Ted Hughes O FAZER DA POESIA sradugae Hexoer Moura Pereira ASSIRIO & ALVIMnunca pedi moedase também nfo as ava, cla que fcava 20 pé dos mortos quando os familiares se iam embora, que alimentaae alojva os enfermos, a loucs, 0 eilépticos, que num seco rsa 36 paras ‘se preparava para enfcntaro por. LLembro-me como afstava as ciancas pelo fim do veria dd nica coisa com algumabeleza no seu pomat, um pessegui ‘ede com icava com os frucos engelhads, cals, deeitusos ‘eapanhava os melhores e s puna em calda pars depois dena bea das escadas mais humildes. Acabou por morrerem agonia, lingua, no fim, inchadae preta como a de um boi Terr depois, ds cbr de imps, des ids ds ples — ssjrt nom uae peered eal sagucnds senenene por ene loro owes, slpando afr Chgindo-e como bar fre, ‘a jena do caries omen Turopors Rozruxe capiruro 4 APRENDER A PENSARDevo dizer deve jf sem rodeios que vou far acerca de uma dterminad forma de pensar Uma das coisas mais exranhase fisci- nantes desea activdade a que chamamos pensar € 0 facto de cada umn. poder inventar, para dos seus prdprios pensamentns, uma maneira de pensar que seas sua, Nem & necesiia qualquer preocupa sobre sc esta pensar mal ou bem — a nfo ser que se ent num dominio muito especlizdo, que eja uma forma de pensar muito specifica, Na verde tna cosa a fixer mesmo pensar e nada as (Ora pensar é como sibemos, do natural como respirar — de ‘um modo ou outro, o pensamento esti sempre a trabalhar na nosss caboyas. Por iso, que haverd de excepeional acerea dele? Bom, apes de todos nés estarmos constantemente pensar em qualquer coi, acontece a coisa terial de uns pensarem mais e outros menos. E que alguns empenham-senisso de uma forma muito mais activa, Do mesmo modo que hi quem nio pare quiewo um minuto © esteja sempre fzer coisas, enquanto outros sio mais parados,tam- bbém o mesmo acontece com as ments da pessoas —umas esto em permanence agiasso,trabalhando, recordando ¢ interagindo todo 0 {tempo ou na maior parte do tempos outas cam de papo para o ata ressonar, mexendo-se muito de vez em quando s6 para mudar de posigio. Nio & ao primeizo grupo que me dijo. Pouco thes posso cline, mio ser desjar que team sorte na vida. F aos pregugosos as ments mais secrets que quero fla, esas que segundo as minhas contas © minha expriénia, sho dezanove em cada vinte pesos. De resto, eu prdprio Figo parte dese cli desde sempre. 56 Na escola, afligame adi deter pensamentos muito melhores do que aqueles que er capaz de prem palvras. Nio porque tives dlfeuldade em encontrar as palavias certs 04 porque ees pensi- rmentos fossem demasiado profundos ou complexos, sem palaves 8 sua altura. Acontecia simplesmente que, quando rentava enunci-los ‘ou escrevé-los, ji se tinham ido embora. Ficava apenas a sensacio de tum estranho vazo, como se alguém me tvesse perguntada de epente ‘6 nome do fiho mais vlho de Jilio César ow aquantos so 7238, vere 6956 — depress, vé, pena, pensa, pensae. Por uma rio ou por outr, vim a ineressrme cada ver mais por esses meus pens- rmentos, que nunca eta caper de trad Por vee, difcilmenteIhes podera chamar pensamentos — eram mers senagesdifusas acerca de uma cosa qualquer Nao eabiam em neahuma tea espectfica — isi, avieméiea ou algo do género, embora aver pudessem estar insets na dea eral do Inglés. A iia ques foi gradualmentefot- mando em mim era de que tas pensamentos estatiam mais apropria- dos para a esrita de ensios, ou caver nem mesmo is. A verade & ‘que me foram sempre completamente inti, porque nunca conseg tomarthes bem o pulso, Houve momentos em que, 20 esrever ut nso, jlgue ter achado a meada a um os outro pensamento mas & cexperncia nunca foi mui sats ‘alvezesteiam jd a entender como as eoias se passivam, Eu ppensava, disso nio havia divas, e tinha até pensamentos que me preciam ineessantes, mas no era capar de os agurar ow de os fer regesar i mente quando precsava dels, Eu podia se levado a pen- sar que era uma coisa que 6 me dizia respeico a mim esem qualquer ineresse para as outas pessoas, se no soubesse que as outas pessoas também se pdem asi pprias as mesmas quest6es, De facto, os pen- ‘samentos que se tém sio de narureza fier — um breve rlimpago € depois mais nada — © emborasaibam que sthem algumas coisas © 76 aque tim ideas acerca de tras, 5 pesos ndo conseguem que eles thes surjam quando mais precsim dees. Paece que as sus préprias ments no esto 20 se slance. uma ease que parece esranha «quando se enunca mas € verdad pura simples. Exist a vida inerios,o mando da relidade final, o mundo da rmeméri, das emogSes, da imaginacio, da inclgencia,e uma especie de senso comams natural, que € regular constant, subconsciente- ‘ment ou inconsientemente, come o bate do coraio, Mas hi m= tem proceso do pensiment, através do qual peneamos na vida interior para procura respoxas ¢ provas que sustentem a5 outras respostas ue esto fora dela. um proceso et de incurs pe suasies, emboncads, armadihas erendigies,e€ ee 0 ipo de pen- Samento qu € necesito aprender; se nada soubermos aprender, as rosas ments permancceo em nd como pss nas nas dealguémn «que fo abe pesca. Certamentejé compreenderim aque géner de pensimento me tenho esa a refriz Se car nem deveriachamar-Ie pesamento se figo € ahr porque todos ns tems a tendncia de chamar penamento a tudo 0 que se pasa dentto das nosis cabeas, No fad, eu tenho vindo a falar dese traque ou des habilidade que nos pert patos pensamentos mais ago eombros,eunindo- os € mantendo-ot de forma a que posamos oar bem para eles Gretta de usta ito cam um exemplo: se vos pdisem:«Pensert no voso tor — durante quanto tempo sriam capans de manter tas vost ments idea dos vsos is? Comesariam, obviament, por convac-lo para a vos imginaySo. Mas logo ele vs lembraria ‘uta coi qualquer ¢ logo © voso persamento ira ats diso, fenquano a imagem do to passa para segundo plano, se no des parecese mesmo completamente. Mas voltemos aot. Fem nle 2 vossaatengio — apenas nele ¢ em mais nada, absolutamente mais 7nada, Vendo bem, deve haver muita coisa que 0 evogue, talver os ‘olhos ou a expresso, ndo? © cabelo, como & que o penteia? Se & ‘ondulado, & muito ou pouco? Ede que cor & Se é cal, como & 0 toque da pele? E 0 queixo — como é 0 seu qucxo realmente? Olhem ‘bem para ele. Como véem, acerea de um toh mula coisa que se pode dizer — e muito tempo the dedicariam se fosse possvel slo ‘no pensamenco horas a fos depois de o observarem bem, da eabeca au aos py decerto suririam recordagdes do que cle disse ou fer, lembrangas dos sentimentos que por ele tm, dos seus dizeres¢ dos seus gstos. Poderiam mesmo pasar semanas ocupar 0 pensimento com dle e examina os pensimentos que fasem ocorrendo, Talver seja um exagero 6 que acabe de dizer mas csio que s ca logo a ver ‘que nfo ¢ ficl pensar numa pessoa mais do que uns scissor segun- dos, esquecendo tudo 0 resto. Sendo asim, como paderio esperar reunie todos os pensamentos ligados a0 vasa tio? ‘Também acontece, eidentemente, que ado se pode fer isso ‘com rodos os pensamentos que ocorrem mas nasa cabess, ou sj, ‘io podemos segurilos dentro dos limives da imaginag, sem os deixar partic para que cada pormenor posa ser estudado até & exus- to, Fiearse-ia sem tempo nenhum para escrever.Ainda assim, é possvelfaxé-lo durante um certo tempo. Vo ilustar 0 que vos quis dizer com um poema chamado Visso de Um Porc porco ficou ali morto em cima da pails ‘Tinh, constva, 0 peso de els homens (Os olhos i fechadas, as pestanas de um rsa exbranquizado, As pas rijase recess “Todo aquele peso e mass, um volume roid peso more e que ndo esta apenas mort, 78 Menos do que austncia de vida, muito pari dso. Parecia um saco de trgo a rebentar Deithe wm murro sem sence remorso Sentimo-nos culpados se insultames os mores, se caminhamos por cima de timulos. Mas ee potco no estava em condigGes de culpar ninguém. Exava demasiado morta. ‘Um monte de bana e came para asa ‘Aub a dertadeira dignidade he for trad ‘Mas no era uma figura risvel. Demasado mort para que aja agora piedade. Lembrar a sua vid, pesda e ridoss ce cheia de prazeresterrenot parecer exfrgo vio e sem sentido. Demasiado real e mortal. O seu peso ‘oprimiu-me — como tio dal Evo trabalho que di corto todo! CChocante © gop ma garganta mas no patético. ‘Uma ver no meio daquelebarulho core para apanhar um pequeno lio eonegadio que era mas ripidoe asco do que um gato, ‘seus guinchos era como metal a quebrat (Os porcosdevem ter sangue quent sentemse ji foges, rmordem com mais orga do que os cavalos — pcortam meias-1uslimpas de grdurss, (Comens esti e gatos mores. DistingSes apreciagBes dest jf hd mio acabaram, Eu fiquei a oll bastante tempo. am exck-o, cecaldiloe esffeg-lo como aos degraus de uma esida Come tro post pend a xe 3 a mene uma cscs vinci io pric Ema cos aprecvel mas no se per na escola nem est 20 alcane de muito. Ee até nem ae comsidero ‘muito om nso, sabe apenas por agi cet tin. No ma escola mas quando in pss, Pesca sempre em gus calmase com bia, Como toda gente sabe, a ica isa que im pscaor fr € fara olhar pra asia hors fo. Pave centease centers de horas lhar par uma bia — um pequeno pont amarelo ou ver rlho do tamanbo de um foe» cea de der metas de min, Os ue munca oferam podem achar que € um passtempo algo sono- Ica, Mas garaeo-os que rad mens. “ads agus ola que gerlment trem anos mente dessparcemFtém mesmo de dearer, pore eno no € poss vel entinat Se no aeons, oh par dept a pson impacts efx de ma humor Mas quando desert iments como sos inva ua espe de ben-avenurang Tao 0 nosso sera mum lve repo, concentado na bin mas sem quale onelénci: un eta dealer que permit sect © minima exci como se ese un choqe clic. Eno € 6 a bi quese olka, Fics ateno, de uma form gic ignor linha do horizon, numa epee de hipoos, como see pace som do conta no meio donque presen dos pees all maga 80 cscura imensido mesmo por baixo de nés. Fa cada momento a ima- sinasio vaise agitando com a perspectiva do tamanbo daquele ser ‘que sido lodo ese aproxima do isco. Ou divaga acerca do. mundo maravilhoso debaixo das gua, suspenso em roa ignorincia de quem ‘0 olka, Todo o objetivo desta excigio controlada, num espago de capture imprevisiilidade, eside em tazer 3 superficie um poqueno « insignificante pedago de metal, vindo de um mundo onde nada existe a nilo ser of facts ineviives que erguem a vida a partir do nada ea faem regress a esse mesmo nada. ‘Com wéem, a bgia eo ato de pescar fzem parte de uma espé- ie de exerciio mental, sobretudo n0 que diz respeito 3 concentragio sobre um sinio dado concreto, a0 mesmo tempo que permite ima- nag trabalha livremente para reuni tudo 0 que poss estar rela- tonado com esse dado: aqui © ponte fulcral da concentracgo € a bia eos pines, que a actividad imaginativa se entetém a pensar, so of dementos relacionados drectamente com objecto inca [Na verdad, no é muito diferente do que acontece quando no fixt- ‘mos na imagem ou na ideia de um to, patindo depois dat pare reu- hir os pensamenos tlacionados com cle ¢ que param sobre as ross eabegs ou aparece de rompance. Ainda acham dificil pere- ber como isto acontece? Vejamos uum poema de D.H, Lawrence acerca das amendocitas da Sica, no iaverno, Q auor tem pens _mentos bastante originas sobre as amendocias mas vejam wobretwdo ‘como vi sempre circulando sua volta — as drvores esto sempre i, sem que alguma ver aspera de vista, Amendoviras Despidas. Amendocirs molhads, 3 chuva, «com lets saindo renebrosos da ter troncos pretos de améndoas, i chuva, instruments de ferro, reorcdos e medonos, sande da era, saidos da suavidade profunda ¢ macia do verde invenosiiiano, a1cervaincomestivel da tera, ttoneas de améndoas pendendo escures, pret como Feros, a longo das encostas. Amendocira,abaixo da vedago do erado, negro tronco de Ferrugem, soldste ainda melhor os paquenos rebentos, ‘como se fosem de ago, de um ago sesielexposto 20 at, corde ina, alfazema, ago sensvel pendenda aco efi numa patibol, Que fies a chuva de Dezembro? ‘Teri alguma esranhae elérica sensibildade nas tuaspomtas de ago? Sentes no aa indusio elécrica «como cextos aparehos eléeticos igualmente muito estranhos? reaches mensagens, em eédigos também esranhos, dos abos sanguinstios que espalham electicidade erondam constantemente 0 Etna? Recoes doar murmario do enxofre? (Ourves a quimicasevidéncias do sol? ‘Telefonas a dizer do rugido das guas sob a tera? E com base em tudo ist fe cleus? A Sica, a Sica de Dezembro sob a chuva intense cos amos de ferro, negos de ferugem como vlhas instaumentos revorcidos bandindo sobre a era fstigand a suavdade invernosa da terra, 20 longo das encosts ‘de um verde macio eincomestvel! 2 CClaro que nem tudo est assim & noes disposgfo de uma forma to extic, como wm porco moro ou uma drvore. O poema seguinc, por exemplo, que ex também exces, 6 acerca de um certo tipo de ‘duende — imaginc- no preciso momento em que desobre que é um see vio em pleno mundo. Nao sabe bem quem & eet ceio de iner- rogascs. Hi nele uma perurbacio inguita face a0 que est a acon- ‘ccet. Or ponsamentos so astane variados mas no centro de ude, como vetio, esc sempre o duende ¢ a sua inguetagio. O poema chama-se Wodwo. Um Wodwo & uma expécie de esprito das flres- tas, meio-homem meio-animal. ‘Quem sou eu? Fspretando aqui, pusandfothas dali segundo outea mais ligera e colovia pelo ar até bora do rio centro a gua, Quem sou en que separo 0 veio vitro da gua olhando para cima vejo 0 leita do rio por cima de mim de pernas para oar nitidamente que fo eu aqui no ar do meia? Por que acho ‘Ho interesante esta enquanco inspecciono o mais secreto do seu interior eo go meu? Ser que ets limos me conhecem ¢falam de mim uns com os outros ser _quejfime viram antes, ei parte do seu mundo? Parego scparado da terrae sem raizes assim attado ddo nada de qualquer mancira nso enh flamentos «que me prendam posso ir onde quiser parece que me deram a liberdade deste lugar quem sou cu afinal? Earrancar ppdags decasca deste cepo podre sto med qualquer prazere no ineressari saber porque & que perguntar porque o fagoe finé-locoincidem estanhamente 8E como seréque me chamo sou 0 primeico tenho um dono que forma tenho ‘que forma ten sei muito grande see for ax ao fim deste caminho depos de passa a vores até me cana isto di cabo de mim neste instances iar setade cudo ‘ai parar para me olharsuponho-me o centro ecto ‘mas hi isto tudo 0 que € rales rales rales rales muito estranho tudo ito mas hei consinuat a procurat Pensar uma coisa deste género nfo &a nica manciea de comside- "ar um problema ou de exprimie pensamentos. Por yess io io $6 95 pensamentos sobre ito ou sobre aquilo que nos interesam, Tambm nos interesao encadeamento dos pensamentas —0 modo ‘como um se segue 30 outro, tl como numa histéra ou num envedo. Por outras palavas, neses casos 2 concentrsSo no incide num Ponto apenas mas nos virios pontos que vio sendo erguidos uns p65 0s outros. Este sero paso a dar na segunda aula e 6 fri sentido se et- vetem adguiridos os fandamentos que tenho tentado enunciar. Os ppoemas que foram lidos pertencem, de certa forma, primita al, (© que nea foi proposto€ bastante simples mas, como jé vos disse, ‘tou em crer que vale a pena ter 0 eu contcido bem presente na oy Nora Ni é preciso cransformar as aulas de Inglés em sessdes de ioga ‘para pi em pric, de forma relaivamence fi, as ideas indicadas neste capitulo Pticar as formas mas simples de concentrago sobre ur sim- plese pequeno objecto €a mais vido de todos os exerccios ments ‘Qualquerebjecto pode sersit. Cinco minutos serio tempo adequado ras pode comeyar-se por um minuto apenas, Se exerci for repe- ‘ido em todas as alas, os rsltadoscertamenteapareero. Quanto ao texto proprimente dito, deorte diectamente desta primeiea fase. O aluno concenta-se num objecto pequeno e simples «depos procade como est indicado na Nota ao Capitulo Um: pala- ‘ras descriivas e expresivas, em vero, em grandes preocupagses formas e com os limites de tamano e tempo previamente definidos. ‘As desctigbes devem ser 0 mais detalhadaspossvel, uase cient ficasna sua abjectividade ena atengio microsedpica que as consti Depois de alguns exercicos,o aluno deve ser encorajado a pro- longar as associagbes para fore do. proprio abjecto © em todas as dliregbes que pues, mantendo 0 objecto esolhide como centro € Ancora do que vai exprimindo.A panir do momento em que o aluno se apereche dis writs possilidades de relagies que, como numa reacso eldtrica em cada, se etabeleoem entre a reaidade objectva « algunas das suas palais, fica absorvido pela excitagio da deseo berta. E mesmo quando produz maus resultados, o esforgo de per cepoto e de desrigo afecta sempre © mado com 0 aluno passa olhareconsidrse tudo 4a vot, Nos casos em que sea possvel uma regularidade mais inensiva, deve repetr-se o exercicio quatro ou cinco vezes, em dias diferentes © sempre com o mesmo abject. 85