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Hee een . Criatividadge Modelos Mentats: uma base tedrica . Isabella Signorelli Siivetra Silvia Renata Medina da Rocha riatividade um conceite em construgaa tuto Hi uma tendéacia, proveniente do senso comum, de considerar's criatividade um dom, ur at Os 193 escalhidos, que deixain sua marca na atividade que exercem. Na verdade, codos s nivos « teinpo todo, se definirmos a criatividacle como a capacidade de associar ¢ combina: ce 1g aeiquitidos pain determinado desempenho, que atenda a uma necessidace Quand julgrmos criatividade do ponto de vista da originalidade € do impacto. caimos ixando de perceber que, em sua esséncia, a criatividade € um processo interior para Boues ima visho que acan- recurora, d rece sem cessar, dentro de nds. Criay, em tim ambito mais geral, significa dar exis cada mensagem que emitimos €, até, nossa percepcio do mundo sto atos solitirios de criagio, Ae ter esie liveo, vocé est exercitando a criatividade. Imagens e idéias vio sendo criadas em sua mente. concetadis ov nao com o assunto. A prépria tnmacia de decisio de iniciar esse estuclo poce ser congicleracla como ato criativa, pois implica mudanga. Mais do que o agir diferente, devemos buscar uma forma dliferente dé ser, pois os-biogiieios basicos & mudanca pessoal encontram-se dentro ¢ ndo fora de nds. Compreendendo melhor rosso proprio mundo interior, nés nos sentiremos mais livres para mudar, para ver outtas cimensdes da realicace e para aprender a desafiar antigas percepgdes ¢ crengas acia, Neste sentido, cada frase que consieu’mos Segundo o psicdlogo americano Abraham Maslow (1943), “o conceito de criatividade e 0 conceito da pessoa humana, plena, sauclvel e realizadora parecem cada vez mais préximos e, talvez, acabem por torar-se a mesma coisa”. Todlos os nossos pensamentos e agdes so uma expressio de criatividade, R, Buckminster Fuller, importante intelectual americano, chega a afirmar que as criancas, ao nascer, so verdadeiros cientistas, pois elas, espontaneamente, experimentam, experiencia e reexperienciam. Procuram classificar ¢ encontrar uma ordem em suas experiéncias. O que é o me- thor? O que € 0 pior? Cheiram, saboreiam, mordem, tocam, tentam testar a consisténcia e a tempera- tura do que se encontra a seu redor. Levantam, chutam, apertam ¢ esftegam os objetos, baseando suas sensagBes e observacdes sobre as caracieristicas e os comportamentos que podem ser fisicamen- te demonstrados. Por culpa de um sistema educacional que considera importante o que est escrito em livros, esses jovens cientistas silo desencorajados a pensar seus préprios pensamentos. Sio levadas a abandonar a capacidade cientifica inata, adotando instrumentos oferecidos pela escola, com os quais sondam, classi- ficam e associam metodologicamente as informacdes. Porém, muitos desses instrumentos nao sao demonstréveis experimentalmente. Tudo, em nossas escolas, est orientado para testar saheres, ¢ nio para expressar sensacOes Como diz 0 poeta brasileiro Manoel de Barros: “A ciéncia pode classificar e nomear os érgaos de um sabia, mas no pode medir os seus encantos.” Quando nos emocionamos com a beleza do canto dos passaros, estamos dando vazio is emogdes, que fazem parte de nosso mundo descle o nascimento, € Que, ao longo da vida, contribuem para a formacao de nossas crencas. Estas, por sua vez, vio pautar nosso relacionamento com os outros. Uma crenca € um estado de representa¢ao interna que governa o comportamento. Como exemplos, citamos algumas afirmacées, que fazem parte do nosso cotidiano: Qualquer miudanga no ambiente me desesirutura No sei me virar sozinbo. Tenbo que ser perfeito em tudo que realizo. Nao devo externar os mous sentimentos. Nosso modo de fazer exterior € um reflexo do nosso modo interior, Quando desqualificamos nossas sensacdes, emogdes ¢ percepodes, acreditamos que somos incapazes, e esse tipo de pensamento inibe qualquer atitude criativa na vida, 2 Criatividade ¢ Modelos Mentais MUSES é O pensar e agir criativos A criatividade esta relacionaca ao nosso lado crianga, ao aspecto mais livre e espontineo do ser. Parafraseando Cecilia Meireles, ‘deviamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas as suas composi¢des € como as criangas as suas artes, no mundo do faz-de-conta” O ser humano precisa estimular esse lado mais espontineo, ousado e imaginativo, a fim de desen- volver novas idéias e solugGes criativas na vida e no trabalho. Walt Disney, por exemplo, tinha uma imaginagio fantéstica e era um sonhador. Sonhar seria 0 primeiro passo para criar um abjetivo. Mas como fazer para que ele se concretize? Walt Disney usava a estratégia do sonhador, do realista e do critica. Imaginava a histiria ¢ quais seriam os sentimentos de cada personagem. Pedia aos desenhistas que fizessem os personagens a partir dia expresso desses sentimentos. Em seguida, pensava nos custos, no tempo e nos recursos necessirios para sua realizagio, ou seja, as informacGes importantes para o seu sonho se tornar realidade. Depois clo filme exibido, yoltava a analisé-lo do ponto de vista do ptiblico, perguntando-se: foi interessante? Divertido? Deu certo? O que nao funcionou? A influéncia da estratégia foi to pregnante para a empresa que, mesmo apés sua morte, os geren- tes, em vez cle pensarem sozinhos, se questionavam freqientemente: o que Walt Disney faria agora? Entretanto, dentro das culturas organizacionais, na maioria das empresas nao existe incentivo que motive tais comportamentos. : A maior parte das metodologias utilizadas em cursos para treinamento ou desenvolvimento de pessoal, repetindo o modelo escolar, se fundamenta no pressuposto tedrico de que os conhecimentos, uma vez transmitidos e assimilados, propiciam mudangas no comportamento dos treinandos e, portan- to, nas relacdes desses treinandos com seu trabalho. © conhecimento teérico, em tese, geraria mudangas significativas no desempenho profissional e, consegiientemente, na produtividade da empresa. No entanto, esté comprovaco que modificacdes no comportamento e nas atitudes dos individuos decorrem, principalmente, a partir da mudanga, da teorganizacio ou de uma nova forma de compreens3o dos elementos que compéem a telacio que cada pessoa mantém consigo mesma, com as outras e com seu trabalho. Referenciais psicolégicos O recente avanco das neurociéncias nas Ultimas décadas do século XX tem sido promovido em grande parte pela rapida evolucao da tecnologia aplicada 4 medicina, que nos permite hoje “ver” o cérebro em funcionamento durante alguma atividade ou proceso humano, como ler, discutir, chorar, raciocinar, tir ow emocionar-se. Podemos observar, inclusive, quais regiées no cérebro apresentam Criatividade » Modelos Mentais: uma base tedrica 3a maior ou menor atividade eletroquimica na ocorréncia de episédios cognitivos, emocionais ou psicol6- gicos que estivermos vivenciando, Atavés de uma proeminente ranhura chamada fissura longitudinal, 0 cérebro é dividido em duas metades chamadas hemisférios. Na base desta fissura encontra-se um espesso feixe de fibras nervosas, chamado corpo caloso, o qual fornece um elo de comunicacio entre os hemisférios. O hemisfério esquerdo controla a metade direita do corpo, e vice-versa, em raz4o de um cruzamento de fibras, nervosas no bulbo. Ainda que os hemisférios direito e esquerdo paregam ser uma imagem em espelho um do outro, existe uma importante distincio funcional entre eles. Na maioria das pessoas, as 4reas que controlam a fala estio localizadas no hemisfério esquerdo, enquanto as freas que governam percepcdes espaciais residem no hemisfério direito, Detalhanrio um pouco mais: o hemisfériv esyuerdy € paiticulaimente eficiente no pensamento racional ¢ légico, no trabalho com miimeros, no processamento lingiiistico, no controle da fala e da escrita, na andlise dos produtos mentais que ouvimos ¢ lemos e no pensamento expresso em palavras, For sua vez, 0 hemisfério direito afigura-se melhor na sintese de idéias e tarefas visuais ou espaciais,tais como avaliagao de forma e de padrdes, ¢ no desenho de imagens. { Assim, 0 hemisfério esquerdo corresponde ao lado racional, légico, linear, que percebe as partese analisa, sendo dete:ininista, pratico e consciente. O hemistério direito est mais ligado as emogdes: € | criativo, intuitivo, fantasioso, holistico, percebe o todo, a circularidade. | Para exercitar o hemisfério direito podem ser utilizadas varias atividades, como misica, artes em | geral (desenhar, pintar, contar hist6rias), relaxamento e meditacio, trabalhos corporais, reflexdes sobre i i | © mundo, tudo que ative a intuigao e a fantasia, o nio-l6gico. E claro que durante este tipo de ativicide, a hemisférin esquerdn também est senda tabalhadn, embora de modo reduzido, Da mesma forma, ao exercitarmos o hemisfério esquerdo, nosso lado relacionado & emocdo € & intuigao igualmente se encontra em atividade. Desde sempre, a inteligéncia mais valorizada e estimulada foi a racional, l6gico-matemitica, verbal Entretanto, ha estudos que defendem a idéia de que temos varias inteligéncias: musical, espacial, 4 Crintividade © Modelos Mentsis cinestésico-corporal e, ainda, intrapessoal ¢ interpessoal. Desenvolver a criatividade implica aprender e dar espago para as outras inteligencias se manifestarem. A expresso “dominancia cerebral” refere-se ao fendmeno de um dos hemisférios cerebrais ser o “dominante” em certas funcées; a diferenca da domindncia entre duas pessoas pode ser percebida no uso da linguagem e no exercicio de habilidades manuais. Essa classificagdio de fungdes foi proposta pelo Dr. Roger Sperry, ganhador de um Prémio Nobel em 1982, pelo seu trabalho sobre anatomia do cérebro e processos de pensamento. Esse estudo iniciou-se em 1976, partinclo da hipétese da subdivi- sdo do cérebro em dois hemisférios, o que ficou clinicamente comprovado com 0 auxilio de Robert Onstein. Na década de 70, 0 fisico Ned Herrmann, um gerente da General Electric Company, propés de suas pesquisas um modelo de dominancia cerebral, conhecido como Modelo do Cérebro Integral (Whole Brain Technology™), Quadralidade Cerebral ou Sistema Herrmann de Dominncia Cerebral, que divi- de 0 cérebro num modelo metaférico composto por quatro regides (quadrantes) conforme a préxima figura, cénesno esqueRDOSuPEROR cEnesrouremosurenion acon A, ‘experemeaL D TOCA AS PESBOAS | gosucesronn? crcl | PRESSHO' ‘cupsposo B sensirvo C CEREEROESQUESDOWFERIR CEREBRO ORETOBFEROR Além desse sistema, publicado nos livros The Creative Brain (1988) e The Whole Brain Business Book (1995), Herrmann desenvolveu e validou um instrumento (teste) para determinar que quadrante ou grupo de quadrantes € predominante no proceso de pensamento. Esse trabalho foi publicado no artigo Putting Your Company's Whole Brain To Work, pela Harvard Business Review, julho/agosta 1997, e a teoria subjacente pode ser encontrada em Herrmann (2004). Apesar de as pessoas em geral apresentarem diferentes predomindncias cerebrais, especialistas suge- rem que elas devam desenvolver todos seus quadrantes, A medida que 03 quatro nos so requeridos alternadamente na nossa vida profissional e pessoal (MIRANDA, 1997). Crlatividade e Modelos Mentais: uma base te6rica 5 Para desenvolvermos nossa criatividade, é importante nfio esquecermos de considerar o restante do nosso corpo, no contexto de acdes corpo-mente. O trabalho corporal propicia a integracdo do aprendi- zado racional & inteligéncia do corpo. A caheca nin é uma parte separada, todo 0 corpo participa da aprendizagem, Na sensacao fisica de se movimentar, a experiéncia sensorial az a consciéncia do movimento, ou seja, a possibilidade de reconhecer e aprender com o proprio corpo. A habilidade de criar novos movimentos traz mais flexibilidade, impulsionando a vontade de extemar sensac6es; intera- gir e estar em contato com o outro é experimentar estar no mundo de uma nova forma, O movimento corporal também exercita a espontaneidade e 0 improviso. Reconhecer qualidades em si ¢ aprende: a culucélay ex prdtica € un dom que o ser humano precisa desenvolver, Um bom desempenho envolve reflexio constante ¢ flexibilidade para lidar com os imprevistos. Podemos criar através de ages, palavras e pensamentos, Para isso, sio necessirios disponibilidade, vontade, espontaneidade, autoconhecimento e um ambiente favordvel a geracio de novas idéias. Dai a importancia de estimular 0 lado direito do cérebro. Alguns exercicios, além dos trabalhos corporais e viagens de fantasia, favorecem o desenvolvimento da criatividade. Sao eles: a concentracio, a capaci- dade de manter uma idéia na mente por algum tempo; a leitura constante; 0 ato de escrever; a organizago de arquivos pessoais (banco de idéias); a reflex e a transformacio de sonhos em desafios. Os estudiosos da mente e do comportamento trazem, com suas teorias, interessantes contribuigdes para o entendimento da habilidade criativa do homem. Aqui destacamos a teoria de Carl Jung, psicana- lista sufgo. Segundo esse autor, temos quatro fungbes psiquicas basicas que determinam nossos comportamento € tipo de personaliciade?: + pensamento; * sentimento; + senisacao; + intuigao. As quatro fung6es esto presentes em todos nés. No entanto, alguns desenvolvem mais o lado racional, o pensamento, interaginclo com os demais de uma determinada forma; outras pessoas s40 mais ligadas 4 sensacao, ou ao lado intuitivo, demonstrando um tipo diferente de atitude. A divisio conceitual serve para esclarecer os tipos de personalidade, mas n camportamento de cada um é o resultado da interacao entre esses lados. Pessoas mais ligadas & sensacio, a intui¢ao, & emocio tendem a ser mais criativas, pois deixam o canal da criago fluir livremente. Pessoas muito ligadas 3 razio, 20 Personalichde ~ conjunto de earacterisicas matrsis deservolvides par um indiviva pers se relcionar consigo mesmo € cam o mundo. 6 Criatividade e Modelos Meatais pensamento concreto, podem ter mais dificuldade de deixar a mente abstrair, imaginar e criar espago para algo novo. Outro pesquisador que estucou 0 uso da criatividade e do agir espontaneo para o desbloqueio e o desenvolvimento do potencial humano foi Jacob Levy Moreno, médico psiquiatra romeno naturalizado americano, criador da teoria ¢ da técnica do Psicodrama. Seu método visa a estimular a utilizagao da razio e da emogao para gerar processos de evolusiio nas pessoas. Segundo esse autor, o homem traz consigo recursos inatos, como a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade, ¢ perde-os devido a intimeros fatores, As causas podem estar tanto no tipo de relagio estabelecida entre a crianga e sua familia quanto no sistema social, no qual uma familia esta inserida. Na visio de Moreno, a espontaneidade € a capacidade que temos de agir de modo “adequado” diante de situagdes novas, e de eriar uma resposta inédita, renovadora ou, ainda, transformadora de uma situagZo preestabelecida, Esta possibilidade de modificar ou de estabelecer uma nova relaciio com algo implica criar. No processo criativo, a capacicade de improvisar pode ser a chave-mestra Quanto mais consciéncia uma pessoa tiver das suas formas de acao, mais alternativas e flexibilidade tera na interagio. © crescimento pessoal acontece quando vocé integra o que é, 0 que quer ser e quais so as realidades ao seu redor. £ um processo que comeca com introspeceio, levando a pessoa a rever sua maneira de pensar, agir e se relacionar, criando a possibilidade de mudanga Finalmente, clevemos mencionar um pouco das contribuigdes da teoria da Gestalt para o pensar e agir criativos A psicologia da forma, ou Gestalt (termo alemao que significa configuragio, forma ou estructura) se fundamenta na moderna teoria da percepgo, segundo a qual um dado € percebido como totalidade organizada € 0 todo tem caracteristicas que no podem ser inferidas das partes isoladamente. Uma mtisica, por exemplo, nfio pode ser identificada pelo som isolado das notas musicais, e sim pelo conjunto dessas notas. © ponto inicial e central da teoria € a percepcao, Para os gestaltistas, entre o estimulo fornecido pelo meio e o comportamento da pessoa encontra-se 0 proceso de percepcao, O que o individuo percebe, ou seja, como ele percebe a realidade so dacios importantes para a compreenstio do comportamento humano, que deveria ser estudado levando em consideragiio as condigdes que alteram a percepgio de uma dada situaco. Muitas vezes, a reaco de diferentes pessoas em uma situacéo é semelhante, pois a perceberam de forma parecida. Porém, em outras condicdes, elas percebem uma mesma situacio de forma diferente, pois cada uma entende aquela “realidace” & sua maneira. Criatividade e Modelos Mentaic- uma base teérica 7 Percepcao e criatividade © normal nao deve ser definido pela adaptagio, mas, ao contrario, pela Capacidade de inventar novas formas. Kurt Goldstein ‘Tradicionalmente, 2 percepgio € conceituada como um proceso de “les” a sealidade preexistente, independente da mente do observador. Através dos nassos cinco sentidos ~ que seriam um canal de acesso a realidade — terfamos a informacZo, ou, pelo mMenos, uma constmigin da representacin da realidade. Falar de percepsao é, sobretudo, falar de solugdo de problemas, de aprendizagem e de criatividade, Uma pessoa € mais criativa quando se permite ser flexivel nas varias formas de perceber o real. Para isso, € importante checar quais os conceitos Pré-construidos que possui em relacio a realidade. Se Percebe o mundo como um lugar hostil e competitivo, 20 ingressar num novo emprego vai apresentar | um comportamento defensivo. Provavelmente, sua postura de defesa incomodard os outros, que pode- ! Mo se tomar agressivos rom ela, confirmando sua crenga de que o mundo é hostil i Os obstaculos para uma pessoa ter uma postura criativa e livre na vida sio a sua meméria e a i generalizacdo. Pensamentos do tipo “eu jé sabia!" ou “eu no te disse que isso ia acontecer?” impedem a construcio do novo, Essa memria que ser humano vai acumulando ao longo da vida faz com que crie padrées de Pensamento como representagbes da realidade. Todo o resto ele tenta encaixar nessas representacoes. Peusar sobre os proprios pensamentos, num comportamento reflexivo e aberto, é 0 que o trabalho com os modelos mentais nos ausilia a fazer, Modelos mentais «05 homens no sio somente eles; sio também a regiao onde nasceram, a fazencla ou o apartamento ca cidade onde aprenderam a andar, os brinque- ddos que brincaram em criangas, as lendas que ouviram dos mais velhos, z comida de que se alimentaram, as escolas que freqllentaram, 08 esportes fem que se exercitaram, os poetas que leram e o Deus em que acreditaram. Esse trecho do livro © Fio da Navalha, do escritor inglés Somerset Maugham, e a frase “Eu sou eu e ninhas circunstancias", du fl6sofo espanhol Ortega y Gasset, espelham a forte tendéncia dos seres humanos a preservar sua estabilidade e as formas particulares, individuais, que desenvolveram para se adaptar 20 meio social, principalmente ao trabalho, Criatividade © Mudelos Mentais ‘A mudanea é um 6nus, pois requer que a pessoa reveja a sua maneira de pensar, agit, comunicar, se inter-relacionar e de criar significados para a propria vida. Mudar envolve 0 individuo ¢ o seu meio, portanto é incerto e arriscado — io promissor quanto ameacador. Para compreender a postura de resisténcia ao novo, devemos conhecer o conceito de modelos mentais ~ expresso criada na década de 40, do século passado, pelo psicélogo escocés Kenneth Craik: Modelos mentais so as crencas, imagens e pressupostos profundamente arraigados que temos sobre nés mesmas, nosso mundo, nossas organizacdes © como nos encaixamos neles. (HUTCHENS, 2001), Isto significa que pessoas véem 0 mundo de maneiras diferentes. As percepedes sobre a realidade passam por filtros criados por cada um e, desse modo, s6 se consegue conhecer parte da realidade; 0 todo fica perdicio. Realidade e verdade sio, assim, relativizadas, em funcio do cerceamento de nossa percepcao. No seu célebre didlogo A Republica, o filésofo grego Plato conta uma paribola, que ilustta bem como um modelo mental pode limitar a percepgio da realidade, Criatividlate e Modelos Mentats: uma base w5rica 9 Mito da Caverna de Plato EN: DV a Um grupo de pessoas habita o interior de uma caverna. Esto acorrentadas de costas para a entrada da caverna, de forma que tudo o que podem ver do que se passa Id fora so sombras projetadas na parede. Como estio na caverna desde que nasceram, para elas as sombras so tudo a que existe. De repente, uma das pessoas consegue se libertar das correntes e se pergunta de onde vém aquelas sombras. Encaminha-se para a entrada e, com coragem, sai e consegue ver 0 mun- do fora da caverina. Ela se encanta e se entusiasma com a grandeza e variedade e quase no acredita no que seus olhos véem agora. Andando livremente pela natureza, pode desfrutar da liberdade que conquistou. Porém nao para de pensar nas pessuas acuuculaclas da caverna e decide voltar. Chegando 14, tenta explicar para os outros que as sombras na parede da caverna no passam de imitagdes da realidade. Em vio, tenta convencé-los de que também podem sair e desfrutar. Mas suas tentativas acabam se tomando ameagas para os outros. Estes acreditam que aquilo que véem é tudo o que existe. {riatividade e Modelos Mentais Aconclusao de Platio é: somos todos habitants das cavernas trabalhando sobre percepedes incom- pletas ou distorcidas da realidade ¢ poclemos reagir com muita resisténcia, caso essas percepgdes sejam desafiadas, Realidacle € aquilo que conseguimos perceber. Na maioria cas vezes, ndo estamos conscientes da limitaco criada pelos modelos mentais e, muito menos, dos efeitos destes sobre o comportamento. Isso implica um enorme bloqueio & criatividade, pois limita a possibilidade de aceitar diferentes petcepgdes € gerar novas idéias. David Hutchens, consultor de organizagdes e especialista em gestio, apresenta um exemplo de boa idéia rejeitada por um grupo porque nao se enquadrava nos modelos mentais vigentes: O setor relojoeiro suigo dominou o mercado mundial por muitos anos, Quando a nova tecnologia quartzo surgiu, os fabricantes suigos a rejeitaram, uma vez que aquilo nao se encaixava em seu modelo mental: os rel6gios deveriam ser mecanicos, ter mecanismas “tiquetaque”, em vez de meca- nismos de alta tecnologia. Ao contrério, fabricantes japoneses, como a Seiko, adaptaram a nova tec- nologia e rapicamente abocanharam grande parte do mercado clos suicos. A queda dos suicos no mercado global de relégios pode ser atribuida & dependéncia em relaglo 2 seus modelos mentais sobre 0 que tornava os reldgios desejiveis, Existem sete principios que norteiam o estudo dos modelos mentais, organizado por Hutchens (2001). Faremos uso de histérias e metéforas para facilitar a compreensao de cada um desses principios de modelos mentais. Principio 1 — Todos possuem modelos mentais Pensamos através de modelos mentais, Criar modelos mentais € um proceso psicolégico natural Um modelo mental no é bom nem mau; ele é apenas uma forma que o cérebro encontrou para criar ordem, a partir da complexidade do mundo. O problema ocosre quando forgamos tudo a se encaixar os pressupostos que jf foram verdadeiros algum dia e que hoje talvez nao tenham mais significado. A ciéncia também possui seus modelos mentais: as chamados paradigmas. Houve uma época em que predominava o paradigma cartesiano; depois surgiu o newtoniano, mais recentemente apareceu modelo quantico, Um paradigma ajuda a ciéncia a interpretar 0 mundo. Criatividade ¢ Modelos Mentais: uma base tebrica uw Modelos mentais sio como mapas que representa um territ6rio. £ impossivel pensar sem modelos meniais, mas é possivel refletir sobre: Que modelos mentais estamns ntilizancio? Seu uso est sendo produtivo? Veja a hist6ria do indio norte-americano. Certa vez, um indio norte-americano ancifio descreveu seus conflitos internos da seguinte maneira: ~ Dentro de mim ha dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom. Os dois esto sempre hrigando. Quando Ihe perguntaram que cachorro ganhava a brige, 0 anciio parou, refletiu e respon- deu: ~ Aquele que eu alimento mais freqtientemente. escolhemos para guiar 0 pensamento, Muitos sio produto da educacio que tivemos e, simplesmen- te, nunca paramos para pensar sobre isso. Aquilo em que nossos pais acreditam nao tem de ser exatamente o que acreditamos. O que uma sociedade inteira valoriza, nao precisa ser o que valoriza mos Constatar a presenca dos modelos mentais é possihilitar a auto-reflexdo sobre os modelos que | | | 2 Cristividade ¢ Modelos Meatais z= Temos total liberdade de escolher os modelos mentais que preferimos seguir e nos responsabiliza- mos pelos resultados obtidos. Principio 2 — Os modelos mentais determinam como ¢ 0 que nés vernos Os modelos mentais atuam como filtros que selecionam a realidade. $6 se pode ver o que se esti preparado para ver. E, se algo nao se enquadra nesse referencial interno, € posstvel passar despercebido, £ 0 caso do paciente que chega para o terapeuta e diz que ja foi demitido cinco vezes, anda mal com sua esposa atual ~a terceira -e, entdo, pergunta: “Como € possivel existirem tantas pessoas mas no mnndo?” Esse princfpio faz com que o espelho se vire para dentro e despeste um verdadeiro trabalho de questionamento do sujeito sobre si. ‘Um paciente chegou para o médico e disse: — O meu problema, doutor, € que eu morri e sou um cadiver, O médico parou, pensou e perguntou: a ~ Cadaver fala? © paciente disse: ~ Cadaver fala, O médica tentou mais uma vez: ~ Caclaver anda? O paciente respondeu: ~ Cadéver anda. © médico 0 fitou por algum tem- po, ficou pensativo e finalmente questionou com tom de “agora eu © pego”: ~ Cadaver sangra? paciente fez um siléncio e res- pondeu: ~ Cadaver no sangra, Eis que 0 médico tirou uma agu- tha de sua valise e espetou o brago do paciente, que comegou a sangrar. ~£, cadaver sangra!!!, respondeu afirmativamente o paciente, Criatividade e Modelos Mentais: uma base teérica 13 Ne ema, | Ha pessoas que preferem viver num mundo apertado e pequeno, do que sofrer o medo do novo que a mudanga de mentalidade requer. Precisamos de modelos mentais assim como precisamos de mapas para nos orientar. Mapas contém | referéncias ¢ apresentam uma variedade de formas, Se um mapa de uma determinada regiao tem informagdes sobre cachoeiras ¢ rios, vocé conseguira encontré-los. Jé utilizando outro, que mostra as estradas e percursos, vocé podera se deslocar muito bem e nem perceber as cachoeiras. Um terceiro mapa aponta os locais onde se encontram animais, Vocé encontrara cada animal procurado e, nem por isso, saberé se locomover tio bem. E importante ficar atento 2 qmaliclare clas modelos mentais, porque eles vio determinar a qualidade do nosso vives Principio 3 — Modelos mentais guiam a forma como pensamos e agimos Modelos mentais sao simplificacdes e generalizagies da realidade que moldam a forma de agir. As crenas criam a realidade. Quando se visualize uma imagem de um comportamento, é mais facil | alcanca-lo. Quando nao se acredita na possibilidade, 9 cénehro nfo vai tragar 0 caminho para atingi lo. 14 Griatividade © Modelos Mentais i ie Ahist6ria da fabrica de calcados Era uma vex uma indisiria de calgados brasilcira que desenvulvcu ui projeto de exporta- ¢&0 de sapatos para a india. Certo dia, dois de seus consultores foram mandados a diferentes pontos do pats para fazer 48 primeiras observagdes sobre o potencial daquele futuro mercado. Apés alguns dias de pesquisas, um dos consultores enviou o seguinte fax para a dicegdio da indistia: “Senhores, cancelem 0 projeto de exportacio de sapatos para a india. Aqui ninguém usa sapatos.” Sem saber desse fax, pouco depois o segundo consultor mandou o seu: “Senhores, tripliquem projeto da exportagio de sapatos para a India. Aqui ninguém usa sapatos ainda.” A mesma situacao era um tremendo obstéculo para um dos consultores e uma fantastica oportunida- de para 0 outro, Da mesma forma, tudo na vida pode ser visto com enfoques ¢ maneiras diferentes oO Criatividdado e Modelos Mentais: uma base teérica 15 - nn mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus proprios pensamentos, ¢ 2 maneira como encaramos a vida faz toda a diferenca, ‘Um modelo mental pode impedir uma pessoa de enxergar uma boa oportunidade de negécio ou ser uma fonte bem-vinda de oportunidades inesperadas. Principio 4 — Modelos mentais nos levam a tratar as inferéncias como fatos Freqlentemente ficamos surpresos quando notamos que 0s outros percebem as coisas de modo diferente, Isso ocorre porque tomamos aquilo que vemos como se fosse a tiniea forma de vé-lo AS crencas parecem tao Sbvias que so confundidas com a verdade absoluta. Flas permanecem fechadas ao desafio do questionamento e 0 modelo mental fica encoberto. Por nao reconhecer que sua crenga seja apenas seu modelo mental, a pessoa torna dificil para si mesma e para as demais a andlise dessa crenca. O desafio é identificé-lo, razé-lo 3 tona e questioné-lo A aula e as galinhas Um camponés criou um filhote de éguia junto com suas galinhas, tratando-a como tratava as Balinhas, dando a mesma égua num bebedouro rente a0 solo e « mesma comida jogacla no 18 Crintividade © Modclos Meatais Poe 7 EEE Teeter PETE Ta CC TT chao, fazendo-a ciscar para complementar a alimentago, como se fosse uma galinha. E a guia passou a se portar como se galinha fosse. Gerto dlia, passou por sua casa um naturalista, que, vendo a dguia ciscando no chio, foi falar com o camponés: = Isto no é uma galinha, é uma éguial © camponés retrucou: — Bla nao € mais uma guia, agora ela é uma galinhal O naturalista disse: Nao, uma dguia é sempre uma dguia, vamos ver uma coisa... Levou-a para cima da casa do camponés, elevou-a nos bracos e disse: —Voa, voce € uma Aguia, assuma sua naturezal Mas a dguia nfo vou e o camponés disse: Eu nao falei que ela, agora, era uma galinha! O naturalista disse: ~ Amanh, veremos... No dia seguinte, logo de manhi, eles subiram até 0 alto de uma montanha. O naturalista levantou a guia e disse. ~ guia, veja este horizonte, veja o sol ld em cima e os campos verdes If embaixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas. Desperte para sua natureza e voe como a Aguia gue vou’ €. A 4guia comegou a olhar tudo aquilo e foi se maravilhando com a beleza das coisas que nunca havia visto. Ficou um pouco confusa no inicio, sem entender por que tinha passado tanto tempo alienada. Entio, ela sentiu seu sangue de guia correr nas veias, perfilou, devagar, as asas e partiu num véo lindo, até que desapareceu no horizonte azul Os modelos meniais podem ser verdadeiras pris6es da consciéncia ou, entio, facilitar a liberdade de experimentar mais possibilidades. A frase “Eu sou assim e pronto” fecha qualquer possibilidade de mudanga, A auto-imagem € a auto-estima so modelos meniais a respeito da propria pessoa. Acredita- se que usamos, apenas, cerca de 10% do nosso cérebro. Podemos sempre mais do que achamos, Por isso, precisamos dar oportunidades para 0 autodesenvolvimento, Quanto mais o ser humano se conhe- cc, mais evolui ¢ tem pussibilidudes de conseguir 0 que quer. Criatividacde @ Modelos Mentais: uma base teérica a Principio 5 — Modelos mentais sempre sao incompletos Ninguém consegue ter uma percep¢ao completa deste mundo complexo. E muita informacao para ser arquivada, Portanto, o que percebemos é incompleto. Galileu foi condenado quando afirmou que a Terra girava em tomo do Sol, € no o Sol que girava em tomo da Terra, Diariamente, podemos ver o sol se locomovendo no céu, nascendo de um lado e se Pondo de outro. Mas sabemos que isso nao € a realidade dos fatos, pois, como Galileu percebeu, nio € 0 Sol que se move, e sim a Terra. Hist6ria dos macacos na jaula Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma | escada, € sobre ela um cacho de ba- | nanas. Quando um macaco subia na | escada para pegar as bananas, os ci- | entistas jogavam um jato de agua fria nos que estavam no chao. Depois de | certo tempo, quando um macaco ia su- bir na escada, os outros o pegavam e | © surravam. Com mais algum tempo, nenhum macaco tentava subir, apesar da tentacao das bananas. Entao, os ci- i entistas substituiram um dos macacos por um novo. ‘A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo retirado pe- los outros, que 0 surraram. Depois i de algumas surras, 0 novo inte- grante do grupo também niio su- bia mais. Um segundo foi substituido e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto Participado com entusiasmo da surra ao novato. Um terceiro foi tocadu € acunleceu a mesma Coisa. Um quarto e, afinal, 0 ultimo dos veteranos, foi substituido. Os cientistas entio 1 ficaram com um grupo de cinco macacos que, embora nunca tivessem tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. 2 Criattvidade € Modelos Mentais isn $$ Se fosse possivel perguntar a algum deles por que eles batiam em quem tentasse subir na escada, com certeza a resposta seria: “Nao sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui.” Por essa historia podemos entender a raiz de muitos preconceitos que sto passados como heranga para outras geragdes, sem que nos demos conta de que os temos. Como disse o cientista Albert Einstcin: "E mais facil desintegrar um dtomo do que um preconceito.” Principio 6 — Os modelos mentais influenciam os resultados que colhemos, reforcando a si mesmos como conseqiiéncia Uma crenga snbre 9 mundo é adotada e vai se auto-reforgande A medida que a seleclo da percep- cho faz com que 0 foco seja naquilo em que se acredita. Se uma mulher, por exemplo, acredita que homem nao presta, ela somente vai selecionar e encon- rar aqueles homens que nao prestam para ela. Isso se chama profecia auto-realizadora. f 0 famoso “Eu nao disse?” £ uma manifestacdo real do que se acredita que seja a verdade. Isso nao é nenhuma experiéncia mistica, O que se pensa se torna palavra e/ou comportamento e, ‘em seguicla, a crenga € Irradiada e reforcada num padrfo espiral: a experiencia direciona a percepcao © a percepcio direciona a experiéncia. Esse padrio € muito dificil de ser quebrado. Pessimismo e otimismo sio atitudes internas emocionais guiadas por modelos mentais do mundo. O exemplo tradicional do copo que esté pela metade com agua mostra que, se para alguns ele se apresenta metade vazio, para outros, ele est metade cheio. O interessante disso € que, a rigor, os dois conceitos esto corretos. A diferenca se encontra no modelo mental que cada um utiliza para enfrentar a situaglo que lhe € proposta. ‘Vivemos em todos as situagdes da vida, quer seja nas relagdes interpessoais, quer na convivéncia profissional, lidando, ora com otimismo gerado pelas nossas expectativas, ora com o pessimismo produ- zido pelas nossas frustragbes. Todavia, ha sempre os que dizem que o melhor mesmo é ser realista e que, para isto, basta contar com os acontecimentos sempre apés a sua realizagao. Lidar com as frustrages do cotidiano, em que as expectativas depositadas ficaram bem aquém do resultado, sem se contaminar com o pessimismo é um desafio quase que difrio. O convivio equilibrado enire 0 otimismo e pessimismo nio é 6 salutar como desejavel para a coexisténcia harmoniosa entre os anseios e as frustracoes, Criatividacte © Modelos Mentais: uma base tedrica 19 20 Certa vez, perguntei para o Ramesh, um de meus mesires na india: ~ Por que existem pessoas que saem facilmente dos proble- mas mais complicados, en- quanto outras sofrem por problemas muito peque- los e morrem afogadas num copo d'gua? Ele simplesmente somiu me contou uma histéria, “Um homem viveu amo- rosamente toda a sua vida. Quando morreu, toda § my mundo Ihe disse,para dire = “Redes pan Wea gir-se a0 céu. Um homem tio Pee bondoso quanto ele, somente poderia ir para o paraiso. Isso no era to importante para aquele homem, mas, mesmo assim, ele foi até ld Naquela época, 0 céu ainda nio.havia passado por um programa de qualidade total, A Tecepeio no funcionava muito bem, a moga que o recebeu deu uma ulhada rapida nas fichas em cima do balcfo e, como nfo viu o nome dele na lista, orientou-o para ir a0 inferno. No inferno, ninguém exige crach4 nem convite, qualquer um que chega € convidado a entrar, E, assim, ele entrou e foi ficando... Dias depois, o dono do inferno chegou furioso as portas do paraiso para tomar satisfagdes com Sao Pedro: — Isso que voce est fazendo € puro terrorismo! Sem saber 0 motivo de tanta saiva, Pedro perguntou do que se tratava, Um transtomado deménio respondeu: = Voc8 mandou aquele sujeito para 0 inferno e ele esté me desmoralizando! Chegow escu- tando as pessoas, olhando-as nos olhos € conversando com elas. Agora, todo mundo esta dialogando, abragando-se e beijando-se, O inferno no é lugar para isso! Por favor, traga esse sujeito para cal” Quando Ramesh terminou de contar esta hist6ria, olhou-me carinhosamente e disse: ~ Viva com tanto amor no coragio que se, por engano, vocé for parar no inferno, o proprio demnio o trard de volta ao paraiso. Crintividade @ Modelos Mentais | | Cada um pode escolher o que € melhor para si. Pessoas otimistas muitas vezes io encaradas como fantasiosas demais, e os pessimistas como realistas. Entretanto, quem é positivo nao é alienado ~ como muitos pensam ~ pois consegue ver os problemas ¢ imaginar solucées. Principio 7 ~ Modelos mentais geralmente ultrapassam sua utilidade No momento em que formamos um modelo mental, ele é util, pois possui uma fungdo real Entretanto, quando esse mesmo modelo mental se torna ultrapassado continuamos apegados a cle, comecam a ocorrer problemas. A percep¢io fica distorcida, como as sombras na parede da caverna na hist6ria de Plato. Por isso, os modelos mentais precisam ser atualizados para serem efetivos. Ahist6rla da vaquinha Um mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discipulo quando avis- tou, 20 longe, um sitio de aparéncia po- bre € resolveu fazer uma breve visita. Durante 0 percurso, ele falou ao aprendiz sobre a importincia das vi- sitas e as oportunidades de aprendi- zado que temos, também, com as pessoas que mal conhecemos Chegando, constatou a pobreza do Jugar, sem calamento, casa de ma- deira, os moradores, um casal ¢ trés filhos, vestides com roupas rasgadas © suja Entio, se aproximou do senhor, aparen- temente 0 pai daquela familia, e perguntou: ~ Neste lugar nao ha sinais de pontos de comércio e de trabalho, Como o senhor e a sua familia sobrevivem aqui? Eo senhor calmamente respondeu: — Meu amigo, nés temos uma vaquinha que nos dé varios litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nés vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros géneros de Griatiuidade e Modelos Mentais: uma base teirica 2 alimentos e, com a outra parte, produzimos queijo, coalhada etc. para 0 nosso consumo e, | assim, vamos sobrevivendo. | O sabio agradeceu a informacio, contemplou o lugar por uns momentos, depois se despe- div e foi embora. No meio do caminho, voltou-se ao fiel discipulo e ordenou: ~ Aprendlz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipicio ali na frente e empurre-a. Jogue-a li embaixo. | O jovem, espantado, arregalou os olhos e questionou o mestre sobre o fato de a vaquinha | sero Gnicu imei de sobrevivencla daquela familia, mas, como percebeu o siléncio absoluto do mestre, foi cumprir a ordem | Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer i Aquela cena ficou marcada em sua meméria durante alguns anos. Um belo dia, ele resolveu i voltar 20 lugar para contar tudo aquela familia, pedir perdlao ¢ ajudé-la. | Quando se aproximava do local, avistou um sitio muito bonita, com drvores floridas, toda. | murado, com carro na garagem e algumas criancas brineando no jardim. Ficou triste e i desesperado, imaginando que aquela humilde familia tivera que vender 0 sitio para sobre- | viver, ' Apertou © passo €, 4 chegando, foi recebido por um caseiro muito simpatico. Perguntou, | entio, sobre a familia que ali moraya ha uns quatro anos € 0 caseiro respondeu | —Continuam morando aqui. | Espantado, ele entrou correndo na casa e viu que era mesmo a familia que visitara antes com o mestre Elogiou 0 local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha) ~ Como o senhor melhorou este sitio e est muito bem de vida? Eo senhor, entusiasmado, respondeu: ~Nés tinhamos uma vaquinha que caiu no precipicio e morreu. Daf em diante, tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabiamos que tinhamos, Assim, alcancamos 0 sucesso que seus olhos visiumbram agora. Um modelo mental pode estar nus impedindo de perceber potencialidades nunca antes vistas. Se “Jogarmos fora” um modelo mental, iremos buscar outro que se encaixe melhor em nossas necessida- des. O importante é que ele cumpra sua fung&o, mas nfo se confunda com a realidade. Um modelo mental reflete a qualidade interior e, como um mapa, deve possuir o méximo de informagdes para nortear eficazmente nosso agir no mundo. 2 Griatividade ¢ Modelos Mentais a © ws eT Muitas vezes, o processo de atualizacao € complicado, visto que a crenga na estabilidade e no equilfbrio ainda predomina na maioria das mentes humanas. Entretanto, esse modelo mental é pouco efetivo, j que o mundo hoje pede renovacio constante. Se observarmos a natureza, veremos que nela 86 existe mudanca, num equilihrin clinfimico onde cudo se organiza de forma simples e natural, Bloqueios mentais Os bloqueios mentais so limitacSes de natureza psicossocial que impedem a percepelo, a compre- ensio ou a solugio de um problema. Eles dificultam a criatividade e originam-se tanto de fatores internos da personalidade coma de fatores externos, produto dos padrdes educacionais. O nosso modu de ser ¢ de estar no mundo obedece a convengdies sociais que se refletem em nosso comportamento € em nossas atitudes diante do desconhecido. Como jé observamos, criatividade e inovacio demandam ambientes de comunicacio franca, autén- tica e de livre circulagdo das idéias. A geracio de novas idéias vai de encontro a um pracesso de aprendizagem que comeca na infancia, levando-nos a controlar emocdes e sensagdes, a resguardar a Curiosidade ¢ a ovitar riscos, que podem: nus conduzir a situagoes de perda ou fracasso, gerando sentimentos de culpa, vergonha e constrangimento A competéncia “iniciativa” costuma ser podada por adverténcias do tipo: “no toque", “venha imediatamente’, “nao pegue nisso’, "vocé vai se machucar”. A cada instante de sua existéncia, a crianga é confrontada com proibigdes, censuras e recomendacdes, que tentam fazé-la acreditar que é um ser totalmente dependente do mundo adulto. Quando essa crianga crescer, tenderd a agir com os Jovens do mesmo modo como agiram com ela. A necessidade de aceitacio, que é imperativa para 0 convivio humano, leva, muitas vezes, a pessoa a anular suas idéias, aceitando o senso comum, limitando suas experiéncias, bloqueando 0 préprio Crescimento, Esse é um processo continuo que comega no lar, passa pela escola ¢ chega ao ambiente de trabalho. Cada vez mais as grandes empresas tém que investir em desenvolvimento de recursos huma- nos, a fim de que os funcionérios encontrem um espacn para exteriorizar suas emogdes, sensagdes ¢ idéias sobre questées existenciais e profissionais, A questo de género também perpassa o mundo da criatividade. Certos atributos que se associam a essa. competéncia, como espontaneidade, sensibilidade e intuiclo, sto mais aceitos quando apresenta- dos por mulheres, enquanto outros sio considerados como préprios do sexo masculino, como assertividade, postura arrojada, independéncia ¢ autoridade. Essas barreiras estio sendo amenizadas pela crescente entrada da mulher no mercado de trabalho ¢ em outros campus da attvidade social e Politica, que nio mais comportam esteredtipos? de modos de pensar e agit. seresdpo ~ modelo conceial rigdo referent a todos os indvdvos de um mesmo grupo, sociedade et, spesar de susseiferengs individuals Griatividiade e Modelos Mentais: wma base teérica 23 er TA EAT NT CR LE RC SATS Ek ER eR | Em muitas situagdes, os dados que temas para interpreté-las slo incompletos, e isso nos impele a | fazer generalizagdes do tipo: “paulistas sao sérios", *cariocas gostam de praia”, “baianos slo lentos”, € assim por diante. : O elenco de barreiras emocionais é enorme. Inclui apatia, baixa tolerincia a mudanga, necessidade | de seguranga, med do ridiculo, sentimento de inferioridade e outras mais que fazem parte de nosso cotidiano, H4, também, barreiras referentes a dificuldades que o homem encontra em refletir sobre suas proprias idéias, a incapacidade de se dar um tempo para resolver um problema, para tomar uma decisio, preferindo sempre assumir a atitude de julgar idéias em vez de gerar idéias Assim, cada um de nés tem bloqueios mentais em maior ou menor grat, que podem ser twbalha- dos, visto que a esséncia humana é criativa. Nos e nosso mundo é que atrapalhamos seu desenvolvi- mento e expressio. Em funcio do conceito de criatividadle, pode-se pensar que quanto maior for o actmulo do conhe- cimento ¢ da experiéncia, maior serd o uso da criatividade. O que se tem observado, na realidade, é que bloqueios e barreiras interferem diretamente no uso do potencial criativo de um indlviduo. : Os bloqueios podem ser agrupados em diferentes tipus Bloqueios de percepcao Sao obsticulos que impedem o individuo de identificar © problema ou selecionar 0 conjunto de informacdes necessatias para resolvé-lo. Sao bloqueios de percepeio. * somente ver aquilo que se quer ver (esterestipo); * dificuldade em isolar 0 problema; * tendéncia a delimitar o problema em uma drea restrita; * inabilidacle de ver problema de varios angulos; + mA utilizacdo dos sentidos: ouvir, ver. Bloqueios culturais Sao adquiridos quando 0 individuo se expde a um conjunto de conceitos apreendidos. Alguns exemplos de bloqueios culturais: * tabus; * considerar que fantasias e reflexes consomem muito tempo; + brincadeiras e jogos sto para criangas; * no misturar humor com negécios; 24 Criatividade e Modelos Mentais + pensar que a razio, a légica, a utilidade, os ntimeros sto fatores determinantes de sucesso, enquanto que 0 sentimento, a intuig20, 0s fatores e os jttlgamentos qualitativos conduzem ao fracasso; * preferéncia por manter a tradicio; * tendéncia a achar que todo problema pode ser resolvido com o pensamento cientifico e um saco de dinheiro. Bloqueios emocionais Interferem na liberdade necessaria para explorar e desenvolver idéias, assim como atrapalham a “venda” da idéia para a sua implantagio. Sao tipos de bloqueios emocionais: + medo de cometer erros, ou de correr riscos; * intolerdncia com a ambigitidade: excesso de seguranga; * preferéncia por julgar ou criticar; inabilicade para relaxar ou descansar, + motivacao excessiva para um sucesso muito rapido; dificuldade para distinguir realidade de fantasia. Bloqueios intelectuais Resultam de uma escolha ineficiente de formas de pensamento, 0 que interfere no proceso de comumitagao de idéfas em rete + falta de informagdes; + informagdes incorretas; * uso inadequado de uma estratégia intelectual para resolver um problema — muitas pessoas ten- tam resolver um problema matematicamente, quando ele poderia ser mais facilmente soluciona- do através de um esquema visual. (0 40 propria individuo e As outras pessoas. Seguem exemplos: Bloqueios ambientais Sao os padrées sociais vigentes em nosso meio ambiente, Exemplos que podem ser citados: + falta de cooperacio; + ger€ncias autocrdticas que valorizam apenas suas prOprias idéias, falta de concentracio, excesso de telefonemas; falta de persisténcia para colocar idéias em pratica, Criatincdade 0 Medolee Momtais, uma base teérica 25 Rompendo as barreiras e os bloqueios Quando € preciso criar ou “pensar em alguma coisa diferente”, as atitudes podem representar um empecilho. Essas atitudes sio consideradas barreiras e bloqueios que atuam na forma de pensar. Para romper (ais barreiras € bloqueios, utilizam-se dois tipos de técnica: a primeira consiste em identificé-los ¢, temporariamente, esquecer-se deles, pelo menos enquanto se buscam as idéias. A segunda consiste no uso de técnicas apropriadas para que o processo criativo seja efetivo. Isso deverd remover 0s pressupostos que mantém os bloqueios. E quase impossivel manter a energia criativa em fluxo constante quando se necessita ser pratico, sempre seguindo os procedimentos com medo de errar ou sob a influéncia de qualquer bloqueio. Por isso, 0 individuo precisa desenvolver a capacidade de esquecer temporariamente 0 que sabe para conseguir formular perguntas que saiam do usual. Caso contro, esses bloqueios, que estio integrados no pensamento € no comportamento, aca- | bam por se tomar um guia: cumpre-se 4 rotina sem nunca refletir sobre ela. Ampliagéo dos modelos mentais A mente é como um péva-quedas, s6 funciona quando aberta Lord Thomas Dewar A ampliag2o dos modelos mentais cumeys quando a propria pessoa se permite anualisé-los e, em seguida, vai avaliando se os resultados obtidos esto sendo satisfatérios. Caso contratio, € hora de rever e ampliar os modelos mentais. Para isto deve se considerar que os modelos mentais sio gerados por habilidades de pensamento, quer dizer, a pessoa utiliza as habilidades de pensamento presentes na mente, permitindo que o sistema mental se reorganize, enquanto observa para ver se esté indo bem e, caso nao esteja, faz os ajustes necessirios, Este processo consiste no desenvolvimento do aprendizado de novas formas de pensar que conti- bui para ampliar 0s modelos mentais existentes, criar novos modelos mentais além de facilitar o rompi- mento de barreiras e bloqueios. 20 Crlauividade € Modelos Mentais i aesdesdog endnote ceded dnd nnS PSS ESSPOSESSESSESESSES Uma visio do mundo Ceuta vez, dois liomens seriamente doentes estavam na mesma enfermaria de um hos- pital. O cémodo era pequeno e nele havia uma janela que dava para 0 mundo. Um dos homens tinha, como parte do seu tratamento, permissio para sentar-se na cama por uma hora durante as tardes (algo a ver com a drenagem de fluido de seus pulmdes). Sua cama ficava perto da janela O outro, contudo, tinha de pas- sar todo o tempo deitado de bar- riga para cinia. Todas as tarcles, quando 0 homem cuja cama fi- cava perto da janela era coloca- do em posigao sentada, ele passa- va 0 tempo descrevendo o que via Ié fora. A janela aparentemente dava para um parque onde havia um lago. Havia patos ¢ cisnes no lago, € as criancas iam atirar-thes pio e colocar na agua barcos de brinquedo. Jovens namorados caminhavam de mos dadas entre as devores, e havia flores, gramados e jogos de bola. E ao fundo, por trés da fileira de arvores, avistava-se 0 belo contorno dos prédios da cidade. O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos os minutos. Ouviu sohre como uma crianga quase caiui no lago, ¢ sobre como as gavotas estavaan bonitas em seus vestidos de verao. As descrigdes do seu amigo eventualmente o fizeram sentir que quase podia ver o que estava acontecendo ld fora... Entio, um dia, ocorreu-lhe um pensamento: Por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver 0 que estava acontecendo? Par que ele nao poderia ter essa chance? Sentiu-se envergonhado, mas quanto mais tentava no pensar assim, mais queria uma mu- danga. Faria qualquer coisa! Griatividade e Modelos Mentais: ma base te6rica 27 ‘Numa noite, quando olhava para o teto, o outro homem subitamente acordou, tossindo e ' sufocando, suas mos procurando o botao que faria a enfermeira vir correndo. Mas ele o ubservou sem se iiver... mesmo quando 0 som da respiracéo parou. De manha, a enfermeira encontrou o outro homem morto, e silenciosamente levou embora © seu compo. Logo que pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser colocado na cama perto da janela, Ento colocaram-no lé, aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortavel. No minuto em que sairam, ele apoiou-se sobre um cotovelo, com dificuldades, sentindo muita dor, e olhou para fora da janela Viu apenas um muro. A conscientizacao € a primeira etapa do trabalho com os modelos mentais, Podemos comecar com | 08 pensamentos: com cles, voc€ tila a iealidade que deseja. A criatividade comeca nos pensamentos, | vai As palavras e chega as acdes. © uso de determinadas palavras pode influenciar mais umas pessoas do que outras, permitir ou dificultar a comunicagao, levar a encontrar solugdes ou continuar criando problemas Cada significado abre alternativas distintas para a conscientizacio do modelo mental que estamos usando. A primeira alternativa € obviamente prestar atenco, como por exempllo, no caso da soletracin Uma pessoa que fica deprimida por ter uma voz interna que fica dizendo 0 que ela fez de errado vai concentrar a sua atengio para o seu interior, quer dizer 0 seu piiblico interno. Uma pessoa com medo pode buscar por imagens associadas a emocio., {Esta alternativa de prestar atengZo possui em si varias possibilidades. No caso de nao haver regras instaladas e sim um padrio de comportamento ou expressio, a alternativa consiste em observar os componrtamentos e detectar os padrées. Um exemplo é 0 uso do verbo ser para descrever estados, como “sou timido com mulheres bonitas” ou “sou incapaz de ...". Ha pessoas que realmente tem essa crenga no formato de linguagem, mas outros podem simplesmente estar se baseando em reagdes anteriores. HA pelo menos dois padroes observaveis aqui: Um é compor- tamental, o padrao de se comportar timidamente em cestas situagdes. O outro é 0 uso do verbo ser para descrever estados, que so din&micos, como se fossem para descrever algo permanente. Uma terceira alternativa pode representar 9 maiur yrau de dificuldade, em particular porque a conscientizacao de algo profundo, possivelmente rejeitado, pode provocar emogées limitantes e preju- dicar um processo de aperfeigoamento dos modelos mentais Para isso existem varias linhas de terapia | que servem como estimulo para a observagio (prestar atencic) das respostas intemas produzidas facilitando o processo de conscientizacao dos modelos mentais, 28 Griatividade © Modelos Mentais epee eet i © marido chega do trabalho, joga a pasta para um lado, os sapatos para outro, atira-se na poltrona e suspira. A mulher vira para a terapeuta e diz: — Meu marido nao me ama porque todo dia eu arrumo a casa para ele, me arrumo toda ea primeira coisa que ele faz quando chega em casa é sentar na poltrona e resmungar. A terapeuta a incentiva a questionar o habito do marido. Quando ela segue o conselho da terapeuta € o interpela, o marido responde: — Querida, eu nao resmungo, eu suspiro aliviado por ter chegado em casa apés um longo dia de trabalho. Mudando as palavras, vocé pode reverter uma situagio, considerada, a principio, sern saida, Faca perguntas que abram possibilidades, que motivem a criatividade e o prazer de viver e persistir. Por exemplo: Em vez de se perguntar: Qual é 0 meu problema? Por que eu tenho este problema? Quem € culpado por este problema? Griatividade e Modelos Mentais: uma base tedrica 29 Pergunte: | Qual o meu objetivo? Aonde quero chegar? Que recursos jé tenho para atingir a meta e quais os que eu preciso desenvolver? Vocé é quem sabe o melhor modelo mental que o conduziré ao ponto que pretende atingir. Desacelerar 08 proprios processos de pensamento é um convite 4 maior consciéncia e reflexo sobre a criagao dos modelos mentais e como eles influenciam a sua maneira de agir. Essa habilidade de refletir é o meio que possibilita o aprender 2 aprender. Reconhecer o que Peter Seuge, autor de obras como A Quinia Discipline, nomeou *sallos de absuagdu", a Gayacidade do ser humano de passar, quase que & velocidade da luz, de uma observacio direta a uma generalizagao. Ou seja, 0 que antes era apenas um pressuposto, passa a ser considerado um fato. © wabalho com modelos mentais comega por virar 0 espetho para dentro: aprender a desenterrar nossas imagens intemas do mundo, levé-las & super- ficie, e manté-las sob rigorosa anélise. [..1 Inciui também a capacidade de realizar conversas ricas em aprendizados, em que as pessoas exponham de forma eficaz. seus prOprios pensamentos e estejam abertas 4 influéncia dos outros. (SENGE, P,, 2002). Faca este exercicio ‘Tente encontrar nas frases seguir o que é um pressuposto (uma crenga técita ou encoberta). Veja o exemplo: Se pelo menos ele tivesse chegado em casa a tempo, a festa ndo teria se tornado um caos. Pressuposto: a festa se tornou um cas; ele ndo chegou a tempo; se tivesse chegado a tempo, a festa néio seria um caos, a) Se eu nio aprender como me comunicar com o meu chefe, eu no conseguirei um aumento. b) Eu tenho muitas expectativas inrealistas, ©) A sua amével personalidade € boa para relagdes piblicas. d) Pare de me olhar assim tho critico. €) Se voc® fizer isso de novo, eu vou te deixar 30 Griatividade ¢ Modelos Mentais Agora, verifique se encontrou os pressupostos: ) Que eu nao sei me comunicar com meu chefe, que s6 terei um aumento se me comunicar com ele. b) Que as expectativas sio irreais, que o que eu espero nao pode acontecer. © Que a sua personalidade ¢ amavel, que ter uma personalidade amavel € bom para relagdes piblicas. d) Que vocé est me olhando, que vocé me olha me criticando. ©) Que voc pode fazer isso de novo, que se voce fizer eu possn te deixar. O metamedelo O metamodelo é um instrumento da PNL? que procura especificar 0 que determinadas palavras e termos significam para as pessoas. Com o emprego do metamodelo, que é basicamente um conjunto de perguntas, podemos no s6 ter uma melhor compreensio dos modelos mentais, mas também fazer a proposicao de novos significados para determinada situacao, gerando mudanca. Baseia-se no entendimento de que todo ser humano usa és tipos diferentes de filtro - generaliza~ cdo, distorgao e eliminagao — para descrever e entender a realidade. Para cada tipo, foram estruturadas abordagens especificas que visam a: obter informagio, detectar os limites do modelo mental do outro reestruqurar a linguagem, a comunicagao verbal utilizada. A generalizaco é a capacidade do ser humano de transportar o significado de uma situagdo, de mesmo comportamento € referencial, para outras situacdes que guardem similaridade, embora poden- do ndo expressar a verdade. ‘As generalizacées dificultam a criac&o de novos modelos de visio de mundo, impedindo a verifica- ao de novas possibilidades existentes, quase sempre tornando uma situacio sem saida. A disposicio para o encontro de alternativas fica completamente tolhida e, como conseqtiéncia, diminuem as possi- bilidades de escolha. Neste caso, as regras restringem, pois sio nas excegdes que podemos encontrar solugdes criativas e novas para os problemas. * PNL.— Programaclo Neuroingdisien — # um conjunto de tenicas e de habilidades de comunicagéa criadas por Richard Bander e john Grinder @ que sto uullzadas como ferramentas na terapia, nos negocios € nos reluclonamentos. Criatividade « Modes Meniais: uma base toitioa at ER _ — RRR A 1H ET ETE GENERALIZAGAO Pressupostos Aplicacao do Metamodelo Bu sou sempre distraido, Sempre? Houve algum momento em que voce es- tivesse atento? Vocé nunca me ouve. Nunca? Tudo isso € besteira. Tudo? Nada de bom acontece. Nada? Ea nao posso iials esperar O que 0 impede de espera? Nilo devemos seguir as regras. (O que aconteceria se voce seguisse? Eu tenho que considerar 0 que ele falou. (O que aconteceria se voce nio considerasse o que ele falou? As praias vivem poluidas, Sempre? Todas as praias? Homens no prestam. ‘Todos nao prestam? Eo seu pal? Bo seu imac? Voce jé conheceu algum que prestasse? A distorcao é o proceso pelo qual apresentamos uma mudanga no modo em que vivenciamos nossas experiéncias sensoriais, assumindo a “realidade” de uma forma diferente daquela que nossos canais sensoriais detectaram, Distorcio Pressupostos Aplicacao do Metamodelo Eles estio me perseguindo. Quem vocé acha que o esta perseguindo? Ela nao gosta de mim. Como sabe que ela nao gosta de voce? Se me amasse, ele me ligaria. De que maneira isso significa aquilo? Se eu me destaco entre os colegas, vou ser malvisto. O que o leva a acteditar que ser destaque € ser malvisto? Ela me enlouquece, Como especificamente ela o enlouquece? Fomos enganados Como exatamente vocés se deixaram enganay? Fle sabe o que eu quero, Comu exulamnente voce sabe que ele sabe? 32 A eliminagao é voltada para nossa percepcio, que € altamente seletiva, Entramos em contato Somente com aquilo que merece nossa atengio em determinado momento ou contexte. Cristividade @ Modelos Mentais Eumanagio Pressupo, ‘os ‘Aplicagao do Metamodelo | Bstou me. | indo muito pior. De que maneira voce esta se sentindo pior? Eu tenho que wie lowtuas, Tm que basca cose julgamento esta sendo feito? Eles me tiram do sério. Quem ou 0 qué exatamente o tira do sério? Pedro me magoou. De que maneira exatamente..? Ele est piorando. ‘Comparado com quem ou o qué? ‘Trabalhar é um estresse. Quem esti emitindo esse julgamento? © trabalho desgasta o hamem Em que bases esse julgamento est sendo feito? Estou perturbado. O que é perturbagao para voce? Como vimos, além de criar uma “realidade", acabamos por transmitir essa realidade criada aos nossos interlocutores e colegas de grupo através da linguagem. Nas tabelas anteriores constam perguntas que, se bem empregadas em nossa comunicagio, poderio potencializar nossa capacidade de entendimento do outro. Tente fazer perguntas com base nos modelos anteriores, levando a pessoa 3 reflexo sobre seus prprios modelos mentais. Exemplo: Meu pai estava zangado, Como vocé sabe que seu pai estava zangado? Qu em que bases esse julgamento esti sendo feito? + Eu tenho um problema. + Eu nio sei o que devo falar. Ela me aborrece. + Ninguém me ama. E dificil ser feliz Eu tenho que acreditar nisso. Eu nao posso dirigir. Todos esto bem casacios. Eu no fago nada certo. Nada de bom me acontece. Os relacionamentos de amor so desgastantes. ‘AS pessoas devem dar o melhor de si. Eu nio posso the falar a verdade, ‘Todas as mulheres dominam os homens. Griatividade ¢ Modelos Mentais: uma base terica 33 Ninguém presta atengiio a0 que eu fale, Eu nao confio em ninguém. Bu sei que ele nfo gosta cle mim Meu marido sabe 0 que eu quero. + Eu sei o que € bom para ele. O trabalho me chateia. Criatividade - um conceito em construgao: * criar — dar existéncia + necessidade de -vinculos, iniciativa, poder de decisio + inerente ao ser humano + husea cle uma forma diferente de ser, pois os bloqueios bdsicos & mudanca pessoal se encontram dentro, e nao fora de nés. Proceso criativo (em termos pessoais) ~ troca entré as esferas do pensamento cons cliente € entre os dois hemisférios cerebrais. Hemisfério esquerdo — pensamento racional e légico. Hemisfério direito — sintese de idéias ¢ tarefas visuais ou espaciais. Teoria de Jung — quatro fungGes psiquicas basicas determinam nossos comportamento ¢ tipo de personalidade: pensamento, sentimento, sensagio e intuigo. Sintetizando as idéias | | | ) Percepciio e criatividade - percep¢do — solugio de problemas -+ aprendizagem ~y criatividade Modelos Mentais’ (MM) ~ crencas, imagens e pressupostos que temos sobre nés, 0 mundo, as organizages ¢ como nos encaixamos neles. : Prinefpios que novteiam os MM: * todos posstiem modelos mentais + MM determinam como e 0 que vemos + MM orientarn nossos pensamentos ¢ acdes + MM nos levam a tratar influéneias como fatos + MM stio sempre incompletos + MM influenciam os resultados que colhemos + MM frequentemente ultrapassam sua utilidacle I i { i | | i 34 Criatividade ¢ Modelos Mentais |

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