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Introdução
O presente trabalho tem por objecto as Fontes do Direito. A sua pertinência é indubitável,
por se tratar do problema de saber a origem das normas jurídicas, ou seja, a questão de
saber o modo como certas normas ascendem a categoria de norma jurídica. Problema esse,
que para quem queira ter as noções gerais de direito, importa reflectir de forma a conhecer
as fontes do direito.
Assim sendo, analisar e expor as fontes do direito, ainda que de forma singela, constitui o
objectivo principal do presente trabalho.
Para a feitura do presente trabalho, optámos por uma consulta e análise da melhor doutrina
sobre o tema e incluindo a consultas de sítios da internet.
FONTES DE DIREITO
Conceito
Não há um único conceito de fontes de direito, sendo que ele varia de acordo com o ponto
de vista de cada doutrina.
Assim sendo, a título de exemplo, Claude Du Pasquier1, abordou o tema através de uma
metáfora, ao dizer que, buscar a fonte de direito é como se alguém procurasse a nascente de
um rio, a delimitar o exacto ponto em que as águas surgem das profundezas da terra dando
origem a um curso de água natural, como seja o ponto de emergência, o lugar onde ele
passa de invisível a visível, onde sobe do subsolo à superfície. Neste sentido, afirma que a
fonte da regra jurídica é o ponto pelo qual ela sai das profundezas da vida social para
aparecer à superfície do Direito.
Por sua vez, Hans Kelsen2, em sua “Teoria pura do direito” solidificou o estudo do direito a
mais expressiva referência no âmbito da dogmática jurídica e, assim, afirma que a única
fonte do direito é a norma, já consolidada em seus aspectos formais e integrada ao direito
positivo. Traduzindo-se o pensamento do eminente jurista austríaco, ao se reportar a fonte
de direito, irreleva qualquer facto social, moral ou político que tenha contribuído para o
surgimento de uma regra.
Para o jurista brasileiro, Miguel Reale, o termo fonte de direito deve indicar somente os
processos de produção da norma jurídica, vinculados a uma estrutura do poder, o qual,
diante de factos e valores, opta por dada solução normativa e pela garantia do seu
cumprimento. Segundo Reale, a estrutura de poder é um requisito essencial ao conceito de
fonte.
Entretanto a doutrina sociológica defende que fontes de direito são as vertentes sociais e
históricas de cada época, das quais fluem as normas jurídicas positivas. Factores
1
Citado por SOUZA, Carlos Orlando Fonseca de; Fontes do Direito; Disponível em:
www.pontojuridico.com
2
Idem.
Do exposto, vai resultar a distinção das fontes de direito em sentido formal e material.
Vejamos sumariamente cada um deles.
Fontes de direito em sentido material, são elementos que emergem da própria realidade
social e dos valores que inspiram o comportamento a ser tutelado e que levam ao vislumbre
de um direito, ou seja, segundo João Baptista Machado4, são factores ou poderes sociais de
facto que causalmente originaram ou influíram o processo de produção normativa.
Para o nosso estudo, interessa fontes de direito em sentido formal ou técnico-jurídico. Dito
doutro modo, interessa-nos fontes de direito enquanto modos de criação e revelação de
normas jurídicas.
No artigo 2º, o legislador reconhece ao poder judicial a competência para, nos casos
declarados na lei, fixar por meio de assentos doutrina com força obrigatória geral. Esta
competência é exercida pelo Tribunal Supremo.
E no artigo 3º, o costume é reconhecido como fonte mediata de direito, quando não
contrarie os princípios da boa fé. Por sua vez, no artigo 4.º ainda do Código Civil, os
tribunais podem recorrer à equidade quando haja disposição legal que o permita, quando
exista acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível, ou ainda quando as
partes tenham convencionado o recurso à equidade numa cláusula compromissória.
De todo o exposto, é de referir que são fontes do nosso direito a lei, o costume, a
jurisprudência e a doutrina. Sendo que, a lei é indiscutivelmente a principal fonte do direito.
Vejamos cada uma daquelas fontes de direito.
Deste modo, lei em sentido material abrange a Lei propriamente dita da Assembleia da
República, o Decreto-Lei do Conselho de Ministros, o Decreto Presidencial e o Decreto do
Conselho de Ministros e o Diploma Ministerial. Como se denota, embora varie o órgão que
faz a lei e a forma porque a faz, permanece idêntica a matéria, isto é, o conteúdo da lei é
sempre o mesmo, que é no caso, uma regra jurídica geral e abstracta emanada do Estado em
sentido amplo, abrangendo qualquer pessoa colectiva de direito público.
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São normas corporativas as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias
morais, culturais, económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como os respectivos
estatutos e regulamentos (n.º 2, do artigo 1 do Código Civil).
Em sentido formal, a lei designa aquilo que se chama a actividade legislativa propriamente
dita, ou seja, a actividade exercida por determinado ou determinados órgãos oficialmente
qualificados e segundo forma solene estabelecida na Constituição6.
Assim sendo, podemos afirmar que lei em sentido formal é a disposição provinda de um
órgão com poder legislativo, e segundo a Constituição da República esses órgãos são a
Assembleia da República, quando actua produzindo leis propriamente ditas, e o Conselho
de Ministros, quando produz decretos-lei.
No entanto, a lei tem outros sentidos, podendo designar todo ordenamento jurídico; como
Constituição da República; como determinado ramo de direito consubstanciado ou não em
um código; e como uma determinada regra contida num determinado artigo. Portanto, o
sentido exacto de lei só é aferido como tal segundo o contexto que estiver inserido.
A lei em sentido formal obedece a um processo próprio de elaboração que consta em certos
países da respectiva constituição e em outros do regimento da Assembleia da República ou
do parlamento. Entre nós, este processo consta, não do texto constitucional, mas, do
regimento da Assembleia da República.
Desse modo, podemos afirmar que os Assentos podem ser fontes interpretativas, se se
limitam a fixar o sentido de certa norma de alcance ambíguo, ou, fontes inovadoras, se vêm
preencher uma lacuna do sistema jurídico7.
6
TELLES, Galvão Inocêncio; Introdução ao Estudo do Direito; Vol. I; 10ª edição; Lisboa; 1998; pág. 58.
7
MACHADO, João Baptista; ob. citada; pág. 160.
Apesar de serem dotados de força obrigatória geral, os Assentos do Tribunal Supremo não
são actos legislativos. Pois, esse tribunal não goza da mesma liberdade de iniciativa e da
mesma liberdade de acção que os órgãos com competência legislativa, nem podem
modificar, suspender e revogar outros Assentos ou normas preexistentes. Ao elaborar os
Assentos o Tribunal Supremo acha-se vinculado ao direito constituído e, portanto, não
pratica um acto livre e discricionário, como o é, dentro de certos limites, o acto legislativo8.
O Costume
a) Definição
São vários os autores que definem o costume. Para Maria Helena Diniz 9, costume é uma
norma que deriva da longa prática uniforme ou da geral e constante repetição de dado
comportamento sob a convicção de que corresponda a uma necessidade jurídica.
Por sua vez, Ulpiano entende o costume como o tácito consenso do povo, reiterado por
longo tempo.
O costume que deve ser objecto do estudo do direito é o costume jurídico, como seja,
aquele capaz de gerar direitos e obrigações. O costume sem esta essência, é o costume
apenas de convivência social, sem nenhuma repercussão no mundo jurídico.
Dos conceitos supra, podemos definir o costume como normas de direito que surgem por
motivos práticos da sociedade, quando, na ausência da norma legal específica a
determinada situação, a necessidade de disciplina leva o povo a criar regras não escritas
que, assimiladas de forma geral e por grande período de tempo, ganham carácter de
8
Idem; pág. 161.
9
Citada por SOUZA, Carlos Orlando Fonseca de; ob. citada; Disponível em: www.pontojurídico.com
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Introdução ao estudo do Direito; 18ª edição.
efectividade e passam a merecer o respeito daqueles que a utilizam, o que conduz a serem
prestigiadas e observadas pelo Estado. Numa definição simples, podemos dizer que o
costume é uma prática reiterada com convicção de obrigatoriedade.
b) Elementos do costume
A generalidade não quer significar prática adoptada por todo o povo, mas sim, por um
círculo de pessoas unidos no mesmo território, profissão ou ainda por outros factores.
Certa estabilidade no tempo, verifica-se o costume pelo longo período de tempo em que ele
se faz presente no opinio popular, período razoavelmente longo, a se aferir pelo bom senso.
c) Espécies de costume
O costume pode dividir-se tendo por base a sua extensão. Assim, teríamos costume
nacional, quando se alarga a todo território do Estado, e costume local, quando é restrito a
certa região. Ainda tendo por base a sua extensão, haverá costume que se estende a uma
generalidade de relações ou se limita num ramo particular de actividades.
No entanto, a classificação mais importante é aquela que assenta na relação entre o costume
e a lei.
Desta classificação teremos, o costume, secundum legem, praeter legem e contra legem.
Vejamos cada modalidade.
Costume secundum legem, num primeiro sentido é o costume que se consagra no meio
social sem discrepância a ordem, em seus aspectos éticos e axiológicos, daí que muitas
vezes passa ao domínio escrito convertendo-se em lei.
Num segundo sentido, é o costume que, conservando a sua forma não escrita, é reconhecido
pelo legislador como preceito íntegro, daí que a lei recomenda que seja observado.
Em linhas gerais, podemos afirmar que o costume secundum legem é o conforme com a
lei, ou seja, está em conformidade com uma lei que interpreta, daí também ser designado
por costume interpretativo.
Costume praeter legem, é o costume que se reveste de carácter supletivo da norma, pois
acha-se para além da lei, suprindo-a nos casos omissos ou lacunas. Esses costumes não
eram contraditórios com a lei, e nem conformes com a lei que interpretassem, mas sim
estavam para além de todas as leis existentes, daí serem costumes praeter legem.
A Jurisprudência
a) Conceito
Na sua tarefa integradora, no sentido de completar a lei em face a um caso concreto, com o
objectivo de apenas aplicar o direito, porém, dada a repercussão de um julgado, a sociedade
o toma como um grande avanço, daí ser óbvio que a ressonância vá bem mais além da
comunidade jurídica criando consciência de valor nos órgãos legislativos.
Portanto, os Assentos são decisões do Tribunal Supremo que fixam doutrina com força
obrigatória geral, ou seja, passam a ser lei de cumprimento obrigatório para todos os
tribunais subordinados ao Supremo. Assim sendo, os Assentos constituem o único acto
normativo que não provém dos órgãos do Estado (órgãos da função legislativa ou
executiva), mas sim dos tribunais.
O Tribunal Supremo emite Assentos quando reunido em plenário para apreciar os seus
próprios acórdãos ou quando haja contradição entre dois ou mais acórdãos sobre a mesma
questão de direito.
A Doutrina
a) Definição
Para a alguns autores a doutrina decorre da actividade científico-jurídica, isto é, dos estudos
científicos realizados pelos juristas, na análise e sistematização das normas jurídicas, na
elaboração das definições dos conceitos jurídicos, na interpretação das leis, facilitando e
orientando a tarefa de aplicar o direito, e na apreciação da justiça ou conveniência dos
dispositivos legais, adequando-os aos fins que o direito deve perseguir, emitindo juízos de
valor sobre o conteúdo da ordem jurídica, apontando as necessidades e oportunidades das
reformas jurídicas.
Nesta senda, podemos afirmar que a doutrina é representada pela literatura jurídica
produzida pelos grandes juristas, que em suas obras fazem elucidações direccionadas de
forma especial ao estudo dos institutos e pressupostas jurídicos, sempre articulados a
dogmática jurídica e, assim, escrevem de forma brilhante, de cujos tratados, compêndios e
obras, se produzem no sentido do enriquecimento do saber, tanto daqueles que operam o
direito (advogados e magistrados), quanto aqueles laboram com o processo legislativo.
b) Origens da doutrina
Surge na Roma antiga, quando o Imperador Augusto concedeu a uma classe de intelectuais,
que tinham o jus publice respondendi, a tarefa de responder as questões jurídicas, cujos
pareceres se tomavam vinculativos.
Desse modo, na época de maior esplendor do direito romano, a opinião dos juristas foi a
fonte mais importante do direito. Valia sobretudo a opinião de cinco juristas: Caio,
Papiniano, Paulo, Ulpiano e Modestino. Em caso de critérios diferentes, prevalecia a
opinião da maioria, mas se nem todos se haviam pronunciado sobre o caso e havia empate,
prevalecia o parecer de Papiniano, na ausência do qual, podia o juiz seguir a doutrina que
lhe parecia mais justa.
c) Espécies de doutrina
Tendo por base a relação entre a doutrina e a lei, a doutrina como fonte do direito, pode ser
secundum legem, praeter legens e contra legem.
Teremos doutrina secundum legem, se ela decorre da fiel interpretação por parte do jurista,
de um texto legal, sem manifestar contradições ao que expressa o seu conteúdo, de cunho
esclarecedor daquilo a que se propõe na norma.
Haverá doutrina praeter legem, quando as obras dos juristas oferecem uma luz ao operador
do direito no sentido de solucionar quando da regra confusa ou omissa.
Por fim, a doutrina contra legem, pelo seu carácter, tem eficácia para o legislador,
indicando, tanto reformas a serem introduzidas ao direito positivo, quanto mudanças na
interpretação do direito.
Em nossa época, embora que a doutrina não mais tenha essa natureza vinculante da época
romana, em que os doutrinários já não mais declaram o direito, porém, a sua influência é
irrefutável, tanto para a lei, quanto para a jurisprudência.
Embora não admitindo ser a doutrina uma fonte do direito, tal como a lei, reconhecemos a
importância do seu papel no melhoramento do direito. Na realidade, a sua função é de outra
natureza, como se depreende do confronto entre o que é produzido pelas fontes e o que é
revelado pela doutrina.
A doutrina exerce a sua influência pelo ensino ministrado nas faculdades de direito, pois
são os juristas que formam os magistrados e advogados, preparando-os para o exercício
dessas profissões pelo reconhecimento dos conceitos e teorias indispensáveis à
compreensão do ordenamento jurídico.
De todo o exposto, podemos afirmar que a doutrina, não sendo uma fonte imediata como a
lei, ela só será fonte de direito voluntária, ou seja, a doutrina só é fonte quando o legislador
a aproveita para produzir leis. Assim sendo, a doutrina só serve de fonte de direito quando a
força dos seus argumentos convencem o legislador e este assume-a e transforma na forma
de lei.
Os Assentos têm a mesma posição hierárquica que as leis que eles interpretam ou integram.
Conclusão
De todo o exposto, torna-se mester referir que fontes de direito são modos de criação e
revelação de normas jurídicas. E o problema da sua determinação releva para sabermos
como é que determinados conteúdos normativos ascendem a juridicidade. Nesta senda, são
fontes de direito a lei, o costume, a jurisprudência e a doutrina.
A lei é a principal fonte de direito. Sendo que, o termo lei deve ser entendido como toda
disposição provinda de uma autoridade competente. Por sua vez, o costume só é fonte de
direito quando a lei o determinar, daí que se trata de uma fonte mediata. No que tange a
jurisprudência, ela só é fonte de direito, quando se trata de uma decisão do Tribunal
Supremo, na forma de assento. A terminar, cumpre salientar que a doutrina só é fonte de
direito voluntária, pois tudo depende da força dos seus argumentos em convencer o
legislador e este assumindo-a em transformar em lei.
Bibliografia
Índice
Introdução........................................................................................................... 1
FONTES DE DIREITO............................................................................................2
Conceito........................................................................................................... 2
O Costume .............................................................................................6
A Jurisprudência............................................................................................8
A Doutrina...................................................................................................10
Conclusão ........................................................................................................13
Bibliografia........................................................................................................ 14
Índice ............................................................................................................... 15