strip-Poker mensal, com baixo. nunca mais foi o mesmo após suas passagens. A democracia
calouras como premiação ao Campeão Em pouco tempo o edifício Dona Cotinha foi tomado pelas implementada nunca foi ameaçada, exceto uma vez, quando o
manifestações. Foram em vão os protestos do síndico, que pedia PEE tentou efetuar um golpe de condomínio alegando uma
P DESTITUIR IMEDIATAMENTE A pela paz no condomínio. O único morador do prédio a concordar trama comunista envolvendo a participação do próprio Ricardo
PRESIDENTE DO CAAP E EMPOSSAR O com ele foi justamente Ricardo, que dizia querer apenas o bem que mantivera sua rede de influência nos “terreiros”. Porém,
PELOTA COMO LÍDER MAIORAL estar dos moradores do prédio. Esse apoio inesperado rendeu a a trama comunista nunca foi comprovada e o condomínio
Ricardo o ódio do síndico que viu seu cargo ameaçado pelo líder ditatorial do PEE não durou mais que um ano e meio.
de uma das facções e a revolta dos “terreiros” que consideraram
SEXO SEM AMOR o apoio ao síndico como alta-traição. Mateus M. Araújo
PELOTA IMPERADOR No decorrer do quarto mês após o início das manifestações,
apareceram moradores do alto que preferiam o elevador no térreo
e moradores de baixo que preferiam o elevador no alto. Essas

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OUTRAS VOZES
VaiSoneto de História

PRÉ – o pré mundo?


AC – o clássico mundo!
0 – o nascimento?
DC – o escurecimento!

1494 – Tratado e Abençoado!


1500 – Descobrimento ou achamento?
1789 – Revolução e inconfidência!
1822 – Independência ou maior dependência?

1914 – a guerra!
1917 – a Revolução!
1929 – a quebra!

1945 – a bomba!
1989 – a queda!
2001 – e o sonho contínua...

Bruno Euzébio Carli

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