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198011990 — chegando 20s 250 titulos 712 «Dp ‘mais de 6 milhoes de exemplares vendidos Cae Viola a eT Re Do pensamento classico greco- romano aos dias de hoje, ateoria sempre buscou dar explicacdes a tudo. Mas na hora de ser explicada. sempre gerou polémicas. Discutida apenas enquanto ato contemplativo, contrario & pratica, ou reduzida a Circulos intelectuais, parece condenada a frieza. Mas a teoria é | muito mais quente do que isso. Dela no se podem excluir 0 desejo, a paixdo e todas as agdes co homem, um ser que busca eternamente o sentido de sua existéncia. E por isso mesme tecriza Otaviano Pereira O QUEE TEORIA editora brasiliense brasifionse 1s0N:65-11.01059-8) Filesofis da Cincia Introdusdo ac fogo ¢ sussregras Rubem Alves Filosofia Compostamento Bente Prado J. (tg.) ‘Nietzsche, Cosmologia ¢ Scarlet Narton Obras Escothidas Vol. 122 Walter Benjamin Para a Reconstrugdo do ‘Matetialismo Hist6sico Jurgen Habermas Primeira Filosofia Diversos autores A Razdo Cative As iusies da comstineia: de Platto Freud Sérgio Paslo Rovanet Teabatho ¢ Rellexio Ensaos pars uma dialétics ds sociable José Archar Ginnnotti Colegio Primeiros Passos Oqueé Ane Jorge Cali 0 que €Belera Jou Francisco Duarte (© que € Dialésica Leandio Konder © que € Filosofia Cato Prado Je O queé Logica Carlos Lungano O queé Moral Otaviano Pereira O queé Semiscica acta Sanealla O ques Utopia Teiseirr Coelho Otaviano Pereira O QUEE TEORIA TBedigao editora brasiliense Copyright © by Otaviano Pereima, 1982 Nenituma pare desta publicacda pode ser gravada, sarmucenadla em sistemas eletronicos, Jotosapiada, reproduzida por meios mecinicos ou outros quaisqucr sem autorzacao prévia da editor. ISBN: 85-11-01059.9 Primeina sdigao, 1962 7 edict, 1990 E Revisio: Joao B. L. Medeiros ¢ SéniaS, Rangel inks Capa e ilustrac 30s: Emilio Damiani, Edson Lourenco € Fabio Cosa en ee — Segredos da unidade teoria/prética . — Indicacdes para leitura . Ruada Consolacéo, 2697 D146 Sao Paulo SP. Fone (011) 280-1222 - Telex: 11 33271 DBLM BR IMPRESSO NO BRASIL "86 uma teoria revoluconériscria uma a¢80 revolicionéria." (Lénin) “um fato nove se vie que 1 todos admbeva, O que o operirio dicta ‘outro operério escutava" (Winieius de Morais) “No prinelpio era 0 Vervo,” Gio Jolo) Para meus pais: Anibal P. Pereira e Joaquina M, Pereira que pouco fregiientaram os bancos das ewolas .¢a teoria dos livros. 1 ABORDAGEM GERAL Etimologia: a palavra nos dicionarios Se vooé abre uma encislopédia ou um dicionério ce filosofia e procure o verbete teoria, certamente vai perceber um dado até de certa forma curioso ‘com relaco 20 seu significado original arego: ‘os dicionaristas em sua maioria identificam este ‘termo com contemplargo, sto contemplativo, ‘ou mesmo beatitude. E assim que, por exemplo, © filésofo Aristételes identifica esta palavia em sua obra Etica @ Nicémano. Mas 2 questo no reside s6 nesta primei identificago etimolégice de teoria como contem- plagio ou atividade desinteressada. Boa parte dos autores até contranée teoria & prdtica. Se Otaviano Pet no como duas reilidades excludentes entre si, pelo menos como iese e antitese de um mesmo grins ©. significade deste verbete em estado de dicionario 6 0 de doutrina ou sistema de idéias € até mesmo a identiticacdo enire teoria e ideologia Quando falemos, por exemplo, em “teoria da felatividade”, “‘teoria do conhecimento”, “teoria da mais-valia” etc., no sentido de um conjunto doutrinal bem elatorado, sistemético, seja de Um Pensamento, sda de uma cigncia. Mas em ‘todos esses significados nBo deixa de estar presente aquele sentido de contemplagio abstrata © que nos fica patente quando abrimos as enciclopédias, seja qual for a acepgio em que & tomado 0 termo, ¢ certa visto “técnica” quase Puramente intelectiva ou racional do ato de Yeorizar. Portanto, § a preocupacio com um ‘conhecimento puro” com sua elaboragao que marca esta etimologia, Ore, se esta palavra em estado de dicionério no nos permite um alargamento de sua com- reenso para além do ato intelectivo em si, o Que ocorre? Ocorre que s6 a stimologia da palavra, isto 6, teoria enquento. contemplargo intelectiva ou abstrats, n3o_nos abre espaco para ‘que _possamos compreendé-la além do ambito dapura abstract. Af vemonos diarte de um impasse: esto errados 0s autores dos dicionérios 20 identificar que é Teoria teoria_com abstragSo, beatitude ou sistema de idéias? Ou estamos errados nés ao reforcar esta dicotomia_e entender a teoria apenas como abstrac3o intelectual? E mais: estamos errados 20 contrapor pura e simplesmente a teoria contra 2 prética e até mesmo ao acusar 03 autores, sobre- tudo 0s bons te6ricos diffceis, de permanecer desvinculados da prética? Na verdade nfo se trata agora de acuser ninguém. Nem os dicionérios, nem 0s teéricos diffceis, nem a visio cléssica ou a filosofia que originou este termo. Trata-se de saber que hd muita confusso entre ums coisa e outra. Que estas confusdes esto incorporadas em nos, em nosso pensamento, no modo como abordamos a realidade e, inclusive, f@m nosso agir. Trata-se de detectar esse senso- comum que nos domina e criar uma atitude metodolégica adequada que nos permita purificar muitas confusdes que a tradi¢ao, a escola, a cultura ‘ua vida nos legaram e nés as alimentamos, E por falar em vida, cultura @ sobretudo em ‘escola, sproveito para uma ressalva: notadamente apés as reformas de 1971 2 conseqiiente profis slonaliza¢ao do ensino, a nossa vida escolar parece padecer de um mel a0 mesmo tempo dréstico © curioso. Vale dizer, se a escola ¢ o lugar onde se deve cultivar a teoria (juntamente com a prética) NO ensino, na pesquisa . . . ela curiosamente parece fefletir hoje uma espécie de “neurose” ou fobia tedrica, Explico por qué. Apés o movimento da Escola Nova (décadas de 50 e 60) que introduziu novos métodos didéticos em salas de aula e, principal- mente, apés 0 golpe de 64 que esvaziou por ‘completo néo 36 0 conteido como também o ado critico das disciplinas, nossas praticas de ensino foram reduzidas a certo “melabarismo pedagégico”. Alim do mais, percebe-se de modo Grescente em nossa goraeio jover certa “politica do prazer” interferindo negativamente no proceso educacional, interessante notar af que tudo o que ‘exige_ um pouco mais de sacrificio é simplesmente encarado como antididético, antiprodutivo, cansa- tivo ou qualquer outro adjetivo que nos ajude atirar 0 corpo do sério. ‘Ait passamos 2 endossar um processo didético- pedagdgioo.em que professores exercem a fungo de “camelos do ensino” ou entzio meros repeti- dores_de apostilas com respostas prontas, bem buriladas. A( esses “bailarinos”” de salas de aula (sobretudo professores de cursinnos) pintam como os grandes renovadores 4 medida apenas que sio bem-sicedidos em seu “strip-tease”” didético. Mas quando vocé assist a uma segunda ou terceira aula do mesmo professor em classes diferentes, sente que a criagdo em seu processo reside apenas na mudanga de platéia. E como © palhaco que conta a mesma piada e consegue agradar varias vezes porque as platéias so dife- rentes, Por outro lado a clientela, isto ¢, 08 alunos, parecem cada vez mais dispostos ao circo, a0 que agrada e n3o ao pensamento, 4 critica. E para estes, 0 conceito de professor eficiente passa a ser 0 que dd aulas leves e no cansa, vale dizer, 0 ‘que no exige labor, pesquise, articulagao teérica. trabalho teérico da leitura, da pesquisa, da discussio e critica passa a ser substituido pela “camelagem pedagégica’” desse professor-pedrlo das reformas e endossado pelo comportamento consumista de sua clientel: E na tentativa de dissipar muitas confusdes {endossadas pela escola) que uma primeira questo nos assalta 2 mente: Teoria néo é um ato de abstragio? Sim. Os dicionérios nBo esto errados ‘mesmo, O que acontece 6 que teorid no é somente abstragdo (ou contemplacdo abstrata). Além do mais, daf surge nossa confusfo, teoria e abstracao parece, mas no so 3 mesma coisa. E porque fo duas realidades tio insepardveis e independen- ‘tes que nos confundem. ‘A. questo & que a palavra em estado de dicic- Mario reforga em nds este senso-comum perigoso. Pura e simplesmente contrapde teoria com a prética como excludentes. Af teoria nao passa do estagio de abstracdo. Ore, nfo 6 a teoria que se contrande a prdtica pura, & a abstracdo. Neste sentido, de fato, informacdes de diciondrios séo insuficientes para uma critica e uma compreensdo mais apurada da teoria, Evidentemente que falo 2 Otavieno Pereira 0 que é Teoria B da teoria entendida enquento “ato”. Fora do horizonte da pratica que a fundamenta, teoria de fato néo passa de atstracSo. Colhida nos dicionarios e compreendida s6 até o nivel de sontemplaggo néo ¢ paavra de significado profundo, é letra morta E este modo de compre- endé-la parece acompanhar-nos sempre Quando dizemos: “Na ordtica a teoria néo acontece da forma como esperamos”, no estamos af quase nos deixando entrar na “jogade dos dicionérios” e reforcando 2m nés uma atitude por demais simplista da ralaco e da unidade ‘teoria/prética? Ou mesmo quando dizemos: “Isto é muito tedrico... a vida é diferente . 2 vida cotidiana é outre coisa... no tem nada que ver com livros ou idéias”. Ou ainda: “Este individuo 6 teérico |), vive nas nuvens da abstre- a0, no é um elemento pratico, n&o pisa o chao, nfo fala das coisas concretas... néo vive o dia-a-dia ,.. nao fala a linguagem do povo... iM seré que nao existe algum mal-entendido atrés disso? Que equ(voco teriam estes lugares-comuns? Onde est4 o mal-entendido que nos leva a con- fundir teoria com abstrac3o, com conhecimento desarticulado da realidade? Por que este verbete nos dicionérios pode atrapalhar-nos mais que nos ajudar? Como entender a teoria em seu verdadeiro significado e extensdo e com muito menos bla-blé- bid? Em que e onde reside mesmo o verdadeiro fundamento do ato da teoria? ites de responder a todas estas questées © Be meet te oa er saliontar um aspecto fundamental: Qual seja, antes de ser ume questo simplesmente de ordem intelectiva, & compreensdo da teoria resolve-2e muito mais como _uma questi de método e de comportamento. Trata-se, portanto, muito mais da postura que assumimos diante do que nos cerca. Aliés, é justamente a relagdo muito estreita entre teoria e abstrardo, teoria e prética ou aco, teoria como préxis (aprofundaremos este termo na segunda parte), teoria e sto intelectivo, teoria sistema ou doutrina, teoria ¢ estrutura, teoria € ideologia (e outros conceitos afins) que nos faz alimentar certo senso-comum negative. A ‘confusio entre uma coisa e outra nos atrapalha. | E como a questo central da teoria néo se trata do ato intelectual em si 96, isoladamente, mas | da acdo do homem como um todo, envolvido no mundo e na relagdo com 0 outro, cumpre \ tomer alguns cuidados relativor @ esta palavra: £ preciso em primeiro lugar que tenhamos a fucidez suficiente para abandonarmos certos simplismos existentes na relaco entre varios onceitos que se encontram, ms apenas s¢ arecem, Por exemplo, a distingio mesma entre Zo, Pei rasie en’ sopundo lugar, que © problema do claboragto da teoria (qualquer que seja), mais “que ums questo légica, é uma questo antropolé- gica. E mais: que 0 homem como um todo é um set_muito mais completo ¢ complexo que um simples ente dotado de razi>. Antes de ser um animal racional ambulante, o homem é um ser que_permanentemente busca um sentido para si © para 0 mundo em que se vé envolvido, Que 0 homem, protagonista de todo ato tedrico, nfo 6 um ser que s6 possui cabega, mas também corpo, coragio... que manifesta paixdes, dessjos, angdstias e sobretudo possi Dragos e mos ara agir. E por causa de tudo isso que teoriza. Néo teoriza sé porque pensa. Teoriza também porque Sente, porque age. E seu ato tedrico tem tanto 2 ver com seu desejo, sua paixdo e sua aco do que com sua racionalidade. Vale dizer, sua Gapacidade para teorizar ndo implica apenas a condicio pura ¢ simples de poder elaborar idéias ‘9U adquirir conhecimentos. Uma boa compreensio a teoria é algo mais profundo que imaginamos, Como uma espécie de vicio do pensamento, aprendemos por demais a separar e até refutar ‘3 diferencas entre os conceitos, as contradicées da redlidade, sem perceber que nelas que se @neontra @_unidade das coises. E do ponto de vista. antropolégico a chave para a compreenséo do homem e da sua relacdo com o mundo no gst4 90 no pensamento, mas também no sentido € na aco. E esse conjunto todo que gera o sentido e todo ato humano. E preciso saber que a contem- jlagdo também é ato. PEP o que varersos na sogunds parte deste texto quando tratarmos da questo antropolégica bésica que fundamenta a teoria no s6 como contempla fo abstrata, Ou seja, 0 ponto de unidade entre teoria e pratica na praxis. Alias, leitor, entendo: que a palavra praxis talvez lhe seja nova e, portanto, um conceito um tanto quanto espinhoso para voc, Mas no se asuste, ela é ume categoria central que ngo deve ser abandonada. & esta palavra, inclusive, que completa a compreenséo do problema na ultima parte do texto. ‘Contudo, antes de passar 8 segunda parte cumpre fepassar brevemente o significado que a teoria tem recebido tanto no Pensamento_ Classico como: na Ciéncia Moderna, € 0 nosso préximo passo. O problema da teoria no Pensamento Classico roblema da teoria no Pensamento Cléssico (lost grega e medieval) liga-se duplamente 20 esclarecimento deste vocébulo como 0 encon- tramos nos diciondrios. * Numa visio que podemos chamar de “essen- Cialista_substancialista””. todos os coneeitos ou definigbes desse esquema de pensamento conver- gem para duzs ciéncias ou disciplines de filosofia 16 Otaviano Pereira | 0 que é Teoria v cléssica; (a) a ldgica e (b) a metatisica. Pelo ca @ (| menos foi © que propés Aristételer, tendo encontrado rere ‘Nos demais gregos e nos medievais. preciso dizer, antes de tudo, que de feto o fundemento de toda filosofia, e néo s6 a cléssica, reside numa adequada compreenso da. légica formal e material. Com este conhecimento prévio © fundante do pensamento como um todo, jé femes meio caminho andado para uma boa e ide elaborago de idéi afilowtiaciésica. na" a¥e Para rofutar Diziarme um mestre da mest graduagSo, 0 sério ensador brasileiro, Pe. Henrique Lima Vaz: ‘fuer ser um bom pensaor, fas um sto curso l6gical”” De fato, com a iégica bem compre- fendi também nose tornatéo complicade, como vezes parece, a compreenséo da doutrina do set_(metefisica), eixo central da abordagem an © para a qual tudo converge. Sé apds terem aa dados esses primeiros passos é que im uma suficiente discussio em torno do ee NOs torna mais amena. io de conhecer é visto na filosofia classi como Teoria do Conhecimento ou Gnoseologia [conforme termo origina) ou, sinde, rca fo Conhecimento ou Fenomenologia do Corhe- cimento, termos mais usados pela filosofia contem- orinea, No importa como chamamos era Giszipina em torn do conhecimento, preciso que esta discussio demanda antes de tudo um estudo criterioso da Iégica. Sem ela todas a outres disciplinas da filosofia ndo podem ser bem compreendidas e muito menos criticadas. E esta ligdo do mestre Henrique Vaz vale nfo $6 para a filosofia e suas disciplinas afins, como também para toda e qualquer ciénci E claro que, mesmo considerada de fundamental importancia, no se trata aqui de elaborar uma Visto da logica. Noso propésito é discutir teoria, mesmo percabendo esta estreita vinculagao. No final deste trabalho vamos dar algume indicagéo para o estudo das légicas cléssica e dialética, assim como da metefisica. A intencao ¢ satisfazer © possivel interesse de aprofundamento posterior. Pois bem. A visio da teoria ou do ato de teorizar na filosofia entra-nos pela porta de uma critica do conhecimento, Mas como dissemos acima, uma Gritica do conhecimento fundamentase nesta plataforma basica: a ciéncia da logica. Esta consta: taco nos deve abrir imediatamente 8 pergunta: por que reside af seu fundamento? Porque © pensamento cléssico preza de modo ‘até um tanto quanto excessivo 0 ato do conhe~ Cimento “tedrico’” (no sentido de abstracio) @ ponto de levar 0 “mestre dos que saben’ (Arist6- teles) a criar uma ciéncia voltada exclusivamente Para as leis do raciocinio correto. A finalidade Precioua da ldgica é originizar a filosofia e © filosofar a ponto de nfo deixar no¢ao, concelto 6u jufzo lum fora de. uma hierarquia ou conste: 18 Otaviano Pereira lacio. da definiphes hem dolimitadee © osolerecides. Assim, do ponto de vista orgenizecional do racioc{nio, a logica cléssica é perfeita, Por outro lado, se bem que excessivemente “légica”’ e originizada, a filosofia cléssica expressa uma espécio de “vicio de definigBes acabadas”, a ponto de quase fechar as possibilidades de um Pensar mais dinamico e até mais concreto. Quando digo "mais concreto quero afirmar 0 menos abstrato ou menos “tebrico” (intelectivo), no sentido negativo que tem sido atribuido & palavra teoria enquanto ebstracko, Neste sentido teorizar para a concepeio cléssica passa a significar quase somente abscrair. € por i ionérios em sua grande maioria apresentam como significado de teoria a contem- plecdo. Um exercicio abstrato do raciocinio, distante do concreto, do real, Teorizar torna-s6 apenas uma arte de trabaihar a mente com a idéia enquanto divorciada de uma realidade mais ample. A idéia, resultant do ato de abstair e @ le ligeda, enquanto abstrai_mentalmente o objeto de conhecimento, passa a exercer uma espécie de supremacia sobre o real, Nao é 3 toa que Platéo diz: “O importante 6 a idéia,” (A Republica). Nao @ toa também que Aristoteles elege a fllosofia, ciénoia ou saber eminentemente tebrico, abstrativo, como “Ciéncia Primeira’’. Coloca-a num nivel de superioridade relativamente & outras ciéncies ou disciplinas, sobretudo as eee Teorizar = abstrar. i i au s do objeto ou da natureza fisica Esta disciplina ou ciéncia por exceléncia, superior 4 outras € a metafisica, ou tratado do ser, para 2 qual todas a3 outras converge. E a compreenséo da metafisica nfo se dé fora da ordem léaica da _compreensio da substéncia, da esséncia, das Categorias, dos acidentes etc., concatenendo tudo numa hierarquia formal perfeita. E assim que na concepedo ciéssica 2 cabeca de quem pensa passa ser uma espécie de “computador mental” das regras e das formas do conhecimento. Sem esta ordem légica ¢ impossivel abordar tanto os objetos do mundo fisico como o de sua essincia. izem os classicos que o homem é 0 que conhece @ 1nés somos 0 que conhecemos. Santo Tomés atirma que “o conhecimento da verdade consiste na_perfeigdo de Uma natureza espiritual” (De Veritate, p. 15.2.1). Vocs, leitor, deve lembrar-so de que uma das primeiras definices de homem que sprendeu na escola deve ter sido esta: “O homem ¢ um ser racional.” Voo8 néo considera esta uma defini¢go estreita demais para o conhe- cimento do homem? E preciso perceber que hé uma inter-relacdo profunda entre 0 ato do conhecimento com Outras questdes légicas @ matafisicas que em si ‘mesmas problematizam 0 ato de conhecer. Por exemplo, as relagBes do conhecimento com a tazéo, 0 raciocinio, as proposicdes légicas, os juizos, as premissas, os argumentos, as hipdteses, « categorias: de fordem l6gicoformal relacionadas no sé com o consegiiente problema do Ser e da Substancia, como também com a problematica questéo da Verdade. Esta demanda nao sé uma légica e uma metaf(sica como ume teologia. Af 0 problema do conhecimento se amplia para elém do préprio ‘ato de conhecimento visto isoladamente. Questoes que vocé encontra abordadas pela filosofia cléssica, No entanto, équando se trata de relago homem- mundo que problema do conhecimento © do conseqiente ato de teorizar se torna ainda mais profundo e complexo que imaginamos. O problema & que a énfese que a filosofia cléssica dé tanto a0 conhecimento, & razio e ao discurso formal € que fazem do homem um “depositério do conhecimento”. E 0 conhecimento de um objeto dado ¢ sceitével ou tido como verdadeiro 36 enquanto privilegia por demais esta recepogo intelectiva e abstrata como adequacao. 0 homem com sua mente passa 2 ser um recipiente vazio, ‘onde no se articula o sentido (antropolégico) do conhecimento, versado a partir da relago com © mundo entendido como ato aberto, Mas a azo, que surge dessa rolapdo aberta, ¢ vista apenas como racionalidade e no como sentido. E assim que « Verdade para os classicos encontra na légica (mecanica) do raciocinio correto sua principal expresso e se dé apenas como adequacko. Seja adequaco da coisa conhecida (ou objeto) com @ mente — “adaequatio rei et intelectus” — Seja a da mente com a coisa conhecida — “adae- quatio intelectus et rei’. E numa espécie de “eirculo vicioso”, formal, do conhecimento. Dessa forma, de investigag3o em investigagdo, de premissa em premissa, de um predicado a outro, © pensamento vai encaixando-se nas regras légico-formeis do reciocinio como um litro d’égua numa forma de fazer gelo. E ¢ neste sentido que teorizar significa téo-somente abstrair. Trabalhar mentalmente estas formas mais perfeitas possivel de adequar logicamente a verdade intelectiva ou 28 definig®es com as categorias, Teoria passa a ser_uma questo de gindstica mental. E 0 homem. quase se reduz a este ente intelectual ("homo intelectualis”), ou méquine pensante. Mas vamos continuer interrogando. Em que sentido 0 pensamento cléssico no conseque escapar de certo “circulo Questes légicas com quest6es gnosiolégicas {de teorla do conhecimento), metafisicas (de doutrina do Ser) © teolégicas (da Ciéncia do Absoluto)? Quando _contrapdem problemas formalmente contraditérias como: pensamento € realidade, teoria e aro, pensamento puro e Pensamento do objeto, aco humana interna © ac%o humana externa, ciéncias teoréticas Particulares e ciéncias teoréticas filos6ficas, relago 2) Otaviano Pereira entre © real o 0 ideal, entre © sujeito e 6 objetn, (© subjetivo e 0 objetivo etc., questdes que a légica da nao-contradigzo (a \6gica formal/material) indo conseque resolver satisfatoriamente, E por que esses impasses? Porque a filosofia cléssica nos fornece os fundementos das defini- Bes formais ou dos conceitos e suas regras, mas no nos pode ceder por si mesma a dinamica do discurso. € preciso perceber que na_mente os conceitos. io. coniraditérios. Na ordem real eles esto voltados para uma unidade profunda. E ¢ na releco entre pensamento e discurso que 0 ato de teorizar se torna mais amplo e mais complexo, Esta relagdo deve ser como questo eminentemente antropolégice. Vale dizer, 6 preciso perceber que o homem nao é sé o ser dotado de pensamento. Mais ainda, 6 0 serpara- o-discurso, Esté no discurso porque esta na relacdo com o mundo. ‘A légica cléssica ajuda-nos no sentido de orga nizagdo do pensamento, mas deixa 2 desejar no sentido de dinamizagio do discurso. A solugio do confronto realidade versus pensamento (visio realista X idealista) no se completa ce modo satisfatério nas definigBes formeis. Se bem que ‘organizada, tende a separar uma coisa da outre. Ore, 8 solugdo deste contlito, real versus ideal, concreto versus abstrato, mostra-se justamente no encontro discursivo entre pensamento @ realidade, entre o real € 0 racional, entre a tooria € a pritica, numa unidade nfo fechade mi e dinamica, E sem assumir a contradieSo como vetor da fustio entre uma coisa e outra nés néo consegui- femos escapar 20 formalismo do pensamento. Ora, & @ contradicéo que gera a unidade, Unidade sem contradigiio no ¢ unidade, é uniformidade. Se hi tese © ngo hé entitese, no acontece a sintese. © pensamento em si mesmo, em sendo a auséncia da unidade dos contrérios, torna-se to-somente uma bela moldura, mes sem estampa. Acontece, leitor, que precisamos dar outro passo para compreendermos essa dinémica nove do pensamento, Precisamios ver o homem, 0 mundo @ 2 rela¢o homem-mundo como uma realidade mais ampla, mais complexe e mais dinémica, a partir de um novo discurso do pensamento. Discurso que o homem, mesmo intuitivamente, elabora no seu afrontamento com © mundo. E que discurso ¢ esse? E 0 da /dgica dialética. Entendida no como simples superago Ga logica formal, mas especialmente como uma incorporacio da mesma. A entrada plas portas da légice dialética é 0 ato de assumir as definigoes ‘ou a leis do pensamento correto, ritmado pela dindmica da realidade, conferinde esse mesmo dinamismo a exsas formas de pensamento enquanto discurso aberto. E como o regente que, diante da letra morta da pauta musical, faz a orquestra tocar 98 instrumentos. Mas tocar conforme os mandos da pauta © da batuta, O discurso do real nfo 6 nem a misica fora da letra nem a letra sem musica. E a sintese, ou seja, a misica executada. Porque ‘© pensamento, conquanto necessério, em si s6 nfo baste. Hé outras formas de discurso antropo- logico: intuiggo, arte, sensibilidade etc. S6 entenderemos bem esta “magia’” quando percebermos uma coisa: 0 pensamento om si mesmo 6, deveras formal, o discurso que é dialético, Dialético, mas ngo enquento antiformal, Porque © penser reside, direta ou indiretamente, em toda forme de discurso. Engano penser que no “con- certo dialético” alguém “toca por ouvido”. E 0 Pensamento & como a pauta da musica. As regras da pauta musical exercem uma funcéo de inegével importéncia na _mdsica, embora elas até possam diluirse na execuedo. Por outro lado, acentuar por demais a letra ¢ nfo a misica também significa “desconcertar” essa__unidade perfeita. Mais. dilufda ou menos dilu(da, a Iéaica formal. con- quanto necesséria & harmonia © 4 unidade, s6 se completa na légica dialética. Portanto, falar em cigncia da légica enquanto leis do raciocinio (0 que chamei aqui de pauta musical) e falar em discurso humano completo (a musica executada) implica estégios diversos e complementares de um tinico caminho ou processo, Devemos estar cientes ao pensar nas dues légicas que se completam (letra, musica e execucéo) Que precisamos ver o discurso formal vazado no Otaviano Pereira dialético como uma ponte que liga o pensamento & realidade. Saber que entre o pensamento € realidade existe 0 aspecto discursive dos dois, conjuntamente, como discursos diferentes, mas complementares. E af no cabe a lei da nZo-con- tradigfo de forma tio rigida se a contradicao € precisamente 0 vetor desse dinamismo. $6 assim @ realidade concreta seré entendida como objeto ‘de conhecimento formal e 0 conhecimento formal dinamizado num discurso novo. E a letra executada ‘em méscia. O discurso dialético néo s6 parte do real, mas também reside no real. E, em ultima andlise, sem querer forear a compreensio desta nidade, © homem, protagonista deste discurso, ‘nao $0 0 elabora, mas também estd nele. Aligs, 0 homem é esse discurso. Porque homem e realidade ‘s80.um discurso 9. E preciso voltar a insistir num de nossos vicios e pensamento, qual seja, 0 da separacdo. Ora, separar pensamento e realidade 6, inclusive, uma necessidade formal de compreengio da mesma Uma questfo de reforco intelectual para compre- ensio da realidade. E preciso saber que, se esta separaco exisie na mente de modo formal, no teal ela nfo existe, uma vez que falamos em tunidede dos _discurso inte _da_necessidade de compreenséo formal de realidade, @ compreen séo da unidade entre o real e 0 racional torna-se dificil porque mentaimente temos necessidade desta separago como momentos do discurso. Oque é Teoria E ai que vai a diferenca entre teoria » abstracao, Esta separacdo ou ¢ reforgo mental e de linguagem ‘0U questo de método, Mas s6 entenderemos que se trata de uma questo de método quando nos inteirarmos da necessidade de um comportamento dialético. E a obsessio pela formalidade do pensamento (vicio da filosofia cléssica) impede-nos de perceber isso. Falar em método hoje é repor a necessidade de uma nova atitude filos6fica. E a grande questo com que a filasofia hoje se defronta nfo é a do contetido, ¢ a questio do método. Nao § o que pensar, € 0 como pensar e, conseqientemente, aplicar 0 pensamento a0 real, torné-lo realidade. 48 que © real também demanda o pensar; 6 0 pensamento, ‘© homem que elabora tal discurso.unitario 6 36 0 filésofo, é todo 0 homem. Sobretudo nao & esse génio intelectual que filosofa no vazio. Principalmente no é 0 filésofo de gabinete. Rigorosamente esse “anjo ambulante”’ nfo existe. E se 0 problema da légica formal nfo compete 56 205 dotados de filosofia, aos intelectuais, 0 da légica dialética muito menos. Hé um impasse neste vicio de pensamento que precisa ser resolvido. Ou seja, 0 encontro entre © real e © racional. Uma questo que muitos cléssicos nfo admitem. E que solucdo encontramos? Uma soluggo formal (cléssica) ou uma soluggo anticléssica (ou “‘dialética")? Ora, @ solugo néo 7 28 Otaviano Pereira O que é Teoria 29 ecté af. Uma discussfia ontre um adepta da Iégica formal clésica e um “‘dialético” & sempre uma discusso estéril. Enquanto um fica insistindo na letra 0 outro apregoa a importancia da execucdo da miisica. O que é da letra sem musica? O que € de musica fore da letra Por um lado, 0 légico formal emaranha-se em seu discurso muito bem arquitetado e na seguranca de seus fundamentos légicos sem do cfreulo vicioso de seu raciocinio, E como se © problema do pensamento fosse um problema 56 de pensamento. Uma posicio enduri dogmética (isto é, com verdades prontas, absolutas),. “Arma-se muito bem para uma discussio ¢ contra ele ninguém encontra saida senio render-se as suas verdades formais.” € claro que a ldgica formal 6 0 fundamento do pensar enquanto “arquitetura mental” (ou regras para o raciocinio perfeito). Do ponto de vista des leis do racioc{nio, a légica 6 mesmo perfeita. Nao se trata de achar substituto pare el. O problema deste vicio é no ver que, seperadamente, 9 realidade [e sua verdade) é sempre mais ampla que o pensamento em si Por outro lado, um dialético que se sujeita a ums discussSo estéril deste nivel apresenta no minimo trés defeitos: primeiro, porque jamais vai ser 0 vencedor de uma discuss’o deste naipe Segundo, se topou discutir é porque néo entendeu exatamente nada do que significa ser dialético © persiste apenas na formelidade da verdade. No percebou oxatamente que a dialética nio ¢ 0 confronto de um método contra o outro, ou de uma {gica contra a outra. E, precisamente, o encontro de um em diteco 20 outro, Terceiro, ‘corre 0 risco de ser to dogmético quanto seu parcel ro de discussdo. Por esta via nunca vamos entender © verdadeiro significado (antropol6gico) de teoria, Termino este capitulo salientando que ndo nos interessa aqui atirar pedras nos telhados da filosofia cléssica. Mesmo sendo adepto da légica ica penso ainda que os antigos mesties esto com 2 razo. De fato, um bom curso de filosofia, uma boa compreenséo da realidade — esteja a servico de qualquer ciéncis — comega mesmo com um bom curso de Iégica formal. Ndo queremos contra- Por esta logica contra aquela. Pera entendermos © que significa fazer ou criar teoria precisamos das duas ldgicas. O que no podemos ¢ permanecer no vicio dogmético desta ‘ou daquela abordayem. Entendidas como duas légicas ou duas abordagens conflitentes, 0 ato da teoria de fato no passa de um ato de abstrar3o intelectual. Portanto, s6 meio caminho andado. O problema da teoria na Ciéncia Moderna Tembém relacionada com ¢ filosofia cléssica @ sua Iégica como um conjunto de pressupostos. E preciso antes lembrar que em qualquer ciéncia bem complexa 2 compreensfo légica do ato teérico da ciéncia. Ndo nos é possivel mencioné-lo sem um prévio itinerdrio de compreenséo de alguns lementos bésicos da ciéncia, ainda que precérios. im, @ teoria na elaborago cientifica apresenta tais elementos com algumas novidades significativas. A sua principal novidade é a vinculacéo com 0 objeto pesquisado, e, portanto, com a experién- cia, ou experimentagso, na relagdo direta de causa-efeito. Este vinculo direto com 0 objeto revolve no 26 © método de abordayem do mesmo objeto, ‘como também conceitos fundamentais af rela- clonados: hipétese, inducSo-dedugdo/andlise-sin- tese, teorialei-sistema-doutrina etc, A revolucdo do método de abordagem do objeto na Ciéncia Moderne dé-se principalmente porque agora se trabalha com dados, fatos ou fendmenos. Portanto, izonte da experimentagdo néo se cia Moderna e sua elaboracSo Mas € preciso lembrar que 2 teoria na Ciéncia Moderna, embora profundamente vinculada & experiéncia e @ relagdo causaefeito, nao anula © seu lado de abstracso mental. E sobretudo o momento da hipétese. A hipétese apresenta varias caracteristicas e no tem um momento exato para aparecer. E uma elaboragio mais ou Oque é Teoria menos solta, Basta que 0 fendmeno em questio instigue © cientista a levantar hipéteses variadas sobre o mesmo fendmeno. Diziamos no inicio desta parte que ¢ Moderna e sua elaboracHo tedr ou doutriné depende do pensamento cldssico, seu berco. Isso equivale a compreender que mais uma vez estamos diante da necessidade da compreensio da légica cléssica, E na relardo de seu método com a filosofia cléssica que se enquadram alguns: elementos de formulagdo da Ciéncia Moderna, E 6 exatamente na légica cldssica que os ele- mentos bisicos do método cientifico moderno se mostram, curiosamente, como novidade. Por ‘exemplo, 9 problema de como se apresentam as relagdes entre deducio-induclo e andlise-sintese € 0 primeiro paso para a compreensdo de Ciéncia Moderna. Enquanto os dois primeiros so modos de raciocinio ldgico-formal, os dois dltimos sdo basicamente 0 mesmo processo jé vinculado ao fendmeno observado. Vale dizer, sem indugdo- ‘deduggo nao se pensa, sem anélisesintese nao se faz experiénci Essas quatro formas de articulac3o do raciocinio compreendem-se sob a forma de (silogismos) A nBo ser formalmente, a separacdo desses quatro movimentos de pensamento tornese dificil. Impossivel até. Mesmo sabendo que a inducio € a alma do conhecimento experimental, ela 31 Otaviano Pereira | O que é Teoria no se processa sem um conjunto de deduces \6gico-formais. Mas com a indugSo experimental por si s6 nfo se faz ciéncia. Ora, discorrer sobre 0 fendmeno nao é um ato separado do ato mental do cientista, Da mesma forma, sintese no existe fora da anélise e vice-versa, nem sintese e andlise experimental fora do ambito da andlise e sintese formais. Se se chega a afirmacdo da necessidade @ da generalidade da relacSo causa-efeito no fenémeno observado, tendo em vista a proclama- go de uma lei e suas constantes, este processo Portanto, também a Ciéncia € provocadora da unidade. Unidade formal/experimental. Unidade entre fenémeno observado e conseqiiente teoria. ‘Vamos continuar neste itinerério de caracteri- zago geral. Com efeito, para entendermos bem isto precisamos saber, antes de mais nada, que temos trés modalidades de ciéncia: (2) ciéncias formais (logica e matemética) (b) ciéncias emp/- ricoformais (fisica, biologia, quimica etc.) @ (c) ciéncias hermenéuticas ou interpretativas (as iéncias humanas). Visando entender methor em_primeiro plano as ciéncias empirico-formais [ciéncias “exatas™ ‘como dizemos hoje), vamos retornar um pouco & légica cléssica, E como a légica formal esté estreitamente ligada & atividade _cientifi precisamos entender as relacdes indugdo-deducéo, andlise-sintese de dois modos: o formal e 0 ‘experimental (ou cient/fico). Mas a desvinculago entre um @ outro é tio simples, jf que pensamento formal (abstraggo) e experiéncia pratica n’o 38 separ O primeiro passo para a compreensio da Ciéncia Moderna surge da compreensio de /nduigo. Sendo um modo de raciocinio que parte da vis8o do particular para o geral, ou melhor, de uma visio Mmecanica para uma visdo organica, a inducado apenas racionalmente implica 2 necessidade de percorrer todos 0s casos particulares para genera- lizagéo. Relativamente & experiéncia do fendmeno, bastam alguns casos repetidos para a generalizacdo a teoria. Enquanto a indugo formal permanece no Ambito da abstragSo légico-formal, 2 indugao cientifica verifica 0 caso concreto, também via raciocinio, jé que tem de estar vinculado & relacho causefeito e 4 proclamacdo da lei, consoante seus resultados. Eis alguns exemplos de indugao: {a)_ formal (aristotel O ferro conduz eletricidade. E também 0, zinco, 0 cobre... (conduzem eletricidade). Ora, 0 ferro, o cobre, 0 zinco so metais. Logo, o metal conduz em eletricidade, (b) cientéfica (baconiana) Algumas vezes 0 éxido de carbono paralisa os globulos sangufneos. £ Otaviano Pereira O.que é Teoria 35 Disso se verifica o segui sempre, dadas as mesmas condi¢es anteriores, 0 6xido de carbono paralisaré os globulos sangii‘neos, Qu, ento expresso sobre a forma cléssica de um silogisno: AAs relagBes da causalidade so constantes, Ora, verificou-se uma relacZo causal entre o calor. a dilatagao, Logo, é constante este relao: sempre em toda parte o calor dilata os corpos. ‘Amato L. CERVO Pedro A. BERVIAN. Voie no fin! indica fet bbiogrticm pars protundaments dere preblema,) Nesses dois exemplos de inducdo cientitica, 0 importante ndo é 0 numero ou conjunto de expe- Fiéncias ou exemplos (como na induc&o formal), mas 0 caréter de necessidade e generalidade nas verdades induzidas e em alguns casos repetides. E 0 que dé a experiéncia o cardter de independén- cia relativamente & indugao formal. E este é 0 segredo da lei e da teoria cientifico-experimental: uma ligaco formal num primeiro plano e certa autonomie experimental num segundo, Se a induc&o formal por si s6 insuficiente 20 Processo da ciéncia, mais insuficiente ainda o seré a deducio. Constru(da a partir de premissas que se complementam, ela realiza o caminho inverso da indug3o. Ou seja, vai de uma idéia geral_& particular. Ou melhor, de uma visio organica a uma visio mecénica. E um recurso ‘de demonstraco légica do qual néo se pode proclamar a lei geral para todos vez que parte de premissas jé evidentes, relati- vamente a lei geral, para afirmar apenas 0 caso em &i, isolado © de alcance limitado. A deduclo parte ‘de onde a indugdo formal ou experimental {a alcancou como resultado final. Os exemplos que podemos fornecer so inversos dos descritos anteriormente: metal conduz eletricidade (visdo geral). Ora, 0 ferro é um metal. Logo, © ferro conduz eletricidade (visio par- ticular). Sempre expressa por este processo de silogismo formal, a deducio pode ser: {a)_categorica Sejao exemplo acima. {b) hipotética Se o metal é superequecido, derrete-se. Ora, o chumbo esté sendo superaqueciclo. Logo, 0 chumbo vai derreter:se. Com um pouco de estude da légica formal vamos percebendo que a diferenca entre inducdo @ deducdo esté no movimento de pensamento Otaviano Fereira reletivamente a0 trénsito que percorre do particu- lar ao universal e vice-versa, assim como na colocago de seus termos nas premissas ou partes deste raciocinio ordenado, coerente e légico, Mas como formas de argumentacio nem um nem ‘outro se repelem mutuamente. Com efeito, tanto um como outro so um movimento de pensamento enquanto formas de discurso racional auxiliares a Ciéncia. Uma vez_compreendida a relacio indugdo ¢ dedugéo, ndo se tora dificil relacdo andlise e s/ntese. ee Da mesma forma que @ deducio, a enélise-é a decomposi¢zo_ de um todo.em_suas_partes. A sintese, reconstituicdo do todo decomposto pela andlise, Pois bem. Como a experiéncia cientifica e seu método esté amarrada a légica do raciocinio, da mesma forma que a indugio e deducio, também ‘temos duas espécies de andlise e de sintese:a racional © a experimental, A andlise e a sintese racionais elaborades mentalmente aplicam-se a verdades ndo concretas no sentido cléssico de abstrato ou racional. E a andlise o 9 sintese experimental efetuam aquele duplo movimento de raciocinio, mas nio 2 partir do abstrato, « pertir do que ‘a Ciéncia Moderna tem de experimantsl como conereto. 0 objeto, dedo ou fendmeno, conforme esti sendo composto ou decomposto pela observacio. O que é Teoria E qual seria entdo a relacdo e mesmo a diferenca ‘entre andlise ¢ indugfo, sintese e deducio? Com os elementos até agora colocados podemos perceber que a inducso é ume espécie de andiise, id que decompie 0 objeto, indo de sua parte a seu todo, de sua simplicidade & sua complexidade. Um procesto regressivo, inverse da ordem natur Da mesma forma a dedupdo 6 uma espécie de sintese,. j4 que_compés 0 objeto, de seus princfpios 4 suas conseqténcias, de sua comple- xidade 8 sua simplicidade. Um processo progressivo, gradual sequndo a ordem naturel. De uma forma ou de outra so duas maneiras de se resolver 0 mesmo problema. A légica menor (for- mal), como ciéncia das leis do pensamento, e a l6gi- ca maior (material ou metodologia) é que véo dar tratamentos ou enfoques especificos a esta relaggo. Enquanto uma vai tratar dessas operates racionais em si (trés 20 todo: termo, proposiogo @ argumento), a outra vai trabalhar a matérie desse conhecimento correto e sua adequacdo com a verdade que deve ser estabelecida a partir do problema ou do fendmeno. 0 que acontece & que nem sempre a conformi: dade do raciocinio condiz com 2 conformidade do objeto em sua verdade. E 0 caso de muitos sofismas. ou de silogismos falsos do ponto de vista da verdade do objeta, mesmo qua corretos ou aceitdveis do ponto de vista do mecanismo do raciocinio. Este jé ¢ um problema sério que envolve 37 38 Otaviano Pereira O.que é Teoria a teoria na Ciéncia Moderna, Exister alguns proble- mas relativos a verdade que as vezes s6 0 ponto de ista do racioctnio nfo nos ajuda totalmente. Do ponto de vista simplesmente formal temos |_| liberdade para trabathar todos os. silogismos possiveis. De caminhar de um pélo pars outro fas operagBes tanto de andlise © s{ntese como de indugo e deduco, j4 que.se trata apenas de ‘operacdo mental, Mas do ponto de vista da Ciéncia Experimental a anélise nfo pode ser seguida de uma sintese como uma operaclo “solta’”.do ensemento, uma vez que a presenca do objeto ou fendmeno a prende aos principios demonstrados, Neste sentido alguns princfpios séo bisicos para ‘© acontecimento da experimentacao. A saber: 1) Absolutamente, a anélise deve preceder asintese. 2) preciso que a andlise va penetrando nos elementos simples @ irredutiveis e que a sintese parta dos elementos separados pela andlise sem nada omit. 3) Ambas devem proceder gradualmente e sem ‘omitir intermediérios. Nao omitindo nada que ainda estaria obscuro na anélise, Nada de suposi- e8es ou de lacunas no raciocinio em face de ‘observagdo experimental. feora: 1. 2 hipdtese; 3-experimentagiio: (Amico L. CERVO # Pedro A. BERVIAN. Vola vo fia! in Bia) cera 2 ee ae sachs bibliogréticas pore eprofundamento deste. principiot) Contudo, somente a relaco com os elementos da l6gica cléssica no nos 6 suficiente para uma compreenséo mais ampla da Ciéncia Moderna. Vamos dar mais um passo, E preciso tracar um breve quadro de seu método, suas etepas e suas aracteristicas para methor compreendermos a especificidade da abordagem tedrica da Ciéncia. Continuamos num esquems genérico de caracte- rizagSes. O que devemos saber em primeiro plan este método novo de ‘molar do anes no se faz sem etapas. Numa visio um pouco simplista @ atendendo a uma exigéncia de compreensio fae menos. ee emp{rico-formais (fisica, jog I, aS seguintes as suas 1) Observagdo = exame do fendmeno ete re Uma “suspeita” inicial sobre deter- minado problema que reclama uma abordagem. Zittietase.= corjetira sobre a exphcaeie ss fenémeno que solicita uma resposta experimental do observador. Estas conjeturas tém de se dar apenas pertir dos fatores que influenciam e causam 0 fendmeno. 3) Experimentacgo um ato de colocar a Suspeita 4 prova a partir dos testes. A experiéncia é entio concretizada e dirigida tendo em vista a ee da hipotese como “falsa” ou “verda- ira”. Esta afirmac&o j; tical te: 0.da explicaclo do fevereeg, ey Soe 4) Lei = como etapa final € @ expresso verbal Oque é Teoria da hipétese enquanto confirmeda ou negada, Sendo explice¢8o do fendmeno; refere-se a seus aspectos particulares. ‘Convém lembrer que uma ou varies /eis permi- tem, na Cidncia, a elaboracdo de determinada teoria (ou sistema ou doutrina). Evidentemente, estamos falando de um sentido estreito que a teoria recebe na Ciéncia Moderna sem tratar dos aspectos mais profundos do ato de teorizar. Este tratamento nfo pode ser feito sem uma critica de Ciéncia (epistemologia). Teoria aqui, portanto, 6 téo-somente resultante da experimentacgo. Em todo caso vernos contentar-nos apenas com ‘este primeiro sentido da palavra na Ciéncia, Antes de discutir mais profundamente a teoria, vamos desenvolver um pouco mais cada um dos pasos da experimentaco num exemplo concreto. Tomemos para exemplificar etapas a invengo de vacinas contra a varfola de Jenner (Inglaterra): 1)Momento da observago: Jenner observou que num rebanho de vacas atacadas pela veriola ‘a8 que jé haviam sofrido anteriormente a varfola branca (varicela) se salvaram, a0 passo que 2 outras morriam, Por qué? Porque as vacas atacacles com 2 varicela no pegam a varfola? 2) Hipétese; surgiu-lhe a idéia de retacionar os dois tempos da doenga. Desconfiou que algo se formava no organismo das vacas apés a primeira enfermidade. Presumiu que provavelmente 0 41 fe Otaviano Pereira organismo do animal proporciona uma defesa uma imunizagio natural. (Hoje chamamos de anticorpos.) 3) Experimentagfo: Jenner imaginou que pode- ria tentar uma imunizagfo artificial, inoculando Ro orgenismo do animal germes da dosnea, apenas de forma débil. E 0 momento da prética da pli ‘eacio da “"vacina’, Ao extrair um pouco da matéria contaminada das vacas doentes e injetando-a em vacas sis. Estas entio sofriam apenes levemente de variola e, apés curadas, ficavam imunizadas ‘contra ¢ doenca, 4) Lei: At Jenner conclui que os germes patd- genos {isto &, que produzem a doenga) injetados fas vacas ss provocam, no seu organismo, a produ¢go de anticorpos que combatiam qualquer germe da doenga, Deste encontro com a lei natural, ainda que implicita para a elaboracio da teori lentffica, resta apenas um pequeno passo: a escriture de lei sob a forma de uma teoria ou doutrine com validade para todos os casos. A teoria cientifica surge para consagrar 2 lei natural e generalizar 0 cato, Desa divisio que fizemos em etapas cabe ressaltar alguns esclarecimentos: Em primeiro lugar esta divisSo parece também um tanto quanto formal. A experimentargo sientifica, sobretudo ainda em estagio pré-expe- rimental ou de hipétese, nao se dé necessariamente de forma tao gradativa como acima descrevemos, Oque é Teoria indo lugar, apesar de # regido exate onde i be eanaeeaC an tiserloron dificil detimi- tagio, a observacao de um fato ou fendmeno nao deve Ser confundica com 2 hipotese. Curiosamente podem parecer, ‘mas no sfo a mesa cose. Enquanto na observaro temos 0 dado natural bruto, este dado pode sor um fato inclufdo numa concepeio hipotética ou pronto para a elaboracao de uma hipétese. Ao mesmo tempo no ¢ o pura mente dado como fendmeno, uma vez que jé pode estar acontexendo sobre ele a interpretaedo do homem (clentista). E essa possibilidads de interpretacio {4 pode ser vista como uma hipétese em potencial. Ora, a hipétese implica um cardter wentivo. A “invinga0”” do cientista a partir do fendmeno observado é um momento de “abstracao *. {sto implica o seguinte: ¢ dif er mos rigorosamente estes momentos: observagao com hipdtese (como uma abstraao a partir do dado), © com tecria a sor formulada numa fase imental. anata xg (ere hipétese via experimenticio, nto significa que ela seja absolutamente carta. E apenas aceitéve como a mais “légica’” na relario causa-efeito. A partir do momento em que uma teoria é aperfeicoada por uma nova, a teorla anterior passa do nivel de ciénéa a0 nivel de pré-ciéncia, E este © sentido de ndo-retorno do método cientifico. Nes ciéncias empirico-formais 2 caminhada € 4B Otaviano Pereira sompre progressiva. Néo se volta & estaca zero. Da mesma forma nao hé tanto espaco para as interpretacSes pessoais. Por exemplo, na filosofia, 2 visio de Deus, existéncia, mundo etc. depende da interpretagio do filésofo ou da “linha de Pensamento” seguida por ele. Na filosofia o pensador tem liberdade para refletir um problema 2 partir de um “ponto zero” ou de uma novidade absoluta. Na Ciéncia, nao. Esta liberdade s6 existe 2 nivel de conjeturas, suposigdes, € a experimen- taggo que consagra a hipétese como certa, como aceitével © com aplicag3o para todos os casos. Uma auténtica subordinagio ao fenémeno em si mesmo. Em quarto lugar, na Ciéncia Maderna a teoria estd sempre aberta ao. aperieicoamento das novas Gescobertas. Mas, da mesma forma, fechada as criticas ou interpretagdes paralelas que fujam de seus resultados préticos. A Ciéncia Moderna néo precisa falar através de discusses. Seu atestado de poder © seu poder de calar as interpretacdes paralelas que extrapolam o ambito da pesquisa em si esto em seus resultados prdticos alcancados. Nao interessa a ela, por exemplo, a critica que ‘se faz sobre 2 aplicago da Bomba H. Interessa-Ihe, friamente, o resultado prdtico da invenco, como © automovel, o sputinik (19 satélite espacial, lancado pelos russos em 1957) atc, E como dizis o ilustre astro-fisico alemio W. Weiszacker nume conferéncia: um autor que O que éTeoria tenha escrito um fivro contra @ Giéncia Moderne eo espirito cientifico que invadiu o século chama por telefone o editor 2o saber que as proves de seu livro esto atrasadas. Com isto, diz o cientista, faz um ato técito de adoracéo a ciéncia que ele tanto ataca teoricamente em seus escritos. O exemple fornecido pelo ilustre cientista parece-me oportuno para dizer que o dogmatismo desta “religigo sem Deus” do nos século ¢ que faz da Ciéncia Moderna (seu lado pritico e seu lado te6rico) um grande e temeroso mito. “2 Em quinto lugar, mou trabalho como cientista cada vez mais é considerado a partir de sulago com outros cientistas. Ou seja, a partir do que outros jé experimentaram. Na_ciéncia estou sempre dando um, a partir de onde 0 Buta pare, Cece ves nls la me provers ete interdependéncia. Dependéncia no experiment ide um com rela¢so 20 que Jé fol experimentado por outro(s). E por isso que cada vez mais os “génios solitérios” (Galileu, Laplace, Newton . estio desaparecendo, Nao é questo de falta de homens capazes em nosso tempo. E que Ciéncia hoje no se discute nem se entende mais fora do horizonte da Tecnologia. E esta implica, além de elaboracdo tedrica rafinada, trabslhos préticos cada vez mois realizedos por equipes de pesqui sadores. ‘A conquista da ciéncia com ligaglo ou depen- déncia @ pressupostos teéricos, ou conjunto de O que é Teoria conhecimentos te6ricos (abstratos) que definem seu _método e seu estatuto, apresenta em sua formulagdo metodolégica algumas caracteristicas ovas. Estas se tornam chaves para compreensio de mesma, sobretudo a nivel de seu estatuto tebrico-pistemolégico (isto 6, de formulagio da Ciéncia). A primeira dessas caracteristicas 6 a matema- tizagdo. A Ciéncia Moderna intoressa-se pelo que & mensurdvel. As qualidades da natureza passam a ser medidas por uma linguagem de quantificacdo, Por exemplo, no conhecimento ordinério chama. mos determinado corpo de “quente”, “morno’” ou “frio”. Na Ciéncia Moderna, quando deixamos ‘© conhecimento ordinério e passamos a elaborar uma linguagem que trate da relago causa efeito, a0 falar em temperatura de um corpo, colocamos tudo isso em medidas; mais precisamente, em graus centigrados. Assim, a mensuraglo é o Primeiro asso para uma Tinguagem simbélica (matemetizade) multo precisa. Da mesma forma, propriedades como cor, convertida em tonalidades; dureza, em densidade; peso em quilogramas, toneladas...; eletricidade em volts, ampéres; som em bells, hertz; e assim por diante. E esta simbologia légico-matemética que atribui a Ciéncia Moderna uma linguagem unitéria e a torna_univoca (isto é, homogénea, de nica interpretacdo) e universalmente valida. ‘A segunda caracter(stica € a. funcionalidade. Enquanto outras formas de pensamento, cultura ou saber giram em torno de coisas, ou mesmo causas, na Ciéncia Moderna os fatos ou fendmenes, suas conseqiiéncias e causas s8o vistos a partir da fungSo e do proceso todo. Ao cientista nlo interesse dizer 0 que € ou 0 que sfo as coisas (num sentido ontolégico, ou seje, mals global), nem seu porqué. Interrogacées metatisicas (isto 4, da esséncia do objeto) niéo ajudam om nada a0 processo do conhecimento cient(fico, suas regras, seus procedimentos, seus estatutos. Interesse-Ihe relatar 0 como esté sendo processado uma experiéncia e a quanto ou 2 que medida @ mesma se processa, tendo em vista unicamente seus resultados. A _terceira_caracter(stica_éo que podemos chamer de cardter seletivo. E 0 que define este método como indutivo. Para se fazer uma hipdtese explicativa o cientista tem de selecionar os elementos com que vai tratar. S6 este tratamento no dado particular (aps repetidas experiéncias) 6 quo vai pormitir-the chegar 3 lei geral. ‘A quarta caracteristica & 0 que chamemos de caréter aproximativo da teoria cientifica, Tem muito que ver com a teoria enquanto esta é, na cigncia, um ato de inveneSo e de interpretacio (em certo nivel) do fato. Cada vez que uma teoria cientifica cria uma explicacgo para o fenomeno, ela, na sua linguagem simbélica, inventa e inte preta como se o simbolo (matematizado) substi- 49 tu(sse a realidade, Por exemplo, explicar o étomo a partir dos moldes do sistema solar é uma invengo simbélica para 0 esforco de compreensio. Assim, ‘nfo sendo a reconstrucio da realidade uma “foto” ‘ou reproducio da mesma, em linguagem simbélica e matematizads, ela se aproxima da_realidade gbservada, Dal, 0 cardter abroximativo da Ciéncia. ‘A quinta caracteristica € 0 que podemos chamar de cardter progressive, A_construco da ciéncia € um provesso_cumu io qual as teorias cientificas vo sendo superadas © aperfeicoadas, Nada impede que um fato observade © experi- mentado possa ser novamente observado, sob outros enfoques, inclusive, e tendo suas leis ante- riores reelaboradas. Assim sendo, no sentido da aproximacdo entre o simbolo e a realidade, ¢ no sentido da exatiddo, a ciéncla experi trabalha sempre a partir dé teorias menos perfeitas para as mais perfeitas, A sexta caractor(ctica 6 a exatidléo. Nio signi ‘contradico relativamente ao cardter aproximativo. S80 duss caracterfsticas diferentes. A ciéncia é exata precisamente na sua formulacio untvoca (homogénea). E tem de ser univoca exatamente pela dependéncia de seus resultados e, mais ainda, da [ei anterior sobre um fendmeno observedo ou experimentado, Estabelecidas estas caracteristicas, cumpre agora dar outro paso: mostrar algumas diferencas que distanciam 2 Ciéncia Moderna com a fonte do saber que a originou, isto é, a Filosofia Grege ou Cléssica, Esta relacdo nos faz ver 0 quanto @ Ciéncia Moderna pode e deve ser questionada ‘em seus ostatutos (sua constituig#o) e em sua natureza_e fungdo. Portanto, também em sua elaborecdo tebrica que, hoje, sobretudo, passe pelo crivo de uma profunda eritica realizada pela filosofia. Na verdade néo existiu “ciénoia’” entre of ‘gregos. Pelo menos no sentido moderno que s¢ 8 0 termo @ notadamente & sia aplicarbo ciéncias experimentais. Apenas uns _primeiros rudimentos de ciéncia, j que © modelo-pedrdo de ciéncia em sentido amplo ¢ @ Ciéncia Moderna. ‘A ciéncia anterior a Galileu, 2 Newton ou 4 Revolugdo Copernicana sempre apareceu sob a forma de ume pré-ciéncia ou de uma protociéncis. Quando muito um saber ou um conjunto de disciplinas ligadas filosofia do que propriamente “Ciéncia"’ Neste sentido, a primeira diferenca a notar € que a Ciéncia Grega era quafitativa, enquanto a Ciéncia Moderna & quantitativa. A Ciencia Moderna tem de ser a ciéncia das medidas (reveja (© que falamos sobre a matematizagio). Enquanto numa linguagem aristotélica falarfamos em quente/ frio, seco/timido (qualidades da “phisis” ou natureza), j4 na concepcAo galiléica (do sébio italiano Galileu Galilei) perguntamos sobre 0 (grau de temperaturas. Esta ¢ talvez a coracterfstica cmum ras | OeeTn mais marcente da Cigneis Moderna com seus aparelhos de medir 0 objeto ou o fendmeno, A segunda diferenca é que na Ciéncia Grega a8 coisas ou substancia e sua natureza apresentavamn um cunho metaf{sico de conhecimento de causas; vale dizer, de ida as ra‘zes ou esséncias dos objetos de conhecimento. & a pergunta direcionada ao © que é, 0 que sfo. Ao passo que na Ciéncia Moderne é @ relagfo entre a3 coisas que interagem (Feveja'0 que falamos sobre funcionalidade). A terceira diferenca é que a Ciéncia Grega, por um lado, volta-se para. a busca da causa, mas sem s@_dasligar deste cunho filoséfico ou metafisico amplo. A Ciéncia Moderna, por outro lado, na resolucio das relacdes de causa-efeito do fenémeno articular, apenas constr6i a lei geral a partir de uma linguegem simbélica © matematizada (revela © que falamos sobre o cardter seletivo e 0 caréter aproximativo da Ciéncia Moderna), A quarta diferenca 6 que a Ciéncia Grege (pré- ciéncia) era mais antropocéntrica — assim como @ medieval, teocéntrica. Antropocéntrica tanto ‘no. sentido fisico como no sentido cognitive. A Gigncia Moderna ¢ excéntrica. Nao girs em torno do nada exterior a si mesma, Existe em fungio de seus resultados. Pois bem. Como fica a questo da elaboracto te6rica na Ciéncia Experimental Moderna? Dadas essas caracteristicas e mostradas essas diferencas, Podemos falar especificamente da teoria na Gieneia Moderna? © primeiro elemento a ressaltar é que a teoria na Ciéncia Experimental, assim como na concepcao cléssica ou, ainda, como podemos constatar nos dicionérios, em geral opde-se a prdtica. Pelo menios em seu uso corriqueiro, é compreen- dida apenas quanto a seu aspecto abstrato de construg8o de raciocinio e n&o como ato de ‘teorizar como um todo mais complexo. Néo é que esta questo antropolégica envolvente da teoria rndo exista nas fases do labor experimental. E que @_Ciéncia Moderna, em sua visio estritamente ‘objetual e mecanicista (técnica), no se interessa por esta questio antropologica — assim como por demais questBes anteriores — relegada 4 metaf(sica idealista (2 busca dos fundamentos abstratos des coisas), Entdo, curiosamente, numa concep¢ao em que se opée & prética, ela depende diretamente da experimentacdo. cat ‘Assim, 0 sentido de teoria nas ciéneias emp! formais (fisica, bologia...) resulta e depende exolusivamente de seu método e nele se ervolve, Estd estritamente vinculada as leis da natureza @ & proclamaco dos resultados préticos de seu método. Sua funcio Unica ¢ contribuir na apresen- tago dos resultados da experiéncia, proclamados em leis, doutrinas, sistemas , coordenando & unificendo o saber cientifico num corpo doutri- nério universalmente vilido. A partir de sua proclamago como verdade 5 2 Otaviano Pereira universal, apresenta um carter de irrevers (ce no ‘poder recusr). Irteversbiidade nio care Felacdo @ futuras descobertas, evidentemente mais Perfeitas, mas com relago a verdades do passedo, sempre elegads a extigio de pré-clnco, ; © que distingue teoria de hipétese na Cié Moderna? Os dois slo. aios intelectvos ligeon _prdtica da pesquise. Mas a hit otese, entendida same. dme, orlewra (spose) ave sirse = Page oo ee are fendmeno, 6 sempre um Estando diretamente vinculada & trite), a eorla na eri exorce © papal Season mento da hipétese, depois de experimentada e comprovade. Se a hipdiese é uma suposi¢ao. pars ser posta & prova pela experimentagio, a teorla id implica a proclamaco de sous resultados, Mas ambas sequidas do ato de abstracdo, : E verdade que de uma teoria dada outras hipé- teses pod m_@ devem surgir, Alids a teoria tem a fungao de por um ponto final na experimentagao, lenando os resultados alcangados, la abre espafo para novas conjeturas, Assim, a teorie na cincla. presenta também aquela. tungSo. de ‘amarra¢do” da experiéncia, Tudo vazado numa linguagem simbéiica ¢ matematizada que aproximna e simplifica 8 relag8o experiéncia-natureza (cardter Poo © simbélico). E ela que dé sentido fa com I: oun ‘suas leis, para 0 homem que a ee Oque ¢ Teoria Entre os diferentes perfodos histéricos de compreensio © definicdo do processo cientifico- experimental, 0s cientistas tém, todavia, divergido muito relativamente ao que cada um entende por teoria na Ciéncia. Com efeito, esta questdo, se investigada mais a fundo, ndo péra e muito menos se esciarece 2 contento apenas a partir do método cientifico- experimental em si mesmo. Como separar, por exemplo, teoria de: experiéncia, natureza, objeto, ato de conhecimento e visto: total (ontolégica) da realidade, presenca do homem e outras questes afins? Os autores A. L. Cervo e P. A. Bervian (ver bibliografia. para aprofundamento) mostram-nos algumas divergéncias dos proprios cientistas na consideragio da teoria. Segundo eles até meados do. séoulo XIX, os cientistas de modo geral admi- tiam que a5 teorias ndo s6 explicavam os fatos, mas ainda eram uma apreensio da prépria natureza ‘ontolégica (ditima, total, essencial) da realidade. E ainda a fase histérica em que a ciéncia néo exerceu de modo satisfatério sua “libertaco” relativamente 4 filosofia. A partir do século XIX, quando a visdo meta- fisica da natureza se torna definitivamente rechagada pela Ciéncia Moderne numa atitud nitidamente materialista, mecanicista e depois positivista, os clentistas restringem a compreensso de teoria ao dmbito da experimentacdo. Neste Otaviano Pereira O que ¢ Teoria 55 sentido temos, por exempl = Para E. Mach as teorias apenas orientam 0 s4bio com economia de pensamento. a Para Henri Poincaré as teorias nfo s3o verda- eiras nem falsas, sfo cémodas, — Para Pierre Dihen as teorias servem apenas pare classificar os fatos e as les. = Hoje © procura uma posi¢go intermediria. Sobretudo quando a visio posit nBo se Sustenta mais na sua pretensio de abarcer todo © pensamento e fazer da Ciéncia a sintese orgénica da cultura. Enfatizamos até agora de modo mais especial a cigncies empirico-ormals. (Fisica, quimica, Biologia, boténica. ..). Quase nada falamos acerca da teoria nas ciéncias formais a matemética), cli ‘A matemitica, sabemos, 6 a ciéncia que estuda #8 grandezas @ as formas, Como ciéncia das grande- zas e das formas sua formulac3o légica processa-se sempre a partir de verdades jé conhacidas em diregfo @ uma nova verdade legica. Sempre ‘trabalha com problemas que pedem uma conclusio. Por exceléncia ¢ a ciéncia das conclusées. Conclu- sBes oriundas de operagzes mentais, isto é, abstratas e simbélices. No ritmo de um constante ‘desencadeamento légico entre verdades aceitas racionalmente, a matemética se reduz quase sempre a estabelecer tautologias (repeticdes; tautos = 0 mesmo). Daf seu carater simbdlico e sua necessidade de trabalher proposiges racio- rnalmente légicas. por isso que a matemética nfo chega ao estégio das ciéncias empiricoformais e se estabe- lece apenes 20 horizonte do formal. Exerce, para as ciéncies empiticoformais, a mesma fungao que a ldgica cléssica exerceu © exerce para 4 filosofia ou para 0 pensamento de modo geral. Alias, matemética e ldgica formal encontram-se de tal modo que é simplesmente imposs{vel pensar em matemética se esta ndo forum conjunto de postulades simbélicos (ver explizagdo logo mais adiante) sempre de acordo com 0 desencadeamento, légico do raciocinio, E, conquanto diferente, visto no se subordinar & experimentac3o do fendmeno, curiosamente ela esté presente nas ciéncias ‘empirico-formais e a elas prestando servicos. Néo s faz matemética © no. ser para uma apl €apB0 Ou interpretacio de um problema que a natureze teclama. Como separar, por exemplo, a matematica da fisica, da mecénica? No entanto, se ela néo se separa das ciéncias empirico-formais ela igualmente nao chega ao estégio de tais ciéncias exatamente por se estabe- lecer no ambito do formal e por ser uma tautologia (repeticfo) constante. O que a torna distant de uma definigo de ciéncia completa & 0 fato de nao trabalhar com o objeto ou o fendmeno diretamente. A relacio da matemética com @ natureza no é uma relag3o experimental de 56 Otaviano Pereira causaefeito, € apenas uma relacdo. simbélica; 4 que seus principios si0 apenas "matemsticos’" Ou seia, quantitativos, tautolégicos, principiog formais e de medida. Suas detini¢&es e conclusdes (suas “teorias“) nao partem do empirico, mes de abstrardo de deducdes légico-matematicas, ainda que com aplicacao a problemas da natureza € suas leis naturais expressas na Ciéncia. Trabalhando sempre com proposigées Iégico- simbélices, (os ndmeros que substituem a estrutura Sramatical de reciocinio corretol, 0 matemético 86 pode postular. “Postulare’” (latim) significa pedir. Quando cria o postuledo, ou uma propo. Sig8O matemiética na sua estrutura légico-simbélica, © matematico nos “pede” que concordemos com ele. Assim, @ matemética torna-se sempre um ato racional de “‘inveng3o”, no ume ciéncia completa, Diante das hipétesas nZo hd verdedes absolutas, Mas os mateméticos precisam ir convencionando uma linguagem simbolice para tentar explicar a Fealidade a partir de suas medides © formas, Neste sentido, mesmo diente da consciéncia desta relati- vidade, a matemética apresenta 2 necessidado de uma linguagem convencional/universal. Sendo, como os mateméticos também se entenderiam? A’ necessidade de certa obrigatoriedade de ProposigSes convencionais faz parte inclusive do Proceso efetuado pelas diversas leituras que os ‘mateméticos fazem de um mesmo problema O que € Teoria Daf também o cardter de inventividade nelle da matematica, Nestes termos ela é Hs rel cenjunto. do invensdes simbélicas e tautolsicas do que uma ciéncia propriamente dita. a list, por exemplo, no ria a ave (que « naturez jf the dispGe pare @ peal come 9 metas /* © retangulo. tim objeto da netreza ciante. do, qual eu vou ter uma posture de obsenador. & to-somente time ergo, mental, simbélica, formal. Rigoro: samente, entéo, néo existe a teoria em pate pelo menos nos moldes das ciéncias emp! formis,nasua afrentaaofendmeno. Ou ent&o, diria, de ume forma ou de is teorizar. em matemética significa, eee trabalhar ess conjaturas, postulatos, hintees ou decusdes lien formes « simbéliess. Curio samente sendo uma ciéncia do eae Hate A tice nfo not permite um estudo mais amplo ¢ mais profundo do sto de teorizar. ore novamente 2 uma visdo antropolégica oes roponho para @ segunda parte ae traeho” No. mime um seco “Mica” de abstracdo, de mecanismo mental. Mas ae abordagem néo nos aud a avanear nto, Falardo i além in Oe ras no é experimental, Ssberain, estamos nada mais nada menos poluntes oe formal. $6 que numa froca de simbolos. io nos beste. 7 58 Otaviano Pereira O que é Teoria _ Resta, neste cap tuo, viamente, problema deseincis hinences oe toa, smatematica como ciéncia formal nfo reine todos os requisitos para se constitu uma ciéncia mpleta como as ciéncias empirito-form cae menos as cléncias hermenéuticas ou inter- Dretatives (histria, pscolona, ciéncias palitcas =). E sua natureza, os modelos diferenciacos de seus estatutos, a corta imprevisibilidade de $2Us resultados préticos, tudo isso, conjuntamente, Problemetiza o seu ato teorico relativamente a um modelo epistemolésico (modelo de ciéneia) Gelimitado. 0 ato de teorizar nas ciénias humanes ash pode prender nem ao. objeto, dado o meno, como nas. ciéncias empirico-formals, ‘nem a abstraedo formal e simbélica das conjeturas Rear como na matematica, ea formulago da teori iénei son cel in sci bunara investigacio nfo € 0 mero dado bruto da natures ©u do raciocinio e tampouco passivel de certs ‘manipulaeSo". Seu objeto de westigagdio 6 ao mesmo tempo sujeito. Nao deixa de ser a natureze, Mas no ¢ mais apenas a natureza natural. E 2 hatureza humana @ social. Este ¢ 0 né da questo Dessa forma, a relaeo sujeito-objeto das cigncise empirico-formais torna-se relagdo suj nas ciéncis humanas, tanto © problema de elabc ic como 0 de proclamagio. dos renultedee aut eaa, de construgo de um estatuto cientifico padrao tém gerado questdes insoluiveis e de eterno debate entre os mentores desta érea de conhecimento. Assim caracterizada, 0 primeira. problema das ciéncias humanas ¢ 0 seguinte: mesmo reunindo algumas condigSes para se constituir como ciéncia, elas nfo 0 s80 completamente porque nZo podem enquadrar-se de forma pura e simples nos moldes estatutérios das ciéncias_emp{rico-formais. A tendéncia _positivistamecanicists comteana (de Augusto Comte), em: fazer da Sociologia um modelopadrio de Ciéncia Universal 2 partis de uma sintese positiva do conhecimento da humanidade, tem de ser repensada como uma questo séria. Questo séria porque pode ter representado 0 maior perigo para 0 proprio patri- monio cultural do homem na caminhada de seu persamento universal. Qual seja, atribuir 4 Ciéncia uma fungo que ela ngo pode cumprir. © segundo problema, 6 exatamente o da elabo- ragio tedrica e da proclamaggo de seus resultados de pesquisa. Nao cabe a pretenséo de propor as ciéncias humanas 0 mesmo modelo de elaboracdo tedrica das ciéncias empirico-formais (método indutivo) exatamente porque o dado novo que surge 6 0 da interpretardo. Interpretar, em sentido amplo, j4 ndo é fazer ciéncia. Mas a interpretapao nas cidncias humanas no é também uma questo 10 central, absoluta. Af esté seu problema, A ‘questo é que as ciéncies humanas devern promover S Otaviano Peretra Um encontro entre a matematizaglo dos resultedos com a interpretagio do homem. E por isso, por ‘exemplo, que os dados estatisticos em ciéncias humanas no podem ser do mesmo molde que © das ciéncias empirico-formais, Pelo mesmo motivo, as ciéncias humanas no devem prender-se & relagéo causa-efeito, como isto se dé nas ciéncias que trabalham o objeto fatural (empiricoformais). E a proclemagio de Seus resultados, sempre uma questo em aberto. O fendmeno experimentado, tendo seus resultados transformados em lei, teoria ou doutrina so absolutos nas ciéncias empirico-formais, pelo ‘menos até o momento em que outros resultados, também absolutos pera a experiéncia em questio, Superem os atuais. Nas ciéncias humanas é esta a relatividade dos dados que fazem dela uma ciéncia da interpretagio por exceléncia. Assim, as ciéncias humanas devem colocar-se sempre no. meio-termo entre os dados inacabados da natureza (humana, no caso) e a interpretaco. Mes uma relatividade que exatamente nega és ciéncias humanas aquele cerdter fechado e definido de ciéncia, no sentido em que as ciéncias empirico- formais se t8m definido © fazem dela uma “meia- cigncia” ou “quase-ciéncia’ cia “solta’” © aberta, isto €, nao tdo rigorosa como as outras ciéncias. Usando um pouco de uma imagem para valer de exemplo, diria que fazer ciéncias humanas é O que éTeoria (Classico em punk. on Otaviano Pereira como ter de navegar a0 mesmo tempo com of pés em dues cenoes. Sem poder ebandonar total- Mente © barco das ciéncias da natureza, por aproveitar delas alguns dados para o conhecimento do objeto, @ ao mesmo tempo sem poder abando: ner de vez aquele segundo berco para navegar com exclusividade apenas no primeira barco. Um diffcil equilfbrio. Um complicado jogo de opgies, E por isso que falar em teoria nas ciéncias humanas 6 até um tanto perigoso. Perigoso porque ‘no temos muito com © que nos apoiar. Torna-se algo “escorregadio’ exatamente porque no podemos apoiar-nos totalmente nos modelos , sem poder também tebricos das outras ciénc: construir um modelo proprio. Vale dizer, as ciéncias humanas parecem estar condenadas a uma erene indefinicao (epistemolégica, ou de modelo cientifico) pelo menos no que diz respeito a uma linguagem matematizads, unitéria, universal, como nas outras ciéncias, Desta forma, a elaboracfo teérica que parte do ‘objeto observado nas ciéncias humanas — no caso © proprio homem em questo — vai sempre dependendo de modelos de pensamento ou “escolas”. E 6 a partir destos modelos que 2 eleboragio da teoria nas ciéncias humanas se prende com certa flexibilidade para mostrar seus resultados e criar suas interpretagdes. E 0 caso da Psicologia, por exerplo, que se tem ramificado Oque é Teoria em ‘antas formas, difiaultando uma sfntese: gestalt ou psicologia do corpo, psicologia compor- tamental, escolas de linha existencial/fenomeno- légicas, ‘tendéncias socisis ou sbcio-politicas, tendéncia positivista — em cujo solo a psicandlise floresceu etc. Portanto, 0 ato tadrico nas ciéncias humanas revolve também uma velha questo antropolégica. Mais que em outras ciéncias, nas ciéncias humanas esté cada vez mais claro que 0 problema da elaboragio ds teoria ndo ¢ sé questéo légica ou gnoseologica (de teoria do conhecimento). questo eminentemente antropolégica. Vale dizer, as ciéncias humanas mais que outras, refletem @ complexidade do ato twérico. Antes de mais nada fazem-nos ver que sua compreensio se vincula diretamente 20 fato de o homem, na sua relacdo com © mundo, ser néo 36 o protagonista (elemento central) de toda teoria, enquanto abstragio, mas também 0 ser teérico-prético. E 0 assunto de que vamos ocupar-nos na segunda parte. O que éTeoria Il SEGREDOS DA UNIDADE TEORIA/PRATICA Justificativa desta abordagem Para abordar @ teoria num plano mais amplo no podemos optar nem pela abordagem cléssica, nem pela abordagem da Cigncia Modema, notada- mente 2s ciéncias emp {rico-formais. E por que 2 abordagem cléssice n8o nos serve por completo? Porque o pensamento cléssico exagerou 0 lado da teoria ou conhecimento teérico da realidade como abstrapgo, como raciocinio, como ciéncia da Idgica ou do raciocinio correto, esquecendo-se do elemento fundamental na articu- aco do pensamento. E que elemento é este? Ea sintese. E 0 elo que liga pensamento e real dade, ou soja, 0 real ao racional e o racional a0 real e atribui 0 cardter de concreticidade tanto a um como a outro elemento. O pensamento cléssico permaneceu numa postura um tanto quanto “idealista” (contempiativa) em seu método de ‘abordagem da realidade. Neste sentido, toda teoria a respeito de qualquer realidade, ou natureza, passou a ser uma espécie de cobertura ‘ou vemiz da coisa e néo a coisa-em-si. Embora demasiadamente essencialista, 0 _pensamento Ccléssico ndo atingiu a essincia des coisas, em sua abordagem, porque escondeu seu lado de concre- tude, que s6 acontece na sintese entre real © racional, Cultuoy muito 2 esséncia, mas uma ‘esséncia abstrata, uma esséncia de conhecimento, enquanto contemplada, cesvinculada do conereto. (© pensamento néo pode servir apenas de capa ou cobertura. E preciso limpar um pouco esse verniz excessivo para podermos enxergor es coisas mais em sua nudez, vale dizer, em sus concretude, ‘como objeto de conheciment E por que a abordegem cient/fico-experimental nfo nos ajuda também? Porque, se de um lado 0s ‘cléssicos se esqueceram do objeto real, concreto, 2 Ciéncia Moderna, numa reapgo 4 metafisica clissica (essencialista e contemplativa), exegerou © outro lado desse vicio ¢ igualmente nfo chegou sintese. Numa reago contra esse envernizamento realizado no passado, @ Ciéncia Moderna, pelo contrério, prendeu-se demais 8 experimentagao do objeto concreto, rejeitando aquele especto de vis80 ontolégica (essencial, global) de realidade, Mas 0 que 6 pior no empreendimento da Ciéneia Moderns é que, se os cléssicos, num vicio nitide- mente idealista sobrevoaram a realidade, eles néo substituitam 0 sujeito do conhecimento como is, Evidentemente que falo aqui sobretudo rico-formais e da mentalidade positivista-mecanicista (que superestima a ciéncia a técnica) © pragmatica (utilitarista) que invadiu nosso século, endossado polas “vantagens” que @ tecnologia trouxe em relago ao conhecimento contemplative do pasado. E num gesto histérico de reviravolta do jogo de métodos, a Ciéncia praticamente esqueceu'se ie errr da Bo — criando um monstro mitolégico que ela mesma agora no ¢ capaz de dominar: 0 com- plexo ciéncia-tecnologia. A néo ser que ela peca auxilio a quem anteriormente abandonou como E hoje a filosofia (nfo mais a filosofia classica) é chemada a fazer a critica da Ciéncia para tentar, num gesto intepretativo e critico, redescobrir ‘© homem que o mecanicismo escondeu e a tecno- logia robotizou. Ndo é & toa que hoje tanto se fala em redescoberta do prazer (des-repressio), da poesia, da arte (e sua funcdo social), de emocao, da articulaeao do desejo etc., muito embora estes discursos sejam um tanto quanto perigosos s no forem bem colocados E a filosofia val tendo de edescobrir sua “‘vocag#0 socratice” (vocagao de interpretacio e cr(tica) para reinterpretar 0 homem concreto nesta sua viagem civilizat6ria (seu percurso histérico) em busca de sou parafso perdido ou de sua utopia imagindria (seu perma nente sonho de realizacdo historical. £ quando falo em homem conaeto nfo falo do individuo, falo do homem da classe social, da relagdo de poder etc. 4 E por isso que a Siéncia ndo nos serve aqui. Nem em sua visio de mundo nem em sua articula G80 te6rica, Sejam a ciéncias empitico formals, sejam as ciéncias formais. Por curioso que possa parecer, e considerando 0 sentido que queremos der a teoria equi, talvez as ciéncias humanas nos sirvam um pouco mais, apesar da ausincia de um estatuto pronto como ciéncia, no sentido ‘estrito da palavra. Mas é nela que 0 homem reape- rece, apesar das mil interferéncias de discursos distorcivos (ideologias, “‘escolas” diversas, lingue- gem fragmentada etc) que interferem no conhe- cimento do homem concreto, do homem como sujeito. Mas nfo vamos sproveiter 20 todo a viséo tebrica das ciéncias humanas. Considero-as ainda imaturas na sua pretensio de estabelecer o discurso de sua “vitima’, o homem. Neste sentido, so ‘a Historia e 0 progesso_do_pensamento é que, vio dar novos rumos is tentativas de cientificidade, Otavian Pereira O que é Teoria elativamente, so conheimentado-homem. ‘como diz 0 Pe. Vieire: “Temos que ler o futuro mas entranhas das vitimas.” E penetrar_nas entranhas do homem _concreto, _encarnado, ‘istorico, © vescuhar sue visceras para ver seu fut numa abordagem _teérica, tarefa_que_nenhuma ciéncia tem reali Primazig. Seja por absurda distoredo do objeto de conhecimento e de sua propria finalidade (caso das ciéncias emp(rico-formais), seja por deficiéncia de método (caso das ciéncias humanas). Unidade teoria e pratica na “praxis” Jé dissemos na primeira parte que 2 abordagem da teoria aqui se prende e se justifica a partir de uma base antropolégica. A teoria, a aco ou ratica e a praxis, Antes de Investigar mais a fundo é preciso Tessaltar, de passagem, que os trés elementos, teoria, prética e praxis so conceitos diferen- ciados de um mesmo processo, E mais, teoria e abstrag0 nio se identificam por completo, sendo aquela um conceito de maior teor que esta, sendo esta urn momento daquela. Agora, quando falamos em ago ou em prétice estamos, aqui, usando um conceito pelo outro, sem maiores problemas. Assim constitufdos, para chegatmos unidade da teoria e da prética na praxis € preciso aprofun- dar a relacgo e, consequentemente, a /centiaaae e diferenca entre teoria e prética. Ver onde pode acontecer a cisdo (divisio| e onde deve acontecer, igualmente, © encontro entre um e outro, num momento em que esta unidade deve aparecer. Af esti 0 6 de uma questo eminentemente dialética, Em todos 0s aspectos que investigarmos nesta relagdo €_o homem quem deve ester _no centro, O homem, com sua agdo, sua presenca e sua relago com 0 mundo. Uma presenea e uma ago que € ac&o sobre o mundo material e, conseqden- temente, sobre si mesmo. S¢ a aco do homem, faz dele 0 préprio sujeito, duplamente entendido, sujeito de si e de sua acto individual e, num estagio superior, sujeito do mundo, a n(vel, da relagao social ou de classe. E qual seria a raiz do significado da aco do homem? A aro humana se enraiza, determina e esclarece a partir do significado cultural que sb © homem dé a sua aco. Nem o animal (ngo humano) e muito menos @ natureza de modo geral podem gerar este significado. Este significado cultural da ago humana, de que estamos falando, implica a diferenca vital entre o mundo material natural e 0 mundo cultural. Aliés esses elementos bdsicos separam e definem os conceitos e os objetos da ciéncia da natureza e das ciéncies humanas. ae 0 Otaviano Pereira Esta significativa aco do homem sobre o mundo no deixa de ser uma aco prética Seja no mbito da transformac3o da natureza material (natureze natural, no humana), seja, conseqiien- temente, da transformay3o da natureza humana ‘ou do homem na sua rela¢3o com o mundo natural e social. Portanto, para fi em teoria 6 necessario focalizar. aquele significado cultural (antropolé- gico) basico da ago, Mas no podemos esquecer que esta relac3o implica uma fundamental dependéncia da teoria com referércia & prdtic Uma dependéncia de fundamentecSo, jé que 2 elaboragfo da teoria no pode dar-se fora do horizonte da prétice. Sé a prética ¢ fundamento da teoria ou seu pressuposto. Em que sentido? No sentido de que o homem nao teorize no vazio, fora da relaclo de transformacao tanto da natureza, do. mundo (cultural/social) como, consediiente- mente, de si mesmo, E a teoria que nao se enreiza neste pressuposto no teoria porque permanece no horizonte da abstreco, da conjetura, porque nao ascendeu ao nivel da ac&o. Por conseguinte, no permitiu a0 homem avangar em direco a praxis. Praxis -entendida como 0 coroamento da relacio isarial prética e como questo eminentemente humana. wal absolutamente no pode ser o ser da Exta questio é irredutivel. E por que acentuar por demais o homem nesta Oque é Teoria relagio? Ora, se o animal n3o pode ascender (atingit) 2 préxis, € porque, na sua apo, néo pode elaborar a teoria, Sua acdo 6 uma espécie de “prética pura”, ndo é interiorizada, no é “*contemplada”. Porque no ¢ acdo de consciénci Hé uma diferenga antropolégica fundamental que separa o homem do aninal. E que o animal no possui @ capacidade de distanciar-se da natureza para refletir sobre sua apSo. Distanciar- ‘em termos de tempo e espace para poder articular a significaco ou o sentido de seu ato. O animal esté merguihado no dado imediato que é a natureza presente em tempo e espaco diante de si mesmo, no momento de sua ago. E por isso que nao cria nem @ relago social (para se fazer e crescer nela) @ tampouco faz histéria (nem a de si mesmo, nem ‘a de seu tempo). Mesmo meigulhado na natureza, conhecendo-2 de forma espetacular, é dramético 0 fato de 0 animal ndo poder criar cultura. E ainda, a aco do animal pode apresentar um invejével desenvolvimento ou um aperfeicoamento prético. E 0 caso da abelha que trabalha a massa da colméia, ou ‘o mel, que possui um incrfvel senso de orientago ou de espaco, ou, outro exemplo, como o joSo-de-barro que fabrica e aperfeigoe sua casa @ a muda conforme a dirego do vento. Tristemente, este ser sem meméria, © animal ndo humano, fecha-se na sua prética pura (instintiva) e n&o pode elaborar a teoria a partir do que faz naprética, Assim, ndo eriticando: © que faz, nem fazendo do seu ato um ato consciente (ou um vetor de articulaggo da cons: , @ tampouco um ato cultural, o animal no pode ascender & praxis. O que ele transmite @ outro animal & apenas o lado instintivo ou mecénico de sua aco, diante da natureze, de ‘si mesmo, ou com relacgo ao proprio homem. Sua aro no 6 2 acdo de sentido. Até pode apresontar® certo nivel de “inteligéncia” ou de raciocinio instintivo. (Por isso, a compreensio da teoria no se lige 56 20 pensar ou a inteligéncia ou raciocinio.) Mas 0 que & dramético é que o animal néo pode meditar o que faze muito menos fazer-se a partir do que faz (porque o resultado de suia ago no recai sabre si mesmo). © mesmo pode ser dito com relagio & natureza natural naquilo que ela muda, Exemplo: hi muita diferenca entre uma ventania derrubando arvores, ‘ou um fogo ardendo numa mate, e a aco do homem derrubando estas mesmas érvores ou ateando fogo 8 mata. Ambas so aco, provacam mudanga, Mas a ago do homem & acdo tedrica, apt refletida, ap80 de sentido, por mais estapida que seja. A argo da natureza ou do animal sfo apenas aco de mudanca. A ago do homem é duplamente transformadora. Transforma ¢natureza ®, a0 transformé-la, transforma a si mesmo. Em maic: ou menor medida ¢ a préxis. Ainde, em nivel superior esta 230 transformadora (praxis) 6 que chega 20 estdgio de aco revolucionéria. nasa Pa psy etn Vamos aprofundar um pouco mais esta questo do fazer e do fazer-se. Quando dizemos que hd uma mdtus dependéncis entre 0 que o homem faz € sua insercdo neste processo, aqui entra a questo da prépria “defini¢go" do homem como problema, Ora, assim como o homem como ser no esté acabado (em permanente estado de poténcia ¢ no de ato puro, “perfeito” — diferenca criada por Aristételes), no fazer que se faz constan temente, e nesta relapgo entre fazer e fazer-se ele cresce e se “define” como homem. O que implica dizer: como ser da apo (da préxis), da cultura e do discurso (de teoria, da “meditecé0"), num dinamismo sem precedentes, numa defini¢so aberta, “problemética” e nZo acabada. Ai acontece uma mitua dependéncia: se por um _tado 0 homem so se faz 4 medida que faz {aco prética), por outro lado ele sé faz (como ago consciente) 8 medida que se faz. E perigoso entendermos $6 0 primeiro lado desta relecio. Determinaco concretamente pela aco prétic ‘© homem € agente © paciente do proceso. NEO ha como 0s resultados de sua a¢o no recairem sobre si mesmo. Vamos a mais um exemplo. Quando um homem fabrica pecas de automovel, sO este fato de fabricar pecas jd 0 define como metaltirgico. O fato de fabricar peces joga-o numa relagdo de classes bem determinada, de modo que é tio importante 0 produto de seu trabalho {as peas) como 0 Otaviano Pereira produto de seu produto, queé ele mesmo, enquanto metalirgico. Como metaliirgico ele esté auto- construindo-se numa relaggo de classes 4 medida que sua ago ¢ uma acto prética e tedrice, acdo consciente, aco “meditada’, aro refletida, ‘80 trensformadora, que recai sobre si. E no conhecer-se, como produto (de si mesmo e da classe), € que ele pode crescer, porque ele se sente senhor (e no escravo) desta relarso. Aqui, leitor, se hé interesse de sua parte em aprofundar 2 questo posteriormente, voc pode abrir uma magnifica discuss$o sobre 0 significado do trabalho, assim como da alienacéo. Fica a seu critério. Mas vamos voltar a relaglo teoria/pratica ¢ aprofundar dois aspectos imprescindiveis nesta ‘compreensdo. Um, do lado da prética, outro, do lado da teoria Do lado da prética, 0 que chamarfamos de cardter empiricopragmético (que surge da experiéneia prética) bésico da apo. Ou, o que chamamos enteriormente de prética pura. Uma questo bastante sutil que exige de nés certa leveza de raciocinio. ‘Ao mesmo tempo em quea pratice é pressuposto hésico ou fundamento da teoria, ela no pode ser entendida separadamente da teoria. Senéo, seria aco animelizada e no ago humana: ago de cultura, aco de sentido antropolégico. A tentativa de compreensio da pritica apenas como Oque é Teoria prética, isto é como prética pura, divorciada ca teoria, Joga-nos em certo pragmatismo (acento demasiado na prética) e distorce este carter de aco consciente e transformadora, impossibi- litando-nos de passar da prética 8 praxis. Isto é, impossibilitando-nos da sintese ou unidade. Por um lado, muito embora estas palavras se Perecam Iprética e prdxis}, nfo hé possibilidade de se ascender & compreensio da préxis s6 no horizonte da pratica pura. Por outro lado, nfo obstante ser a orética 0 pressuposto bésico da relacdo teoria/prética, dade da prética nfo coloce ¢ teurie comma mero enfeite. Se hd uma primazia da pratica, ele no dispensa a teoria, assim como nao dissolve a teoria na prética (ou como nfo podemos dissolver a prética na teoria), Do lado da teoria, outro aspecto importante, Néo dé para falar em teoria, nesta tentativa de ‘compreenso da relacdo teoria/prética, sem falar ‘em aspecto tedrico da prétice. Corresponde mais ‘ou menos a abstraréo. Para fazer uma reflexéo sobre seu ato, ou seje, para pensar a sua pratica, © homem tem de abstrair. Mes este lado de abstracdo (apesar de muitos de nossos vicios) nfo deve nem desvincular a teria da prética, nem menosprezar qualquer dos pélos da relago, ‘Ao mesmo tempo em que teoria nao é s6 abstra- fo, ela, contudo, tem de apresentar este lado de ato abstrato. E 0 que chamamos de agpecto tedrico Otaviano Pereira (necessério) da pratica. E este aspecto tedrico que abre © ato para seu significado cultural e dé a esta relaco teoria/pritica certo cardter teleolégico (de finalidade) do ato humano. Nestes termos a teoria mantém, com relacdo prética, nao um desligamento, mas uma autono- mia. Por qué? Porque se antecipa @ ele ¢ acaba influindo ne prdtica. em sua capacidade de modelar idealmente um proceso. E 0 ato de poder projetar. Capacidade es:encialmente antropolégica ‘que o animal no pode ter. Mes acontece que esta autonomia ¢ relativa porque s6 a pratica é fundamento da teoria. Nao € que queremos voltar a0 ponto de partida. A questio ¢ que toda ver que uma teoria tenta estabelecer-se fora do horizonte da pritica, ela vira pura abstracdo. Assim, se por um lado a teoria. mantém uma autonomia relativa com relaco & prética, a prética, com relacdo & teoria mantém uma primazia inquestionavel. E quando falamos em cardter teleologico da teoria (ou do aspecto tedrico da pratica), isto ¢, no fato de o homem poder projetar ou idealizer uma prdtica antes de acontecer, é ai que a teoria eve servir de instrumento da préxis social. Aqui entra também 0 aspecto de utopia, do projeto humano (individual e social), tanto do ponto de vista do pensamento como da aggo. Ngo vamos discutir este aspecto por questo de espaco. Veja informagio bibliografica. O que é Teoria Com isto finalmente, fica-nos fécil definir a praxis. O que 6 préxis? Nio sendo pritice pura € a prética objetivada (individual e socialmente) pela teoria. € a pratica aprotuncada por esta "meditaggo" ou refiexdo que nio deve ser solta, mesmo na consciéncia da relativa autonomia da ‘teoria, na copacidade do ato teérico em antecipar idealmente a prdtica como objeto da mesma. A praxis, enfim, € a agdo com sentido humano. E a acfo projetada, refletida, consciente, trans- formadora do natural, do humano e do social. Mas vamos recolocar uma questo eminente- mente dialética (contraditéria e dinamica) na relacio teoria/prética. Por que a teoria tem de estar presente neste processo de construcdo da praxis? Porque a agao do homem, diferentemente do animal, como jé frisamos, 6 ac&o cultural. E aio de sentido de projeto. A pratica pura em si (2 age do animal) no pode ser geradora do cultural Ai & que aparece certa contradicZo humana: © de no poder livrar-se nem da teorla nem da prética. Aliés, uma bela contradigio que tem de ser assumida e resolvida por ele. Como vamos explicar esta contradi¢So? Ora, se por um lado temos de evitar certa dependéncia mecinica entre o natural eo cultural, Por outro lado o cultural s6 pode ser gerado no natural. Nao hd como o homem criar a agao cultural a partir do nada ou de ume postura 8 Otariano Pereira angelical, nfo humana, n@o social, nao histérica. ‘Ao fazer de sua ago urna ago de cultura o homem abre um duplo movimento de assumir e negar. ‘Assume sua prética (realizando-2) ao mesmo tempo fem que @ nega como prética pura ou como acdo mecinica ou instintiva. € nesta autonomia, embora relativa, da teoria, que reside a capacidade de negara prética pura e der 2 ela, de volta, um significado. E por isso que a autonomia da teoria 6 relativa, de vez que ela tem de fazer 0 exercicio do retorno ao que ela negou. Sendo ela ficaria sem pressuposto e cairia no vazio. © leitor j4 deve ter percebido que estamos aqui diante de um problema eminentemente logico, mas que 36 se resolve @ partir de uma légica dialética. (Veja indicagées de leitura para aprofundamento,) Em termos apenas formais temos até certa dificuldade mental para entender esta relagSo, por parecer uma questo um tanto quanto “escorregadia. E a questio de dinamica do discurso e da realidade, de que falvamos na primeire parte deste texto. . ‘Na verdade a separardo entre a teoria e prética nfo existe de modo absolute. Tratase de um reforco mental de compreensao. Mesmo quando falamos que a teoria precede a pritica no sentido de projeté-la e poder ser um instrumento da praxis, Acontece que 0 homem ndo é 0 ser de um ato 86, ou de um ato atrds do outro, como se seu pensamento e sua capecidade de aco fossem Oque € Teoria uma linha de montgem em que os produtes véo sendo empacotados um apds o outro. O homem é 0 ser da constante ebulicSo desta rela. No hd como idealizar uma pratica se ele j4 n&o 3e encontra jogado nesta pratica. Um processo em que o modo é fator mais decisivo que o tempo, entendido simplemente como antes @ como depois Assim, este separado é¢ uma questdo formi Alliés ¢ esta separacdo que nos leva ao duplo vicio: tanto o de colocar’a prioridade na teoria como 1a pritica, Quando colocamos prioridade na teoria e a divorciamos da pratica, ca/mos no vicio idealista. Neste sentido, como abordamos no inicio deste texto, teoria no pessa mesmo do estégio de abstraco ou contemlago, como a encontramos definida nos dicionérios. E verdede que a teoria apresenta este lado de abstraco (aspecto teérico da pratica), mas nfo fica nela, caminhando em dirego a unidade. € por isso também que o pensamento classico (j4 criticado na primeira parte) mostra certe tendéncia a0 dogmatsmo (és verdades absolut zadas). Tudo esté definido, tudo esté pronto, a partir de um essenciaismo abstrato. O homem e ‘© mundo no crescem neste proceso, Néo existe certa disponibilidade Jo ato teérico desse pensa mento em abrirse prética, 20 sécio-cultural para crescer nela. Ela constantemente no comunga Otaviano Pereira Oqueé Teoria com a pritica porque 2 antecede de forma quase absoluta, provocando a cisfo entre o real @ racional, 0 real ¢ 0 ideal. Como pode o pensamento af realizar sua vocacdo socritica, questionadora? (Por isso, 0 grande problema do pensamento hoje € a questo de método, e n&o sé de conteddo.) ‘Quando Marx diz na sua X! tese sobre Feuerbach: “495 filésofos se limitaram a contemplar o mundo, indiferentemente, cumpre transformé-lo", 6 ai, precisamente, que rompe com a tradicSo cléssica, Um rompimento metodolégico sem precedentes. Quire questéo séria é © inverso. Quando acen- tuamos ou separamos a prética em detrimento da teoria, caimos no praticismo, na visio pragmética ‘ou utilitéria da agZo humana. Um praticismo (acento exagerado da pratica) que igualmente estabelece 2 oposico ou cisdo entre teoria © prética e sb vé a teoria no seu lado negativo de “contemplaggo inutil’, reduzinde © pritico 30 utilitério, dissolvendo © tedrico no Util. Aliés, creio eu, esta pode ser uma atitude inclusive “fascista” porque rompe com a crenga de que © homem na sua atividade possa crescer, amadurecer, a partir de sua pritica refletida, teorizada, Em ambos 0 vicios cairfamos no que podemos chamar de senso comum. Aliés, uma tendéncia do_senso-comum ¢ reduzit ou dissolver_o te6rico no pratico. Volta aqui aquel questo j4 abordada da prioridede da vida sobre os ensinamentos dos livros, do homem pratico sobre 0 tedrico etc, uma af3o revolucionaria. << Uma cantilena que j4 nos vai cansando, além de demasiado perigosa, espécie de “fuga” cultural, A atividade humane precise de um respaldo ted- rico, critico, tanto para os avangos dos projetos humanos como para que nos livremos da medio- cridade. (Alids, permitame dizer de passagom, a tendéncia 20 mediocre é um mal que hd muito assolapa impiedosamente a vida cultural deste pais) O senso-comum também é um mal porque nos esonde ou nos dissimula muitos elementos bésicas. ‘4 compreensio da realidade, por nos simplificar ‘por demais as coisas na maioria das vezes, Por examplo, consideremos a fraso de Lénin em epigrafe na pagina de rosto deste texto: “Sé uma teoria revolucionaria cria uma ago revolu- cionéria.” Parece simples, isto, nfo? Mas por mais simples que posta parecer, demorei muito tempo para entender, de fato, esta frase do maior. te6rico da Revoluco de 1917. Essa frase simples- mente nucleia toda nossa discussdo em torno da felagio teoria/prétice. O que acontece € que em nosso_conhecimento diério e ordindrio estamos de tal forma imbufdos do senso-comum que nem percebemos 2 profundidade das coisas, simples. A simplificaco demesiada das coisas pode levar-nos 20 estado de certa inconsciéncia ou de “inocéncia tedrica’ e representar sério entrave & articulagdo critica de nossa visio de mundo e de nosso ascenso & préx O que é Teoria Hé outra questio que precisamos ressaltar 8 que nosso senso-comum, nos dissimula constan- temente: 0 nosso ato tedrico — 0 aspecto teérico da pratica ou a “‘meditaciio’’ sobre nossa apZo — nem sempre aparece de modo téo explicito, de forma clara, jé que ndo podemos seperar teoria @ pratica, Jogados que estamos sempre na agao, a teori- zago de nossos atos vai sempre acontecendo as vezes implicitamente. O proprio sentido de unidade no interior da praxis j4 assimila a teoria na acao. N&o que a praxis seja dissimulacao (disfarce) da tgoria ou que a teoria se torne apéndice da prética. E que a prética é de fato 0 lado mais perceptive! dessa relaco, j4 que 6 0 dado concreto e visivel dela, enquanto objetivacéo da teori Nosso senso-comum acentua certa tendéncia de menosprezo a teoria e até nos esconde esta percepefo. Perceber esta sutil presenca, direta ‘ou indiretamente da teoria, em maior ou menor grau, é ascender A consciéncia da acdo e nos fazer sujeitos. Alids, este menospreco a0 que “nio aparece” 6 também uma atitude’ praticista, ingénua e a-critica, Faldvamos também, no inicio deste texto, que 0 importante da teoria nesta abordagem antropo- légica é a relacdo homem-mundo, O homem 20. fazer teorie vé-se interferido, concretamente, por este conjunto de relagées. Embora esta seja uma questo muito vasta — e que abriria uma Otaviano Pereira Oque é Teoria nova ciscussdo —, nao podemos deixar de mencionar os aspectos ideolégicos que interferem em nosso ato teérico. Direta ou indiretamente #8 ideologias esto presentes no que pensamos @ fazemos. Ou seja, na relacio teoria/pratica e, consegiientemente, na préxis, em tudo o que fazemos, 3 830 ideol6gicos porque so sociais ¢ hist6ricos, ‘Como o homem nao pensa, ndo projeta e nao age no vazio absoluto, independentemente de suas relacBes, 25 ideologias interferem sobretudo no seu pensamento e na sua acdo, no pensamento € aco dos grupos e das classes sociais. Elas 0 tornam um criador ou articulador de ideologias sociais (boas ou perversas) ou um inocente dtil, assimilador passivo de ideologias que interferem NO seu ato de fora para dentro, ainda que ele nao saiba. Aqui estamos diante de uma questo muito sutil e de dificil delimitacdo, embora de percepcao mais ou menos fécil. Mais do que nunca vale aqui aquela frase que jé virou lugarcomum: “nenhum homem é uma ilha”. De fato, padecendo ou criando 0 processo de interferéncias ideolégicas — como dominante ou como dominado —, ninguém escapa dessa esfera de influéncias. Nosso mal 6 pensar que as ideologias so sempre e necessa- riamente perverses. Finalmente, outro vicio a que devemos escapar 60 de penser que a teoria se articula s6 a partir do ato de pensar. Ligado a prética, o ato teérica estabelece-se a partir do que 0 homem é, concre- tamente, como um todo, um né de relacBes com 0 mundo. Vale dizer, um encontro de 2ed0, pensa- mento, desejo, prazer, paixo, sonho . .. A absolutizacio do ato de penser fa do homem uma espécie de méquina pensante. Quando ele teoriza, nBo 36 @ sua pratica, com as devidas interferéncias ideolégicas (sociais), como também as interferéncias de seus desejos, paixGes, sonhos... marcam presenca determinante. Ndo podemos esquecer, inclusive, que tais interferéncias podem atuar também de modo negativo em seu ato tw6rico. Teorizar bem, ascender & praxis, tem muito que ver com sua capacidade de abrir-se ao mundo, aceité-lo e/ou negélo para poder trensformé-lo. Aqui caberia (para um momento posterior @ conforme o desejo do leitor) uma discusséo muito foportuna sobre 0 sentido (antropolégico) de ser “revolucionério"’. © homem é revolucionério ndo s6 em termos pol/tico-sociais, mas também em sentido cultural amplo. Este homem que esté ligado 20 mundo e “aceso” ou aberto aos acontecimentos é o homem todo como um permanente projeto. Sendo, nado teria sentido dizer, por exemplo, que Stéphane Mallarmé foi um revolucionario da arte poética. 0 nosso mal, as vezes, é pensar que o revolucio- nério é s6 0 que empunha armas e abre uma conquista politica de poder como Fidel Castro, Huber Matos, Guevara Citomos outro exemplo: 0 fato de Leon Trotsky ser um revolucionério (em termos politicos) no anula 0 fato de um John Lennon também ser um revolucionério em termos de cultura ou contracultura. Seja num partido, num sindicato, na misica, na literatura, na vida de meditaglo etc., & préciso que o homem deixe transparecer sue capacidade de critica (teéricalprdtica) do mundo conforme seu “carisma’ Neste sentido é que o ato de teorizar (na prética) se apresenta a partir de uma gama enorme de aspectos deste todo complexo que 6 0 homem © homem como né de relacSes com o mundo. © homem coma paixio e como projeto. E verdade que 6 um projeto que ainda no deu certo (I), Mas vamos continuar apostando nest grande paixéio! INDICACOES PARA LEITURA Agora passamos as indicagdes de uma gama de textos complementares para sua leitura livre ou para discussio. Indicagdes que objetivam levar © leitor tanto a entender melhor questtes que ‘apenas mencionamos, como a aprofundar questdes ‘que abordamos, mas com insuficiéncia, 1.0) F/LOSOFIA (HISTORIA) Se vooé pretende obter uma compreensio geral da filosofia do ponto de vista de seu desenrolar historico, desde os gregos até o pensamento ‘contemporineo — abarcando temas como légica © metafisica cléssicas, entre outros, jé muitas opcdes. Indico aqui apenas um, por entender ser um texto avessivel, diddtico e com bom esquema e sintese dos autores e escolas, apresen: tado ao final de cada capitulo. 1.1) SCIACCA, Michele F. Histéria da Filoso 3 vols., trad. Luts W. Vita, 38 ed., Séo Paulo, Mestre Jou, 1967, 257, 302 e 306 p. 2.0) LOGICA Para um conhecimento da légica classica, formal, assim como da metafisica e outros tratados da Filosofia Cléssica (sobretudo os Livros !e II), indi- camos 0 compéndio: 2.1) JOLIVET, Régis, Curso de Filosofia, trad, Eduardo P. Mendonea, 42 ed. Rio de Janeiro, Agir, 1959, 474 p. Para um aprofundamento da légica cldssica, da teoria do conhecimento e da metodol ciéncias, ver este exaustivo texto: 2.2) DE ALEJANDRO, Jese M, La Légica e ef Hombre (série Monogratia de Filosofia), 3.A.C. Madri, 1970, 423 p. Relativamente a l6gica dialética (e materialismo ialético), ver: 2.3) MANDEL, Ernst, Introducao a0 Marxismo (mimedgrafo), 4 vols. Obs.: Esta obra esteve fora de circulagio por um bom tempo. Vocé a encontra, contudo, em publi- cages independentes, D.As, C.As, etc. 24) KONDER, Leandro, O que & Dialé (col. Primeiros Passos) 42 ed. Sao Paulo, Brasi liense, 1981, 87 p. E, com referéncia a relago entre l6gica formal @ lOgica dislética, sobretudo as partes Ill e IV, vocd nfo pode deixar de ler: 25) LEFEBVRE, Henry, Ldgica Formal/Légica O que é Teoria Dialética, trad. Carlos Nelson Coutinho, 2@.ed. Rio de Janeiro, Civilizaco Brasileira, 1979, 301 p, 3.0) CIENCIAS-METODOS Para aprofundar 0s métodos cientificos aqui mencionados na primeira parte, notsdamente as questBes (Iégicas) de indugio/dedu¢io, anélise/ sintese, ver: 3.1) BERVIAN, Pedro A., e CERVO, Amado, L. Metodologia Cientifica, 28 ed. S80 Paulo, Mc-Graw Hill, 1978, 144 p. Para uma discussdo epistemolégice mais pro- funda, tanto do método ou processo, como dos estatutos ou mesmo da histéria e dos destinos da Ciéneis, notadmente das Ciéncias Humanas, ler: 3.2) JAPIASSU, Hilton. Nascimento e Morte das Ciéncjas Humanas. de Jar 1, Francisco Alves, 1978, 262 p. Para um aprofundamento da ciéncla (tembém) como ato dialético (sobretudo nos cap/tulos I, ML, 1V, V, 1X, X, XIV, XVLe XVID), ver 3.3) VIEIRA PINTO, Alvaro, Ciéncia e Exis- téncia; Problemas Filoséficos da Pesquisa Cien- tifica, 22 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 637 p. 4.0) IDEOLOGIA-UTOPIA Quanto a essas duas questdes, que apenas passamos por alto ao falar em teorla, voce pode ler nesta mesma colep3o da Editora Brasiliense: 4.1) CHAU!, Marilena, O que € Ideologia (col, Primeiros Passos), 88 ed. S30 Paulo, Brasi- liense, 1982, 125 p. 4.2) TEIXEIRA COELHO, O que & Utopi (col. Primeiros Passos), So’ Paulo, Brasiliense, 1980, 98 p. 5.0) TEORIA/PRATICA/PRAXIS Para aprofundar a questo bésica e central desta nossa abordagem, apenas uma indicaro nos parece suficiente /sobretudo, cap. 2 da segunda parte e apéndice |): ; 5.1) VAZQUEZ, Adolfo S., Filosofia da Praxis, trad. Luis F. Cardoso, 28 éd. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 454 p. Biogratia Nasci em Campina Verde, MG, Pertengo a uma geracéo uni- versitaria dos anos 70/80 9, como todos ox companhairos, mar- ceado pelo signo ca Revolucto. Enasci como a maiovia do pove brasileira ou latina americano, {sto €, pobre. E como todo o pobre vive hoje marginalizado, ter tando, 4s duras penas, ocupar um espago na literatura © na die Ccussdo das idéias# fatos da vida nacional. Publiquei O queé Mo- ‘ala colecko Primsiros Pastos; publiquel eambém umrornance ‘ura pera de teatio, Leciono filosofia ne PUCamp » nas Faculdades Franciscanas, de Itatiba, onde exereo também a fungo de assessor cultural Eom nome de mou pore que ponhio mags’ Obie No que acted ‘to, Mas apostande num futuro emqueeste mesmo povoe agers: (980.9 que pertenco um dia pagar de nossa Historia aquela da ‘a sob cyjo signo vive nossa juventude: 0 31 de marga de 64, OBRAS DO AUTOR Testro Paix80 Segundo 0 Operério, S80 Paulo, Cortez » Morses, 1980. (esgetado). Romance ais Provisério. Sto Paulo, Comtex e Moraes, 1981. Inéditos Poesia Sufocade. Critica da poesia partcipante. (ensaio! ‘Rode-Viva dos Mortos. {contos) ‘ON, (teato) Estudos sobre Hegel Direito, Sociedade Civil, Estado Norberic Bobbio Norberto Bobbio, um dos mais importante Gientisins deste século, faz uma andllse da fi- Jototia de Hegel: centrando-se nos aspectos Juridico-politicos deste pensamento, de- ‘monstra como para Hegel o Estado aparece come um momento superior e positive do desenvolvimento histérico da humanidade. PRIMEIRA FILOSOFIA - Lictes Introdutorias Diverscs autores ~ 14x21 cit'- 312 pp. ‘Se vocé jo pensou alguma vezem estudar Fi- Josofia mos nunca eve oportunidade, eis sua ‘chance Primeira Filosofia é um livropensa- do e elaborado especialmente para inician- tes, mas longe de ser um manual simpliico- der e esquemético. Apresente fexios de filé- solos e obordagens do pensamento aatige, medieval, modemo e cantemporéneo. ‘OBRAS ESCOLHIDAS - Vol. 1 Walter Benjarain - 14 x21 cm - 256 pp. Primeiro volume de uma série de trés, reu- ‘indo alguns dos principais textosda prodi- ‘do filosética de Benjamin. Entre outros, os €nsaios sobre 0 conceito de Histéria, 2 obra de arte.ne era de suo reprodutibilidade tée- nica e anélises eobre Proust e Katka, 1980/80 * quaso 20 titulos + mais de 6 milhées de exemplares vendidos ye r

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