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Introdução

Este livro, de Jean Piaget, renomado psicólogo e filósofo suíço e conhecido por seu
trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil, é composto de seus artigos e conferências.
Na primeira parte apresenta a síntese das descobertas de Piaget no campo da Psicologia da
criança, demonstrando como se verifica o seu desenvolvimento mental. Na segunda parte são
abordados problemas centrais do pensamento, da linguagem e da afetividade na criança, através
de numerosos exemplos e estudos de casos. É muito próprio para professores, psicólogos,
pedagogos e demais profissionais da área de educação.

Resenha
I. A primeira infância: de dois a sete anos
De acordo com Piaget, o aspecto afetivo e o intelectual são modificados com o
aparecimento da linguagem. A criança torna-se capaz de reconstituir suas ações passadas e
futuras pela representação verbal. Daí resultam três conseqüências essenciais para o
desenvolvimento mental:
1. Uma possível troca entre os indivíduos, ou seja, o início da socialização da ação,
2. Uma interiorização da palavra, isto é, a aparição do pensamento e,
3. Uma interiorização da ação que, antes era puramente perceptiva e motora, a partir
daí pode se reconstituir no plano intuitivo das imagens e das "experiências
mentais".
Estas conseqüências são seguidas por uma série de transformações paralelas,
desenvolvimento de sentimentos interindividuais, ou seja, afetivas (simpatias e antipatias,
respeito, etc.) e de uma afetividade interior organizando-se de maneira mais estável do que no
curso dos primeiros estágios.
No momento da aparição da linguagem, a criança se acha às voltas, não apenas com o
universo físico como antes, mas com dois mundos novos e intimamente solidários: o mundo
social e o das representações interiores.
Por isso, Piaget examina essas três modificações gerais da conduta (socialização,
pensamento e intuição), e depois suas repercussões afetivas.
A. A socialização da ação
Piaget diz que o lactente aprende pouco a pouco a imitar, sem que exista uma técnica
hereditária da imitação. Na seqüência:
1. Simples excitação – gestos análogos do outro, movimentos visíveis do corpo

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2. Imitação senso-motora – torna-se uma cópia cada vez mais precisa de movimentos
que lembram os movimentos conhecidos;
3. A criança reproduz os movimentos novos mais complexos (os modelos mais
difíceis são os que interessam as partes não visíveis do próprio corpo, como o
rosto e a cabeça).
A imitação de sons tem uma evolução semelhante. Quando os sons são associados a
ações determinadas, a imitação prolonga-se como aquisição da linguagem (palavras-frases
elementares, depois, substantivos e verbos diferenciados e, finalmente, frases propriamente
ditas).
Quanto às funções elementares da linguagem, Piaget diz que consistem em três
grandes categorias de fatos evidentes. São eles:
1. Fatores de subordinação e as relações de coação espiritual exercida pelo adulto
sobre a criança. Os exemplos vindos do alto (adultos) serão modelos que a criança
procurará copiar ou igualar, as ordens e avisos, o respeito do pequeno pelo grande.
2. Fatores de troca, com o adulto ou com outras crianças. Ajustam suas ações de
acordo com suas regras individuais, sem se ocuparem das regras do companheiro.
3. A criança não fala somente às outras, fala-se a si própria, sem cessar, em
monólogos variados que acompanham seus jogos e sua atividade. Estes
verdadeiros monólogos, como os coletivos, constituem mais de um terço da
linguagem espontânea entre crianças de três e quatro anos, diminuindo por volta
dos sete anos.
Em suma, o exame da linguagem espontânea entre crianças, como o do
comportamento dos pequenos nos jogos coletivos, mostra que as primeiras condutas sociais
permanecem ainda a meio caminho da verdadeira socialização. Em lugar de sair de seu próprio
ponto de vista para coordená-lo com o dos outros, o indivíduo permanece inconscientemente
centralizado em si mesmo.
B. A gênese do pensamento
O ponto de partida do pensamento, diz Piaget, surge sob a dupla influência da
linguagem e da socialização. A linguagem, permitindo ao sujeito contar suas ações passadas,
antecipar as ações futuras, e até substituí-las, sem nunca realizá-las. E, a socialização,
permitindo atos de pensamento que não pertencem exclusivamente ao eu que os concebe, mas,
sim, a um plano de comunicação que lhes multiplica a importância.
Piaget acrescenta que, durante as idades de dois a sete anos, encontram-se todas as
transições entre duas formas extremas de pensamento, ou seja, a primeira é a do pensamento
por incorporação ou assimilação puras, cujo egocentrismo exclui, por conseqüência, toda

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objetividade. A segunda é a do pensamento adaptado aos outros e ao real, que prepara, assim, o
pensamento lógico. Entre os dois se encontra a grande maioria dos atos do pensamento infantil
que oscila entre estas direções contrárias.
No nível da vida coletiva (de sete a doze anos), vê-se constituir nas crianças jogos
caracterizados por certas obrigações comuns, isto é, as regras do jogo. Entre duas crianças,
aparece uma forma diferente de jogo: é o jogo simbólico ou jogo de imaginação e imitação.
No outro extremo, encontra-se a forma de pensamento mais adaptada ao real que a
criança conhece, e que se pode chamar de pensamento intuitivo.
Entre estes dois tipos extremos se encontra uma forma de pensamento simplesmente
verbal, séria em oposição ao jogo, porém mais distante do real do que a própria intuição: é o
pensamento corrente da criança de dois a sete anos.
Em suma, a análise da maneira como a criança faz suas perguntas coloca em evidência
o caráter ainda egocêntrico de seu pensamento, neste novo campo da representação do mundo,
em oposição ao da organização do universo prático.
C. A intuição
A intuição é a lógica da primeira infância. A criança de quatro a sete anos não sabe
definir os conceitos que emprega e se limita a designar os objetos correspondentes ou a definir
pelo uso ("é para...") sob a dupla influência do finalismo e da dificuldade de justificação. A
criança desta idade não possui ainda um domínio verbal acentuado, como já o possui na ação e
manipulação.
Piaget distingue dois casos: o da inteligência propriamente prática e o do pensamento
tendendo ao conhecimento no campo experimental.
A "inteligência prática" que desempenha um importante papel entre dois e sete anos,
prolongando, de um lado, a inteligência senso-motora do período pré-verbal e preparando, de
outro lado, as noções técnicas que se desenvolverão até a idade adulta. A criança era muito mais
adiantada nas ações do que nas palavras.
Quanto ao pensamento tendendo ao conhecimento no campo experimental, Piaget
afirma até cerca de sete anos a criança permanece pré-lógica e suplementa a lógica pelo
mecanismo da intuição; é uma simples interiorização das percepções e dos movimentos sob a
forma de imagens representativas e de "experiências mentais".
Em suma, há equivalência enquanto existe correspondência visual ou ótica. Portanto, é
normal que o pensamento da criança comece por ser irreversível, e especialmente, quando ela
interioriza percepções e movimentos sob forma de experiências mentais, estes permanecem
pouco móveis e pouco reversíveis.

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A intuição primária é apenas, um esquema senso-motor transposto como ato do
pensamento, herdando-lhe, naturalmente, as características
A intuição articulada avança nesta direção. Enquanto que a intuição primária é apenas
uma ação global, a intuição articulada a ultrapassa na dupla direção de uma antecipação das
conseqüências desta ação e de uma reconstituição dos estados anteriores.
A intuição articulada é, portanto, suscetível de atingir um nível de equilíbrio mais
estável e mais móvel ao mesmo tempo, do que a ação senso-motora sozinha, residindo aí o
grande progresso do pensamento próprio deste estágio sobre a inteligência que precede a
linguagem.
D. A vida afetiva
As transformações da ação provenientes do início da socialização não têm importância
apenas para a inteligência e para o pensamento, mas repercutem também profundamente na
vida afetiva.
As três novidades afetivas essenciais são:
1. O desenvolvimento dos sentimentos interindividuais (afeições, simpatias e
antipatias)
2. A socialização das ações, a aparição de sentimentos morais intuitivos,
provenientes das relações entre adultos e crianças
3. As regularizações de interesses e valores, ligadas às do pensamento intuitivo em
geral.
Piaget considera o este terceiro aspecto como mais elementar. Diz ele: o interesse é a
orientação própria a todo ato de assimilação mental.
É assim que, durante a primeira infância, se notam interesses através das palavras, do
desenho, das imagens, dos ritmos, de certos exercícios físicos etc.
Aos interesses ou valores relativos à própria atividade, estão ligados de perto os
sentimentos de autovalorização: os famosos "sentimentos de inferioridade" ou de superioridade.
Em segundo lugar, diz ele, é a simpatia, que faz com que todos os valores das crianças
sejam moldados à imagem de seu pai e de sua mãe, ou aqueles que a criança julga como
superiores a si. Piaget concorda com Bovet que o respeito tem sua origem dos primeiros
sentimentos morais.
Por último, com respeito à moral, ele diz que a primeira moral da criança é a da
obediência e o primeiro critério do bem é durante muito tempo dependente de uma vontade
exterior, que é a dos seres respeitados ou dos pais.

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II. A Infância de Sete a Doze Anos
A segunda infância é marcada por uma modificação decisiva no desenvolvimento
mental. Observa-se o aparecimento de novas formas de organização quer seja da inteligência ou
da vida afetiva, das relações sociais ou da atividade individual.
A. Os progressos da conduta e da socialização
Depois dos sete anos, a criança torna-se capaz de cooperar porque não confunde mais
seu próprio ponto de vista com o dos outros. As discussões tornam-se possíveis. A linguagem
egocêntrica desaparece quase totalmente.
No comportamento coletivo, a criança segue regras, pensa antes de agir, reflete.
Libera-se de seu egocentrismo social e intelectual tanto para a inteligência (construção lógica)
quanto para a afetividade (cooperação e autonomia pessoal).
B. Os progressos do pensamento
Piaget explica que aparecem novas formas de explicação, na maioria das vezes,
procedentes das anteriores, embora corrigidas. Há novas noções de permanência, de
conservação, de velocidade e da construção do espaço.
C. As operações racionais
As intuições se transformam em operações. As ações tornam-se operatórias. Assim é
que a ação de reunir (adição lógica ou adição aritmética) é uma operação, podendo ser adição
(reunião) ou subtração (dissociação).
D. A afetividade, vontade e os sentimentos morais
A afetividade, nesta fase caracteriza-se pela aparição de novos sentimentos morais,
pela organização da vontade que leva a uma melhor integração do eu. O respeito mútuo conduz
a novas formas de sentimentos morais, diferentes da obediência exterior inicial que conduz a
uma organização nova dos valores morais.

III. A Adolescência
Piaget diz que a adolescência é a fase que separa a infância da idade adulta, ele a
chama de crise passageira e afirma que devido à maturação do instinto sexual a adolescência é
marcada por desequilíbrios momentâneos.
A. O pensamento e suas operações
O adolescente é um individuo que constrói sistemas e “teorias”. Piaget defende que é
por volta dos onze a doze anos que se efetua uma transformação fundamental no pensamento da

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criança. As operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta
para o das idéias expressas em linguagem qualquer, mas sem o apoio da percepção, da
experiência, nem mesmo da crença.
Uma das novidades essenciais que opõem a adolescência à infância, de acordo com
ele, é a livre atividade da reflexão espontânea.
O Adolescente demonstra um egocentrismo intelectual, se acha bastante forte para
reconstruir o Universo e suficientemente grande para incorporá-lo.
B. A afetividade da personalidade no mundo social dos adultos
A vida afetiva do adolescente afirma-se através de duas conquistas: da personalidade e
de sua inserção na sociedade adulta. A personalidade começa no fim da infância com a
organização autônoma das regras, dos valores e a afirmação da vontade, com a regularização e
hierarquização moral das tendências.
O adolescente, pela formação de sua personalidade, coloca-se em igualdade com os
mais velhos, mas sentindo-se outro, pela sua nova vida, tenta ultrapassá-los e espantá-los,
transformando o mundo.
No seu interior há uma oscilação entre sentimentos generosos, projetos altruístas e
fervor místico, inquietante megalomania e egocentrismo consciente.
Na vida religiosa, o adolescente faz como que um pacto com seu Deus e se engaja
para servi-lo sem recompensa, mas contando desempenhar, por isto mesmo, um papel decisivo
na causa que se propõe defender. (Ele precisa de ajuda para decidir pelo verdadeiro Deus).
Em geral, o adolescente pretende inserir-se na sociedade dos adultos por meio de
projetos, de programa de vida, de sistemas muitas vezes teóricos, de planos de reformas
políticas ou sociais.
A verdadeira adaptação a sociedade vai-se fazer automaticamente, quando o
adolescente, de reformador, transformar-se em realizador.

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