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Cirurgia feita por Faustão é proibida pela Justiça

Federal
Técnica já foi realizada em mais de 450 pacientes, mas não está
regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina

Procedimento, conhecido como interposição de íleo, foi desenvolvido há


seis anos pelo cirurgião goiano Áureo Ludovico de Paula

FERNANDA BASSETTE
FOLHA DE S.PAULO – 28/JAN/2010

A Justiça Federal de Goiás proibiu ontem, em caráter liminar, a realização da


cirurgia de redução de estômago que promete curar o diabetes até que o
médico Áureo Ludovico de Paula submeta o procedimento -considerado
experimental- ao Conselho Federal de Medicina e ao Conep (Comitê Nacional
de Ética em Pesquisa).

Em caso de descumprimento, Ludovico será multado em R$ 100 mil por cada


cirurgia realizada em desacordo com a decisão. A técnica, conhecida como
interposição de íleo, foi desenvolvida pelo cirurgião goiano e realizada no
apresentador Fausto Silva. Mais de 450 pacientes já se submeteram ao
procedimento. Cabe recurso.

Enquanto aguarda a aprovação do Conep e do CFM, Ludovico só poderá


realizar o procedimento em casos comprovados de urgência (como risco de
morte). Essa decisão caberá a uma câmara formada por três médicos no
Conselho Regional de Medicina de Goiás por determinação do juiz Urbano Leal
Berquó Neto.

A decisão atende parcialmente a uma ação do Ministério Público Federal


contra o médico. O procedimento não tem aprovação do Conep e não é
reconhecido nem pelo CFM nem pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica.

A diferença dessa técnica para a cirurgia convencional está na recolocação do


íleo (fim do intestino delgado) entre o duodeno e o jejuno. Ao entrar em
contato com o alimento, o íleo começa a produzir GLP1 (hormônio que
estimula a produção de insulina). Nos diabéticos tipo 2, a insulina está
reduzida no organismo e o íleo produz pouco GLP1 porque a maior parte do
alimento já foi absorvida.

Com o reposicionamento de parte do intestino, o alimento entra em contato


mais rápido com o íleo, o que pode aumentar a produção do GLP1.
Thomaz Szegö, presidente da SBCBM, diz que ainda não há evidências que
comprovem a eficácia da técnica. "A sociedade segue a lei, e a lei diz que não
se pode inventar uma técnica no consultório e começar a usar nos pacientes.
Não se autoriza uma técnica com pacientes operados em série, por um
cirurgião que vai realizando uma operação atrás do outra."
Procurado pela reportagem, Ludovico disse que ainda não tinha sido
notificado da decisão. Questionado sobre o pedido de autorização ao Conep, o
médico disse que "essa cirurgia não é experimental, por isso não precisa de
autorização."

Colaborou JULLIANE SILVEIRA, da Reportagem Local.

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