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Chaïm Perelman e
a questão da argumentação
Tão irracional seria exigir de um matemático uma mera probabilidade, como exigir de
um orador demonstrações formais (Aristóteles, 1094b25).
Resumo
A questão da argumentação, em Perelman, possui um sentido tão específico quanto abrangente. A sua Teoria
da Argumentação ganhou reconhecimento e notoriedade, mas o sentido em que se emprega este termo na
esfera do pensamento perelmaniano precisa ser revisitado para o entendimento da estrutura arquitetônica da
sua obra. A argumentação, tal como sugere Perelman, representa uma construção sistemática e rigorosa das
idéias que depende decididamente da anuência do auditório. Mas, em que sentido se entende uma perspectiva
de construção sistemática? O que isso sustenta e como se fundamenta?
Palavras-chave
Perelman, Argumentação, Retórica, Diálogo, Persuasão, Convencimento.
A construção sistemática dos argumentos, conforme ótica de Aristóteles, a noção de argumento está liga-
a validação do auditório que lhe confere crédito, colo- da aos lugares [topoi] que constituem o objeto de in-
ca em questão a própria idéia de que a Nova Retórica vestigação dos Tópicos [em uma perspectiva mais di-
representa uma reconstrução da Retórica aristotélica, reta] e da Retórica [de uma maneira transversal]. A
conforme sugestão de comentadores como Hoogaert importância atribuída por Aristóteles aos “topoi”, por
(1995, p.167) e Villey (2003, p.258), por exemplo. Sob a sua vez, indica a influência que a escolha destes pos-
1 Esta proposta está esboçada, inclusive, em uma reconstrução do pensamento de Stephen Toulmin, na qual se lê: “The term argumentation will be used
to refer to the whole activity of making claims, challenging them, backing them up by producing reasons, criticizing those reasons, rebutting those cri-
ticisms, and so on” (Cf. Toulmin et al., 1978, p.14).
2 “Uma teoria da argumentação tem como objeto o estudo das técnicas discursivas que visam provocar ou aumentar a adesão das mentes às teses que se
apresentam ao seu assentimento” (Cf. Perelman, 1997, p.207).
3 Assim, o argumento se mostra como um meio cujo fim implica na adesão intelectual de um auditório ao qual se dirige por uso de estratégias persuasivas
ou convincentes, conforme o caso.
4 Essa distinção entre o persuadir e o convencer é nodal, tal como se pode perceber em capítulo integrante da obra: Chaïm Perelman: direito, retórica e
Teoria da Argumentação (Oliveira, 2004), especificamente destinado à sua investigação.
5 A esse respeito cabe uma apreciação do relatório-síntese das discussões ocorridas no II Colóquio da Associação dos Sociólogos de Língua Francesa, ocor-
rida em Royaumont, em 18 de Março de 1959. Este relatório foi publicado nos Cahiers Internationaux de Sociologie [Paris, 1959, v.xxvi, p.123-135].
6 As falácias de relevância caracterizam-se por suas premissas serem logicamente irrelevantes para o estabelecimento da conclusão e, por sua vez, serem
incapazes de estabelecer a verdade daquilo que se afirma. A irrelevância, neste caso especificamente, é de natureza lógica – e não psicológica como se
pode imaginar, uma vez que se não houvesse relevância ou conexão psicológica, tampouco haveria qualquer efeito persuasivo ou de aparente correção.
Existem dois tipos clássicos de argumentum ad hominem (o ofensivo e o circunstancial). Comete-se o ad hominem ofensivo quando, em vez de tentar re-
futar a verdade do que é afirmado, ataca-se o homem que fez a afirmação. No caso da variante circunstancial, diz respeito às relações entre as convicções
de uma pessoa e as circunstâncias em que ela enuncia sua afirmação.
7 É de particular interesse investigar como o orador e o auditório discutem sobre valores, porque se acredita que esta questão pode ser tratada melhor pela
Retórica do que pela Lógica. Perelman sugere que uma teoria da argumentação é necessária para que os valores possam ser avaliados de maneira racional.
Pretende-se sustentar que as questões atinentes aos valores são especialmente relevantes para a Retórica, pois a argumentação é não somente importante,
mas essencial de um ponto de vista pedagógico, uma vez que promove um consenso nas mentes dos ouvintes a respeito dos valores que são apresentados
no discurso (Cf. Perelman, 1979, p.277-78).