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FRANCISCO DE OLIVEIRA CAPITAL, INFLACAO E EMPRESAS MULTINACCONAIS, DE CHARLES LEVINSON, EDITORA CIVILIZACAOQ, BRASILEIRA, RIO, GB, 1972. O livro do sr. Charles Levinson, economista canadense Secretario-Geral da Federacao Internacional dos Traba- Ihadores em Industrias Quimicas, sediada em Genebra, aborda, de um enfoque mais empirico que teorico, a inter- relagdéo no mundo moderno entre os trés termos-titulos: um fator da produgdo, um fenémeno do processo econd- mico e uma forma peculiar de organizagdo das atividades produtivas. Introdutoriamente, o autor dedica-se a um breve exame da inadequagao da teoria econdmica convencional para tratar os complicados aspectos da vida econémica de hoje. Dessa inadequagao ou irrealidade dos pressu- postos, resulta que as politicas econémicas (fiscais, mone- tarias, de salarios, de rendas, cambiais) aplicadas pelos paises ou estados-nagdes mais desenvolvidos sao comple- tamente ineficazes e indcuas, num mundo em que as empresas macrocefalicas fazem mais politica econémica que os préprios governos. A modificagéo mais importante ocorrida no sistema econémico, segundo o autor, é o fato de que o custo do capital é hoje predominante na composicao total dos custos de producao, entendida esta em sentido lato, isto 6, incluindo os custos financeiros, de producao propriamente dita, de promocaéo de vendas, etc. A revolucao tecno- légica é no fundo a responsayvel por essa importante mu- tacao da estrutura econdmica: o advento dos computado- res, 0 avango das indistrias de processo em relagio as indistrias manufatureiras, a automagao, enfim, a robo- tizagdo da produgaéo. Essa mudanga na estrutura econé- mica provoca uma mudanga no ciclo classico da repro- ducgéo do capital: ao invés de periodos errdticos de “boom”, depressdo e retomada do crescimento, 0 ciclo de uma economia capitalista madura tende a ser mais longo, menos erratico, menos flutuante, sendo menores os pe- riodos de depressdo e mais estaveis os periodos de cresci- mento que se poderia chamar “normais". Como resultado combinado, os pregos dos bens e servicos no podem mais continuar ao saber do mercado, e passam a ser precos “administrados”, eliminando um dos fatores de desper- dicio no sistema econémico. A empresa multinacional corresponde, em termos de organizagao das unidades produtivas, a essa nova etapa do sistema capitalista. Ela é, em principio, uma exigén- cia da técnica: escalas de producéo cada vez maiores, imobilizag6es de capital por tempo muito largo, neces- sidade de introauzir no sistema produtivo as inovagées criadas nos laboratorios; mas, como um deux ex-machina, ela é, a partir de determinado momento, criatura e cria- dor: respondendo inicialmente a exigéncias técnicas, sua atuag&o acaba impondo novas exigéncias técnicas. A em- presa multinacional atua em espagos multinacionais; interfere politicamente em escala multinacional; opera mercados de crédito que transbordam as fronteiras na- cionais mesmo dos paises capitalistas mais desenvolvidos. - 115 A empresa multinactonal e o multinaclonalismo de sua acgao tornaram o estado-nacéo um anacronismo. O autor examina, com abundancia de dados e infor- magcées, a ag&o e a extensdo das empresas multinacionais, detendo-se particularmente no exame do nicleo do sis- tema produtivo de nova indole: o setor industrial dos produtos quimicos. O crescimento desse setor e suas exigéncias tecnoldgicas, de escala, de capital, redefinem © inter-relacionamento dos fatores da producdo e 0 ciclo de reprodugao do capital. Plasticos que substituem 0 ago e a madeira, produtos farmacéuticos que prometem elimi- nar a doenca da face do mundo, uma revolucao na pro- dutividade e no nivel de bem-estar das populacGes. Esse setor estratégico da producdo industrial move-se por pres- supostos de longo prazo, por isso sao inafetaveis pelas politicas econémicas de estilo tradicional; suas demandas de capital projetam uma sombra de inflacao perma- nen’ A inflagio permanente que assola a maioria dos paises capitalistas mais desenvolvidos — e, de passagem, tam- bém muitos dos chamados subdesenvolvidos — decorre, segundo o autor, da inversio das proporgées na compo- sicdo total do produto, em que sao agora os custos do capital que detém a partela mais importante. Essas novas proporgdes do custo do capital e, consequentemente, do retorno do capital, alimentam uma procura do dinheiro que esta na raiz da inflacdo permanente. Deve-se dizer que aqui se encontra, provavelmente, o mais sugestivo dos temas levantados pelo autor, que entretanto nao chega a aprofunda-lo teoricamente. As politicas econdmicas de corte tradicional, com suas suposigées sobre a natureza e a duracao do ciclo econémico, nao conseguem atingir nunca o cerne da questféo; apenas, quando aplicadas, conseguem produzir o que modernamente se alcunhou de “estag-flagéo”, que € uma mistura de ocasionais quedas de vendas, quedas de produgao, aumento do desemprego e... incremento sistematico dos pregos. O crédito que a teoria convencional costuma dar aos salarios na composicao do fenédmeno inflacionario nao tem nenhuma razao de ser, numa estrutura produtiva caracterizada pela proporcionalmente mais alta parcela dos custos do capital e por um ciclo econdmico de natu- reza e duragao inteiramente diferentes do convencional. Nao apenas os salarios reais tém crescido menos que a produtividade industrial, mas sua importancia no custo da produ¢aéo tem decrescido gradual mas firmemente ao longo das ultimas décadas; esse fendmeno se agrava com a robotizacdo as portas. Sao, portanto, anacrénicas e deletérias as politicas econdmicas que insistem na con- tengéo dos salarios come remédio anti-inflacionério, do que tem resultado apenas uma piora na distribuicio da renda, pois se, de um lado, controlam-se os salarios, de outro o nao se controlam todas as formas das rendas do cap! "276 Por outro lado, néo apenas os propositores tedricos e os governos se equivocam nas politicas anti-inflaciona- rias; boa parte das politicas trabalhistas tradicionais, dos grandes sindicatos norte-americanos e europeus, conce- bidas para enfrentar fenédmenos como a inflagao, a estag- flagéo, o desemprego tecnoldgico, a estagnacao dos salé- rios reais, a transferéncia de partes do processo de pro- duco para paises com custos de mao-de-obra mais baixos, sao, para o autor, igualmente inadequadas, porque se baseiam nos mesmos préssupostos tedricos, as mais das vezes tao somente com o sinal invertido. A politica tra- balhista deve tender para uma ac¢ao em escala igualmente multinacional e, além do mais, deve reinvindicar também a .propriedade para os trabalhadores. Pois se sao os custos do capital que tem maior ponderagao no custo total e os retornos do capital que constituem a fragéo mais gorda do Produto Total, nado tem sentido para o traba- Ihador reinvidacar apenas o que corresponde ao fruto direto do seu trabalho; desde que este é declinante como parte do Produto Total, somente faz sentido reinvindicar também parte da propriedade do capital, que é a fracao crescente do “bolo”. O livro de Levinson merece, sem nenhuma ironia, uma atenta leitura, pois trata de um problema crucial, qual seja, a mudanga na estrutura econémica e no ciclo de re- produgéo do capital. Teérica e doutrinariamente, a con- tribugao do autor nao é original. Ele se filia claramente ao John Kenneth Galbraith do “Novo Estado Industrial” e expde com riqueza de dados 0 que em Galbraith sao intuigdes e indicagdes acerca de um novo modo de pro- ducdo,-o mundo em que os proprietarios do. capital — os acionistas — nao mais comandam o comportamento de sua propriedade e em que os tecnocratas sio a “nova classe’ no apice da estrutura do poder. Essa posicéo tedrica e doutrinaria tem sido posta ém questao desde o aparecimento do livro referido de Galbraith e a refutagdo mais pertinente consiste em demonstrar que a emergén- cia dos. tecnocratas nao é mais que um aspecto da dife- renciacaéo da divisdo social do trabalho; isto nao muda a estrutura basica de relagdes do sistema capitalista, mas corresponde ao que teoricamente foi formulado por Paul Baran e Paul Sweezy no conhecido “Capitalismo Mono- polista” e as recentes elaboragées da esquerda francesa sobre o capitalismo monopolista de Estado. Isto é, uma nova etapa do sistema capitalista, que se iniciou sob as formas da concorréncia perfeita, base da doutrina liberal, . A fraqueza da posic¢ao tedrica e doutrinaria do autor mostra, apenas, um aspecto da confuséo em que anda metida boa parcela do movimento trabalhista interna- cional; nao por acaso, ele é Secretario-Geral da Federagao Internacional dos Trabalhadores em Indistrias Quimicas. Revela um desconhecimento das teses basicas do movi- .Mento socialista e do pensamento de autores como Marx, -¢ujo conceito da “composi¢aéo organica do capital” cons- titui-se, de ha muito, uma ferramenta indispensavel para dw &@ compreenséo das mutacées do sistema econémico capi- talista, em que justamente a predominancia dos custos @o capital sobre os custos do trabalho ja era anunciada como o momento que denunciava a contradigao basica de um sistema de producdo essencialmente social, mas cujos frutos sao apropriados privadamente. Isto 6, hé uma mudan¢a crucial no ciclo da reprodu¢do capitalista, e essa mudanga é a causa estrutural para as novas formas de reproducao e circulacio do dinheiro, de que a inflagdo Rermanente e a “estag-flacio” sio sintomas. O autor ndo opée nagées entre si, tentando mostrar justamente o oposto, isto é, de que “14 como c4, mas fadas ha". Apesar de sua fillagdo tedrica e doutrindria, e apesar do risco de naufragio no Nirvana dos computado- res e das industrias de processo que ele corre no terceiro capitulo, ele no fundo sabe que existem relacées sociais de producao encobrindo a aparéncia da tecnologia. Dai, sua proposigao final de que os trabalhadores partictpem também da propriedade do capital — o que é uma con- tradicao com a tese de que ja nao ha proprietarios de capital, mas administradores; esta proposi¢ao situa-se nos limites do reformismo, pois ele nao propée que a proprie- dade passe a ser inteiramente dos trabalhadores. A con- fus&o de oposigao entre nagdes corre por conta do editor brasileiro: o chamamento do autor é para um multina- cionalismo da clase operaria — parte de uma antiga can- gio também as vezes esquecida — que se oponha corres- pondendo ao multinacionalismo das empresas. Ai pode-se encontrar de novo um aspecto do seu reformismo, pois a antiga cancao chamava de fato os operdrios para uma agao internacional, o que é algo diferente de multinacional, e propunha a propriedade para os trabalhadores e nao uma co-propriedade. Mas, pode-se descartar totalmente a idéia de “nacio- nalidade” da propriedade? Estaremos, de fato, ante um mundo multinacional? A parte o erro grosseiro, derivado de sua filiagéo galbraithiana, de pér num mesmo saco empresas de paises capitalistas e empresas de paises socia- " listas, confundindo ai formas de acumulagdo de excedente com identidade de sistemas e niveis de desenvolvimento das forcas produtivas, que tanto no mundo capitalista como no mundo socialista se expressam através das indus- trias chamadas dinamicas. inexiste hoje uma propriedade “nacional” dos meios de producéo no mundo capitalista? As proprias informacées do autor e as tabelas constantes do seu livro indicam sempre que a General Motors é ame- ricana, que a Saint Gobain é francesa, que a Union de Banques Suisses é suiga e assim por diante. Confundir os chamados “refigios tributarios’ — a propria Suica, o Panama, as Bahamas, o inexpressivo Luxemburgo — com multinacionalismo 6 confundir a nuvem com Juno. O proprio autor mostra, ao contrario, que o controle dos fluxos monetarios, a substituigéo na balanga de pagamen- tos das exportagées e importagées de bens e mercadorias Por exportag6es e importagdes de servigos e capital, é 178 : TH apenas a nova forma da divisio social do trabalho no inundo capitalista, mudanca importante sem nenhuma duvida, mas por si sé insuficiente para descartar a idéia da propriedade “nacional” e pér no lugar dela uma pro- priedade “multinacional”. Em lugar do multinaciona- lismo, a idéia mais consistente é algo parecido com um processo de internacionalizacdo, isto 6, entre nagdes — num mundo poli-hegeménico ou cuja hegemonia indispu- eee ees Estados Unidos da América desaparece veloz- mente. Por outro lado, o autor nZo se dé conta de que, mul- tas vezes, a inadequagao das politicas econédmicas des governos reflete apenas 0 movimento mais geral e mais abrangente de homogeinizagao do capital, isto é, de liqui- dagao das pequenas empresas, de eliminacao das praticas concorrenciais, abrindo caminho para a acaéo das empre- sas que ele chama multinacionais. Pensar que as politi- cas econémicas inadequadas acabam sempre por produzir resultados favoraveis as grandes empresas nao é restaurar a “mao da providéncia"? Nao h& uma frase célebre do nunca esquecido sr. Foster Dulles, de que o que é bom para a Standard Oil é bom para os Estados Unidos? & verdade que a teoria econémica convencional esté posta em xeque hoje: nomes tao respeitaveis como os de Wassily Leontief e Joan Robinson, em alocucdes recentes nas reunides da American Economic Association, chamam a atengéo para a irrelevancia dos postulados neo-classicos e marginalistas frente & complexa realidade dos nossos * dias. Mas, o “bom infinito” hegeliano tem suas “perver-' sidades”, como diria José Arthur Giannotti: a reproduc&o do capital — o “bom infinito” — passa necessariamente pela liquidagéo das pequenas empresas e produz teorias e economistas do estofo do sr. Paul Samuelson, Premio Nobel de Economia, entre cujas tarefas esta a de despolitizar @ economia e apresenté-la como uma ciéncia das coisas. O livro do sr. Charles Levinson ajuda a compreender os principais aspectos da politica econémica posta em pratica no Brasil a partir de 1984. Neste sentido, Levin- son teria que elogid-la por sua consisténcia e coeréncia com o principio basico de que o crescimento econémico capitalista hoje passa necessariamente pela criacéo de condigées para a atuacéo das grandes empresas, das em- presas de tipo monopolistico. Neste sentido, seria ela heterodoxa em relacéo a politica econdmica posta em pratica em outros paises capitalistas? Penso que nado; ela se suporta quase que inteiramente sobre procedimen- tos adotados em outros paises capitalistas, de que o escan- dalo Chaban-Delmas é bem ilustrativo: o insigne ex-pri- meiro-ministro da Franga nao pagava imposto de renda, servindo-se dos dispositivos legais que, na Franga como no Brasil, habilitam as pessoas de altas rendas a nao pagarem imposto de renda desde que invistam. A poli- tica econémica posta em pratica desde 1964 no Brasil visa exatamente facilitar a vida do grande capital: a legislag&éo de depreciagdéo acelerada com isengdo do im- _ 119 posto de renda, os incentivos fiscais para empreendimen- tos nas dreas da SUDENE, SUDAM, EMBRATUR, SUDEPE, IBDF, a legislagao do mercado de capitais, o decreto 157, os incentivos as fusdes, a fixagio de precos monopolisticos pelo Conselho Interministerial de Precos, 0 “saudavel” sopro inflacionario mantido pelas correcdes monetarias, o crescimento da divida externa através da resolucdo 63, © decreto 1.236 de “transplante” de unidades inteiras de produgao, e, nao paradoxalmente, o “arrocho” salarial, sao medidas elas todas que somente levam agua ao moinho das grandes empresas, tentando estruturar 0 cres- cimento da economia brasileira extamente sobre 0 desem- penho das grandes corporacgées, os chamados “conglome- Tados" por uns e “empresas multinacionais" por outros. Um aspecto que é tido como secundario por alguns no Brasil, € que essas politicas levam ao crescimento das disparidades da renda, o que nao seria bom, para o sr. Levinson; mas, convenhamos, esta é uma contradi¢io do reformismo-galbraithianismo do sr. Levinson, e néo da politica econdmica brasileira. O hibridismo da politica econémica dos anos de poder do sr. Roberto Campos, que levou a uma espécie de “estag- flagfio”, residia em que ele tentava combinar as medidas destinadas a facilitar a vida do grande capital de par com seus preconceitos tedricos. A “genialidade" da admi- nistragéio fazendaria que se seguiu 4 do sr. Campos, reside simplesmente em aplicar os instrumentos de liberalizacao do capital propostos pelo mesmo sr. Roberto Campos, sem os preconceitos tedricos que lhe lastreavam a mente muito culta. Para todos os efeitos, a politica econémica pés-64 tem todas as marcas de uma estratégia “A la multinacional” e, nao por acaso, tem também todos seus resultados: o crescimento dos setores produtivos comandados pelos grandes trustes — eufemisticamente chamados empresas multinacionais — a concentragéo da renda, a realimen- tagéo do processo inflacionario com o instituto da cor- recao monetéria, uma poltiica de salérios que quer ter como paradmetro de sua fixagao a produtividade global da economia e n&o a produtividade de cada setor e até de eada industria. Seu resultado mais geral no entanto é eriar as condigdes para que a empresa monopolistica se desempenhe bem. Alguns tolos podem retrucar dizendo que rigorosamente nao ha nenhuma empresa monopo- listica no Brasil, pois nenhuma detém sozinha o controle de algum setor produtivo, mas isso é um argumento que somente satisfaz a prépria tolice de quem assim entende a questao. O Conselho Interministerial de Precos é bem a marca dessa politica econémica: as empresas manipulam os pregos, que sao endossados pelo Conselho e no fundo o CIP é a expresso daquilo em que se transformou a econo- mia brasileira: algumas dezenas de empresas ditam os caminhos da economia nacional. Vale a pena verificar se nesse estranho clube estao presentes as chamadas “multi- 6 we es 7 nacionais”. Tome-se por exemplo, a tabela IV do livro de Levinson, onde estéo os 100 PNBs mais altos do mundo em 1969, alinhando entre eles alguns paises e grandes empresas internacionais; comparemos com as empresas que sao consideradas as maiores no Brasil, segundo o “Quem é Quem na Economia Brasileira”, da Revista Visao, 14/28 de agosto de 1972. A tabela abaixo resume a com- paragao: V 181 PRINCIPAIS EMPRESAS INTERNACIONAIS E SUA EXISTENCIA No’ NO que expressa sua importancia na lista de Levinson (*) Associada no Brasil a Vale 4 Rio ‘inl + @°4) CAgsociada na Brasil ao Gruvo Ant Existéncia Posigig Nome da empresa General Motors Standar Oil New Jersey Ford Motor Royal Dutch/Shell General Electric IBM Mobile Oil Unilever Texaco ITT (+ Grinnel) Gulf Oil Western Electric U.S. Steel Standard Oil of California Ling-Temco-Vought Du Pont Philips Shell Oil Volkswagenwerk Westinghouse Electric Standard Oil Indiana British Petroleum General Telephonic & Electronics Imperial Chemical Goodyear Tyre & Rubber RCA Victor Swift MeDonnell-Douglas Union Carbide Bethlehem Steel British Steel Hitachi Boeing Eastman Kodak Procter & Gamble Atlantic Richfield North America Rockwell International Harvester Kraftco General Dynamics Montecatini Edison Tenneco Siemens Continental Oil United Aircraft British Leyland Daimler-Benz Fiat Firestone August Thyssen-Hutte Toyota tae Hoechst no Sim Sim Sim sim Sim Sim ns Meridional, de~Mineragio. Verifica-se, assim, que das 53 empresas “multinacio- nais” constantes da relagao do livro de Charles Levinson, como membros do seleto grupo de corporagdes que con- trolam a producao e as finangas internacionais (Levinson excluiu dessa lista os Bancos) pelo menos 38 delas tém negocios no Brasil, tendo aqui instaladas filiais (é pos- sivel que esse total esteja subestimado, pois &s vezes a razio social internacional nao esté presente na razio social da empresa no Brasil). E, mais que isso, 21 delas estao no seleto clube de grandes empresas com atividades no Brasil lista essa que praticamente incluiria todas as grandes “familias” internacionais, se a0 invés das 200 matores, tivéssemos ampliado a lista para as 500 maiores. Assim, no “milagre” brasileiro estéo presentes todos os “santos” da corte internacional. Seria estranho, portanto, que os rumos da economia brasileira nao tivessem sido, nos tultimos anos, aqueles apontados nos paragrafos ante- riores, e mais estranho que a politica econémica n&o os tivesse beneficiado direta e indiretamente. Nesse estranho clube em que se transformou a econo- mia brasileira, os trabalhadores comparecem como Pas- separtout, o engracado e desastrado criado do sr. Philéas Fogg: somente para atrapalhar a vida dos ricos. Mas, como na genial criagao de Julio Verne, mesmo todas as trapalhadas de Passepartout nao fazem mais que agregar “charme” 4 performance do sr. Philéas Fogg: ele — o capital — chegar4 ao seu clube — sua reprodu¢ao sempre ampliada — pontualmente e ganhara a aposta: sua taxa do lucro sempre crescente. Passepartout, por certo, tera mudado de status: de chaumeur costumeiro devido a sua desqualificagao — as grandes massas brasileiras — ele ascendera & condi¢&o de criado de um Sir — operario das grandes empresas multinacionais — mas permanecera sempre criado.

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