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Celeste Duque
4º CLE – 3º Ano – 1º Semestre– 2003-2004
Colectânea de “Trabalhos”
dos alunos do 4º CLE, no âmbito da disciplina de
PSICOLOGIA V
(organização da responsabilidade de Celeste Duque, com base nos ficheiros Word fornecidos pelos alunos)
Índice
GRAVIDEZ E Á LCOOL
Trabalho elaborado por: Andreia Ramos; Gabriela Borges; Martinho Costa; Vera Barbosa ..............................................................................1
I – I NT RODUÇÃO .............................................................................................................................................................................................................1
II – E NQUAD RAME NTO TEÓ RICO .................................................................................................................................................................................1
1 – A SPECTOS G E RAIS DO ÁLCOOL .........................................................................................................................................................................1
1.1. Efeitos orgânicos ..............................................................................................................................................................................................3
1.2. Efeitos psicológicos...........................................................................................................................................................................................3
1.3. Efeitos sociais...................................................................................................................................................................................................4
2 – A SPECTOS G E RAIS DA G RAVIDEZ .....................................................................................................................................................................5
2.1. Aspectos psicológicos da gravidez....................................................................................................................................................................5
3 – E FEITOS DO ÁLCOOL DU RA NTE A G RAVIDEZ .................................................................................................................................................6
3.1. Síndrome alcoólico fetal e distúrbios associados ...............................................................................................................................................8
4 – A SPECTOS P SICOLÓGICOS DA G RÁVIDA ALCOÓLICA ...................................................................................................................................10
IV – C O NCLUSÃO ..........................................................................................................................................................................................................11
V – BIBLIOG RAFIA .........................................................................................................................................................................................................12
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Trabalho realizado por: Alexandra Neves; Ana Pinheiro; Daniela Silva; Sara Guerreiro ...............................................................................16
1. I NT RODUÇÃO .............................................................................................................................................................................................................16
2. ABORDAGEM CONCEPTUAL DA G RA VIDEZ NA ADOLE SCÊ NCIA .......................................................................................................................16
2.1. DEFINIÇÃO DO C O NCEITO ADOLE SCÊ NCIA .................................................................................................................................................16
2.2. DEFINIÇÃO DO C O NCEITO DE G RAVIDEZ .....................................................................................................................................................16
2.3. G RAVIDEZ NA ADOLE SCÊ NCIA ......................................................................................................................................................................17
3. G RAVIDEZ NA ADOLE SCÊ NCIA: FACTO RE S P REDISPO NE NTE S .........................................................................................................................17
3.1. FACTO RE S BIOLÓGICOS ....................................................................................................................................................................................17
3.2. FACTORE S P SICOLÓGICOS ...............................................................................................................................................................................17
3.3. FACTORE S S OCIAIS ...........................................................................................................................................................................................18
4 – G RAVIDEZ: COMO CADEIA DE ACONTECIME NTO S E DECISÕE S ........................................................................................................................20
5 - P AI ADOLESCE NTE : HOME N S POSTO S À PA RTE .................................................................................................................................................21
6 - I NTE R VE NÇÃO DO E N FE RMEIR O , COM PAIS ADOLE SCE NTE S ..........................................................................................................................21
6. C O NCLUSÕE S .............................................................................................................................................................................................................22
7. BIBLIOG RAFIA ............................................................................................................................................................................................................22
GRAVIDEZ E DIABETES
Trabalho elaborado por: Helena Ribeiro; Isa Máximo; Mónica Carmo; Sofia Coito .........................................................................................23
I – I NT RODUÇÃO ...........................................................................................................................................................................................................23
II – E NQUAD RAME NTO T EÓ RICO ...............................................................................................................................................................................23
1. DIABETES M ELLITUS ...........................................................................................................................................................................................23
2. C LAS SIFICAÇÃO DA DIABETES N A G RAVIDEZ ................................................................................................................................................24
3. DIABETES P RÉ -G ESTACIONAL ...........................................................................................................................................................................25
3.1. Aconselhamento e planeamento da gravidez .................................................................................................................................................25
4. AVALIAÇÃO .........................................................................................................................................................................................................25
4.1. História da grávida.......................................................................................................................................................................................25
4.2. Exame físico ...................................................................................................................................................................................................26
4.3. Testes laboratoriais........................................................................................................................................................................................26
4.4. Vigilância fetal ...............................................................................................................................................................................................26
4.5. Determinação da data do parto .....................................................................................................................................................................26
4.6. Riscos e complicações......................................................................................................................................................................................26
4.6.1. Riscos e complicações maternas ..........................................................................................................................................................26
4.6.2. Riscos e complicações Fetais/Neonatais .......................................................................................................................................................27
4.7. Cuidados especiais ..........................................................................................................................................................................................27
4.7.1. Antes do parto ...................................................................................................................................................................................27
4.7.1.1. Dieta ...................................................................................................................................................................................27
4.7.1.2. Vigilância dos Níveis de Glicémia...................................................................................................................................28
4.7.1.3. Insulinoterapia ..................................................................................................................................................................28
4.7.1.4. Exercício Físico...................................................................................................................................................................28
4.7.1.5. Supervisão .........................................................................................................................................................................28
4.7.1.6. Hospitalização ...................................................................................................................................................................28
4.7.1.7. Complicações ....................................................................................................................................................................29
4.7. 2. Durante o parto ................................................................................................................................................................................29
4.7.3. Após o parto ......................................................................................................................................................................................29
5. DIABETES GE STACIO NAL ....................................................................................................................................................................................30
5.1. Avaliação............................................................................................................................................................................................................30
5.2. Factores de risco ................................................................................................................................................................................................30
5.3. Complicações..................................................................................................................................................................................................30
5.4. Tratamento ....................................................................................................................................................................................................31
5.5. Prevenção .......................................................................................................................................................................................................31
6. A SPECTOS P SICOLÓGICOS DA S GESTA NTE S COM DIABETES .........................................................................................................................32
UNIVERSIDADE DO ALGARVE – ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE FARO
Disciplina de: Psicologia V – 4º CLE – 3º Ano – 1º Semestre – 2003-2004
GRAVIDEZ E INFERTILIDADE
Trabalho elaborado por: Ana Rosa; Arminda Batista; Patrícia Coelho, Vera Silva ...........................................................................................42
I – I NT RODUÇÃO ...........................................................................................................................................................................................................42
II – E NQUAD RAME NTO T EÓ RICO ...............................................................................................................................................................................42
1 – I N FE RTILIDADE .................................................................................................................................................................................................42
1.1. Tipos de infertilidade ......................................................................................................................................................................................43
1.2. Factores de risco .............................................................................................................................................................................................43
1.3. Causas de infertilidade....................................................................................................................................................................................43
1.3.1. Infertilidade feminina ..........................................................................................................................................................................43
1.3.2. Infertilidade masculina ......................................................................................................................................................................44
1.3.3. Infertilidade de causa mista ................................................................................................................................................................46
1.3.4. Infertilidade sem causa aparente.........................................................................................................................................................46
1.4. Diagnóstico ....................................................................................................................................................................................................46
1.5. Tratamento ....................................................................................................................................................................................................48
1.5.1. Técnicas de fertilização .......................................................................................................................................................................48
A) Indução da ovulação ...............................................................................................................................................................48
B) Inseminação Artificial ..............................................................................................................................................................49
C) Fertilização in vitro e Transferência de embriões.................................................................................................................50
D) ICSI – Injecção Intracitoplasmática de um Espermatozóide .............................................................................................50
E) Alternativas para a infertilidade ............................................................................................................................................50
2 – A SPECTOS P SICOLÓGICOS DA I N FE RTILIDADE .............................................................................................................................................50
2.1. Impacto psicológico da Infertilidade na Mulher.............................................................................................................................................51
2.2. Impacto psicológico da Infertilidade no Homem ............................................................................................................................................51
2.3. Impacto psicológico da Infertilidade no Casal ................................................................................................................................................52
A) Consciencialização e reconhecimento da possibilidade de infertilidade ..........................................................................52
B) Avaliação e diagnóstico............................................................................................................................................................53
C) Tratamento ...............................................................................................................................................................................53
D) Resolução e aceitação...............................................................................................................................................................53
2.4. Estratégias de “coping” para o casal .............................................................................................................................................................54
3 - P APEL DO E N FE RMEI RO ...................................................................................................................................................................................54
III – C O NCLUSÕE S .........................................................................................................................................................................................................55
IV – BIBLIOG RAFIA ........................................................................................................................................................................................................55
GRAVIDEZ E TOXICODEPENDÊNCIA
Trabalho elaborado por: Rute Reis; Sofia Pinheiro; Susana Viegas; Telma Duarte ...........................................................................................82
I – I NT RODUÇÃO ...........................................................................................................................................................................................................82
II – E NQUAD RAME NTO T EÓ RICO ...............................................................................................................................................................................83
1 – D ROGA S ..............................................................................................................................................................................................................83
1.1. Tipos de consumo ...........................................................................................................................................................................................83
1.1.1. Consumos experimentais ....................................................................................................................................................................83
1.1.2. Consumos ocasionais..........................................................................................................................................................................83
1.1.3. Consumos habituais ...........................................................................................................................................................................83
1.1.4. Consumos compulsivos ou Toxicodependência....................................................................................................................................84
1.2. Drogas mais consumidas: Consequências na Grávida e no Feto .....................................................................................................................84
1.2.1. Heroína ..............................................................................................................................................................................................84
1.2.2. Cocaína ..............................................................................................................................................................................................85
2 – TOXICODEPE NDÊ NCIA .......................................................................................................................................................................................85
2.1. Toxicodependência: Evolução histórica ..........................................................................................................................................................85
2.1.1. Modelo unifactorial............................................................................................................................................................................86
2.1.2. Modelo bifactorial.............................................................................................................................................................................86
2.1.3. Modelo Biopsicosocial ........................................................................................................................................................................87
2.2. Fases da Toxicodependência ...........................................................................................................................................................................87
2.3. Etapas da Toxicodependência ........................................................................................................................................................................88
2.3.1. Lua-de-mel..........................................................................................................................................................................................88
2.3.2. Dependência psicológica .....................................................................................................................................................................88
2.3.3. Dependência Física.............................................................................................................................................................................88
2.4. Problemas resultantes da Toxicodependência.................................................................................................................................................88
2.4.1. Consequências ao nível da saúde........................................................................................................................................................88
2.4.2. Consequências ao nível familiar ..........................................................................................................................................................88
2.4.3. Consequências ao nível escolar............................................................................................................................................................89
3 – P ER SO NALIDADE DO TOXICODEPE NDE NTE ..................................................................................................................................................89
3.1. Factores familiares..........................................................................................................................................................................................90
3.2. Factores sociais ..............................................................................................................................................................................................90
3.3. Factores de “pressão de pares”.......................................................................................................................................................................91
3.4 – Personalidade da grávida .............................................................................................................................................................................91
4 – IMPO RTÂ NCIA DA I NTE RACÇÃO P RECOCE MÃE - FILHO ...............................................................................................................................92
III – C O NCLUSÃO ..........................................................................................................................................................................................................93
IV – BIBLIOG RAFIA ........................................................................................................................................................................................................93
UNIVERSIDADE DO ALGARVE – ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE
FARO
Gravidez e Álcool
Trabalho elaborado por:
Andreia Ramos; Gabriela Borges; Martinho Costa; Vera Barbosa
“o álcool não aquece (...)
o álcool não mata a sede (...)
o álcool não dá força (...)
o álcool não ajuda a digestão e não abre o apetite (...)
o álcool não é um alimento (...)
o álcool não é um medicamento (...)
o álcool não facilita as relações sociais (...)”
(Neto, & Silva, 1999).
I – Introdução
O álcool aparece inúmeras vezes associado a tradições seculares e à cultura de diversos povos, no entanto o que
por vezes se desconhece são os efeitos nefastos que o seu abuso pode provocar, nomeadamente efeitos orgânicos,
psicológicos e sociais.
Sendo o alcoolismo uma doença crónica, caracterizada pela dependência da ingestão do álcool sob a forma de
várias bebidas, distingue-se do consumo ocasional e social que muitos indivíduos, nomeadamente mulheres
podem apresentar. Em qua lquer dos casos deve haver uma consciencialização acerca da ocorrência de uma
possível gravidez, para que sejam evitadas as consequências que o consumo de bebidas alcoólicas podem ter
para o feto.
A Síndrome Alcoólica Feta l (SAF) é a anormalidade produzida no feto, provavelmente mais observada,
manifestando-se por deficiências de crescimento e no desenvolvimento, bem como por todo um conjunto de
muitas outras anomalias.
O consumo de álcool na mul her grávida, trará também implicações psicológicas dificilmente quebráveis, mas
que são entendidas se virmos o álcool como transmissor a curto prazo de um para íso de sensações imediatas,
fortes e deslumbrantes.
Pretende-se com este trabal ho dar a conhecer essencia lmente os distúrbios que a problemática do álcool pode
causar numa gravidez. Ir-se-ão, igualmente, enumerar os efeitos orgânicos, psicológicos e sociais do álcool,
desenvolver os aspectos psicológicos da gravidez especialmente quando exacerbados pelo alcoolismo e
mencionar algumas das consequências para o feto quando se verifica o consumo de á lcool durante a gravidez.
Ao nível do Enquadramento Teórico ir-se-á, num primeiro momento ir-se-ão abordar os aspectos gerais do
á lcool, onde são abordados os efeitos orgânicos, psicológicos e sociais do álcool. Num segundo momento
procede-se à abordagem geral dos aspectos gerais da gravidez, particularmente, os seus aspectos psicológicos.
Num terceiro momento, vão-se apresentar alguns dos efeitos do álcool durante a gravidez, nomeadamente o
mais conhecido o SAF e distúrbios associados. Por fim, no último momento vai-se dar particular atenção aos
aspectos psicológicos específicos da grávida com dependência a lcoólica. Após o que são apresentadas as
Conclusões do presente traba l ho.
A metodologia utilizada para a elaboração deste trabal ho baseou-se na pesquisa teórica referenciada na
bibliografia, tendo-se feito igualmente uma entrevista, informal, com uma enfermeira do Centro de Apoio a
Toxicodependentes (CAT) de Olhão e com uma médica e uma psicóloga do Centro de Saúde de Faro.
II – Enquadramento teórico
1 – ASPECTOS GERAIS DO ÁLCOOL
Ana Pérez (1997), é de opinião que quando vulgarmente fa lamos em álcool nos estamos a referir à substância
etanol, sendo este o principa l constituinte das bebidas alcoólicas, que se obtêm por fermentação ou destilação,
e que vão ser alvo de abordagem neste trabal ho, uma vez que constituem um flagelo durante a gravidez (ver
Anexo 6).
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Como refere Pérez (1997) desde os tempos mais remotos que se conhece o uso do álcool pelos humanos,
nomeadamente data de há milhares de anos, não só a cerveja, como uma substância designada hidromel e que
consistia numa mistura fermentada de mel e água.
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Na opinião de Sérgio Ramos e José Bertolote (1990), apesar de nenhum sinal nem sintoma ser patognomónico
do alcoolismo através de um exame físico pode-se chegar a uma conclusão dos mais frequentes, sendo eles:
• Acne rosácea, parótidas aumentadas, aranhas vasculares;
• Extra-cistolia, níveis tensionais elevados;
• Hepatomegália, esplenomegália, ascite;
• Atrofias musculares, hiporreflexia;
• Escoriações, contusões, repetidos traumatismos;
• Cuidados higiénicos suficientes.
De acordo com Maria Mello et al. (1988), vulgarmente são utilizadas expressões inespecíficas, como
problemas ligados ao álcool ou problemas de álcool para definir algumas das consequências nefastas mais
frequentes da ingestão abusiva do álcool. Estas abrangem não só o indivíduo consumidor de álcool, como
também toda a sua família e o meio envolvente. As consequências podem ser físicas, mentais ou socia is, que
podem ser originadas por um consumo agudo ou crónico.
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De acordo com a mesma autora, os estados de irritação, insónias e delírios, são alterações que os indivíduos
consumidores sofrem frequentemente. Nos casos considerados mais graves, há o aparecimento de encefalopat i a
com deterioração orgânica.
De acordo com Marilda Urso (s.d.), existem pessoas mais “fortes” ao álcool do que outras, neste sentido as
primeiras poderão beber ocasionalmente sem se aperceberem e sem serem percebidas, o que continuamente
poderá originar um consumo abusivo. As pessoas mais tristes, com uma auto-estima e auto-controle diminuídos,
ou simplesmente porque têm um familiar dependente do álcool são mais predisponentes a ingerirem bebidas
a lcoólicas em excesso, tornando-se dependentes.
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Como se pode observar na figura 2 as consequências do uso do álcool dependem da dose e da frequência e o
passar de “beber sem problemas” para o “alcoolismo” é mediada por alguns interfaces, onde surgem os primeiros
sinais de que “o álcool está a ser ingerido de forma descontrolada” (ver Anexo 5).
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De acordo com Mendes (1993), o equilíbrio emocional só será possível estabelecer quando a grávida aceitar que
está a gerar uma nova vida. No entanto, o estado depressivo pode coexistir durante toda a gravidez, podendo
atingir um estado de psicose, devido à sua fragilidade emocional.
Como refere o autor acima mencionado, a acrescer a todos os sentimentos vividos durante a gravidez, estão os
mais diversos medos que a mesma pode acarretar. A grávida pode sentir medo do desconhecido por se tratar
de uma experiência nova e diferente o que se agrava se a mulher teve experiências anteriores negativas.
Devido ao facto de a sensibilidade da mulher estar bastante apurada é importante que seja apoiada pela
família e amigos, exceptuando situações em que a sua presença seja contraproducente.
Mendes (1993) refere que outro dos medos passíveis de se verificar, é o medo de ter um fil ho imperfeito, nem
sempre a mulher deixa transparecer esta ansiedade, contudo é um receio que permanece sempre com ela.
Segundo o autor acima mencionado, refere ainda outro medo da mulher grávida, sendo este o receio das dores
do parto, isto devido a um factor agravante que é a associação que se faz desde os tempos mais remotos entre os
termos “parir” e “doer”. Este medo varia de mulher para mulher, da capacidade que esta apresenta de se
manter calma e controlada.
Mendes (1993) considera que no pós-parto é de extrema importância para a mãe e o bebé, que se invista no
contacto físico estimulando deste modo a comunicação. No regresso a casa, existe toda uma mudança de rotinas
devido à existência de um novo membro na família, aumentam as responsabilidades para o agregado famil i ar
e são muitas as adaptações que estes têm que fazer, nomeadamente a nível do sono. Como consequências ma is
evidentes, salientam-se os estados depressivos e de melancolia.
De acordo com os mesmos autores, uma vez que exista níveis de concentração de álcool no sangue da mãe, por
menor quantidade que seja, este passará, embora apenas algum tempo depois, para o feto, que, como não tem
possibilidade de metabolizar o etanol está dependente da rapidez metabólica da mãe para eliminar o álcool
(ver Anexo 4). Só após a diminuição da concentração de etanol no sangue da mãe é que, através da difusão em
sentido inverso, a concentração de etanol no feto diminui. Assim sendo, a concentração de etanol na mãe e no
feto está directamente relacionada com a dinâmica das trocas sanguíneas entre a mãe e o feto.
Mello, Barrias e Breda (2001) referem que a toxidade do álcool é hoje em dia conhecida mas a sua verdadeira
extensão é desconhecida. Os efeitos do álcool fazem-se sentir logo desde o período de gestação e ao longo do
decorrer da vida.
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Figura 6. Efeitos do álcool no decurso da gravidez (in Álcool e problemas ligados ao álcool em Portugal).
Como referem Mello, Barrias e Breda (2001), a agravar todo o quadro de compl icações provocadas de forma
directa pelo álcool, temos os efeitos indirectos deste. Aliados ao alcoolismo da grávida está a má nutrição,
carência de folatos, diminuição de reserva em glicogénio, carência na circulação placentária de oligo-
elementos, como o zinco, importante para o crescimento celular, o que potencia as alterações que se verificam
no filho de uma grávida alcoólica e não alcoólica mas que teve índices elevados e frequentes de álcool.
Segundo Emile Papienik (1990), bastam vários copos de vinho diários para desencadear o SAF, é pois
recomendado que não se beba álcool, ou que se limite à quantidade mínima, durante a gravidez. A autora
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a lerta ainda que apesar da ciência médica estar tão sofisticada, não pode nunca reconstruir o que a grávida
a lcoólica destruiu. Todavia, segundo Aragão e Sacadura (2002) “não há consumo de álcool seguro durante a
gravidez. A quantidade que podem ser segura para uma mulher pode não o ser para outra mulher”. (p. 82)
Figura 7. Relação consumo de álcool/EAF (in Álcool e problemas ligados ao álcool em Portugal)
Segundo Aragão e Sacadura (2002), as alterações facia is podem desaparecer ou atenuar-se até à idade adul t a,
mas a microcefalia tende a persistir mesmo nesta idade.
Como refere Urso (s.d.), existe ainda recusa alimentar por parte das crianças com SAF, uma vez que o acto de
comer, em pé de igualdade com o de beber lhes provoca medo e mal-estar.
De acordo com Aragão e Sacadura (2002), existem estudos recentes que referem a inda desordens de audição a
quatro níveis, aquando da exposição ao álcool numa fase pré-nata l:
• “ atraso de maturação do sistema auditivo;
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Na opinião de Aragão e Sacadura (2002), crianças com SAF apresentam frequentemente distracção,
exreferebilidade, problemas de disciplina, autismo e dificuldade de aprendizagem. A maioria destas
crianças apresenta também atraso motor, mental e socia l, através das escalas de desenvolvimento de Bayley
e de inteligência de Stanford-Binet.
Como referem Mello, Barrias e Breda (2001), logo após o nascimento o recém-nascido corre perigo de
sobrevivência uma vez que o seu índice APGAR é normalmente baixo, com torpor e depressão respiratória
consequentes à impregnação pelo álcool.
Ainda, segundo Mello, Barrias e Breda (2001), os efeitos do álcool não se manifestam apenas dentro do ventre
materno e logo após o nascimento, onde determinadas características apontam para uma quadro de SAF, mas
toda uma vida pode ficar alterada ou condicionada por uma decisão ou indecisão materna. Uma das
perturbações que apenas se detecta ao longo do desenvolvimento da criança é a perturbação neuro-
comportamental, ou seja, crianças com diminuição do desenvolvimento estatuto ponderal, com carência de
desenvolvimento afectivo e intelectual e quocientes intelectuais baixos, ligado muitas vezes a microcefali a.
Mello, Barrias e Breda (2001), op. cit. Lemoine (s.d.), que realizou estudos sobre fi l hos de alcoólicas, descreve
perturbações associadas à descendência de mulheres que abusaram de álcool durante a gravidez como:
• atrasos da linguagem – segundo Aragão e Sacadura (2002), as deficiências na linguagem compreendem as alterações
na fluência, entoação, que é considerada monótona, disfunções na voz, como a hipernasalidade e voz áspera,
desagradável e com fraca articulação.
• dificuldades de aprendizagem escolar
• apatia
• desinteresse pelas actividades
• instabilidade com dificuldade da atenção
Como referem Aragão e Sacadura (2002), os distúrbios do comportamento neurológico podem ser características
apresentadas pelos bebés que sofrerem efeito de privação durante o parto ou em bebés de mães, quer grandes
quer moderadas consumidoras. Segundo Mello, Barrias e Breda (2001), a privação alcoólica é provocada pel a
ablação do cordão umbilica l, que mantinha a alcoolémia na circulação feta l.
De acordo com Aragão e Sacadura (2002), os que sofreram a privação alcoól ica apresentam os seguintes
sintomas que desaparecem ao fim de poucos dias:
• distensão abdominal
• cianose
• apneia
• agitação
• tremor
• convulsões
• perturbações do sono
• hipertonia muscular
Como referem os autores acima mencionados, os fil hos de mães consumidoras manifestam sintomas que
persistem para além do período neo-nata l, sendo eles:
• distúrbios de sono
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• acréscimo da actividade corporal
• menor habituação a estímulos adversos
• menor grau de obediência e atenção
De acordo com Mello, Barrias e Breda (2001), outros tipo de estudos, mais longitudinais desde a infância à
idade adulta, foram reali zados sobre os quais se constatou perturbações do comportamento, com tendênci a
para o isolamento social, irritabilidade e não raras vezes agressividade. A realidade é que este tipo de
estudos são muito complicados de serem elaborados, uma vez que não se pode atribuir estas perturbações a
factores teratogénicos, dado que estes estudos também podem ser atribuídos a factores adjacentes, como a
influência de um meio famil i ar, que pode apresentar:
• alta permissividade de hábitos e elevados consumos
• carências materiais e de afecto
• maus-tratos
Todos estes condicionalismos podem actuar de forma negativa sobre o equilíbrio biopsicológico potenciando o
risco patogénico alcoólico.
Como refere Aragão e Sacadura (2002), dos estudos que foram efectuados em relação ao consumo do álcool em
mulheres em fase de amamentação, conclui-se que apesar de apenas uma pequena percentagem do álcool
passar para o leite materno, o efeito que produz no bebé é elevado e quase momentâneo. No entanto ainda se
desconhece os efeitos a longo prazo deste consumo, durante o período de amamentação, para a mãe e para o
bebé.
Figura 8. Amamentação
Mello, Barrias e Breda (2001) mencionam que existem casos de verdadeiro sucesso, relatados pelos alcoólicos
anónimos, onde ex-alcoólicas pariram, enquanto alcoól icas, fil hos com o SAF mas que após a desintoxicação e
garantida a contínua abstinência de álcool, tiveram fi l hos perfeitamente saudáveis e sem quaisquer indícios
de SAF, comparativamente com os irmãos mais velhos. Todavia, se uma alcoólica mantém os seus hábitos de
ingestão, os efeitos feta is são sucessivamente mais graves, podendo os últimos fil hos apresentar uma SAF
completa.
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na gravidez, é fundamenta l que sejam seguidas por um conjunto de profissiona is integrados numa equipa
multidisciplinar, capazes de ter a flexibilidade e a capacidade de intercomunicação requerem.
Na opinião de Palminha (1993), as dificuldades de relacionamento e os conflitos psicológicos intrínsecos da
mulher toxicodependente, fazem pensar acerca do investimento afectivo e emocional destas mães para com os
seus fil hos, bem como os cuidados básicos a prestar ao bebé. O comprometimento das relações interpessoais não
está apenas direccionado para o fil ho mas também para todo o núcleo familiar.
Manuel Pinto-Coelho (1993) refere que a personalidade de um toxicodependente, nomeadamente alcoólico
apresenta características comuns à maioria destes indivíduos. Esteriótipou-se que eles apresentam:
• avultadas dificuldades psicológicas
• problemas na inserção, quer familiar quer profissional, bem como uma não-aceitação dos valores sociais
estabelecidos
De acordo com o mesmo autor, as grávidas alcoólicas são consideradas imaturas e equilibradas. Apresentam
dificuldades em estabelecer-se profissionalmente, acabando por enveredar por caminhos ilegais e
condenáveis moral e socia lmente. A acrescer a estes factores, está o facto de provirem, quase na sua
tota lidade, de meios problemáticos e desunidos onde a figura paternal não foi uma constante.
Como salienta Pinto-Coelho (1993), estas mulheres pouco esperam do futuro e consequentemente da sua
gravidez, revestem os planos futuros de angústia e pouca emotividade. É uma pessoa passiva, geralmente com
poucas amizades e com uma ideia negativa de si própria, o que justifica a sua negatividade face ao futuro, a
sua falta de planos e projectos.
De acordo com o autor acima mencionado, a grávida alcoólica na maioria das vezes caracteriza-se pela
instabilidade de comportamentos, inadaptação à vida social e instintos muitas vezes agressivos, o que para o
autor constitui um motivo de imprevisibilidade.
Pinto-Coelho (1993) refere a grávida caracteriza-se a inda por possuir um humor impulsivo, sendo este ma is
um dos aspectos que torna o álcool irresistível, uma vez que funcionará como compensador dos insucessos e da
baixa auto-estima da mulher. São mulheres por norma imaturas e que se fascinam por tudo o que é fácil.
IV – Conclusão
Após a realização deste trabal ho, foi-nos possível concluir que dificilmente um estereótipo ou preconceito
formado em relação a um alcoólico, tem um fundo de verdade. Cada ser deve ser entendido como único e
diferente de todos os outros, devendo, as suas razões para beber, por exemplo, ser consideradas isoladamente.
Contudo as causas do alcoolismo são frequentemente dirigidas para aspectos hereditários, factores
psicológicos e sociais.
Mais se conclui que existem dois tipos de consumo de álcool, o consumo excessivo e o consumo crónico, que
condicionam o aparecimento de comportamentos e consequências diferentes. No âmbito geral os que mais se
verificam são a perda de responsabilidades, as dificuldades económicas, crises nas relações familiares e
maus-tratos. Aquando do contacto permanente com familiares alcoólicos e com todo o seu meio envolvente, a
criança apresenta uma maior predisposição tanto para o alcoolismo infantil, como para o alcoolismo na idade
adulta.
Verif ica-se que a mulher grávida pode estar psicologicamente perturbada e apresentar medos e angústias,
nomeadamente medo do desconhecido, de ter um fil h o imperfeito ou ainda das dores de parto. É de salientar
que dependendo do número de gravidezes, a mulher encara de forma diferente as angústias e receios. Podem
a inda ter dificuldades na inserção familiar e profissional, bem como na aceitação e cumprimento dos valores
social e moralmente correctos.
Constatou-se também que são múltiplos os efeitos orgânicos e fisiológicos produzidos pelo álcool, tanto no feto
como na mãe. Por tudo isto, é condição obrigatória a não ingestão de álcool durante a gravidez, assim como o
acompanhamento de uma equipe multidisciplinar ao longo de toda a gravidez.
Por fim, a acrescer a todas as dificuldades inerentes a uma gravidez, a grávida a lcoólica ostenta uma
panóplia de adversidades inerentes a factores socia is e psicológicos desencadeados pelos seus hábitos. Esta
irá enfrentar avultadas dificuldades psicológicas e múltiplos problemas de inserção profissional, social e até
familiar. A angústia e a pouca emotividade poderão tomar conta destas mulheres fazendo com que as suas
perspectivas para o futuro sejam abaladas, de tal modo que por vezes enveredem por caminhos ilegais e
condenáveis moral e socialmente. É de todo necessário dar apoio permanente, por vezes carinho, ternura e
amor bastam, para elevar a sua auto-estima e diminuir a ideia negativa que têm de si próprias.
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FARO
V – Bibliografia
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ANEXOS
Anexo 1 - Problemas clínicos associados ao uso excessivo do etanol
A – Gastrointestinais e Hepáticos
1 – Hepáticos (hepatite alcoólica, cirrose)
2 – Pancreatite crónica calcificada
3 – Gastrite aguda
4 – Diarreias
5 – Carcinoma (orofaringe, esófago, fígado)
B – Neurológicos e Musculares
1 – Neuropatia periférica
2 – Síndromas cerebrais orgânicos
3 – Encefalopatia de Wernicke
4 – Psicose de Korsakoff
5 – Ataxia cerebelar
6 – Síndromas de privação (menor e/ou convulsões, delirium tremens)
7 – Intoxicação (dificuldade na coordenação psicomotora, raciocínio e reflexo)
C – Hematológicos
1 – Anemia por deficiência de folato
2 – Anemia ferropénica
3 – Leucopenia, função de granulócito prejudicada
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4 – Trombocitopenia
5 – Deficiência dos factores de coagulação em hepatopatia
D – Endocrinológicos/Metabólicos
1 – Hipoglicémia
2 – Hipertrigliceridemia
3 – Hiperlactacidemia e hiperuricemia
4 – Cetoacidose
5 – Hipomagnesemia
6 – Hipofosfatemia
7 – Hipoalbuminemia
E – Pulmonares
1 – Pneumonia por aspiração
2 – Tuberculose e pneumonia bacteriana
3 – Carcinoma da Laringe
F – Dermatológicos
1 – Infestações cutâneas
2 – Úlcera cutânea
3 – Rinofinoma rosáceo
G – Acções Farmacológicas
1 – Interacção droga-álcool
H – Traumáticos
1 – Fracturas
2 – Politraumatismo (acidentes de trânsito)
Refluxo gastroesofágico
Azia Esófago Esofagite péptica
Doença motora
Gastrite aguda
Estômago
Pancreatite crónica
Pâncreas
Gases Cirrose
Fígado
Síndroma de má absorção
Intestinos
Doença motora
Esofagite péptica
Doença motora esofágica
Disfagia Esófago
Carcinoma epidermóide
Estenose péptica
Hepatite alcoólica
Hepatomegália Fígado
Cirrose
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Anexo 3 - Evolução do consumo per capita de álcool puro em Portugal
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FIM
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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA1
Trabalho realizado por:
Alexandra Neves; Ana Pinheiro; Daniela Silva; Sara Guerreiro
1. Introdução
A adolescência é uma das fases mais difíceis da vida do ser humano. Torna-se importante uma primeira
abordagem relacionada com a adolescência e a gravidez, afim de se compreender melhor as inúmeras
repercussões e dificuldades inerentes a uma maternidade neste período da vida.
1
O texto aqui apresentado refere-se à primeira versão do trabalho. O trabalho definitivo apenas foi apresentado na versão
impressa.
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mulher, visto que, esta está exposta a diversos conflitos que requerem, de certa forma, uma resolução,
reestruturação e reajustamento aos vários níveis fisiológicos, sociais e psicológicos (Lourenço, 1998, pp. 17-18).
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A imaturidade do processo cognitivo dos adolescentes e a sua impulsividade, origina uma certa incapacidade
de prever os resultados a longo prazo dos seus actos sexuais, de forma a que possibi l ite ao adolescente prevenir
qualquer evento futuro (cf. Chipkevitch, 1995, p. 600).
Os sentimentos de invulnerabilidade e invencibilidade característicos da adolescência dominam os seus
pensamentos e consequentemente as suas atitudes, pois os adolescentes raramente colocam a hipótese de
correrem certos riscos, neste caso, o de engravidar (cf. Aretaris, 1999, p. 731). Talvez seja por isso que a grande
maioria dos adolescentes, quando têm relações sexuais casuais, não sentem grande necessidade de se
protegerem. Por exemplo, para a maior parte das adolescentes a repetida utilização da contracepção oral não
faz muito sentido (cf. Canavarro, 2001, p. 335).
Muitas vezes a adolescente pretende realmente engravidar mas com outros objectivos, entre os quais, a auto-
af irmação da sua sexualidade e identidade, ainda em formação; o casamento, como forma de melhoramento
da relação com o parceiro; a independência em relação aos pais; a necessidade de afecto e de ter alguém a
quem amar. Nenhum destes objectivos está ligado a qualquer projecto de maternidade (Leal, 2000, 26).
Contudo, em vários estudos realizados, concluiu-se que grande parte das adolescentes que engravidam
sofreram abuso sexual anteriormente. Este aspecto afectou, de certo modo, o uso de métodos contraceptivos e o
domínio das suas experiências sexuais posteriores (Aretaris, 1999, p. 732).
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de mudança que gera grande stress, tal como afirma Ca i l lè (1987) “a crise não solicita a reparação ou substituição
de um modelo relacional, o que implica alguns riscos, de patologia ou disfuncionamento se a família rigidificar os seus
padrões transaccionais e as suas fronteiras” (Minuchin, 1983; cit. por Lourenço, 1998, p. 83).
Numa situação de crise, como a de uma família aperceber-se que a adolescente está grávida, pode reagir de
variadas formas, mas regra geral, respondem com desapontamento, vergonha, sentimentos de culpa ou mesmo
violência. Perante este novo desafio, a família precisa de redefinir os papéis pais-fil hos.
Geralmente, o principal ponto de desagrado da gravidez da jovem é apresentado pela sua mãe, ao mesmo
tempo que é, também ela, o seu principal apoio. Este apoio pode ter implicações positivas e negativas. Por um
lado as jovens mães ficam menos sobrecarregadas com o seu verdadeiro papel referente àquele novo ser porque,
recebem uma maior ajuda e apoio nos cuidados a este. Por outro lado ao ser a mãe da jovem a prestar os
cuidados pode fazer com que a jovem perca a sua autonomização no desempenho do seu novo papel, ser mãe.
Porém também pode privar o jovem adolescente de ser pai.
Em relação aos pares, as relações estão sujeitas a a lterações. A adolescente deixa de se sentir um deles,
predominando sensações de diferença física e psicológica em relação aos outros colegas e amigos, limitando-a
de os poder acompanhar nas actividades (Corbett, Meyer, & Holland, 1987; Protinsky et al., 1982, Canavarro,
2001, p. 344). A resposta do grupo a esta situação pode variar, dependendo do significado que eles atribuem à
gravidez na adolescência, podem, por um lado, dar apoio e camaradagem ou, por outro lado, rejeitarem e
marginalizarem (Corbett, Meyer, & Holland, 1987; Protinsky et al., 1982; Canavarro, 2001, p. 344).
As questões relativas aos aspectos educativos e profissionais, ao nível da adolescente grávida, têm sido
objecto de grande estudo. Conclui-se que a maioria das adolescentes quando engravidam já não frequentam a
escola, e aquelas que ainda a frequentavam acabam por interromper os seus estudos, também porque o nosso
sistema de ensino ainda não apresenta condições que permitam às grávidas adolescentes ou às jovens mães
prosseguirem os seus estudos ( Xarepe, 1990, p. 435).
Contudo, se o apoio económico e emocional que a famíl i a proporciona for estável, a probabilidade de regresso
à escola são mais elevadas (Corbett, Meyer, & Holland, 1987; op. cit. por Canavarro, 2001, p. 343). Após o
nascimento do fil ho os objectivos de vida mudam, passando a ser uma prioridade a aquisição de financiamento
imediato, para as necessidades da criança (Gonçalo, 2002, p. 14).
Em termos profissionais, as adolescentes têm menos possibilidades de arranjarem emprego, e quando o
conseguem estes são, norma lmente, de baixa qualificação o que implica menores rendimentos económicos
(Xarepe, 1990, p. 435). Nas situações em que a adolescente abandona a escola e não conseguem ter um emprego,
um dos objectivos que parecem encontrar é o de constituir família.
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já tomada, nem deve indiciar qualquer recuo.”
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conduzam a sua vida da forma mais correcta, nunca correndo o risco de julgar as suas decisões ou de
“atropelar”, impondo os nossos pontos de vista. Levá-los eles próprios a reflectir sobre a sua vida, conduz a um
crescimento pessoal interior e à formação da sua maturidade. O pai adolescente é ainda incentivado a
participar no futuro de contracepção do casal.
Segundo Miranda (1999, p. 39) “(…) os profissionais que trabalham com adolescentes grávidas devem incentivar a
relação precoce mãe/filho, fomentando as atitudes saudáveis, o gostar de si, o aceitar as alterações do corpo como uma
necessidade para o bom desenvolvimento do filho (…)”. Ao ser desenvolvido este tipo de trabal ho com a jovem mãe,
melhor conseguirá encarar esta fase que é vivida com grande instabilidade.
Importante também, é o facto dos pais adolescentes aceitarem a existência de suporte social e a forma como o
utilizam para seu bem estar e de seu filho.
Este suporte social é antes de mais os avós da criança e restante família. Este sistema de suporte deve ser
utilizado da forma mais correcta pela adolescente, nunca permitindo que este substitua os seus cuidados.
A mãe adolescente, não deve descurar a sua pessoa e desvalorizar-se pelo facto sucedido. Deve valorizar o seu
cuidado pessoal assim como o do seu fil ho e começar uma vida “nova” com outro olhar.
6. Conclusões
???
7. Bibliografia
Bobak, I., Lowdermilk, D., Jensen, M., & Perry, S. (1995). Enfermagem na Maternidade (4ª edição). Loures: Lusociência.
Canavarro, M. (2001). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora.
Leal, I. (1997). Transformações sócio-culturais da gravidez e da maternidade: Correspondente
transformação psicológica, pp. 201-214. In J. L. Pais Ribeiro (Ed.), Actas do 2º Congresso de Psicologia da
Saúde, Braga. Lisboa: ISPA.
Pais Ribeiro, J. L. (1997) (Editor). Actas do 2º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde, Braga – Sociedade Portuguesa
de Psicologia da Saúde. Lisboa: ISPA.
FIM
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Gravidez e Diabetes2
Trabalho elaborado por:
Helena Ribeiro; Isa Máximo; Mónica Carmo; Sofia Coito
“Dizer que todas as pessoas têm os mesmos direitos
e que não é por estarem doentes que merecem ser afastadas
é fácil. M as se alguém da sua família ou circulo de amigo
s ficasse infectado com VIH, como reagiria?” (o Grupo, 2004)
I – Introdução
No âmbito da disciplina da disciplina de Psicologia V, a decorrer no 3ºano-1º semestre, foi-nos proposto um
trabal ho sobre a “Gravidez e Diabetes” pela professora Celeste Duque.
O trabalho encontra-se estruturado de acordo com os seguintes itens: introdução, em que apresentamos os
objectivos a alcançar, uma exposição do tema proposto e metodologia observada; o desenvolvimento, onde se
faz referência aos pontos fulcrais da temática e a conclusão seguida de todas as referências bibliográficas
utilizadas na sua execução.
A metodologia utilizada foi pesquisas bibliográficas e entrevista informal ao enfermeiro José Vieira.
O objectivo geral é tentar apurar quais as consequências físicas e psicológicas que a diabetes pode ter na
grávida e no feto. Como objectivos específicos propusemo-nos a definir e classificar a diabetes na gravidez;
após uma primeira abordagem ao tema sentimos que seria interessante e importante distinguir a diabetes pré-
gestacional de diabetes gestacional; o que nos sensibilizou ainda mais para a necessidade de saber e
compreender quais as eventuais repercussões psicológicas da diabetes, no período gestacional.
Se a gravidez é, como se sabe, um processo por muitos considerados como um período de crise, que acarreta
mudanças extraordinárias no corpo e mente da mulher, nomeadamente, ao nível da sua auto-imagem, auto-
estima, identidade, papéis, que requer obviamente um reajuste e readaptação permanentes, dos quais resul t a
um maior crescimento pessoal, mas que pode, igualmente, levar a uma maior instabilidade emociona l.
Imagine-se agora como será quando associada a uma patologia como a diabetes?
Vamos então desvendar a problemática…
II – Enquadramento Teórico
1. DIABETES MELLITUS
A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal define a Diabetes Mellitus (DM) como sendo uma doença
crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue, resultante de uma deficiente capacidade
de utilização da principal fonte de energia, do organismo humano – a glucose.
Esta patologia é diagnosticada através de sintomatologia manifesta característica da doença: poliúria,
polidípsia, polifagia, xerostomia e fadiga; e que é, de resto, confirmada através de análises ao sangue.
Desta forma, o indivíduo diabético será aquele que apresentar valores de glicémia ocasional igual ou superior
a 200 mg/dl ou tiver um valor de glicémia em jejum (8 horas) igual ou superior a 126 mg/dl (p. 4).
Sendo evidente a importância do controle dos níveis alterados de glicémia, segundo a Classificação do
National Diabetes Data Group, Graça (2000) faz a distinção em três tipos:
• Diabetes Tipo I: ou Diabetes Insulino-Dependente, o pâncreas perde a capacidade de produção de insulina
para poder regular os níveis de glucose no sangue e desta forma o diabético vê-se obrigado a administrar
terapêutica com insulina, para toda a vida (surge habitualmente em crianças ou jovens);
• Diabetes Tipo II: ou Diabetes Não-Insulino Dependente, o pâncreas ainda produz insulina mas em quantidades
insuficientes. Nestes casos, o diabético pode conseguir controlar os níveis de glucose no sangue através de uma
dieta cuidada e/ou administrando anti-diabéticos orais (surge maioritariamente em adultos ou idosos obesos
com história familiar de DM).
• Diabetes Tipo III: ou Diabetes Gestacional surge em grávidas que desenvolvem, durante a gestação, uma
intolerância à glicose.
Analisando as diferentes classificações, constatamos que a Diabetes pode afectar homens e mulheres de
diversas idades, independentemente da sua raça ou condição socia l.
2
Este trabalho é resultado da primeira apresentação em Word. A versão final apenas foi apresentada impressa.
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Em mulheres grávidas a DM pode surgir antes da gravidez – Diabetes Pré-Gestacional ou Diabetes Pré-Gravídica;
ou apenas manifestar-se durante a gestação – Diabetes Gestacional ou Diabetes Gravídica. Em ambas as situações é
importante que a grávida tome consciência que está perante uma gravidez de risco e como tal será necessário
recorrer a profissionais de saúde especia lizados, capazes de diminuir os riscos que uma gravidez com diabetes
implica, não só ao nível da saúde materna como também, ao nível da saúde feta l/neonatal (Graça, 2000, p.
629). Mediante esta perspectiva, Queenan (1987) salienta a importância da mãe zelar pela manutenção dos
níveis normais de glucose no sangue, uma vez que a doença não pode ser tratada, só controlada (p. 354).
Dada a ausência de cura para esta doença, a Direcção Geral de Saúde (2000) alerta para que todos os
portadores de DM controlem a sua situação de saúde-doença procurando tratamento e controle eficazes dos seus
níveis de glicémia, evitando complicações, promovendo uma vida normal e saudável (p. 5).
Quadro 1
Classificação de Priscilla White
Diabetes Gestacional
- Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO) anormal, mas valores normais de glicémia são mantidos através da dieta;
- Dieta Insuficiente – necessidade de insulina.
Diabetes diagnosticada antes da gravidez
Classe A
.- Tratamento só com dieta, independentemente da duração da doença ou da idade de início;
Classe B
- Idade de início igual ou superior a 20 anos, com duração inferior a 10 anos;
Classe C
- Idade de início entre os 10 e os 19, duração da doença de 10 a 19 anos;
Classe D
- Idade de início inferior a 10 anos, duração superior a 20 anos, com retinopatia ou Hipertensão arterial;
Classe R
- Retinopatia proliferativa/hemorragia do vitreo;
Classe F
- Nefropatia com proteinúria superior a 500 mg/dia;
Classe RF
- Critérios das classes F e R associados;
Classe H
- Doença cardíaca arteriosclerótica clinicamente evidente;
Classe T
- Transplantada renal prévia.
De acordo com a perspectiva do mesmo autor, a integração nas diferentes classes de P. White não diz respeito
ao tipo de diabetes associado à grávida, seja do tipo I ou tipo II, embora este considere que na Classe A só
possam integrar situações cl ínicas com DM do tipo II. Este realça a inda, que as possíveis complicações durante
a gravidez e a morbilidade perinata l, aumentam proporcionalmente das Classes A a T, principalmente a
partir da Classe F (nefropatia com macroproteinúria).
De acordo com a Classificação de P. White e em relação à Diabetes Gestaciona l, Mendes (1993) manifesta a
opinião de que este tipo de Diabetes deve ser considerado à parte, pelas suas características próprias e
implicações feta is e neonata is. Dentro da Diabetes Gestacional destingue dois grupos: as mulheres com
normoglicémia que efectuam autocontrole com dieta e as que tiveram necessidade de iniciar administração de
insulina para obter valores normais de glucose no sangue.
A gravidez nas diabéticas deve ser sempre classificada como uma gravidez de risco, dadas as dificuldades de
compensação que decorrem das modificações hormonais próprias da gravidez (pp. 165-166). Daí, que Queenan
(1987) realce a importância do controle dos níveis de glucose no sangue, adequando a dieta, a insulina (se for o
caso), o exercício físico e o stress, aumentando a qualidade de vida da mãe e do bebé (p. 354).
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3. DIABETES PRÉ-G ESTACIONAL
“Quando uma mulher já diabética fica grávida, é identificada como uma diabética pré-gestacional; isto é, a diabetes
existia antes da gravidez e persistirá após gravidez. A diabetes pré-gestacional pode ser quer do tipo I (insulino-
dependente) quer do tipo II (não insulino-dependente), bem como ser ou não complicada por doença vascular,
retinopatia, nefropatia ou outras complicações da diabetes. As diabéticas de tipo II são consideradas não insulino-
dependentes durante a gravidez, porque os antidiabéticos orais devem ser suspensos devido a potenciais efeitos no
feto” (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 648).
4. AVALIAÇÃO
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“É de extrema importância avaliar o sistema de suporte (familiares e amigos da grávida) da mulher de
maneira a identificar quais as pessoas significativas e qual o seu papel na vida da mulher. Deve ser feita
uma avaliação do conhecimento que as pessoas de suporte têm sobre a doença e cuidados especiais que a
grávida deve ter, é necessário avaliar também se cumprem de uma maneira rigorosa o plano de cuidados,
que lhe é fornecido no decorrer da vigilância. Os factores sócio-económicos devem ser avaliados para que a
grávida diabética possa ter todos os cuidados de que necessita” (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p.
651).
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! Infecções – as mais comuns são as infecções vaginais, em particular a candidíase vaginal, e as infecções
urinárias. As infecções numa mulher diabética são muito graves porque causam aumento da resistência à
insulina podendo levar à criação da acidose. Com estas infecções poderá haver um parto prematuro
(Stamler, 1990; op. cit. Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 649).
! Cetoacidose – pode pôr a vida da mãe e do feto em risco. Frequentemente, ocorre durante o segundo e
terceiro trimestres quando o efeito diabetogénico da gravidez é maior à medida que a resistência à
insulina aumenta. A cetoacidose acontece como consequência de hiperglicémia não tratada, causada por
infecções, doenças maternas ou por doses inadequadas de insulina (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999,
p. 649).
4.7.1.1. Dieta
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Durante a gravidez é necessário que a mulher tenha a preocupação de ajustar as suas necessidades
nutricionais, para tal deve ser educada e aconselhada a introduzir as alterações na sua dieta.
A gravidez é normalmente um período da vida da mulher em que a motivação se encontra elevada, o que é
ideal para que esta consiga uma autogestão dos cuidados. É fundamental que a mulher compreenda a
importância de manter os níveis de glicémia dentro dos parâmetros normais durante a gravidez.
A dieta deve ser individua l izada de modo a que se respeite o aumento das necessidades feta is e metabólicas,
tendo em conta determinados factores como: o peso e hábitos dietéticos durante a gravidez, saúde de forma
geral, descendência étnica e estilo de vida, período de gravidez, conhecimento nutricional e tratamento
insulínico. O objectivo da dieta é conseguir que a mulher aumente de peso de acordo com uma gravidez norma l,
prevenir a cetoacidose e minimizar grandes alterações dos valores da glicémia.
O valor total de calorias deve ser distribuído por três refeições principais e uma ceia ligeira ou por três
refeições principais e pelo menos duas refeições moderadas. As refeições devem ser sempre respeitadas, nunca
as suprimindo. As refeições intermédias devem ser bem calculadas de acordo com a medicação insulínica para
evitar oscilações nos níveis de glicémia. Deve ser feito um reforço nocturno antes de se deitar, para evitar
h ipoglicémia e cetoacidose matinal.
O aconselhamento nutricional é normalmente executado por um nutricionista (Bobak, Lowdermilk, & Jensen,
1999, p. 653).
4.7.1.3. Insulinoterapia
Durante a gestação o único antidiabético que a mulher pode fazer é a insulina, uma vez que os antidiabéticos
orais estão contra indicados devido ao seu potencial efeito teratogénico, que ainda não está comprovado, e
pelo risco de provocarem hipoglicémia neonatal.
A insulina humana deve ser administrada pelo menos quatro vezes por dia, antes das três refeições principa is
(insulina de acção rápida) e por volta das onze horas da noite (insulina intermediária). Este método
terapêutico deve ser ajustado sempre que haja necessidade, pela grávida e pela equipa de saúde, tendo em
conta o aumento progressivo das necessidades insulínicas à medida que a gravidez vai evoluindo (Graça, 2000,
p. 637; Mendes, 1993, p. 167).
4.7.1.5. Supervisão
A diabética grávida deve fazer uma vigilância pré-nata l com maior frequência do que as outras grávidas. Se
existir dificuldades em controlar os níveis de glicémia, as consultas de vigilância pré-nata l serão no mínimo
de quinze em quinze dias nas primeiras trinta e duas semanas e depois, semanalmente, até ao parto (Bobak,
Lowdermilk, & Jensen, 1999, pp. 655-656).
4.7.1.6. Hospitalização
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Não é muito frequente hospita lizar-se mulheres diabéticas grávidas para regular a dosagem de insulina e
estabilizar os níveis de glicémia, mas existem mulheres que necessitam de ser internadas. Durante o
internamento controla-se os níveis de glicémia através de insulinoterapia e aproveita-se para reali zar
ensinos de educação para a saúde sobre a auto-administração e regulação de glicose sanguínea (Bobak,
Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 656).
Queenan (1987) refere que as indicações para hospita l ização de grávidas diabéticas são: hiperglicémi a
incontrolada, cetoacidose, cetonúria persistente, proteinuria, hipertensão, deterioração da função rena l,
pielonefrite e ganho excessivo de peso.
4.7.1.7. Complicações
Durante a vigilância gestacional a mulher é advertida para a possibilidade de ocorrerem complicações
durante a gravidez e incentivada a comunicar o profissional de saúde se surgirem problemas, como
náuseas, vómitos e infecções. É também importante que a grávida e sua família estejam despertos para
as causas, sintomas, prevenção e tratamento da hipoglicémia e hiperglicémia.
Para evitar complicações a grávida não deve fazer viagens prolongadas sem primeiro contactar o seu
médico, se o fizer deverá levar insulina e açúcar (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 656).
4.7. 2. Durante o parto
A grávida com diabetes pré-gestacional pode levar a gestação até ao termo, desde que seja feita uma
vigilância materno-feta l bastante rigorosa, caso não existam complicações, ta is como: evidência de hipóxi a
feta l; macrossomia; pré-eclâmpsia/eclâmpsia; agravamento da tensão arteria l, da retinopatia ou da
nefropatia. Mas normalmente, a data do parto é programada para as trinta e oito semanas, preferencialmente
após a ava liação da maturidade pulmonar do bebé, por amniocentese.
Como estes partos são programados o colo do útero poderá ser desfavorável, levando à indução do parto. Se a
indução não for o método ma is viável, opta-se por executar uma cesariana.
A mulher com diabetes pré-gestacional durante o trabalho de parto deve ser acompanhada de perto para se
poder evitar complicações relacionadas com a desidratação, hipoglicémia e hiperglicémia, devido à grande
quantidade de calorias que consomem durante este momento.
O parto de uma mulher diabética deve ser sempre considerado como sendo de alto risco, devido a problemas
acrescidos de traumatismos e asfixia (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 656; Mendes, 1993, p. 170; Graça,
2000, p. 639).
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médico e optar pelo método que para ela seja mais benéfico (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999, p. 657;
Mendes, 1993, p. 173).
5. DIABETES GESTACIONAL
“A Diabetes Gestacional (DG) define-se como uma intolerância aos hidratos de carbono de grau variável, que é
reconhecida ou diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez”. Faz ainda, parte desta definição o grupo de
mulheres com diabetes prévia à gravidez mas não reconhecidas como tal até ao momento da gestação
(Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, s.a., p. 23).
A intolerância à glicose surge pelo facto do metabolismo materno não conseguir suprimir o aumento da
resistência periférica à acção da insulina que ocorre durante a gravidez devido em grande parte ao efeito
antagonista das hormonas placentárias (Graça, 2000, p. 640).
Na maior parte dos casos a diabetes gestacional desaparece no final da gravidez, mas existe uma grande
probabilidade de esta reaparecer em futuras gravidezes. (Diabetes e Gravidez????????)
5.1. Avaliação
A diabetes gravídica manifesta-se normalmente entre as vinte e oito e trinta e duas semanas de gestação. Por
este motivo, todas as gestantes deverão ser submetidas a um exame de rastreio para DG entre as vinte e quatro
e vinte e oito semanas de gestação, como meio de despistar qualquer intolerância aos glícidos. O rastreio é
feito através da Prova Ora l de Tolerância à Glicose. Nas gestantes com dois ou mais factores predisponentes
para a diabetes gestaciona l a prova de tolerância à glicose deverá ser feita entre as onze e treze semanas de
gestação.
O diagnóstico de diabetes gestacional é estabelecido se a gestante apresentar ma is do que dois valores igua is
ou superiores aos valores normais (Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, s.a., pp. 23-24).
O diagnóstico da diabetes gestacional é de extrema importância uma vez que, durante a gestação e sob o ponto
de vista materno pode-se: evitar situações de descompensação da diabetes; estabelecer medidas de
contracepção futuras, prescrevendo os estro-progestativos considerados diabetogénicos e ainda, determinar
normas de segurança para gravidezes futuras. De acordo com o ponto de vista feta l e neonata l, pode-se:
reduzir a mortal idade perinata l; vigiar a morbilidade neonata l (h ipoglicémia, hipocalcemia,
h iperbilirrubinémia...); evitar o traumatismo obstétrico (macrossomia) e atender a probabilidade de aumento
excessivo de peso e de diabetes (Mendes, 1993, pp. 164-165).
5.3. Complicações
O facto de surgir Diabetes durante a gestação pressupõe uma gravidez de risco, pois as complicações que daí
podem advir, poderão ter graves repercussões para a mãe, que por algumas semanas será diabética, com todas
as consequências que esta patologia acarreta e para o feto, no que diz respeito à sua viabilidade e
desenvolvimento.
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Durante a gravidez, as mães com diabetes gestacional apresentam maior probabilidade de vir a contra ir
complicações. As mesmas são comuns na grávida com diabetes pré-gestacional, embora nestas, muitas vezes as
complicações já existem, devido a todo o historia l de diabetes e sofrem apenas agravamento clínico durante a
gestação.
A morbilidade e mortalidade perinata is são elevadas em mulheres com diabetes gestacional com
antecedentes de nado morto, pré-eclâmpsia e diagnóstico tardio de diabetes (Bobak, Lowdermilk, Jensen,
Perry, 1999, p. 661).
A Diabetes durante a gestação pode ampliar a incidência e a gravidade de certas situações patológicas,
causando repercussões nefastas no feto: abortos espontâneos, hidrâmnios, parto prematuro, macrossomi a,
anomalias congénitas, morta l idade perinata l, Síndrome de Dificuldade Respiratória, hipoglicémia neota l,
h ipocalcémia, policitémia e hiperbilirrubinémia (Bobak, Lowdermilk, Jensen, & Perry, 1999, p. 661; Mendes,
1993, pp. 166-167; Pupo, 2004).
5.4. Tratamento
O tratamento de uma situação de diabetes gestacional deverá ter início logo após o seu diagnóstico. Este tem
como principal objectivo, manter o valor de glicémia plasmática dentro dos parâmetros normais, de modo a
minimizar as complicações para a mãe e para o feto, que advêm das oscilações das taxas de glicémia. A
glicémia é controlada através do estabelecimento de uma dieta adequada e um programa de exercício físico.
O regime alimentar deverá ser individualizado de modo a proporcionar um adequado aporte nutricional ao
feto e satisfazer as necessidades da mãe, o aconselha mento de um médico nutricionista é indispensável.
O exercício físico deve ser incentivado (caminhadas, natação e hidroginástica), porque ajuda a baixar os
níveis de glicose plasmática e evitam o aumento excessivo de peso.
A auto-vigilância da glicémia deve ser realizada diariamente em jejum e após as três principais refeições.
A prescrição de insulina como auxiliar no controle da glicémia só é instituída caso o regime alimentar e o
exercício físico não sejam suficientes para manter a normalidade dos valores de glicemia, ou seja, se em jejum o
valor for superior a 105mg/dl, se a glicémia pós-prandia l for superior a 120mg/dl ou se em gestações
anteriores já houve necessidade da sua utilização. A administração é feita de acordo com as quantidades e
horários estabelecidos pelo médico (Equipe ABC da Saúde, 2004; Graça, 2000, p. 642).
5.5. Prevenção
No período pré-nata l é importantíssimo que todas as mulheres procurem os Serviços de Saúde, para que sejam
submetidas a exames e possam ser identificados precocemente quaisquer indícios para a ocorrência de diabetes
durante a gestação. O acompanhamento antes do parto é fundamental na prevenção e tratamento de
complicações materno-feta is ocorrentes numa diabetes gravídica. Assim podemos garantir uma gravidez
controlada e um parto seguro.
Quando na primeira consulta são detectados factores de risco predisponentes a uma diabetes gestacional, a
mulher, o marido e os familiares são educados no sentido de estarem alerta para sintomas que possam
desencadear essa patologia. Estes são ensinados sobre a maneira de utilizar medidas para ava l iar a diabetes
gestacional.
Na consulta inicia l e nas restantes é também importante a ava l iação do stress físico e/ou emocional, pois estes
são indicadores fortes para o desenvolvimento desta patologia em indivíduos propensos a isso.
Quanto mais cedo for a precocidade do diagnóstico menores serão as complicações (Bobak, I. M., Lowdermilk,
D. L., Jensen, M. D., Perry, S. E., 1999, p. 663).
A programação do parto dependerá do estado clínico da gestante, da presença ou não de complicações e da
necessidade de este ser induzido ou por cesariana. Se não existirem complicações o parto é programado para as
40 semanas de gestação, tendo em conta o peso do feto (Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, [s.a], p. 28).
Durante o trabal ho de parto, quer este seja espontâneo ou induzido, a monitorização é contínua de forma a
manter os valores de glicemia em 100mg/dl ou menos. O facto dos valores serem mantidos neste limite faz com
que os riscos de hipoglicémia neonata l sejam minimizados. Os soros glicosados apenas serão util izados como
meio de manter os valores aconselhados (Bobak, I. M., Lowdermilk, D. L., Jensen, M. D., Perry, S. E., 1999, p.
663).
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Se a grávida está a ser controlada com insulina, esta deverá ser mantida durante o parto de acordo com o
esquema que se utiliza para a grávida com diabetes prévia à gravidez, no dia do parto não deve ser aplicada
a dose de insulina previamente prescrita.
Depois do parto a perfusão do soro glicosado deverá ser mantida assim como toda a vigilância sobre os valores
de açúcar no sangue (Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, [s.a], p. 25).
Na maioria das mulheres com diabetes gestacional a situação é revertida para a normalidade. No entanto
estas acarretam um risco elevado para desenvolver Diabetes Mellitus tipo II 5 a 15 anos depois da gravidez.
Por este motivo é necessário que após 6 a 8 semanas voltem à consulta e sejam submetidas a uma prova de
tolerância à glicose (PTGO) com 75g de glicose para serem novamente classificadas segundo os critérios da
OMS (Relatório preliminar) ou da ADA/97.
Se o resultado for normal, serão classificadas como tendo uma anormalidade prévia de tolerância à glicose.
Se o resultado estiver alterado, serão classificadas como tendo Diabetes Mellitus ou diminuição da tolerânci a
à glicose, segundo a OMS ou como tendo anomalia da glicemia em jejum, anomalia da tolerância à glicose ou
Diabetes Mellitus , segundo a ADA.
Tal como foi referido anteriormente, as mulheres que apresentaram durante uma gravidez uma ocorrência de
diabetes, correm maior risco de numa ocasião futura ou até mesmo numa futura gestação desenvolver
novamente esta patologia. Assim, a vigilância deverá prosseguir, exigindo que estas façam provas de
tolerância à glicose anualmente (Graça, 2000, p. 642 & Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, [s.a] pp. 24-
25).
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III – Conclusão
Nos últimos anos têm-se verificado avanços notáveis na compreensão e acompanhamento da diabetes na
gravidez. Esta evolução nos cuidados permitiu alterações substanciais nos resultados, tanto para o bebé como
para a mãe.
A diabetes representa um factor de risco na gestação e no nascimento do bebé, mas o acompanhamento pré-
natal nos serviços de saúde e o cumprimento das suas recomendações, por parte da mãe, garantem a redução
destes riscos a níveis mínimos e possibilitam à mãe e à criança uma gravidez e um parto normais e o
nascimento de uma criança sã.
É importante que a grávida aprenda a conviver com a sua doença, aceitando-a e percebendo que pode lidar de
um modo bastante positivo com esta. Para que tal aconteça o apoio familiar é indispensável, na medida em
que esta se sente apoiada podendo partil h ar a sua ansiedade e os seus medos transmitindo-lhe segurança e
auto-estima.
A gestante pode e deve ter uma participação activa em todo o processo. Como na própria diabetes as coisas
mais importantes são a aceitação, a mudança de comportamento e a adesão ao tratamento.
IV – Bibliografia
Bobak, I. M., Lowdermilk, D. L., Jensen, M. D., & Perry, S. E. (1999). Enfermagem na Maternidade (pp. 645-663).
Loures: Lusociência.
(s.a.) (2004). Aspectos Psicológicos da gestante com diabetes. URL: http://www.geocities.com/hotsprings/spa
/3373/aspectospsicologicosdagestantecomdiabetes.htm
(s.a.) (2004). Gestação e Diabetes. http://guiadobebe.uol.com.br/artigos/diabetesegravidez.htm
(s.a.) (2004). Gestação e Diabetes. http://www.abcdasaude.com.br/artigo
Associação Protectora do Diabéticos de Portugal (s. d.). Uma Alimentação Saudável (p. 4). Verbo.
Direcção Geral de Saúde (2000). Como viver com a diabetes – Autocuidados na saúde e na doença (p. 5), vol. 3.
Lisboa.
Graça, L. M. et al (2000). Medicina Materno Fetal – Diabetes associada à gravidez. (pp. 627-642), vol. 2. Lisboa:
Lidel.
Mendes, L. M. (1993). Curso de Osbstétricia (pp. 162-174). Coimbra: Livraria Almedina, 1ª edição.
Queenan, J. (1987). Gravidez de alto risco (pp. 354-368). São Paulo: Editora Monde, 2ª edição.
Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. (s. d.). Relatório de Consenso: Diabetes e
Gravidez.
FIM
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I – Introdução
Pretende-se com este trabal ho tentar perceber como é vivenciada a gravidez por mães solteiras e/ou famílias
monoparentais (mãe-fil ho).
Concordamos com Celeste Duque quando afirma que a gravidez é um período de constantes e intensas
mudanças, no que respeita ao nível físico/orgânico e psicológico. Assim, implica uma constante readaptação
por parte de quem o vive (principalmente a mulher grávida mas também o pai da criança e restantes membros
da família). Uma vez que, uma gravidez é a existência de um novo ser, condiciona a vida de quem o circunda,
mais concretamente a mulher grávida que terá de efectuar reformulações no seu estilo de vida, principalmente
se tiver por hábito estilos de vida pouco saudáveis (dependência alcoólica, toxicodependência, tabagismo,
entre outros). Terá, portanto, de adoptar atitudes/comportamentos que promovam uma maior qualidade de
vida.
Nenhuma mulher passa de forma passiva pelo período de gestação e o seu modo de vida anterior jama is
permanecerá intacto enquanto o feto se desenvolve.
Toda a mulher grávida tem que, em primeiro lugar, adaptar-se à nova vida que tem dentro de si, “ganh a
raízes” dentro de si mas que, no entanto, dela se distingue.
De entre os vários temas de trabalho proposto pela psicóloga e docente Celeste Duque, optamos por esta
temática porque nos suscitou um grande interesse e curiosidade. Uma vez que o nosso grupo é constituído por
mulheres, estamos susceptíveis a que esta situação aconteça. Por este motivo, sentimos necessidade de
descobrir todos os factores que podem interferir na aceitação ou não de uma eventual gravidez, e das diferentes
formas que essa gravidez pode ser encarada. Uma das grandes curiosidades que tínhamos era contactar
directamente com uma “mãe-solteira” e saber quais os sentimentos por ela experienciados aquando a sua
gravidez. Daí a necessidade de procurarmos testemunhos reais.
Para cumprir o nosso objectivo optou-se por se estruturar o trabalho em quatro capítulos que abordam
nomeadamente:
• Factores que influenciam a aceitação ou não da gravidez;
• Diferentes formas de encarar a gravidez;
• Gravidez na adolescência;
• Testemunhos de duas “mães solteiras”.
O objectivo geral que, subjaz à elaboração deste trabalho, é: a aquisição de um conhecimento, tanto quanto
possível, aprofundado de alguns aspectos fundamentais da gravidez em famílias monoparentais. Como
objectivos específicos, propusemo-nos compreender o que leva uma mãe solteira a aceitar ou não uma gravidez,
as diferentes formas de encarar tal acontecimento e a relação que existe entre adolescência e famíli as
monoparentais. Como não só de teoria vive a enfermagem, apresenta-se o relato de duas “mães solteiras”.
Quem melhor do que elas para nos informar de como é vivida essa experiência…
É importante como futuros profissionais de saúde, que tenhamos consciência dos sentimentos vivenciados por
uma “mãe solteira” e respectiva família, de modo a actuar de acordo com as necessidades identif icadas.
Para a elaboração do presente trabal ho, contámos com a orientação da Psicóloga e docente Celeste Duque, da
Escola Superior de Saúde de Faro, e com o apoio das funcionárias da biblioteca da referida escola.
II – Enquadramento Teórico
1 – F ACTORES QUE INFLUENCIAM A ACEITAÇÃO OU NÃO DA GRAVIDEZ
Quando se pensa e planeia ter um fil ho, imagina-se que o casal que o vai conceber irá tratar e educá-lo. Este
caso seria o ideal, o que se prevê que vá acontecer, mas, infelizmente, a realidade, é bem outra e nem sempre as
expectativas se confirmam. Nos dias de hoje, é cada vez mais habitual encontrar mulheres que encaram a
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maternidade sem a companhia de um parceiro, o que pode acontecer por diversas razões, ta is como: mães que
optam por ter o seu fil ho sozinhas e outras há que são “obrigadas” a tê-lo e sustentá-lo a sós, ou porque foram
“abandonadas” pelo parceiro ou porque este faleceu, ou porque o amor terminou e cada um dos membros do
casal seguiu o seu caminho, o seu “destino”. A ausência de um parceiro é sentida com maior intensidade nos
momentos em que impera o cansaço, e a responsabilidade torna-se pesada para uma só pessoa, existindo assim
a necessidade de partil ha- la com alguém.
1.1. Personalidade
A personalidade é a organização exclusiva de traços, características e modos de comportamento de um
indivíduo que o posiciona diferentemente dos demais indivíduos e, ao mesmo tempo, determina como as outras
pessoas reagirão a esse individuo.
A personalidade é a base de apoio que suporta tudo aquilo que o indivíduo é. É a sua identidade pessoal, a sua
marca enquanto ser social.
Na personalidade existe uma unicidade: aquilo que nos torna únicos, aquilo que somos na nossa essência e nos é
especifico. Mas ao tornar-nos únicos, faz, com que também sejamos diferentes de todos os outros. A
personalidade, pela unicidade, confere-nos uma diferenciação, isto é, torna-nos distintos dos outros. Esta
permite que nos reconheçamos e sejamos reconhecidos. É uma construção pessoal que ocorre ao longo da nossa
vida.
As melhores características que definem a personal idade são a permanência e continuidade (constância,
estabilidade, solidez) das características e valores do indivíduo.
Os factores que influenciam a personalidade são:
• Hereditariedade;
• Meio social;
• Experiências pessoais.
A personalidade é uma maneira de ser e de estar. Uma forma constante de relacionamento com o mundo e com
os outros.
A mulher pode-se sentir inclinada a recordar o seu passado, no decorrer da sua gravidez.
De facto o passado tem um papel fundamental na constituição da personalidade, pelo que, se torna mui to
importante, para o ser humano ter e recordar o passado. Este constitui-se como um reservatório de experiências
e aprendizagens muitas vezes úteis para a resolução de problemas actuais...
Todas as mulheres grávidas sofrem um processo de mudança de identidade e de personalidade.
Ao familiarizar-se com o estado de grávida, a mulher irá ser capaz de colocar questões que a levam a obter a
resposta que realmente necessita, confirmando ou não uma ideia formulada. A sensação de incompreensão e
ignorância irá desaparecer e em seu lugar surge o conhecimento, a compreensão, a tomada de consciência de
coisas que não conhecia e não compreendia, até ao momento.
1.2. Família
A definição de família é muito complexa, uma vez que difere de pessoa para pessoa. Esta resposta nunca
poderia ser dada como um sim ou um não, um “isto” ou um “aquilo” em exclusividade.
Segundo a disciplina de enfermagem, família é uma unidade básica da sociedade, na qual se processam os
comportamentos humanos conotados com a saúde.
Há quem defina família como um grupo de pessoas que vive na mesma casa e que compartil h am de elos de
l igação comuns, tais como, cuidados mútuos, elos emocionais, interacções regulares e objectivos comuns.
Por outro lado, há quem defina família como uma unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou
fa l h a. É também a unidade básica de doença e saúde (Ackerman, 1986).
Existem quatro tipos de família:
• Família nuclear: constituída por mulher, marido e filhos biológicos.
• Família mista: constituída por marido, e mulher que têm filhos de casamentos anteriores e os seus próprios filhos
biológicos, vivendo todos em comum.
• Família alargada: constituída por marido, mulher, os filhos, os avós e outros parentes consanguíneos, a viverem
todos em comum.
• Família monoparental: constituída por um progenitor e um ou mais filhos.
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A família é encarada como um sistema sócio-cultural aberto (mantém trocas com o exterior) num equilíbrio
dinâmico entre a sua tendência à homeostase (coesão familiar) e a sua tendência à transformação
(individualização dos seus membros). O grau de abertura da família é variável conforme a sua organização:
possui um dinamismo próprio que lhe confere, para além da sua individualidade, a sua autonomia. Isto quer
dizer que a família no seu funcionamento, integra as influências externas mas não está dependente delas; não é
simplesmente reactiva às pressões do meio pois está também sujeita a “forças internas”, possuindo uma
capacidade auto-organizativa que dá coerência e consciência neste jogo de equilíbrios dinâmicos.
As famílias têm vindo a sofrer alterações ao longo dos tempos, em consequência das diversas alterações que
ocorrem na sociedade. Sabe-se que, em todas as sociedades, a família nuclear continua a ser predominante. No
entanto, cada vez mais é possível encontrar famílias monoparentais, uma vez que, a visão da sociedade
relativamente a esta situação está mais “aberta”. Independentemente de se tratar de uma gravidez
indesejada ou planeada e desejada ou mesmo medicamente assistida (inseminação artificia l). Neste período é
fundamental o apoio da família.
Cada família é e mantém a sua unicidade, e portanto, reage de diferentes formas aos acontecimentos da vida.
Qualquer família está sujeita a processos de transição e mudança e cada família responde a essas mudanças de
modo individual.
O apoio da família paterna adquire maior importância quando o pai da criança não pretende assumi-la.
Todos eles, avós, primos, tios e pais, podem e devem prestar todo o apoio possível à mãe e ao fil ho. No
entanto, esta situação nem sempre se verifica.
Um acontecimento tem menor probabilidade de provocar uma crise familiar quando a família o considera
compatível com os valores familiares, quando exige pequenas alterações imediatas e quando foi previsto.
Logo, tendo em conta o que é socialmente aceite nos dias que correm (e que condiciona os valores familiares) e
tratando-se de uma gravidez inesperada, é fácil compreender que tal acontecimento pode conduzir a uma crise
familiar, que pode como resultado a ruptura.
Uma família normalmente flexível é capaz de adaptar-se e reestruturar-se a diferentes circunstâncias,
mantendo simultaneamente a sua continuidade como sistema, e permitindo o crescimento psicossocial de cada
um dos seus membros. Desta forma, é fácil concluirmos que, perante uma situação inesperada (gravidez) este
tipo de família reagiria de forma positiva à situação em causa:
Família aceita gravidez
"
Grávida apoiada
"
Gravidez mais saudável
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1.4. Alterações físicas
A gravidez é um acontecimento importante na vida de uma mulher, é um estado fisiológico acompanhado por
diversas consequências, físicas e psíquicas, mas que nem sempre são “normais”.
Durante os 270-280 dias de gravidez normal o organismo materno sofre inúmeras mudanças.
A primeira mudança é sem dúvida a interrupção da ovulação e da menstruação. Portanto qualquer perda de
sangue no decurso da gravidez, é considerada anómala.
O início da gravidez é acompanhada por perturbações benignas e inconstantes, embora nem todas as mulheres
sintam esses sintomas:
• Problemas de digestão, náuseas especialmente de manhã, vómitos, hipersalivação, prisão de ventre, alterações
do apetite;
• Modificação do carácter, nervosismo, irritabilidade, desejos, sonolência, enjoo ou pelo contrário sensação de
optimismo, de bem-estar anómalo;
• Perturbações do aparelho urinário, micções frequentes, mas não dolorosas;
• Tensão mamária; etc.
1.6. Sociedade/Religião
A sociedade em que a mulher grávida está inserida, em muito irá influenciar a forma como é encarada a
gravidez.
É certo que em todas as sociedades, a gravidez é vista como algo normal, como parte integrante da vida. No
entanto, o problema surge quando se trata de uma “mãe solteira”.
Em determinadas sociedades a gravidez está associada ao casamento, ou seja, uma mulher que engravida tem
que ser casada e caso isto não se verifique, deve logo que possível casar. Esta situação provoca ansiedade na
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mulher, dado que, sabe que a sua gravidez não vai ser bem aceite socialmente e vão olhá- la como um “desvio à
normalidade”.
No entanto, existem outras sociedades em que a existência de “mães solteiras” começa a ser frequente, pelo
que, a sociedade foi-se adaptando a esta nova realidade – família monoparental. Nestas sociedades ma is
permissíveis o que sucede é que a mulher não irá sentir-se pressionada e muito provavelmente conseguirá
fortes apoios por parte da sociedade.
Grande parte das sociedades europeias são influenciadas pela religião cristã. Pelo que, a forma como as
sociedades encaram as “mães solteiras” é em muito influenciada por essa religião.
A religião católica condena as relações sexuais antes e fora do casamento, e estas devem, tanto quanto
possível, ter fins reprodutivos. Assim, uma “mãe solteira” é vista como uma pecadora (associada à
depravação sexual). Tendo consciência disso, a mulher pode ter maior dificuldade em aceitar a gravidez.
Dado que este tipo de religião é contra o aborto, a maioria das mulheres crentes que engravidam, levam a
gravidez até ao final.
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A vontade de ser “mãe” surge nestas mulheres devido ao distanciamento demonstrado pelos pais, por
considerarem que esta não possui maturidade suficiente para o estabelecimento de uma comunicação eficaz. A
gravidez leva a fil h a à adquirir o estatuto de mãe, e assim aos olhos dos país pensa que poderá ser encarada
como adulta.
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Um dos tantos cidadãos desta época, foi a D. Joana uma rapariga de 18 anos, que residia no coração de
Portugal, na bela cidade de Lisboa. A D. Joana não era uma rapariga muito diferente das que conhecemos hoje
em dia, era alegre, divertida, extrovertida, simpática, com uma personalidade bem definida. Defendia os
seus ideais, as suas convicções, “não tinha papas na língua” sic. Tal como hoje, nessa altura as raparigas não
desperdiçavam a oportunidade de dar um “passinho de dança”, e a D. Joana não era excepção.
A D. Joana tinha o seu namorado, com 17 anos de idade naquela altura. Foi uma relação que, com o passar do
tempo, dos momentos parti l h ados e de muito carinho reciprocamente retribuído, evoluiu para uma relação
mais íntima. A partir do momento em que passou a h aver relações sexuais sem o uso de método contraceptivo
entre a D. Joana e o namorado, o inevitável poderia acontecer, a D. Joana engravidou. A D. Joana que na altura
continuava a ser uma rapariga, viu-se de repente num beco sem saída, num caminho sem opções, de onde só
queria fugir. Foi no pior momento que o seu namorado a abandonou. De forma cobarde virou costas à situação,
negando qualquer tipo de apoio à D. Joana, arranjando como desculpa que esse filho era de certeza de outro.
Foram inúmeros os sentimentos negativos experienciados pela D. Joana Naquele momento sentiu medo, medo
da sua família, medo do que iriam pensar os vizinhos, as pessoas que a conheciam, medo das “opiniões”. A
raiz desta situação, levou a que a D. Joana se torna-se numa pessoa fechada, vítima da depressão que a
forçava a chorar insistentemente – “quando eu chorava as pessoas perguntavam porque é que chorava e eu respondia
sempre que não era nada. Não tinha coragem de afirmar a minha gravidez na cara das pessoas” sic.
Nunca sentiu vergonha. O que sentia era o receio de exclusão, de ser rejeitada pela sociedade, pela sua
família, por aqueles que a rodeavam.
Passou todo o período de gravidez escondendo a barriga, sem poder usufruir do apoio de ninguém. A dada
a ltura, sentiu-se disposta a abortar, o seu único impedimento foi a carência económica que não lhe permi t i a
que tal intervenção fosse possível.
Foram surgindo sentimentos até à data ausentes, como o amor. Amor este dirigido àquele ser que a pouco e
pouco se desenvolvia dentro de si, que fazia parte dela e que iria fazer parte para o resto da sua vida.
Era Deus o protagonista das suas orações, era a Ele que pedia ajuda para ter aquele fil ho com saúde, ajuda
para enfrentar os país, ajuda para poder viver.
A dada altura, a gravidez já não passava despercebida a ninguém. Nesta altura a D. Joana contou com o apoio
de dois irmãos, que às escondidas ajudavam naquilo que podiam. Não se podia saber que estavam a ajudar uma
mãe solteira, apesar desta se tratar da sua irmã, mas a verdade é que a pessoa mais preconceituosa foi o seu
irmão mais velho, que proibiu aos outros dois irmãos de a apoiarem.
O irmão mais velho da D. Joana era o reflexo da sociedade portuguesa conservadora, preconceituosa,
característica daquela época.
A D. Joana foi expulsa de casa, foi então que recorreu às amigas para lhes dar abrigo e apoio a ela e ao ser que
a inda levava dentro de si.
Os pais de D. Joana estavam no Algarve e não souberam da notícia pessoalmente, pela voz de D. Joana.
Uma criança sem culpa a lguma, que não tinha pedido para nascer, estava agora nos seus braços. Era essa
criança agora fonte de forças e coragem para seguir em frente. E ainda hoje, a D. Joana afirma que este
acontecimento foi uma benção para a sua vida.
Ao conhecer aquele rebento, fruto da força e esperança de D. Joana, os pais dela não tiveram coragem de não a
aceitar e, a partir daí, aquela bebé passou a ser considerada parte da família.
Qualquer mágoa e tristeza sentidas até a altura, não passavam agora de más lembranças depositadas no baú
das suas recordações.
Hoje, mãe e fil h a amam-se com o mesmo amor surgido na altura em que tudo parecia perdido na vida de D.
Joana.
III – Conclusão
Uma gravidez é motivo de alegria e orgulho quando é fruto de uma união assumida e bem aceite aos olhos de
todos.
O cenário muda quando a protagonista da gravidez é uma mulher cujo estado civi l continua a ser o de solteira.
As representações que a mulher tem acerca da gravidez e a sua personalidade são influenciadas pela
sociedade, cultura, famíli a e religião em que está inserida, o que irá condicionar a aceitação ou não da
gravidez.
Assim, a gravidez pode ser encarada por estas mulheres como uma crise, uma doença, como recurso ou como um
dever a cumprir.
A mulher tem que se adaptar à mudança de papéis, ou seja, passa da sua condição de mulher sem fil hos para a
de mãe. No caso de se tratar de uma “mãe-solteira”, surge uma preocupação crescente relacionada com a
ausência da figura paterna. A tentativa de ocupar dois novos papéis (mãe e pai), o enfrentar a famíli a, a
sociedade e amigos, a aceitar todas as alterações que a gravidez envolve, está longe de ser um processo de
fácil adaptação. Daí que toda a mulher grávida e, principalmente, a “mãe solteira”, necessite de apoio e
acompanhamento durante este período.
IV – Bibliografia
Macy, P., & Falkner, F. (1981). Gravidez e Parto: Prazeres e problemas. Colecção “A Psicologia e Você”. São Paulo:
Harper & Row do Brasil Ltda.
Ziegel, E. E., & Cranley, M. S. (1985). Enfermagem Obstétrica. (8ª edição). Rio de Janeiro: Editora Guannabara.
Stright, B. , & Harrison, L.-O. (1998). Enfermagem Materna e Neonatal. (2ª edição). Colecção “ Série de Estudos em
Enfermagem”. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Nascimento, A. C. (s.d.). Gravidez – Conflito e mudança de identidade. URL: http://www.dricant.hpg.ig.com.br
(1997). A gravidez na adolescência. URL: http://www.geocities.com
(1998). Adolescência, gravidez e casamento. URL: http://mulher.sapo.pt
(1999). Gravidez na adolescência. URL: http://mulher.sapo.pt
(2000). Mamã sem papá. URL: http://mulher.sapo.pt
Alberto (s.d.). Testemunhos. URL: http://saúde.sapo.pt
Oliveira, N. R. (s.d.). Gravidez e maternidade de adolescentes. URL: http://www.unisantos.br
Ackerman, N. W. (1986). Diagnóstico e Tratamento das Relações Familiares (p. 29). Porto Alegre: Artes médicas.
FIM
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FARO
Gravidez e Infertilidade:
Aspectos Psicológicos
Trabalho elaborado por:
Ana Rosa; Arminda Batista; Patrícia Coelho, Vera Silva
“Tudo começa por ter de se fazer ‘amor’ a mando, cumprindo dias para ter relações e dias
para não as ter. A mulher deve tirar a temperatura todos os dias para ver se óvula. A febre
instala-se; cada relação sexual é anotada no gráfico, que se mostrará ao médico, que passa
a ser um parceiro, por demais activo, na vida sexual do casal.” (Canavarro, 2001)
I – Introdução
A Infertil idade afecta entre 10 a 15% da população adulta em Portugal. Em todo o mundo existem milhares de
pessoas que querem e não conseguem ter fil hos. É uma doença que não mata, não provoca incapacidade mas fere
o psicológico do ser humano, desencadeando uma dor, por vezes insuportável. A maternidade e a paternidade
tornam-se num sonho adiado, após várias tentativas frustradas.
Na sociedade actual, a ambição de uma carreira promissora para o alcance de um bem-estar económico conduz,
cada vez mais, ao adiar do nascimento do primeiro filho. Desta forma, e tendo em conta que a partir dos vinte
seis anos, começa a diminuir progressivamente a probabilidade da mulher engravidar, assistimos a um
progressivo aumento dos casa is inférteis. Além desta, são várias as causas que levam à infertil idade, que
podem ser femininas, masculinas, mistas e ainda existem causas indeterminadas.
No âmbito da Unidade Curricular Psicologia V, 3º Ano – 1ºSemestre, foi-nos proposta a realização de uma
trabal ho relacionado com a gravidez e maternidade. Sendo a infertilidade um assunto actual e problemático,
com o qual nos vamos deparar ao longo da nossa vida profissional, decidimos dedicar-nos a este tema.
O objectivo geral deste trabalho é dar a conhecer a importância dos aspectos psicológicos em casais inférteis.
E tem como objectivos específicos proceder à distinção entre os conceitos de infertil idade e esteril idade,
identificar e enunciar as causas da infertilidade, definir os diferentes tipos de tratamentos e técnicas de
fertil ização, e analisar os aspectos psicológicos da infertil idade, para a lém de referir o importante papel do
enfermeiro durante o acompanhamento de casais inférteis.
A metodologia utilizada para a realização deste trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica e pesquisa
através de palavra-chave na Internet.
O trabal ho encontra-se dividido em quatro partes. Iniciamos com a introdução, seguida do enquadramento
teórico, depois apresentamos as conclusões e por fim a bibliografia consultada.
II – Enquadramento Teórico
1 – INFERTILIDADE
Antes de abordarmos a infertilidade é importante fazermos a distinção entre esta e a esteril idade, visto que
estes conceitos, por vezes, são confundidos:
“Esterilidade da mulher significa Impotência concipiendi = incapacidade de conceber, isto é, de ser fertilizada = de
engravidar (lat. Sterilis, do gr., stéreos = duro, rígido, certo em sentido figurado, quando se tem em mente o útero
duro, pequeno, hipoplástico e os ovários indurados, precariamente vascularizados e insuficientes.” (Pschyrembel,
1975, p. 624)
“Infertilidade da mulher significa Impotência generandi = incapacidade de levar uma gravidez até ao final, com uma
criança viável a termo (infertilis de in-fero = não poder levar a termo). A mulher infértil é uma mulher que, na
verdade engravida, porém não tem condições de levar a termo a gravidez, pelo facto de mais cedo ou mais tarde
ocorrer um aborto.” (Pschyrembel, 1975, p. 624)
Ziegel e Granley (1985) afirmam que a infertil idade é a incapacidade de um casal conceber uma gravidez,
após um ano de relações sexuais frequentes sem protecção.
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Berkow (2003) refere que até 60% dos casais que não conceberam uma gravidez após um ano de tentativas
acabam conseguindo com ou sem tratamento (este constitui uma forma de reduzir o tempo necessário para a
conceber). Após os 35 anos de idade, são menores as probabilidades de engravidar e de levar a gestação até ao
fim, e o tempo que a mulher tem para resolver os problemas de infertil idade antes da menopausa começa a ser
l imitado.
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De acordo com Pschyrembel (1975), as causas físicas mais comuns da infertil idade feminina podem ser
genita is (ovulatórias, tubar, uterinas, cervicais e vaginais), causas orgânicas extragenita is e causas
imunológicas. No entanto, a infertilidade não se deve apenas a causas físicas mas também a psicológicas. De
seguida, abordaremos de forma sucinta, as principais causas da infertilidade, nomeadamente:
• Causa ovulatória – De acordo com Tiago (2003), a maior incidência na infertilidade feminina deve-se a
distúrbios da ovulação. Menstruações irregulares ou amenorreia, geralmente indicam problemas ovulatórios, e
podem ser causa de infertilidade. No entanto, uma mulher que tenha períodos menstruais normais pode vir a
sofrer deste problema. As causas mais frequentes responsáveis pela ausência de ovulação são: disfunção ou
insuficiência hipotálamo-hipofisária, síndrome dos ovários policísticos e hiperprolactinémia.
• Causa tubar – Estas causas incluem a lesão ou obstrução das trompas de falópio, que podem levar a problemas
de infertilidade. Berkow (2003) refere que o funcionamento inadequado ou obstrução das trompas se deve a
anomalias congénitas, doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica, ruptura do apêndice, cirurgia da região
abdominal inferior ou endometriose.
• Causas uterinas – Existem três causas uterinas associadas à infertilidade: malformações do corpo uterino,
lesões miometriais e lesões endometriais. Das lesões endometriais a endometriose é a mais comum. Esta afecta
mulheres em idade reprodutiva e manifesta-se pela presença de tecido do endométrio nas zonas extra-uterinas.
(Tiago, 2004).
• Causas cervicais – A cérvice uterina separa a vagina do útero e forma uma barreira contra os microorganismos
estranhos ao mecanismo da reprodução, através das suas secreções. Além disso, na fase folicular, a
concentração do estrogénio estradiol aumenta, tornando o muco cervical transparente e elástico, o que permite
que o esperma atinja o útero. Se o muco não adquirir estas características torna-se mais difícil a passagem do
espermatozóide. Além disso, a incompatibilidade entre o muco e os espermatozóides pode provocar
infertilidade.
• Causas vaginais e relacionadas com o coito – Podem ser definidas como um conjunto de circunstâncias que
impedem a fecundação, decorrentes de distúrbios associados ao acto sexual. As disfunções sexuais mais
frequentes na mulher, são o vaginismo e dispareunia. Para além das disfunções sexuais, problemas ligados à
sexualidade humana, como a diminuição do impulso sexual, podem explicar alguns casos de infertilidade,
nomeadamente pela diminuição das relações sexuais.
• Causas orgânicas extragenitais da infertilidade – Segundo Pschyrembel (1975) estas estão relacionadas com
patologias dos órgãos endócrinos, nomeadamente do pâncreas, tiróide, supra-renais e hipófise, passíveis de
causar infertilidade.
• Causas imunológicas – A infertilidade causada por factores imunológicos depende da imunidade celular e
humoral, podendo provocar sensibilização quando o esperma entra em contacto com a mucosa vaginal. A
resposta imunológica desencadeada interfere em quase todas as etapas da reprodução, desde a ascensão do
espermatozóide pelo aparelho genital feminino, até à capacidade deste fertilizar o óvulo. Quando a fertilização
ocorre, interfere desde a migração do ovo, até ao seu implante e posterior rejeição.
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• Espermatogénese anormal;
• Função anormal dos espermatozóides;
• Desordens da função secretora dos órgãos acessórios;
• Obstrução do tracto genital;
• Secreções anormais e espermatozóides não depositados na via genital feminina de modo a capacitá-los a
alcançar um óvulo fertilizável.
A incapacidade física para depositar espermatozóides na via genita l feminina de modo a capacita- los a
a lcançar um óvulo fertil izável está relacionada com factores físicos e/ou psicológicos e incluem a
incapacidade para produzir ou manter a erecção e anomalias físicas, ta is como h ipospádias. Segundo Barroso
(2001), a hipospádias é uma “malformação congénita em que o orifício da uretra está situado na parte inferior do
pénis: pode estar situado na glande (hipospádias da glande), na conjunção da glande com o corpo do pénis ou no próprio
corpo do pénis”.
A dificuldade do homem em efectuar a erecção durante o coito define-se por impotência sexual. Sérgio,
Coutinho e Marques (2002) apontam como causas prováveis da sua etiologia:
• Alterações psicogénicas;
• Alterações neurológicas (degenerescências devidas à ingestão de álcool e à diabetes, esclerose em placas, AVC,
sequelas de intervenções cirúrgicas a nível da bacia, entre outras);
• Doenças de adição (álcool, heroína, metadona, etc.);
• Alterações vasculares (aterosclerose, hipertensão, diabetes, dislipidémias);
• Alterações endócrinas (hipogonodismo, hipopituitarismo, hipotiroidismo, insuficiência córtico-supra-renal);
• Alterações por medicamentos (antidepressores tricíclicos; depressores do sistema nervoso central;
hipolipidémicos; anti-androgénios; anti-histamínicos, entre outros).
De acordo com Seeley, Stephens e Tate (1997), vária s situações pode provocar lesões nos testículos causando
infertil idade ou fertil idade reduzida, de entre as qua is traumatismos, exposição a radiações, criptorquídia e
infecções como a papeira.
Sérgio, Coutinho e Marques (2002) definem criptorquídia como “ausência testicular a nível das bolsas escrotais,
devido à retenção dos testículos na cavidade abdominal, por alteração hormonal ou anatómica.” O testículo poderá
manter-se no fundo do saco de Douglas, na cavidade abdominal ou no períneo. A partir da puberdade esta
situação provoca perturbações na espermatogénese, devida ao aumento da temperatura a que os testículos são
submetidos. Este quadro pode evoluir para uma situação de oligospermia ou de esterilidade, devido a
degenerescência testicular.
Outra patologia frequentemente mencionada é o varicocelo. Segundo Sérgio, Coutinho, e Marques (2002), este
trata-se de uma “dilatação varicosa dos veias do cordão espermático”, estando associado à esterilidade masculina,
uma vez que induz perturbações no desenvolvimento dos espermatozóides. Caracteriza-se por uma tumefacção
mole, situada por cima e atrás do testículo, que pode estar atrofiado. Esta tumefacção diminui de volume
quando o indivíduo se deita e volta a aumentar quando este adopta a posição ortostática.
As infecções do trato genita l também afectam a fertil idade. Caracterizam-se pelo corrimento do pénis ou
episódios de disúria, tumefacção do epidídimo e/ou sensibilidade da próstata no exame rectal. A liquefacção
da ejaculação é muitas vezes adiada para além do intervalo normal de vinte minutos e a viscosidade do sémen
permanece alta. Perante uma observação ao microscópio podem ser observadas bactérias e leucócitos. Na
maior parte dos casos o agente infeccioso é a Chlamydia trachomatis (Kleinmann, 1988).
Embora raramente, pode ocorrer uma disfunção que faz com que o sémen siga uma direcção contrária à habitual
– ejaculação retrógrada. Desta forma, os espermatozóides não podem chegar à via genita l feminina, uma vez
que o sémen reflui para o interior da bexiga em vez de ir na direcção do pénis. Este distúrbio é mais comum nos
homens submetidos a cirurgia pélvica e nos homens diabéticos.
Embora raramente, o hipogonadismo (diminuição da acção androgénica) pode causar oligospermia ou mesmo
esterilidade. Pode ser provocado por causa testicular ou primária que engloba malformações testiculares e/ou
das células de Leydig, alterações enzimáticas na síntese de androgénios e patologias do testículo traumáticas
ou tumorais. O hipogonadismo pode também ser provocado por causa secundária, ou seja, pela diminuição das
gonadoestimulinas hipofisárias – a estimulante do fol ículo (FSH) e a luteinizante (LH) (Sérgio, Coutinho, &
Marques, 2002).
Desta forma, podemos afirmar que a infertilidade masculina pode ser causada por diversos factores externos
ou internos ao organismo do homem e que nalguns casos podem ser evitados.
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1.3.3. Infertilidade de causa mista
Perante um casal infértil, é importante saber qual o membro do casal que é infértil e qual a disfunção que está a
causar a infertil idade. Contudo, verificam-se inúmeros casos em que as causas de infertil idade são múltipla s.
Kleinmann (1988) nomeia a lgumas causas de infertil i dade mista:
• Interacção espermatozóides-muco;
• Capacitação e fertilização defeituosa;
• Falha de implantação.
Relativamente à interacção espermatozóides-muco, podem ocorrer irregularidades tanto a nível do muco,
como a nível do sémen, que reduzem a penetração dos espermatozóides. A secreção reduzida ou a viscosidade
persistente do muco são provocados pela secreção inadequada de estrogénio, pela perda das células cervica is
após uma cirurgia ou por uma infecção crónica. A infecção pode dar início a um corrimento muco-purulento e
pode ser observada evidência de cervicite crónica, num exame com espéculo. Normalmente o microorganismo
patogénico mais frequente é a Chlamydia trachomatis.
Kleinmann (1988) refere que “a capacitação e fertilização defeituosa ocorre quando os espermatozóides migram
activamente através do muco cervical, mas são transportados para a zona de fertilização na ampola devido às contracção
uterinas e tubárias. Os factores de descapacitação são gradualmente removidos no fluido uterino e os espermatozóides
tornam-se capazes de reacção acrossoma. Isto ocorre no oviduto, libertando enzimas que permitem aos espermatozóides
passar entre as células de cumulus, ligar-se e penetrar na zona pelúcida e na membrana plasmática do ovócito.” As
desordens nestes processos levam à fal ha da fertil ização.
Relativamente à fa l ha de implantação Kleinmann (1988) referiu que existe uma “complexa interacção entre o
blastocito e o endométrio que está dependente da progesterona, mas pode envolver esteróides embrionários.” Assim,
quando existe um desenvolvimento inadequado do endométrio dá-se uma fal ha na nidação. Verifica-se então
que as anormalidades genéticas contribuem para uma elevada perda concepcional em mulheres normais.
Northeup (2000) fa lou sobre estilos de vida e factores externos que podem influenciar a fertilidade, sendo
eles:
• Exposição à luz artificial e natural;
• Factores nutricionais;
• Tabaco, drogas e álcool.
A luz natural é descrita por vários autores como importante no ciclo menstrual. As pessoas vivem expostas a
luz artif icia l sem saírem regularmente para a luz do sol podem ter consequências adversas sobre a fertil idade,
porque a própria luz é um nutriente. Ao caminhar ao sol é também importante que a luz incida directamente
sobre a retina (sem óculos nem lentes de contacto) embora não se deve olhar directamente para o sol.
Relativamente aos factores nutricionais é importante para a reprodução humana que os seus níveis estejam
equilibrados, uma vez que os nutrientes afectam todas as alterações hormonais do organismo, estando muitas
das disfunções alimentares associadas à infertil idade.
Segundo Northeup (2000) o consumo de tabaco, drogas e álcool foi indicado nalguns estudos como tendo efeitos
adversos em todos os aspectos da reprodução, desde a concepção até ao parto. Além disso as mulheres que
fumam têm geralmente menor sucesso nos tratamentos de fertil idade do que as não fumadoras.
Em suma, existem diversos factores internos inerentes a ambos os membros do casal susceptíveis de provocar
infertil idade mista. Paralelamente, existem factores externos que afectam a ferti l idade de ambos.
1.4. Diagnóstico
Kleinman (1988) refere que para ocorrer uma ava lia ção da saúde geral e da aptidão para a gravidez de um
casal é necessária uma consulta prévia com o mesmo para o estabelecimento de conselhos, nomeadamente sobre
nutrição a consumo de álcool ou de tabaco.
Diz também que, infelizmente, muitos dos casais que recorrem a cuidados de saúde fazem-no por há mui to
tempo tentarem conceber uma gravidez e não alcançarem sucesso. Daí que, quando chegam à consulta, a
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ansiedade e o sentimento de fa l ha, especia lmente quando as pressões famil i ares e sociais são grandes,
induzem à desarmonia e afastamento do casal.
Após a realização da anamnese (história clínica) e do exame físico, são realizados inúmeros testes para
ava l iar a infertil idade.
Segundo Munzer e Loer citados por Pschyrembel (1975) “a possibilidade de concepção corresponde aos 30 anos a
30%, aos 35 anos a 11% e aos 40 anos a 3%”.
É fundamental o levantamento do estado geral, pois podem existir dificuldades de concepção desconhecidas,
bem como o diálogo com o casal que proporciona a descoberta da própria informação que o casal tem, no que
respeita por exemplo à época mais favorável de concepção – óptimo de concepção. (Pschyrembel, 1975)
Existem inúmeros testes para aval iar a infertil idade da mulher e do homem.
Pschyrembel (1975) fala que no que respeita à mulher deve fazer-se um exame ginecológico completo, com
inspecção, colocação do espéculo, esfregaços citológicos, colposcopia e esfregaço bacteriológico da vagina e do
canal cervical. Qualquer suspeita de flora bacteriana contra-indica um exame das trompas
(histerossalpingografia), pois produz uma exacerbação de qualquer inflamação não completamente curada.
Antes de qualquer exame efectuado na mulher dever-se-á realizar o exame ao parceiro - Espermograma. O
médico requer uma análise ao sémen. No caso de alteração, devem ser pedidos pelo menos dois testes com
interva lo de três meses, isto porque, este é o período necessário para o nascimento de uma nova família de
espermatozóides. Em alguns casos, um factor ambienta l ou medicamentoso poderá a lterar temporariamente a
qualidade do esperma. É também importante afastar uma provável infecção espermática e até mesmo uma
prostatite.
As alterações que o espermograma pode revelar são:
• Oligospermia – diminuição da quantidade de espermatozóides no sémen, que pode ser grave ou ligeira (Barroso,
2001);
• Astenospermia – deficiente mobilidade dos espermatozóides, cuja principal causa é a produção pelo sistema
imunitário de anticorpos antisperma que se ligam aos espermatozóides, podendo também ser provocada por
ejaculações de alta viscosidade, drogas, tabagismo e aumento da temperatura do escroto devido a roupa interior
muito justa ou ao refluxo testicular associado a um varicocelo (Seeley, Stephens, & Tate, 1997);
• Teratospermia – deficiências na morfologia dos espermatozóides, como acontece nas anormalidades
cromossómicas causadas por factores genéticos (Seeley, Stephens, & Tate, 1997);
• Necrospermia – presença de espermatozóides mortos ou imóveis no sémen (Barroso, 2001);
• Azoospermia – ausência total de esperma no líquido seminal, relacionada com a incapacidade da formação de
espermatozóides nos túbulos seminíferos dos testículos ou com a obstrução bilateral dos vasos deferentes
(Barroso, 2001).
Pschyrembel (1975) diz que para o exame da função ovariana e da permeabili dade das trompas realizam-se
os seguintes testes:
• Curva de temperatura basal – no ciclo ovulatório a curva de temperatura é bifásica, isto porque, a progesterona
presente na segunda fase do ciclo causa a elevação da temperatura, mantendo um “platô” térmico de, pelo menos,
10 dias. A progesterona é de fundamental importância para a implantação embrionária no útero;
• Determinação do óptimo de concepção – época limitada em torno da ovulação, cerca de 5 dias do ciclo antes da
elevação intermenstrual da temperatura basal (ver anexo #);
• Citologia vaginal – importante para o diagnóstico dos distúrbios hormonais;
• Exame do muco cervical – estudo das características do muco cervical (volume, filância, cristalização) no
período ovulatório. O muco cervical é produzido no colo do útero (glândulas endocervicais) sob estímulo
estrogénico; e é de fundamental importância para a migração dos espermatozóides até às trompas;
• Biópsia do endométrio – realizada quando há suspeita de amenorréia uterina, na existência de ciclos
possivelmente anovulatórios, bem como em casos de suspeita de carcinoma;
• Teste pós-coital (Sims-Huhner) – teste para avaliar a habilidade do espermatozóide em penetrar no muco
cervical. Esta análise é realizada no período ovulatório, 6 a8 horas após o coito;
• Ecografia transvaginal – realizada no período ovulatório, avalia a presença e o grau de maturidade dos
folículos ovarianos e a espessura da mucosa endometrial;
• Histerossalpingografia – radiografia de contaste, útil na avaliação anatômica do útero e das trompas, visando
detectar a existência de obstruções tubárias ou outras anomalias;
• Histeroscopia – visualização da cavidade interna do útero para afastar a presença de sinéquias (cicatrizes)
pós curetagem uterina, ou ainda a presença de pólipos endometriais e miomas submucosos, assim como uma
possível endometriose que dificultaria a implantação embrionária;
• Laparoscopia – investiga a cavidade pélvica afastando a presença de aderências pélvicas, endometriose,
obstrução das trompas, má formação uterina, mioma e doença inflamatória pélvica.
Kleinman (1988) acredita que a “apreciação dos costumes (e tabus) sociais e culturais, e um conhecimento da
fisiologia e patologia da reprodução são as principa is exigências” a ter antes de se tomar qualquer decisão
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acerca da existência ou não de infertil idade. Pois muitas vezes são os factores psicológicos, bem como
sentimentos pessimistas que conduzem a um estado de stress que dificulta a concepção de uma gravidez.
1.5. Tratamento
O Tratamento da Infertil i dade depende da causa que a origina, ou seja, se esta depende apenas da mulher ou
do homem, se é mista ou então se não existe uma causa aparente. Após a realização de exames para ava l iação
e investigação da causa da Infertilidade o médico deverá informar o casal das diversas possibilidades
terapêuticas, directamente dirigidas ao factor identificado como a causa da infertil idade.
Segundo Tiago (2004), existem vários factores prognósticos no tratamento para a infertilidade, entre os quais:
• A Infertilidade da mulher, visto que é o factor mais importante para o sucesso dos tratamentos e que após os 40
anos existe uma diminuição significativa da fertilidade da mulher;
• O tempo de Infertilidade, o prognóstico será mais positivo quanto menor o tempo de infertilidade, ou seja, é
melhor quando existe a infertilidade há menos de 3 anos, principalmente nos casais com infertilidade sem causa
aparente;
• Infertilidade secundária, são os casos de melhor prognóstico considerando como possível outra gravidez uma
vez que anteriormente já ocorreu uma concepção.
No entanto podem surgir complicações a nível masculino e feminino que podem impedir que ocorra a concepção.
No caso do Homem podem surgir situações que impedem a concepção ou a fertilidade do mesmo, na sua maioria
estas situações possuem solução cirúrgica. O varicocelo constitui uma situação que pode provocar Infertilidade
no homem sendo necessário proceder à laqueação de alguns vasos sanguíneos no pénis, o que possibilitou um
aumento significativo no sucesso da concepção.
Segundo Sérgio, Coutinho e Marques, 2002 no caso de hipogonadismo masculino o tratamento corresponde a
hormonoterapia substitutiva em casos primários e a estimulação gonádica em casos secundários, podendo
também estar indicada a cirurgia. Ainda de acordo estes autores, no caso de critorquidia o tratamento
comporta uma fase em que é cumprida a medicação hormonal através da gonadotropina coriónica humana e
uma segunda fase em que são recolocados os testículos nas bolsas, designando-se de orquidopexia. Caso este
tipo de tratamento não apresente resultados positivos ao fim de 4 anos de esforços verifica-se a possibilidade
de alterações na espermatogénese ou a ocorrência de uma degenerescência cancerosa.
No caso da mulher a Inferti l idade pode ter cauda ovula tória quando ocorrem distúrbios na ovulação, pode ter
uma causa tubar quando existe um funcionamento inadequado ou obstrução das trompas de Falópio causada por
a lterações anatómicas, infecção, endometriose ou aderências, pode ter também uma causa uterina quando
ocorrem alterações anatómicas do útero como septos, miomas, pólipos endometria is e infecções uterinas ou
a inda causas não aparentes como os distúrbios psicológicos. Na sua maioria estes problemas podem ser
tratados através de medicação hormonal, no entanto, outros necessitam de meios de reprodução assistida para
que seja possível originar a concepção.
a) Indução da ovulação
Segundo Tiago, 2004 esta técnica é utilizada quando são detectadas anomalias ao nível da ovulação, consiste
na estimulação da ovulação utilizando um ou vários tratamentos hormonais.
Segundo Berkow (2003), o fármaco escolhido para a indução da ovulação é seleccionado de acordo com o
problema específico. No caso de uma mulher com uma anovulação crónica o fármaco seleccionado é o
Clomifeno. No início, a menstruação será induzida com outro fármaco, o acetato de medroxiprogesterona.
Seguidamente a mulher efectua a toma do Clomifeno durante 5 dias e geralmente ela ovula, 5 a 10 dias após a
interrupção da toma, e menstrua 14 a 16 dias após a ovulação. Se após a realização deste tratamento a mulher
não menstruar deverá efectuar o teste de gravidez, caso este não seja positivo as doses subsequentes de
Clomifeno deverão ser crescentes até que a ovulação ocorra ou até que a dose máxima seja alcançada. Este ciclo
de tratamento deverá ser repetido durante 6 vezes, no mínimo, utilizando a dose que o médico determina como
indutora da ovulação.
De acordo com Berkow (2003), cerca de 75 a 80% das mulheres que procedem a este tratamento ovulam embora
somente 40 a 50% engravidem. Das gravidezes desencadeadas com a util i zação deste método 5% são
múltiplas, sobretudo gemelares. Relativamente ao uso prolongado do Clomifeno existe a preocupação de que
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este poderá aumentar o risco de desenvolver o cancro do ovário e como tal o médico deverá tomar as devidas
precauções avaliando e acompanhando a mulher antes, durante e após este tratamento. Este tipo de
tratamento tem como principais efeitos secundários a distensão abdominal, a dor nas mamas, naúseas,
distúrbios visuais e cefaleias.
De um modo geral, aproximadamente 5% das mulheres tratadas com Clomifeno desenvolvem a síndrome de
h iperestimulação ovárica, no qual os ovários aumentam de tamanho e uma grande quantidade de liquido
passa da corrente sanguínea para o interior da cavidade abdominal. Segundo Tiago, 2004 para evitar este
acontecimento é necessária a realização de controlo laboratoria l e ecográfico da função ovárica, visto que o
tratamento deverá ser imediatamente suspenso caso seja detectado algum distúrbio.
De acordo com Tiago, 2004 quando após a realização do tratamento com Clomifeno a mulher não engravida
poderá ser uma opção a treapia hormonal com gonadotropinas menopáusicas humanas. Este tratamento é caro
e provoca efeitos colatera is graves sendo desaconselhado o seu uso até que a certeza de que a causa da
Infertil idade é um distúrbio da ovulação e não um problema das trompas de Fa lópio ou relacionado com os
espermatozóides.
Segundo Tiago (2004) procede-se à injecção dessas hormonas no músculo estimulando assim a maturação dos
folículos ováricos. Como forma de controlar a maturação realiza-se uma ultrasonografia pélvica que
possibilita determinar a concentração de estradiol. As doses a administrar serão ajustadas consoante a
resposta da mulher às hormonas. Após o amadurecimento dos folículos é administrada outra hormona
diferente, a gonadotropina coriónica humana de modo a que se desencadeie a ovulação.
Segundo Tiago (2004) dentro de uma percentagem de 95% de mulheres que ovulam com esse tratamento apenas
50 a 75% delas engravidam originando 10 a 30% de gestações múltiplas, na sua maioria gemelares. Em cerca
de 10 a 20% das mulheres submetidas a este tratamento podem sofrer uma hiperestimulação ovárica,
tornando-se imprescindível que esta síndrome seja evitada sendo controlada pelo médico visto que nos casos
mais graves pode ser leta l.
De acordo com Tiago (2004) existe ainda outro tipo de situações em que a ovulação não ocorre devido à
ausência de secreção de gonadotropinas pelo hipotá lamo, essas são muito importantes para que decorra a
ovulação. Neste tipo de casos é administrada à mulher uma forma sintética da hormona de modo a induzir a
ovulação. Nesta situação o caso de hiperestimulação ovárica é baixo e consequentemente o controlo intensivo
não é necessário.
Segundo Tiago, 2004 a técnica de indução da ovulação constitui uma importante etapa da Inseminação
Artificia l e da Fertilização in Vitro.
b) Inseminação Artificial
Segundo Ronald e Kleinman, 1988 a inseminação artif icia l constitui um tratamento eficaz da Infertilidade
devida a factores que provocam Infertil idade no marido ou no parceiro masculino embora não se limite a estas
situações. De acordo com Tiago, 2004 esta técnica consiste na injecção de espermatozóides vivos dentro do
útero, no momento após a ovulação. Esta técnica tem como principais indicações a azoospermia e a
oligospermia severas, distúrbios da ovulação (neste casos e procede-se inicia lmente à indução da ovulação e
procede-se posteriormente à inseminação), a incompatibilidade entre os espermatozóides e o muco cervical e
em casos de endometriose que provoca a leve obstrução das trompas de Fa lópio. Embora seja utilizada em
todas as situações referidas anteriormente esta técnica tem a sua principal utilização em casos em que a
Infertil idade não tem causa aparente ou determinada.
Nos casos em que existe infertilidade masculina existem bancos de esperma aos quais é possível recorrer.
Ronald e Kleinman, 1988 indicam-nos que os dadores de esperma devem ser seleccionados entre homens
saudáveis, com fertil idade comprovada e com alta densidade e motilidade de espermatozóides devendo ser
submetidos a análises e a testes relativos ao HIV, citomegalovírus, Hepatite B e doenças hereditárias. Os
dadores são seleccionados de acordo com as características físicas ta is como a postura, a altura, a cor dos
olhos, a cor dos cabelos, devendo estas assemelha r-se o mais possível das características do marido. A
identificação do dador é desconhecida, como é óbvio, e a selecção deverá ser realizada por um técnico
especia lizado. Neste tipo de técnica é essencia l que as responsabilidades do dador em relação à criança
resultante sejam renunciadas. O sémen que foi doado será mantido congelado durante cerca de 3 a 6 meses sendo
este o período de tempo em que pode ocorrer uma sero-conversão sendo assim possível evitar o contágio de
patologias como o HIV. O sémen fresco apresenta mais riscos do que o congelado apesar deste último não
produzir efeitos tão favoráveis, este tipo de escolha cabe há mulher visto que o sémen fresco contém uma
maior percentagem de risco para a mulher e para o feto.
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Segundo Dickason et al. (19??) “as inseminações artificiais utilizando o esperma de um dador levantam questões
éticas, legais e morais, no entanto foram estabelecidas mais garantis que possibilitam a protecção do dador”.
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Quantas vezes na nossa vida não ouvimos a célebre frase “um homem não chora”? Apesar do homem poder estar
a sentir as mesmas frustrações e desilusões que a mulher, muitas vezes sentem que têm que ser o elemento forte,
ou podem estar tão habituados a guardar os seus sentimentos, que não identificam o que sentem e não
reconhecem que podem pedir ajuda.
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Aqui, surgem sentimentos de frustração, raiva, negação, culpa, auto-miseração, ciúme, vergonha, perda da
feminilidade/masculinidade. É também nesta altura que surgem os primeiros desentendimentos entre o casal.
b) Avaliação e diagnóstico
Segundo Childbirthsolutions (2003), durante esta fase, os casais procuram uma resposta para a sua
impossibilidade de conceber, recorrendo muitas vezes à ajuda de um médico ou especia lista. Apesar de ser uma
a ltura invasiva, stressante e dispendiosa, dá ao casal uma nova esperança de encontrar uma solução.
De acordo com o mesmo autor nesta fase são comuns sensações como:
• Perda de controlo: o casal vê a sua vida controlada pelos médicos e testes;
• Falta de privacidade devido à natureza invasiva dos testes;
• Raiva e desapontamento contra o próprio corpo, o indivíduo questiona-se: “porquê eu?”, “o que fiz para merecer
isto?”;
• Surgem ressentimentos. A mulher não consegue evitar olhar para todos os bebés e grávidas que vê na rua, sem
ressentimento por estas não terem tido que passar por todas as dificuldades que ela está passando para
conceber;
• Na sexualidade pode diminuir a espontaneidade e prazer, dado que foi substituída por técnicas e
monitorizações, não só pelo casal mas pelo médico;
• Sente-se uma necessidade de manter o problema em segredo. Há uma grande dificuldade e vergonha em explicar o
problema aos outros, por vergonha, medo de não se compreendido ou por ser um assunto doloroso para quem o
vive, o que pode resultar em isolamento dos amigos e família;
• Há sentimentos de falta de compreensão por parte daqueles que supostamente não sabem aquilo pelo que está a
passar. Os conselhos e opiniões dos outros podem ser ressentidos;
• Há sentimentos de choque, e alivio quando se chega a um diagnóstico.
c) Tratamento
Por esta a ltura, a maioria dos casais sente que a infertilidade está a dominar a sua vida. A liberdade e
espontaneidade parecem ser uma coisa do passado.
Esta é uma fase difícil, em que o casal se sente exausto e frustrado com as exigências do tratamento. Podem
sentir-se isolados e incapazes de comunicar, ressentindo-se um contra o outro. O casal enfrenta melhor o stress
do tratamento quando conhece as possibilidades de êxito e tem consciência de que este pode fal har e que não
pode ser mantido indefinidamente. Nesta fase o aconselhamento e suporte psicológico são muito importantes.
Segundo Women’s Health Interactive (2000), alguns sentimentos do que o casal sente nesta fase são:
• Raiva, por a infertilidade ser uma presença constante na sua vida;
• Frustração devido aos tratamentos que não dão garantias de obter uma gravidez, e envolvem elevados
dispêndios de tempo, dinheiro, energia;
• Stress emocional, podendo acarretar choro, ansiedade, distúrbios do sono e da alimentação e dificuldades de
concentração;
• Percepção da actividade sexual como uma tarefa, que está rodeada de sentimentos e emoções negativas;
• Sensação de estarem a ser victimizados pelos médicos, tecnologia, e medicação;
• Ressentimento contra o parceiro, a família e os amigos;
• Desejo de poder controlar a sua vida;
• Frustração pelo futuro ser incerto, o que leva à impossibilidade de fazer planos a curto e longo termo;
• Auto-punição e culpabilização, que leva a pessoa a pensar que talvez não mereça ter uma criança;
• Curiosidade e necessidade de saber tudo acerca da infertilidade, causas e tratamento, custos, taxas de sucesso,
levando a uma incansável pesquisa;
• Aparecimento de sintomas da gravidez, resultado do grande desejo de querer engravidar;
• Depressão devido ao cansaço de tentar.
d) Resolução e aceitação
Segundo a Childbirthsolutions (2003), esta fase corresponde à aceitação e constitui uma enorme realização. Esta
é uma altura em que se reorganizam as prioridades e objectivos de vida. Nem todos os casais conseguem chegar
a esta fase, sendo frequentes as separações em fases anteriores. Nesta a ltura os casais podem experienciar os
seguintes sentimentos:
• Aceitação e percepção de que não somos omnipotentes perante a vida;
• Maior aproximação entre os parceiros;
• Desejo de retomar à vida normal;
• Alivio por não ter de se sujeitar a mais tensões emocionais, físicas e financeiras;
• Maior habilidade de empatizar com os problemas de outras pessoas;
• Percepção de que boas coisas podem vir de más experiências e de que a vida pode ser gratificante mesmo que não
se atinjam todos os objectivos desejados;
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• Consideração de outras opções como a adopção.
Esta é a fase na qual, passado algum tempo, um ou ambos os membros do casal pensam na perspectiva da
adopção, ou pensam em a lternativas para constituir uma proveitosa e produtiva relação conjugal sem
crianças.
No entanto, qualquer que seja a solução escolhida pelo casal, é importante, que esta crise tenha ficado
resolvida, e que o casal através desta experiência tenh a ganho novas forças, sentindo-se unido, e em acordo.
3 - PAPEL DO ENFERMEIRO
O enfermeiro faz parte de uma equipa multidisciplinar de saúde, que em conjunto com os outros elementos,
desenvolve um trabalho essencia l no tratamento e aconselhamento de casais inférteis. Assim, tem como papel
principal, ava l iar dados relevantes através da entrevista e do exame físico, ou seja, fazer uma colheita de
dados, tendo sempre em consideração os dados sobre a religião, cultura e etnia, que são de extrema
importância.
Aquando da realização da entrevista, o enfermeiro deve desenvolver a capacidade de escuta, dado que
“Escutar é constatar, através do sistema auditivo estimulado, mas é também aceitar o facto de se deixar impregnar pelo
conjunto das suas percepções externas e internas. Escutar é portanto um processo activo e voluntário” (Lazure, 1994, p.
15) De acordo com o mesmo autor, o enfermeiro deve ser empático, afastando de si as suas preocupações
pessoais, possuindo a capacidade de se inteirar da situação do casal, mantendo sempre presente que a
vivência pertence na sua tota l idade ao casal.
De igual modo, o enfermeiro deverá possuir a capacidade de ser congruente consigo próprio e com o casal, pois
só assim existe um equilíbrio dinâmico entre o que ele vive, o que ele viveu e o que ele sente, traduzindo-se
conscientemente no seu comportamento, ou seja, para ser capaz de lidar confortavelmente com a sexualidade do
casal, o enfermeiro deve sentir-se bem com a sua própria sexualidade. Devem assim ter conhecimento
actualizado acerca das práticas sexuais humanas, serem capazes de aceitar preferências e actividades dos
outros sem juízos de valor, ter conhecimento das tendências socioculturais e rel igiosas dos casais. Assim, os
enfermeiros podem auxiliar mais eficazmente os casais a compreenderem porque é que as relações sexua is,
mesmo sendo um acto privado, necessitam ser partil h adas com o pessoal de saúde (Bobak, Lowdermilk, &
Jensen, 1999).
O enfermeiro deve estar capacitado para desenvolver um plano de cuidados adequado ao casal com
infertil idade. Segundo Bobak, Lowdermilk e Jensen (1999) pretende-se que o casal:
Compreenda a anatomia e fisiologia dos sistemas reprodutores;
• Verbalize compreensão sobre o tratamento de qualquer anomalia identificada através dos diferentes exames;
• Verbalize compreensão da sua capacidade potencial em conceber;
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• Resolva os sentimentos de culpa e não necessite de atribuir culpas;
• Conceba, ou quando tal não é possível, decida uma alternativa que ambos aceitem;
• Demonstre aceitação dos métodos para contornar a pressão que podem sentir em relação aos seus pares e
parentes por causa de não terem filhos.
Embora a responsabilidade do ensino seja do principal prestador de cuidados, o enfermeiro deverá auxilia r na
identificação dos défices de conhecimento, clarif icando informações e reforçando explicações e instruções.
Deverá ter uma atitude e comportamentos calmos, de modo a transmitir confiança e segurança ao casal antes e
durante os procedimentos necessários aos exames, ta is como:
• facultar a privacidade enquanto esclarece sobre a obtenção de espécimes e mudança de roupas;
• encorajar a mulher a urinar;
• criar um ambiente físico confortável;
• fornecer os instrumentos de mesa de exame;
• aquecer o especulo e instruir em relação ao relaxamento.
Seguidamente, o enfermeiro deverá fornecer informações acerca de futuros exames, de forma a ajudar o casa l a
ter uma atitude mais calma, mais confiante e menos angustiante (Bobak, Lowdermilk, & Jensen, 1999).
Os cuidados de enfermagem têm como objectivo encorajar o casal a empenhar-se activamente nos cuidados a
que são sujeitos, bem como a estabelecer uma comunicação que assegure que o tratamento e aconselhamento são
facil itados. O enfermeiro deverá estar capacitado para responder às questões do casal e confirmar a sua
compreensão. Deverá, igua lmente, ser capaz de informar o casal das possíveis organizações nacionais de
apoio a casais inférteis, permitindo, desta forma, que possam a eles recorrer em caso de ser esse o seu desejo.
III – Conclusões
Após a realização deste trabal ho, foi-nos possível constatar que a infertilidade se deve a causas físicas e
psicológicas. As suas consequências provocam um desequilíbrio psicológico, quer no homem, quer na mulher, que
pode vir a destruir a harmonia do casal.
No entanto, é importante referir que cada indivíduo vivencia esta situação de modo diferente. Existem casais
que procuram incessantemente engravidar e quando não conseguem atingir esse objectivo, caem numa frustração
profunda., Outros optam por recorrer a técnicas de reprodução medicamente assistidas, as quais possuem
resultados bastante positivos. Há a inda casais que se, após várias tentativas frustradas de concepção,
manifestarem um elevado desejo de ter um fil ho, optam por outras alternativas, tais como a adopção ou um
estilo de vida sem fil hos.
Perante a infertilidade, o enfermeiro tem um papel crucial, uma vez que pode prestar apoio emocional ao
casal, assim como transmitir-l he a informação necessária, que possibilita a redução da sua ansiedade e
angústia.
IV – Bibliografia
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Ziegel, E., & Cranley, M. (1985). Enfermagem Obstétrica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara.
Anexos
Anexo 1 – Instituições de Apoio ao Casal Infértil
• Serviço Nacional de Saúde:
! Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães. Telef.: 253 512 612
! Hospital São João, Porto. Telef.: 225 512 100
! Centro Hospital de Vila Nova de Gaia. Telef.: 223 795 051
! Hospitais da Universidade de Coimbra Telef.:239 400 400
! Hospital de Santa Maria. Telef.: 217 901 256
! Maternidade Alfredo da Costa. Telef.: 213 184 000
• Centros Privados:
! Centro de Estudos de Infertilidade e Esterilidade, Porto. Telef.: 226 062 160
! Centro de Estudo e tratamento da Infertilidade, Porto. Telef.: 226 076 530
! Centro de Genética da Reprodução Prof. A. Barros, Porto. Telef.: 225 500 477
! Ferticentro, Coimbra. Telef.: 239 497 280
! Ava Clinic, Lisboa. Telef.: 213 245 000
! Centro de Medicina Reprodução, Lisboa. Telef.: 217 213 482
! Cemeare, Lisboa. Telef.: 217 801 072
! Clifer, Lisboa. Telef.: 217 160 735
! Clindingo, Lisboa. Telef.: 213 582 754
! Clínica Médica Gerações Mulher e Criança, Lisboa. Telef.: 213 583 910
! Imoclínica, Lisboa. Telef.: 217 800 157 (in Amorim & Lamúrias, 2004, p.18)
• Linha Informativa:
! Linha Verde da Infertilidade. Telef.: 800 200 191
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«Afonso e Francisco têm seis anos e um ar de traquinas próprio a descobrir as maravilhas da vida. “O que é ser gémeo? É que lá
na escola todos nos tratam por gémeos”, perguntaram um dia destes aos pais. Mesmo que soubessem o significado da palavra,
não admiraria a confusão, já que Afonso e Francisco são “gémeos falsos” e , por isso, pouco parecidos. Os pais, Paula e Mário
Sousa, explicaram-lhes que tinham nascido no mesmo dia e guardaram para mais tarde o resto da história.
Corria o ano de 1993, Paula e Mário tinham casado em Setembro e três meses depois começaram a pensar ter filhos. “Deixei de
tomar a pílula, mas sem pressas”, conta Paula. Os estudos, os empregos e outras ocupações da vida não deixaram que a
maternidade se tornasse uma obsessão e só passados três anos o casal decidiu consultar um especialista de infertilidade, Calhaz
Jorge. Dirigiram-se logo a uma clínica privada, uma vez que tinham “ouvido falar em dois anos e tal de espera” nos serviços
públicos. Na altura, Paula tinha 30 anos.
Depois de muitos exames, chegou-se à conclusão que os dois tinham problemas de fertilidade – algo muito natural hoje em dia.
Paula descobriu que tinha um problema no útero, ao nível do relevo e das dimensões, que impedia o óvulo de seguir o seu
caminho para ser fecundado. Mário ficou a saber que os seus espermatozóides tinham mobilidade reduzida. Nada de muito
grave, mas o suficiente para impedir o sonho deste casal. Optou-se por fazer uma fertilização in vitro. Depois da transferência
de embriões para o útero é preciso esperar quinze dias para saber se há ou não gravidez.. “Foi a pior parte. Tive todos os
sintomas da gravidez, mas não sabia se eram verdadeiros ou psicológicos, por causa da ansiedade”, recorda Paula. Só podiam
ser verdadeiros, pois, após quinze dias, confirmou que estava grávida. A alegria foi, como se imagina, imensa. Mas na ecografia
a alegria redobrou. “Ó diabo!”, lembra-se Paula de ouvir o médico dizer. Aflita perguntou o que se passava, mas a resposta
acalmou-a: “São gémeos!.” Apesar de nunca ter pensado em ter gémeos, sabia que tal seria possível uma vez que lhe tinham sido
implantados dois embriões. E, assim, já nem pensa em recorrer a novo tratamento. A gravidez correru normalmente e Afonso e
Francisco nasceram no dia 27 de Dezembro de 1997, de parto normal. Esta será a história que os pais vão contar-lhes um dia
destes.» (Amorim & Lamúrias, 2004, pp. 25-26)
FIM
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Gravidez e Pré-Eclâmpsia
Trabalho elaborado por:
Bernardina Varela; Catarina Santos; Dora Sequeira; Teresa Vieira
“Enquanto para umas (crianças nascerem) a
estrada em que elas têm que viajar é
tranquila e fácil, para outras, está repleta de
obstáculos...”. (Varela, Santos, Sequeira, & Vieira,
2004)
Agradecimentos
À Dra C eleste Duque pela sua disponibilidade
e colaboração, assim como à Enf.ª Lurdes
Tiago pelas informações dispensadas,
permitindo o enriquecimento deste trabalho.
I – Introdução
No contexto sócio-cultural em que vivemos, a gravidez reveste-se de uma importância suprema. Isto justif ica-
se, por um cada vez menor número de casamentos, pela emancipação da mulher, pela importância atribuída
aos estudos académicos, entre outros factores, condicionantes da taxa de natal idade.
Um elevado número de casa is num determinado momento da sua vida decidem ter um fil ho. Para a
concretização deste desejo tão especial, a vinda do seu “rebento” tão precioso é planeada ao pormenor.
Melhoram-se as condições h abitacionais, vivenciam-se novos sentimentos de expectativa, de fantasia do seu
fil ho tão desejado, sendo também necessário, que ocorra uma reestruturação/reorganização familiar.
Assim numa gravidez aparentemente normal, tudo parece “conspirar” para a chegada do novo elemento da
família quando tudo parece perfeito, eis que surgem as complicações da gravidez que poderão pôr em risco não
só a vida materna como também a feta l.
A pré-eclâmpsia é uma das patologias que me põem em risco todo este projecto que inicia lmente parece tão
sólido, perfeito, apesar de revestido da insegurança característica de todos os intervenientes na concepção do
novo ser.
Deste modo para um entendimento mais completo e abrangente desta temática procedeu-se na elaboração
deste trabal ho à descrição da fisiopatologia.
Os factores de risco envolvidos na gestação são inúmeros, entre os quais se destacam os factores genéticos,
primiparidade, desnutrição, obesidade, entre outros. A sintomatologia, edemas, hipertensão arteria l (HTA)
e proteinúria é muito desgastante e penosa tanto para a mãe como para o feto.
A prevenção é difícil e o tratamento consiste em atenuar os sinais e sintomas, no mínimo, até às 36 semanas de
gestação, altura em que se pode provocar o parto. O tratamento eficaz só é possível após o nascimento do feto.
Os aspectos psicológicos com pré-eclâmpsia na grávida são complexos, a ansiedade eleva a tensão e os
conhecimentos acerca desta patologia aumentam a inda mais a ansiedade, forma-se o chamado “ciclo
vicioso”.
Este trabal ho foi realizado no âmbito da disciplina de Psicologia V, 3º ano, 1º semestre, solicitado e
orientado pela docente Celeste Duque. A escolha deste tema justif ica-se na referida disciplina, uma vez que o
casal afectado por esta patologia, fica emocionalmente fragilizado, sendo necessário compreender o que se
passa no seu interior, seus conflitos e dilemas.
A elaboração deste trabal ho tem como objectivo geral conhecer de toda a fisiopatologia envolvente na
grávida com pré-eclâmpsia e suas repercussões psicológicas.
Para atingir este objectivo geral definiram-se os seguintes objectivos específicos:
• Identificar possíveis causas de pré-eclâmpsia
• Apresentar sinais, sintomas e principais factores de risco desta patologia;
• Reconhecer os principais sistemas de classificação da pré-eclâmpsia;
• Tentar compreender os aspectos psicológicos envolventes no casal afectado pela pré-eclâmpsia.
A metodologia utilizada no respectivo trabal ho foi de pesquisa bibliográfica e on line. Foi também usado o
método de entrevista informal.
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II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1 – FISIOPATOLOGIA
Pré-eclâmpsia pode definir-se como uma condição específica da gravidez, na qual a hipertensão se
desenvolve após 20 semanas de gestação numa mulher grávida, previamente normotensa.
O desenvolvimento de pré-eclâmpsia instala-se na presença óbvia de uma causa, porém nesta patologia em
concreto, não existe uma causa conhecida que justifique a sua manifestação. No entanto existem algumas
teorias que tentam explicar a causa da pré-eclâmpsia, embora não tenham sido provadas cientificamente.
Podem considerar-se como sendo suposições/hipóteses explicativas da origem/causa deste "fenómeno".
Uma das teorias, que nos parece plausível defende que a pré-eclâmpsia resulta de algum tipo de auto-
imunidade, ou de alergia, na mãe, em decorrência da presença do feto, tendo como apoio o facto de que alguns
dias após o parto, os sintomas desapareçam. Outra teoria que tenta provar o desenvolvimento da pré-
eclâmpsia sustenta que a mesma é causada pela secreção excessiva de hormonas placentárias, no entanto
a inda não se encontrou nenhuma prova de base hormonal.
Esta resposta anormal às hormonas surge na 20ª semana porque nas mulheres que desenvolvem pré-eclâmpsia
não se dá a segunda parte da formação da placenta, que se completa por volta das 20 semanas.
Segundo Guyton e Ha ll (2002) cerca de 4% de todas as mulheres grávidas têm rápida elevação da tensão
arteria l para valores patológicos nos últimos meses da gravidez. Essa elevação associa-se à perda de grandes
quantidades de proteínas na urina.
Existe uma retenção excessiva de sal e de água pelos rins maternos, que se traduz num aumento de peso e
desenvolvimento de edema, e ainda de hipertensão na mãe. Tanto o fluxo sanguíneo renal como a filtração
glomerular estão diminuídos (numa grávida normal estão aumentados).
Para além disso ocorre vasospasmo arteria l em muitas partes do corpo da mãe, sendo os órgãos mais afectados
os rins, cérebro e fígado.
A manifestação mais relevante em todo o processo de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, consiste na redução do fluxo
sanguíneo útero-placentário, precedente da hipertensão.
Eclâmpsia é o diagnóstico dado às pacientes que têm convulsões tónico clónicas, seguidas de uma situação de
coma, devido à pré-eclâmpsia. Porém este sintoma não deve ser considerado como o único elemento de
diagnóstico da presença da doença, até porque as grávidas fazem medicação anti-convulsivante para prevenir
a sua manifestação. Caracteriza-se, portanto ainda por espasmo vascular extremo em todo o corpo, acentuada
redução do débito renal, disfunção hepática, hipertensão frequentemente extrema e condição tóxica
generalizada do corpo. É considerada uma das formas mais severas da pré-eclâmpsia, em que cerca de 1% das
pacientes com pré-eclâmpsia, têm eclâmpsia (Frederickson, Wilkins-Haug, 2000; Op cit. Day2000).
A eclâmpsia refere-se portanto por ser um grau extremo dos mesmos efeitos observados na pré-eclâmpsia.
1.1. Sintomatologia
As alterações fisiológicas que se fazem sentir na gravidez, são consideradas mecanismos de adaptação do
organismo feminino a uma nova situação, estas poderão de certa forma condicionar o desenvolvimento da pré-
eclâmpsia/eclâmpsia. Aba ixo procede-se a uma descrição sintética e de âmbito mais específico, acerca das
modificações sofridas.
Segundo Graça (1996), são vários os níveis de intervenção destas alterações.
A nível cardiovascular, estas adaptações causam um aumento do volume de plasma, vasodilatação,
diminuição da resistência vascular sistémica, elevação do débito cardíaco, aumento do consumo de Oxigénio,
edema fisiológico relacionado com diminuição da pressão osmótica coloidal do plasma e aumento da pressão
h idrostática dos capilares venosos.
Relativamente às alterações hematológicas que se fazem sentir, caracterizam-se pelo aumento dos factores de
coagulação, havendo predisposição para a coagulação intravascular disseminada e formação de trombos;
ocorre também um decréscimo de albumina que provoca diminuição da pressão coloidal e osmótica havendo
predisposição para edema pulmonar.
A tríade sintomática característica da pré-eclâmpsia manifesta-se por hipertensão arterial, edema e proteinúria.
Assim, os sinais característicos, hipertensão e proteinúria, resultam do aumento da perfusão renal. Estes
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ocorrem devido à tentativa de controlar o volume de sangue que perfunde o rim, inicia-se um vasospasmo renal
(mecanismo de defesa), que eventualmente resulta em proteinúria e hipertensão.
Constata-se ainda, que na pré-eclâmpsia, se verifica uma diminuição do volume de plasma circulante,
originando hemoconcentração e aumento do hematócrito materno. Estas alterações levam a uma diminuição
da perfusão dos órgãos maternos, incluindo o útero, placenta e feto. A isquémia leva ao envelhecimento
prematuro da placenta, afectando a oxigenação, nutrição e crescimento, retardando o desenvolvimento
intrauterino e podendo provocar morte feta l. As alterações dos vasos do leito placentário, são também
responsáveis pela ocorrência de descolamento prematuro da placenta na pré-eclâmpsia. Esta pode ainda
levar ao aparecimento de enfartes e outras alterações degenerativas no feto. Os vasospasmos cíclicos agravam
a inda mais a diminuição da perfusão nos órgãos, através da destruição dos eritrócitos, o que diminui a
capacidade de oxigenação materna. (Graça, 1996)
Para além destes danos, os vasospasmos podem ainda contribuir para o aumento da permeabilidade capila r, o
que provoca um aumento do edema, favorece a diminuição do volume intravascular, predispondo assim a
doente a edema pulmonar.
A nível hepático as alterações são ligeiras, dando-se o aumento das transaminases e diminuição da síntese
proteica, excepto em casos de síndrome de HELLP. Morfologicamente verif icam-se hemorragias na periferi a
dos espaços portas chegando, em situações mais graves, a ocorrer hemorragias que se manifestam por
epigastralgias. (Vieira, 2004)
O Sistema Nervoso Central pode ser sujeito a um aumento súbito da perfusão sanguínea, a edemas, a trombose
e a hemorragias, sendo estes os responsáveis pela maioria das mortes maternas.
Sem o acompanhamento e consecutivo controlo, ocorre um agravamento/evolução da pré-eclâmpsia,
sequencia l, começando por ser moderada podendo atingir o seu estado mais grave (Bobak, et al., 1995).
Para além dos referidos sintomas a grávida pode ainda apresentar um quadro clínico que envolve, cefaleias
frontais, perturbações visuais, náuseas e vómitos, h iperactividade reflexa. Todavia poderão verificar-se
casos assintomáticos.
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de urina 24 horas a concentração de 0,3gr/L é tida como referência para indicar proteinúria A urina de 24 horas é
um exame mais fidedigno do que uma única amostra. O corrimento vaginal contamina a amostra e pode dar falsos
resultados. A urina pode estar mais concentrada, com pequeno volume quando a pré-eclâmpsia se agrava (Mendes,
1991).
A intensidade de proteinúria não implica o agravamento da situação clínica.
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Quadro 1
Classificação da HTA na gravidez proposta pela Comissão de Terminologia do Colégio Americano de Obstetras e
Ginecologistas (1972) (adaptado de Friedman et al., p. 10)
HTA gestacional
Hipertensão da 2ª metade da gravidez ou das primeiras 24horas pós-parto, sem outros sinais de Pré-eclâmpsia.
Pré-eclâmpsia/Eclâmpsia
Moderada
- Pressão arterial diastólica ! 90 mmHg e <110mmHg
Ou Pressão arterial média ! 105mmHg e <130mmHg
- Proteinúria de 24 h < 3,0 g/L ou
Proteinúria ocasional "++
Grave
Presença de qualquer um destes critérios:
- Pressão arterial diastólica ! 110 mmHg ou
- Pressão sistólica >160 mmHg em 2 ocasiões com pelo menos 6h de intervalo com a grávida em repouso no leito
- Proteinúria de 24h ! 3,0 g/L ou
- Proteinúria > ++ em 2 amostras ocasionais com 4horas de intervalo
- Oligúria ( < 400 ml/24h)
- Perturbações visuais ou do Sistema Nervoso Central
- Epigastralgias
- Edema pulmonar ou cianose
- Trombocitopénia
Eclâmpsia
Qualquer das situações anteriores em que ocorram convulsões (antes ou durante o parto, ou nas primeiras 48 horas
pós-parto)
Síndrome de HELLP
Hemólise
- esquizocitos no sangue periférico
- bilirrubuna total ! 1,2 mg/dl
Enzimas hepáticas elevadas
- LDH 600 UI/l
- TGO 70 UI/l
Trombocitopenia
- plaquetas 100000/mm4
Hipertensão crónica
Hipertensão que ocorre antes da gravidez ou com as primeiras manifestações antes da 20ª semana ou 6 semanas pós
parto.
Hipertensão crónica associada a pré-eclâmpsia/eclâmpsia
Desenvolvimento de Pré-eclâmpsia/eclâmpsia emmulheres com hipertensão crónica
3 - PREVENÇÃO E TRATAMENTO
A pré-eclâmpsia é considerada uma doença, não passível de ser prevenida em todas as circunstâncias.
Considera-se que a mulher cuida da sua saúde, se tiver a preocupação de efectuar a consulta pré-nata l, na qua l
se sinta à vontade para expôr as suas dúvidas e reconhecer as alterações que necessitam de uma vigilância ou
ava l iação médica. Permitindo assim, mais facilmente o diagnóstico antes que a eclâmpsia se instale.
Deve dar-se primordia l importância à vigilância pré-nata l na gravidez, sendo a mesma, essencia l para
melhorar os resultados quer maternos quer perinata is, de forma a identif icar as mulheres de risco, tomando
medidas de educação para a saúde, e melhorando também o acesso aos locais de saúde.
A inexistência de testes de diagnóstico de confiança, faz com que a detecção precoce e posterior tratamento da
pré-eclâmpsia, sejam cada vez mais tardios.
É importante que em todas as consultas se faça uma vigilância de tensão arteria l, proteinúria e peso,
registando-os de forma a permitir uma boa continuidade dos cuidados. A ava l i ação da alteração destes
parâmetros não nos dá um diagnóstico completo, pelo que são utilizadas alguns exames laboratoria is que
permitem aval iar as repercussões noutros órgãos e sistemas. Deve-se ainda questionar a grávida acerca de
a lguns sinais subjectivos, ta is como edemas nas mãos e face, cefaleias ou dor epigástrica (Burroughs, 1995).
O ensinamento a fazer à grávida tem de ter em conta a gravidade dos sintomas, o comprometimento da
grávida, a conduta do médico, para que haja um bom controlo da doença hipertensiva.
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O tratamento resume-se ao repouso no leito, nomeadamente em decúbito lateral esquerdo, pois aumenta o fluxo
sanguíneo, ter uma dieta rica em proteínas e pouco sal, não são aconselháveis o uso de diuréticos ou
h ipertensores (Tiago, 2004).
Normalmente quando a grávida está informada e tem uma orientação cuidadosa não é necessário o
internamento hospita lar, caso a doença esteja controlada. No entanto por vezes é necessária a hospita l ização
para uma observação no sentido de permitir que a gravidez continue até que o feto atinja maturidade e peso
para se possibilitar o parto. No hospita l, o repouso deve ser num quarto silencioso para proporcionar à
grávida um ambiente calmo sem estímulos, reduzindo o risco de convulsão (Burroughs, 1995).
É de salientar a importância do apoio emocional e psicológico a dar à grávida/família para lidarem com a
situação.
A actuação clínica para o tratamento desta patologia é específica, sendo necessário um tratamento adequado
para as diferentes formas de pré-eclâmpsia.
Perante a pré-eclâmpsia moderada, o tratamento mais eficaz tem como objectivo principal “impedir o
agravamento da situação, estabelecer, o mais aproximadamente possível, o tempo da gestação e aval ia r a
maturidade pulmonar do feto” (Graça, 1996, p.599).
Para além dos cuidados gerais a ter, em que todas as grávidas com este quadro sintomático requerem uma
hospita l ização, numa grávida que se encontra na 36ª semana, não há necessidade de prolongar a gestação pelo
que se deve induzir o parto. Com menos de 36 semanas de gestação, e como normalmente na pré-eclâmpsia o
feto tem maturidade pulmonar precoce, deve interromper-se a gravidez no caso de existir maturação feta l e
surgir o agravamento do quadro clínico materno e fetal, ou no caso de existirem sinais de deterioração feta l. Se
não há maturação feta l, e a situação materno-feta l está estabilizada, deve manter-se o internamento para
ava l iação da mãe e feto. Se não houver agravamento a gravidez é mantida.
Na pré-eclâmpsia grave “a profilaxia das convulsões, o controlo da hipertensão e o planeamento do parto”
(Graça, 1996, p. 600) são os pontos de partida.
A profilaxia das convulsões é feita de acordo com os protocolos existentes em cada instituição, ou de acordo
com prescrição médica.
Não se deve proceder à administração repetida de anti- h ipertensores para tentar resolver a situação
patológica, pois a sua utilização não está comprovada na melhoria da situação da grávida ou na prevenção
do aparecimento de convulsões. Assim a sua administração só deve estar reservada para as grávidas com
valores de tensão arteria l muito elevados, quando os mesmos podem levar a uma hemorragia intracraniana.
O uso de fármacos anti- h i pertensivos deve diminuir os valores de tensão arteria l para níveis de menor risco,
sem provocar hipoperfusão do sistema nervoso materno materno, bem como do tecido útero-placentário.
A terapêutica farmacológica protocolada no serviço de obstetrícia do Hospita l Distrita l de Faro é o
Labetalol, que é administrado em bólus endovenoso lento na quantidade de 50mg em cerca de um minuto, ou
numa perfusão de 500 ml de soro fisiológico com cinco ampolas de Labeta lol (500mg), iniciando-se a 20ml/hora
(20mg), duplicando o gotejo de trinta em trinta segundos até a tensão arteria l estabilizar (diastólica de
80/90mmHg) até um máximo de 100ml/hora (Tiago, 2004).
A única cura para a pré-eclâmpsia, é o parto, mas não se deve terminar uma gravidez sem que a gestação esteja
estabilizada, pois aumentaria o risco materno. Mas atrasar o parto por muito mais tempo pode trazer riscos
tanto para a mãe como para o feto.
Segundo Graça (1996), se a grávida tem 34 semanas de gestação, a indução do parto deve ser feita depois do
início da administração dos anti-convulsivantes e quando a tensão arteria l estiver estabilizada.
Caso a pré-eclâmpsia grave se instale no segundo trimestre, então induz-se o parto, pois o tratamento
expectante quando as grávidas ainda estão longe de uma gestação de termo, está ligado a uma taxa de
mortalidade feta l mais elevada, resultando também em sofrimento materno. Se a gestação está entre as 26 e
as 34 semanas deve-se questionar uma atitude conservadora em casos seleccionados.
O tratamento para a eclâmpsia, que é a forma ma is grave da HTA na gravidez, segue o mesmo que o
protocolado para a pré-eclâmpsia grave, associando-se também o tratamento das convulsões, controlo de
h ipertensão e a interrupção da gravidez, assim que a grávida esteja estabilizada, preferindo-se o parto por
via vaginal.
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O síndrome de HELLP, pode apresentar um vasto leque de quadros clínicos, no entanto deve seguir-se o
tratamento de base, e a indução do parto deve surtir efeito nas 6 a 8 horas seguintes, caso contrário recorre-se à
cesariana.
Embora estes sejam os tratamentos de base, cada instituição tem protocolados os quadros de actuação, que
seguem na presença destas situações. O tratamento protocolado no serviço de obstetrícia do Hospita l Distrita l
de Faro, relativamente à HTA induzida pela gravidez (Anexos 1, 2 e 3), tem em conta o tipo de HTA e a
ava l iação materna e feta l.
Depois, na consulta de puerpério, devem ser avaliados a tensão arteria l, peso e fazer o teste de pesquisa de
proteinúria, para se ter conhecimento do estado clínico da mulher.
4.2. Cardiotocografia
Avalia-se primeiramente a frequência cardíaca feta l basal, é consideradsa normal entre 120 e 160 bpm.
Posteriormente são aval ia das as oscilações da linha de base, que definidas como variabilidade são quatro
(Tiago, 2004):
• “lisa: 5 bpm, associada a hipoxia fetal grave e ao uso de drogas depressoras do sistema nervovo central;
• comprimida: entre 5 e 10 bpm e reflecte depressão do sistema nervoso central por drogas ou hipoxia leve estando
também relacionada ao sono fetal;
• ondulatório: variabilidade entre 10 a 25 bpm, sendo considerado o padrão normal;
• saltatório: acima de 25 bpm estando associado à movimentação fetal excessiva e/ou compressão umbilical.”
O resultado do CTG pode ser alterado pelo uso de drogas durante a gestação.
Em estudos que foram rea l izados, provou-se que dos fetos não reactivos apenas 40% estão realmente
comprometidos. Quando os fetos não são reactivos e h iporeactivos, deve solicitar-se o Perfil Biofísico para
completar o diagnóstico.
A cardiotocografia não é um bom método para diagnosticar o sofrimento feta l crónico, no entanto é perfei to
para o rastreamento do sofrimento feta l agudo.
4.3. Dopllerfluxometria
Tem como objectivo o estudo dos vasos uterinos, placentários e feta is. Actualmente é um recurso essencial para
o acompanhamento de patologias que podem levar a insuficiência placentária e alterações vasculares, tendo
a nível da hipertensão grande ocorrência.
De acordo com Tiago (2004) existem:
• Dopller das artérias uterinas – avalia o fluxo materno em direcção à placenta, permitindo diagnosticar
insuficiência placentária. Tem principal importância no primeiro trimestre para instituição de terapêutica
profiláctica (aspirina).
• Dopller da artéria umbilical – avalia o fluxo sanguíneo entre o feto e a placenta; realiza-se a partir da 28ª
semana com intervalos quinzenais, nas situações de insuficiência placentária.
• Estudo da centralização do fluxo fetal – verifica a existência de aumento do fluxo na área cerebral do feto em
associação com a redução do fluxo em áreas periféricas do mesmo. Este mecanismo ocorre quando há
comprometimento da vitalidade fetal para tentar priorizar a oxigenação de áreas nobres fetais (cérebro), em
detrimento das áreas menos nobres à vida intra-uterina (músculos, órgãos abdominais).
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5 – ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Segundo Isabel Leal (1997) actualmente vive-se uma nova contextualização sócio-cultural da reprodução e
nascimento. Cada vez mais, o casal primeiro opta pela procura de condições económico-profissionais ma is
estáveis (entre outros factores condicionantes) e só depois é que surgem os fil h os. Assim sendo, a mais banal
gravidez, é cada vez mais planeada e adiada, tornando-se muito significativa e especial para o casa l,
familiares e própria sociedade
Perante um diagnóstico de gravidez, temos reacções variadas; estas poderão ir desde a euforia à depressão; do
orgulho à raiva; do contentamento aos receios (McIntyre, Carval ho, & Mil h azes; 1997). Estas reacções,
dependem de vários factores como o estado civil, recursos económicos, objectivos de carreira, va lores pessoais e
expectativas em relação à maternidade.
A complexidade do ser humano possibilita a coexistência de diversos sentimentos, a gravidez ao implicar
variadas mudanças (intrapessoais, intrapsíquicas...), va i revestir-se de perdas e ganhos, que por si só
justificam a presença de sentimentos opostos, ambíguos (Maldonato, 1976). Assim, e de acordo também com o
trimestre de gestação, os sentimentos que estão latentes ao processo de adaptação à gravidez, poderão
diferenciar-se.
O primeiro trimestre é um período de adaptação, marcado por um grande desequilíbrio em todos os planos. Se
por um lado a sonolência, a fadiga, vómitos, diminuição da líbido, entre outros, provocam na mulher um ma l-
estar geral; o medo de eventuais traumatismos ao feto que possam levar ao aborto, afectam a mulher
deixando-a ansiosa (Pedro, 1995; op. cit. McIntyre, Carval ho, & Milhazes, 1997).
A ambivalência de sentimentos, poderá estar associada à dúvida entre estar, ou não grávida. “...a a legri a,
apreensão, irrealidade, em alguns casos rejeição...”(Maldonato, 1976, p. 19),. são muito comuns neste primeiro
trimestre de gestação. Também neste período, poderá surgir uma sensação de mal-estar geral, provocada pel as
náuseas e vómitos, sintomas que surgem também sob a influência de factores psicológicos (Caplan 1967; op. cit.
Maldonato, 1976).
A intensidade destes sintomas está relacionada com o grau de tensão emocional (Rosen, 1955; op. cit.
Maldonato, 1976). Segundo Perestrello (1974), ta is sintomas visam obter, inconscientemente, mais cuidados e
carinhos dos circunstantes, principalmente o marido.
Desejos e aversões, aumento de apetite e de peso, bem como, as oscilações de humor e aumento da
sensibilidade, são muito característicos neste trimestre (Maldonato, 1976).
O segundo trimestre, do ponto de vista emocional, é considerado como o mais estável. Do ponto de vista físico,
dão-se grandes alterações de imagem, as quais são vividas pelas grávidas de diferentes formas. Se algumas
mulheres sentem orgulho na exibição de um corpo grávido, outras sentem-se feias e sexualmente incapazes de
atrair alguém (Maldonato, 1976). De acordo com a mesma autora, a depressão e o medo de abandono são muito
comuns nas gestantes neste período, sentem uma maior necessidade de afecto e protecção por parte do seu
companheiro.
É neste período também, que os movimentos feta is se tornam mais perceptíveis para a grávida, atribuindo-
l hes muitas vezes, significados diferentes de acordo com a intensidade e a presença destes movimentos
(Maldonato, 1976). De ta l forma que, se a mãe não sente os movimentos feta is durante um ou dois dias, fica
extremamente ansiosa pela possibilidade de morte do seu bebé.
Estes movimentos constituem também uma forma de comunicação e promovem a relação materno-feta l. É muito
antes do nascimento que a interacção mãe-fil ho se inicia, o estabelecimento deste vínculo, dá começo à vida
emocional do Ser Humano e transporta consequências para o seu desenvolvimento (Duque, 2004).
É também neste trimestre, que o desempenho sexual surge com maior intensidade, por vezes acontece que
a lgumas mulheres experimentam pela primeira vez o orgasmo e se sentem mais adultas. (Maldonato, 1976)
Apesar de tudo o que foi acima referido, este trimestre é um período que na gestação é caracterizado por
relativa tranquilidade e confiança.
O terceiro trimestre, é um período onde a ansiedade se encontra muito presente, relacionada com a
proximidade do parto. Manifesta-se como aguda nos dias que antecedem o parto e intensifica-se mais ainda,
quando a data prevista é ultrapassada. Os mais diversos medos podem surgir; como o medo de morrer no parto,
de ficar com a vagina permanentemente alargada, de não ter leite suficiente, entre outros. Os variados sonhos
e fantasias são o reflexo destes medos constantes. Segundo a mesma autora, expressam o temor universal de ter
um fil ho com alguma deficiência, funcionando como uma forma de orientar a ansiedade e tensões crescentes
com o aproximar da hora do parto.
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A diminuição da líbido, fadiga, idas constantes à casa de banho e o sono constantemente interrompido pela
tentativa de encontrar uma posição confortável (McIntyre, Carval ho, & Milhazes, 1997), entre outros
sintomas, encontram-se muito presentes neste trimestre.
Segundo Maldonato (1976), nesta fase, os sentimentos são contraditórios, manifestando-se o desejo de terminar
a gravidez e ao mesmo tempo que esta seja prolongada, devido à necessidade de fazer novas adaptações
exigidas pela chegada do bebé.
Já no final da gravidez, Prestrello (1974) refere que para a maioria das mulheres o feto deixa de ser um corpo
estranho e passa a ser um ente, a quem a grávida está unida. Eis que então, surge o medo da separação, o medo
de ao dar à luz perder de certa forma o seu fil ho; contudo, a primeira mamada atenua o trauma do nascimento,
da separação mãe-fil ho.
A ansiedade, definida como “reacção emocional evidenciada por manifestações comportamentais latentes ou
manifestas e por alterações fisiológicas relacionadas com o funcionamento endócrino” (Klein, 1964, p. 66; op.
cit. Maldonato, 1976) faz parte integrante do Homem, uma vez que tem a função importante de alertar a
pessoa para enfrentar o agente responsável pela tensão. Assim, vendo a gravidez como um momento de crise,
onde a estabilidade é posta em causa perante a necessidade de adaptação a uma nova condição, que é o
nascimento do bebé, a presença de um certo grau de ansiedade faz parte integrante deste processo de
adaptação. Contudo, quando esta se torna excessiva e a mulher grávida passa ao uso patológico da ansiedade,
poderão daqui decorrer algumas consequências que irão levar a complicações obstétricas fisiopatológicas.
Da patologia, sabe-se que aquando da gravidez, na mulher se verifica um aumento da circulação sanguínea em
cerca de um terço; assim, a mulher grávida com a agravante da ansiedade, poderá a vir sofrer de hipertensão
arteria l no período da gestação.
Se na mulher com uma gravidez de baixo risco, estão presentes constantemente medos e dúvidas, como será
afectada psicologicamente a grávida de alto risco?
Sendo a pré-eclâmpsia uma patologia que ocorre na grávida por volta da vigésima semana de gestação,
manifestada por hipertensão arteria l, edemas e presença de proteinúria; é necessário prestar cuidados
adequados, mantendo os níveis de ansiedade no mínimo.
As mulheres que sofrem de pré-eclâmpsia na gravidez, são mulheres que até à gestação sempre apresentaram
níveis de tensão normais; contudo seriam demasiado ansiosas. Esta ansiedade poderá ser o resultado de vários
factores como: problemas familiares, dificuldades económicas, desemprego, má integração socia l…
Assim, quando os níveis de ansiedade se mantêm contínuos, o organismo já não tem capacidade para reagir bem
a esta; as suas defesas corporais são esgotadas até ao limite e as pessoas ficam mais vulneráveis, não só
fisiologicamente, como também psicologicamente.
As grávidas com pré-eclâmpsia, são mulheres que poderão ficar terrivelmente ansiosas ou deprimidas
(Colman & Colman, 1994, op. cit. Leal, 1997). Viverão sentimentos mistos de exaltação e incerteza sobre um
pano de fundo, no qual ocorrem constantemente estados de ansiedade e depressão.
Esta patologia pode ser como um ciclo vicioso de grande risco para a mãe e feto. Tendo em conta que a pré-
eclâmpsia pode surgir devido a elevados níveis de ansiedade, o seu diagnóstico produzirá também elevados
níveis de ansiedade.
Estas grávidas encontram-se numa situação muito especia l. A ansiedade patológica de que sofrem tem
tendência para aumentar sempre, até ao termo da gravidez.
Conscientes de que a possibi l idade de ocorrer um aborto expontâneo é acentuada, de que é a patologia que ma is
mortalidade e morbilidade causa na gravidez, que esta patologia só tem cura com o nascimento do feto e que a
probabilidade de vir a ter novamente pré-eclâmpsia numa outra gravidez é quase certa; são em si mesmos
factores mais que suficientes para aumentar ainda ma is os níveis de ansiedade.
O medo da mortalidade, não só da mãe como também do bebé, causa na grávida e no seu companheiro
sentimentos de angústia, ansiedade, stress, incerteza; o que agrava a inda mais a situação de risco. Certas
investigações, apontam que os elevados valores de ansiedade têm sido responsabil izados por perturbações e
complicações do parto com o aumento de morbilidade e mortalidade no bebé e mãe. (Pelechano & Matub, 1990;
op. cit. McIntyre, Carval h o, & Milhazes, 1997).
Muitas vezes o diagnóstico desta doença, implica que a grávida passe resto da sua gestação internada, o que
poderá ser também um outro factor para aumentar a sua ansiedade. Inúmeros são os sentimentos vivenciados
aquando da hospita l ização. A solidão devido ao isolamento; a inactividade forçada; a consumação
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inesperada e abrupta do parto, muitas vezes prematuro, em que o medo da morte ou das sequelas decorrentes
da prematuridade; e ainda sentimentos de culpabilidade por não ser capaz de ter uma gravidez normal.
O facto de estar fora do seu ambiente familiar, a incerteza do tempo de internamento e a dúvida de sucesso do
tratamento são desesperantes para ambos os parceiros e restantes familiares. A necessidade da educação para
a saúde e no internamento a promoção de um ambiente seguro e calmo que proporcione o repouso, é vita l nos
cuidados a estas futuras mamãs, ta l como o estabelecimento de uma boa relação de ajuda, apoiando a gestante
especia lmente a nível emocional. (Tiago, 2004)
Os casais que passam por todo este “pesadelo”, correm um enorme risco de perder o fil ho planeado, desejado,
amado e imaginado, é muitas vezes, a concretização de um sonho que cai por terra.
As angústias e ansiedades, fantasias e atitudes, ajustamentos e vivências pelas quais o “casal grávido” passou
durante a gestação, acabam como por ser apenas vivências necessárias para a concretização de um projecto de
vida a longo prazo, que é a maternidade, que envolve a prestação de cuidados e a dádiva de cuidados e trocas
de afectos que irão assegurar um desenvolvimento sadio e harmonioso à criança (Leal, 1991; op. cit. Duque,
2004).
6 – REFLEXÃO
Quando se recebe a notícia que dentro de nós existe um “ser ” a se desenvolver e ganhar vida, os sentimentos
vividos são de tal forma que por vezes as lágrimas se misturam com todo o tipo de emoções.
Ocorrem pequenas mudanças que irão dar um novo sentido à vida do casal, todos os dias o corpo da mulher
sofre alterações, e o seu ventre desenvolve-se como que dizendo que está presente. Esta transformação, apesar
de poder deixar na mulher uma sensação de menos elegância, acaba por ser recompensada, af inal o seu bebé
está a crescer todos os dias mais um pouco, a sua presença já é notável, todos os familiares e amigos o notam e
perguntam de como está o membro mais novo da famíl i a a passar.
Toda a vida do casal gira em torno da sua vinda, este mesmo antes de nascer já faz parte do quotidiano
familiar. Neste momento “um, mais um, não são dois, mas sim três, ou mais...”, o que deixa no casal uma
sensação de plenitude, deixando-os maravil h ados por esta sua nova condição. A expectativa e ânsi a,
depositadas nesta nova vida, é mais que muita, tal como a alegria que a envolve.
Nem por um minuto se imagina que poderão surgir complicações durante a gravidez; repletas de incertezas,
medos, dúvidas em relação ao bom termo da gravidez.
Quando surgem as complicações e o alerta para os riscos que correm, o mundo parece desmoronar, com a ideia de
uma possível perda. Nada mais parece ter importância, a preocupação é constante com o bem-estar do pequeno
ser e sua mãe.
Perante o diagnóstico de pré-eclâmpsia, o casal passa por momentos de extrema ansiedade, todos os seus
sonhos, todos os planos feitos com este poderão não passar muito além de um sonho.
A transparência de alegria e brilho dos olhos do casa l é transformado em tristeza. O medo de perder o fil ho
tão desejado tira o prazer por outras coisas da vida. Tudo gira em torno da incerteza.
Viver com a ideia constante da perda, exige um grande gasto de energia por parte do casal, que está disposto a
tudo para que tudo corra da melhor forma e possa ver finalmente o rosto de tão esperado ser...
III – Conclusão
A pré-eclâmpsia é caracterizada principalmente pelo aparecimento da hipertensão arteria l a partir da
vigésima semana de gestação, está também associada ao aparecimento de edema e proteinúria. Esta
patologia é uma das causas principais de mortalidade e morbilidade durante a gestação.
A causa da sua sintomatologia concreta, ainda não está cientificamente comprovada. Algumas teorias
defendem, que a pré-eclâmpsia resulta de algum tipo de auto-imunidade, ou de alergia, na mãe, em
decorrência da presença do feto. Outras porém, fundamentam a sua teoria af irmando que esta é causada pela
secreção excessiva de hormonas placentárias, no entanto ainda não se encontrou nenhuma prova de base
hormonal. É de salientar ainda outros sintomas que lhe estão associado tais como a ocorrência do vasospasmo
arteria l em muitas partes do corpo da mãe, sendo os órgãos mais afectados os rins, cérebro e fígado.
O acontecimento mais evidente em todo o processo de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, consiste na redução do fluxo
sanguíneo útero-placentário, precedente da hipertensão.
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FARO
Apesar da incidência praticamente irrelevante (0,3%), possui repercussões na vida materna e feta l,
contribuindo para o mesmo a existência de alguns factores de risco.
Concluímos ainda, que para uma grávida com pré-eclâmpsia é essencial um adequado acompanhamento e
aconselhamento, uma vez que a cura só é possível com o parto. A nível psicológico é necessário um forte apoio
emocional, uma vez que al i ada à pré-eclâmpsia são vivênciados os sentimentos que provocam ansiedade,
levam à solidão desencadeada pelo possível isoladamente imposto pela manutenção de uma ambiente
tranquilo e por vezes uma inactividade forçada decorrente da hospita l ização.
Com este trabalho, considerou-se que se atingiram os objectivos estabelecidos inicia lmente. Todavia, foram
sentidas algumas dificuldades em encontrar dados relativos aos aspectos psicológicos, uma vez que estes são
subjectivos, e não foi possível contactar directamente com uma grávida nesta situação, obtendo assim
experiências pessoais. Embora tenha havido um empenho por parte do grupo para efectuar uma entrevista
informal com uma grávida que padecesse desta patologia, ta l não foi possível, por falta de disponibilidade e
recusa em dar informações. Por se tratar de algo tão pessoal, e penoso para os intervenientes não se insistiu na
execução da entrevista.
IV –Bibliografia
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Anexos
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Anexo 1 – Tratamento para a Pré-eclâmpsia moderada protocolado no serviço de Obstetrícia do HDF
Avaliação Materna
Avaliação Fetal
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PRÉ–ECLÂMPSIA GRAVE
INTERNAMENTO
Labutalol
Sofrimento fetal
Sofrimento materno
Alterações da FCFetal PARTO
Gravidez 34 !semanas
GRAVIDEZ
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Anexo 3 – Tratamento para o Síndrome de HELLP protocolado no serviço de obstetrícia do
HDF
Aumentado
Plaquetas " 150000/uL Trombocitopénia gestacional
HELLP muito inicial
Púrpura trombocitopénia
Provável HELLP
ANTEPARTO
PÓS PARTO
Parto se: Continuar dexametasona na mesma dose
1.Clase 1,2: sem resposta à Dexa. em 12h até:
2. Idade gestacional ! 34 s ou ! 2400 gr P$100000/uL
3. Evidência de compromisso fetal Diminuição de LDH
4. Evidência de compromisso materno Melhoria da Pré-eclâmpsia
Depois 5mg de 12/12h – 2 doses
FIM
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Gravidez e Pré-HIV
Trabalho elaborado por:
João Lopes; Paulo Martins; Pedro Preto
“Dizer que todas as pessoas têm os mesmos direitos
e que não é por estarem doentes que merecem ser afastadas
é fácil. Mas se alguém da sua família ou circulo de amigo
s ficasse infectado com VIH, como reagiria?” (o Grupo, 2004)
I – Introdução
A SIDA é um flagelo perturbador e uma das maiores desgraças dos tempos que “correm”. Pela impotência da
Medicina em controlar a sua gravidade clínica, pelos seus modos de transmissão, pela sua explosão recente e
brutal, tem vindo a suscitar, em todo o mundo, os mais diversos medos e fantasmas. Qual o motivo para tantos
fantasmas em torno de uma doença que mata menos que o cancro e as afecções cardiovasculares? Talvez porque
é de rápida expansão, atingindo sobretudo os jovens e porque, tal como a vida, transmite-se pelas secreções
sexuais e pelo sangue, podendo mesmo ameaçar o feto no ventre de uma mãe afectada. A transmissão do HIV à
criança durante a gravidez é no entanto um acontecimento não muito frequente, e com tendência a diminuir
dado o avanço da terapêutica anti-retroviral. nos países industria l izados o risco de uma mulher seropositi va
transmitir a infecção ao recém-nascido é de 15 a 20%, enquanto que no continente africano chega a atingir os
40%. Por tudo isto, a relação entre a gravidez e a seropositividade permanecerá um fenómeno
quantitativamente importante e em potencial crescimento.
O estigma e a discriminação que assombram os indivíduos com VIH/SIDA está fortemente associada a sólidos
tabus existentes na sociedade, porque a maioria das pessoas desconhece o que é a SIDA, como se transmite e
associa a doença a comportamentos de risco como o uso de drogas, sexo, doença prolongada e morte.
Um doente – a grávida – ao saber do seu diagnóstico de seropositividade ou de SIDA sofre implicações
profundas no seu funcionamento psicológico, são vistos como uma ameaça de morte por si e pelos outros. Esta
situação é vivida de maneira diferente pelos sujeitos infectados devido às características individuais de cada
um.
No âmbito da unidade curricular Psicologia V, 3º ano 1º semestre que se insere no 4º Curso de Licenciatura em
Enfermagem, da Escola Superior de Saúde de Faro, foi elaborado este trabal ho que se intitula “A gravidez e o
HIV”, de entre os propostos pela Prof.ª Celeste Duque.
Este trabal ho tem como objectivo geral aprofundar conhecimentos sobre o VIH e a grávida infectada por este
vírus. E os objectivos específicos são obter um maior conhecimento sobre o VIH/SIDA, tentar perceber o
impacto do estigma e da discriminação nos indivíduos com esta doença assim como atingir uma maior
compreensão dos aspectos psicológicos do doente, grávida, infectada pelo VIH.
A metodologia util izada para a elaboração deste trabal ho foi a pesquisa bibliográfica e a consulta de
documentos e informações aconselhados pela docente da unidade curricular.
Este trabal ho foi estruturado de forma a constituir uma sequência para atingir os objectivos da sua realização
e a tornar-se claro para o leitor. Este trabal ho em três partes, Introdução, Enquadramento Teórico e
Conclusões. Ao nível do enquadramento teórico serão abordados os conceitos de VIH e a SIDA. Em seguida, é
referido o estigma e discriminação a que estes indivíduos (infectados) estão sujeitos e terminamos com o estudo
dos aspectos psicológicos na doente (grávida) infectada pelo VIH. A conclusão das principais ideias do
trabal ho, vem estruturada no final. Por fim, as referências bibliográficas que nortearam este trabalho vêm
referidas no quinto capítulo.
II – Enquadramento Teórico
1 – VIH E SIDA
Em todo o mundo a disseminação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) continua em ritmo alarmante.
Essa pandemia criou um impacto dramático e frequentemente devastador em muitos países. Embora se tenh a
aprendido muito sobre esta doença, não há previsão de cura no futuro imediato, prevendo-se que seja crescente
o número de indivíduos infectados com HIV. Uma progressão que comprova o desaparecimento dos grupos de
risco e, por consequência, a possibilidade da doença atingir todas as camadas da população.
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O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) é um lentivírus da família dos retrovírus. É constituído por
moléculas de ácido ribonucleico (ARN), com uma única cadeia e possui envelope formado por proteínas.
Existem dois tipos de vírus da imunodeficiência humana, o VIH-1 e o VIH-2. O VIH-1 é o vírus de
imunodeficiência humana mais predominante, enquanto o VIH-2 se transmite com menos facilidade e o
período entre a infecção e a doença é mais prolongado.
O vírus ao entrar no sistema sanguíneo começa logo a multiplicar-se, mas só passadas algumas semanas é que o
organismo consegue produzir anticorpos. Ele infecta e multiplica-se dentro dos linfócitos T4, também
conhecidos como células CD4, que fazem parte do sistema imunitário. Ao penetrar na célula, o VIH transforma
o seu código genético de ARN em ADN, o que é possível através de uma enzima chamada transcriptase
reversa, que lhe permite replicar-se e destruir estas células. Para completar o seu ciclo de reprodução, o vírus
utiliza ainda outras duas enzimas, a protease e a integrase.
Sob a acção do vírus, a função de defesa fica enfraquecida e deixa a pessoa infectada, ou seropositiva, ma is
vulnerável em relação à actuação de bactérias e vírus, que provocam as chamadas doenças oportunistas. É o
caso de formas raras de pneumonia, toxoplasmoses, candidiasis, meningite criptocócica e cancros como o
Sarcoma de Kaposi. Estas doenças são, normalmente, a causa de morte dos seropositivos, sendo bastante raras
entre as pessoas que não sofrem de insuficiência imunitária.
As células CD4 são um elemento fundamental do sistema imunitário, porque são estas que informam outras
companheiras sobre a necessidade de combater vírus. O VIH destrói as células CD4 e quando a sua contagem
baixa, a resposta do organismo torna-se deficiente. O vírus cria, diariamente, dez milhões de novos vírus,
destruindo outro tanto de células CD4. Todos os dias o organismo produz quase a mesma quantidade de célul as
CD4 para repor a diferença, mas, a partir de certa a ltura, não consegue aguentar este ritmo. Se a contagem
diminui para menos de 200 unidades por milil itro de sangue, diz-se que o seropositivo passou a ter SIDA.
A infecção com o VIH caracteriza-se por três fases diferentes. Ocorre primeiro o período de infecção aguda,
até quatro semanas após o contágio e no qual o seropositivo é afectado por diversos sintomas pouco
característicos, semelhantes aos de uma gripe, e cuja causa, normalmente, passa despercebida a doentes e
médicos. Segue-se um período que pode durar dez a 15 anos (em alguns casos ma is em outros menos), no qual,
embora o vírus se continue a multiplicar, o seropositivo não apresenta quaisquer sintomas. Nesta fase, apesar
de o vírus continuar a matar as células CD4, o organismo consegue repor quase a mesma quantidade de célul as
mortas. A terceira fase, em que o seropositivo passa a ter SIDA, ocorre quando a contagem de células CD4 se
torna muito baixa ou quando a pessoa é afectada por outra doença que a leva a um estado de imunodeficiência
grave.
A SIDA não se trata, portanto, de uma doença mas de uma síndrome, ou seja, de um conjunto de sinais e
sintomas que não dizem respeito apenas a uma doença. É uma síndrome de Imunodeficiência porque o vírus
deixa o sistema imunitário deficiente; e é Adquirida, uma vez que resulta da acção de um agente externo do
corpo.
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1.1.1 Transmissão Sexual
A transmissão sexual é, hoje, o principal modo de contágio. Ela faz-se do homem para a mulher ou da mulher
para o homem (relações heterossexuais) e de homem para homem e mulher para mulher(relações
homossexuais), através do contacto com uma secreção infectada ou com uma mucosa. A transmissão nas relações
heterossexuais é mais comum do homem para a mulher, do que o contrário, porque o sémen é mais virulento do
que os fluidos vaginais A mucosa que reveste o pénis, a vagina e o ânus é mais frágil do que a pele que reveste
todas as outras superfícies do nosso corpo. Por isso pode permitir, a passagem do vírus VIH para o sangue. Por
vezes, existem pequenos ferimentos invisíveis (podendo alguns ser causados por doenças de transmissão
sexual) no pénis, na vagina ou no ânus que, igualmente, facil itam a entrada do VIH na circulação. Certas
mucosas são ainda mais permeáveis do que outras. A mucosa anal, por exemplo, é mais frágil do que a mucosa
vaginal, por isso é a que apresenta mais risco. Tanto o esperma, como as secreções vaginais de indivíduos
infectados, pelo facto de conterem linfócitos parasitados pelo vírus, são altamente contagiantes, sempre que
h á uma relação sexual com penetração. O beijo nos orgãos sexuais comporta um verdadeiro risco tanto
relativamente à expulsão de esperma, como à existência das secreções vaginais.
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1.3. Prevenção
Quando uma mulher pensa em engravidar é necessário que se submeta ao teste do VIH com alguns meses de
antecipação, porque existe um período de “janela” de 3 meses e que uma pessoa, pode já estar infectada, mas
a inda não desenvolveu os anticorpos anti-VIH. Uma vez que o teste se baseia na detecção destes anticorpos,
pode dar um resultado negativo inicia l, pelo que deve ser repetido alguns meses mais tarde.
Nos tempos que correm, tem-se dado uma evolução no campo da prevenção, através da substituição do parto
vaginal pela cesariana, da amamentação pelo leite artif icia l e ainda o tratamento com AZT.
O risco de transmissão diminui se o bebé nascer por cesariana planeada e não através de um parto vagina l.
Trata-se de uma “cesariana electiva”, é marcada para a 38ª semana de gravidez, ou realizada antes, se o
tratamento de parto tiver início em data anterior. A investigação sugere que o tratamento contra o VIH
durante a gravidez, a par com a cesariana planeada, podem reduzir o risco de transmissão a 2% (1 em 50). O
parto por cesariana pode constituir risco para a mãe, visto que esta está imunodeprimida, tendo maiores
probabilidades de contrair infecções durante a intervenção e ficar particularmente debilitada.
Se a mãe amamentar o filho o risco de infecção aumenta sensivelmente numa proporção de um para três, assim
as mulheres são aconselha das a não amamentar e a uti l izar leite artif icia l.
1.4. Diagnóstico
Os métodos mais comuns para diagnóstico de infecção por VIH são os testes sorológicos.
O diagnóstico faz-se a partir de análises sanguíneas para detectar a presença de anticorpos ao VIH. Estes
anticorpos são detectados, normalmente, apenas três a dez semanas após a fase aguda, não podendo haver
uma certeza sobre os resultados nos primeiros três meses após o contágio. As primeiras análises a um infectado
podem dar um resultado negativo se o contágio foi recente, por isso, os testes devem ser repetidos três meses
após a primeira análise. O período em que a pessoa está infectada, mas não lhe são detectados anticorpos,
chama-se «período de janela ».
Aos seropositivos realizam-se também testes de carga viral para ava l iar o nível de VIH no sangue. Estes,
juntamente com os exames para efectuar a contagem de células CD4, são fundamentais para fazer um
prognóstico sobre a evolução da doença. Se a carga vira l for elevada e a contagem das CD4 baixa, então, se o
seropositivo não começar a fazer tratamento, a doença progredirá rapidamente. Os testes à carga viral são,
igualmente, importantes para aval iar a reacção do doente aos tratamentos.
Estes exames são, geralmente, repetidos de três em três meses.
No caso dos recém-nascidos, fil hos de mãe seropositiva, os testes aos anticorpos só têm completa va lidade ao
fim de 18 meses, já que os anticorpos existentes no seu organismo podem ter sido herdados da mãe. Ao fim desse
período, se a criança não apresentar anticorpos é porque o VIH não se encontra presente e o bebé torna-se
seronegativo. Nestes casos, pode também fazer-se uma análise para detectar a presença de materia l genético
do vírus.
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1.5. Manifestações clínicas
Os indivíduos com infecção por VIH desenvolvem um grande número de doenças resultantes da
imunossupressão induzida pelo vírus. Após a doença aguda por VIH, predominam as doenças orais, cutâneas e
pulmonares nos pacientes na fase inicia l e na fase média da doença.
Subsequentemente, nos últimos estadios da infecção os indivíduos frequentemente apresentam infecções
oportunistas e/ou tumores malignos que acometem mais frequentemente o sistema respiratório,
gastrointestinal e o SNC.
1.6. Tratamento
Não foi ainda encontrada uma cura, ou seja, um modo eficaz de eliminar totalmente o VIH do organismo.
A primeira droga especif icamente aprovada para tratamento da SIDA foi a Zidovudina (AZT -
azidotimidina) – bloqueia a síntese de DNA viral. O AZT é um Anti-infeccioso, Antivírico e Antiretrovírico
com actividade específica contra o VIH. Tem como reacções adversas a anemia, neutropénia, leucopénia,
naúseas, vómitos, epigastralgias, flactulência, diarreia, anorexia, hepatoesplenomegália, mia lgias,
cefaleias, ansiedade, depressão, insónia, dispneia, tosse, erupções cutâneas, prurido e urticária.
Actualmente, os tratamentos existentes são compostos, normalmente, por mais do que um medicamento, que
reduzem a carga viral e atrasam os danos que o vírus pode provocar no sistema imunológico. Com a toma dos
medicamentos existentes, a quantidade de vírus no sangue começa a decrescer ao fim de poucas horas. Na
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maior parte das pessoas que tem acesso ao tratamento, 99 por cento do vírus é eliminado ao fim de quatro
semanas e, ao fim de quatro a seis meses, a maior parte passará a ter “VIH não detectável”.
Os medicamentos anti-retrovira is podem ser administrados em qualquer fase da infecção, seja no período sem
sintomas, seja mesmo quando o doente já entrou na fase de SIDA. O principal objectivo do tratamento é reduzir
a quantidade de vírus até um ponto em que se torna quase imperceptível (20 a 50 por mili l itro de sangue).
Quando isto acontece e a quantidade de vírus no sangue é baixa, significa que o vírus se está a reproduzir de
forma mínima, que sofre menos mutações (ficando menos resistente aos medicamentos) e que a doença não está a
progredir.
Existem três tipos de medicamentos utilizados no tratamento da infecção com VIH, que actuam de formas
diferentes e em diferentes fases do ciclo de reprodução do vírus. Os medicamentos são, geralmente, utilizados
em conjunto para a obtenção de resultados mais eficazes e prolongados.
Existem outras situações e razões para começar ou não começar o tratamento. Se as CD4 forem inferiores a 50, o
tratamento deve ser iniciado de imediato, porque o sistema imunitário está muito afectado e o organismo
bastante vulnerável. E depende também da pessoa estar ou não em condições de iniciar um tratamento médico
complexo, que pode envolver a toma de 20 ou mais comprimidos por dia, que têm diversos efeitos secundários, e
que poderá ter de ser tomado durante anos ou décadas.
O tratamento não deve ser adiado se as CD4 são inferiores a 200 e, especialmente, se forem inferiores a 50.
O chamado “cocktai l”, conjunto dos diversos medicamentos prescritos, deve ser tomado todos os dias e às horas
programadas. Não se deve interromper a toma de determinado fármaco e continuar com os seguintes, porque
um dos medicamentos, se tomado isolado, pode prejudicar o organismo.
Os seropositivos têm também de se preocupar com outras infecções que possam surgir e com os efeitos
secundários provocados pelos medicamentos anti-retrovirais e tratá- los seguindo as instruções do médico.
Os medicamentos anti-retrovirais provocam diversos efeitos secundários, como náuseas, cansaço, vómitos,
diarreia e dores de estômago, de cabeça e musculares. Alguns tratamentos podem também provocar
l ipodistrofia (má distribuição de gordura no organismo), aumento da gordura no sangue e diabetes.
Os diversos efeitos secundários devem ser comunicados ao médico e tratados para não enfraquecerem ainda
mais o organismo do seropositivo e para que, eventualmente, o tratamento seja alterado.
2 – ESTIGMA E DISCRIMINAÇÃO
A preocupação com o estigma e a discriminação nos doentes com VIH/SIDA não é nova, tem raízes longínquas.
Tem sido descrito como a qualidade que “desacredita significativamente” um indivíduo aos olhos dos outros.
Provoca, também, importantes consequências na forma como o indivíduo se vê a si próprio. O estigma do VIH e
da SIDA está relacionado com os profundos tabus existentes na sociedade. Para a maioria das pessoas a SIDA
está fortemente associada ao uso de drogas, sexo, doença prolongada e morte, assuntos sobre os quais muitas
pessoas têm dificuldade em falar abertamente. “(...)essas pessoas estão assim ou porque são prostitutas, ou porque
se drogam. Em toda a minha vida nunca me droguei, nem sequer experimentei fumar um charro. Por causa deste tipo
de atitudes é que eu não contei nada à minha família.” (Testemunho: Madalena, 35 anos)
Existem também, em muitas sociedades, grandes níveis de ignorância, medo, rejeição e intolerância,
relativamente à doença em si. O estigma e a discriminação nascem da profunda combinação da vergonha com o
medo. “É sempre constrangedor ter de dizer à outra pessoa que se é seropositivo, porque se tem medo da reacção do
outro, que não nos aceite.” (Testemunho: Manuel, 37 anos). Eles são desencadeados por muitas forças, incluindo a
fa lta de compreensão da doença, os preconceitos, os mitos sobre a forma como o VIH se transmite, a informação
irresponsável dos meios de comunicação social acerca da epidemia, a fa lta de tratamento, o facto da SIDA ser
incurável, os receios relacionados com a doença e morte e os receios acerca de drogas ilícitas e da utilização de
drogas injectáveis.
Este tipo de sentimentos podem levar os indivíduos que vivem com VIH, ao desespero, fa lta de auto-estima e
à depressão. Quando o medo e a discriminação preva lecem, os indivíduos podem dificultar a prevenção, uma
vez que têm medo de saber se estão infectados e receiam a reacção dos outros. Podem, também escolher não
tomar precauções para se protegerem, de forma a evitarem ser associados ao VIH. Assim, aqueles que correm o
risco de ficarem infectados e também aqueles que já estão infectados, continuam a ter comportamentos de risco,
como a manutenção da prática de sexo desprotegido, uma vez que a alteração dos seus padrões de vida poderi a
suscitar
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suspeitas acerca do seu estado de seropositividade. A discriminação tem sobre estas pessoas um efeito
devastador, tem um poder imenso que as consegue relegar para a solidão e para o isolamento. “Eu fechava-me,
não falava com ninguém, para me ajudar a senhoria pôs-me tudo na rua, despediram-me, tinha medo...” (Testemunho:
Júlia, 35 anos). Uma das formas de discriminação é por vezes a atitude da entidade patronal, uma vez que os
despedimentos e as transferências de posto são por demais evidentes. É óbvio que a seropositividade nunca é
apresentada como sendo a causa destas decisões, mas o número de casos é elevado demais para ser apenas
coincidência. Os patrões a legam razões como incompetência profissional, excesso de pessoal e elevados
períodos de ausência do serviço para tratamento. “Durante a gravidez, desde os três meses até ao parto tive que
estar de baixa. Quando regressei, o patrão não era o mesmo e apesar de ter justificações dos médicos para a minha
ausência, o novo patrão já não me quis receber, sem qualquer argumento, nada.” (Testemunho: Júlia, 35 anos)
Elas vêm-se abandonadas pelos amigos, colegas de trabalho (quando o conseguem manter), por vezes são até
rejeitadas pela própria família (“Ainda dizem que não há discriminação, nem estigma. Eu senti, e continuo a
sentir, que a discriminação existe(...) Às vezes, até aqueles que nos são mais próximos, têm comportamentos
discriminatórios” Testemunho: Madalena, 35anos), companheiros (“Quando ela nasceu, encontrámo-nos e fomos
registá-la. Nesse mesmo dia, confessou que não queria viver comigo porque não estava para apanhar a doença. Desde ai,
foi-se embora e nunca mais me apoiou.” Testemunho: Júlia, 35anos), o que pode levar em casos extremos ao
suicídio – “...nem sei explicar, como é que eu apanhei isto? Só me queria suicidar.” (Testemunho: Júlia, 35anos).
Tudo isto cria um ambiente propício a que a doença se propague mais facilmente.
É muito difícil para uma pessoa seropositiva lutar conta a discriminação (no emprego, na escola, no acesso a
medicamentos) se estivermos desprovidos de um instrumento legal, que o ajude a conseguir que o seu direito seja
salvaguardo. “Após os resultados, as empresas para quem trabalhávamos não nos renovaram o contracto, apesar de nos
terem dito que o iam fazer. (...) durante algum tempo, ficámos desempregados.” (Testemunho: Madalena, 35anos).
Assim, torna-se necessária a elaboração de legislação contra a discriminação, de modo a proibir que aqueles
que estão infectados com VIH ou são doentes com SIDA, tenham um tratamento injusto e discriminatório, uma
vez que este tipo de atitudes de que são vitimas, constituem uma violação dos Direitos Humanos. Por outro
lado, a educação é, também, um passo importante na luta contra esta problemática , uma vez que grande parte
da discriminação se deve à falta de conhecimento sobre esta doença. Educar a sociedade acerca do VIH/SIDA
é de extrema importância, permitindo às pessoas compreenderem o impacto do estigma e da discriminação nas
pessoas infectadas.
Se as pessoas seropositivas não forem discriminadas sentir-se-ão mais seguras em testar o seu estado
serológico. Se infelizmente estiverem infectados poderão obter tratamento adequado, logo que possível,
evitando assim espalhar a SIDA. A medicação levará à diminuição da carga viral na pessoa infectada,
diminuindo assim a probabi l idade de infectar outros.
A pessoa com VIH usa máscaras, optando por uma vida dupla baseada na mentira, porque correm o risco de
serem discriminadas e maltratadas. Ninguém gosta de viver escondido, mas há milhares de pessoas que são
obrigadas a esconderem-se porque estão infectadas pelo VIH. A única forma de fazer progressos na luta contra
a epidemia é substituir a vergonha pela solidariedade e o medo pela esperança.
O silêncio e a discriminação ajudam a matar!
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O sentimento de perda de controlo é normal nos indivíduos infectados visto que a doença é incurável. Por outro
lado, o controlo médico regular provoca uma dependência em relação ao serviço e técnicos de saúde. Tudo isto
provoca incerteza, uma diminuição do controlo pessoal sobre as opções de vida a liado com vivências de
infelicidade, impotência e a limitação da auto-realização e liberdade.
A diminuição da auto-estima e a depressão são também frequentes nas pessoas portadoras desta patologi a.
Estes sentimentos são vivenciados devido à inevitável diminuição do estado de saúde, à ausência de cura, às
l imitações provocadas pela doença ao nível sexual, socia l e profissional e a sentimentos de culpa associados
ao facto da doença provocar estigma e discriminação.
Estes indivíduos na sua maioria são pessimistas e têm uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro,
vivenciando sentimentos de culpa, insegurança, pensando no suicídio e que não há nada que val ha a pena, nem
que existe solução. Os sentimentos de culpa podem ser devido a eventualmente ter contagiado outras pessoas ou
a uma punição por comportamentos que teve no passado (toxicodependência, violação, homossexualidade).
Por vezes estes indivíduos aumentam o consumo de álcool, drogas e os seus comportamentos sexuais com
múltiplos parceiros, como forma de aliviar tensões e emoções insuportáveis. Estes comportamentos são modos
de defesa contra a incursão de angústias e a aparecimento da agressividade. Pode eventualmente surgir
sentimentos de frustração e raiva, devido à incapacidade para derrotar a doença, às restrições provocadas
pela patologia e pela incerteza da evolução.
É muito normal o aparecimento de medos e ansiedade nos indivíduos infectados por VIH/SIDA. Os aspectos
psicológicos relacionados com estes sentimentos são diversos:
• “Incerteza do prognóstico e do curso da doença;
• Desfiguramento e debilitação;
• !E feitos dos tratamentos;
• Isolamento, abandono e rejeição sexual;
• Infectar outros ou ser infectado;
• Capacidade do parceiro para lidar com a situação;
• Perda de capacidades cognitivas, sociais e profissionais;
• Disponibilidade e acessibilidade dos tratamentos médicos;
• Ser identificado como homossexual ou drogado;
• Perda da confidencialidade e privacidade.” (Carval ho Teixeira, 1993)
As pessoas infectadas com VIH, são vulneráveis aos sentimentos de culpa, ódio de si, rejeição, ostracismo,
assim como depressão e raiva. Um alto grau de ansiedade perdura por dois a três meses após o diagnóstico,
podendo assumir a forma de crises de pânico, agitação, taquicárdia e comportamentos compulsivos como, por
exemplo, ideias suicidas. A doença provoca na pessoa um grande impacto, um choque, que se deve em grande
parte ao facto da população, da sociedade, adoptar medidas de repressão relativamente a esta terrível
doença.
Existe uma ambivalência entre o sentimento de medo (do futuro, das reacções das outras pessoas, etc.) e
esperança. Todos estes sentimentos geram stress emocional.
Os indivíduos portadores desta doença podem sofrer repercussões no funcionamento sexual. É frequente surgir a
diminuição da libido, disfunção eréctil e diminuição de contactos sexuais nestes indivíduos.
Em particular, os homossexuais masculinos podem sentir a doença como uma espécie de punição, devido a
sentimentos de culpa e angústia, provocando uma alteração profunda no seu esti lo de vida, comprometendo a
sua identidade e sentimentos de pertença.
Estas repercussões no funcionamento sexual podem conduzir a comportamentos de risco face à disseminação da
SIDA, como nos casos em que os infectados optam por assumir relações sexua is desprotegidas de modo a
contaminar propositadamente os outros, tornando-se importante identificar os factores que levam à adopção
deste tipo de comportamentos, com o objectivo de prevenir o alastramento desta epidemia. “Ela confessou. Era
seropositiva. (...) Quando tivemos relações sexuais perguntei se ela tinha alguma doença. Disse-me que não, que não
tinha nada. Perguntei porque é que ela fez o que fez. Respondeu-me que com o preservativo não atinge o orgasmo. (...)
Juro que ainda hoje não sei como é que não a matei ali mesmo.” (Testemunho: Henrique, 38 anos). Alguns factores
que podem funcionar como explicação são: “ Variáveis demográficas (idade, estatuto sócio-económico), uso de
á lcool ou drogas, estratégias de coping, suporte socia l e tomada de decisão que leva ao envolvimento em
actividade sexual, entre outros.” (Carval ho Teixeira, 1993)
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FARO
A disrupção profissional e social é também sentida pelos indivíduos infectados, uma vez que estes podem ser
impedidos de desempenhar com rigor o seu papel profissional e socia l. Existe um sentimento de dúvida em
relação ao que dizer aos colegas de trabal ho e amigos e a ameaça de um despedimento.
Muitos indivíduos optam por ficar de baixa ou abandonar o emprego, mesmo que a sua condição física ainda
l hes permita trabalhar, optando por justificar a sua ausência com uma doença melhor aceite socialmente,
como cancro, leucemia, etc.
As dificuldades são sentidas com maior intensidade em indivíduos com um suporte socia l reduzido, isolados,
que culpam a sua sexualidade e estilo de vida e que por acréscimo, têm dificuldades económicas ou
profissionais.
“O ajustamento psicológico à infecção – VIH, é complexo e pode ser influenciado, não só pelas características
próprias da doença em causas, mas também pela personalidade do sujeito, sua problemática, significado que atribui à
doença, experiências anteriores de situações de ameaça à vida, antecedentes psicopatológicos suporte social,
particularmente da família e do parceiro sexual.” (Carva lho Teixeira, 1993)
A SIDA é uma doença contagiosa, incurável e com mortalidade elevada, provocando num grupo significativo
de mulheres infectadas uma problemática psicológica, que tenderá a descompensar com o impacto da
seropositividade ou da SIDA declarada. O apoio socia l tende a ser limitado, quer por um distanciamento
inicia l da família de origem, quer por pertencer a grupos marginalizados ou pela sua situação provocar
sentimentos ambivalentes e atitudes de rejeição por parte da comunidade.
A gravidez na mulher portadora de VIH/SIDA é simultaneamente uma transformação pessoal, biológica e
social que coloca a mulher em contacto com sentimentos e significados latentes desde o nascimento, que de
repente “vêm ao de cima” por uma mudança física poderosa, reflectindo-se através de todos os níveis
psicológicos.
É tendo em conta esta problemática que a mulher grávida infectada pelo VIH terá que demarcar a sua
conduta, definido como prioritário o seu bem estar psicológico, o da criança, o da família e onde a angustia, a
dor, a felicidade e a alegria a acompanharão.
A gravidez e a maternidade vão obrigar a uma reorganização interna da família, levando assim a uma
adaptação planeada ou repentina de todo o funcionamento familiar. A alteração do seu estado de saúde pode
influenciar o pleno desempenho da maternidade, tornando-a mais difícil, relativamente ao esforço físico,
isolamento e estigma.
Pelo facto da mulher não poder trabal har, quer por motivos de saúde quer pela gravidez, pode-se dar uma
sobrecarga familiar, provocada pela expectativa de como irá correr o parto, como vai nascer a criança, se esta
ficará doente e se a mãe sobreviverá o suficiente para cuidar do fil ho ou se este ficará entregue aos familia res.
A atitude da mulher seropositiva face à gravidez é um desejo, é uma aposta no futuro, acompanha-se de uma
necessidade de ser mulher, fisiológica e socialmente. No caso de uma mulher com VIH/SIDA, esta é colocada
em situação de escolha relativamente ao seu futuro e ao da criança, assumindo os riscos da contaminação. “(...)
decidimos arriscar. (...) Às vezes, penso que posso estar a ser egoísta, mas o desejo de ser mãe fala tão mais alto...”
(Testemunho: Madalena, 35anos)
Segundo Papiernik (2001) “Uma mulher seropositiva para o VIH que decida ter um filho para concretização do seu
papel como mulher, reconhecido pela sociedade, dificilmente acompanhará a criança numa das fases decisivas de formação
da personalidade, podendo esta coincidir com a infância ou adolescência. No entanto, algumas mulheres seropositivas
para o VIH consideram que parir uma criança é condição indispensável à sua própria vida, talvez mesmo uma forma de
dar ‘continuidade’ a uma vida que tem uma morte anunciada.”
Nos raros casos em que apesar de a grávida ter aderido às terapêuticas que lhe foram propostas, a infecção
acontece na criança, dá-se um desmoronamento de uma esperança que mantiveram durante a gravidez. É uma
sensação de perda irreparável, de revolta e de culpa que as poderá levar a desistir de tudo e, em casos
extremos a abandonar o próprio fil ho, por acharem que são incapazes ou não merecem tê-lo. Nas mulheres com
passado de toxicodependência é uma “boa razão” para retomarem os hábitos antigos.
Apesar do número de mulheres grávidas infectadas pelo VIH ser baixo, a gravidez é o momento ideal para a
intervenção na área da educação para a saúde e da prevenção. A receptividade da mulher neste período é
bastante favorável, uma vez que esta se encontra mais predisposta à reflexão sobre o seu comportamento
sexual e sobre o risco. Nas mulheres seropositivas, a decisão de engravidar é mais influenciada por
necessidades afectivas e factores psicossociais do que pela percepção do risco associado ao VIH.
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FARO
Segundo Canavarro (2001) “Os filhos são a possibilidade de continuidade de uma família, a possibilidade de
transmissão de heranças diversas: genéticas, de costumes, valores e significados, de bens materiais e apelido de família.
Significa continuidade, projecção e reparação pessoal no futuro, a possibilidade de transcender a dimensão temporal e
enganar a morte encarada como fim, mas também a possibilidade de transmissão de uma herança algo pesada, o VIH.”
Ser mãe de uma criança seropositiva é como ser mãe de outra criança qualquer. Não existe diferença nenhuma,
não obstante alguns cuidados adicionais em relação à sua saúde é uma criança como as outras, que gosta de
brincar, que quer ser amada.
III – Conclusão
O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) é um lentivírus da família dos retrovírus. Existe o VIH-1 e o
VIH-2. O VIH-1 é o vírus de imunodeficiência humana mais predominante, enquanto o VIH-2 se transmite
com menos.
A infecção com o VIH caracteriza-se por três fases diferentes. Ocorre primeiro o período de infecção aguda,
segue-se um período assintomático e na terceira fase o seropositivo passa a ter SIDA.
A SIDA não se trata de uma doença mas de uma síndrome, ou seja, de um conjunto de sinais e sintomas que não
dizem respeito apenas a uma doença. É uma síndrome de Imunodeficiência porque o vírus deixa o sistema
imunitário deficiente, e é Adquirida, uma vez que resulta da acção de um agente externo do corpo.
O vírus VIH, responsável pela doença da SIDA, pode transmitir-se de três modos, através das relações
sexuais, do intercâmbio de sangue e do intercâmbio perinata l de fluídos entre a mãe e a criança.
A transmissão vertical (da mãe para o fil ho) pode ocorrer durante a gestação (no útero), durante o trabalho de
parto e parto, por troca de sangue materno-feta l e pelo contacto do recém-nascido (RN) com sangue e secreções
maternas, e durante a amamentação, uma vez que o leite materno apresenta na sua constituição um elevado
número de células infectadas e vírus livres
O risco de transmissão diminui consideravelmente se a grávida três meses antes de engravidar ter começado o
tratamento com os anti-retrovirais, se o bebé nascer por cesariana planeada e não através de um parto vaginal
e se a mãe não amamentar e utilizar leite artif icia l.
O estigma do VIH e da SIDA está relacionado com os profundos tabus existentes na sociedade. Para a maioria
das pessoas a SIDA está fortemente associada ao uso de drogas, sexo, doença prolongada e morte, assuntos
sobre os quais muitas pessoas têm dificuldade em fala r abertamente.
Este tipo de preconceitos podem levar os indivíduos que vivem com VIH, ao desespero, falta de auto-estima e
à depressão.
A única forma de fazer progressos na luta contra a epidemia é substituir a vergonha pela solidariedade e o
medo pela esperança.
O adoecer implica no indivíduo portador de VIH/SIDA um ajustamento psicológico a uma nova situação. Este
processo depende das características da personalidade do sujeito, do seu estilo de adaptação, do significado
que o sujeito atribui à doença e das características do suporte familiar e socia l que este possui.
Esta adaptação dá-se em várias fases que são semelhantes a reacções de ajustamento: negação, rai va,
agressividade e resignação. Quando o sujeito não consegue lidar com a situação, ocorre um distúrbio de
ajustamento.
Os sentimentos vivenciados pelo doente – a grávida – com VIH são diversos: diminuição da auto-estima,
depressão, sentimentos de culpa, insegurança, rejeição, ódio de si, raiva, pensando no suicídio e que não h á
nada que valha a pena, nem que existe solução, são pessimistas e têm uma visão negativa de si mesmo, do
mundo e do futuro.
A gravidez na mulher portadora de VIH/SIDA é simultaneamente uma transformação pessoal, biológica e
social que coloca a mulher em contacto com sentimentos e significados latentes desde o nascimento, que de
repente “vêm ao de cima” por uma mudança física poderosa, reflectindo-se através de todos os níveis
psicológicos.
A gravidez e a maternidade vão obrigar a uma reorganização interna da família, levando assim a uma
adaptação planeada ou repentina de todo o funcionamento familiar. A alteração do seu estado de saúde pode
influenciar o pleno desempenho da maternidade, tornando-a mais difícil, relativamente ao esforço físico,
isolamento e estigma.
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IV – Bibliografia
Árias, F., (1994). Guia Práctica para el embarazo y el parto de alto riesco (2º Edição.) Mosby/Doyma Libros.
Knuppel, R., & Drukker, J., (1996). Alto Risco em Obstetrícia – um enfoque multidisciplinar (2º Edição). Porto Alegre:
Artes Médicas.
Wynnie, C., (2002). Sangue e Sistema Imunitário (1º Edição). Lisboa: Selecções Reader`s Digest.
Casquilho, J., (1998). Um boletim para pessoas infectadas e afectadas por VIH/SIDA (2º Edição). Lisboa: Abraço.
Andrade, M., (1992). Entre a SIDA e a Vida. Porto: Porto Editora.
Carvalho Teixeira, J. A., (1993). Psicologia da Saúde e SIDA (1º Edição). Lisboa: ISPA.
Pais Ribeiro, J. L., (1997). Actas – 2º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde, Braga (1º Edição). Lisboa: ISPA.
FIM
Gravidez e Toxicodependência
Trabalho elaborado por:
Rute Reis; Sofia Pinheiro; Susana Viegas; Telma Duarte
Agradecemos à docente C eleste Duque pela dedicação e
disponibilidade demonstrada ao auxiliar-nos neste
trabalho.
I – Introdução
No âmbito da disciplina de Psicologia V, foi-nos proposto pela docente Celeste Duque, a realização deste
trabal ho sobre Gravidez e Toxicodependência, cujo o objectivo geral é aprofundar o conhecimento relativo a
toda a problemática que envolve a tríade mulher – droga – feto/recém-nascido.
Os objectivos específicos são: dar a conhecer os diferentes tipos de consumos; enumerar efeitos que as drogas
podem causar no organismo do indivíduo que as consome; mostrar os efeitos que as drogas podem causar na
grávida, feto e bebé; esclarecer alguns conceitos relacionados com droga e toxicodependência; enumerar/
/descrever as três fases da dependência; indicar os principais problemas decorrentes da toxicodependência;
esclarecer a dimensão psicossocial do toxicodependente, dar a conhecer a importância da interacção mãe-
bebé.
Quando se fa la em droga, pensa-se num termo impreciso e vago com inúmeras definições, no entanto todos
conhecemos o flagelo que este tema constitui na sociedade em que nos encontramos inseridos. O tema das drogas
nem sempre apresentou a conotação que lhe é atribuída hoje, recuando ao passado, várias são as culturas que
recorriam ao uso de drogas com fins afrodisíacos, religiosos e terapêuticos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) droga: “é toda a substância que, introduzida num organismo,
pode modificar uma ou mais funções deste, provoca dependência, caracterizada pela necessidade de consumo compulsivo
de um modo continuado, afim de obter os seus efeitos e, por vezes, para evitar o mal-estar que provoca a sua falta”.
Uma vez que o tema deste trabal ho é gravidez e toxicodependência, irão ser abordados alguns conceitos
relacionados com o tema da droga; referenciar as drogas mais consumidas no país em que vivemos, bem como as
suas consequências na grávida e no feto.
O consumo de drogas pode começar como uma simples brincadeira, como uma curiosidade dos efeitos que a
substância pode causar no organismo. A partir desse momento, pode o indivíduo não voltar a consumir drogas,
ou por outro lado pode continuar até chegar a uma situação de toxicodependência. Até chegar à situação de
toxicodependência, o indivíduo passa por diferentes fases de consumo.
Manuel Pinto-Coelho (1993), considera que um indivíduo que procura as drogas pode fazê-lo por duas razões:
ou porque existe algum problema em si mesmo (por exemplo, pode apresentar características congénitas
frágeis), ou então fá- lo como sinal de rejeição ao meio ambiente em que vive. Contudo, estas duas razões podem
frequentemente surgir associadas.
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Existe um consenso entre vários autores, que os indivíduos mais dependentes são indivíduos cuja personalidade
apresenta maior dificuldade de adaptação social, pessoas que demonstram grandes problemas a nível de
carências afectivas.
Neste trabal ho serão abordadas características da personalidade do toxicodependente, bem como os factores
psicológicos, sócio-culturais e ainda da pressão dos pares. Será também salientada, a influência que estes
factores têm sobre a persona l idade do adicto.
Por último, será abordada a relação precoce mãe-bebé, bem como a importância desta no desenvolvimento
social e afectivo.
A metodologia usada neste trabal ho foi a pesquisa bibliográfica e on-line e entrevista informal.
II – Enquadramento Teórico
1 – DROGAS
Quando se fala em drogas, pensa-se num termo um pouco impreciso e vago com inúmeras definições. Segundo a
OMS droga “é toda a substância que, introduzida num organismo, pode modificar uma ou mais funções deste, provoca
dependência, caracterizada pela necessidade de consumo compulsivo de um modo continuado, afim de obter os seus
efeitos e, por vezes, para evitar o mal-estar que provoca a sua falta”.
Funes (1988), citado por SPTT (1999) a droga é, “qualquer das múltiplas substâncias que o homem utilizou, utiliza
ou inventará ao largo dos séculos, com capacidade para modificar as funções de um organismo vivo que estejam
relacionadas com a sua conduta, o seu juízo, o seu comportamento, a sua percepção ou o seu estado de ânimo.” (p. 11)
É frequente que os consumidores não consumam apenas um tipo de droga. Existe uma preferencial, no entanto, na
sua fa lta outro tipo pode ser consumido. Por vezes, associa-se o consumo de drogas aos adolescentes, a alguém
sem responsabilidade, na verdade as coisas não são assim tão simples. Muitas grávidas também consomem
estes produtos, sendo estas já adultas.
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uma forma de obter esses mesmos efeitos, tem a noção que ainda exerce algum controlo sobre o seu organismo,
acreditando que não se encontra ainda dependente da droga e que consegue parar quando quiser (SPTT, 1999).
São diversas as motivações que levam a este tipo de consumo, segundo SPTT (1999): “aumentar sensações de
prazer; sentimentos de pertença a um grupo, e necessidade de reconhecimento no interior deste; reduzir a solidão, o
aborrecimento, a ansiedade; reafirmar a sua independência ou a sua rejeição à sociedade; reduzir a fome, o frio, a
fraqueza ou o cansaço” (p.14)
1.2.1. Heroína
A heroína é uma das principa is drogas consumidas no nosso país. O nome heroína deriva da palavra a lemã
“heroish” que significa poderoso, heróico (SPTT, 1999). Os efeitos que esta droga pode provocar numa fase
inicia l do consumo não vão ser iguais aos que se sentem numa fase de dependência; à medida que o tempo de
consumo vai aumentando também a necessidade de aumento da dose se verifica.
De acordo com SPTT (1999), os efeitos imediatos sentidos pelo indivíduo, são “intensa sensação de prazer; sedação
e alguma euforia; alívio de qualquer mal-estar ou tensão” (p. 36). A nível físico verif ica-se “secura da boca; miose
(diminuição do tamanho da pupila); depressão do Sistema Nervoso Central, alterações no trânsito intestinal e diminuição
da temperatura do corpo” (p. 37). A longo prazo, esta substância pode provocar alterações da nutrição que levam
a um enfraquecimento extremo, afecções gastrointestinais, alterações psicológicas e na mulher, patologias a
nível ginecológico – situações de amenorreia, problemas relacionados com a ovulação. (SPTT, 1999)
Segundo J. Martins Palminha (1993), a heroína administrada a uma grávida passa rapidamente para a
placenta, estando o feto em contacto directo com esta substância. De acordo com o mesmo autor, o consumo de
heroína durante a gravidez conduz a situações de partos prematuros, verificando-se também com elevada
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frequência um baixo peso dos recém-nascidos. Estes recém-nascidos são muitas vezes sujeitos a manobras de
reanimação ao nascer; apresentam também alguns sina is como irritabilidade, choro em grito agudo, diarreia,
h ipertermia e agitação – estes sinais são descritos como Síndrome de Privação (Palminha, 1993).
Graça Alves (2003) refere que muito raramente se tenta proceder à desintoxicação de uma grávida
heroínodependente, uma vez que “o síndrome de abstinência materno pode ser associado ao neonatal, para além do
risco de asfixia neonatal e aborto espontâne.” (p. 28). A maioria destas mulheres adere a um programa de
substituição por metadona.
Para Schechner (2003), “os efeitos no feto exposto a metadona durante a gravidez incluem: baixo peso ao
nascer, comprimento e perímetro cefálico, transtornos do sono, depressão da conduta interactiva, escassa
capacidade para se acalmar por si, tremores” (p. 29; op. cit. Alves, 2003).
1.2.2. Cocaína
A cocaína é um estimulante do Sistema Nervoso Central que provoca alterações de humor, como a euforia, a
h iperactividade, a excitação e alucinações. (Burroughs, s.d. , p. 102).
Burroughs (s.d.), descreve uma lista de efeitos secundários que esta droga pode provocar a quem a consome:
h ipertensão arteria l, taquicárdia, insuficiência cardíaca e respiratória, convulsões e morte.
Para Palminha (1993), a actividade da colinesterase – enzima responsável pela degradação da cocaína –
apresenta valores mais baixos durante a gravidez, logo o consumo desta substância durante este período torna-
se mais nocivo para o feto. Esta é responsável por ma lformações feta is a nível intestinal, a nível cardíaco,
cerebral; defeitos nos membros e alterações do crescimento fetal (diminuição do crescimento fetal intra-
uterino).
Peralta (2002), refere que mesmo pequenas doses consumidas durante a gravidez “foram relacionadas com o
aparecimento de um significativo número de crianças com dificuldades de aprendizagem, que podem necessitar de
ensino especial” (p. 106).
Alves (2003), descreve que “as mulheres que tomem cocaína durante a gravidez, têm maior risco de nados mortos e
abortos espontâneos” (p. 27), devido à vasoconstrição dos vasos da placenta provocado pela droga. O uso de
cocaína pode provocar, de modo repentino, contracções uterinas fortes e o parto precipitado. De acordo com
Peralta (2002), “a cocaína foi associada a baixo peso ao nascer, atraso de crescimento intra-uterino, parto pré-termo,
tremores, convulsões, irritabilidade, hipertensão, alterações do comportamento, diminuição das capacidades interactivas,
síndrome de morte súbita e atraso do desenvolvimento nas crianças nos primeiros seis meses e os dois anos de vida.” (p.
106)
2 – TOXICODEPENDÊNCIA
Quando se fala em toxicodependência, é importante fazer a distinção de alguns vocábulos utilizados perante
esta temática. Serão definidas palavras como apetência, tolerância, toxicodependência e dependência física
e psíquica.
A apetência pode ser definida segundo Maria Purificação Bagagem (2000), como uma inclinação, desejo,
necessidade para consumir o produto. Esta pode ser ligeira, forte ou irresistível.
A tolerância é definida segundo a mesma autora como uma “habituação crescente ao produto e a necessidade de
doses cada vez mais elevadas de modo a obter os mesmos efeitos” (p. 41).
A toxicodependência é definida pelo SPTT (1999), como “um estado psíquico e também quase sempre físico,
resultante da interacção entre o organismo vivo e uma droga, estado esse que se caracteriza por modificações do
comportamento associado a um mal estar muito penoso, forte desprazer, fazendo com que as pessoas que se drogam
passem a utilizar a droga compulsivamente duma forma contínua ou periódica a fim de reencontrarem os seus efeitos e
evitar o mal estar da privação” (pp. 41-42).
A dependência física e psíquica será desenvolvida no capítulo seguinte, como fazendo parte integrante da
toxicodependência.
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Recuando ao passado, várias são as culturas que recorriam ao uso de drogas com fins afrodisíacos, religiosos,
terapêuticos. Por exemplo, “…na Índia e no Egipto, desde tempos imemoriais que se consome o haxixe (cannabis). Os
iogis e outros monges contemplativos tomam-no para evitar distracções e para concentrar os seus pensamentos num
transe abstracto” (Baptista, 1995, p. 14). Além deste exemplo, existem muitos outros, nomeadamente se fizermos
uma breve passagem pela h istória de povos da Grécia Antiga, da Pérsia, ate mesmo na obra de Homero –
Odisseia.
Contudo, o que se tem verificado actualmente é que as drogas têm tomado proporções assustadoras na
sociedade actual. Basta ol h armos para o caso dos soldados que combateram na Ultramar, que utilizavam
droga como meio para diminuir tensões, e que posteriormente, se tornaram dependentes da mesma.
É pois, neste contexto evolutivo, que iremos abordar as três grandes fases da dependência. Estas fases,
baseiam-se em modelos explicativos bastantes distintos, de acordo com o período histórico e contexto sócio-
legal em que surgiram.
Segundo Sérgio Inácio (2004), “… mesmo que a nível clínico a dependência física esteja perfeitamente definida, a
crescente utilização e valorização da dependência psicológica na concepção das toxicodependências acaba por introduzir
um alto grau de subjectividade ao conceito lato de dependência, dando deste modo poder à sociedade para atribuir de
forma arbitrária a classificação de comportamento dependente aos comportamentos recorrentes que são desviantes da
norma dominante”.
Segundo o mesmo autor, as fases da dependência são:
• Fase Unifactorial;
• Fase Bifactorial;
• Fase Biopsicossocial.
Inácio (2004), refere que neste período que surge o conceito de “dangerous classes” que englobava minorias
étnicas, e que não eram bem vistas pela sociedade elitista da época sendo frequentemente associadas a
práticas criminosas: “… visto sobre o prisma da ênfase do indivíduo, que para consumir uma substância têm de violar
a lei, logo pratica um delito, que poderia evitar já que o indivíduo pode escolher, tornar-se um delinquente que tenta
escapar à norma social imposta pela legislação”.
É, no entanto, curioso constatar que, em meados dos anos 70, se observa uma reviravolta de mentalidades,
voltando de novo ao modelo unifactoria l. Como refere Inácio (2004), “… o consumidor até então indubitavelmente
delinquente, vai passar cada vez mais a ser observado como um doente, que recorre ao crime devido á sua doença”.
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Neste período surgem inúmeras campanhas. Em Portugal, a título de exemplo surgiu o grande lema: “Droga –
Loucura – Morte”.
Dentro deste modelo, existem vários pontos, dos quais não poderíamos deixar de fa lar. Um deles, refere-se às
teorias psicanalíticas, que têm um papel fundamental, para a compreensão do conjunto de comportamentos que
um indivíduo toxicodependente tem.
Estas teorias introduzem o conceito de “fase infantil precoce”, referenciando-a como uma fase em que se procura o
prazer e satisfação imediata de necessidades e onde há uma ambiguidade de sentimentos. Além do indivíduo,
vários são os factores considerados fundamentais nesta problemática: a substância, problemas internos do
indivíduo e satisfação de pulsões.
Ainda segundo este autor: “… esta teoria (…), completa as teorias comportamentalistas, admite o reforço positivo e
negativo, e afirma a existência de factores internos ao indivíduo, quer de risco que podem facilitar o seu desenvolvimento
da toxicodependência, e factores que podem dificultar ou inibir esse mesmo desenvolvimento”.
Após termos feito uma breve referência à evolução histórica da toxicodependência e de termos abordado os
vários modelos que foram surgindo à medida que a sociedade se ia transformando, falaremos agora das
diferentes fases da toxicodependência.
2.3.1. Lua-de-mel
Nesta fase não há dependência física nem psicológica, o indivíduo consome esporadicamente, no intuito de se
sentir bem, num estado superior. Neste caso funciona o reforço positivo. Esta fase é “…caracterizada pela percepção
dos efeitos positivos das drogas e pela ausência quase total de efeitos negativos”. (Inácio, 2004)
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2.4.3. Consequências ao nível escolar
No âmbito da escola, é muito raro que o toxicodependente consiga conciliar os estudos com o consumo,
consequentemente, acabam por ficar com níveis de escolaridade muito baixos, não investem na sua formação
profissional o que, como consequência, os deixa sem capacidade para desempenhar um oficio especifico.
Baptista (1995), considera que em situações particulares é possível encontrar toxicodependentes com uma
profissão, mas que devido à sua dependência da substância, acaba por lhe ser muito difícil manter a sua
actividade profissional.
Outra situação que se verifica é o de o patrão o rejeitar, ao saber da sua situação, por ter medo do que poderá
eventualmente acontecer.
Os toxicodependentes que trabal ham apresentam as seguintes características: absentismo, fraco investimento
e rendimento ao nível do trabalho.
São, relativamente frequentes os pequenos furtos não só à empresa como aos colegas e mau relacionamento com
os colegas, pelo que, facilmente, nos apercebemos que todas estas qualidades são pouco abonatórias a favor da
toxicodependência.
A reinserção, social e profissional, de um toxicodependente só é possível quando a sociedade está preparada e
informada. Pelo que é extremamente importante a sensibilização sistemática das entidades patrona is
(Baptista, 1995).
Os toxicodependentes assumem muitas vezes uma vida de marginalidade em que se destaca os roubos e o
tráfico, o que os leva a ter inúmeros problemas com as autoridades policia is e judicia is. A lei portuguesa
apenas condena quem comete crimes, o consumo de droga não é punido por lei, no entanto, se o toxicodependente
é encontrado de posse da dose ele é condenado a uma pena de prisão.
De acordo com o autor anteriormente referenciado, um jovem que chegue a este estádio só com a ajuda de
profissionais especial izados é que poderá recuperar desta fase complexa dolorosa e penosa, bem como a sua
família.
Baptista (1995), afirma que “por todas estas razões e para evitar os custos demasiado elevados tanto para a sociedade
como para o indivíduo, que é conduzido a uma situação de ruptura, à degradação moral e física, à destruição dos laços
familiares, à marginalidade acentuada, a sociedade dever-se-ia unir com o propósito de desenvolver medidas e estratégias
de prevenção primária e terciária, no sentido da promoção da saúde e da educação das populações.” (p. 22).
3 – PERSONALIDADE DO TOXICODEPENDENTE
A palavra personalidade apresenta a sua origem no termo latino “persona” que significa máscara. Quando
fa lamos em personalidade referimo-nos a uma construção pessoal que decorre ao longo de toda a nossa vida.
Manuela Monteiro e Milice Santos (1999) definem a personalidade como ”elemento relativamente estável da
conduta de uma pessoa, a estrutura que subjaz à constelação das características de cada um de nós. É o que nos torna
unos e únicos, distinguindo-nos de todos os outros” (p. 296). A personalidade diz respeito a um conjunto de
características pessoais.
Segundo Manuel Pinto-Coelho (1993), um indivíduo que procura as drogas pode faze-lo por duas razões, ou
porque existe algum problema em si mesmo, por exemplo pode apresentar características congenitamente
frágeis, ou então fá-lo como sinal de rejeição ao meio ambiente em que vive. Contudo, estas duas razões podem
frequentemente surgir associadas.
No entanto, as opiniões sobre a questão de “quem procura as drogas” é muito variável, existem autores, como por
exemplo, Olievenstein, que considera o toxicodependente como uma pessoa em dificuldade. Por sua vez,
Dollard Cormier, considera a toxicodependência um estilo de vida. (op. cit. Pinto-Coelho, 1993, p. 73)
De uma forma generalizada, os toxicodependentes apresentam sempre dificuldades psicológicas acentuadas e
“grandes dificuldades de inserção na vida familiar e ou profissional, além de em maior ou menor grau apresentarem
ainda uma rejeição dos valores sociais propostos.” (Pinto-Coelho, 1993, p. 73)
Parece igualmente importante salientar as patologias da personalidade, uma vez que são bastante comuns
entre os toxicodependentes. Aqui também as opiniões divergem. De acordo com Morel et al. (2001),
actualmente, muitos autores (Hendricks, Schubert, Zimmerman) utilizam como referência o Manual do
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, estabelecido pela Associação Psiquiátrica Americana,
associando assim as condutas de dependência às personalidades “anti-sociais”. Estas condutas podem ainda ser
associadas às personalidades dependentes ou esquizofrénicas, embora mais raramente.
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Morel et al. (2001), consideram que autores como Deniker, De Jong e Bergeret referenciam como “personalidades
patológicas” mais frequentes as psicopatias, estados limites e personalidades histéricas.
Os indivíduos que apresentam as dependências mais pesadas são aqueles cuja personalidade teve mais
dificuldades de adaptação socia l, particularmente as resultantes de carências afectivas precoces.
Todas estas perturbações psicopatológicas favorecem o consumo abusivo e dependente de drogas, ainda que
muitas vezes este consumo seja iniciado e sentido como autoterapia. Precisamente por isso, é de extrema
importância a prevenção e o reconhecimento dos grupos de risco, tendo em atenção não só as perturbações de
personalidade mas também os estilos de vida e a relação com o meio.
Existem diversos factores que vão influenciar a persona l idade de um toxicodependente, ainda que não sejam os
únicos determinantes para o levar ao consumo e toxicodependência. Abordaremos aqui os factores psicológicos,
sociais e culturais e ainda da pressão dos pares.
De acordo com Pinto-Coelho (1993), o toxicodependente habitualmente é imaturo e desequilibrado, raramente
tem uma profissão estável, recorrendo por isso frequentemente a actividades remuneradas ilegais.
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Os jovens muitas vezes reagem a estes fenómenos isolando-se, tornando-se passivos e aborrecidos, refugiando-
se na droga, usando-a como paliativo. Frequentes vezes, o jovem apenas pretende é passar desapercebido, que
ninguém “o chateie”, nem que para isso, recorra à mentira e minta muito. (Pinto-Coelho, 1993)
Pinto-Coelho é ainda da opinião que a droga também pode servir como vá lvula de escape à angúst i a,
passando à violência e à marginalização, numa atitude de repúdio pelo ambiente que o envolve.
O toxicodependente recusa todo um modo de vida que é muitas vezes o de seu pai: trabal ho-dinheiro-consumo.
O adolescente não tolera a sociedade em que vive. Por ser impaciente exige satisfação imediata, ou seja, não
tem calma para aguardar que o futuro lhe traga as compensações para os seus actuais sacrifícios. É então neste
contexto que se entrega ao paraíso das satisfações imediatas, fortes e deslumbrantes que a droga lhe
proporciona. (Pinto-Coelho, 1993)
Pinto-Coelho (1993), apresenta ainda outra motivação dos jovens que recorrem à toxicodependência e que
consiste em “uma tentativa de obtenção de um melhor conhecimento de si, de uma estimulação intelectual, ou
de uma maior criatividade” (p. 77).
Pode igualmente tratar-se de apenas um desafio à sociedade ou ainda da influência nefasta de um grupo,
sendo a droga o cimento do grupo, também situações de desemprego ou oferta de droga pura por traficantes
para arranjarem novos clientes são razões que por vezes levam ao abuso de drogas.
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4 – I MPORTÂNCIA DA INTERACÇÃO PRECOCE MÃE-FILHO
Tradicionalmente, pensava-se que a ligação afectiva mãe-bebé se iniciava na altura do nascimento. No
entanto, é hoje consensual que esta ligação afectiva se inicia e começa a estruturar, alguns autores consideram
mesmo que esta se inicia antes da própria concepção.
Para haver um bom desenvolvimento emocional da criança é importante que se estabeleça um vínculo de
qualidade com os pais e o bebé.
A vinculação do bebé à mãe permite o desenvolvimento social, esta relação está na base de todas as relações
sociais futuras.
Pedro Strecht (2002) cita Bowlby, assegurando que a vinculação é a capacidade inata dos bebés se ligarem aos
objectos cuidadores.
De acordo com Palminha (1993), a segurança da vinculação é aval iada pelas atitudes da criança face à
separação curta da mãe, seguida do reencontro com a mesma.
Ainda segundo este autor, as crianças com uma vinculação segura, exploram o mundo envolvente de uma forma
l ivre e espontânea quer seja na presença da mãe ou na ausência dela. Quando a criança reencontra a mãe
exterioriza uma grande alegria.
Uma criança que na presença da mãe se sente pouco segura para explorar o meio envolvente, e procura
constantemente o contacto físico com ela, significa que esta apresenta uma vinculação insegura-ansiosa. Estas
mostram-se inconsoláveis durante a ausência do objecto cuidador, quando reencontram a mãe têm
comportamentos de revolta (Palminha, 1993).
Segundo Palminha (1993), existem também crianças com vinculação insegura-evitante, ou seja estas não se
mostram perturbadas com o afastamento da mãe, ignoram e evitam o contacto com a mesma após o seu regresso.
O bebé quando nasce possui competências sensoria is e motoras que lhe permitem interagir com a mãe. Desde do
nascimento que o bebé e a mãe interagem com cumplicidade, através de uma comunicação marcada por
sucessivos feedbacks que conduzem ao desenvolvimento adequado da criança, ou seja ocorre uma interacção
adequada.
Na interacção adequada existem “ padrões de sinalização mútua variados, ricos do ponto de vista afectivo e em que
existe uma sincronia mãe-bebé.” (Palminha, 1993, p. 119)
No caso de não haver afecto no contacto com o bebé pode levar uma mãe emociona lmente perturbada a afastar-
se da criança, o que pode levar a que esta desenvolva uma interacção insuficiente ou até inadaptada.
Na interacção insuficiente existem “padrões de sinalização mútua monótonos, pobres do ponto de vista afectivo.
Embora exista sincronia mãe-bebé, observa-se uma persistência das respostas maternas às necessidades físicas do bebé,
sendo as trocas afectivas e a estimulação do interesse pelos objectos externo pobres.” (Palminha, 1993, p. 119)
Este autor defende igualmente que, na interacção inadaptada se verif ica uma ausência de sincronia na relação
mãe-bebé. A mãe faz interpretações distorcidas dos sinais enviados pelo seu bebé, sendo por isso a troca de
afectos ambivalente. Assim o bebé vai sentir-se frustrado e progressivamente vai deixando de investir na
relação.
Uma mulher que tenha tido perturbações no vínculo inicia l com o seu objecto cuidador irá possivelmente ter
dificuldade em interagir com os seus fil hos, estabelecendo uma vinculação ineficaz. Gleitman (1999), faz
referência a estudos realizados por Godfab, (1955); Provence e Lipton (1962); Dennis (1973) onde os bebés eram
criados em orfanatos que forneciam a alimentação, cuidados físicos adequados, mas muito pouca estimulação
sensoria l e socia l. Este estudo demonstrou que estas crianças se tornaram pessoas mais agressivas, delinquentes
e indiferentes aos outros.
Os estudos de Harlow (1972), com os macacos resus reforçam a ideia referida anteriormente. Ele concluiu com
este estudos, que as macacas afastadas da sua mãe na infância, adoptaram comportamentos maternos
fa l h ados. Ou seja, enquanto mães estas macacas mostraram-se indiferentes, agressivas com as suas cri as
(Gleitman, 1999).
Reportando os estudos feitos para a realidade da mul her toxicodependente, pode dizer-se que esta apresenta
dificuldades em ligar-se afectivamente ao seu fil h o, devido às situações psicopatológicas que apresentam,
pertencentes à própria toxicodependência. (Palminha, 1993)
Palminha esclarece que “os filhos das mães toxicodependentes colocam-nos à partida vários problemas: relativos, por
um lado, às próprias crianças, às suas competências e reactividade, por outro lado às capacidades das mães como dadoras
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de cuidados, e ainda a existência de carências de ordem socio-económica, todos eles constituindo por si só factores de risco
para a doença mental, e que se potenciam mutuamente” (p. 34).
Os fil hos de mães toxicodependentes estão sujeitos a condições adversas durante toda a gravidez e no período
perinata l. Estas condições irão, provavelmente, influenciar a capacidade de adaptação precoce, que é
fundamental para o estabelecimento da relação mãe-fil ho (Palminha, 1993).
Segundo o autor mencionado anteriormente, o internamento destes bebés é prolongado e o interesse das mães
para os visitarem é mínimo na maioria dos casos, o que leva a um afastamento precoce entre a mãe e o bebé.
Este facto dificulta ou atrás o processo de vinculação.
Quando a relação mãe-bebé não é bem conseguida poderá haver repercussões na vida futura da criança adul t a,
de carácter psicótico ou neurótico.
A detecção precoce de situações de risco facilita a intervenção oportuna, por parte dos técnicos de saúde, a
todos os níveis de dinâmica familiar, com todos os benefícios que daí podem advir.
III – Conclusão
O consumo de drogas tem atingido proporções drásticas na sociedade actual. A toxicodependência é vista como
um grave problema, mais grave ainda quando associado à gravidez.
Verif icou-se que são várias as drogas consumidas durante a gravidez, no entanto neste período raramente se
realiza uma desintoxicação, pois apurou-se que este facto podia causar asfixia no feto ou mesmo aborto.
Apreendemos que a mãe toxicodependente deve ser submetida ao programa de substituição da metadona, para
evitar a síndrome de abstinência, ou mesmo a recorrência às drogas.
Constatou-se ao longo do trabalho que esta problemática está relacionada com alguns factores, nomeadamente
os psicológicos, sócio-cultura is e a pressão dos pares. Estes factores influenciam a personalidade do indivíduo,
tornando-o numa pessoa insegura, com dificuldade para partil h ar afectos e se adaptar socialmente.
Tendo em conta a personal idade do toxicómano conclui-se também que uma mulher toxicodependente tem
dificuldade em estabelecer uma relação precoce com o seu fil ho.
A mãe toxicodependente é uma pessoa cuja a relação precoce com a sua mãe possivelmente fal hou, esta é uma
pessoa insegura, pouco autónoma e com grandes dificuldades de se relacionar com os outros. Este facto va i
influenciar de certa forma a relação precoce da mãe-fi l ho, podendo daí advir consequências graves.
É importante estarmos despertos para esta problemática, pois pode ter consequências graves a longo prazo.
Para ta l, os técnicos de saúde assumem um papel de grande importância, na detecção precoce de situações de
risco, intervindo oportunamente a todos os níveis da dinâmica familiar.
A realização deste trabalho foi muito enriquecedor, pois fez-nos perceber melhor qual a personalidade do
toxicodependente e a forma como essa personalidade influência a relação precoce mãe-fil ho.
IV – Bibliografia
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Morel, A. et al. (2001). Prevenção das toxicomanias. Colecção “Alcoolismo e Toxicomanias Modernas”, 5. Lisboa: Climepsi
Editores.
Palminha, J. M., et al. (1993). Efeitos das Drogas na Grávida e no Recém-nascido (pp. 25-32). Os Filhos dos Toxicodependentes.
Grande Prémio Bial de Medicina 1992, 11 – Prémio de Medicina Clínica. Porto: Bial.
Palminha, J. M., et al. (1993). Interacção Precoce Mãe-Filho (pp. 32-34). Os Filhos dos Toxicodependentes. Grande Prémio Bial
de Medicina 1992, 11 – Prémio de Medicina Clínica. Porto: Bial.
Palminha, J. M., et al. (1993). Perfil psicológico da mulher toxicodependente (pp. 35-36). Os Filhos dos Toxicodependentes.
Grande Prémio Bial de Medicina 1992, 11 – Prémio de Medicina Clínica. Porto: Bial.
SPTT (1999). A Informação geral para Prevenção das Toxicodependências. Algarve: Direcção Regional do Algarve do SPTT.
Strecht, P. (2002). Interiores: Uma Ajuda aos Pais sobre a Vida Emocional dos Filhos. Lisboa: Assírio & Alvim.
FIM
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