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Umas lembranas

Na casa de minha v, lenha estalando, inalava caf que no tomo mais. Era sempre frio,
cedo do dia. Que alegre!, que feliz! Era eu menino sem fim. Pois que o tempo tinha uma
distenso sem tamanho. Era meu corao, era o pilo e a doce farinha de milho torrado,
sabor no-molhado da casa de minha v. Era tempo de primos, e uma paixo. Nina,
parece que era esse seu nome. Lembro com sede e fome o beijo que nunca foi. To doce
era aquele abacate, verde, batido na colher; uma manjar para mim da rvore de balanar.
Estas histrias me tm, me levam para onde o tempo um relgio de um segundo, o
mundo um plano sem fundo e o horizonte de um nenm. Medo sei que tinha, no
queria crescer, e minha alma guarda, assim, as lembranas daquele amanhecer que foi
um e vrios, vrios iguais de deslumbrar.
Lenha que estala, o cheiro do caf e o frio. Abrao da cama de palha e tudo sempre
novo, novo, como as nuvens de voar. Voavam passarinhos, uns mansinhos, caminhando
pela estra de frente a mim se so meus, no h que dizer. So meus, da gaiola do
lembrar. Deveria um dia, quando areia e sapatos eram casados, correr de novo, cerca e
porteira iguais, entrar naquela casa de Sol, sentir o vento a frescar, no banco vov, na
sala o rdio a chiar e ser feliz... para nunca mais.
As luas eram todas histrias, memrias das rodas de gente das bandas de l. Ouvia-as de
orelha em p, perdido naquele mundo de contar. Ah! Esse tempo, tempo de eu menino.
Sinto o vento a me lamber quente e cheiroso; eram aquelas flores: flores da minha v,
flores de se esconder, flores de boa noite foice ou aoite, caminham at minha em
montaria eterna essas imagens de uma vez era eu.

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