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AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS OESTE DA COLINA

ESCOLA EB23 FREI CAETANO BRANDÃO – ANO LECTIVO 2009/2010


EFA ESCOLAR B3 – LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA E AS SUAS PERSONALIDADES

NOME _____________________________________ DATA __/__/__

CESÁRIO VERDE (POETA: 1855 – 1886)

CONTRARIEDADES

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Nem posso tolerar os livros mais bizarros. Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Consecutivamente. Deliram por Zaccone.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Tanta depravação nos usos, nos costumes! Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes E a mim, não há questão que mais me contrarie
E os ângulos agudos. Do que escrever em prosa.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora A adulação repugna os sentimentos finos;


Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes; Eu raramente falo aos nossos literatos,
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes E apuro-me em lançar originais e exactos,
E engoma para fora. Os meus alexandrinos...

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas! E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica. Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Lidando sempre! E deve conta à botica! Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
Mal ganha para sopas... E fina-se ao desprezo!

O obstáculo estimula, torna-nos perversos; Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias, Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Um folhetim de versos. Duma opereta nova!

Ficha de Trabalho Nº13 – Prof. Teresa Paula Alves


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LC3B – Interpretar textos de carácter informativo-reflexivo, argumentativo e literário.
Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
No fundo da gaveta. O que produz o estudo? Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Mais uma redacção, das que elogiam tudo, Conseguirei reler essas antigas rimas,
Me tem fechado a porta. Impressas em volume?

A crítica segundo o método de Taine Nas letras eu conheço um campo de manobras;


Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa "blague",
Vale um desdém solene. E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...
Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo, E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Diverte-se na lama. Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Ficha de Trabalho Nº13 – Prof. Teresa Paula Alves


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LC3B – Interpretar textos de carácter informativo-reflexivo, argumentativo e literário.

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