You are on page 1of 32
WENDY GOLDMAN ideias ¢ oportunidades, me deram um modelo de como mulheres, dentro de sua profissio, podem ajudar umas is outras um projeto comum. Em nossa primeira reuniio, em um dormitério sombrio da Universidade Estatal de Moscou, comecamos uma dis- cussio sobre mulheres que continuou ao longo dos anos, em uma variedade improvavel de cendrios. Eu quero agradecer an selheiro, Alfred J. Rieber, por toda sua ajuda e por estendersm: mio nos momentos criticos, Acima de tudo, quero agradecer a meu marido, Marcus Rediker. As ideias deste livro tém sido parte de uma longa discussio politica, e ele, mais que qualquer u forma a sua subst cia, estilo e direcdo, Ele tem sido minha naior fonte de incentivo, meu eritico n primeiro leitor afiado, ¢ sempre meu 1 DA VISAO BOLCHEVIQUE: NTRAVES, MULHERES LIVRE AS ORIGEN AMOR SEM E EB fato curio que, a cada grande revoluci, voted cena a questio do “amor tion Friedrich Engels, 1883 IA fami} seré enviada ao museu de aniiguidades pora que descanse ao lado da rca de iar do machado de bronze, da carruagen a cavalo, do motor a vapor edo tlefone com fio S. la, Vol'fson, 1930 Em outubro de 1918, apenas um ano apés a chegada dos boléhevi ques ao poder, o Comité Executivo Central do Soviete (VIsIK), 0 mais alto Orgao legislativo, ratificou um Cédigo completo do Casamento, la Familia © da Tutela, O Codigo captou em lei uma visio revolu- ciondria das relagdes sociais, base a na igualdade das mulheres € no “definhamento” (otmirani) da familia, Segundo Alexander Goikhbarg, 0 jovem e idealista autor do novo Cédigo da Familia, este abria caminho para um perfodo no qual as algemas “de marido ¢ esposa" se tornariam “obsoletas”. O Cédigo foi elaborado levando em consideragao sua propria obsolescencia, Goikhbarg. escreveu: "O poder proletirio labo 2 seus c6dligos € todas as suas leis dialetica- e, para que cada dia da existéncia deles existirem”, Rest a necessidade de indo, o objetivo da lei era “tornar a lei supérflu Goikhbang ¢ seus companheiros revolucionstios esperavam plena- mente que nao apenas o casamento e a familia definhassem, como Friedrich Engels, citado em Christopher Hill, The World Turned Upside Down. Radical Heas During the Englsh Revolution (Nova York, Penigain Books, 1975) . 306 ed. bras: O mundo de ponta cabica: ideas radicais durante a Ingiaia de 1640, trad, Renato Janine Ribeiro, Sio Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 294) lucie Semen lakorlevi Yol'fon, Soisiodogiie baka 4 mi (Minsk, 1929), p. 480 Alexander Griger'Evich Goikhbarg, “Pervyi Korlelo Zakonoy RSFSR’ 18, p.4, 89, Proletashaia Revoliutsia i Pravo, 1. 7 WENDY GOLDMAN também a lei ¢ 0 Estado, Lenin havia analisado cuidadosamente 0 fumro do Rstado em seu famoso trabalho O Estado ¢ a revolucio, fi nalizado em setembro de 1917, somente um més antes de os bok cheviques tomarem o poder. Baseadas nos comentarios amplamente disseminados de Marx e Engels sobre a natureza do Estado, as ideias de 0 Estado ea revolupav afinal chegaram a representar a posicao mais utépiea, libertéria ¢ anticstatista denuo do corpus con aditério do wento de Lenin, assim como di teoria marxista subse. proprio pen: quente, Em sua vigorosa angumentacao contra o reformismo no movi mento socialdemocrata, Lenin defendia que os revolucionirios vito- riosos teriam de esmagar 0 Estado burgués ¢ criar um novo Estado em seu lugar. Porém, a nova “ditadura do proletariado” seria democriti ca para a ampla maioria, jé que seu poder seria mobilizado somente para eliminar os antigos exploradores. Seu objetivo, a supressio de a minoria pela ma tao simples, tio natural” que o povo poderia "coagir os exploradores sem aparelho especial, pela simples organizaio armada das massis” Nas palayras de Lenin, “uma vez que € a prdpria maioria do povo que b ha necessidade de uma ‘forga es reprime 9s seus opressores, jn pecial’ de repressiio! F nesse sentido que 0 Estado comeca a definher”™, As ideias em O Estado ¢ a revolueiio influenciaram o p bolchevique até os anos de 1930, O famoso comentario de Engels, citado proeminentemente por Lenin, segundo 0 qual o maquind- rio do Estado seria pesto em um “museu de antiguidades, ao lado da roca de fiar ¢ do machado de bronze”, fol repetido quase que lite go sovictico 8.1 Vol'fvon em mente em 1929 pelo socid feréncia 3 familia. Juristas, teéricos sociais e ativisias forneceram and. lises te6ricas ¢ historicas desafiadoras para comprovar essas ideias. E criado Theres resumo, os bolcheviques acreditavam que 0 capitalism havia ma nova contradicao, sentida d entre as demandas do trabalho e as necessidades da fumtlia A medida que cada ver mais mulheres se viam forcadas au por salérios com 0 advento da industrializagio, © conflito entre as Viadlimir itch Lenin, “The State anel Revolution’, Seed Works, v2 (N Progress, 1970), p. $17, 8828 [ed, bras: O Extads ¢ « rewlucda, Sio Paulo, Hiucitec, 1983}. Friedrich Enges, The Origm of the Family, Private Property ani the State (Nova York, International, 1972), p. 2 privada ¢do Estado, Sto Paulo, Lafonte, 2012}. 12 ed. bras A oigom da fails, da proprindade MULHER, ESTADO E REVOLUGAO demandas da producto e da reproducao resultou em alto indice de mortalidade infantil, lares destei os, criangas negligenciadas e prom ide. U blemas erdnicos de n ripido olhar pelas janelas imundas de qualquer dormitério de fibrica na Riissia do século XIX propor- cionava amplo apoio para esse ponto de vista, As mulheres haviam gressado na forca de trabalho, mas ainda eram responsaveis por criar os filhos, cozinhar, limpar, costurar, remendar ~ 0 trabalho. penoso © mecinico essencial para a familia, As responsabilidades domésticas das mulheres impediam-nas de ingressar nos dominios ptiblicos do trabalho, da politica e de empre radas criativas em pé de igualdade com os homens, O capitalismo, de acordo com os bol- cheviques, jamais seria capaz de fornecer wm para a dupia carga que as mulheres carregavam. Os bolcheviques argumentava adigdo entre trabalho solucao sistematica ria resolver a co > trabalho dor fas r amilia, Sob 0 socialismo, éstico seria transferido para a esfera piiblica: as tare aalizadas individualmente por milhdes de mulheres nio pagas por trabalhadores assalariados em refeitOrios, lavanderias € creches comunitirios. $6 assim as mulhe- livres p em suas casas seriam assumi ingressar na esfera publica em condicées de jgualdade com os homens, desvencilhadas das ta as de casa. As mulheres seriam educadas e pagas igualitariamente, ¢ seriam capa. zes de buscar seu préprio desenvolvimento ¢ seus objetivos pessoais. Sob tais circunstincias, 0 casamento se tornaria supérfluo. Homens € mulheres se uniriam e se separariam como quisessem ciados das presses deformadoras da dependéncia economica e da necessidade, A un liyre substiquiria gradualmente 0 ca medida que o Estado deixasse de interferir na unio e Os pais, independentemente de seu estado civil, tomariam conta de seus filhos com aajuda do Estado; o proprio conceito de ilegitimida de se tornaria obsoleto. A familia, arrancada de suas funcdes sociais prévias, definharia gradualmente, deixando em seu lugar individuos nomos ¢ iguais, livres para escolher seus parce base nc ‘ 108 com base no amor e no respe Jogue fora as panelas Nos inebriantes meses que se seguirama Revolucio, muitos teGricos transigo ripida para anova or- bolcheviques e ativistas previram u WENDY GOLDMAN, theres trabalhadoras de 1918, te do Zhenotdel (Departamento dem social, Em uma conferéncia de Inessa Armand, principal disi de Mulheres do Partido), declarou com fervor ingenuo: “A ordem burguesa esti sendo abolida [...] Lares separados sio. resquicios da- osos que somente postergam as novas formas de distribuigao. Eles deveriam serabolidos™. As politicas do Comunismo de Guerra (1918+ -1921) conuibuiram para a ideia de que novas formas socialistas ra- pidamente substituiriam as velhas. Racionamento estatal, refeitérios ptiblicos, comida gramita para as erianeas e salirios em espécie, tudo isso apoiava a 40 otim ve desapareceria. P. 1. Stuchka, 0 primeiro comissirio do Povo para a de que o trabalho doméstico em bre- Justiga, observou: © periodo do Comunismo de Guerra nos mostrou uma coisa: um plano parva familia livre do futuro quando o papel da familia como uma eélula de producio e consumo, uma entidade juridica, uma se guradora social, bastia 1 alimentar ¢ Criar criangas desapareceria da desigualdade ¢ unidade pa Alexandra Kollontai, uma das poucas dirigentes belcheviques ¢ autora de varios trabalhos sobre quest6es das mulheres, examinow de maneira otimista o estado da familia no final da guerra civil ¢ afirmou que ela jé era obsoleta: Nos tempos presentes, sumo individual e se tornou um ramo independente da economia do povo, nem sequer um dos lacos econémicos que criaram estabilidade para a familia proletaria, por séculos, sobrevive © Estado ja havia assumido as tarefas de criar ¢ sustentar 08 filhos, Kollontai explicou, e uma ve que o trabalho daméstico fosse tran ferido para o dominio do trabalho assalariado, nada restaria da fami. liaa nao ser um “laco psicologico”. A instituigao do casamento havia se tornado irrelevante porque “nao acarretava obrigacio econdmica hia Smidevich, “O Novom Kadelse Zakonov lembrado © ctada por So (0 Brake iSem'e", Kommunssha, 1, 1926, pA, Petr Ivanovich Stuchka, “Semeinoe Privo”, Revlintita Pravy, n. 1, 1925, p. 180. MULHER, ESTADO F REVOLUGAO bu social alguma” € ni Tideranga ¢ p necessitava mais ser "sujeita ao julgamento, ontrole © coletivo" © entu mas ela nfo estava sozinha em sua aval Partido, planificadores sociais ¢ ativistas em pro! das mulheres, entre outros, promulgaram amplamente durante os anos 1920 a ideia de que a familia iria definhar em breve. Centenas de panfletos, livros © artigos foram publicados para os puiblicos académico popular asmo de Kollontai pode ter sido um tanto prematuro, io, Juristas, membros do sobre a criagio de uma “nova vida" sob 0 socialismo?, Discusses adlas aconteciam ¢ 08 jovens. A divisio sexual do trabalho a familia, bases legais, credibilidade moral e eficiéncia econémica estavam todas sendo questionadas. Embora os te6ricos do Partido compartilhassem a crenca de que a familia iria eventialmente de hat, eles expressaram numerosas diferencas acerca da familia € das relagées sociais, O Partido nao manteve uma ortodoxia rigida, Jiferencas eram ex} ssas de forma livre, especialmente a respeito. de assuntos controversos como relacdes sexuais, criacdio dos filhos a necessidade da familia na transicdo para o socialismo. ‘Uma vez que havia expectativa generalizada de que a familia Fosse definhar, a questio de como organizar 0 trabalho doméstico provo- cou extensa discussio. Lenin falou ¢ escreveu repetidas vezes sobre a necessidade de socializar 0 trabalho doméstico, descrevendo-o como *o mais improdutive iho que a mulher pode faze que “o trabalho doméstico banal esm: © mais selvagem ¢ © mais drduo traba. Sei poupar adjetivos duros, escreveu ada” a mulher, “a amarra a cozinha ao bercario” onde “ela desperdica seu trabi Tho em uma azafama barba nente improdutiva, banal, torturante rofiante”, Lenin obviamente desprezava o trabalho doméstico, Argume} fava que “a verdadeira emancipacio das mulheres" deve Alexandra Kllontai,"Sem'ia i Komrnunism, Kommunistha, n. 7,1980, p. 178, Sobre Kollontai e sua contribuigio, ver Barbara Clements, Bolshevik Feminist he Life of Aleksandra Kollontai (Bloomington, Indiana University Press, 1979) ‘Emancipation Through Communism: The ldcology of Alexandra Michajlovna Kollontai’, Slavic Revie: a. 20, 1978, p. 328-38; Beatrice Farnsworth, Alexandra Kollonta: Soiatisn, Feminism, and the Bolsheth Revolation (Stanford, Stanford University Press, 1980), mpilacdo de artigosorgenizados por Ennelian Taroslaski, ‘Yoprosy zhizni i bor'by”, em Shornik (Leningrad, Molodaia Gvardia, 1924 \WENDY GOLDMAN mbém “a transfor nie igualdacte legal ico integral” do trabalho doméstico em trabalho socializado" Kellontai também argumentava que sob 0 socialismo todas as refas domésticas seriam eliminatlas e © consumo deixaria de ser indi vidual e restrito a familia, A cozinha particular seria substituida pelo refeitério piblico. A costura, a limpeza e a lavagem, assim como a mineracio, a metalurgia ¢ a producao de maqu insforma: omia do povo. A familia, segundo estimou iciente de trabalho, comida © com- 10, 8e Kollontai, constituia um uso ini bustivel. "Da perspectiva da economia socializada’”, a familia era *naio somente iniitil, mas nociva.”" E, inclusive Eygenii Preobrazhenskii © conhecido economista soviético, observou que a divisio tr nal de trabalho na familia impedia a mulher de conquistarigualdade licio- coisa’, A real ao Ihe impor “um fardo que antecede qualquer ou igrande caldeirio \inica solucio, segundo Preobrazhenshii, seria ui piiblico, que substituisse as panelas das casas’ Ao contririo das feministas modernas, que defendem a redistri buigao das tarefas domésticas dentro da familia, aumentando a poreao do homem nas responsabilidades domésticas, 0s tedricos bolchevi sferiro rabalho doméstico para esfera pablica ques buscavain, Preobrazhenskii expressou essa diferenga concisamente, “nossa ta ref no consiste em Iutar por justica na divisio do trabalho entre os sexos", escreveu, “nossa tarefa ¢ libertar homens € mulheres do tra batho doméstico trivial”. A abolicio da familia, em vez do conflito de géneros dentro dela, era a chave da emancipacio das mulheres A socializacio do trabalho doméstico eliminaria a dependéncia das nova liberdade mulheres para com os homens © promeve nas relagées entre os sexos. Trotski declarou wssim que a “lava. gem [fosse] feita por uma lavanderia piblica, a alimentacio por um restaurante puiblico, a costura por uma loja publica’, “o elo entre ido que Ihe € externo aciden: ido ¢ mulher seria liberto de tal”, Novos relacion entos, “néio obrigat6rios", se desenvolveriam Vladieni Hiteh Lenin, The Bmancipation of Wi 1 York, 1981), p68, 60 Led, bras: Soba omancipacd da mulher, Sio Paulo, Aa Omeya, 1980) Alexandra Kollontai, “Fezsy o Kormmunisicheskoi Moral v Oblast Brachnykbh ‘Otmoshenti”, Kommunstha n, 12, 121, p. 2. EygentiAlekscevich Preobrazhienshil, “Puck Raskrepostichentta Zhvenstchiny Kommunistta, », 7.1920, p. 19, © Thidem, p.20, MULHER, ESTADO E REVOLUGAO baseados. sentimentos meiwos", A ideia soviética de matrimonio dos anos 1920 ¢ 2a de uma relacio entre igutis, uma unido de ca maradlas findada em afeto miitua ¢ soldada por interesses comuns Te6ricos sovicticos reconheciam que a unio de companheiros exi- gia que as mulheres se tornassem iguais em relacio aos homens, O escritor M. Shishkevich, oferecendo conselho a uma ampla audiéncia de trabalhadores e camponeses, comentou; Tao frequentes sio as disputas e brigas causadas pelo distanciamen to dos cOnjuges. Um marido lé um pouco, assiste como 0s outros enxergam ma palestra, vé vida, Mas a esposa esté com as panelas no. fogo 0 tempo todo, fofocando com os vizinhos. Se as mulheres nao participassem da vida politica e cultural, suas relagdes com. os homens nao poder muituo. Invocando 0 ideal da uniao de companheiros Shishkevich acongelhou seus leitores: “A participacdo de ambos os conjuges na Vida publica facilita o entendimento mutuo e desenvolve respeito a aun. ser baseadas em respeito © uma camarada™. Tedricos mulher como uma igual, uma amiga soviéticos prognosticaram relagdes baseadas na “unio livre” ou no ‘amor livre”, Leni termos devido ele, de todo deve-se recordar, possufa forte aversio a esses sua associacao com a promiscuidade burguesa, Mas do, defendia que sem amor nao havia base para um, relacionamento, "No € possivel ser democrata ou socialista” yeu, “sem defender plena liberdade de divércio"”, Por em sentimentos miituo? Um dia, um ano, ticos divergiam em suas respostas. Alguns prognosticaram uma sextua- lidade livre limitada somente pelo desejo natural, Kollontai defendia quanto tes po se esperava que durassem as unides baseadas vida? Teéricos sovié- ™ Leon ‘Trotak,:"From the Old Family to the Nen”, Pravda, 13 jul, 1923 (ed. exp.: "De la vieja a la nueva familia”, em Problomas de la vida catidiana, Mad Fundacién Federico Engels, 2004), reimpresso em sua obra Wom aud the amily (Nova York, Pathfinder, 1970), p. 26. Para uma discussio sobre ax mudangas no ideal matsimonial dos Soviets, ver Viadimir Shlapemtokh, Live, Marriagy and Friendship in the Soviet Union: deals ‘aad Practees (Nova York, Praeger, 1984) M. Shishkevich, “Sem’ia i Brak v Usloviiakh Novogo Byta’, Sem‘ie # ak hom i nasioiasicem (Moscou, 1925), p. 101-2 Ver correspondéricia de Lenin ¢ Inesea Armand em ¥ The Emancipation of Women, ct, p. 3640, 42. wlisnir Mich Lenin, WENDY GOLDMAN oral, asim como a familia, era historicamente construida ¢, ques portanto, sujeita A mudanca. “Na natureza nio ha moralidade nem imoralidade diveis somente deixa de ser normal quando transcende os limites estabeleridos pela higiene.” Ela explica: “O ato sexual nao deve ser reconhecido como vergonhoso nem pecaminoso, e sim como esereveu. “A satisfacdo dos instintos naturais e sau: natural ¢ legal, uma manifestacao de um organismo saucdavel tan- to quanto satisfacio da fome e da sede", Lenin adotou uma po- sicdo mais conservadora, demonstrando seus rigidos preconceitos vilorianes na propria metifora de sua resposta: “Certamente”, es “a sede deve ser saciada, Mas uma pessoa normal deitaria na sarjeta e beberia de uma poga?”. Semen Iakovlevich Vol'fson, umn socidlogo ¢ professor de dircito, ‘economia e materialismo dialético, concordou com Kollontai, argu mentando que a duracio de um easamento seria “definida exclusi vamente pela miitua inclinagdo dos cOnjuges”. Afeto © atracao se- riam 0s Gnicos determinantes da durac Contra a previsio de Kautsky, > de um relacionamento, .gundo a qual a familia seria preser uunidade ética”, Yol'tSon bramou vada sob 0 socialismo como u “A familia como uma ‘unidade ética’, despojada de suas fungdes as, é simplesmente Outros foram mais cautelosos em sua abordagem da sexualidade Shishkevich concordava que “sob as condigdes da nova vida nés atin- giremos completa liberdade de unido sexual”, mas enxergava a neces: sidade de limitar a liberdade sexual durante 0 periodo de tansicio, Enquanto 0 Estado nao padesse arear com o euidado das eriancas e sexo acarretasse possibilidade de gravider, os homens no deveriam se ver livres de suas responsabilidades perante as mulheres. "Se a questio 6 resolvida a favor da irresponsabilidade sexual dos homens", escre veu,, “entio ndo resta diivida que, em nossas condicdes econd mulheres ¢ mies vio sofrer™, Para as mulheres, © medo da gravidez ainda era o grande obsticulo para a livre expressio da sexualidade Lenin também ressaltava as consequéncias sociais das relacées sexuais, embora se sentisse profundamente desconfortavel com es ® Alexandra Kollontsi, “Tesizy o Kommunisticheskoi Moraliy Oblast Brachnykh Otnoshenii, cit, p. $1; Vladimie Hitch Lenin, TheEmancipation of Women, ci ps. 106, Semen lakovlevich Vol'fson, Satsolagiiebraka isem, ci, p. 446. ® M, Shishkevich, “Semi i Brak v Uslosiiakh Novogo Byta” cit, p. L10, MULHER, ESTADO E.R peculagdes sobre sexualidade em geral, ¢ considerava tais preocupa Ges digressdes improdutivas e intiteis. “Eu desconfio daqucles que sempre se ocupam dos problemas do sexo”, disse a Clara Zetkin, *A santo indiano é engolfado na contemplacio 4 seu proprio umbigo". Preocupado com as consequéncias da liv xualidacle em uma sociedade prévia a contracepgio, Lenin afirmou que © comportamento pessoal de um individuo assume uma nova importin coletivo quando criangas estio envolvidas. “Duas uuma terceira pessoa, uma nova vida, surja. Esse feito possui uma a socal ¢ constitui uma obrigacao para com a comunidade”?, Claramente, o destino e a eriacao dos filhos era central em qual quer discussao sobre sexualidade, E. nisso também tericos sovikticos divergiam, Todos concordavai va ente que em algum momento todas 2¢ criangas seriam cuidadas pelo Estado em creches, centros de cuidado e escolas piiblicas. Zinaida Tettenborn, uma especialista en ilegitimidade e direitos da crianga, declarou com confianca: “A cria cao sera igual, a mesma para todas as criancas, e nenhuma crianga se encontrara em posicao inferior a outra”®, Porém, 0s te6ricos so- viéticos permaneciam incertos sobre como implemenur essa receita de principios. Os pais manteriam um papel decisivo na criagio de seus filhos? Ou o Estado assumiria completa nte © papel dos py Alguns tedricos argumentavam. que pais nao estavam aptos a criar fi- hos: ignorancia paternal e egoismo familiar atrofiavam 0 desenvolvi- mento das criancas ¢ estreitavam seus horizontes. O Estado poderia fazer um wabalho muito melhor na eriagdo de cidadaos saudiveis Outros sustentavam que 0 Estado poderia simplesmente ajudar os paisa combinar o trabalho com a.criacao dos filhos por meio de um leque de servicos suplementares, © educador V. Diushen organizou um projeto meticulosamente detalhado em’ 1921, no qual argumentow que o espirito egoista da lista, A familia, escreveu, *opbe seus interesses aos da sociedade ¢ considera que somente aque ia era incompativel com a ética so les unidos pelo sangue merecem ajuda e cuidado”. Maes prejudica- yam seus filhos mais do que thes faziam bem, pois até mesmo as “mies pedagogas” eram incapazes de se relacionar com “seus filhios com su Viadlinir Hite Lenin, The Emancipation of Womer, ci, p. 101, 105 Zinaida Tettenborn, *Roditel'skie Prava w Pervoun Kodlekse Zakonoy RSFSR Proletarshaia revoliutsia i pravy 1,1, 1919, p. 26-7 WENDY GOLDMAN ficiente objetividade”, Diushen desenvolveu um plano elaborado para nentos ¢ bairros infantis, que seriam povoados por um nti mero de oitocentas a mil criancas, dos trés:a0s dezoito anos. As ca seriam separaclas por idade ¢ sexo, dirigidas por pedagogos especial- mente qualificados ¢ governadas por um Soyiete composto de crian- ¢¢as, professores e pessoal técnico. Diushen planejou inclusive passeios hos quais.as criangas clos assentamentos visitariam familias para “ver 0 lado desagraddvel da vida. A visio austera de Diushen 1o papel dos pais era compartilhacla por Goikhbarg, autor do Cédigo da Familia Goikhbarg encorajava pais a rejeitarem “seu amor estreito e irracional pelos filhos”. Em_sua visio, a criagio por parte do Estado “proveria nte melhores do que a abordagem indivi- resultados consideravelim¢ no cientifica e irracional de pais individualmente ‘amorosos’, orantes™., Diushen desejava criar organizagées democriticas ¢ comunitatias para contrapor as relacies hierarquicas e autoritarias internas 4 familia, E tanto ele como Goikhbarg buscavam substituir ‘© amor por ciéncia, a “irracionalidade” dos pais pela “racionalidade” dos educadores, Kollontai era nenos critica em relagao aos pais, mas ela também previu © papel fortemente expandido do Estado. Em sta visio, a uacio do laco pais-filhos era historicamente inevitivel. Sob 0 capitalismo, a necessidade econdmica impedia os pais de passarem tempo com as criangas. Forgados a trabathar desde jovens, as crian- cas rapidamente ganhavam independéncia: "A autoridade dos pais se enfraquece ¢ a obediéneia esta por cessar”. Referindo-se ao re- trato, de Engels, da familia em A situacio da classe trabalhadora na Inglaierra, concluiu: “A medida que © trabalho doméstico definha, 1 obrigacao dos pais para com os fills também definha”. O comu- pletaria esse proceso. “A sociedade vai alimentar, criar ¢ educar a crianca’, Kollontai prognesticou, embora os pais ainda var 1acos emocionais para com seus filhos. Mulheres fossem pres maternidade e trabalho sem se Kollont ia A luz e logo retornaria “ao trabalho que realiza para teriam a oportunidade de combi preocupar como bemestar de seus filhos. De acordo co a mulher dl a grande famflia-sociedade”. Criangas cresceriam em creches ou ber- * Y, Diushen, “Problemy Zhenskogo Komnmunisticheskogo Driheniia; Problemy Souial’nogo Venpitanil 8, 1921, p. 267, “Alexa Souls Ropublki (Moscow, 1920), p.5. i: Crigor"Evich Collins, Brachinos sometvor, i pehumsee prove MULHER, ESTADO E REVOLUGAO Garios, no jardim de infincia, em colonias de eriangas ¢ escolas, sob © cuidado de enfermei ¢ professores experientes. E, quando uma mie desejasse ver seu filho, “ela somente teria de pedir” Tettenborn enfatizou mais o laco pais-filhos, embora ela também imaginasse um papel mais amplo do Estado, A criacio ptiblica, em sua visio, nao “separaria pais de seus filhos”, mas permitiria que pas sassem mais tempo juntos, A criacdo socializada dos filhos seria orga- da democraticamente. Antecipando satisfeita o futuro, escreveu sem uma sociedade completamente democré tica, O comité de criacio consistiré de pais ~ homens ¢ mulheres ~ ¢ seus filhos"® cos soviéticos divergiam, portanto, sobre qual a preponde- rincia do papel que 0s pais desempenhariam na criagio de seus ilhos, mas todos concordavamn que o Estado forneceria ajuda subs- ancial e que a maternidade (© manteria mais a mulher fora da forca de trabalho e da vida piiblica. Mais importante, 4 medida que 0 Estado assumisse muito da carga da criacio dos filhos, a fainiia perderia outra fungio que historicamente havia provido base para sua existéncia. Nas palavras do jurisia Takov Brandenburgski: "Nos estamos sem dtivida nos movenclo em directo a uma alimeni C30 80" cial dos fithos, para escolas obrigatoriamente as, para o mais amplo bem-estar social A custa do Estado”. E A medida que ‘o gover no se desenvolva e se fortaleca, e que sua ajuda se torne mais real, a ‘lula familiar ampla ir’ gradu: Resun imente desaparecer idamente, tedricos soviéticos defendiam que a transi¢io para o capitalismo havia transformado a familia ao enfraquecer suas funcées sociais ¢ econdmicas. Sob 0 socialismo, definharia, € sob smo deixaria completamente de existir. Nas palavras de Kollontai, “a familia ~ privada de todas as obrigacées econdmicas, sem carregar a responsabilidade pela nova geracao, sem mais prover as mulheres sia fonte basica de existéncia ~ deixa de ser a familia, Alexandra Kollontai, “Communism and the Family", Serta Writings (Nova York/Londres, W.W. Norton, 1977),p. 194, 2578, ® Zinaida ‘ettenborn, “RoditeY’skie Prava v Pervom Kodekse Zakonov RSFSR", it, p. 207, Iakow Navan 1928), p.20, ich Brandenburgpkii, Kurs semeinodrachuogo preva (Moscon, WENDY GOLDMAN Estreita-se € € tansformada em uma unido marital baseada em e¢ Os bolcheviques, dessa maneira, ofereceram uma sol rentemente direta para a opressio as mulheres. Entretanto, suas receitas, apesar de uma aparéncia externa de simplicidade, se alca- vam sobre complexas suposi¢des, sobre as fontes € 0 significado da libertacdo, Em primeiro lugar, eles assumiram que 0 trabalho do- méstico deveria ser removido, quase que inteiramente, do lar, Nao seria redistribuido entre os g@ »s da Familia. Os bolcheviques niio desafiaram os homens compartilharem o “trabalho feminino”, mas buscaram simplesmente transferir as tarefas para o dominio piiblico. Apesar de frequentemente alirmarem que os homens deveriam “aju: dar” as mulheres em casa; niio estavam profuridamente preocupados ero dentro da familia em redefinir os papéis de gé Em segundo lugar, supuseram que as mulheres somente seriam lie vres se ingressassem no mundo do trabalhio assalariado. Ao invés de e impr 10 trabalho doméstico como.o entediante progenitor do atraso politico. Somente um salario separa- reconsiderar 0 valor que a sociedad Iheres realizavam em casa, desprezara as tarefas que as mu do poderia oferecer as mulheresindependéncia econdmicae acesso a ‘um mundo piiblico mais amplo. Para que as mulheres se libertassem, econdmica psicologicamente, precisariam assemelharse mais aos homens ou, especificamente, aos homens trabalhadores. Em terceiro lugar, os bolcheviques atribuiram pouca importin- cia para os poderosos lagos emocionais entre pais € seus filhos. Eles supuseram que a maior parte do wabalbo exigido para 0 cuidado com 0s fills, sé mesmo das eriangas menores, poderia ser relega da a empregados piiblices remunerados. Tendiam a menosprezar 0 papel do laco mae-filho na sobrevivéncia e no desenvolvimento da crianga nos primeiros anos da infancia, embora mesmo um conhe- cimento rudimentar do trabalho de orfanatos prérevolucionarios pudesse ier revelado as taxasassustadoramente baixas de sobreviven abientes institucionais ¢ os obstculos para um, desenvolvimento saudiivel da crianca®. Na visio de muitos tedricos, Alexandra Kollontai, “Teziyo Kormmunisticheskoi Morali v Oblast Brachnykh Otnoshenit’ ct, p. 29. » Para uma anaiise excelente dos orfanatos préevolucionatios, ver David Ransel, Mather of Misay: Child Abendonment in Russia (Princeton, Princeton University Press, 1988) MULIER. ESTADO E REVOLUGAO 6s problemas apresentados pelas criangas pareciam quase idénticos os do trabalho doméstico, Suas solucées eram, portanto, pratica mente as mesm: Em quarto lugar, a visio sociatista de libertagio continha uma cert tensao entre o individuo e a coletividade ou o Estado, Embora 0s bolcheviques defendessem a liberdade pessoal para o individuo ¢ a climinagio de matoridades religiosa ou estatal em questies de pre feréncia sexual, supuseram que 6 Estado tomaria para si as re ‘abilidades da criagdo dos filhos ¢ do trabalho doméstico, Port nto, 40 mesmo tempo que a ideologia bolchevique promovia uma no- Gio libertaria do individuo, aumentava imensuravelmente 0 papel social do Estado ao eliminar corpos intermedidrios como a fami Idealmente, 0 individuo ¢ 0 coletivo encontravam-se em equilib dialético, a propria liberdade do primeiro gar ntida pelo aumento da diligéncia ¢ responsabilidade do segundo, Nesse sentido, a visio de liberdade sexual nao se diferenciava consideravelmente da pro- messa marxista geral de realizacio criativa individual no contexto de uma sociedade amplamente socializada. O ideal, porém, estava brio, ¢ a tensio entre a liberdade individual © 0 sujeito ao desequi poderoso aumento das funcées e do controle do Estado gerou uma uta cada vez mais violenta no inicio dos anos 1930, Desprovida de embelezamento, a visio bolchevique era baseada, portanto, em quatro preceitos: unio livre, emancipagao das mulhe tes através do trabalho assalariado, socializagao do trabalho domés tico € definhamento da familia, Cada um tinha sua propria histéria, embora eles se juntassem em diferentes momentos ao I igo do tem po, A ideia de uniio livre se desenvolveu primeiro, surgindo na Idade Média ¢ novamente no século XVII, embora desg: compromisso coma libertacao das mulheres. Segt XVIIL, debates a respeito da igualdade das na percepgio da opressio a elas. No século XIX, a unio livre ¢ a ada de qualquer ram-na, no século heres € um aumento emancipagio das mulheres se entrelacavam a dema das pela social: nila, todas lo como fonte primaria de benestar social. maioria dessas ideias nasceu e foi defendida por moyimentos a favor de uma ordem social mais justa e comunal, Ao zacio do trabalho d amparadas err éstico e pelo definhamento da maior énfase do F ns € trajetorias, sera possivel estabelecer os funds- mentos intele do pensamento bolehevique respeito da famé 1 WENDY GOLDMAN lia € apontar 6 que era novo e original na contribuigio da geragio de revoluci marios que chegou ao poder em 1917, Auniao livre Ao longo da Idade Média, Tgreja acusou intimeras seitas das he- iio livre, No séeulo XI, a Irmandade do Espirito Livre esperou ansiosamente 0 estigio final da histéria do mundo, quando homens seriam torturados diretamente por Deus. Cem anos mais tarde, fiéis franceses afirmaram que um ho- 1em yerdadeiramente unido com Deus era incapaz de pecar”. No século XIV, deguinos © begerdes da Alemanha, pequenos grupos que se dedicaram A pobreza e a simples vida comunal, foram acusados de promulgar a heresia do Espirito Livre, uma nocao de que “onde © espirito do Senhor estiver ha liberdade” eas pessoas poderiam pra- ticar sexo sem pecado, Essa ideia foi ecoada novamente por Martin Huska, um rebelde boémio do século XV que pregava “Pai nosso que estais em ns’ © que foi queimado por sua oracao herética em 1421 Seus seguidores mais radicais, o8 adamitas, foram acusados de imitar resias de libertinagem ¢ a falsa inocéncia hedonista a0 andarem nus, terem re ¢ declararem sua propria auséncia de pecado”), Muitas dessas seitas também praticavam uma forma primitiva de comunismo e pregavam contra a tiqueza € 0 poder da Igreja"®, Ainda que muitas delas pra- ticassem 0 Coletivismo, suas ideias sobre uniao livre eram baseadas ‘em nogdes de impecabilidade e uniio com Deus, ¢ nao pretendiam transfor as mulheres. Ideias de unido livre apareceram novamente no século XVII, esti- muladas pela Revolucao Inglesa ¢ pelo que um historiador chamou de “a primeira revoluco sexual da modernidade”, Embora aqui também a ideia de unido livre tenba encontrado seus promotores josas milenaristas, foi acompanhada 6 casamento ¢ a familia ou emancip mais vigorosos em scitas rel por uma forte eritica dos padi ses baixas © médias. J4 em 1600 u n terco da populacio britinica ® Walter Nig, The Hentics (Nowa York, Knopf, 1962), p. 1636, Malcolm Lambert, Medieval Herey: Popular Movenent York, Holmes and Meier, 1977), p. 1738, 322-3, rom Bogomil to Hus (Neva Karl Knuth etna eltay Commo aneepasiad diretos dos socialitas moderns, Ver sua obra Communism in Genival Europe at the Time ofthe Reformation (Nova York, Russell and Russell, 1959), MULIER, ESTADO EREVOLUGAD havia perdido acesso a terra ou ao officio, Trabalhadores ass grantes, camponeses expropriados ¢ artesios arruinados hi sido libertos dos antigos costumes matrimoniais camponeses pouca perspectiva de algum dia fundar um lar independente, seu comportamento matrimonial era mais frouxo, muitas vezes baseado em autocasamento € autodivércio™, Atraidos pelas seitas milenaris- tas, assim como pelo antinomianismo radical, esses grapos atacaram formas antigas de costumes desde baixo. Ao mesino tempo, ascendentes homens de negécios ¢ fazendeiros présperos, que se beneliciaram dos cereamentos ¢ das novas opor- tunidades no comércio e na producio, atacaram a cultura popular desde cima. Ridicularizando priticas camponesas como vulgares, rejeitaram o costume antigo em favor de uma nova éyfase no casa de companheiros. Nos anos 1640 © 1650, estes dois fios — antinomia- am mutuamente e se uni 10 ¢ puritanismo ~ se refor m no ataque a ordem existente", As criticas ao casamento abriram um leque de alternativas, des- de a tiniao de companheiros até o amor livre. A doutrina puritana enfatizava a ideia de casamento entre companheiros no qual a es posa, ainda subordinada & autoridade do marido, seria mais ajuddante” e uma ual. Criticos de festividades puiblicas defendiam 108 ¢ privados, ¢ brevemente instituiram o casa mento civil (1553-1660) na esperanca de obter mais controle sobre as escolhas matrimoniais de seus filhos"®, Outras seitas religiosas imonia de casamento em favor de uma declaragao simples do casal perante a con; ‘casamentos peque regacao reunida, ¢ tam: bém praticavam uma forma ay le div 08 ‘cio. E, enquanto os pu ritanos buscavam controles mais estritos sobre o casamento, outros criticos almejavam enfraquecer as restricdes. O poeta John Milton falava apaixonadamente em favor da liberalizacio do divércio € ow tros buscavam fimitar a autoridade patriarcal absoluta soldada por John Gillis, Fir Bate for Worse: Hntisk Marrioges, 1600 to the Preent (Oxford ‘Oxfont University Press, 1985), p. 18, 00, 109 Lawrence Stone, The Family Sex, and Marriage in England 1500-1800 (Nowa ky Harper, 1979), p. 1079, oferece uma interpretagio diferente, assinalando que © partir de 1640 houve uma reducio do pertencimento a redes de parenes Ho A fama, Como John Gillis, Fr Bete, for Worse, cit, p. 102, Ibidem, p.5! WENDY GOLDMAN cOnjages © pais. Ox ranter, uma das seitas religiosas mais radicais, foram além ao pregar amor livre, abolicio da familia e xu ios parceiros", Celebravam a sexu ‘como seus predecessores medievais, nega laces se- idade e, n que o sexo fosse peca- minoso, Alguns defendiam a nogao secular de casamento por contra 'o, renoviivel pelo marido € esposa anualmente, Abiecer Coppe, wn tanier e estudante de Oxford, encontrou entre os pobres um piiblico entusiasta por suas ferozes condenacdes da monogamia e da fan nuclear”. Virias seitas defendiam a expansio dos direitos da mulher baseacla em suas convicgdes religiosas de “direitos naturais fundamen- tais", Algumas seitas permitiram 4s mulheres participar: no governo ico ¢ inclusive pregar. Os quakers, a0 enfatizar cada rela dividual privilegiada com Deus, omitiam da ceriménia de caamento 08 votos de obediéncia da esposa ao marido, Porém, mesmo entre radicais ¢ dissidentes a critica a familia ¢ & opressio a mulheres permaneceu rudimentat, Gerard Winstanley © seus radicais diggers reafirmaram o lugar do homem como chefe de familia € atacaram a doutrina de amor livre promulgada pelos vanters. Winstanley argumentava que 0 amor livre fazia pouco para rar a situacao das mulheres. "A mae e a crianca concebida dessa mancira”, escreveu, “ficariam com a pior parte, jé que 0 ho- mem partird ¢ os abandonari [...] depois de garantido seu prazer’. Como Christopher Hill havia observado, na auséncia de controle de natalidade efetivo, “liberdade sexual tendia a ser liberdade somente para os homens”. Por outro lado, muitas das seitas radicais.n ca aceitaram a igualdade das mulheres ¢ até mesmo os Levellers, que defendiam os “direitos naturais", nao inclufam mulheres em seus planos para ampliar os direitos politicos”. n (Oxford, Basil Blackwell pher Durston, The Romy i the Engh Revoai 1080), p. 12 John Gills, For Bate, jor Worse cit, p. 1028, Christopher Hill, The World Terme Upside Down, cit, p. 308, $10, $12, 31 Christopher Durston, The Famiby in the English Revottion cit, p. 10, 12 " Winstanley, citado em Christopher Hill, he World Turned Upside Down, cit p.3l9 Christopher Durston, The Family in the En, Gillis, For Bete, for Warse, ci, p. 108 sh Revolution, cit, p, 25-6, 30; John 4 MULHIER, ESTADO EREVOLUGAO As eriticas da familia que emergiram em meados do século XVIL eram portanto bastante limitadas. O reconhec ilireitos das mulheres estava ancorado na nova ideia religiosa acerea ida relagio sem mediagio de cada individuo com Deus, Essa ideia possuia fortes implicacées libertirias € questionava seriamente as instituigdes eclesidsticas e estatais estabelecidas, Mas nio rejeitara 9 dominio patriarcal dentro da familia. Aiguns religiosos sectirios © papel da mulher dentro da Tg vam eritica A dependéncia econdmica das mulheres ou a opressio a elas. A nogdo puritana de casamento entre companheiros mitigaya x subordinagio das mulheres, mas nao surgia de um impulso para libertitlas. Justificada sob termos religiosos (‘a alma nao conhece diferenca de sexo"), a ideia de fami. nas recessdatles e aspiragoes de fazendeiros ¢ ho 1 ancorad \egdcio dos ranters, 08 criticos inais ferozes do casamen présperos, as ide to ¢ da familia, se baseavam nos cost es dos pobres migrantes, Camponeses desprovidos de suas terras ¢ artesdios empobrecidos, sem propriedade que os atassem ¢ forcados. viajar para se sustentar, frequentemente se juntavam e se separavam por consentimento mit tuo através do “autocasamento” € “autodivorcio™. Mas os habitos dos tabalhadores migrantes nio constituiam a forga social domi: nante no século XVII. Cor 10-as pregacdes dos raniors, eles exam mais precursores de ideias radicais posteriores do que de um prog realista para um movimento popular Apés a Revolucao Inglesa, os fios geémeos do puritanismo ¢ anti nomianisino comecaram a desatar, As elites puritanas comegaram a limitar o casamento aos economicamente independentes ¢ a exclui os pobres. Ao final do século XVIII, sua énfase estreita e de compaixao entre companheiros era amplamente aceita por todas as classes proprietirias, independentemente da religido, As seitas radicais religiosas, que se rebelaram contra os tributos de 4 Christopher Hill, The Wrld Turned Upside Down, cit.,p. 396-7, 911 John Gills, For Bates for Wors, ct, p. 99 €asamento, perderam espaco. Sua visio do mundo como uma de familia era pouco atrativa para as classes médias ascendentes* Qu tionando a natureza da mulher Ao longo do sécula XVII, 0 erescime doméstiea teve u vex que 1 impacto significativo no papel das mulheres, uma a economia doméstica se caracterizava cada vex mais pela Combinagio entre agricultura e manufaturaY, O desenvolvimento da indiistria doméstica enfraqueceu a autoridade patriarcal ¢ a divisio do trabalho por género, d lento e Fesulton em aumento da taxa de natalidade, A medida que os rendi- mentos substitufam a propriedade como base para a formagio de um lar separado, jovens se ca am cadla vez mais por atracio pessoal qualquer consideracio por questées materiais” As mulheres ganha- ram uma “nova cidadania econdmica” e maior participagao na politica da comunidade', Nas aldeias inglesas onde a indkistria cascita flores cia, moradores das aldeias preferiam casamentos simples ao invés das Thidem, p. 100-2, 13 Na Franca, por exemplo, entre 50% © 90% a exploragdes ageirias eram insnficientes para sustentar uma familia n@ s€culo XVILL Ver Oven Hulton, Women, Work, and Marriage in Eighteenth Century France Outhwaite (org), Merviage aud Society: Studies in the (Nova York, Si. Martin’, 1981), p, 186-20: Social History of Marriage 3. B, sobre a Inglaterra, ver Bridget Hil, Women, Work, and Sexual Palitics in Bightoenth Century Frglend (Oxford Basil Blackwell, 1989) Rudolf Braun, “The Impact of Gowage Industry on an Agricultural Population’, 1 David Landes (org), Phe Rise ofCaptaisn (Novavor, Macmillan, 1966), .58 Muita atengaio foi dada a esse process. conhedle incastrializaci Vex por exemplo, Hans Medick, “The Protoincustrial Family Eeonomy. The Structural Function of Household and Family During the ‘Transition from Peasant Sociewy to Industrial Capialimn, Soci Hsin, 1, 1976, p. 291-31 Divid Levine, *Proto-tndustralizaion and Demographic Upheaval” Moch (org), #says on the Family and Histrial Change (College Statin, Texas ARM University Press, 1989), p. 934; David Levine, “Industrialization and the Proletarian Family in Englane”, Past and Peso, n- 107, 1085, p. 168203, Wolfram Fischer, "Rural Industrialzation and Population Change Compara Studies in Soity and History ¥. 15, n. 2, 1973, p. 19870, John Bobstedi, “The Myuh of the Feminine Food Riot Women as P ‘Citizens in English Community Politics, 1790-1810", em Harriet Applewhite © Darline Levy (ongs.), Women and Politics in the Age ofthe Democratic Revolution (Ann Arbor, University of Michigan Press, 1990), p. 345, %6 MULHER, ESTADO EREVOLUGAO tinder celebracies camponesas, Ideias radicais sobre 0 casamento, Thaseadas em sentimento miituo ao invés de em propriedade, exerciam forte apelo em grupos plebeus e urbanos, que ja praticavam formas de (iasumento mais “flexiveis O desalio plebeu a autoridade patriarcal desde baixo se combina: Wt com o desafio filos6fico desde cima na ver. que debates sobre a ulhere « familia atraiam pensadores livres do Huminismo, Embora 1 filosofias nio estivessem preocupadas diretamente com a liberta eo das mulheres, elas moldavam a discussio do papel das mulheres, de uma maneira completamente nova ao abrica para questées de dliferenca de género e para o potencial de igualdade das mulheres. Diferentemente dos religiosos radicais do século XVII, os fildsofos no bascavam seu pensamento no relacionamento especial ¢ indivi dual com Deus, mas no papel da educagio do ambiente na forma cio do potencial inato de cada ser humano (masculino). A nocio de que a educacio pudesse desempenhar um papel critico no de- nto dla personalidacle humana logicamente levow muitos filosofos a questionar as diferencas sexuuais ¢ o “eardter feminino” Enquanto muio do pensamento dos filésofos era novo, sttas con Jusdes permaneciam, em sua maior parte, conservadoras. Diderot ‘ es que limit por exemplo, criticou muitas das instituicdes e costumes qu vam as mulheres, mas ele também acreditava que as mulheres eram inatamente propensas 2 histeria, incapazes de manter concentragio mental e, em dit de alcancar o génio. D’Holbach de fendia que as mulheres eram incapazes no campo da razdo, justica Dut pensamento abstrato. A maioria dos filésofos enfatizaya um papel de igualdade amente doméstico para as mulheres e negava a possibilidade John Gis, “Peasant, Pleb 1900", en David Levine (0 Academic, 1984), 18850. Katherine Clinton, “Femme et Philos an, and Profetarian Marriage In Britain, 1600 ), Polearinization and Family Hisory (Nova York Enlightenment Origins of Feiinism”, ighieenth Gentry Sie, n, 8, Elizabeth Gardner, “The Philorophes and Women: Sensational and Sentiment”, e Peter D. Jimack, “The Paradox of Sophie and Julie Contemporary Responses to Rousseau's Ideal Wife and Ideal Mother’, em va Jacobs, William Henry Barber, Jean Bloch, F Leakey E. LeBreton (Orgs), Women and Scity in Eightsenth Contry Bronce: Essays in Homi Spink (Londres, Athlone, 1919), p, 21-4, 1523, hn Stephenson 7 WENDYGOLDMAN Comoos puritanos, os flésofos defendi imente de classe média baseado tuo € companheirismo, Ao contrario dos puritanos, entretanto, eles davam menos énfase & subordinacao da mulher ao homem, embora suas ideias dle casamento ainda estivessem fortemente moldadas pe- Jas necessidades masculinas®. A mulher ideal de Rousseat foi pred cada em sua avaliagio “racio as reformas dle Helvetius a lei mat foram empreendidas levando em consideraciio os interesses masculi- nos, Sua critica ao casamento, entreiamto, era secular, Eassim como 08 novos costumes plebeus que surgiam entre os trabalhadores da indisiria doméstica, eles também questionav ond a monogamia, afeto mti- al" das necessidades do homem ideal, > “patriareado por diving” Em seus momentos mais radlieais, 08 filésofos question petioridade “natural” do homem e defenderam mais oportunidades €educacionais para as mulheres. Voltaire e Diderot question: sigualdade legal e Montesquieu defendeu que 0 “ca ‘nao era inato, mas sim 0 resuliado de uma educa fter feminino’ 40 ruim e de opor- tunidades limitadas. Ao sugerir a ideia de potencial humano, esses Pensadores abriram caminho para novas concepydes de cidadania € direitos politicos. Uns poucos defenderam igualdade civil para to- dos, homens ¢ mulheres, ¢ as instituigdes do casamento, da familia ou da divisio do trabalho por enero". Os filosofos estavam funcdamentalmente preocupados com a corrupgio de" como simplicidade, fragalida- de, domesticidade em ama atmosfera de frive bora nenhum questionasse seriamente tudes” feminini Porém sua critica, por sua natureza prdpria, estava restrita aos tos" das mutheres aristocraticas, @ tinico grapo que podia se dar 20 luxo de tal corrupgao®, Katherine Clinton, “Femme et Philosophe; Fn! ent Origins of Feminism’, cit, p. 291-95; Peter D. Jimack, “The paradlox of Sophie and Juli cit, p. 152, Jane Rendall, Th Origins of Modern Feminism: Women in Britain, Franc, and the ‘Unit States, 1789.18960 (Nova York, Macmillan, 1985), p. 4 Paraumaanalise mais favoravel da atitude dos ilésofos em relacdo is mulheres, ver Katherine Ginton, ‘Femme et Philosophe: Enlightenment Origins of Feminism, ct, eSyharia Tomaselli, “The Enlightenment Debate on Women’ Histery Workshop Journal, , 20, 1985, Yer Joan Landes, Women and the Public She inthe Age of Reveluton(Whacn, Cornell University Pres, 1988) para a extensio dewe argumento a ileologia republicans, 8 MULHER, ESTADO EREVOLUGAO Embora muitos historiadores concordem que a“Idade das Luzes" leisou as mulheres as escuras, na realidade as ideias dos filésofos ferun mais ou menos congruentes com a relacio das mulheres con 6 modo de producio predominante™. Os fildsofos eram incapazes He questionar profundamente os papéis das mulheres porque nio houve rompimento econémico de gra a balanca da pro- flugao e da reproducao. Apesar das mudancas impulsionadas pelo, fescimento da indiistria doméstica ao longo do século XVII, o lar He escala Ja-era a unidade de produgio primviria, e a maioria das mulheres: ho interior e nas cidades estava solidamente integrada 4 economia iulheres se dedicavam a uma variedade de oficios como, Familiar: As resultado da pened linda eram realizadas e1 al do cultivo, edi co do mercado no campo, mas essas tarefas ro da casa em meio ao trabalho tradicio- As vésperas da Revolugio Francesa, 85% nest, e, mesmo nas cidades, poucas mulheres nao trabalhavam com seus a lias; 0 wabalho feminino continuaya sendo 1 extensiio do trabalho dentro da familia”. As ideias dos fil6sofos, portanto, refletiam um mundo no qual o capitalismo ¢ o trabalho issalariado estavam ainda por destruir a divisio de wabalho denuo da popuilagio era campo- aridos ou Ja familia a0 englobar uma grande quantidade de mulheres no tra balho remunerado fora de casa, A contradicao entre producio ¢ re producio permanecia reservada ao futuro e, poriay preendente que os fildsofos nio se interessassem por sua resolugao, As expressOes limitadas de feminismo contidas na Revolucio Francesa demonstraram que as demandas pela emancipacao da mu ther nio poderiam ser realizadas enquanto o lar desempenhasse um > possirfam papel central na producto, Asmulheressimplesmente n »pedes econdmicas fora da familia, ja que as mulheres solteiras nio poderiam sobreviver somente com seus salarios*, Embora Condorcet e outros panflétarios reivindicassem direitos iguais As mulheres, estas Abby R ‘Claudia Koons Houghton Miffin, Hlizabeth Fox: Genovese, “Wor Women and the Age of Enlighennent (Bloomington, Indiana University Press, 1984), co capitulo de Jase Rendall, “Work and Organization”, p. 180, Jeinbaum, “Women in the Age of Light", em Renate Bridenthal ¢ ».), Becoming. Visible. Wemen in European, History (Boston, p.238, en and Work’, em Samia Spencer (ong), French M Gandice Proctor Womm, Equality and. the French Revelution. {Westport Connecticut, Greenwood, 1990), p. 70, 20 WENDY GOLDMAN segmento civil durante a Revolucio Francesa com 0 objetivo de avancar em um programa consequentemente fe: minista, Houve algumas vozes dissidentes ~ diversos jornais de mu- theres exigi iam mais direitos civis para as mulheres e participacdo limitada no proceso politico, ¢ Olympe de Gouges registrou sua famosa Declaracdo des Direits da. Muher # da Citada — 1S apesar de seu potencial como segmento civil, essas femninistas represe Os cahiers de 1789 continham alguns problemas especificamente femininos, mas estes eram raros ¢ nunca debatidos nem sequer seriamente discutidos” As mulheres na Revolucio Frances mente ativas como representantes de sua classe, em ver de seu sexo. Elas mar chara bes de mulheres ¢ ali no exército, 1 nao como feministas com um claro programa para os direitos das mulheres. A efervescéncia politica abrits novas possi- blidades para'a participagao das mutheres ¢, por um breve perfodo na primavera de 1792, mulheres promulgaram ativamente o concei to de cidadania feminina baseada em seu direito de portar armas" As mulheres R nda era podero- samente condicionado por seu papel na familia. Mulh ha tempos eram respor maridos, e sua participa classes trabalhadoras apoiaram tremendamente a ‘olucio, mas seu ativismo, como seu trabalho, cis por complementar o saldrio de seus do Nos protestos por pao era consequéncia direta de seu papel na aquisigao e provisio de alimentos para su familias. Nas palayras de Olwen Hutton; °O protesto pelo pao foi um Jane Abray, “Feminism in the French Revolution", American Historical Riviw i, 80, 1975, p. 47, 59; Ruth Graham, “Loaves and Liberty", em Renate Bridenthal ¢ Claudia Koons (orgo.), Becrming Visible cit, p, 298-42; Harriet Applewhite ¢ Dartine Levy, “Women, Democracy, and Revolution in Paris fem Spencer (org.), Fench Women and the ge of Enlightenment, cit, p. 64 * Hatriee Applewhite e Dartine Levy “Women, Radicalization, and the Fall of the French Mi rchy’, em Harriet Applewhite € Davtine Lewy (ongs.), Women and Paitin the Age ofthe Demecratc Revolution, et. p. 90; ver também nese mesrno livto Dominique Godineau, "Masculine an Feminine Political Practice During the French Revolution”, part 0 argamento de que as mulheres ten ganar scivigs ” Olwyn Hulton, "Women in Revhition, 1780-1796", Past and Prsen, n. 58, 1971 p. 94. Para uum arguinento similar sobre » papel das mulhetes nos protestos 0 MULHER, ESTADO ERENOLUGAO A linguagem dos direi smo levou a Feavaliagao dos limites politicos institucionais impostos as mulhe- inantes da era revolucionaria ~ masculinas mininas - ainda consideravam a maternidade republicana 0 ior servico que uma mulher poderia prestar 4 revolucio. Mary Wollstonecraft, em seu Vindication of the Rights of Woman ( Vindicagio dos Diveitos da Muther), considerado por muitos os primérdios do, pensamento feminista moderno, defendia a expansao de oportu o$ naturais e clo republicai es, mas as vozes dor idades as mulheres para que pudessem ser melhores esposas ¢ vies. Wollstonecraft ainda aderia A forte demarcacao de papéis por género ¢ uma estrita divisio do trabalho. Em geral, até mesmo fas escritoras feministas mais radicais foram incapazes de “imaginar um convincente cardter feminino liberto™, A ideia de maternida: de republicana abriu uma nova perspectiva de educagao, n fez adas fronteiras domést. pouco para libertar as mulheres das Ii ¢as. Tanto conservadores como republicanos enfatizavam a domes ticidade para mulheres, ¢ estas avancaram pouco em diregio a um dominio politico ¢ puiblico mais amplo™ Em tltima instincia, a Revolugio Francesa conquistou pouco para as mulheres em geral e menos ainda para as mulheres pobres. © governo fechou os clubes independentes de mulheres em 1793 ¢ ‘em seguida baniu a admissio de mulheres As assembieias populares. Diversas novas liberdades legais obtidas com a Revolucio, incluin: do a simplificacio do divorcio, di pansio do direito de propriedade para as mulheres, foram varridas pelo Codigo Civil de Napoleao, de 1804. Em nenhum momento a Revolugao emancipou as mulheres politieamente ou thes garantiu itos para filhos ilegitimos € ex- direitos civis, Ja em 1796, A medida que o pafs passava da fome A por comida na primeira metade do século XIX, ver Jane Rendall, The Origins of Modern Fsinisn, ci, ps 2003, Katharine Rogers, feminism in Bightenth Century England (Urbana, University of Ilinois Press, 1982), p. 183, 246, Jame Rendall, The Origins of M Roderick Phillips, “Women’s Eenancipacion, the Family, and Social Change in Eighteenth Century France’, Journal qf Socal Mistry, a. 12, 1974 Adrienne Rogers, "Women and the Lav, em Breach Women and the Age of Enlightenment it Mary Johnson, “Old Wine in New Botiles: Insitutional Change for Women of the People During the French Revolution”, em Carol Berkin ¢ n Femini nll, p68, 70. Glara Loveu: (orgs.), Wemen, Wer and Revolatin (Nova York/Londres, Holmes and Meier, 1980), 0 WENDY GOLDMAN mente da Revolugaio comeg ; ? A Revolucio Frances produzin poticos ganhos concretos para as mulheres, menos devido aos persistentes esforcos dos homens em excluélas do que por sua prépria falta de organizacao. Elas exam ais, mas nuit consttitam “uma forea automa”. Nas paavras A economia francesa de pequena escala, baseada na economia do- méstica, exigia que as mulheres da classe média ¢ as trabalhadoras coniribuissem [...] para suas familias, As mulheres ainda nijo eram uum grupo amplo ¢ independente na clase trabalhadora. Mulheres comuns nao respondiam a linguage que suas “palavras ou agdes” nao “faziam sentido algum", Porém, medida que 0 capitalismo comecou a transformar as relagdes domés- ticas, eas mulheres comecaram a ingressar na forga de trabalho, movi ntos da classe trabalhadora se viram forgados a lidar com 08 novos papéis das mulheres como assalariadas independentes. Lentamente do feminismo, uma nova visio da libertacio das 1 ulheres comegou a se esbogar: Socializar e comunalizar No inicio do século XIX, trabalhadores da Inglaterra e da Franga recorriam cada vex mais & pratica de autocas Muitos simplesmente nio tinham recursos para casat ta, Na Fr > livre © grande par te deles adiava o casamento e vivia ju 1a, muitos. trabe thadores, principalmente na indiistria metalirgica, se opunham a0 casamento por principio, Licencas eram caras, ¢ o anticlericalismo, desenfreado®. Na Inglaterra, a nao conformidade sexual ¢ reli também esiava amplamente difundida, Os primeiros centros indus- mento. E viveiros de hostilidade contra o clero e suas taxas de casi muitas cidades, 0 anticlericatismo tomou contornos radi «ais, até mesmo socialistas. Pensadores livres painistas*, feministas ¢ * Olven Hutton, “Women in Revolution, 1789-1796", ct, p. 102, Ruth Graham, *Lowves and Liber”, French Revolution”, cit. p. 58 2; Jane Abray, “Feminism in the Jane Rendall, The Origins of Mader Foniniom. it, p. 194 Em referénciaa politico liberal estadunidense ‘Thomas Paine. (N. ) ” MULHER, ESTADO EREYOLUGAO Jo do casamento, expres- ntensamente a instt adores ja praticavam hd variay décad socialistas debatia Mandlo 0 que muitos tral munidades alternativas proliferaram por (oda a Furopa e Estados Unidos na primeira metade do século XIX. Movimentos baseados nas ideias de Saint-Simon, Charles Fourier ¢ Robert Owen exerciam forte apelo nos trabalhadores € artesios que ji praticavam formas menos rigidas de casamento", Muitos ut6picos, ‘como seus predecessores milenaristas, defendiam ideias a respeito da igadas.a planos! Uunitio livre, mas pela primeira vez.essas ideias estav para a socializacio do lar ¢ emancipagio das mulheres. Na Fran Prosper Enfantin, uma figura carismatica e quase religiosa, comecou: x popularizar a obra do tedrico utdpico SaintSimon. Embora Saint- Simon nio tivese escrito quase nada sobre as mulheres, Enfantin fundou um grupo — rapidamente transformado em “uma religiao” ~ ade das mulheres. © proprio que focava com muita atencHo a igual Enfantin acreditava fortemente em papéis definidos por sexo: 0 homem representava a reflexio; a mulher, o sentimento. Mas ele valorizava a contribuigio emocional das mulheres e, dessa form articipacio plena na esfera piblica. No fim das conta, defendia sua Enfamtin expulsou as mulheres da lideranga ou “hierarq) grupo, saindo da Franca para o Egito em uma jornada mistica em upo surgiu uma fragio busca do messias feminino. Porém, de seu g dissidente de mulheres que publicaram, por um breve periodo, um jomal feminista que defendia o amor livre, a aboligio da ilegitimidade © a socializagao da criagao dos filhos. Diferentemente dos ut6picos 0s, eniretanto, cujas carreiras prosperaram nos anos nistas sobreviverem 1830 ¢ 1840, era quase impossivel para as fem financeiramente fora do casamento, A pobreza extrema levou muitas a reconsiderarem suas ideias anteriores sobre amor livre’ Jolon Gils, For Betis fon Wore, cit. . 199 John Gils, “Peasant, Plebeian, and Proletarian Marriagein Britain, 16001900" Cit, p. 150, escreve: “quando os owenistas experimentaram 0s alojamentos ‘oletivos © defenderam a liberdade de divércio, nio se baseavam em valores peas bem estabelecidas” de elite, sim em priicas "© Claire Moses, Fench Feminiom in the Ninetomndh Cantury (Albany, State University of New York Press, 1984), p. 41-88. Sobre os saintsimonianes, ver também Robert Carlisle, The Prffenet Grown: Saint Somonianism and the Doctrine of Hope (Bakimore, Johns Hopkins University Press, 1987) WENDYGOLDMAN Se © progr na para as mulheres de Enfantin provou ser em gr de medida imaturo, os planos detalhados de Charles Fourier para nnidades alternativas ou falanstérios tiyeram um pouco n sucesso, As ideias de Fourier atrairam defensores por toda a Europa € Estados Unidos, e mais de quarenta comunidades baseadas nas ideias de Fourier surgiram nos Estados Unidos entre 1840 e 1860”. A liverat ais de ionista americana proclamou as mulheres iguais nos, & maoria dos asso- acionistas ratificava os papéis tradicionais de genero ¢ trabalho. Mulheres eram “embelezantes antes”, Os associacionistas cc questionavam as relagdes ti . espiritualizantes e simpa © lar individual, porém ni \dicionais entre os sexos. Nos falansté- ros, os afazeres domésticos como cozinhar, lavar roupas € criar 0s filhos er socializados, mas ainda cram kealizados por mulheres, embora de for Aria. As mulheres eram “iguais”, mas ain- da nao como os homens. Os fourierisias supunham que a perso nalidade das mulheres naturalmente as inclinaria em direcdo 20 trabalho doméstico. Dessa forma, as desigualdades entre homens ¢ mulheres no conjunto da sociedade eram reproduzidas nos falans \érios: as mulheres reservavase 0 trabalho doméstico, conferiase pouco poder politico e pagava-se menos que aos homens, As consti- tuicdes de alguns falanstérios chegaram a estipular que as mulheres recebesem somente uma porcentagem fixa do salario masculino: em um caso, 0 maximo das mulheres era o minimo dos homens”, Na Gra-Bretanha, Robert Owen, te6rico e organizador utdpico, construiu um movimento de tabalhadores com 0 objetivo de criar negécios de proprieda le dos trabathadores, adminisirados por cles. Apés uma série de duras greves em 1884, Owen desver ativismo de classe ¢ segui. em diregio & or ithou-se do \cao de comunidades ut6picas, que seriam construfdas de acordo com seu préprio proje- to, As comunidades afin 1 arruinaram-se gracas a disputas, dificul ddades financeiras,€ as proprias opinides crescentemente antidemo- * Robert Lauer Jeanette Lauer, The Spirit and the Mls: Sex in Ulopien Commenities (Nova Jersey, Scarecrow, 1988), p. 37. " Carl Guarneri, The Uopion Alternative. Fouirism in Nineteenth Century America ‘hae, Comell University Press, 1991), p. 190-1, 205-6, 209, Guarnett fornece uum relato esclarecedor ¢ detalhado sobre o tratamento dado is mulheres MULHIER, ESTADO E REVOLUGAO do hist6rico sombrio das eriticas ¢ antiopersrias de Owen". Ape comunidades, as ideias do owenismo tiveram tremendo impacto nos homens ¢ mulheres trabalhadores por todo o pais e no exterior Entre 1825 e 1845, owenistas palestraram e escreveram extensi- vamente sobre a posiciio das mulheres, Os owenistas difundiam as ideias de casamento “moral’, de votos simples ¢ nao religiosos, « pora criticassem © poder patriarca a farnili do divércio facil € barato. as, eles rejeitavam relagdes de género quanto por sua natureza antisocial. Na nova sof ciedade de Owen, novos arranjos de -omplet coletivizados ¢ 0 trabalho doméstico, realizado de forma con € rotativa, Seus planos inclufam quartos separados para todos os adultos, casados ow solteiros, dormitories para criangas ¢ espagos comunitirios para refeigdes, socializagio ¢ atividades em grupo. bolcheviques adotariam critica & fami quase idénticos. Entretanto, os owenis cionistas, pouco fizeram para derrubar ou reforn divisdo do trabalho baseada em género. O trabalho do criacdo dos filhos deveriam ser atividades rotativas somente entre mulheres, € no compartilhadas por todos. ajeto de vida comunal © proje a tradi¢ion: msua ampla maioria, as mulheres owenistas tiveram i destino tio pobre quanto suas tas: transformar tarefas individuais em co- contrapartes associacion munitirias geralmente acarretava mais trabalho, e nao menos’ Depois de 1840, os owenistas comecaram a perceber que era impos sivel mudar a instituigio do casamento sem reconstruir o sistema de propriedade vigente. Em algum ins medida, esse reconhecimento tigado por protestos de mulheres que estavam ficando cada vex mais reticentes com a ideia de -asamento moral”. A posicio owenista sobre o casamento comecou a se fragmentar, resultando em virias opinides contrapostas, Um editor owenista advert que 0 “ca- ‘oferecia pouca protecio as mulheres. Sem restrigies legais, os homens estariam sempre tentadosa abandons-las. Feministas owenistas, principalmente entre as pobres, adoaram uma posi¢io me nos o sculinas acerca da sextaliclade jsta do que suas contraparte: "A proxima secio sobre 0 owenismo se baseia em grande parte na obra de Barbara Taylor, Eve and the New Jerusalem: Socialism and Feminism in the Nineteenth Century (Nova York, Pantheon, 1983). Ver tambéra John Gills, For Ber, for Worse, ct, p. 2248, Ibidem, p. 97-40, 489, 2479, WENDY GOLDMAN itrestrita, Sempre conscientes do custo de uma gravidez indesejada, elas reconheciam averdade de uma firmagio feita por um owenista segun: do o qual “um casamento moralnio 6 para a mulher uma emancipagio igual 4 do homem”, Essa observacio havia sido feita at das feministas ranters € saint-simonianas, ¢ seria realizada novamente por mulheres russas radicais no século XIX por mulheres soviéticas Nos anos 1920 € 1930, Nos anos 1840, porém, o debate ainda era a ph (es por criticos 1ente definido pelos homens a mediela que a Igreja hutava contra os Iibertirios sexuais owenistas, Os interesses das n ulheres nao eram bem representados por nenhuma das posicGes. A auséncia de uma vor fe- minina independente dentro do owenismo acabou por ajudara Igreja areafirmar sua visio tradicional e conservadora sobre 0 casamento” A ideia de independencia das mulheres = econdmica, social, sexual ~ ainda era relativ ente subdesenvolvida nos horizontes pico, apesar de sums afirmagées b do socialism w sieas sobre a igualdade. Porém, os ut6picos se diferenciavam elaramente de co- munitaristas religiosos e filésofos em sua énfase a coletividade ¢ ualdade. Os anos 1830 ¢ 1840 marearam 0 infcio de uma grande mudanca na forga de trabalho industrial, uma vez que as mulhe- Fes comegaram a entrar no mundo do trabalho assalariado fora do lar. As ideias do soci lismo ut6pico ton um mundo onde a famitia estava em transformacio as mulheres nhando uma nova independéncia econdmica. As lutas operdrias para aceitar o trabalho feminino deram um enor: movimentos em pro! da igualdade feminin visao socialista acerca impulso para assim como para uma ibertacio das mulheres. Desafiando a divisio sexual do trabalho. A reagio inicial dos trabalhadores A entrada das mulheres no mereado de wabatho na Inglaterra, assim como em outros paises, foi ativamente hostil. As mulheres comecaram a ingressar de alfaiataria na Inglater do trabalho das oficinas 6s trabalh a durante a Guerra Napolednica, desvian- nais antigas ¢ diminuindo o controle qu idores haviam conquistado sobre a contratacio, sal © organizagio do trabalho. Os homens comecaram rapidamente a se organizar para manter as mulheres fora dos oficios, argument do que mulheres t ddoras rebaixavam os salirios € tornavam * Tbidem, p. 207.16, MULE R, ESTADO E REVOLLGAO. possivel para um home! igreves importantes em 1827 ¢ 1830 pa 1s mulheres do trabalho, Empregadores usara fura-greves, € no final dos anos 1880 elas finalmente hi brado 0 controle masculino no ambito dos trabalhos indvistria de alfaiataria’ Na Franca, 08 alf cexcluir as mulheres. A medida que o Fr suia familia, Orga em certa medi viam que- nuais da n batalhas parecidas para amo da confecgao comecou & enfraquecer o poder dos oficios organizados, tanto os mestres alfaiates quanto 0s empregados se organizaram contra o trabalho por peca e 0 trabalho feminino, Os homens enxergavam o trabalho feminino como forte ‘ameaca a estabilidade e seguranca domésticas”®. Flora Trist (1808-1844), feminista e socialista, langou um apelo:em nome d mulheres trabalhadoras, defendendo sabiio igual ¢ dircito a ingres- sar nos oficios masculinos. Ela se deparou com hostilidade feroz de artesdos e trabalhadores qualificados que declarav: res estariam melhor em si O novo fendmeno do trabalho feminino fora de casa provocou ndo desespero ¢ confusio em todos 08 oficios, ja que virava que as mulhe- undo dos uabalhadores do avesso, Hor ase mulheres compe tiam ferozmente por trabalhos & medida que as mulheres substituiam ‘0s homens por sakirios mais baixos, As mulheres abandonav tarefas familiares tradicionais pelo trabalho assalariado, deixando frequentemente um marido nervoso e desempregado em c cuidar do bebé e mexer a sopa. A medida que os saliirios cai mesmo as mulheres com maridos empregados se encontrar trabalho. Os homens comegaram a se organizar contra as mulheres ¢ a levantar a demanda por um “salirio familiar’, Suas reacdes, futuramente denominadas “torysmo sexual ou “antifemi- nismo proletario”, consideravam o ingresso das mulheres na fora de trabalho ima “inversio da ordem da natureza’. E, embora muitas *Tbidem, p. 10217 Jane Rendall, The Origins of Movern Reminism cit, p.163, 168, 168. 1 Synthesis of Flora Tristan’ ‘em Marilyn Jacoby Boxer ¢ Jean Helen Quataert (orgs), Socialist’ Women, European Socialist feminism in the Ninetenth and Early Twentieth Century (Nova Joan Moon, “Feminism an ocala: The Ut Em referén conserradora. (N..) no Partido Tory antign on wizagio britiniea de tendéncia WENDY GOLDMAN mulheres retorquissem que ndo haviam tide outra escolha a nao ser outras defendiam a demanda por um sakirio familiar, de a perspectiva de combinar trabalho assa npo integral com trabalho doméstico”. Os sindicatos de artesios se lancaram a uma série de batalhas perdidas, na tentativa de voltar no tempo, ¢ demandas por salirio familiar podiam ser ouvidas atr vés da Europa até quase a Primeira Guerra Mundial ariado em primeiro desafio a divisio sexual do trabalho, porém, nao veio das feministas liberais, que estav em sua maioria desps com os problemas dos trabalhadtores, mas dos socialistas, cujos cons- ‘ituintes estavam lidando com avasta disjuncio provocada pelo traba- Iho feminino. Feministas ibe paclas com os direitos edueacio- nais, civis € politicos, e pela religiao e filantropia, fizeram pouco pa questionar 0 papel doméstico das mulheres, Até mesmo John Stuart Mill, em seu famoso A swjeigo das mulheres (1860)*, cocupadas dentro da “mals apropriada divisio do trabalho" os homens obteriam as receitas e as mulheres administrariam as despesas domésticas, Ele nunca Ievou em consideracio que da classe uabalhadora nao tinha outr grande mimero de mutheres ‘opcao a nao ser trabalhar”, istas liberais lo século XIX “se identificavam mais estritamente com as mulheres solteiras com educagiio forn Em geral, as fen al”, Blas buscavam estender “a divisao sexual do trabalho para a economia ca- Barbara Taylor, Bue and the New Jerusalem, cit, p. 101, 111-2, denomina ess resposa por parte dos trabalhadores de "oryumo sexual”. Werner Thonessen denomina de “antifeminismo prole rio" em. seu Emancipation of Women Rise and Decline of the Women's Mevement in German Secial Democracy, 186) (Londres, Phuto, 1978), p, 16, Trubalhadores desejavam aumentar seu salirio e diminuir © desemprego através da exchisio das mulheres da forca de trabalho e obringandoas a yoltar para seu papel deméstico tradiciona Eavas reivindicagdes dos tabalhadores foram ouvidas em todos os pases industializados do século XIX ¢ surgiram como resposta aos empregadares {que substiruiam cada vez maisos homens por mulheres pagando a elas salrios imuis baixos. © fendmeno foi reconhecido por Engel em “The Condition of the Working Clast in England Wonks, v4 Inglaterra, ‘em Karl Marx ¢ Friediich Engels, Colectal Nova York, 1975) fed. bras.: A sitwado da dase trballadona na Paulo, Boitempo, 2008}. Os trabalhadores acredltavam que ao cexcluirem as mulheres poderiam manter seus salérios suficlemtemente altos para sustentarem suas familias Sio Paulo, Almedina, 2005, (N. E) Jane Rendall, The Origins of Modem Roninism, cit. p. 287. MULFER, ESTADOE REVOLUGAO » enfatizar as inclinagdes domésticas ¢ expandir sua parte pitalista “ do pelas mulheres”. no setor de servigos domin: Te cados a confrontar os problemas c local de trabalho e em casa, No inicio, con .cassaram por anos na tentativa de alcangar uma solugio. Até icos e organizadores socialistas, por outro lado, se viram for- iacios pelo trabalho feminino no pletamente desnortca- dos, fi mesmo Marx € Engels, que oferec sobre o poder transformador do capitalisn travam privados de andlise ou estratégia, Seu periodo de confusio, nente perceberam que im os insights mais penetrantes no entanto, foi relativamente breve. Rapida 4 ‘© exiensivo emprego de forca de trabalho feminina era inevitivel c irreversivel, ¢ assim se debrucaram sobre 0 primeiro desafio te6- rico sério a divisio de trabalho por género. Argumentando cont jo, seu trabalho teve {égias bascadas no antifeminismo prolet nto operirio europeu e, afinal, ofere: mulheres ea familia. Embora muitas de suas ideias fossem similares Aquelas dos socialistas ut6picos, suas andlises das origens ¢ dese volvimento da opressio as mulheres eram completamente novas ¢ sem precedentes. O marxismo e a mulher a questio da muther © primeiro trabalho marxista a abord: Giretamente foi A sitwacdo da classe trabathadora na Inglaterra, de Engels, escrito em 1844, Apesar de o livro tratar de forma profunda 1s efei he uma andilise teérica genuina, e permaneceu essencialmente uma poderosa condenacio Gan praca industrais. Um dos prindpais temas de Engels foi a introdugio de novo maquindrio a crescente substituicdo de homens trabalhadores por mulheres ¢ criangas, por uma fracio des saldrios dos ho “inevitivel”, preocupouse profundamente sobre seus efeitos nas am € pasavam fome em casa 14s mies pingavam leite sobre as 1s do capitalism na fami ins, Embora Engels entendesse tal proceso como es ¢ ctiancas. Os bebés ado mulher enquanto os seios inchados de maquinas. Confinadas a posicdes antinaturais durante todo o dia de trabalho, as mulheres contraiam uma série de grotescas deformacoes, ocupacionais, Mulheres grividas, multadas por sentar para » Thidem, p. 183-4, 186. 0 WENDY GOLDMAN descansar, desenvolviam varizes horriveis € muitas vezes rabalhavam, ito do parto” por medo de perder sew saldrio ¢ ser substituidas, Engels observou que “nao ¢ inca nea nasea na pr6pria fabrica, entre as méquinas™, Em sua rigorosa exposi¢ao da vida das mulheres trabalhadoras, Engels intuitivamente agarrou a contradi¢io entre produgio capitalista © estabilidade familiar. Ele foi gil ao perceber 0 m que ac bandono total dos filhos" quando ambos os pais trabalhavam de doze a treze horas por dia no moinho. *O emprego das mulheres’, observou, ‘destréi imediatamente a familia’, Resumindo o efeito da inchistria sobre a familia, Engels cita as longas horas que as mulheres passavam no trabalho, a negligéncia com o trabalho doméstico com os filhos,a desmoralizacio, te indiferen em relagioa incapacidade dos homens para encontrar emprego,a acipacio dos filhos” e a inversio dos papéis de gén 0 capitalismo, em sua visio, estava destruindo a familia"! Engels enxergava esse processo como parte inevitivel do dese! volvimento econdmico, mas foi incapaz de ir além de uma furiosa condenagio da exploracio do trabalho feminino. Tateando em vida fi busca de uma anélise, ele investiu em duas perspectivas opostas nilia. De um lado, descreveu a inversi acerca da dissolucao da fa dos papéis na fa ido como dependente, esposa como provedora ~ com grande indignagdo moral, Seu raciocinio ainda refletia "s is do século XIX" era bem simi- lar ao antifeminismo proletario dos proprios trabalhadores™, Por outro lado, questionou sua propria conde papéis. Ele afirmou hesitante: agio dessa inversio de a supremacia da mulher sobre homem, inevitavelmente provocada pelo sistema fabril, é in na, a do homem sobre a mulher, tal como existia antes, tamb mo © Friedrich Engels, A siqagio da clase tabaihadora na Inglaterra, cit. © Idem, Lise Vogel, Mersisn ad the Oppresion of Women (Nova Jersey, 1983), p. 45. As suposigdes de Engels formuladas no culo XIX sobre os papéis de género estio em A situaea da clase trabalhadana ne Inglatera, Diseutindo substitaico do trabalho masculino pelo feminino, ele escreveu: “essa situagac {que toihe o carter vril do homem ea feminilidade da mulher, sem ofereces ao homem ua verdadeita feminilidade e& mulher uma verdade ‘esa sitagio [.] degs a virilidade da de modo infamante os dois exos” (p. 184). 50 MULHTER ESTADO E REVOLUGAO ma divisio do trabalho “natu- as comegava a quer era. De ral” basead se modo, Engels aceitava na mulher como dona de casa, tionar anto a nawurer © Futuro dessa divisi No perfodo de um ano, Marx ¢ Engels deram um g em suas concepedes sobre as mulheres € a divisio do trabalho. Formulando uma teoria geral do desenvolvimento histérico em A ideologia alena (1845-1846), comecaram a questionar a prépria ideia de uma divisio do trabalho “natural”. Nessa obra, colocaram ra ver a producio da vida material ¢ a “relagao entre pela prim homens e mulheres, pais e fills, a familia” como premissas basi- as da existéncia humana, Ao delinear sua concepcao materialista da historia, discutir re of estigios basicos da pro- ducio, a propriedade ea divisio sexual do trabalho, ou a chamada divisdo “natural”. Eles sugeriram que a famflia era mais do que um conjunto de relagées naturais ou bioldgicas que g} nos sociais correspondentes ao modo de producio. Insisti 1 familia deveria ser tratada de forma empirica em todos os esti- gios da histéria, e nto como um conceito abstrato. Escreveram: a relagio ¢ que A. produgio da vida, tanto da propria, no trabalho, quanto da alheia, na procriagio, aparece desde ja como uma relagio dupla de um lado, como relacio natural, de outro, como relagio social. Suas ideias sobre a familia como uma organizacao social mutivel correspondente a um dado modo de producao foram um enorme avancosobre nogbes vigentes da familia como uma entidade nau Porém, sua dupla concepeio da familia ~ como um arranjo de rela contradicio em A ideologia alema pazes de resolver. A conirad ra formula ces sociais e naturais ~ criou u que Marx ¢ Engels ainda eram in se expressava mais claramente em seu esforco pal explicacao teética e hist6rica para a opressio as mulheres. Segundo Marx € Engels, a divisio social do trabalho na uibo era essencial- nte “uma extensio da divisio natural do tabalho existente Nesse perfodo tribal inicial, prevalecia uma divisio natural ou biolégica do trabalho, baseada nas diferencas biol6gicas entre * Wiledtich Engels, A situaglo da classe wabathadora na Inglaterra ct, ps 184 Karl Mars e Friedrich Engels, “The German tde ¥.5, p41 Led. bras: A idanygiaalemd, Sio Paulo, Boitempo, 2007, p. 4] logy", em Collated Works, el 1 WENDY GOLDMAN Segundo essa formulacio inicial, a opressio as mulheres surgiu. da “escravidio latente na familia” que gradualme yeu com “oa e se desenvol aumento da populacio, o aumento das necessidades¢ @ extensio das relagdes sexuais”. A primeira forma de proprie dde'privada, nha ous origem na fami rien escravos dos homens. Explicavam: “A eseravidao na familia, ainda latente € nistica, é a primeira propriedade, que aqui, diga-se de pas Sagem, corresponde ja & defini¢ao dos economistas moderos, se~ Bund a qual a propriedade € 0 poder de dispor da forca de trabalho, alheia’. A divisio “natural” do trabalho na familia, combinada com separacio da sociedace em unidades familiares disti lia: mulheres ¢ criangas eram tas © Opos- tas, necessariamente implicava distribuigdo desigual do trabalho ¢ de seus produtos™. Dessa forma, Marx e Engels argumentava 6 @ opressdo as mulheres teria sua origem na divisio natural ou sexual do trabalho dentro da familia. As mulheres foram a primeira forma de propriedade privada: elas pertenciam aos homens. A opressio as lheres estava ancorada na maternidade” Porém, Marx © En) Is néo estayam completamente satisfeitos com essa explicacao biolégica da opressio as mulheres, uma ver que entrava em contradi¢ao com sua ideia de que as relacdes ela familia Possuufam contetido social assim como natural e eram determinads, em tiltima instancia, pelas forcas produtivas existentes”. Se a opres. sao as mulheres precedia qualquer forma de producio, tendo como origem diferencas biolégicas imutaveis, u determinante crucial das relacées e dos papéis de género transcendia as forcas produtivas A confusio teérica de Mi iden x ¢ Engels nessa que dida, de sua ignorancia acerca da familia na sociedade ti 1. Ao mesmo tempo que reconheciam a existéncia de historia his mana anterior ao desenvolvimento da propriedade privada, foram incapazes de conceitualizar uma forma de fan a que se diferencias- Fiiedrich Engels ¢ Karl Marx, A ideo ale A, cits, p. 90, 967, * Claude Meillasoux oferece um argumento mais sofisticads com uma Perspectiva similar em Maidens, Meal, and Money: Capitalism and the Demeste Community (Cambridge, Cannbridge University Press, 1981), p. 488, Meillasonne iugument que ax mizes da opremsio. As mulhcres estdo nas necessidades demogriticas dos bandos de caga e colet " Friedrich Engels e Karl Marx, A ideologia elema, ci. MULHER, ESTADO EREVOLUCAO se da unidade de casal dom nada pelo homem. Argumentayam que ia patriarcal acompanharam as pri: |. opressio as mulheres € a f formas de propriedade comunal", Dessa forma, a opressio. Iheres pelos homens existiu em todos os estigios, inchisive na sociedade tribal, antedatando até mesmo o desenvolvimento da pro- priedade privada. A biologia era a tinica explicagao concebivel. Essa contradi¢io de Marx e Engels entre uma perspectiva social avangada 1 € sua explicacao estritamemte biologica para.a opres » foi resolvida por Engels até quarenta tarde, quando novas descobertas antropol6gicas Ihe permit afirmar que casamento em grupo € matrilinearidade caracterizavan muitas sociedades baseacas na propriedade comunal™ Embora Marx € Engels ainda estivessem bloqueados pelo “natu cia divisio do trabalho no passe ral” versus a “explicacao social p: do”, perceberam rapidamente as ramificagSes da nova di talista do trabalho para o futuro. Em A ideologia alemé, abordaram a sito capi questio do trabalho doméstico, argumentando que uma economia doméstica comunal era um pré-requisito a libertagdo das mulheres sem nesses termos, pareciam indicar a transfe- Embora nunca o defin © trabalho de Engels sobre as origens do patiareado fol objeto de grande debate entre feministas, antropélogos.€ historiadores contempordacos. Ver por exemplo, Eleanor Leacock, “Intreduction*, em Friedrich Engels, ‘he Origin of the family, Private Pmperty, ard the State, ci, p. 7-7; janet Sayers, Mary Feans ¢ Nanneke Redelift (orgy) led: New Feminist Eoays (Londres, Tavistock, 1987), Para eriticas do marxismo a partir de uma perspectiva ), Capitalist Patriarchy and the Case for feminista, ver Zillah’ Eisenstein (01 Socialist Feminism (Nova York, Monthly Review, 1979); Heidi Hartmann, “The Unhappy Marriage of Marxism Union” ,¢ Carol Ehrlich, “The Unhappy Marriage of Marxism andl Feminism: Can I Be Saved?*, em Lydin Sargent (org.), Women and Revolution (Boston, South End, 1981); Alison Jaggar, Faminit Polis and Human Natuw (Sussex, Harvester, 188); Baiya Weinbaum, The Curious Courtship of Women: Liberation ‘and Socialiom (Beston, South End, 1978); Anja Meulentelt, Joyce Outshoom, Selma Sevenhupen © Petra DeVries (orgs), A Gmatioe Tension: Key Iesuee of Soait Foniniom (Boson, South End, 1984); Annette Kuhn e Ann Marie Wolpe, Feminism and Materialisn: Wome and Modes of Praduction (Londres, Routledge & Kegan Paul, 1978); Sonia Kruks, Rayna Rapp e Marilyn Young, (orgs. Promissory Notes: Women inthe Transition to Socialism (Nova York, Monthly Review, 1989); Alena Heitlinger, "Marxism, Fensinism, and Sexual Equality ‘em Towa Yedlin (org), Women tn Eastern rope and the Soviet Unten (Novi York, raeger, 1980) 1d Feminism: Toward. a More Progressive WENDY GOLDMAN venice todo wabatho doméstico dolar individual para aesfera pb blica. Descartando a conde : i io geral de Engels acerca do trabalho feminino, defenderam que o capitalismo era o primeiro sistema a iar a possibilidade de transferir 0 trabalho doméstico da esfera privada para a publica”, Alem do mais, eles afirmavam que a substituigio da familia indi vidual pela econor anal seria acon “superacio” da prépria familia. Essa abor da familia contrastava fortemente com as a panhada pela aboli¢ao ou. lagem positiva dla aboligao. irmagbes reprobatérias de Engels sobre a desintegracdoda familia en A situaedo da classe rabellsa dora na Inglaterra, Em A ideologia alema, Marx ¢ Engels argumentaram que a nova fu ia proletéria era um prototipo de futuras relacdes sociais. Ao contrario da fam baseada na propriedade, a por lacos de ge Essa nocio idealizada da familia proletdtia contrast familia da classe trabalhado: ina afeicao", 1 fortemente com as descricées anteriores de Engels. Em A ideologia alema, Mare € Engels abandonaram os esteredtipos convencionais de uma vida familiar apropriada em favor de un individuos nao mot 2 visio romantica da uniio de ada por consideragbes de propriedade. Essa idcia permaneceu essencialmente inalterada ao longo dos trab thos posteriores de Marx e Engels. Apareceu em Principios bdsicos do comunisma (1847), Eshoco de uma confisiio de jé comunista (1847), Manijesto Comunista (1848) © A origem da familia, da pop vada ¢ do Estado (1884). Marx ¢ Engels contrastaram repetidamente 98 casamentos sem amor da burguesia proprietiria com as unides afetivas do proletar hae ee dade pri ido despossuido. Em sua opinido, a propriedade era.o principal obsticulo para relagdes bascadas no amor, igualdade € respeito miituo. Fles nunea abordaram as formas espeeifieas de opressio As mulheres na fan ia da classe traba distingao r lia com propriedade ¢ na fami Ihadora, tampouca avancaram além de u fu dimentar entre relacdes na sem propriedade, embora > no futuro! outras obras tedricas marxistas voltariam a esta que ® Friedrich En Ise Karl Marx, A ideo alomd, idem, p. 181.2, As feminisias medlernas ¢ os historiadores da mnlher sio bastante cxticus com relagio i nogio idealizada de Marx ¢ Engels da familia protetiria. Vowel, por ‘exemplo, escreve que a visio de Marx e Enges sobre o larda classe ttabaths ‘mite stm importincia como unidade sccial para & reprodugio, ignora a base ‘do proprietiria ainda que material da supremact masculina e ‘subestina, MULITER ESTADO E REVOLUGAO de A ideologia alema, Marx itico de seu pensamento em Apoiando-se nas formulagdes te6ric Engels resumiram 0 aspecto program Principios bisicos do comunismo ¢ no Manifesto Comunista, A emancipa- tio das mulheres dependia da abolicio da propriedade privadae da dio de uma economia doméstica comunal. Sob 0 socialismo, as n baseadas em afeto gen m “um assunto puramente privado”, propriedade. As relagdes ser Interessando “somente as pessoas nelas envolvidas™. Autoridades seculares € religiosas nao teriam “espaco para interferir”. Esse com promisso com as liberdades pessoal e sexual do individuo constituin tum tema libertario poderoso na ideologia socialista do século XIX. Fortemente presente no trabalho de August Bebel, também se tor- hharia um principio fundamental das primeiras idcias bolcheviques. Assim, ja em 1850 Marx e Engels haviam formulado muitas das idleias que moldarian a visio bolchevique. Ao contrario dos pri wam sua visio do futuro em um fos tedricos ut6picos, eles asse estuido dos modos de producio e reproducio no passado. Ao reco- ‘a familia como um constructo social, e nio simplesmente hatural, comegaram a questionar a divisao do traballio baseada no nero. Reconheceram nio somente a inevitabilidade do traba- iho feminino, como seu papel futuro na criagio de uma nova, ¢ pizacio familiar 1s opressiva, or Porém, apesar desses profundos insights, 0 movi europeu tardou em aceitar o trabalho feminino. Na Alemanha, a Associagito Geral dos Trabalhadores, fundada por Lassalle em 1863, tratou de excluiir as mulheres da forca de trabalho com o argumen: (ca piorava a condigao material da classe operie fom grande medida a variedade de fatores ideolégiccs © psicol6gices que provém uma base persistente para a supremacia masculina na fasnfia da clase trabalhadora’, p. 84-5, Os teoricos marxistas subsequentes, como Clara Zetkin, Alexandra Kollontai ¢ Elena Osipoyna Kabo, entre outros, foram muito além ‘dessas primeiras formulagies de Marx. e Engels. Ver também Alfred Meyers, ily Braun (Bloomington, Indiana University Press, a Kuliscofl em “The Marxist Boxer e Jean Helen Quataert The Feminism and Socialism 0 1985), Claire LaVigna xobre as ideias de An Ambivalence Toward Women", em Marilyn Jaco! (orgs), Socialist Women (Nova York, Elsevier, 1978) nmunist", ¢ Karl Marx e Friedrich Engels, Paul, Friedrich Engels, Principles of Co “Manifesto of the Communist Party” (ed. bras: Manyesto Comuntsa, S30 Boitempo, 1998], em Called Works, cit. v. 6, p. 354, 50) WENDY GOLDMAN las de Marx ¢ Engels. Na Inglaterra, o Secretariado do Ck de Sindicatos do Comércio foi o ngresso der um, rio familiar que permitisse o retomno das mulheres a suas ¢ quais pertenciam. Na Franca, 0 movimento dos trabalhadores foi Particularmente hostil as causas das mulheres; socialistas franceses apoiaram leis que limitavam o direito das mulheres ao trabalho. O Partido Operdcio Francés (POF), fundado em 1879, foi o prime ro @ romper com a t ninismo proletario € exigit completa igualdade dos sexos nas vidas pablica e privaca. Porém, 0 Proprio POF estava profundamente dividido e fez pouces exforcos para organizar as mulheres apesar de sua cresc ¢a de trabalho industrial. Na Itilia, o Partido Socialista, fundado em. 1892, esquivouse das questdes das mulheres por medo de afastar icionado ao defer Wigao do antife (¢ presenca na for ‘0 sindical conscrvador, E. mesmo 0 1 Congresso da Internacional rejeitou a inevitabilidade do wabalho feminino, ape- sar da posigio de Marx e Engels no Manifesto Comunista e outros tra balhos!. A batalha sobre o trabalho feminino foi longa e d necessario quase outro meio século de lutas ra: foi antes que 0 movimento dos trabalhadores aceitasse as implicacbes estratégicas do papel das mulheres na forca de trabalho assalariada, O famoso trabalho de August Bebel, Women andSocialism [Mulheres. ¢ socialismo},, publicado prime mente em 1879, foi um marco im- Portante no distanciamento do antifen uma estratégia mais unificado © livro rapidamente se tornot dos trabalhadores alemaes. Foi nismo proletario em dire a dentro do movimento ope a obra mais popular nas bibliotecas cluzido para varias linguas e relan- ado em mais de cinquenta edigées somente na Alemanha, Tornouse base para posteriores esforcos organizativos social-democr mulheres teve um enorme impactoem muitas ds futuras ditigentes do movimento socialist internacional. Cara Zetkin, uma dirigente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), comentou: do que um livo, cra um acontecimento ~ um grande feito "Sobre as respostas do movimento operitio europeu ao trabalho ferninino, ver Mariiyn Jacoby Boxer, “Socialism Faces Feminism: The Failure of Smthexis in France, 9871914", Claire LaVigna, cm Marilyn Jacoby Boxer e Jean Helen Quataert (orgs), Socialist Wim, ct Barbara Taylor, Eve end the New ferwalen, cit, p. 274; Werner Thonessen, The Emancipation of Wome The Marxist Ambivalence Toward Women ie p13, 202, Philip Foner (org.), Clara Znthin: Slectod Writings (Nova York, International, 1984), p. 79, daqui em diante citado como Zetkin, Jane Sughter « Robert MULIIER, ESTADO E REVOLUGAO ia das mulheres, desde a sociedade erial sobre o drama grego, p, Idade Médii rio do trabalho poste- Olivo abordava toda a hist iva até 0 presente, incluindo m: pri esposas atenienses ¢ s€culo XVIII e sociedade industrial. Ao con force Engels, A origem da familia, da propriedade privada e do Estada, Bebel oferecia pouca anilise teérica. Sua critica era essencialmente moral, centrada nos males € na hipocrisia da sociedade burguess Bebel n se distanciou de Marx ¢ Engels em seu interesse pela Witbria da pesuatidace. Sas discusses sobre a naturezaantstextal 10, as concepcoes da Igreja sobre as mulheres € 0 culto ee i ine \tecipavam dis be do cristian 4 Virgem Maria eram extraordinariamente novas ¢ ‘cusses feministas de um século adiante™ Bebel exaliava a sexualidade ¢ escreveu fr 1is existentes em todo adulto sadio”. “Impulso sexual “< : amente a subjugagio das mulheres poderosos, Enxergava mais cla Ss iuravés das lentes da sexualidade, “Nada pode provar a posica&o de ther de uma forma mais enfitica ¢ revoltante”, es pendente da et ‘eve, “do que essas concepcdes imensamente distintas em relacio 7 satisfagdo do mesmo impuio natural’, Como Ma x € Engels, ele postulava uma unido livre fundada no amor em lugar das “relagdes forcadas” criadas pelo capa”, Surpreendentemente, 0 livro dedicou miseras dez paginas ao tema mulheres ¢ 0 socialismo. Aqui, como Marx ¢ Engels, as mulheres. O Bebel prognosticou 1 nova liberdade de unio par socialismo, afirmava, “ird somente reestabelecer em um nivel superior de civilizacao [...] o que geralmente prevaleceu antes da propriedade {Comecteu. Greenwoc 181, p, que oli deBetel miso aa do SrD em rela ts mulheres ¢ Retard Si x shew 860-1930 (Princeton, Princeton in Ras: enim, Nh, Belem, 18501930 ( Fates Pres 107), p. 2M, chamou otro de Bebe de Bia extol i Ciencias Sociales, 1986). ‘nujery el socaismo, La Habar Thidem, p. 76, 100, 104, 174 WENDY GOLDMAN ide' s de Marx ¢ Engels. Na Inglaterra, o Secreta de Sindicatos do Comércio foi ovacionado ao defender um sald. rio familiar que permitisse 0 retorno das mulheres a suas casas, as quais pertenciam. Na Franga, 0 movimento dos trabalhadores foi patticularmente hostil as.causas das mulheres; socialist 1.0 direito das mulheres Partido Operario Francés (POF), fund ado do Congresso tas franceses 10 trabalho, O lado em 1879, foi o prime To @ romper com a tradi¢sio do antifeminis completa igualdade dos sexos nas vidas priblica e privada, Pt proprio POF estava profundai 0 proletirio © exigi ente dividido € fez poucos esforeos para organizar as mulheres apesar de sua crescente presenca na fo ‘sade wabalho industrial, Na Italia, 0 Partido Socialist 1892, esquivou-te das questdes das um movimento sindical conservador ; fundado en heres por medo de afasta E-mesmo 0 I-Congresso da Internacional rejeitou a inevitabilidade do trabalho feminino, ape o de Marx e Engels No Manifesto Comunistae outros tr \ batalha sobre o trabalho feminine foi longa ¢ dura: foi hecessirio quase outro meio século de hutas dos traball antes que © movimento adores accitasse ax implicagdes estratégicas do papel mulheres na forca de trabalho assa © famoso trabalho de August Bebe € socialismo}, publicado prime’ port Women and Socialism [Mulheres ramente em 1879, foi um marco im- iento do antifeminismo proletirio em direcio nat estratégia mais unificadora dentro do movin © livro rapidamente se tomou dos trabahadores alen mle no distanc nto opera s bibliote ies. Foi traducido para viérias Knguas e rel ado em mais de cinquenta edicdes somente na Alemanha. ‘4 base para posteriores esforcos organizatives socialdlemocratas entre ulheres € teve um enorme mpacto em muitas das fut do movimento socialista internacional, Clara Partido Social Democrata da @ obra mais popular n Zetkin, uma dirigente do (SPD), comentou: imento~ um grande feito" Sobre as respostis do movimento operitio europeu ao trabalho feminino, ver Macily Jacoby Boxer, Socialism Faces Feminism: The Faire of Synthesis in France, 1987-1914", e Claire LaVigra, “The Marxist Ambivalence Toward Wi ‘em Marilyn Jacoby Boxer ¢ Jean Helen Quataert (ongs.), Socal Women, ¢ Barbara Taylor, Be and the Naw Jessen, cit, p. 274; Werner Thonewen, The Enancipaton of Women. cit. p. V8. 20-2 Philip Foner (org), Clare Zekin: Selected Writings (Nova York, International, 1984), p. 79, daqui em diante citado como Zahn, Jane Slaughter ¢ Robert MULHER, ESTADO E REVOLUGAO moral, centr pen Bebe tmbém ae ditanciow de Marne Engels em neu inerete pela histéria da sexnalidade. Suas discussdes sobre a natureza antissexual do cristianismo, as concepcdes da Igreja sobre as mulheres ¢ 0 culto i Virgem Maria eram extraordinariamente novas ¢ antecipavam dis- nos males © na hipocrisia da sociedade burguesa ‘cusses feministas de um século adiante ale € escreveu frar 1s em todo adulto sadi amente sobre “os Bebel exaluava a sexualic Tmpulso sexual’, ae Nahas nente a subjugacao das mulheres poderosos. Enxergava mais cla através das lentes da sexualidade, "Nada pode provar a posigio de ma mais enfitica € revoltante’, ex nte da mulher de uma f a aes t lugar das “relagdes postulava uma unio livre fundada no amor ¢ forgadas” eriadas pelo capital - Surpreendentemente, o livro dedicou miseras dez pagin: de seu titulo: as mulheres ¢ 0 socialismo, Aqui, como Marx e Engels, 1 nova liberdade de unido paraas mulheres. 0 ‘rd somente reestabelecer em um nivel superior Bebel prognosticou socialismo, afiemava, de civilizacao [...] 0 que geralmente prevaleceu antes da propriedade mem sua introdugdo a0 Eumpean Women on the Lf woot, 1981),p.5, que olivro de Bebel mui a atte do oat The Women's Liberation Movement Cte Pes 178). p29, chamou oro de Bebel de “biba extofca “ August Bebel, Women and Socialiom (Nowa York, 1910), p- 76,8 wnt 10), misery elsocialismo, La Habana, Ciencias Sociales, 1986] Thiddem, p76, 109, 104, 174 WENDY GOLDMAN privada”. Ao manter sua énfase na sexualid Bebel possuiam forte aspecto libertiio, tas outros, ¢ ne ide, 08 prognésticos dle “Ninguém deve prestar con- hum terceiro tem o direito de interferir”, escreve ‘0 que eu como € bebo, cc ticular, e tambén uma pessoa do sexo oposto Em 1884, logo apés a morte de Marx, Engels publicou A origem da famitia, da propriedade privada e do Estado, um estude acerca das origens da opressi familia. O livro exerceu gr o durmo € me visto € meu assunto par- n € meu assunto privado minha relacao sexual com. angente is mulheres ¢ do desenvolvimento da le impacto nos intelectuais socialistas, inclusive em Bebel, que rapidamente incorporow os avancos tedricos de Engels em edigées posteriores de Mulheres ¢ 0 socalismo. Engels baseou A origem nos Caderias Btnoldgicos, de Marx, compilados entre 1880-1881. As anotacdes de Marx abrangiam um estudo pioneiro so- brea organizacdo familiar entre indios americanos, escrito por Lewis Henry Morgan em 1877. Nas palavras de Engels, os noyos dados pos- sibilitaram ir além ‘dos cinco livros de Moisés” para desenvolver a teoria da evolugdo da familia” Em A origen.... Engels reconheceu diretamente a ccntralidade da reproducio para o processo histérico. A ong periodo especifico, afirmava, foi dete divisdo do trabalho, mas também nizacio social de cada nada no somente pela pela forma da familia, Comecou sua andlise da farnilia com uma discussao sobre relacdes tribais, a mando que > no qual a “liberdade sexual irrestrita Prevaleceu dentro da tribo". Com 0 tempo, o casamento de grupos foi gradualmente formado por novas linhas geracion e nio havia mais casais de pais ¢ filhos. © casamento de grupo foi substitaida Jentamente pela nova organizagdo familiar A medida que a relacio sexual entre inmaos ¢ irmas (filhos da mesma mie) se tornow tabu, Engels argumentou que esse sistema, conhecido como gens, existi no coracao dos arra oadven jOs sociais da maioria dos povos barbaros até da fo inilia consistia em um estreitamento progressivo do circulo que or Sinalmente abragava toda a tribo. Por fim, somente 0 eaxal simples permancceu! 0 das civilizacdes grega e romana. A histéria rece Friedrich Engels, The Origin of he Ramis, Pioate Property and the Stat, it p 7 © Mbidem, p. 71-2, 94112 MULHER, ESTADO E REVOLUGAO Porém, mesmo o sistema de casais ainda ¢ munal ¢ na descendéncia através da linhagem feminina. Engels argu tia.a supremacia da mu- Ther na cam, 20 paso ue o exchasvo reconhecimento da mae (dada Pepcti easel aiace tease nmar praia are respeitada, As mulher ae ee irmis, Se um homem desagradasse una mulher, ela o jogaa para fora dos dominios comunas, De acordo com Engds,o lar comuna for “o material fandante da supremacia da mulher que predeminava em tempos pri Engels nunca expeci e forma mais flexivel, Ele sugeri samento de grupo para ocasal unido de for flexivel. Ele suge ravi > doca ou claramente as razies para a transicio So aumento da densdade po limo eo lar communal ainda prevaleciam apesar da crescente aplicagio do tabu do incesto ¢ do estreita posicio das mu- De acordo com Engels, a mudanga eritica na posic ticagiio dos animais e do Iheres ocorreu como resultado da dom , desenvolvimento da agricultura. Uma vez que o trabalho humat comegow a produzir excedente sobre os custos de sua manutencio, a escravidio surgiu. Os homens, que sempre dominaram os instru- nentos de producao, substituiram seus arcos € flechas por gado € escravos. Porém, um homem ainda era incapaz de transferir pro- propriedade voltava para Jeu Ina ¢ inn ou para os tlie de Sus Innis, O dese pole Kaion x: dalocom parece gosce-pul-A percitede om picnida pela imporcto da Adeldade das mulheres A mionogamla Theres substitu afamflia de cass lexiveis. O home ee ramen © bide, p. 1 Wide, p. 117 oa WENDY GOLDMAN “A abolicio dos direitos maternos”, E os maternos”, Engels dechrou, “foi a derrota histrica mundial do sexo feminind®, vies Arremetendose contra hipocrisia burguesa que permeava am pumia pauiarcal, Kngels negou com desdém que se tratava “do A opressio as mulheres est eet \ ineada na destruigio do lar comunal, Uma vez que a administracio do lar perdeu seu cariter piblico ¢ se tornou um “servico privado”, “a esposa se tornou a servente princi pal, excluida de qualquer participacio na producio social": possibilidade 1 do direito materno, a0 ulheres na produgio social, Porém, real de libertacdo das mulheres, desde a rut { os alta ent o papel social a mulher na esfera privada de sua fai i nso seri aida, eel Ingresase mt fog de bal al poderia “dar conta de suas responsebildaies falar" Hance sob 0 capitalismo, O capitali ass are italismo criava as condicdes prévias para a lie bertago das mulheres do es dar independéncia ceeded asa mente 0 socialismo poderia criar u niliar que acreditava que essa contradicao e: 7 liclo entre a antiga organ re pa (0 distinta a depender separacao seria “umn beneficio para ambos os eiros assim como para a sociedade”™ Ibidem, p. 118-21 Thidem, p, 122, 128, 137, Ibidem, p. 1378, Thidem, p. 158-9, 145, -MULHER, ESTADO E REVOLUCAO ‘essdio mais completa do pen indo uma Eun A origem.., Engels forneceua exp samento marxista sobre as mulheres a andlise da opressio as mulheres baseada nas relacoes de produ contradicio entre as ntando um, 10. Previu familia, apresent mutiveis, Ele iniciow a discussio te6rica sobre a esferas reprodutivas ¢ produtivas sob 0 capitalismo, adi tivo para a abolicdo da familia sob 0 sociatis > das mulheres sob novo impe ni¢ um novo amanhecer para a libertag confi © capitalismo, baseado na erescente participacio das mulheres na forca de trabalho assalariada. O trabalho de Engels Bebel foi crucial no combate ao antife n0 proletirio dentro do movimento operirio, mas também 0 ideias, Uma das foram os esforcos priticos para implementar su: desenvolvimento de novas nte de imenso pri estratégins foi Clara Zet talento do movimento social-democrata sora dos direitos das mulheres trabalhadoras. Zetkin leu o livro de 10s ¢ imediatamente ipais figuras na populari (1857-1983), uma di alemao e incansivel del Bebel,pela primeira vez aos vinte © poucos s mulheres. Embora seus esforgos te6ricos mudou suas ideias sobre punca tenham rivalizado com os de Engels ou Bebel, seu trabalho de toda sua vida Asmu- 108, escritos e a dedicagd ram a tracar uma nova directo dentro do organizativo, disc Theres trabalhadoras aju movimento socialista europeu ¢ do partido socia-democrata alemao em particular!" O trabalho te6rico de Zet ‘com suas atividades organizativas em prol das Marx, Engels ¢ Bebel, cla reconhecia que a participacio crescente ilheres no trabalho assalariado era historicamente inevitivel rrantir que esst anilise se refletisse nas estratégias n estava profundamente entrelacado heres, Como ¢ lutou para priticas dos partidos socialistas. Ela se chocou repetidas ve! membros mais conservadores dos partidos socialistas que buscavarn ¢liminar as mulheres da forca de trabalho ao exigir um salario familiar, Zetkin achava essa deman 1 fitil, Se os empregadores * Para dois bons ensaies sobre Clara Zetkin ¢ o SPD, ver Jean Helen Quataert, ‘Unequal Partners in an Uneasy Alliance: Wornen ane! the Working Class in Imperial Germany”, em Marlyn Jacoby Boxer ¢ Jean Helen Quataert (orgs) Socialist Women, cit. ¢ Karen Honeyeut, “Clara Zetkin: A Socialist Approach to the Problem of Women’s Oppression", em Jane Slaughter € Robert Kerr (orgs), European Women on the Lif cl, Afted Meyer apresenca uma visio mais > antifeminista em The Feminivm and Socialism negativa a respeita de Zetkl of Lily Braun, cit 6 WENDY GOLDMAN >, homens & insistiam no trabalho feminino porque era n mulheres deveriam lutar por “salério igual para trabalho igual”, Os sindicatos deveriam comecar a organizar as mulheres. Em seu discurso no Congreso de Fundacio da Segunda Intemacional en 1889, Zetkin falou fortemente a favor das mulheres trabalhadoras. Explicou: “Nao é 0 trabalho femin palho masculine, mas a explo do trabalho feminino pelos capitalistas que dele se apropriam", Mai tarde, resumiu esse discurso em um panfleto que se tomnou para futuras politicas do SPD. Zed das mulheres ao trabalho, mas ac n gia in nao somente defendia o direito ditava que o trabalho assalariado ial” para a independéncia das mulheres Ainda que, nas palavras de Zetkin, “a escrava do matido se tomou a ra “um pré-requisito essen escrava do empregador’, ela insistia queas mulheres “se beneficiaram essa transformagio" No dmbito te6rico, Zetkin ampliou as andlises iniciais de Engels € bebel. Focando a transicao da economia agréria para a industrial Zetkin explorow as mudangas nos papéis das mulheres com a expansao da prod de mercadorias, Argumentava que, em uma sociedade pré-capitalista, as mulheres extraordinaria’, que. prodw 1 todos ou quase todos os bens hecessirios para a familia, A transi¢do para a produgio mecanica ¢ a industria em grande escala tornou aatividade econdmica da mulher dentro da familia supénflua, uma vez que a inchistria moderna produz bens de i: de bens d \eira mais népida bar ntro do lar se tor A medida que a produgio }on erescentemente desnecessitia, a atividade doméstica das mulheres perdeu sua funcio ¢ significado. Isso criou uma nova contradigao entre a necessidade das mulheres €m participar da vida puiblica su A propria existéncia de uma impossibilidade legal de fazéo. sido da mulher” encontrava sua premissa nessa contradicia!, Para Zetkin, 0 movimento das mulheres seria uma sociedade camponesa. Somente poderia surgir “dentro dos ti pos de sociedade que sao os frutos do modo de producio moder no". Concordando com Engels, argu mulheres ¢ ntava que a opressao As esultado do desenvolvimento da propriedade privada, 1 Zetia, p57, 56. 1. © Ibidem, p. 74. 2 idem, NULHER, ESTADO EREVOLUGAO mas agregou que © movimento das mulheres contra essa opressio somente poderia emengir das condicdes capitalistas de producio, ilheres para a esfera ptiblica ao mesmo tem- restrigdes sobre sua capacidade de agir dentro dela, Zetkin, assim, usou 0 quadro marxista para explicar a propria genese da “questao da mulher” no século XIX, Marx ¢ Engels nio distinguiam as vitias formas de opressio soft que empurravam as n po que impunham divers: das pelas mulheres de classes diferentes. Zetkin foia pri a opressio As mulheres dentro de uma compreensao mais sutil de clas- se, Essencialmente, postulou uma “questio da mulher” diferente para cada classe na sociedade capitalista. Mutheres de classe alta se pre ocupavam principalmente com a liberdade de administar sua pro pria propriedade, Mulheres de classe média, com educacio formal, de Zetkin, “competicao sem obsticulos entre homens € Mulheres proletias,forgadas a trabalhar para complemer da de suas funfis, defendiam seus interesses unindose aos homens © esforco de anos de Zetkin em prol das mulheres trabalhadoras recebeu reconhecimento internacional em 1907 no Cangresso 4: Segunda Internacional. A primeira Conferéncia Internacional das Mulheres Socialistas teve lug: ratificou o prineipio do direito da mulher ao trabalho, a criacio de “onganizacdes especiais de mulheres dentro de todos os partidos socia listas e uma posicio a favor da organi ho mesmo momento, ¢ a Internacional Jo ativa em prol do sul feminino!”, Finalmente se formava uma est igia oficial para a liber- ‘aco plena da mulher, nossentidos politico, econdmico e social. Os teoricos sovieticos Ji-em 1900 as ideias de August Bebel ¢ Clara Zetkin eram am. plamente conhecidas nos circulos social-democratas da Russia, pois Thidem, p. 746, Apesar da experiéncta peswoal de Zetkin com a hostiidade masculina em relacio ao trabalho feminino, ela reservou seu terme mais depreciaivo, “competicio desenfreada’, para descrever apenas as demuandas das mulheres da clase média, "Richard Stites, The Women’ Liberation Movement in Russa, cit, p. 2379; Thonessen, Emancipation of women, ct. p. 445, 6, riuitos dos dirigentes social-democratas haviam lido extensivamente ‘obras manxistas do exterior. A primeira edi¢ao russa do f Iho de Bebel foi publicada em 1895 e rapidamente Ihe seguiram ou- ‘as, Kollontai tinha sido fortemente influenciada por Marx, Engels ¢ Bebel, assim como pela literatura sobre a Revolugao Francesa ¢ os socialistas ut6picos, Uma re da necessidade de comeg dora em seu pais! nidio com Zetkin, em 1906, convencewa onganirs mulheres da classe trabalha. 8 avangos dos sociais-democratas europeus na questio da mu ther certamente fluenciara n suas contrapartes russas, mas os sia ha tempos defendiam as ideias de uniiio livre e de igualdade das mulheres. A énf fase dle George Sand ho amor € nos imperatives emocionais do coragio encontrou wm Puiblico entusiasta entre a aristocracia russa na década de 1830, e as defensoras da educacio feminina nos anos 1850 reiteraram muitos debates curopeus sobre © potencial das mulheres. Além do mais, 68 muss05 rapidamente se apropriaram dessas ideias. O famoso ro. mance de Nikolai Chemyshevskii, What is lo Be Done? [Que fazer? converteu varias geracdes de javens rebeldes para as causas da uni: livre ¢ emancipacao das mulheres. Os niilistas tentaram colocar em priitica suas ideias de casas ¢ trabalho comunais nos anos 1860, ‘Tais experiéncias nao foram totalmente bem-sucedidas, mas mesmo as sim inflaenciaram geragSes posteriores de radicais que continuaram a rejeitar a familia tradicional e a exigir a independ nea das mu adas de 1870 ¢ 1880 subor ‘am a questo da muther a uma politica de classe mais ampla, mas nao hesitaram em adotar os ideais de camaradagem, unio de Companheiros, respeito miituo ¢ igualdade das mulheres, propug. theres. Os populistas e terroriseas das dé di '* Richard Stites, The Women’s Libation Movementin Russia, cit, p24, 250-1. Stites Ooferece a methor e mais completa anslise do desenvolvimento das ideias sobre © libertagao feminina, Ver também Linda Edmondson, Feminion in Russia, 100 1917 (Londres, Heinemann Educational Bo bs, 1984) ¢ 4a “Russian Feminists an the Fist All-Russian Congress of Women”, em Russian History. 8. parte 2 1976, p. 123-49; Doroshy Atkinson, Alexander Dallin e Gail Lapidus (ong), Women in ussia (Sussex, Harvester, 1078); Grigori" Alekscevich ‘Tishkin, Zins vopros » Rosi « 50.50 gg. xix. (Leningradto, 1984); Anne Bobroff, “The Bolsheviks and Working Women, 1905-1920", Soviet Studis, » 26, 1.4, 1974 Barbara Clements Bolshevik Women: The Fist Generation”, em Toxa Yedlin (org.), Women in Easter Exrope and the Soviet Union cle; M d, “Bolshevik Acivty Amongst the Working Women of Petrograd in 1917", Intematonas Review of Social Hisery 1,27, parte 2, 1982, MULIER, ESTADO EREVOLUGAO aclos pelos niilistas. A influéncia incomum de mulheres sobre esses fentmend nico na hisGria europela do séeulo XIX", dejas Boe fia ge inspiraram nos trabalho de heviques sobre ¢ em uma cultura nativa revolucio- Marx, Engels Bebel, mas també naria compartilhada por marxistas e nao marxistas. Porém, as ideias bolcheviques sobre a famflia iam muito aléra das experiéneias comunais dos movimentos radicais russos. Em de categorias analiticas, métodos hist6ricos ¢ receitas para mudan= cas estruturais, © pensimento bolchevique se apoiou fortemente ientifico” — nao nos do “ut6pico”. A ngdes familiares de producao e hos preceitos do socialismo preocupacao do Partido com as fi Consumo, sua insisténcia no definhamento da familia como algo his- coricamente inevitével ¢ sua énfase no elo entre trabalho assalariado « libertagio das mulheres foram todos elementos derivades dire yente da teoria marxista Nao é surpreendente qu onés do pais e sta exper ponés do p p trializaca, os teoricos soviéticos se interessassem principalmente m dado o carter esmagadoramente eam= ncia relativamente recente com a indus lia de uma sociedade camponesa para u al, Mare, Engels e Bebel haviam observade que lia de suas funcdes mais elementares, transformacao da f sociedade indus © capitalismo arrancava a f mas eles nunca haviam lidado empirica ou teoricamente com essa ransformacao. Zetkin foi a primeira a realizar uma andlise marxi da perda da funcao produtiva da familia na conversdo de uma so- ria. Ao ex: ciedade c teGricos soviéticos postulavam a ideia da familia assalariada e urbana como uma unidade de consumo, um conceito novo que era consi- deravelmente mais sofisticado que a familia proletiria idealizada de Marx ¢ Engels. Seu pensamento inovador permitiu a descoberta e exploragao dé padres mais profundos de dependencia e domina- io dentro da familia da classe tabalhadora. ssados na importincia Varios tedricos soviéticos estavam interessa: econdmica decrescente ¢ a gradual atrofia de suas varias funcdes sociais. Nikolai Bukharin, membro do Politburo € teérico alta Ne Richard Stites, The Women’s Lileration Movemest in Russia, cit; py 158, Ver também o estudo pioneiro de Barbara Engel, Moths and Daughters: Women of lineternth Contury Rs he Intaligentia i (Cambridge, Cambridge University Press, 1683). 65 WENDY GOLDMAN mente respeitado, ofereceu panorama histérico da fa em sua conhecida obra Historical Materiali A Sy S od [Materilismo histrico: um sistema da sociologial, Nesa oben Bukharindiferenciava a fama diretamente bascada na produ mi unidade mais dbl, b Desereven ponesa, uma “unidade sdlida da familia da classe trabalhado- eada centralmente no consumo, atrofia da funcio produtiva da familia na ransigao para a vida urbana ¢ trabalho assalariado ao observar que os ser vicos na cidade, o ingresso das mulheres na forca de trabalho e erescente mobilidade do trabalho eram todos elementos que resil- tavam na “desintegracio da familia’! Kollontai aprofundow a dicotomia de Bukharin entre producio 10 em seu estudo de seus efei dices sock sf ‘argumentava que relag © mate moniais foram mais fortes em economias pré-capitalistas, nas quais a famflia servia tanto como unidade de produgio quanto de con- mo. O “definhamento” da familia era o resultado de um longo proceso histérico que se iniciou com a eliminacéo da familia como in de produgio. O sociélogo Vol'fson explicou esse unidade prim: processo: Ja no final do capitalsmo, a famfia quase no possi funcdo prod tvade trabalho, sua fungi de eriar os filhos se encontr fortemente completa desintegracio da familia, sociedade socialista, alcane: Tanto Kollontai quanto Vol'fson acredit o produtiva da fan inevitavel! mn que a perda da fun- lia era mais um indicador de seu fim hist6rico "Nikolai Bukhari International, 19 Justia, amber i Historical Materialism A. Sysem of Socilogy (Nova York. 5), 156. Petr Ivanovich Sauchka, 0 primeiro comissario da ficou a funcio produtira da familia com o campesinato, Assim como Bulharin, ele argumentou que, com o desenvolvimento, do. ‘apitalismo, a famtia foi substicuida pela fibrica como unidade primria de producio. Ver seu "Semeinoe Pravo", Kevoliusia Prava, n. 1, 1995. 175, 5 Brachrykh Ownoshenii nunizay", Kommunisiha 1.7, 1990, p. 17; Takovlevich Vol'son, Sotsilogia braka i sem’, cit. p. 375. " Kollontai,"Texsy © Kommunisticheskoi Moraliv Ob ity p 6 MULHER, ESTADO E REVOLUGAO #) Fontrivie de Vortson, entretanto, alguns teoricos eram menos His ein btias previsOes sobre o fim da familia, ao exal WNilamenite seu papel sob o capitalismo, Marx e Engels havi Wiieiitado que quase nada unia a familia proletiria despossuida WW Ale genuino e, além disso, dada sua falta de propriedade, 4 "base para qualquer tipo de supremacia masculina” no f. 0. Kabo, uma importante economista e socidlog: Wi Wile famitiar da classe trabalhadora, em 1920, questionou ardu Miele essa idcia em scu sofisticado trabalho tedrico ¢ empirico so- Wie farntlia proteraria soviética da mesma década. Miho ressaltou importantes estruturas de dependéncia de género Be pith trabathadora que ndo foram percebidas por Marx, Engels, Webel Zetkin. Ela afirmou que, emboraa familia trabalhadora nao Hise mais uma unidade de producio, seguia sendo a unidade prim His tle oxganizacio da reprodugio e do consumo, provendo eutidado Passos idosos, os doentes e os mu Na auséncia de outras Formas sociais, mies com filhos pequenos, vel lidos nto Honseguitiam sobreviver sem o sistema dle apoio da familia. Sem a fa Willi, a classe trabalhadora seria incapaz de se reproduzir. A familia Hepresentava “a forma mais lucrativa da organizagdo do consumo € {lugio de uma nova geragio de trabalhadores™” Na visio de Kabo, a familia funcionava como uma unidade de con. sumo a0 organizar o cuidado dos nao assalariados 4 custa des traba Waidores assolariadcs. Uma das funcdes basicas da familia era, assim, fedistvibuir as receitas ao combinar a contribuiglo de todos os seus Iiitegrantes para garantir um nivel de vida basico tanto para seus injemibros remunerados quanto para os nao remunerados, Esereveu: A construc da fami © nivel de vida de todos os seus m a igualdade rio consumo €aleancadaa despeito da extrema desigual- dade de pa trabalhadora € tal qu © 0 mesmo, Nesse sentido, bros é 0 salara, A familia servia como um mecanismo no qual a carga da repro- ducdo do trabalho re n assalariado. A pro existéncia de uma familia trabalhadora se basea voluntaria de um trabalhador pelos outros”. Dessa forma, Kabo aia sobre o hor IV Rlena Osipowna Kabo, Ocherki rabochag bya (Moscou, 1998), p. 2556, (DY GOLDMAN ise dle Marx ¢ Engels do avesso: o elemento centr: da AF nio era.a exploracio da mulher pelo homem, ma sian que a mulher ¢ todos os membros nao remunerados da familia “exe ploravam” o marido ado. Kabo empregou essa palavra em seu sentido mais restrito, naturalmente, para significar que aqueles que no ram asslarialox viviam cust ow através dat orga de trabalho Em contraste com Marx, as viirias formas nas quais o capi cionais da familia e, em iiltima instincia, a propy concentrava nas forcas capitalistas que mantinha Argumentou que os niveis mais baixos de salrio ¢ eapacitacao das mulheres € suas responsabilidades maternais reforcavam e perpe: tuavam sua dependéncia econdmica dos homens. A diferenciagio. salarial de acordo com a capacidade apoinva “a dependéncia de um. tmabalhador sobre outro, impedindo os trabalhadores nao qualifica: dos de deixarem a familia”. Diferentemente de Marx ¢ Engels, para quem o nfraquecia a famflia ao incluir as mulheres no trabalho r Jo, Kabo enxergou formas mais sutis nas quais a io do mereado de trabalho, diferengas salatiais e © papel reprodutivo das mulheres eriavam fortes amarras dentro da fam Talvezo mais importante tenha sido que as observacdes de Kabo se aplicam com a mesma forca para a classe trabalhadora tanto no capi- talismo quanto no socialismo, Postulando uma relagao inversa entre diferenciagio salarial © a forca da familia, escreveu, “salérios baixos, mpla disparidade de saldrios entre trabalhadores, poucas nor segmenta de seguro social e grancles ondas de desemprego g lesemprego garant axial forte na vida familiar”. Kabo sabia que eram justamente esses fatores que caracterizavam as relacdes soviéticas de trabalho nos anos. 1920, Somente uma inverso dessas condi al igu abrangentes ¢ pleno emprego ~ poderia levar & libertacao das mulheres, criangas, velhos ¢ desvalidos, “os elementos econdmicos mais fracos da f thadora”. Somente af a familia deixaria de ser uma for programas dle bemesta Assim como Kabo, Kollontai era sensivel as forgas que ia trabalhadora despossuida, Mas, onde Kabo dest 4 das mulheres em relacio aos homens, Kollontai 68 MULHR, ESTADO E REVOLUGAO Hel miitua dos sexes pe ix da socializacio ls loméstico, Os trabalhadores dependiam das mul at Comida, vestuario © uma série de outras tarefas n: jilis, porém essenciais. Apesar da perda de sua funcio pro: 4 {njuilia prolevatia "garantia a si mesma certa estabilidade” ‘Honcenitar na contribuigio do trabalho doméstico, Kollontai Ji) "Quanto menos acessivel era o aparato social de const era afamilia"™., Para Kollontai, uma fungio indispensivel ji» 6 trabalho doméstico permanecesse privatizado, {usiticas soviéticas foram consideravelmente além das ano- as de Marx, Engels e Bebel sobre a famflia no soc a transi¢io do campesinato para o proletariad perda da funcio produtiva dentro da familia e a vaineia do consumo. Ambas, Kabo e Kollontai, of: Fin novas andlises tedricas sobre os kacos que unem a farnilia Malulliucora sob o capitalismo e sob o socialismo. Além disso, suas Whi Lveram consideraveis implicagies estratégicas. Se o Estado Wise a sério a libertagio das mulheres, teria de implementar po- Weis para abolir a diferenciacio salarial, aumentar os salirios, esta Welever uma ampla gama de servicos sociais e socializar 0 trabalho damniéstico, © primeiro codigo do casamento, da familia e da tutela Os holeheviques reconheciay Mhertarasmutheres, masos primeiros passos que deram, 16 foram para eliminar leis familiares antiquadas e garantir um novo Hhaveo legal para suas préprias ideias sobre relagdes sociais, Jurisias a PVF de reformas haviam tentado atualizar as leis nassas por mais le Wneio século antes da Revolugao de Outubro, mas obtiveram pouco Jhicesso, Em dois decretos breves, publicacos em dezembro de 1917, 104 bolcheviques conquistaram mais do que o ministro da Justica, os Jornatistas progre as feministas, a Duma. o Conselho de Estado Punnais haviam tentado: substituiram 0 casamenio religioso pelo civil Ff eslabeleceram 0 divoreio a pedido de qualquer um dos conjuges. Hin Godigo completo do Casamento, da Familia ¢ da Tutela foi ra Mfieadlo pelo Comité Executive Central do Soviete (VISIK) wm que a lei por si prépr fo poderia suralmen W Niexandra Kotloni, “esisy 0 Kommanisticheskoi Moral et, p. 289. o WENDY GOLDMAN MULMER, ESTADO EREVOLUGAO depois, em outubro de 1918", © novo Cédigo dominio patriarcal ¢ eclesidstico € firmou uma nova douty seada em direitos individuais ¢ igualdade de género, Antes da Revolugio, a lei russa reconhecia o direito de cada re- ligido controlar 0 casamento € 0 divércio de acordo com suas pré- prias leis, ¢ incorporava esse direito a lei estatal, As mulheres eram concedidos poucos d to pela Igreja quanto pelo Estado, esposa devia obediéncia completa a seu ma rido, Era obrigada a viver com ele, adotar seu nome e assumir sua posicio social. Até 1914, quando reformas limitadas permitiram i mulher separarse de seu marido obter seu proprio passaporte, mulher nio podia trabalhar, obier educagao, receber passaporte BP, nas nworidades extatae podeross © conseradoras imped para trabalho ou residéncia, ow assinar uma letra de cimbio sem an timidas, U isso especial no ‘© consentimento de seu marido™, A mulher ¢ Ministério da Justica publicon um novo Cédigo Civil depois de 1900, obedecer a seu marido como chefe do lax” com “obedié: {has esie nunca foi promulgado, apesar das elaboradas precaucdes tada’, Em troca, 0 marido deveria “viver com ela em harmonia, res tla comissio para evitar infringir prerrogativas da Igreja. O préprio peitéla ¢ protegéla, perdoar suas insufici Niorizonte de possibilidades estava acinzentado pela intransigéncia do ee el por suste Hanto Sinodo, Mesmo os eriticos mais radicais da lei familiar nao de- abil -0 fator limitante para 0 poder patriarcal nessa flndiam iguaktade entre homens ¢ mutheres, ¢ inclusive propunh: receita sombria era que a lei russa, diferentemente da lei europeia, {Wise nada além da incluso do consentimento © permitia proptiedade compartilhada entre cénjuges. Nesse ra div6rcio € adocao de filhos ilegitimos a pedido do pai marco legal, era permitido a cada cénjuge possuir ¢ adquirir pro- » Cédigo do Matriménio, da Familia ¢ da Tutela do priedades, Dote, heranga, aquisicées especiais ¢ presentes de uma ava a timidez das tentativas pré-revolucions- mulher eram reconhecidos como seus!” flaxdereforma. Goikhbarg, um antigo menchevique que se unis aos holcheviques depois da Revolugao e se wornou comissério da Justiga to a Sibéria, dirigiu um comité para redigir o Cédigo em Iyjosto de 1918. Com somente 94 anos de idade no momento da Revolucio, Goikhbarg jé havia escrito diversos comentarios sobre a pi civil pré-revoluciondria, Membro do koliegiia do Comissariado da ‘Wislica, tambem ajudou a escrever o novo Codigo Givil ¢ outras les mente sobre lei familiar, lei econdmica e pro- ada de 1920", Por sua insisténcia sobre 08 11 séculos de {We legitimado através de consentim 4 pai estivesse disposto a isso ra quase impossivel divorciarse na prérevoluciondtia. Jyreja Ortodoxa considerava o casamento um sac do. jie poucas circunstincias podiam dlissolver. Era permitido o diver ilo yomente em casos de adultério (testemunhado por pelo menos cia, exilio ou prolongada/inexplicada ausé: sos de adaltério ou impoténcia, a parte Jesponsivel era permanentemente proibida de se casar novamente, 0 Santo Sinodo outorgava o divércio com ¢ raramente™ {Jusristas progressistas tentaram reformar a lei familiar depois de nto imperial especial, mesmo se ramento sagy luis pessoas), impo cla de um ednjuge. F De acordo com a lei, Lé mesmo as tentativas ma ncias e aliviar suas debi la de acoreo com seu status ¢ tuo como funda ‘As relagdes dle poder entre marido c esposa cram reproduzidas entre pai ¢ filhos. O pai exercia poder quase incondicional sobre seus filhos no somente até a maioridade, mas por toda a vida Somente filhos de um casamento reconhecido eram considerados legitimos; filhos ilegitimos nao tinham di Até 1902, quando o Estado aprovou reform oblast 105 ou recursos legais, s limitadas, um filho ile= gitimo somente poderia ser adotado, reconhecido ou posterior [-ilodals cahonowobehiath grazhdanslogosstoianis, backnom, semeinom: operskom rave (Moseou, 1918). Nikolal A, Semiderkin oferece o melhor tratamento sobre ‘6 Gédigo da Fama de 1918, SasdanieParvogo Brachno-Sencinago Kidelsa (Mosonk, Indatelstvo Moskovskogo Universiteta, 1989), Ver também Anna M. Beliakova Eygenil’ Minaevich Vorozhelkin, Sovetsoe semaine pravo (Moscou, 1974), p. 635 W Willan Wasuer, tn Pursuit of Orderly Change, cit. p. 6. TPNikowi A. s snk Moskooshogo Univestr,n smiderkin, “Tserkovny Brak i Oktiabr'skaia Revoliutsia y Rossi 980, p.30- PVian Wagner; In Pursuit of Oderty Change ci. capitules 3 ¢ "William Wagnes, Jn Puss of Ordniy Change: Judicial Praer andthe Conflict awe Guid Lorin Late Imperial Russia (Oxford, Oxfoed University, 181), p. 2-7, wes de doutoramento, PAV svtxteprrtameno do Deparamento de Codificasdo © Sugestoes Legals (OZPR) era responsivel pela edicio de planos legais depois de seu desenvolvimento por parte do. comisariado apropriado e antes de sua = Svod zalonov Rossist’ Imperin, 10, parte | 1914, p. 18, % 2 WENDY GOLDMAN direitos individu is € igualdade de género, © Cédigo constituiu nada enos do que a legislacio familiar mais progressista que o mundo havia conhecido'™. Aboliu o status legal inferior das mulheres € es- tabeleceu igualdade perante a lei, Ao eliminar a validade do casa nto rel iu status legal somente a0 casamento civil € os de estatisticas. (conhecidos como Zags) para © registro de casamento, div6rcio, nascimento © morte. O C6digo Barantia o divércio a pedido de qualquer um dos ednjuges: nao era ecesséria uma justificativa. E ampliava as mesmas garantias de pen- sao alimenticia para o homem e para a mulher © Codigo varren séculos de leis de propriedade e privi culino a0 ab organizou escritéi gio mas- imidade © garantir a todos 0s filhos © di n sustentados por seus pais, Todos os filhos, 1 dentro ou fora de um casa a ile reito de sere scidos nto registrado, tinham direitos iguais. Dessa forma, 0 Cédigo separou o conceito de casamento do de familia, a0 criar obrigacées f ares independentes do contrato matrimonial, Zinaida Tettenborn, ao observar “a aguda deli da classe mponentes da visio bolchevique forneceram o clo entre os varios ¢ Se certos componentes da visio bolchevique cram respostas is. transformacées recentes, outros vinham de longa data, Os re- s formas de Voluciondrios haviam imaginado ha muito tempo vir plicagdes para as mulheres. A pratica » sentido de que a unio livre e debatido suas da uniao livre havia suscitaco repetidas eriticas ta de protecao legal exacerbava a vulnerabilidade das mulheres as religiosas radicais da Revolugio Inglesa, 0 mo utdpico € os circulos radicais da Riissia pré do esse problema nas tentativas de ica, Os mesmos argumentos foram repli: ombrosa, entre Bebel e Engels, Kollontai ticos € suas contrapartes mais conserva © das criangas. As sei movimento do social revoluciondria tin! colocar suas ideias em pr cados, com similaridad € Lenin, © 08 libertirios sov doras, Assi viéticos de uma sexualidade sem entraves encontraram seus exiticos nos defensores das mulheres € das criangas. As questbes relativas & nerabilidade das mulheres se tornariam deter- liar soviética como seus antepassados histéricos, os proponentes s0- ire sexualidade e vu minantes no ru Em 1918, os boleheviques herdavam_w sobre a libertagio das mulheres, ancorada er wohucionsria, Eles haviam dado os primeiros passos em dire seus ideais com o novo Cédigo da Familia, que rompeu radicalmen- te comasleise os costumes do passado de seu pais, Restava ver o que dio revolucions no da politica visio multifacetada a longa tradicio aconteceria coma agora que os revolucionstrios detinham o poder.

You might also like