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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi

ÍNDICE

Introdução

SOCIOLOGIA DO TRABALHO.................................................................. 02
Trabalho.......................................................................................... 03
Trabalho: ação, necessidade, coerção............................................ 04
Divisão social do trabalho: exploração, alienação........................... 05
População e emprego ..................................................................... 06
População ocupada......................................................................... 08
Desemprego e subemprego............................................................ 10
Trabalho profissional e trabalho doméstico (trabalho domiciliar)........ 10
Taylorismo (fordismo)/Toyotismo ................................................... 12
Trabalho artesanal, manufatura, grande indústria........................... 14
Determinismo tecnológico............................................................... 15
Trabalho parcelar e integral............................................................. 16
Empresa.......................................................................................... 16
Poder e decisão na empresa........................................................... 18
Valores do Trabalho (valores e atitudes)......................................... 19
Valor do trabalho; Sistema de assalariamento................................ 21
Psicossociologia do contrato de trabalho ........................................ 23
O Movimento operário, sindicalização e militantismo...................... 23
Greves e conflitos trabalhistas................................................ 25

ECONOMIA DO TRABALHO

Conceitos básicos........................................................................... 27
Economistas clássicos .................................................................... 30
Mercado de trabalho.............................. ......................................... 33
Determinação dos salários.............................................................. 34
Curva da oferta de trabalho............................................................. 36
Keynes e o desemprego.................................................................. 36
Tipos de desemprego...................................................................... 37
Desemprego friccionai, estrutural, cíclico........................................ 38
Taxa natural de desemprego........................................................... 39
Mercado de trabalho no Brasil......................................................... 40
Mercado de trabalho formal e informal............................................ 40
A Intervenção governamental: políticas de salário e emprego........ 42
Modelos tradicionais sobre o papel do sindicato............................. 43
Monopólio bilateral e monopsônio ........................................ 44

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NOÇÕES DE SOCIOLOGIA E ECONOMIA DO TRABALHO

INTRODUÇÃO:

O que é 'trabalho'? Se respondemos que 'trabalho' é toda "atividade desenvolvida com a finalidade de
atender às necessidades humanas", vislumbramos o largo campo de abrangência de tal conceito: as
necessidades humanas são as mais variadas e o esforço de atender a elas acompanha o homem como
uma maldição ("comer o pão com o suor do rosto"!) ou como uma bênção ("o trabalho dignifica e
enobrece o homem!").
Decorre daí que o trabalho pode ser objeto de estudo de várias ciências, e particularmente as ciências
humanas - antropologia, história, sociologia, direito, economia (para quem o trabalho é um dos fatores
de produção, ao lado do capital e da matéria-prima), psicologia, a ciência política, por exemplo - não
podem deixar de considerar o trabalho humano no âmbito de suas investigações. E vamos mais adiante
para afirmar que a complexidade do fenômeno exige abordagem interdisciplinar, se pretende chegar a
algum resultado.
Neste sentido é a sociologia do trabalho que pretende uma visão mais ampla da questão; "Toda e
qualquer coletividade de trabalho que apresente traços mínimos de estabilidade (...) pode ser objeto de
estudos para a sociologia do trabalho: assim uma empresa industrial como um navio transatlântico ou
um barco de pesca, tanto uma grande propriedade em que se pratica a agricultura intensiva quanto
uma fazendola em que trabalham alguns empregados com a família do fazendeiro, não só uma grande
loja popular, mas também uma lojinha que emprega alguns vendedores, uma oficina de artesão e uma
repartição municipal, a tripulação de um avião, que se reveza a intervalos regulares numa linha de
navegação aérea ou o pessoal de uma automotriz ..." (FRIEDMANN - 81, p. 37)
(Destas considerações já podemos concluir que a regulação do trabalho, através de normas jurídicas,
esbarra em sérias dificuldades de ordem prática: como estabelecer normas, genéricas e abstraías, que
se apliquem a gamas tão variadas de atividades?)

SOCIOLOGIA DO TRABALHO

Vamos entender a sociologia do trabalho "como o estudo, nos diversos aspectos, de todas as
coletividades humanas que se constituem graças ao trabalho." (FRIEDMANN - 73, p. 37)
Quando falamos em 'coletividades humanas', não estamos esquecendo o indivíduo, somente que à
sociologia interessa o estudo do trabalho como fato social, e o resultado da inserção do indivíduo na
atividade produtiva, isto é, como o trabalho do homem produz cultura, e como esta cultura 'produz' o
homem, transformando-o em sua subjetividade.

Por exemplo, vamos observar o trabalho de um torneiro mecânico (Paulo, como o apelida o autor a que
recorremos), sob diversos ângulos; técnico, fisiológico, psicológico, social, econômico, como se segue.
(1) ângulo técnico: a partir de seu 'posto de trabalho': "este compreende a máquina de Paulo, a força
motriz que a alimenta, a disposição intrínseca dos órgãos, a sua relação com as máquinas vizinhas, o
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sistema de alimentação, as intervenções que exigem do operador..." (2) ângulo fisiológico (aspecto da
fadiga): o ambiente onde Paulo desenvolve suas atividades possui características de luminosidade,
temperatura, ventilação, nível de ruídos etc. que atuarão sobre Paulo, cujo corpo (força muscular,
comprimento dos braços, sistema muscular, respiratório, nervoso) deve se adaptar ainda à máquina
que ele opera. (3) ângulo psicológico: sob este aspecto indagamos das repercussões do trabalho na
'atividade psíquica de Paulo': qual o grau de satisfação ou de frustração que o trabalho traz para Paulo?
Como responde ele (sob ponto de vista afetivo e moral) às oportunidades, aproveitadas ou perdidas de
ascensão profissional? Como interferem em sua personalidade as experiências do trabalho? (4) ângulo
social: Paulo não passa todo o tempo na empresa; como seu trabalho repercute nas suas relações
familiares e sociais? (FRIEDMANN - 73, p. 27). Lembramos que as investigações acerca de Paulo são
extensíveis a um grande número de indivíduos que trabalham nas mesmas circunstâncias, já que as
unidades de trabalho se organizam de forma semelhante em determinado momento histórico.
A sociologia do trabalho investiga ainda outros "problemas da mão-de-obra, migração, imigração,
distribuição na coletividade de trabalho, de acordo com as raças, os sexos, a idade etc; a natureza e a
distribuição das categorias profissionais em sua relação com a evolução do progresso técnico, o
absenteísmo, o rodízio de pessoal (turnover), o desemprego, a aposentadoria...."(FRIEDMANN -73, p.
39) Nesta multiplicidade de situações não se pode perder de vista o homem, como um todo, e sua
inserção social através do trabalho.

 TRABALHO:
Temo-nos referido a situações de trabalho na sociedade industrial, mas relações de trabalho se
estabelecem em toda comunidade, ou sociedade política e, por isto convém analisar mais detidamente
o fenômeno do trabalho.
Acrescentamos à definição já dada ( primeiro parágrafo da introdução) outras que se prendem ou ao
caráter de 'utilidade' gerada pelo trabalho humano ou ao caráter de interação com a natureza. Da
primeira corrente temos : " o trabalho é o emprego que faz o homem das suas forças físicas e morais
para a produção de riquezas e serviços." (Colson); ou "o trabalho humano consiste em criar utilidade"
(Bergson). (Ambos citados por FRIEDMANN - 73, p. 20). E da segunda corrente o expoente mais
expressivo é MARX, que enfocou "a relação entre o homem e a natureza na atividade de trabalho".
Vejamos um trecho d'O capital:
"Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em
que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza.
(...) Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas,
cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida.
Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele, e ao modificá-la , ele
modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza." ( MARX - 83, p. 149)
Mais adiante Marx distingue o trabalho humano do trabalho organizado de alguns animais, também
capaz de produzir utilidades:
"Pressupomos o trabalho numa forma que pertence exclusivamente ao homem. Uma
aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um
arquiteto humano com a construção do favo de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão,
o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo
em cera. ( ... ) Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um

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fim, (...) Os elementos simples do processo de
trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios."
É comum chamar o homem que desenvolve o trabalho como descrito acima de homo faber; no entanto
é bom que se diga que a complexificação da sociedade industrial trouxe formas de trabalho que não
implicam necessariamente "atividades de transformação", tais as atividades do setor de serviços, que
se expandiram em
grande escala no nosso século.

TRABALHO: AÇÃO, NECESSIDADE E COERÇÃO


A propósito convém distinguir 'labor' e 'ação', conforme fez HANNAH ARENDT, porque se tanto um
como o outro termo se referem à atividade humana, a natureza destas atividades é diferente. De fato a
autora mostra que na sociedade grega podia-se distinguir perfeitamente o 'labor' da 'ação'. O labor se
desenvolvia no terreno da necessidade humana. Dizia respeito à faina do homem que deve arrancar da
natureza os meios de sobrevivência, o alimento, o abrigo, as vestes, as ferramentas de que necessita.
Todo homem tem necessidades, e neste sentido está privado da liberdade, mas à medida que se
organiza politicamente, ocorre uma separação em classes, quando as classes dominantes relegam às
outras classes as tarefas do labor. Estes últimos estariam privados da liberdade, na medida que
condenados à busca dos elementos necessários não apenas à satisfação de suas necessidades, mas
sobretudo às das classes dominantes. No espaço privado, isto é no espaço domiciliar, é que se
desenvolvia o labor. Bem sabemos que o espaço 'privado' é reservado preferencialmente às mulheres e
aos serviçais. De fato o labor se identifica na sociedade antiga e na sociedade medieval com o trabalho
escravo. Assim é que a 'privação', situação genérica fruto da 'condição humana', passa a certa altura à
privação da liberdade de muitos, os destinados ao labor, geralmente no regime de escravidão ou
servidão, para o proveito de poucos., os 'cidadãos livres", titulares de poderes políticos, e, portanto,
sujeitos de 'ação'. (ARENDT - 81)
A ação seria, pois, atividade humana, mas dos 'homens livres', livres do labor, e livres, porque titulares
de uma situação jurídica que os diferençava dos escravos, em um primeiro momento, e dos
estrangeiros e das mulheres, em um segundo momento, já que estes, mesmo quando não-escravos,
estavam desprovidos de direitos políticos. O local da 'ação' é o espaço público, a polis, e novamente
aqui aparece a contraposição privado/público, associada à contraposição laboração.
Ensina a autora que entre o 'labor' e a 'ação' se intrometeu o 'trabalho', este, diferentemente daqueles,
tem um fim, que é um bem, não para uso imediato, mas um valor de troca, uma 'mercadoria', ou seja,
algo que se destina às trocas no mercado. Como categoria intermediária está no meio do caminho entre
o espaço privado, da 'oikós' (= casa), e da 'polis', já que, se fabricado fora da cidade, deve ser levado
ao mercado, na cidade, para ser comercializado. Também o agente do trabalho nem é o escravo, já que
sua atividade pressupõe talento e habilidades pessoais, mas também não é o cidadão, titular de direitos
políticos. Percebe-se nesta categoria a formação do burguês, que se define como classe, a partir do
séc. XVIII.
É de grande alcance a análise acima. Por ela percebemos que ao labor/trabalho está associada um
elemento de coerção. De fato, da mesma maneira que o escravo, muitos operários desenvolvem com
desprazer o seu trabalho, e só o fazem porque sofrem um tipo de coerção, que chamaríamos moral,
social ou jurídica. "Do ponto de vista da subjetividade característica do ato do trabalho, temos para nós
que o elemento de coação, sentido pelo trabalhador, é específico e diferencia as atividades do trabalho
das que lhe são alheias...."
(FRIEDMANN - p. 23)

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Aliás, só por exceção percebemos associação entre trabalho & prazer, segundo a fórmula "unir o útil ao
agradável". Talvez no trabalho do artista, do escritor, do pintor, ou dos que conseguem grande sintonia
entre suas aptidões e sua inserção no mercado se alcance a idéia do trabalho como 'ação' e, portanto,
liberdade. "O trabalho é ação quando se alimenta de uma disciplina livremente aceita, como, às vezes,
a do artista que realiza uma obra de fôlego, sem ser premido peia necessidade". (FRIEDMANN - 73, p.
23)

Associar trabalho & coerção quando as sociedades modernas aboliram de há muito os regimes servis,
exige que se caracterize melhor o alcance da 'coerção'. Esta pode ser vista como 'interna', quando é do
próprio indivíduo que parte o impulso para o trabalho: novamente nos voltamos para os artistas, que se
dedicam com afinco à sua expressão, ou os 'idealistas' que encontram sentido no esforço que
desenvolvem.. Mas é a coerção externa - a força física, a persuasão moral, coação econômica - que
mobiliza os indivíduos para o trabalho. Da primeira são exemplos os trabalhos forçados, que ainda são
admitidos em algumas sociedades; já a pressão social, que desaprova o 'parasita' que não contribui
para o processo de produção tem grande importância na sociedade do trabalho, embora seja a
'necessidade econômica' o fator definitivo de coerção que garante os mecanismos de produção.
Devemos acrescentar que às necessidades fundamentais (alimentos, vestuário, abrigo), a sociedade de
consumo acrescentou necessidades 'artificiais', de bens supérfluos, que no entanto adquiriram enorme
importância para o homem moderno. Há aqui uma contradição: a busca de um estilo de vida mais
prazeroso, e que inclua direitos à cultura e ao lazer, por um lado enriquece a vida do indivíduo; por
outro lado obriga-o a um esforço suplementar - trabalhar mais - para alcançar estes bens. Daí que a
diminuição das jornadas de trabalho - mais tempo para o lazer, mais tempo para a família - levam
freqüentemente, ao duplo emprego, e ao engajamento dos outros membros da família no trabalho, tudo
em nome do aumento de renda/ aumento de consumo, levando, pois, a um círculo vicioso.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO - EXPLORAÇÃO E ALIENAÇÃO

Sabemos que as idéias de organização, coação, disciplina, obrigação estão presentes nas relações de
trabalho. Sabemos também que o trabalho moderno levou às últimas conseqüências a 'divisão de
trabalho', alimentando o processo de exploração e de alienação. Mas o que representa a 'divisão de
trabalho'?
Mesmo as sociedades primitivas conhecem uma divisão 'natural' do trabalho, que é a que se dá pela
especialização das funções, segundo as habilidades e talentos inatos dos indivíduos. Assim é que os
mais lentos se dedicam à pesca, enquanto os mais ágeis/magros á caça, as mulheres ao cuidado dos
filhos etc. e a especialização leva a um melhor rendimento, o que se dá em proveito do grupo. Já no
modo de produção capitalista, ocorre uma divisão social do trabalho, que consiste na distribuição do
capital pêlos vários ramos da produção. Em outras palavras, há uma a locação do capital em atividades
diversificadas, para atender a diferentes demandas. Por outro lado esta divisão se estende ao interior
do processo de produção, na medida em que é reservado às classes não-proprietárias o trabalho
subordinado. Neste segundo sentido a divisão social do trabalho vai além do aspecto técnico (divisão
horizontal/ distribuição de tarefas), mas remete a uma divisão social (sentido vertical), a uma hierarquia,
que se estabelece entre o capitalista e o trabalhador. De fato na empresa a divisão do trabalho é
"planejada, regulada e supervisionada pelo capitalista, já que é um mecanismo que pertence ao capital
como sua propriedade privada". Nesse processo às vezes é reservado ao operário apenas a função de
apertar um parafuso, o de n. 999, como CHAPLIN mostrou no filme Tempos modernos', resultando dai
o estranhamento do trabalho abstrato, uma completa alienação do trabalhador.

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Há, portanto, alienação quando o trabalhador não se reconhece no fruto de seu trabalho, como
acontece no modo de produção capitalista, onde "nenhum trabalhador individual produz uma
mercadoria; cada trabalhador é apenas um componente do trabalhador coletivo, a soma de todas as
atividades especializadas." (DICIONÁRIO MARXISTA - p. 113)
Obs. Fala-se ainda em 'divisão internacional do trabalho', que atingiria os países, de modo a que
cada um identifique as “vantagens comparativas”(*), isto é, os setores da produção aos quais é
vantajoso se dedicar. "Será que os Estados Unidos se devem especializar em computadores,
comprando carros aos japoneses e petróleo à OPEP? Tal poderia ser o padrão de produção eficiente,
de acordo com o qual cada região produzisse segundo a sua vantagem comparativa."
(SAMUELSON/NORDHAUS - 88, p. 65)
Paralelo ao conceito de alienação aparece o de exploração. Para MARX sendo o trabalho o principal
fator de produção de riquezas, e sendo a remuneração do trabalho inferior ao preço que o capitalista
obtém no mercado pela mercadoria, essa diferença, a mais-valia, é que proporcionaria lucro ao
empregador. Em outras palavras: "Marx definiu a exploração como a diferença entre o contribuição do
trabalhador para a produção e o salário por ele obtido. Devido ao trabalho ser, na perspectiva marxista,
a única fonte de tudo aquilo que é produzido, todos os lucros, juros e rendas não passariam de
exploração do trabalho." (SAMUELSON/NORDHAUS - 88, p.727)

POPULAÇÃO E EMPREGO
Se a população total de um país depende dos processos de produção, nem toda ela está diretamente
envolvida com esse processo. Daí ser importante identificar na população total, aquela parcela
economicamente ativa, isto é, diretamente envolvida nos processos de produção e que chamamos
População Econômica Ativa: P E A; em seguida vamos diferençá-la da parcela da população que está
inativa; entre os inativos encontram-se aqueles que por serem bastante jovens (crianças) ou velhos
(aposentados, inválidos etc.) ou ainda por pertencerem a determinados segmentos sociais (mulheres,
ricos, ou extremamente pobres, mendigos) estão alijados do mercado de trabalho e não procuram por
emprego. Já entre os ativos encontram-se todos que, considerados aptos a trabalhar, estão
empregados ou à procura de emprego.
Neste momento convém fazer uma observação: o trabalho em sua complexidade é alvo de diferentes
enfoques. Sob enfoque jurídico, distingue-se o contrato de trabalho lato sensu, que envolve a prestação
de serviços ou a produção de um bem, mas com autonomia, e que é regulado pelo Código Civil -
contrato de empreitada, contrato de prestação de serviços - do contrato de trabalho stricto
_______________________

(*) 'Vantagem comparativa' é um referencial de que um país lança mão para decidir da
conveniência de exportar ou importar um determinado bem. A vantagem absoluta diz respeito à
produção a custos mais baixos, a vantagem comparativa à distribuição a preços mais baixos. Daí que
"um país deve especializar-se na exportação dos bens que produz a preços relativamente mais
baixos, e importar aqueles em que seu custo de produção é relativamente mais
alto."(SAMuELSON/NORDHAUS - p. 1136)

sensu, por conta alheia, com subordinação, ou contrato que gera vínculo de emprego e está definido na
CLT, art. 442 e ss., c/c art. 2° e art. 3° , que definem empregador e empregado. Isto porque em sede de
sociologia e economia do trabalho estes critérios não são levados em conta, considerando-se

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empregado, toda pessoa que desenvolve atividade remunerada, num lapso de tempo determinado, por
conta própria ou por conta alheia.

Para maior clareza, vejamos o que diz um sociólogo:


"Se o emprego pode ser definido como o conjunto das formas de atividade remunerada
durante dado período, em compensação o não- emprego assume diversas formas bem distintas.
Poder-se-iam enumerar as seguintes: o não-emprego resultante de incapacidade física (quer
em forma absoluta como ocorre na infância e na velhice, quer em forma relativa, como em caso
de acidente ou moléstia); o que resulta do parasitismo (certas formas de renda, a vida às
expensas de outros indivíduos ou grupos); o que decorre da ausência de oferta de trabalho
(desemprego); o que é imposto por certas instituições (obrigações militares, coletividades
religiosas)". (NAVILLE in FRIEDMANN - 73)
Algumas dessas formas levam ao enquadramento do indivíduo na população ativa (o desempregado
devido a ausência de oferta de trabalho), e outros na inativa (os que não estão disputando um lugar no
mercado de trabalho).
Entre os ativos há que fazer uma distinção entre os alceados no setor produtivo e aqueles do setor
improdutivo. Atenção à distinção entre setor produtivo e improdutivo, mais fácil de perceber no início da
revolução industrial: ali se via claramente os assalariados cujo trabalho se prendia diretamente à
produção de mercadorias, ao setor produtivo: eram os empregados das fábricas e indústrias; enquanto
os assalariados que desenvolviam atividades administrativas ou aquelas ligadas à distribuição, estariam
no setor improdutivo. Empregados domésticos e
funcionários públicos seriam exemplos de assalariados improdutivos. (Também nas fábricas era
possível distinguir-se os blue collars - os operários de macacões azuis, e, portanto produtivos, dos
white collars, funcionários de escritório e, portanto, improdutivos.) "Improdutivos embora possam ser
úteis (e até indispensáveis) são os trabalhos que não concorrem diretamente para a produção de
valores (no sentido econômico). "(NAVILLE, in FRIEDMANN - 73, p. 175).

No quadro abaixo, percebemos melhor a distribuição da população:

} população inativa
População total } setor produtivo
} população ativa (P E A)
} setor não-produtivo

MARX diz a respeito: "se os trabalhadores produtivos são os que são pagos pelo capital e
trabalhadores improdutivos os que são pagos pelo rendimento, é evidente que a classe produtiva se
relaciona com a improdutiva como o capital com o rendimento." E acrescenta: "que bela organização
faz suar uma jovem operária durante doze horas numa fábrica, para que o dono possa empregar, para
seu serviço pessoal, e com uma parte do salário não pago a ela (a mais-valia), a irmã dela como criada,
seu irmão como valet de chambre e o seu primo como soldado ou policial".
Porém as relações de trabalho se complicaram muito desde então e já não se pode perceber com tanta
nitidez a diferença entre trabalho produtivo e improdutivo, seja pelo crescimento do setor de serviços,
(hoje se fala em indústria do lazer, indústria da beleza, indústria da saúde, com referência a serviços
vendidos como mercadorias); seja porque o Estado meteu-se em atividades produtivas (haja vista as
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sociedades de economia mista e as empresas públicas) e assim há empregados públicos no setor
produtivo.)
Essa distinção é muito importante; "O equilíbrio e desenvolvimento da
economia exigem uma proporcionalidade ótima entre as populações produtivas e as populações
improdutivas. No nível da economia nacional, as incidências dessa
relação se estendem em todos os sentidos: elas têm um aspecto demográfico
(classes de idade produtiva), financeiro (custo da educação e da aposentadoria),
econômico (equilíbrio geral da produção, do consumo e da acumulação)." (NAVILLE, in FRIEDMANN -
73, p. 177)

POPULAÇÃO OCUPADA

A já referida complexificação do mercado de trabalho que, aliás, nunca apresentou nas sociedades
tardiamente industrializadas como a brasileira a homogeneidade percebida nos países industrializados,
já que a modernização entre nós não chegou a todos os setores e convivem formas arcaicas com
formas modernas de apropriação da mão-de-obra, levou ao desenvolvimento de conceitos mais
capazes de retratar a nossa realidade. Assim temos que, no âmbito do IBGE, a Pesquisa Mensal de
Emprego - PME - trabalha com os seguintes parâmetros:

a) Trabalho: considera-se como trabalho o exercício de


• ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos ou somente em benefícios
(morada, alimentação, vestuário etc.)
• ocupação econômica sem remuneração, exercida normalmente pelo menos durante
quinze horas por semana, ajudando membro da unidade domiciliar em sua atividade
econômica, ou em ajuda a
instituições religiosas, beneficentes ou de cooperativismo, ou ainda, como aprendiz ou
estagiário.
b) Pessoas ocupadas - Consideram-se como ocupadas na semana de referência as pessoas
que, nesse período ou em parte dele, trabalharam, ou tinham trabalho, mas não trabalharam, como, por
exemplo, pessoas em férias.
c) Pessoas desocupadas - consideram-se como pessoas desocupadas aquelas que não tinham
trabalho na semana de referência, mas que estavam dispostas a trabalhar e que, para isto, tomaram
alguma providência efetiva para conseguir trabalho ( no período de referência).

d) Pessoas economicamente ativas - PEA - Consideram-se como economicamente ativas as


pessoas ocupadas e desocupadas.

OBSERVAÇÕES:

• As definições acima foram estabelecidas para uma determinada pesquisa (P M E) e os


parâmetros temporais - idade mínima para integrar a PEA, intervalo de tempo em que o pesquisado
esteve ocupado ou procurando por emprego etc. - podem sofrer variações.

• Entre as pessoas ocupadas se encontram os trabalhadores por conta própria, empregadores,


biscateiros e não apenas empregados.

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• As definições jurídicas (de empregado, empregador, autônomo não coincidem necessariamente
com as definições para efeito de pesquisa).

• Pesquisas como a PME não alcançam o desemprego oculto pelo trabalho precário, ou pelo
desalento (ver definições abaixo)

Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED, também levada a efeito pelo IBGE, considera:
• Desemprego aberto: pessoas de dez anos ou mais que procuraram trabalho de maneira efetiva
nos trinta dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhum trabalho nos últimos sete dias.

• Desemprego oculto pelo trabalho precário: pessoas de dez anos ou mais que realizam de forma
irregular algum trabalho remunerado ou pessoas que realizam trabalho não-remunerado a negócios de
parentes e que procuraram mudar de trabalho nos trinta dias anteriores ao da entrevista ou que, não
tendo procurado nesse período, o fizeram até doze meses atrás.
• Desemprego oculto pelo desalento e outros. - pessoas que não possuem trabalho e nem
procuraram nos últimos trinta dias por desestímulos do mercado de trabalho ou por circunstâncias
fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos doze meses.

DESEMPREGO E SUBEMPREGO
Das considerações acima já temos idéia do que aparece nas estatísticas como desemprego. Os órgãos
de pesquisa americanos (*) adotam os seguintes parâmetros:

"As pessoas com um posto de trabalho encontram-se empregadas; as pessoas sem um


posto de trabalho, mas que procuram trabalho encontram-se desempregadas; as pessoas
que não têm um posto de trabalho e não procuram trabalho encontram-se fora da
população ativa.
A taxa de desemprego corresponde ao número de desempregados dividido pela população ativa total.
(SAMUELSON/NORDHAUS - 88, p. 253)

(*) Sobre os critérios brasileiros ver o item anterior

Obs. Não confundir o conceito de 'desemprego aberto' (ver acima), com a taxa de desemprego
aberto: taxa de desemprego aberto é o quociente do número de desempregados dividido pelo
total da população economicamente ativa.
O subemprego é a situação em que "o emprego de uma pessoa é inadequado em relação a
determinadas normas ou a empregos alternativos, tomando como parâmetro a qualificação deste
indivíduo ( em termos de experiência ou treinamento de trabalho". Estão nesta situação as pessoas que
trabalham involuntariamente jornada inferior à sua disponibilidade e que gostariam de trabalhar mais,
além daquelas que desempenham tarefas aquém de seu preparo.
Entre os subempregados estão os que percebem remuneração muito abaixo de padrões aceitáveis, que
afeta trabalhadores não-registrados (trabalho precário),mas que ainda assim compõem a população
ativa de um país.

 TRABALHO PROFISSIONAL E TRABALHO DOMESTICO (TRABALHO DOMICILIAR)


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Verificamos que o trabalho 'produtivo' seria aquele diretamente envolvido na produção de mercadorias
(e, portanto remunerado pelo capital), enquanto o trabalho doméstico se enquadra como 'improdutivo',
remunerado pelo rendimento. (Aliás, a definição de trabalho doméstico na lei brasileira considera este
aspecto, senão vejamos: Lei 5859/72 - Art. 1° : Ao empregado doméstico, assim considerado aquele
que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no
âmbito residencial destas, aplica-se esta lei.)
De maneira que a expressão trabalho doméstico é usada entre nós, para designar o trabalho prestado
pelo empregado no âmbito residencial de seu empregador; já trabalho domiciliar refere o trabalho
prestado no âmbito residencial do empregado para seu empregador, nos termos do art. 6°, CLT: "Não
se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio
do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego."

Para melhor entender a situação devemos mais uma vez recuar ao momento histórico da mudança no
modo de produção feudal para o capitalista. Os artesãos, como veremos adiante, por serem
trabalhadores livres, mantiveram autonomia advinda da posse dos meios de produção e da detenção de
um saber, até que entre eles e os consumidores se interpusesse o comerciante. Neste momento,
mesmo trabalhando em seu domicílio, à medida que produzia sob encomenda para apenas um 'cliente',
o mercador, perde autonomia e se torna subordinado. Este processo se aprofunda quando o mercador
passa a fornecer matéria-prima, ferramentas, determinar o preço, e termina pela transferência do
'artesão', agora subordinado, para a oficina, ou fábrica, ou seja, o trabalho domiciliar por conta alheia
passa a ser exceção.
Interessante notar que a revolução tecnológica voltou a admitir o trabalho domiciliar em duas situações
bastante diferentes: (primeira) o uso de computadores permite que muitas atividades sejam
desenvolvidas no domicílio do empregado, ligado on Une à empresa; (segunda) as formas de
terceirização do trabalho retiram o trabalhador da grande empresa, e o distribuem pelas pequenas
empresas fornecedoras daquela, no mundo inteiro, ou nas palavras de HARVEY:
"Curiosamente o desenvolvimento de novas tecnologias gerou excedentes de força de trabalho
que tornaram o retorno de estratégias absolutas de extração de mais-valia mais viável, mesmo
nos países de capitalismo avançados. O que talvez seja mais inesperado é o modo como as
tecnologias de produção e as novas formas coordenantes de organização permitiram o retorno
dos sistemas de trabalho domiciliar, familiar e paternalista, que Marx tendia a supor que sairiam
do negócio ou seriam reduzidos a condições de exploração cruel e de esforço desumanizante a
ponto de se tornarem intoleráveis sob o capitalismo avançado. O retorno da superexploração em
Nova Iorque e Los Angeles, do trabalho em casa e do teletransporte, bem como o enorme
crescimento das práticas de trabalho do setor informal por todo o mundo capitalista avançado,
representa de fato uma visão bem sombria da história supostamente progressista do
capitalismo."(HARVEY - 92, p. 175)

A este novo sistema tem-se chamado toyotismo, em oposição ao fordismo/taylorismo, conforme


veremos adiante.

Por outro lado, a divisão social do trabalho, "que era muito mais nítida até o início do séc. XIX", vai se
tomar menos nítida à medida que as oficinas evoluem para a grande empresa, cujos organogramas
apresentam enorme ramificação das posições mais altas às mais baixas na pirâmide hierárquica. Dessa
maneira as
categorias trabalho qualificado/trabalho não qualificado são melhor entendidas no seio da antiga oficina
onde ainda não era possível prever "a natureza e as quantidades da fabricação. Nestas condições a
"empresa não tem unidade real" e nela coexistem dois mundos: o da fabricação , onde o operário
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
qualificado possuía ampla autonomia de decisão, e o da gestão, inteiramente reservado, na quase
totalidade dos casos, à iniciativa patronal." (NAVILLE in FRIEDMANN - p. 447). Desta forma, a
qualificação prendia-se menos à execução de tarefas e mais ao grau de experiência do operário, capaz
de tomar decisões e dirigir o trabalho.

Assim estabelecia-se uma hierarquia entre os operários que deviam percorrer os degraus da
aprendizagem, sob a direção do oficial, o mais qualificado, até que ele próprio fosse ascendendo às
posições que implicavam autonomia e poder decisório; a escala compreendia, portanto, os auxiliares,
os aprendizes e os oficiais ou mestres.

Tal sistema desaparece à medida que as condições técnicas e econômicas da produção tornam-se
previsíveis e mais estáveis; quando quantidades e tempos podem ser medidos com precisão e a
empresa passa a ser planejada. As decisões são retiradas dos trabalhadores, porque passam a ser
técnicas, e os ofícios são substituídos por postos de trabalho. A concluir que a organização da empresa
determinou a passagem do trabalho profissional ao trabalho técnico.
Agora não cabe mais falar em operário qualificado, senão em 'operário especializado', "sujeitos à
organização centralizada do trabalho. O operário especializado se define pelo posto de trabalho,
dispensa a habilidade valorizada nas manufaturas, já que sua grande virtude seria a "aptidão para
adaptar-se às condições de produção mecanizada e em grande série." (NAVILLE - p. 454). De fato, o
posto de trabalho é a unidade em função da qual são os operários distribuídos. Assim, primeiro se
definem os postos e depois os instrumentos que
permitirão a adaptação do operário ao posto. Somente se pode falar em necessidades fisiológicas e
psicológicas do operário especializado com relação aos instrumentos que o tornam adequado ao posto.
O posto, este é intocável por se prender à organização.

TAYLORISMO (FORDISMO)/ TOYOTISMO


A expressão "administração científica do trabalho" se associa com freqüência ao nome de Taylor, que
estudou os deslocamentos, os gestos, os movimentos enfim, que os trabalhadores desenvolviam na
execução de suas tarefas, e a partir da decomposição destas tarefas em suas etapas mais simples,
propôs uma distribuição racional de máquinas e operários de forma a obter um máximo de rendimento e
uma mínima perda de tempo.
Muitos entendem que este processo significou a expropriação do saber operário em proveito da
organização, e implicou perda de qualquer autonomia do operário 'qualificado'. Sob o lema "os
trabalhadores não são pagos para pensar, senão para executar", exacerbava-se o parcelamento do
trabalho e entronizava-se o cronômetro como instrumento de medição de eficiência.
O taylorismo é freqüentemente associado ao fordismo, já que na fábrica de automóveis inaugurada em
1914, em Dearbon, Michigan, Henry Ford adotou a linha automática de montagem, e a remuneração de
cinco dólares/oito horas trabalho/dia, que quebrou a resistência dos operários ao novo sistema.
O fordismo, aliás, foi atém do taylorismo, pois, conforme HARVEY, Ford teria percebido que produção
de massas significava consumo de massas, e salários mais altos e mais tempo de lazer tornavam o
trabalhador em consumidor: ampliava-se assim o potencial do mercado consumidor interno.
O fordismo deve ser entendido também como amplo arranjo entre capital, trabalho e Estado, em que
cada uma dessas instituições ( a empresa privada, pelo capital; os sindicatos, pelo trabalho) assumiu
novos papéis exigidos pela democracia de massas. Por este arranjo, o Estado equalizava as condições
de concorrência pela imposição de legislação trabalhista, que, a um tempo atendia antigas
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
reivindicações da classe trabalhadora, e esvaziava o movimento sindical; a organização de um sistema
previdenciário que socorresse os trabalhadores, nos momentos de desemprego, doença ou velhice,
aprimorava esta estratégia. Os sindicatos, por outro lado, aceitaram este arranjo, na medida que
inaugurava-se período de prosperidade para a classe trabalhadora, e eram eles ainda a instância
intermediadora entre o capital e o trabalho. Enfim tal equilíbrio "tenso, porém firme" durou até que a
nova ordem mundial globalizada colocasse outros desafios.
O toyotismo vem a ser o modelo que surgiu com esta nova ordem. Prega o downsizing, pretende uma
focalização da empresa em sua atividade-fim, o que importa em terceirização das atividades-meio, e
conseqüentemente redução do número de empregados próprios. Supõe igualmente redução dos
espaços físicos de instalação, já que trabalha com estoques reduzidos, esperando receber as
encomendas de seus fornecedores just-ín-time, somente no momento em que for utilizar tais
suprimentos. Este sistema se beneficia da agilidade proporcionada ao sistema de telecomunicações
pela informática, e corresponde ao paradigma de produção flexível. Os ganhos de produtividade são
notáveis, e a capacidade de atender a um mercado globalizado, decisiva para o sucesso do modelo. As
formas de administração mais horizontais, supondo parcerias e contratos civis, também são inovadoras
do formato vertical, piramidal, do sistema fordista.

Em suma:
"A evolução profissional da indústria, por conseguinte, pode ser descrita como a passagem
de uma fase A, caracterizada pela ação autônoma do operário qualificado, a uma fase B, em que
a predominância da organização centralizada do trabalho se alia à manutenção do trabalho de
execução direta, e a uma fase C, que surge quando só indiretamente as tarefas operárias se
ligam à produção." (TOURAINE in FRIEDMANN -73, p. 451)
Os autores procuram deixar claro que a identificação de fases A, B e C na organização do processo
produtivo na empresa não devem ser vistas como etapas que se sucedem no tempo. Ao contrário,
essas etapas convivem ou se superpõem.
Dessa maneira embora entre nós o termo profissional atraia o adjetivo 'liberal', formando a expressão
'profissional liberal', que designa médicos, dentistas, engenheiros, arquitetos, e um sem-número de
outros prestadores de serviço geralmente autônomos, devemos entender a profissionalização como
uma especialização adquirida através de treinamento fora (nas escolas proflssionalizantes), ou
dentro da empresa, de maneira a trazer alguma uniformidade ao desempenho de uma função, A
'profissionalização' tende a garantir o "acesso do assalariado a um determinado status de maneira
precisa, estendido ao maior número possível de aspectos da vida do trabalho e garantido pela lei, pelas
convenções coletivas, e pêlos contratos de empresa."(NAVILLE, p.272)

Obs. (No art. 511, § 2° da CLT, há definição de categoria profissional; e categorias diferenciadas
§ 3° - lembramos que as profissões liberais tendem a se organizar em 'ordens', como a Ordem
dos Advogados do Brasil, e outras assemelhadas).

 TRABALHO ARTESANAL, MANUFATURA E GRANDE INDÚSTRIA


O artesão se define como categoria a partir do século XII, na Europa. Nesta época "as populações
medievais procuram se abastecer fora das áreas do feudo e do mosteiro, adquirindo em feiras e
mercados, além dos domínios senhoriais, artigos e mercadorias de que esses domínios não dispunham
ou que se tornam
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
insuficientes para atender a novas exigências da vida urbana"(PIMENTA - 57, p. 112). O artesão, que
não é mais servo, porém homem livre, é um trabalhador autônomo, proprietário dos meios de produção.
E assim se conserva, até que as vantagens do associacionismo acabam por atraí-lo para as
corporações de ofícios.
De fato estas se organizaram, a partir do séc. XI, em torno de interesses de mútuo assistencialismo,
conquista do mercado através da 'lealdade da fabricação, e excelência dos produtos', conforme se vê
de alguns estatutos das primeiras corporações. Joaquim PIMENTA informa que "já no séc. XIII,
acentuava-se no seio das corporações uma tendência oligárquica entre os mestres ou patrões, para
fazerem da mestria um patrimônio doméstico, hereditário, de pais para filhos. (...) Na Inglaterra, a
qualidade de um membro de uma gilda constituía um direito de nascimento ou herança. O mesmo se
verifica, mais cedo ou mais tarde, nos centros urbanos de outros países, proporcionalmente com a
monopolização, pelas corporações, dos ofícios e dos mercados."(PIMENTA - 64, p. 117)
Se recuamos no tempo, é porque o sistema da grande indústria tem alguma cousa das corporações,
como se vê:

"Desde que se passa às corporações do grande comércio e da indústria, aparecem


desigualdades profundas, e, quando se trata de banqueiros e de industriais de tecidos, a
organização se realiza sob o regime capitalista; os mestres, a miúdo agrupados em companhias,
são grandes personagens, burgueses ricos e políticos influentes, separados por um fosso, largo e
permanente, daqueles que eles empregam." (PIMENTA - 64, p. 119)”
Nos séculos seguintes, já sob regime de liberdade de trabalho, as corporações evoluem para as
fábricas, sistema em que os comerciantes, ou mercadores, monopolizam a força de trabalho dos
artesãos, na medida que lhes
fornece a matéria-prima e compram toda sua produção Uma profunda mudança ocorre neste processo:
o artesão perde contato com o consumidor. Entre ele e o mercado interpõe-se o comerciante, que será
seu único cliente, e, em seguida, seu patrão. A fábrica representaria mais um avanço neste processo:
de fato, o deslocamento do artesão de seu domicílio para a fábrica, onde se reúnem artesãos de
diferentes ramos da indústria, implica organização de todo "processus da produção; concentra em um
corpo único e disciplinado operários de natureza
diversa, graças às relações recíprocas de hierarquia e subordinação que ela lhes impõe; ela os reúne
em suas oficinas, põe à disposição deles todo um arsenal de instrumentos de produção mecânica...",
ao que acrescentamos, promove a divisão do trabalho, separando os mais fáceis, desqualificados, dos
que exigem maior
engenhosidade, com um grande ganho de produtividade.
No entanto é a emergência do Estado moderno, Estado territorialmente centralizado, concomitante com
a revolução industrial e com a revolução política, que se criam as condições para o surgimento da
grande indústria. Diz PIMENTA que esta surgiria "da reunião de fatores que se entrelaçam e se
completam na técnica de produção moderna", entre eles o aperfeiçoamento das máquinas, introdução
de minérios, como ferro, manganês, bauxita etc.; novas fontes de energia, além da água e vento, como
a hulha, o petróleo, a eletricidade etc; e o desenvolvimento da técnica, impulsionada pelas descobertas
da Química, da Física, permitindo definitiva intervenção na natureza.
A grande indústria, portanto, se insere num sistema econômico, o capitalismo, e assume uma forma de
organização técnico-administrativa, que é a empresa. São suas características:
1° Posse privada de toda e qualquer espécie de valores, entre eles os meios de produção:
matérias-primas, máquinas, fábricas ou locais de trabalho;
2° Produção centralizada sob direção única e em escala sempre crescente
ou sem limites além dos que determinam as condições de mercado;
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
3° Concentração nos locais de produção de centenas ou milhares de
trabalhadores subordinados a um mesmo regime de disciplina, os quais,
por força de contratos individuais ou convenções coletivas de trabalho,
prestam serviços mediante remuneração ou salário." (PIMENTA - p. 129)

 DETERMINISMO TECNOLÓGICO
Este impressionante desenvolvimento da indústria, que parecia ter criado uma dinâmica própria,
que escapava ao planejamento político e econômico levou à formulação de uma teoria da evolução da
técnica, semelhante à teoria da evolução das espécies de Darwin:
"...dos gestos e das ferramentas manuais elementares teriam saído as ferramentas
polivalentes e o trabalho associado; em seguida a combinação de ferramentas teriam permitido a
construção de máquinas simples e complexas, graças à adjunção de uma força motora
autônoma. Enfim, a coordenação mecânica de uma série de máquinas automatizadas
asseguraria a produção continuada." (NAVILLE & ROLLE, in FRIEDMANN-88, p. 410)
"A evolução da técnica obedeceria, pois, a um esquema inspirado no darwinismo: as
funções mais necessárias desenvolveriam órgãos mecânicos apropriados, as combinações
mecânicas mais 'aptas' sobreviveriam às que se mostrassem menos eficazes, e a diferenciação
dos tipos de instrumentação redundaria em famílias de máquinas aparentadas pelo jogo de certos
funcionamentos. Enfim, as máquinas tenderiam a tornar-se cada vez mais autônomas, graças a
mecanismos de auto-regulagem correspondentes a equilíbrio homeostáticos. De acordo com
essa concepção, o meio social representaria, em relação à evolução tecnológica, um papel assaz
passivo: impor-lhe-ia limites e condições de utilização, porém nada mais." (FRIEDMANN - p. 403)

 TRABALHO PARCELAR E INTEGRAL


A introdução de tecnologia na linha de produção, e a busca de produtividade e de maior eficiência, fez
que o "trabalho fosse reduzido a parcelas, cada operário repetindo indefinidamente um número limitado
de gestos" , o que sugere a "habilidade degradada em rapidez de gestos elementares; repetição cíclica
de gestos estereotipados; manipulação e direção de máquinas cada vez mais complexas, produtivas e
possantes." (NAVILLE in FRIEDMANN - p. 430)
O trabalho parcelar, por sua vez, deve ser realizado em seqüência, que aproveite da melhor maneira o
tempo de cada empregado; isto suscitou a necessidade de integração das máquinas e das tarefas.
Tais processos de
parcelamento e integração funcionaram bem, a ponto de BABBAGE ter enunciado, em meados do séc.
XIX, o princípio dos múltiplos comuns: "Quando, de acordo com a natureza do produto de cada
manufatura, está fixado o número de processos entre os quais é mais vantajoso dividir o trabalho,
assim como o número de indivíduos empregados, todas as outras manufaturas que não empregarem
um múltiplo direto deste número, produzirão o artigo por um custo mais elevado." Um exemplo ajuda a
entender melhor:
"Suponhamos a fabricação de um produto que exija três operações sucessivas 1) à mão,
por parte de um operário especializado que faz 30 unidades por hora; 2) em máquina automática,
por um operário especializado que produz 1000 unidades por semana; 3) em máquina semi-
automática, que produz 400 unidades por semana. Para empregar plenamente esses três
operários e suas máquinas , será preciso produzir por semana um número de unidades que seja
múltiplo de 30, 400, 1000, sob pena de não empregar plenamente homens e máquinas. Nesse
caso o menor número será 6000, que assegurará o pleno emprego de 6 máquinas automáticas,
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
15 máquinas semi-automáticas e 200 operários especializados."(NAVILLE in FRIEDMANN
-p.439)”

Fácil constatar que a produção integrada implica produção em grande escala; mas não é a última etapa
do processo de divisão do trabalho, já que breve a integração das máquinas totalmente automáticas
vão permitir "um fluxo contínuo de produção, ainda mais rápido e sem que a divisão das tarefas
individuais esteja ligada a produções unitárias por indivíduo." ((NAVILLE in FRIEDMANN - p. 439)

 EMPRESA

Quando afirmamos que "empresa é a atividade econômica organizada", não dizemos muito, mas
conseguimos abarcar uma diversidade muito grande de empreendimentos. De fato, a dinâmica da
economia capitalista encontrou na livre iniciativa, na livre concorrência, na liberdade de contratar, enfim
na democracia liberal, maneiras as mais diversificadas de combinar os fatores de produção - capital,
trabalho, matéria-prima - com vistas à obtenção de lucratividade.
(Assim sendo não perdemos de vista na caracterização da empresa, para efeito da sociologia do
trabalho, o aspecto coletivo, afastando as atividades levadas a efeito individualmente, como a do
barbeiro, dono das ferramentas de seu negócio, que desenvolve sozinho, dispensando o trabalho
alheio. Da mesma forma o proprietário que arrenda suas terras, não nos interessa como empresário. É
necessária a criação de oportunidades de trabalho para caracterizar a empresa econômica).
Tais processos levam ao desenho da empresa moderna que abarca além da fabricação, "a concepção,
a preparação, o abastecimento, o controle e acondicionamento."(NAVILLE - p. 439)
Por outro lado a empresa é um 'centro de trocas', de matérias-primas por produtos, de valores, de
trabalho, e isto implica que, sem perder sua centralidade, está ela voltada para a coletividade, com
quem estabelece relações complexas.
Se, primitivamente podia-se observar na estrutura da empresa alguma semelhança com o formato
piramidal de instituições mais antigas, como o exército, a igreja, ou a família; (por isto que o chamado
modelo paternalista representou "uma tentativa para transpor uma forma de autoridade de um grupo a
outro". (LOBSTEIN in FRIEDMANN, p. 58), mais recentemente este jogo foi invertido e é a organização
da empresa, suas formas de autoridade que têm servido de inspiração a outras instituições.
Além do setor produtivo - atividade-fim da empresa - há o setor administrativo, de controle,
planejamento, manutenção. Sabemos que outras divisões vão aparecer na empresa: setor financeiro e
setor produtivo; proprietários e controladores; mas sabemos que a evolução da empresa ora atenua,
ora acentua essas divisões. (A divisão entre setor produtivo e não-produtivo, por exemplo, tornou-se
cada vez mais atenuada, como esclarecemos adiante).

De antemão devemos registrar o movimentos em direção à concentração de empresas e


estabelecimentos*1 observável em todos os países industrializados. Tal concentração que se explica
pela necessidade de fabricação em massa, e pelo uso de fontes de energia que exigem recursos
técnicos e econômicos consideráveis, mostrou-se, no entanto, "desigual segundo os ramos, irregular
segundo a situação econômica e, o mais das vezes, limitada em seu grau." (TOURAINE - p. 12)
Já o estabelecimento é a unidade técnica - fábrica, escritório, loja de venda, depósito etc. - ou "um
complexo de bens corpóreos e incorpóreos", através dos quais se manifesta a empresa. Para melhor
perceber a diferença basta lembrar que uma mesma empresa pode operar através de diversos
estabelecimentos.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Assim as empresas dirigidas à produção de bens de consumo não duráveis (confecções, padarias,
transportes rodoviários) não sofrem necessariamente concentração; já as indústrias de base, minas e
metalurgia, automobilística, as estradas-de-ferro, empreiteiras de serviços públicos, apresentam
acentuada
____________________________
*1 Empresa é a organização econômica, é a atividade do empresário, mas não é um centro de
imputação jurídica, a despeito de o art. 2°, da CLT, dizer que "considera-se empregador a
empresa..."; na verdade, a empresa se reveste de alguma das formas de sociedade comercial
previstas no Código Civil, e é a pessoa jurídica, ou física, o centro de imputação jurídica, isto é, que
responde por direitos e deveres na ordem jurídica.

concentração, o que se expressa economicamente no fato de pequeno número de empresas ser


detentora de parcelas leoninas - superiores a 50% - do capital nacional. "A concentração é tão grande
que as decisões tomadas pelas grandíssimas empresas - ligadas, como se verá aos bancos - influem
no conjunto da vida econômica do país." (TOURAINE - p. 21)
Mas como se deu tal concentração? Apontamos pelo menos um mecanismo que favoreceu o processo
concentracionista:
Sociedade anônima: a forma de organização em sociedades anônimas - sociedades que
reúnem os donos de ações (cada ação representa uma fração do capital da empresa, são
livremente negociadas em bolsas de valores e geram direitos de propriedade a seus titulares,
entre os quais a percepção de dividendos, e às vezes, conforme o estatuto da empresa e a
legislação das S/A, de voto nas assembléias) - foi a preferida pelas empresas destinadas a tocar
empreendimentos que exigiam grandes capitais (construção de obras públicas, siderurgia, minas,
estradas de ferro, navegação marítima). "A sociedade anônima com efeito é a fórmula jurídica
mais consentânea com a organização das grandes empresas (...). Tais sociedades não são
apenas as mais importantes: são também aquelas cujo crescimento é o mais fácil. Elas
comandam, mais do que as outras, os três principais mecanismos de expansão:

a) reinvestimento: os lucros gerados são usados para expandir os negócios.


b) aumentos de capital: as empresas oferecem lotes de novas ações nas bolsas, como forma de
expansão do capital.
c) controle de outras sociedades: os processos de fusão, incorporação de outras empresas foi
conduzido quase sempre pelas S/A." (TOURAINE in FRIEDMANN - p. 23)
Resta mencionar que os processos de concentração - (horizontal, quando uma empresa acaba
por incorporar as demais que atuam no mesmo ramo; 'e vertical, que consiste no controle de toda linha
de produção, i.é., a empresa procura incorporar seus fornecedores, e seus distribuidores) - podem
degenerar em formas de 'trustes, cartéis, monopólios'*2 que, dada a real possibilidade de extrapolar os
limites econômicos e atingir a interesses sociais e políticos, têm sofrido tentativas de controle por parte
do Estado.
___________________________
*2"O truste é constituído pela transferência dos capitais de diversas sociedades para um agente
fiduciário (trustee) que lhe assegura a gestão. (...) O holdíng é uma sociedade formada para a posse de
ações de outras sociedades, sem que ela mesma exerça atividade industrial. A finalidade dos cartéis já
é diferente: estes não visam a organizar a produção, senão a eliminar a concorrência por um acordo de
venda. Industrial e financeiramente os membros de um cartel continuam independentes, mas
entendem-se para fixar preços e práticas de venda ... Quando a distribuição do mercado se faz
geograficamente, por uma verdadeira partilha do mundo, cria-se um cartel regional cujo organismo de
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
venda amiúde se chama poo/." (TOURAINE, in
FRIEDMANN, p. 27)

PODER E DECISÃO NA EMPRESA


Do exposto acima salta à vista o processo de divórcio entre propriedade e controle na empresa. Ora,
quando a administração é confiada a trustes, quando se formam cartéis, e pois, os problemas
administrativos da empresa extrapolam as considerações de ordem interna e tornam-se questões
estratégicas que são decididas independentemente de considerações sobre a capacidade de produção
e as leis do mercado sucumbem aos arranjos econômico-políticos.
Por outro lado o formato de sociedades anônimas, que implica pulverização do capital entre milhares de
acionistas, opera divórcio entre propriedade e controle, na medida que os pequenos acionistas jamais
comparecem às assembléias deliberativas - são os proprietários ausentes (absentee owners ) - que
delegam o poder de decisão a um pequeno número de dirigentes. E pergunta TOURAINE: quem são
esses dirigentes? Administradores, financistas, técnicos, burocratas?
A resposta é bastante variada: "o grupo dos administradores - exerçam ou não - funções de direção na
sociedade -" possui ampla faculdade de manipulação dos direitos do capital. Isto porque há vários
mecanismos lícitos de controle da participação dos acionistas minoritários nas instâncias decisórias,
tais como classes de ações sem direito de voto, e outras classes com direito a voto privilegiado.
Também se joga com a distribuição dos lucros sob forma de dividendos, na medida que os conselhos
de administração podem criar as mais variadas formas de remuneração, seja qualitativamente, ordem
de preferência, seja quantitativamente, o percentual do lucro a ser distribuído entre uma classe ou outra
de ações.
Os financistas terão maior importância no controle e direção das empresas, quando estas buscam nos
bancos capital para seu financiamento. Há que fazer uma diferenciação quando os bancos são agentes
públicos, ou seja, quando seu capital pertence majoritariamente ao Estado e atuam segundo políticas
públicas.
Os técnicos adquirem certa importância face sobretudo à natureza da empresa, e a conjuntura política,
mas devemos lembrar que as funções não-técnicas - econômicas, financeiras, políticas - parecem
essenciais nos centros decisórios da empresa.

VALORES DO TRABALHO (VALORES E ATITUDES)

A determinação do valor/preço dos trabalhos é objeto de estudo da Economia. Aí se observa que as


diferenças salariais se explicam pela diferente qualificação dos candidatos a empregos e pelo
investimento em 'capital humano'; pêlos diferenciais compensatórios; pela existência de segmentos
não- concorrenciais; pela existência de discriminação, e até pela repercussão de políticas
governamentais, por exemplo, restringindo a imigração, todas essas variáveis influenciando na
diferenciação de salários observada no mercado de trabalho. (Ver na seção "Determinação dos
salários", adiante)
Em sede de Sociologia do Trabalho, no entanto, procuramos, nos grupos sociais, resposta a
indagações do tipo: "Quais ocupações ou empregos lhe parecem mais atraentes; quais trazem a melhor
relação tarefas agradáveis/boa remuneração?" Enfim queremos saber qual a atitude do grupo social em
relação ao trabalho; queremos saber quais são as profissões que implicam prestígio social; que são
consideradas nobres, e, daí, justificam retribuição financeira condizente; (lembrando que se o prestígio

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
não se avalia diretamente por sua apreciação monetária, o fato de possibilitar maiores ganhos reforça o
prestígio). Ou, nas palavras de Roger GIROD, autor a que nos reportamos nesta seção:
"O principal resultado das pesquisas (...) é indicar a ordem em que as pessoas colocam as
profissões, levando em conta, simultânea e indissociavelmente, a cotação de que as profissões
gozam no quadro da sociedade atual, a condição social geralmente concedida a seus membros
e as qualidades psíquicas que se lhe atribuem."(GIROD in FRIEDMANN, p.119)”
De interesse registrar que pesquisas levadas a efeito em diferentes países (Alemanha, Austrália, Nova
Zelândia, por exemplo) apresentam impressionante coincidência relativamente às profissões colocadas
a partir do topo da pirâmide social até sua base; e mais coincidem as que estão nos extremos.
Queremos dizer que há grande concordância acerca das profissões que gozam de melhor cotação e
daquelas que, contrariamente, são desfavorecidas socialmente; (já a dispersão de opiniões é maior
relativamente às que se colocam no ponto intermediário).
Essas opiniões refletiriam a mesma estrutura das empresas no sistema industrial moderno. Ou seja, no
topo da pirâmide de prestígio, os dirigentes dos grandes negócios, (no topo dos organogramas das
empresas estão seus diretores); em seguida viriam os que desempenham funções de responsabilidade,
que permitem dar ordens e orientações a outrem (como os chefes, os gerentes, superintendentes nas
empresas); um degrau abaixo os técnicos, que dispõem de um valor de conhecimento; em seguida os
que estão mais próximos dos chefes (o
pessoal de escritório) e, por fim, os operários e trabalhadores manuais.
Este esquema se repete quando se trata das ocupações relativas ao Estado: ministros dos tribunais
superiores, ou dos órgãos da administração pública encontram-se no topo do prestígio, em posição
superior mesmo aos diretores de grandes empresas privadas. Aliás o tamanho da empresa influi na
cotação da profissão: um gerente de grande empresa, pode estar em igualdade de condições com um
diretor-proprietário de uma empresa média; "os pequenos comerciantes dispõem-se mais ou menos no
nível dos empregados, ou abaixo deles, quando se
trata de artesãos, como os cabeleireiros." (GIROD - p. 121)
Outras profissões: agricultores; disputam espaço (na pirâmide do prestígio) com os pequenos
comerciantes, e os empregados qualificados; empregos manuais conhecem graduação, conforme o
ganho, a estabilidade no emprego que trazem, ou com a qualificação que exige; de qualquer forma "os
empregos em serviços estão classificados abaixo dos ofícios manuais mais penosos'. (GIROD - p. 121)
De quais critérios lançam mão as pessoas para efetuar a "classificação" das profissões? São
apontados, para justificar as mais prestigiosas: a natureza do trabalho "de grandíssimo valor social,
indispensáveis à coletividade; exigem vastos conhecimentos (...) responsabilidades e inteligência;
ensejam necessariamente muita independência e são executados em locais agradáveis;" a renda e o
prestígio social são citados com menor freqüência. O autor adianta que, para justificar o baixo prestígio
de outras profissões, as respostas se mostram confusas e inconsistentes, referindo por vezes a falta de
qualificação, o rendimento pequeno, mas também o nível de educação dos colegas de trabalho.
Na realidade o que se pode observar da comparação dos dados tabulados é que aparece uma
dicotomia matéria/espírito; profissões manuais /profissões intelectuais; corpo/cabeça determinante na
distribuição das profissões pela pirâmide do prestígio.

(Cabe ainda observar que o desprestígio das profissões manuais vem desde a Antiguidade, passando
pela Idade Média, onde as classes privilegiadas sempre foram poupadas do trabalho manual, havendo
mesmo profissões indignas dos nobres. Os burgueses alteraram esta percepção, na medida que se
enriqueceram a partir do comércio, mas lidando diretamente com a produção, em grande escala

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
manual. Pode-se dizer que, o enriquecimento e a condição de autonomia serviram como critérios
'enobrecedores' do trabalho).

Concluímos para afirmar que a atitude em relação ao valor do trabalho, que usa a clivagem trabalho
manual/ trabalho não manual "serve para desqualificar a obra - e também, indiretamente a pessoa - de
extensas categorias de trabalhadores e para legitimar, por meio de raciocínios aparentemente
defensáveis, a prática que consiste em recusar a estas camadas um grau de bem-estar material e
cultural igual ao dos demais. Há homens cujo trabalho vale menos do que o dos outros porque não
possui uma virtude misteriosa que procede do espírito."(GIROD - p. 125)

De maneira que o valor social do trabalho, i.é., o tanto que tal trabalho repercute no bem-estar da
coletividade, só por exceção serve de critério à determinação da atitude em relação às profissões.

 SISTEMA DE ASSALARIAMENTO
SALÁRIO INDIVIDUAL & SALÁRIO SOCIAL (Salário mínimo)
Na seção anterior examinamos o 'valor subjetivo do trabalho' (como a sociedade valora determinadas
profissões); nesta, veremos o valor objetivo, ou seja, o salário atribuído pelo 'mercado' às diferentes
profissões. "O salário, de certos pontos de vista é um rendimento. Os rendimentos são o conjunto dos
meios, monetários ou não, que permitem a uma população abastecer-se no mercado, de acordo com
suas necessidades solváveis."(NAVILLE in FRIEDMANN - p. 133)
Mas vamos encarar o salário, tal como se deu nos primórdios da revolução industrial, como a
contraprestação devida ao trabalhador pelo empregador que contrata sua força de trabalho. Sob este
enfoque, bastante objetivo, verificamos que o sistema de assalariamento comporta duas modalidades
principais, que admitem variantes 'mistas': a primeira é o salário por unidade de tempo, que pode ser a
hora (empregado horista, que recebe pelo número de horas à disposição do tomador de serviços), o
dia, a semana ou o mês). Não resta dúvida de que é a mais comum na indústria moderna, onde a
eficiência depende menos das habilidades pessoais dos trabalhadores, e mais do processo de
produção geralmente bastante automatizado.
A segunda modalidade é o pagamento pêlos resultados: a remuneração estaria vinculada à
quantidade/qualidade do produto, gerado pelo esforço do trabalhador. Tal modalidade se admite
quando há uma padronização do bem a ser produzido e serve de incentivo à produtividade do
trabalhador, embora apresente o inconveniente da irregularidade ou incerteza do rendimento ao longo
do tempo.
Exemplo de modalidade mista, seria o trabalho por tarefa/hora, que levaria em conta tanto a
quantidade, quanto a unidade de tempo. O ordenamento jurídico brasileiro admite quaisquer destas
espécies, embora sobre elas recaiam normas de ordem pública, protetoras da saúde do trabalhador, e
garantidoras de remunerações mínimas.
NAVILLE apresenta uma evolução destes sistemas, paralelamente à evolução da técnica industrial:

- Trabalho com máquinas-ferramentas clássicas (trabalho remunerado por peças, já que


a produção depende do desempenho individual do operário, que deve ajustar seu
ritmo de trabalho).
- Máquinas-ferramentas agrupadas por oficina, para produção em série - (neste caso o
rendimento coletivo é que conta; a distribuição do trabalho é feita pelo chefe da oficina;
calcula-se o pagamento por hora).
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
- Trabalho em linha de montagem - já que os operários estão submetidos a um mesmo
ritmo, a produtividade depende da coordenação do trabalho. Acentua-se a absorção
do rendimento individual, pelo coletivo; os salários-base tendem à uniformidade.
- Trabalho com máquinas automáticas e conjuntos automatizados.
Como a máquina 'faz-tudo', as tarefas de controle, vigilância e manutenção assumem
grande importância, embora não estejam diretamente ligadas ao trabalho produtivo.
(Ver definição na seção 'População e emprego'). Aqui o salário mensal é o mais
freqüente, e representa uma quantidade não-elástica (não sujeita a variações
dependente de outras variáveis).
Registramos, que a fixação 'objetiva' do salário - sua tradução em um preço não dispensa os
elementos subjetivos, como já salientado, - o interesse, a satisfação, o prestígio ou status.
Aliás, característica da evolução da sociedade industrial, (que foi acompanhada pela evolução da
democracia liberal, em direção a uma democracia de massas que reclama a extensão de direitos
políticos e sociais ao conjunto da população), foi o deslocamento do salário de individual (retribuição do
trabalho prestado e, portanto, guardando certa simetria ou comutatividade trabalho/salário), para o
salário social, assim entendido o salário que deve satisfazer às necessidades 'sociais' (de acesso à
cultura, à educação, ao lazer) do trabalhador, e não apenas àquelas de subsistência.

Esse imbricamento entre economia e política - a economia enfatizando a fixação dos salários pelas leis
de mercado e a política propondo fixar legalmente níveis mínimos de salários (a fixação de jornadas
máximas faz parte deste disciplinamento) - supõe um acordo político em escala nacional, através do
qual a previdência pública assume prestações como salário-família, seguro-doença, seguro-acidente,
aposentadoria etc que de alguma maneira se refletem no salário do trabalhador.
Enfim pode-se dizer que além do aspecto econômico - fixação do salário através das leis de mercado,
(que levam em consideração elementos exteriores ao trabalho, ou seja, transporte, descanso, férias
etc.) e em instrumento de contrato individual ou de negociação coletiva cujos sujeitos são apenas
empregados e empregadores, eventualmente representados por seus sindicatos - a fixação dos salários
implica um aspecto político, um pacto social, que reflete o nível mínimo de bem-estar que determinada
sociedade quer garantir a seus trabalhadores. É claro que o salário mínimo legal e as demais normas
de ordem pública que regem as relações de trabalho são as manifestações deste pacto.

Observação:
Fala-se ainda em salário nominal e salário real; o primeiro é o montante do salário expresso na
moeda local; já o salário real reflete o poder aquisitivo do dinheiro, isto é, os preços relativos do
salário e dos demais bens. Essa dissociação advém exatamente da intervenção dos Estados no
mercado, que às vezes se ajusta, através da inflação, caso que se pode ter alto salário nominal,
mas de baixo poder aquisitivo, portanto baixo salário real.

 PSICOSSOCIOLOGIA DO CONTRATO DE TRABALHO


Já examinamos os aspectos objetivos e subjetivos do salário. Verificamos que os aspectos subjetivos,
como admitido nas análises econômicas, interferem no 'valor' do trabalho ( aproveitamos a ambigüidade
da palavra 'valor' para usá-la em seus dois sentidos, objetivo, igual a preço, e subjetivo, igual a
prestígio). Mas como o trabalhador se sente (psicologicamente) quando vê que a fixação de seu salário
depende menos de seu desempenho individual - salário individual, do que da política de salários? Em
outras palavras, "Dir-se-ia, em suma, paradoxalmente, que a valorização relativa dos elementos sociais
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
da remuneração do salariado acarreta relativa desvalorização dos elementos ligados ao trabalho
individual." (NAVILLE in FRIEDMANN - p. 146) Isto porque, sendo sua única riqueza a sua habilidade
no desempenho de uma profissão, sentia-se o trabalhador promovido quando o mercado reconhecia e
remunerava diferenciadamente seu talento.
De fato, ideal seria que a 'parcela social' do trabalho se somasse à parcela individual, sendo a primeira
de fixação coletiva, e a segunda, individual. Tal não se dá. Pesquisas mostram que cada vez mais o
salário global cresce em função das parcelas sociais (os chamados encargos sociais), que oneram as
folhas de pagamento, mas não chegam diretamente ao bolso do trabalhador.

Mas não é uma questão simples: a impessoalidade das tarefas nas empresas, dispensam habilidades
pessoais, e, portanto, diferenciações individuais de trabalho. Além do que toda o gerenciamento do
trabalho na indústria direcionou-se no sentido da produção coletiva, e na prática dos salários mensais,
com base em critérios genérica e abstratamente previsto - para trabalho igual, salário igual. É o setor de
serviços, em constante expansão que vai permitir maiores diferenciações.

MOVIMENTO OPERÁRIO; SINDICALIZAÇÃO E MILITANTISMO


Preferimos localizar o 'movimento operário' na sociedade industrial, a despeito de enxergar no sistema
das corporações medievais, sobretudo tardiamente, práticas de assistência mútua, e alguma
organização em tomo de interesses corporativos que se assemelham ao movimento sindical. Porém,
nas corporações, mestres, companheiros e aprendizes, firmavam lado a lado para se defender
sobretudo da concorrência. Ora, o movimento operário, ao contrário, supõe o conflito dentro do
empreendimento, já que pretende identificar um interesse de classe, no caso da classe operária, frente
aos interesses do patrão.
(Abrimos parêntese para lembrar que o modelo sindical não por acaso denominado corporativo, se
aproxima desta idéia de comunhão de interesses entre patrões e empregados, em torno da promoção
dos valores da nacionalidade, como diz a Carta dei Lavoro (de 1927 - Itália) "o complexo da produção é
unitário do ponto de vista nacional" e a organização privada da produção é de interesse nacional").
Por outro lado, se situamos o movimento operário na sociedade industrial, devemos ressalvar que os
princípios consagradores do individualismo, próprios do liberalismo, doutrina que afirmou os direitos
civis à propriedade e à liberdade de contratar, não eram compatíveis com a defesa coletiva de
interesses. Ou seja, entendia-se que a defesa de direitos coletivos implicava cerceamento dos direitos
individuais, motivo pelo qual o associacionismo foi considerado crime e crime grave! (Delito de
conspiração na Inglaterra, cuja sanção era pena de morte, proibido pela Lei Lê Chapeilier, em França,
só em 1824 foram as "union frades" toleradas na Inglaterra e sessenta anos mais tarde na França).
Daí que são apontadas três fases na afirmação do sindicalismo: a primeira de proibição; a segunda de
tolerância e a terceira de reconhecimento.
A fase de tolerância reflete o fracasso da estratégia de repressão pura e simples, a ferro e fogo, do
movimento operário. De fato, as condições de vida da classe operária se tornaram tão precárias, que só
a assistência mútua nos momentos de desemprego ou incapacidade para o trabalho, bastante comuns
por sinal, podiam trazer algum alento à situação de indigência e miséria dos obreiros. Muitas
sociedades eram secretas, e cedo passaram da atitude assistencialista a uma atitude reivindicatória de
direitos e melhores condições de vida, dirigida ora ao Estado, ora aos patrões. (Se o principal
instrumento de luta era a greve, havia outros como a sabotagem e o boicote).

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Muitos pensadores inclusive da classe dirigente - e até empresários, como R. Owen - manifestaram
solidariedade à luta dos operários, embora a maioria deles dirigisse seus discursos aos próprios pares,
tentando convencê-los a mitigar as situações por demais ofensivas à dignidade humana, tais como a
exploração do trabalho de crianças e mulheres, o exagero de jornadas de trabalho que minavam a
saúde do trabalhador, o salário vil que mal dava para a reprodução da força de trabalho. Foram por isto
chamadas socialistas utópicos, já que pensavam em distribuição de renda sem luta aberta entre capital
e trabalho.

De qualquer forma, em desafio às duras leis, os operários insistiram em coletivizar a luta e foram
aparecendo instrumentos como convenções coletivas, que representaram importantes vitórias de
classe, e do pensamento democrático, que tem um de seus pilares na "solução pacífica das
controvérsias". Era hora do
reconhecimento da legitimidade da defesa coletiva de interesse, que se manifesta no Trade Union Act,
de 1871, na Inglaterra; na Lei Waldeck-Rousseau, de 1884, na França; no Clayton Act, de 1914, nos
EUA; e até em sede constitucional, haja vista a Constituição do México de 1917, e a de Weimar
(Alemanha), de 1919.
Verificamos que desde as suas origens o movimento sindical ora desempenhava uma função
assistencialista, ora uma função de defesa dos interesses profissionais de seus associados, ora uma
função política, de reivindicação de direitos para a classe operária, caso em que os interesses
ultrapassavam a categoria e atingiam toda classe. Daí que ainda hoje temos o sindicalismo cuja ação
se direciona aos interesses mais imediatos dos associados e ligados ao exercício da profissão
( melhores salários, melhores condições de trabalho) e os que se engajam em luta política de fazer a
classe trabalhadora participar efetivamente do poder (sindicalismo revolucionário).
A partir da regulação do movimento sindical, podemos identificar sistemas que se polarizam em torno
da liberdade de associação, que deve ser examinada face ao Estado (liberdade de criação e autonomia
política e administrativa), em relação às empresas e em relação aos trabalhadores (liberdade de
associação e de não-associação).
Relativamente liberdade em face do Estado, temos sistemas jurídicos que impõem a unidade sindical e
os de pluralidade.
A pluralidade sindical implica liberdade sindical face ao Estado, ou nos termos da Convenção 87, da
OIT, "assegura aos trabalhadores e empregadores, sem distinção de qualquer espécie, o direito de
constituir, sem autorização prévia, organizações que julgarem convenientes. (ROMITA - p. 221) Neste
caso podemos ter organização por profissão, indústria, categoria, ou empresa, em qualquer base
geográfica, ou seja, de âmbito do município ( quantas se mostrarem convenientes a juízo dos
interessados), dos Estados, do país, e até internacionais.

Já a unicidade sindical resulta da imposição legal de um sindicato por categoria profissional, numa
determinada base territorial; (há quem fale em unidade sindical, mas tal expressão deve ser reservada
aos sistemas, como o alemão, em que a unidade decorre de escolha espontânea dos interessados, que
optam por se fortalecer a partir de atuação unitária. Em outras palavras a atuação centrada resultaria de
estratégia política e, não, de imposição legal).
Na realidade, como assevera ROMITA, "há três tipos de sindicato único: o previsto nos regimes
corporativos (Itália, de Mussolini; Portugal, de Salazar; Brasil, até hoje); o adotado pêlos países do
bloco socialista; e o dos países cujos sindicatos foram organizados sobre base unitária, conservando o
caráter de movimento espontâneo e independente perante o Estado." (ROMITA - 91, p. 231)

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
(Consultar o art. 8° , da CF, e os art.s 511 e ss., da CLT, que define categoria econômica
(empregadores), categoria profissional (empregados) e categoria diferenciada.)

GREVES E CONFLITOS TRABALHISTAS

Os conflitos de trabalho apresentam geralmente natureza de conflitos coletivos, já que envolvem


interesses de classe, seja da classe capitalista, detentora dos meios de produção, seja das classes
trabalhadores, que prestam serviço de maneira subordinada aos empregadores.
Tais conflitos trabalhistas conhecem diferentes formas de composição: a autocomposição, quando as
partes se entendem diretamente, na busca de acordo que ponha fim ao conflito; heterocomposição,
quando um terceiro, não interessado, é chamado para intermediar o conflito e propor/impor uma
solução; e a autodefesa, quando as partes como quê medem forças para resolver suas pendências.

A autocomposição se dá através da negociação coletiva, quando os interessados, diretamente ou


através de seus sindicatos, firmam acordos ou convenções coletivas. Já a heterocomposição tanto
pode se dar por via jurisdicional - as partes ajuízam dissídio coletivo e pedem a intervenção do Estado-
juiz, para que, através de uma sentença, dê solução às divergências, ou por via de arbitramento,
quando elegem um árbitro e este, com maior liberdade que o juiz, sugere uma saída para a crise.
Já a greve, que é uma forma de autodefesa, é o instrumento mais antigo e mais eficaz de
convencimento do capitalista: sob pressão da greve, suspensa a produção, deve medir qual situação
lhe traz maiores prejuízos, o prolongamento da paralisação das atividades, ou o atendimento a
reivindicações de seus empregados, que sempre implicam mais encargos financeiros e econômicos.

Interessante que o modo de encarar a greve nos sistemas político-jurídicos


conheceu as mesmas fases experimentadas pelo movimento sindical: proibição,
tolerância, reconhecimento. Ou na clássica tipologia de CALAMANDREI:
"a) greve-delito: concepção paternalista e autoritária do Estado, ou seja, regimes corporativos
aparelhados de órgãos destinados a solucionar por via impositiva os conflitos coletivos de
trabalho (competência normativa dos tribunais do trabalho)

b) greve-liberdade: concepção liberal do Estado, que se desinteressa da greve, tida por fato
socialmente indiferente, sujeita a punição apenas quando enseja violência, ou atos de
perturbação da ordem pública (...)

c) greve-direito: concepção social-democrática do Estado - a greve é considerada socialmente


útil e é protegida pelo ordenamento jurídico." (ROMITA-91,p.251)
Notamos que o caráter coletivo e sua tendência a se manifestar espontaneamente tornam difícil o
aprisionamento ou enquadramento da greve em diplomas legais ou tipologias doutrinárias.

A exemplo citamos, com base em ROMITA:


⇒ Segundo a extensão (greves parciais, generalizadas, gerais)
⇒ Segundo o âmbito (greves de empresa, greves setoriais, greves por categorias)
⇒ Segundo a origem (greves sindicais, greves espontâneas)

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
⇒ Segundo o conteúdo das reivindicações (greves defensiva; preventivas; de reivindicação; de
solidariedade ou de apoio; de luto; de protesto; de demonstração, de advertência.
⇒ Segundo as táticas empregadas (greves ativas ou clássicas; greves brancas ou de ocupação do
local de trabalho; greves intermitentes; greves setoriais; greves em pontos-chave).
Há ainda considerações sobre greves atípicas, que implicam não a paralisação do trabalho, mas
atitudes que afeiam a produção, como seja a greve de braços caídos (os operários ficam diante de seus
postos, sem trabalhar; operação-padrão, quando os procedimentos previstos no regulamento são
cumpridos com zelo total, prejudicando o rendimento; greves relâmpago; greve-tampão e tantas outras
formas sugeridas pelas circunstâncias.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi

ECONOMIA DO TRABALHO

Conceito Básico

Microeconomia x macroeconomia

A microeconomia estuda os mecanismos de mercado e sua repercussão sobre os preços dos insumos
considerados individualmente. A oscilação dos preço do açúcar em função de um aumento da
produção, por exemplo; a fixação dos salários de determinada categoria etc.
Já a macroeconomia se preocupa com a Economia como um todo: o nível da produção; a participação
de salários e capital no Produto Interno Bruto; as taxas de emprego e desemprego; a inflação, o
balanço entre importação/exportação.
A macroeconomia tem-se constituído no núcleo dos programas políticos, já que os governantes
dispõem de instrumentos de intervenção no mercado determinantes da produção e da distribuição de
renda nos países.
Por exemplo, a política fiscal (cobrança de impostos, equilíbrio receitas/despesas públicas) refletem
sobre a produção nacional, bem como a política monetária (controle da oferta de moeda) que influi na
fixação dos juros. Já as políticas salariais (que tanto podem ser no sentido de livre negociação entre as
partes, possível na situação de pleno emprego, como no sentido de fixar legalmente os salários, têm
influência nas taxas de desemprego e concentração de renda). Os instrumentos de fixação do câmbio,
por sua vez, também são determinantes das relações comerciais externas, e podem ser usados para
manter o equilíbrio na balança de pagamentos (relação importação/exportação).
É claro que essas variáveis interagem e a melhoria de um indicador implica em piora de outro, de
maneira que a busca do ponto ótimo (que é aquele conforme aos princípios políticos insculpidos na
Constituição) é responsabilidade dos governos.

 Produto Nacional Bruto:


É a soma de todos os bens e serviços produzidos num país, durante um ano. Essa soma, em que se
considera o valor de mercado dos bens e serviços, fornece o PNB nominal; se descontamos a inflação
no período, temos o PNB real. Em uma economia aberta, o PNB exclui a parcela da produção de bens
e serviços que, mesmo tendo sido gerada no país, resultou do emprego de recursos de não-residentes.
Por outro lado, inclui a parcela dos bens e serviços que, mesmo produzida fora do país, resultou da
utilização de recursos de propriedade de residentes no país.

 Produto Interno Bruto (PIB):

É a soma de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do país, independentemente da


nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. (Exclui as transações
intermediárias e é medido a preços de mercado.) A diferença entre o PNB e o PIB corresponde á renda
líquida enviada ou recebida do exterior. Quando o PNB é menor que o PIB, significa que o país remete
para o exterior mais renda do que recebe; neste caso excluindo-se do PI B a renda líquida enviada ao
exterior, obtém-se o PNB.

 Ciclos econômicos:
O PNB dos países não se mantém constante, mas às vezes mostra crescimento em anos seguidos,
para recuar em seguida a pontos mais baixos de crescimento, até novo ponto de inflexão. Esses
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
períodos de crescimento, seguidos de 'encolhimento', constituem os ciclos econômicos, que
acompanham a história do capitalismo, tendo, no entanto, se tornado menos agudos da década de 30
para cá. Talvez pelo melhor domínio das variáveis macroeconômicas.

 Produto Nacional Líquido:


É obtido descontando-se do PNB as amortizações, ou seja, o que se gasta com juros e depreciação
dos bens de capital.

 Produto potencial:

Já se sabe que crescimento muito acentuado do PNB, que supõe crescimento da produção e pleno
emprego, gera inflação. Por isto que produto potencial significa a taxa máxima de crescimento do PNB
sustentável sem inflação.

 Oferta agregada:
Diz respeito à quantidade de bens e serviços que as empresas podem oferecer, e depende dos
recursos de capital (nível de poupança e bens de capital), dos recursos de trabalho (quantitativa e
qualitativamente considerado) e dos recursos naturais e tecnológicos disponíveis numa economia.

 Demanda agregada: (ou Procura agregada):


Diz respeito à quantidade de bens e serviços que os consumidores estão propensos a adquirir, e
depende da quantidade de moeda em poder dos agentes econômicos (consumidores, empresas,
governos), das despesas e impostos a que estão sujeitos e de outras variáveis).

 Elasticidade:
Conceito que indica a reação de uma variável a modificações em outra variável. Assim a elasticidade de
X, relativamente a Y, indica a variação percentual em X a cada variação de unidade percentual em Y.

 Elasticidade da oferta:
A variação da quantidade de uma mercadoria oferecida no mercado, a partir da variação em seu preço,
é a medida da elasticidade da oferta de tal mercadoria: se o aumento de 1% no preço de uma
mercadoria, implica no aumento de 2% da quantidade da mercadoria oferecida no mercado, então a
elasticidade da oferta tem valor 2.

 Oferta perfeitamente elástica:


Uma mudança infinitesimal no preço provoca uma mudança infinitamente grande na quantidade
oferecida.
Oferta relativamente elástica: Uma mudança no preço resulta numa mudança mais do que proporcional
na quantidade oferecida.

 Elasticidade unitária:
A cada variação unitária no preço corresponde variação unitária na quantidade oferecida.

 Oferta relativamente inelástica:

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Uma variação no preço, implica variação menos que proporcional na oferta.

 Oferta completamente inelástica:


Uma variação no preço não resulta em variação na quantidade oferecida.

 Elasticidade da demanda (ou da procura):


A variação no preço de uma mercadoria implica variação na demanda por esta mercadoria. O
coeficiente ou a medida da elasticidade da demanda é obtido dividindo a variação da quantidade
procurada, pela variação no preço. (No numerador, a diferença entre os valores antigos e novos da
demanda; no denominador a diferença entre os preços antigos e os novos)

 Rigidez:
Incapacidade de um sistema econômico de responder prontamente às mudanças na demanda e na
tecnologia.

 Rigidez de salários:
Refere-se à resistência dos salários baixarem, mesmo em situação de altas taxas de desemprego. Tal
rigidez se deve ao fato de as políticas salariais não tolerarem a redução dos salários, aos obstáculos à
despedida, à atuação dos sindicatos, aos acordos e convenções coletivas que têm prazo determinado
de eficácia; à resistência dos empregados a aceitarem salários abaixo da expectativa, além de outros
fatores.

 Rigidez de preços:
Nos sistemas de concorrência imperfeita, ou onde há monopólios, cartéis, trustes, ou políticas de
controle, os preços não reagem à diminuição da procura.

 Produto marginal:
"O produto marginal de um fator de produção é o produto suplementar, ou o produto acrescentado por
uma unidade suplementar desse fator, enquanto os outros fatores se mantêm constantes. O produto
marginal do trabalho é o produto suplementar que se obtém quando se acrescenta uma unidade de
trabalho, mantendo-se constantes todos os outros fatores. De modo idêntico o produto marginal da terra
é o incremento do produto total resultante de uma unidade adicional da terra, mantendo-se constantes
todos os outros fatores - e assim por diante para qualquer fator."(SAMUELSON/NORDHAUS - 90, p.
720).
Propensão marginal a consumir (PMC):
Refere-se ao consumo adicional, provocado pelo aumento da renda. É medida dividindo-se a variação
no consumo, pela variação na renda disponível.
Propensão marginal a poupar (PMP):
Indica a disposição de aumentar a poupança, provocada pelo aumento do rendimento. É medida pelo
quociente entre a variação na poupança e a variação na renda disponível.

Observação.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Os gráficos são instrumentos indispensáveis à teoria econômica, "tão indispensáveis como o
martelo ao carpinteiro". Por isto recomendamos ao estudioso desta matéria o estudo dos
gráficos.

ECONOMISTAS CLÁSSICOS
Economia e trabalho são conceitos estreitamente ligados. De fato a economia pretende descrever a
interação entre os fatores de produção - capital, trabalho e matéria-prima, nas sociedades políticas.
Notemos que o pensamento econômico somente se desenvolveu com a definição das instituições
próprias do Estado moderno, Estado de direito, que abraça o princípio da isonomia jurídica, e o respeito
aos direitos individuais, inclusive e, sobretudo, o direito de propriedade. Ora, se somamos aos direitos,
as liberdades, (livre iniciativa, livre concorrência, liberdade de contratar, liberdade de trabalhar) obtemos
as variáveis que são estudadas pela Economia. A Economia do Trabalho se volta para a variável
trabalho de maneira preponderante (força de trabalho; população economicamente ativa; valor do
trabalho; desemprego; salários; interação entre estas variáveis e as demais etc.)

Neste sentido a obra de ADAM SMITH - publicada em 1776 , An Inquiry into the Nature and Causes of
the Wealth of the Nations, freqüentemente referida como "A riqueza das nações" - representa um marco
histórico. Contemporâneo dos flsiocratas, acreditava nas vantagens dos regimes político de liberdades,
mas professava ainda mais fé nos mecanismos do mercado, (na mão invisível) – que substituiriam com
vantagem as políticas dos governantes, ou as boas intenções individuais, no propósito de tornar ricas
as nações. São suas palavras:
"Cada indivíduo tenta aplicar seu capital de modo que ele renda o máximo possível.
Geralmente o indivíduo não tem em vista a melhoria do interesse geral (bem comum), nem sabe
em que medida é o que está a promover, procurando tão somente a sua própria segurança, o seu
ganho pessoal. Ele é conduzido desse modo por uma mão invisível, na promoção de um fim que
não fazia parte de suas intenções iniciais. Na perseguição de seus interesses, o indivíduo está
freqüentemente a beneficiar a sociedade de um modo mais eficaz do que quando pretende fazê-
lo intencionalmente".

A obra de SMITH obteve êxito imediato, devido à agudeza de suas observações sobre o funcionamento
da economia e também ao fato de que as idéias de liberalização da economia agradavam à burguesia
industrial interessada em fugir aos controles impostos por políticas mercantilistas.
No entanto, sabia o autor que a mão invisível somente funcionaria bem, nos sistemas onde houvesse
concorrência perfeita*3 Com isto se quer dizer que os produtores, na busca de seu lucro individual,
deveriam atender à demanda da sociedade. Mas sua produção teria de se dar na medida exata, nem
mais, nem menos: um aumento da produção, ou da oferta, acarretaria uma baixa nos preços, enquanto
a escassez, num primeiro momento determinaria alta do preço - incremento da procura, mas num
segundo uma maior oferta ( outros produtores dirigir-se-iam àquele setor do mercado). "O delicado
mecanismo dessa mão invisível agiria também nos mercados dos fatores de produção, propiciando
harmonia sempre que os fatores procurassem o maior ganho possível." (Dicionário econômico - p.545)
____________________________
*3 "Apenas existe concorrência perfeita quando nenhum agricultor, negociante ou trabalhador constitui
uma parcela suficientemente grande do mercado total para ter qualquer influência pessoal sobre o
preço de mercado. Por outro lado quando os cereais, mercadorias ou trabalho tiverem uma dimensão
tal que produzam apreciáveis efeitos nos preços de mercado, então é porque instalou-se a
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
concorrência imperfeita, sendo, que, neste caso, as virtudes da 'mão invisível' aparecem bem
atenuadas." (SAMUELSON/NORDHAUS - 88, p. 55).
Outro economista inglês da maior relevância é DAVID RICARDO. Projetou-se sobretudo pela obra
Princípios de Economia Política e Tributação (The Principies of Political Economy and Taxation), onde
manifesta sua crença de que "determinar as leis que regulam a distribuição da produção econômica é o
principal desafio da Economia Política." "Sua teoria do valor era, essencialmente, uma teoria da
quantidade de trabalho. Pôs de lado os bens 'escassos'( isto é, que não se reproduziam) e se
concentrou na massa de bens que podem ser aumentados pela indústria humana, procurando
demonstrar que os valores de troca dos bens serão proporcionais às quantidades de valor neles
incorporados (inclusive a mão-de-obra armazenada, sob a forma de maquinaria etc) "( Dicionário de
Economia - p. 512). Essas idéias bastante simplificadas foram desenvolvidas mais tarde levando em
conta os produtos que incorporavam em proporção e quantidades variáveis capital e força de trabalho.
Analisemos a afirmação de Ricardo de que "O preço do milho não é alto por se pagar uma renda; paga-
se, sim, uma renda porque o preço do milho é elevado." Com isto, quer ele dizer que os fatores
inelásticos - cuja quantidade não pode variar, como a terra, por exemplo - têm seu preço derivado, ou
dependente dos produtos finais destinados ao consumo. Assim o preço que o consumidor está disposto
a pagar pelo pão, determina o preço que o padeiro está disposto a pagar pelo trigo; o preço deste
determina o preço da terra adequada à produção do trigo. Já o valor da mão-de-obra - fator trabalho -
seria determinado pela quantidade de capital disponível e pela quantidade de mão-de-obra disponível:
"Não pode haver aumento no valor de trabalho sem uma queda nos lucros." De fato, para Ricardo "o
aspecto mais importante da economia era a lei da repartição do produto nacional entre as classes
fundamentais da sociedade: os salários para os trabalhadores, os lucros para os capitalistas e as
rendas para os proprietários de terras. Uma vez que o bolo social não podia crescer ilimitadamente, ele
salientava que aquilo que ia para uma classe social tinha de ser tirado às outras."
(SAMUELSON/NORDHAUS - p.943)
Suas idéias levavam à conclusão de que à medida que a população crescesse, aumentaria a procura
por alimentos; este aumento da demanda (lado da procura) acarretaria o aumento do preço dos
alimentos, e daí dos preços dos salários (haveria maior procura de mão-de-obra), e das rendas das
proprietários de terra. Logo diminuiria o lucro dos capitalistas. Com isto, Ricardo negava as idéias de
Adam SMITH, da auto-regulação harmônica do mercado - e confirmava a Lei de Say. segundo a qual "a
oferta cria sua própria demanda". Isto corresponde ao princípio macroeconômico que considera a
superprodução impossível, e reafirma a tendência da economia para o pleno emprego.
RICARDO exerceu grande influência no pensamento econômico; MARX o considerava o maior dos
economistas clássicos, e desenvolveu muitas de suas idéias.

Marx e Ricardo
Embora inspirado no princípio geral de RICARDO de que "os preços relativos são determinados pelo
tempo de trabalho incorporado ao produto" MARX foi além em sua teoria do valor-trabalho, na medida
que distinguiu trabalho abstraio, trabalho socialmente necessário, destinado à produção de mercadorias
- e que produz valor – do trabalho concreto, particular, que produz valor de uso. A ausência desta
distinção impediu que Ricardo compreendesse a função do dinheiro - retribuição do trabalho abstraio, e
o considerasse "um simples expediente para o processo de circulação"; assim reafirma a Lei de SAY ( o
necessário equilíbrio entre oferta e procura no plano social (...)". Outra conseqüência é a conclusão
equivocada de que a quantidade de dinheiro em circulação é que determinaria o nível de preços.
Diferentemente para MARX, o nível de preços é que determinaria a quantidade de dinheiro em
circulação...

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Thomas Malthus
MALTHUS impressionou-se com notícias de que na América a população dobrava a cada 25 anos. E a
partir daí formulou uma teoria econômica com base no crescimento da população, que dar-se- ia em
proporção geométrica - 2, 4, 8, 16, 32....- o que contrastaria com a capacidade de crescimento da
produção de alimentos, (rígida devido à impossibilidade de aumentar infinitamente a área cultivável)
que cresceria em proporção aritmética - 1, 2, 3, 4, 5 - tornando a perspectiva da escassez uma questão
premente. Tais idéias, simplistas na medida que não levavam em conta a possibilidade de melhorar a
produção através de tecnologia, tiveram grande influência, inclusive no sentido de inibir as políticas
assistencialistas à pobreza ( fatores de controle da população seriam a fome, a doença, a guerra) e a
ação dos sindicatos: afinal, melhorando o salário dos trabalhadores eles tenderiam a ter mais filhos o
que redundaria em aumento da população...
Cabe registrar que, embora Malthus tenha revisto suas idéias iniciais, há registro de escolas de
pensamento neomalthusianas nos dias atuais, de onde derivam conceitos como da explosão
demográfica nos países pobres. Na realidade as taxas de crescimento têm sido inferiores às previsões
catastróficas, e o aumento do PIB dos países pobres tem sido acompanhado de diminuição das taxas
de crescimento populacional.

Observações:
A idéia dos mecanismos de mercado, também chamados de 'livre iniciativa', em ambiente de
'livre concorrência' ou 'capitalismo concorrencial com base na propriedade privada', nunca mais
foram abandonados pêlos economistas, seja para defendê-los, seja para atacá-los. De forma que
conhecemos hoje economias de mercado, onde entrega-se à mão invisível a tarefa de
racionalizar a economia; as economias de direção central, onde, ao contrário, atribui-se ao
governo a tarefa de regular a economia; e os sistemas de economia mista, "na qual as
instituições, públicas e privadas, exercem, simultaneamente, o controle econômico"; as primeiras
através da livre iniciativa e livre contratação, e as segundas através de normas reguladoras da
atuação de produtores e consumidores, políticas monetárias e fiscais.

MERCADO DE TRABALHO

A palavra mercado pressupõe contratos de compra e venda, implica troca, permuta, transferência da
titularidade de bens e direitos. O objeto dessas transações seriam bens/mercadorias, que circulariam
entre aqueles com capacidade de negociar.
Poderíamos considerar a força de trabalho como uma mercadoria, livremente transacionável no
mercado, a constituir o mercado de trabalho? Não resta dúvidas de que o escravo era objeto de
contratos de compra e venda, e, portanto assemelhava-se a mercadoria. Porém nos regimes que
aboliram as formas de escravidão e servidão, por incompatíveis com a dignidade humana, torna-se
impróprio tratar a força de trabalho como mercadoria, na medida que, diferentemente das outras
espécies de mercadorias, ela não se desprende de seu titular, o próprio homem. Neste caso, comprar
ou alugar a força de trabalho, ou a mão-de-obra, equivaleria a transacionar com o próprio sujeito.
No entanto, à parte este discurso politicamente correto, o pensamento econômico que se desenvolveu
na sociedade industrial, considera, para fins de dedução das leis da economia, a força de trabalho
como mercadoria, cujo preço oscilaria segundo as leis de mercado, sujeito embora às peculiaridades
que veremos abaixo. Antes convém mencionar que, além de estudar o comportamento do trabalho
como fator de produção, estavam os economistas impressionados com o estado de miséria das classes
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
trabalhadoras, e se indagavam se tal situação decorreria de inexoráveis leis 'naturais' e qual seria o
resultado da fixação de salários por motivos exteriores às leis de mercado.
À parte as divergências entre os economistas, todos entendiam que havia um referencial em torno do
qual o valor do salário gravitava, que seria a necessidade de a subsistência. Enunciada como a 'lei de
ferro dos salários' indicava uma tendência, nos regimes capitalistas, de redução dos salários a um nível
que somente garantisse a subsistência .
Observações históricas parecem desmentir essa tese: "num país bem dotado de tecnologia, capital e
recursos naturais, este salário de equilíbrio, determinado pela concorrência pode ser até bastante
confortável Deste modo se chega a um princípio importante: se a concorrência no mercado de trabalho
fosse realmente perfeita, nos países avançados não se registraria necessariamente qualquer tendência
para os salários descerem ao nível de subsistência." SAMUELSON/NORDHAUS - p.772)

DETERMINAÇÃO DOS SALÁRIOS

É difícil fixar referenciais para descrever o funcionamento do mercado de trabalho. Por isto começamos
por examinar o crescimento no preço do trabalho (aumento de salário), em situação de concorrência
perfeita (ver....) Nesta situação tarefas iguais, e trabalhadores igualmente qualificados para executar
essas tarefas, levariam ao equilíbrio nos salários em algum ponto. Tal equilíbrio se manteria na medida
em que nenhum empregador estaria disposto a pagar mais a um determinado indivíduo, do que pagava
aos outros por serviço idêntico; da mesma forma nenhum empregado se disporia a trabalhar por menos
do que o salário de mercado. (Note-se que estamos nos referindo ao salário real, poder de compra do
salário, e não ao salário nominal, ou expresso em moeda.).
Este salário de equilíbrio para determinada categoria haverá de ser necessariamente próximo ao nível
de subsistência, como enunciava a "lei de ferro dos salários"? Já vimos que não: abundância de
recursos naturais, bom estoque de capital, e qualificação dos trabalhadores, podem empurrar para cima
o nível de
equilíbrio dos salários. Mas, neste caso, por que as populações dos locais onde o salário é mais
baixo não migrariam para aquelas economias pujantes , onde obteriam melhores salários? A
resposta é que de fato aparece o movimento migratório e se faz neste sentido, como se observa nos
EUA, e o aumento da oferta de mão-de-obra levaria ao rebaixamento do valor dos salários, em
segmentos concorrenciais (ver abaixo). São as políticas de controle da imigração que interviriam neste
fluxo.
Se falamos em políticas de controle da oferta de mão-de-obra (restrições ao fluxo migratório), saímos
do ambiente de concorrência perfeita; o mercado de trabalho sempre foi dos mais afetados por
externalidades (fatores externos que perturbam as condições de concorrência perfeita). Mas 'sempre
que há uma limitação da oferta de trabalho (enquanto os demais fatores produtivos mantêm-se
constantes), haverá tendência ao aumento de salários.
(Há outras externalidades que influem no mercado de trabalho; discriminação por motivos de raça, de
sexo, de idade, avanços tecnológicos, migração, fatores climáticos etc). Mas, mantida constante a
população, os seguintes fatores influem sobre a oferta de trabalho:
a) a população total;
b) a parcela da população que faz parte da População Economicamente Ativa (PEA);
c) a duração do trabalho (i.é., o número de horas trabalhadas, numa unidade de tempo);
d) a produtividade dos trabalhadores (quantidade e qualidade do trabalho executado).
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi

(com base em SAMUELSON/NORDHAUS, p. 763)


Relativamente ao item a), devemos observar que a participação das mulheres na PEA aumentou
espetacularmente nas últimas décadas (em meadas dos anos 60, 40%; em meados da década de 80,
53%, nos EUA, mas o fenômeno tem características universais). (É claro que não devemos procurar a
causa desta expansão nas leis econômicas, mas em fatores sociais - mudança do papel social da
mulher)
Da maior importância é o estudo do efeito do aumento dos salários na oferta de trabalho. A princípio a
conclusão - lógica, de que um aumento dos salários levaria ao aumento dos itens b) e c) acima, não se
confirma inteiramente, dado à opção renda/lazer, que o trabalhador deve fazer. Pode ser que o
aumento do salário/hora o leve a trabalhar mais horas ( o tempo de ociosidade tornar-se-ia
relativamente mais caro: "quanto estou deixando de ganhar, quando me recuso a fazer horas-extras ou
a trabalhar no fim-de-semana ?"). Mas pode acontecer também que salários mais altos provoquem
recuo na oferta de trabalho; primeiro porque, na medida que um dos cônjuges ganha mais, o outro pode
abandonar o próprio posto de trabalho, para dedicar-se à família, por exemplo; e, também porque o
próprio indivíduo ganhando mais se autorize a desfrutar mais, querer mais tempo livre, no fim-de-
semana e nas férias, antecipar a aposentadoria etc. Para concluir: se o aumento de salário provoca
aumento da oferta de trabalho (mais trabalho) temos o efeito substituição, já quando esta elevação de
salários implica diminuição da disponibilidade temos o efeito rendimento.
O mercado de trabalho apresenta outros aspectos determinantes dos salários que devem ser
consideradas Há tarefas que são mais penosas que outras; e há tarefas que são particularmente
atraentes ou cômodas para as pessoas. Os trabalhos que envolvem insalubridade, periculosidade,
penosidade, o trabalho noturno tendem a ser melhor remunerados para compensar o desconforto são
os diferenciais de compensação. (Como exemplo temos o trabalho nas minas, em exploração de
petróleo, em usinas nucleares...) Do outro lado, os trabalhos "agradáveis" como os de escritório,
apresentam níveis salariais mais baixos.
Outras diferenças podem ser observadas a partir do próprio trabalhador. Há pessoas que investiram
tempo e dinheiro em sua formação profissional. A formação de médicos, advogados, engenheiros é um
processo demorado e caro, representa investimento em capital humano, e a remuneração destes
profissionais em parte representa salário e em parte rendimento deste capital ("capital humano é
conceito que designa o estoque de conhecimento útil e valioso obtido através de processo de educação
e formação") (SAMUELSON/NORDHAUS - p.768) Além destes profissionais que ocupam nichos melhor
remunerados o mercado, há que considerar as situações excepcionais de pessoas que, devido a suas
qualificações raras atletas excepcionais, artistas, professores, enfim muitas atividades vêem surgir
esses profissionais raros - atingem tão grande valor no mercado, que suas remunerações são tidas
como "renda econômica pura'.
Também há que considerar os grupos não concorrentes no mercado de trabalho; trata-se de constatar
que muitas atividades não são intercambiáveis entre os diversos trabalhadores; isto é, se há demanda
por cozinheiros, músicos não servem para atender a esta demanda; músicos e cozinheiros são grupos
não concorrentes no mercado de trabalho. É intuitivo que quanto mais especializado é o trabalho
menos concorrência há entre grupos diversos; e quanto menos especializado, maior a concorrência.
O fato de ser o mercado de trabalho bastante segmentado - existência de diferenças entre os
trabalhadores, mais ou menos preparados; existência de diferenciais compensatórios; existência de
grupos não concorrentes etc. - não é bastante para explicar a situação desfavorável de alguns
segmentos - mulheres,

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
negros e outras etnias - com menores salários e taxas mais altas de desemprego, no mercado de
trabalho. Neste caso, constata-se discriminação que pode ser assim conceituada:
"...quando a diferença de remunerações resulta simplesmente de uma característica
pessoal irrelevante, como, por exemplo, a raça, o sexo ou a religião, chamamos-lhe
discriminação." (SAMUELSON/NORDHAUS - p. 773)

CURVA DA OFERTA DE TRABALHO

Levando em conta as variáveis acima apontadas, se desenhamos a curva da oferta de trabalho ( no


eixo das ordenadas - vertical ou Y), o valor dos salários; nas abscissas (horizontal, ou X), a quantidade
de trabalho (na unidade de tempo), verificamos que o aumento do salário a partir de um certo ponto
provoca uma flexão para trás da curva da oferta! Isto é, à medida que o salário sobe, há propensão a
trabalhar mais horas ( a curva se projeta para a direita em resposta ao efeito substituição) até um ponto
em que um aumento ainda maior dos salários leva à diminuição das horas trabalhadas - a curva da
oferta flete para trás, indicando que o 'efeito rendimento' prevalece sobre o 'efeito substituição'.

KEYNES E O DESEMPREGO

Diferentemente dos economistas clássicos, que acreditavam tender a economia para o pleno emprego,
e de MARX, que estudou o desemprego em função do capital, concluindo que o 'exército natural de
reserva' (população desempregada) fazia parte da estratégia de apropriação da mais valia ( principal
fonte de acumulação do capital, KEYNES estudou o desemprego em função da oferta, da propensão a
consumir, e do volume de investimento, concluindo que o a economia podia atingir equilíbrio entre
oferta/procura num alto nível de desemprego.
De fato, tendo publicado sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro - General Theory of
Employment, Interest and Money - na década de 30, quando a grande depressão e, o desemprego em
grande escala assustava o mundo industrializado, KEYNES ofereceu nova descrição do funcionamento
da economia, com base nas seguintes proposições:
1a) "Desemprego em uma economia de mercado - ...uma economia de mercado poderia não ter
forças vigorosas que a movimentassem em direção ao pleno emprego; na verdade poderia
alcançar equilíbrio com desemprego em grande escala.
2a) A causa do desemprego. - Keynes argumentava que o desemprego em grande escala é o
resultado de gastos excessivamente baixos em bens e serviços. Em outras palavras,
desemprego reflete uma insuficiência de demanda agregada.
3°) A cura para o desemprego - Para curar o desemprego a demanda agregada deveria ser
aumentada. A melhor maneira de fazer isto, argumentava Keynes, é pelo aumento de gastos
governamentais.
(WONACOTT & WONACOTT - p. 106)

A demanda agregada seria uma combinação de:

a) gastos em consumo pessoal;


b) demanda por investimentos;
c) gastos governamentais em bens e serviços;
d) exportações líquidas) (WONACOTT - p. 108)

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
A insuficiência da demanda agregada é fruto de um círculo vicioso; empresários fecham suas fábricas,
porque não conseguem vender de maneira a garantir lucros; empregados são despedidos; diminui a
propensão a consumir; o que se reflete em fechamento de mais fábricas, redução da produção, mais
desemprego. As pessoas preferem poupar a consumir, assustadas com a crise. Ora, um aumento
induzido da demanda - aumento dos gastos governamentais, por exemplo – permitiria que as fábricas
voltassem a utilizar equipamentos ociosos, e a contratar empregados. Este aquecimento da economia
não geraria aumento de preços, já que significaria aproveitamento da capacidade ociosa. O aumento da
produção geraria aumento no Produto Interno , e permitiria mais investimentos, passando agora a um
círculo virtuoso. À medida que a economia fosse se aproximando .da sua capacidade, o nível de
desemprego diminuiria. O aumento de preços só viria quando a demanda fosse maior que a capacidade
de produção. Neste momento aumentos na demanda causariam inflação.
A teoria de KEYNES teve enorme aceitação e serviu de orientação a governos às voltas com o
problema do desemprego. Trata-se de análise macroeconômica - "que trata o comportamento global da
economia, o produto, o rendimento, os preços e o desemprego. (A microeconomia aborda os
comportamentos individuais dos elementos econômicos - como a determinação do preço de um produto
ou o comportamento de um único consumidor ou de uma única empresa). (SAMUELSON/NORDHAUS
- p. 1127)

TIPOS DE DESEMPREGO
Sabemos que as taxas de desemprego só refletem aquela parcela da população economicamente ativa
em situação involuntária de desemprego. Isto é, para que uma pessoa seja considerada desempregada
é necessário que ela tenha procurado emprego num lapso de tempo imediatamente anterior à pesquisa.
Por isto que a teoria de Keynes pode explicar uma situação paradoxal frente às teorias anteriores: como
podia haver ao mesmo tempo postos de trabalho vagos e pessoas em situação de desemprego
involuntário? Vimos que para as teorias clássicas os salários se deslocariam para baixo na curva de
oferta, até que fosse atingida a situação de equilíbrio. Há motivos para que isto não ocorra, além dos já
examinados (diversidade do mercado, com segmentos não-concorrenciais, aumento da PEA em
relação à população total; efeito rendimento e efeito substituição etc.) e um deles é a rigidez dos
salários.
Ressalvado o fato de que a ciência econômica não conseguiu ainda responder à indagação; "por que
os salários não diminuem quando há postos de trabalho vagos?" algumas 'fontes de rigidez' dos
salários podem ser apontadas. Salários são fruto de difíceis acordos individuais ou coletivos entre
patrões e empregados e, muitas vezes, fixados em convenções ou acordos coletivos, com a
intermediação, portanto dos sindicatos representantes das categorias profissionais (empregados) e
econômicas (empregadores). Por outro lado há níveis salariais fixados em lei - salário mínimo, salário
mínimo profissional, além de outras medidas que impedem redução salarial). Daí que as atividades
onde há uma organização sindical forte impede, para o bem e para o mal, ajuste automático, ao sabor
das leis do mercado. (Também as políticas governamentais, que restringem o fluxo migratório,
representaria intervenção nos mecanismos de ajuste automático).
Outra variável que escapa às leis da economia, é o fato de certos segmentos sociais, mulheres, negros,
jovens, apresentarem taxas de desemprego mais altas (e níveis de remuneração mais baixos) que os
demais. Neste caso há discriminação racial, sexual ou de outro tipo. Dizemos que há discriminação,
quando um determinado segmento social encontra-se em desvantagem no mercado de trabalho, devido
a uma característica pessoal irrelevante em termos de produtividade, que pode ser a raça, o sexo, a
religião etc.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
DESEMPREGO FRICCIONAI, ESTRUTURAL e CÍCLICO

Quando se indaga aos desempregados por que estão nesta situação, as respostas podem ser
diferentes. Daí identificar-se tipos de desemprego que são:

 Desemprego friccionai: quando o desempregado abandonou um emprego, em busca de outro


melhor, ou porque mudou de cidade, ou porque quer se dedicar mais aos filhos - isto é, quando de
alguma forma há uma voluntariedade na situação, diz-se que tal desemprego é friccionai. Também
chamado de desemprego normal, "ocorre por desajuste ou falta de mobilidade entre a oferta e a
procura", isto é, há empregados buscando postos de trabalho e empregadores procurando por
empregados, mas eles levam um tempo a se encontrar. ("Em certas atividades como a agricultura e
a hotelaria pode ocorrer o desemprego sazonal, limitado a certas épocas do ano, devido aos ciclos
naturais e previsíveis).
 Desemprego estrutural: o dinamismo da economia leva ao esgotamento de atividades econômicas
- lembramos as fábricas de velas, quando desenvolvida a lâmpada elétrica - e surgimento de outras;
é preciso um tempo para que a mão-de-obra deslocada das atividades em declínio se encaminhe
para aquelas em ascensão; o desemprego causado por este desajuste é chamado estrutural.
O desemprego estrutural é às vezes chamado desemprego tecnológico, por originar-se em
mudança de tecnologia de produção ou nos padrões de demanda dos consumidores (tornando
obsoletas certas profissões e fazendo surgir outras). Grande número de trabalhadores pode ficar
desempregado a curto prazo, enquanto uma minoria especializada é beneficiada pela valorização de
sua mão-de-obra.
 Desemprego cíclico: diferentemente do desemprego estrutural que se localiza em algumas
atividades, ou em algumas regiões, o desemprego cíclico atinge a economia como um todo. Ocorre
nos períodos de recessão, e é tão mais grave, quanto mais extenso. "O desemprego cíclico revela-
se quando o equilíbrio global do mercado de trabalho revela desaproveitamento da mão-de-obra."
(SAMUESLSON/NORDHAUS - p. 261).

TAXA NATURAL DE DESEMPREGO


Compreendemos que uma economia encontra-se equilibrada quando o mercado de trabalho e o
mercado dos produtos atingiram um ponto em que não há tendência para aumento de preços ou de
salários. Ou seja, se a taxa de inflação e a taxa de desemprego apresentam-se estáveis, sem oscilar
para mais ou para menos dizemos que a economia está em equilíbrio. A taxa de desemprego verificada
neste cenário é a taxa natural de desemprego. Ensinam os economistas:
"Numa economia moderna, preocupada em evitar taxas de inflação elevadas, a taxa
natural de desemprego é a taxa mais baixa que pode ser mantida, representando, assim, o nível
mais elevado de emprego possível de sustentar e correspondendo ao nível de produto potencial
de uma nação." (SAMUELSON /NORDHAUS - p. 263)
Seria desejável que a taxa natural de desemprego fosse igual a zero, ou próxima disto. Mas é quase
impossível que isto aconteça. Nas economias modernas, de grande dinamismo, haverá sempre uma
taxa de desemprego friccionai (pessoas que acabam de atingir idade para entrar no mercado de
trabalho e estão à procura do primeiro emprego; ou querem trocar de emprego; que corresponde a 2%
ou 3% da PEA, a que se deve acrescentar o desemprego estrutural, pessoas que acabam de perder o
emprego e estão aguardando outra oportunidade. Números válidos para os EUA, onde , mesmo em
situação de pleno emprego, 3 ou 4% da população encontrar-se-ia desempregada.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Repetimos, nem para KEYNES, que definia o pleno emprego, como o ponto no qual a demanda
agregada não pode mais provocar aumentos de empregos e da produção, nem para BEVERIDGE que
definiu o pleno emprego com "situação na qual há mais postos de trabalho vagos que pessoas
desempregadas, os salários são justos, e os desempregados podem conseguir emprego com
facilidade" o pleno emprego significava taxa de desemprego igual a zero. Para KEYNES, había una
distinción crucial entre el desempleo voluntário y el involuntário, y su concepcíón dei pleno empleo
apuntaba a Ia eliminación dei involuntário." ( In El empleo en el mundo 1996/7 - Revista da OIT, p. 15)
É claro que é interesse dos países manter baixas taxas de desemprego natural, e quando ela se
encontra elevada, - e tem havido uma tendência neste sentido - algumas medidas podem ser tomadas:
⇒ "Melhorar os serviços de informação do mercado de trabalho", de modo a promover
encontros' entre os que procuram empregos e os postos de trabalho disponíveis.
⇒ "Cursos de qualificação profissional"
⇒ "Criação de empregos no setor público"
⇒ Diminuição dos 'custos' do empregado, para o empregador; isto é,
diminuição dos encargos sociais incidentes sobre as folhas de pagamento. (Com base em
SAMUELSON/NORHAUS - p. 267)

Relativamente ao último item, convém frisar que as medidas de liberalização, flexibilização,


desregulação do mercado de trabalho não têm sido acompanhadas de pronta repercussão nas taxas de
desemprego. (Haja vista experiência espanhola e argentina de criação de contratos temporários de
trabalho, revogadas pelo efeitos indesejáveis que produziu, (restrição dos créditos ao trabalhador;
aumento da litigiosidade trabalhista, com sobrecarga do Judiciário) sem atingir as metas propostas.
Já a criação de postos de trabalho pelo governo, sobretudo direcionado aos segmentos mais afetados
pelo desemprego - jovens, negros, mulheres - tem sido sugerida, mas concorrendo com as medidas de
'enxugamento' do setor público, que aconselham o contrário.
Na verdade, acreditam muitos economistas que estas medidas têm baixíssima repercussão nos índices
de desemprego. Parece que só o crescimento da economia pode gerar mais empregos.

MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL


O mercado de trabalho, no Brasil, apresenta peculiaridades, como de resto as apresentam os países
periféricos (em relação ao Primeiro Mundo, ou países de industrialização avançada). A princípio
observa-se uma grande heterogeneidade, seja distribuição da população pêlos setores primário -
agricultura, secundário - indústria; e terciário - serviços, seja em termos de determinação dos salários
(grande diferença entre o mínimo e os maiores salários), seja em relação à proteção legal, que atinge
os alceados nos setores mais modernos e urbanos, mas deixa ao desabrigo bóias-frias, biscateiros, e
uma grande quantidade de hipossuficientes, tidos como autônomos, eventuais, ou desempregados.
Ultimamente as taxas de desemprego mudaram de patamar, passando de históricos 5%, ou menos,
para mais de 8%. (Ver metodologia da pesquisa em outra seção). De qualquer forma o deslocamento
da PEA do setor primário para o secundário e deste para o terciário é uma realidade. Por outro lado a
exposição à globalização - abertura dos mercados, e o esforço concomitante para controlar a inflação,
além do salto tecnológicos que leva ao aumento da produtividade, com diminuição dos postos de
trabalho, têm afetado duramente os países em desenvolvimento. Na próxima seção conheceremos
melhor deste mercado.
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi

MERCADO DE TRABALHO FORMAL E INFORMAL


O modo de produção na sociedade industrial deslocou o peso da produção do setor primário -
agricultura, para o setor secundário - indústria; (num terceiro momento houve expressivo crescimento
do setor terciário - de serviços).
A expansão do setor secundário foi acompanhada de acelerado processo de migração dos campos
para a cidade, e, nas épocas de pleno emprego, grande parte da população economicamente ativa -
PEA, estava empregada no setor secundário da economia.
Sabemos que à medida que as economias se expandiam, inclusive para além-fronteiras, como se deu
na intensificação da colonização, e aumentava a concorrência, os Estados trataram de intervir nas
relações de produção através de legislação, que diminuíam as tensões sociais, garantindo um mínimo
de direitos aos trabalhadores empregados, e providenciando sistemas previdenciários para os casos de
desemprego, velhice, aposentadoria e doença, por um lado, e diminuindo o ímpeto do sindicalismo, por
outro.
Políticos e empresários cedo perceberam as vantagens de mensurar as variáveis envolvidas na
produção - número de empregados, de desempregados, distribuição por faixa etária, e por sexo das
postos de trabalho, valor dos salários nas diversas atividades, jornada de trabalho, incidência de
acidentes, quantidade de matéria-prima, energia consumida, maquinário, mercadorias produzidas etc –
até para melhor desenvolver políticas de planejamento.
Ora, nos estados europeus pioneiramente industrializados, relatórios feitos por encomenda do governo
ou dos empresários, e até de estudiosos passaram a gerar quantitativos e séries estatísticas que
sugeriam um painel confiável do mundo do trabalho. Tais procedimentos resultaram numa metodologia
de pesquisa, levada a efeitos ora pelo Estado, ora por agentes econômicos, com diferentes propósitos.
No entanto a simples transposição desta metodologia para os países periféricos, ou de industrialização
tardia, como o Brasil, não surtiu os mesmos efeitos: é que a simples contraposição
empregados/desempregados, por exemplo, numa pesquisa de desemprego, esbarrava na
heterogeneidade do mercado de trabalho brasileiro, que apresentava - e apresenta - formas de inserção
no mercado de trabalho que nem permitem caracterizar o indivíduo como empregado, nem como
desempregado. O biscateiro, por exemplo, não é empregado, na medida que não tem vínculo com
nenhum empregador, geralmente não está matriculado na Previdência, e nem recolhe impostos; mas
também gera alguma renda, o que impede de considerá-lo simplesmente desempregado (categoria que
supõe não ter o trabalhador percebido nenhuma renda num certo intervalo de tempo definido pela
pesquisa).

O fato de haver nas economias dos países subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento, como se tem
dito, sem nenhum rigor conceituai), uma clivagem entre setor moderno, (o setor industrial, com
sistemas organizacionais semelhantes àqueles dos países desenvolvidos) ao lado de um setor
tradicional (onde se encontram os empregados rurais e domésticos, por exemplo), não é suficiente
para descrever todas as formas de trabalho e apropriação da mão-de-obra há o trabalho familiar, os
bóias-frias, os subempregados, os autônomos, cuja empresa se resume à própria força de trabalho,
alugada aqui e acolá etc. que levou os teóricos a experimentar outra abordagem e falar em "mercado
formal" e "mercado informal" de trabalho.

O mercado formal compreende o setor moderno, é claro, onde há perfeito controle estatístico, e
conformidade às normas jurídicas - registro dos empregados, quando da admissão e da dispensa,
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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
recolhimento de contribuições previdenciárias e tributárias, obediência às normas administrativas
relativas às condições de trabalho etc. -, sendo possível ao Estado mensurar corretamente os
indicadores sociais e econômicos ali alojados, (No setor tradicional, não há uma adesão pronta à esses
padrões e o controle sempre foi mais precário).
Já o mercado informal - "que é como uma girafa, difícil de descrever, mas fácil de reconhecer",
conforme um economista citado por CACCIAMALI - reflete a "heterogeneidade do mercado de trabalho
como resultado de um crescimento das atividades modernas inferior ao crescimento da disponibilidade
de trabalho" situação agravada nos ano 80/90, pela "expulsão dos trabalhadores formais (desemprego)
para a situação de informalidade, com uma passagem pela situação de desemprego aberto".
(DEDECCA-11)

Em termos teóricos se observa que no "estabelecimento informal não há separação entre capital e
trabalho."( CACCIAMALI - 89) A mesma autora esclarece: no setor informal, "o produtor direto é
proprietário dos instrumentos de trabalho e/ou estoque de bens para a realização e se insere na
produção sob a forma simultânea de patrão e empregado; emprega a si mesmo e pode lançar mão de
trabalho familiar ou de ajudantes como extensão de seu próprio trabalho; obrigatoriamente participa
diretamente da produção (de bens ou serviços) e conjuga esta atividade com aquela de gestão."
A autora faz ainda distinção entre setor informal e economia submersa como se vê no seguinte quadro:

Relações de Produções Economia registrada Economia submersa

Setor formal Assalariados registrados Assalariados não-registrados


funcionários públicos Setor informal Pequenos produtores; mão-de-
Pequenos produtores; mão-de-

obra familiar e ajudantes; trabalho obra familiar e ajudantes;


por conta própria e ajudantes; trabalho por conta
própria e
serviços domésticos, ajudantes; serviço
doméstico
(Registrado) (Não-registrado)

Obs. A economia submersa, caracterizada pelo não-registro de suas atividades, isto é, escapa ao
poder fiscal do Estado, abriga o trabalho informal, mas este último aparece também no setor registrado.
É importante frisar que a existência de um setor informal, que já responde por metade da PEA, se, por
um lado, contribui para o dinamismo da economia, por outro lado significa perda de receita fiscal pelo
Estado, e aumento das despesas, haja vista a seguridade social prestar amparo a contribuintes e não-
contribuintes. Ver art.194.CF/88.

 A INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL; POLÍTICA SALARIAL E POLÍTICA DE


EMPREGO

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
As democracias liberais romperam enfraquecidas o séc. XX: haja vista a IGuerra Mundial, as
experiências totalitárias à esquerda (Revolução Russa de 1917) e à direita (fascismo e nazismo na
Europa) e, além das crises políticas a crise econômica da década de 30, a recessão levando desespero
e desemprego a lares burgueses e operários.

A resposta ao esgotamento do modelo liberal e à incapacidade do mercado de distribuir renda e aplacar


reivindicações das massas politizadas foi o modelo de Estado conhecido por Estado do Bem-Estar,
Estado Providência, ou Estado Social. Nesta nova ordem o Estado assume papel ativo - políticas
keynesianas - e usa instrumentos como a política fiscal, política monetária, política de rendimentos,
para intervir no mercado e atingir alguns objetivos.

Sob este enfoque o salário não é deixado a flutuar no mercado, como uma mercadoria qualquer, mas
são fixados patamares mínimos, por lei. Também as jornadas, o trabalho extraordinário, o trabalho
noturno, as férias, o repouso semanal sofrem regulamentação. A cessação do contrato de trabalho se
reveste de obstáculos, e gera direitos de indenização. Há ainda direitos previdenciários ligados ao
contrato de trabalho.
Na verdade a maioria dos países se preocupou em estender esta rede de proteção ao trabalhador, mas
com algumas variantes. Enquanto nos países industrializados, com sindicatos fortes, coube a estes
importante papel na fixação das condições de trabalho, através dos instrumentos de acordo e
convenção coletiva, países houve que preferiram a intervenção direta do Estado, através do Poder
Legislativo (leis), Poder Executivo (regulamentos, portarias, instruções normativas, etc. e órgãos de
fiscalização) e Poder Judiciário ( poder normativo da Justiça do Trabalho).
O Brasil é exemplo deste último modelo, que prevaleceu desde a década de 30, reforçado com a CLT,
na década de 40. Lembramos que a CLT foi recepcionada pelas Constituições que se lhe seguiram
(1946; 1967; EC 1969; 1988). No entanto, sob impacto da globalização, e do salto tecnológico que
mudou o mundo do trabalho da década de 70 para cá, a última constituição introduziu o princípio de
flexibilização dos direitos do trabalho, através de negociação coletiva. (CF, art. 7°, inc. VI, XIII e XIV).

Pode-se afirmar que as relações coletivas de trabalho voltam a merecer grande importância, a
negociação coletiva passa a ser o instrumento privilegiado de composição dos conflitos - art. 114 § 1°,
Instrução Normativa n° 4 do TST, e os dissídios coletivos (§ 2°, só se frustrar a negociação coletiva).
Também a "relação de emprego protegida contra despedida arbitrária, ou sem justa causa" de que fala
o inc. l, do art. 7°, da CF, é entendida como de caráter político. Isto é, cabe ao governo tomar medidas
políticas que visem ao crescimento econômico e desta maneira movimentem a economia em direção ao
pleno emprego. Aí se compreendem também medidas como o seguro-desemprego, os programas de
qualificação da mão-de-obra, e outras medidas de caráter previdenciário.

MODELOS TRADICIONAIS SOBRE O PAPEL DOS SINDICATOS

Quando se fala em papel e modelo dos sindicatos, o que se tem em vista é a alternativa de concentrar
as reivindicações nos interesses imediatos da classe trabalhadora (melhores salários, melhores
condições de trabalho) ou numa luta mais ampla que tenha por objetivo a participação da classe
trabalhadora no poder político.
No primeiro caso, temos um sindicato de resultados, que restringe sua atuação ao âmbito das relações
de trabalho, e cujos protagonistas são empregados e empregadores, considerados como agentes
econômicos. No segundo caso há uma atuação ideológica, o plano de ação ultrapassas os portões da

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
fábrica e se estende à arena política; as reivindicações são estendidas ao Estado e empregados e
empregadores são vistos como agentes políticos.
Pode-se apontar ainda o sindicato corporativista, existente nos regimes totalitários, onde a luta de
classes é negada, submetidos que são os interesses de classe ao interesse maior da nação. O
sindicato assistencialista, que presta serviços de natureza previdenciária e social, encontra aqui seu
espaço mais completo de atuação, embora este papel seja assumido pêlos sindicatos, qualquer que
seja sua orientação ideológica.
Da tensão entre sindicato e empresas surgiram algumas formas de kita que devem ser lembradas, tais
eram as estratégias adotadas pelas empresas para enfraquecer os sindicatos, ou pêlos sindicatos para
aumentar o poder de controle sobre a contratação de trabalhadores pelas empresas. Vejamos "as
principais armas utilizadas pêlos patrões na sua luta contra os sindicatos", nos EUA:
⇒ "despedimento discriminatório dos trabalhadores sindicalizados
⇒ a lista negra (continha nomes dos líderes sindicais que não deviam ser contratados)
⇒ lock out
⇒ a cláusula prévia pela qual o empregado se comprometia a não aderir a nenhum sindicato (yellow
dog contracts)
⇒ espionagem dos trabalhadores
⇒ guardas armados e indivíduos contratados para furar greves;
⇒ conspiração dos comerciantes, da polícia e juizes contra os organizadores de greves
⇒ os sindicatos de empresas
⇒ os mandatos judiciais" (SAMUELSON/NORDHAUS- 73, p. 786).

Também os sindicatos desenvolvem estratégias para aumentar seu poder depressão junto às
empresas. Sem dúvida o controle da admissão dos empregados é ponto fundamental. Daí as cláusulas
closed shop que impõem a uma empresa a contratação apenas dos trabalhadores filiados a
determinado sindicato.

MONOPÓLIO BILATERAL E MONOPSÔNIO

Nas economias industrializadas e, sobretudo a partir do fordismo, empresas e sindicatos se tornaram


instituições poderosas, as vezes com milhares de empregados e filiados. Nestas situações há
verdadeiro cabo-de-guerra entre estes agentes políticos, estabelecendo-se monopólio bilateral, quando
as empresas detêm o monopólio do poder de contratar, de oferecer postos de trabalho; e o sindicato
detém o poder de fornecer a mão-de-obra necessária.
Já, em pequenas cidades ou regiões isoladas, pode acontecer de haver apenas uma empresa, onde
devem trabalhar todos que estão 'a procura de um emprego. São estas as situações de monopsônio,
onde só há um agente comprador. (Monopólio = vendedor único; monopsônio = comprador único).
Somente a aglutinação dos trabalhadores em um sindicato pode vir a restabelecer as condições de
normalidade na negociação de condições de trabalho e salário.

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Fiscal do Trabalho Telma Lage – Irineu Zibordi
Bibliografia:

SAMUELSON/NORDHAUS. Economia. 12a ed. Lisboa: McGraw Hill, 1990.

WONNACOTT & WONNACOTT. Introdução à Economia.

MARX , Karl. O capital. SP: Abril Cultural, 1983

HARVEY, David. A condição pós-moderna. SP: Loyola, 1992

ARENDT, Hannah. A condição humana. SP: Forense/Edusp, 1981

PIMENTA, Joaquim. Sociologia econômica e jurídica do trabalho. Rio: Freitas Bastos, 1957

ROMITA, Arion Sayão. Os direitos sociais na Constituição e outros estudos.


SP:LTr, 1991

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. SP : Saraiva, 1991

FRIEDMANN, Georges & NAVILLE, Pierre. Tratado de Sociologia do


Trabalho. SP: Cultrix, 1973.

GIROD, Roger & TOURAINE, Alan são autores de capítulos da obra acima
referenciada,

CACCIAMALI, Maria Cristina. Informalização recente no mercado de trabalho.


Relatório publicado pelo MinT: Secretaria de Emprego e Salário. Nov/89.

DEDECCA, Cláudio Salvatori. Metodologia e construção de indicadores de


desempenho de um mercado de trabalho heterogêneo. Texto apresentado no
seminário "Desafios para repensar o trabalho". Vol 5. Sessões 22 a 25 - Rio: IBGE, 1996.

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