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Metropoles: As Faces do Monstro Urbano (as cidades no século XIX) Maria Stelta Martins Bresciani (Departamento de Histéria do ICH / UNICAMP) RESUMO Este artigo persegue a formasio , de uma nove stosiolidede ap setule decenove bascada nas diveras E eppdes contradtérion da dade. Yas. itd "ame ‘veeporalde estas representagées doy Mlepe ut Banos" configura ‘uma erdtetea“ ty a netenth,cenury ned on the ‘verse. contra ‘perceptions the city. These representations install a new sense of time, form a. veri- table culture on poverty, and define the poor as prime objects for varied isciplinary stentegie. ida de diversas esteatégiag discl. | plinadoras, i cultura sobre. a. pobreza o definem | | homer pobre como figura pivile- “Rise up, shou monstrous ant-hill on the plan 9f @ 100° busy world Before me few, Thou ends seam of men ond ming ts! coer ne, as it strikes — We wonder helgitened, or rtined by awe — Qn strangers of all ages: the quick dance Of colours, lights and forms; the dedlening din; The comers and the goers face to face, Face after face: the string of wares, ‘Shop alter ‘shop, with “symbols, bleconed names, ‘And all the tradesman's honours overhead.” (Wordsworth, Prelude, 1799.1805)* + Levaniate, tu formigueiro monstrueso na_plantcie De um mundo muito aiarefadot Perante mim flu, [kev Beas. de Hint |S: Paulo | v. 5 a 8/9 | pp. 3568 | set. 1984/abr. 1965] [her Bete de Fit 1S Paolo |v. 5 ni? 6/9 | pp. 35-68 | set, 1984/abr. 1585 | “11 west pes donné & chocun de prendre un bain de multitude: fouie dete Joe esa one cla tel pout area diana : Ea genre htomain, une ribole de vitalte.& gut wre fee a insite dans ton bercoau ‘le gout dhe tavestssement et du masque’ la fine us domicte et fa passion dr voyage” Mutttude ealtader Termes eye et convertibles pour fe\ poste eeu et fecond ‘Gui ne salt pas peupler sa solitude ne sat pat HOM plas 76 seat dart ne {Oulefaige.” (Baudelaire, Lee joules, 1861)* “Manchester, with its coltonfuzs, its smoke and dust, its tumult and contentious squalor, is hideous to thee? Think’ nat 30: 4 precious substance, beaualful as magic dreams, and yet 0 dream but a reality, lies hidden in (hal noisome wroppage: (..") The great Gotthe, Yooking at cotton Switzerland, declared it, ‘amt told, to be of all things that he had seen in this world the most poetical.” (Carlyle, Chartism, 1839)¢* Para além da forga emocional da retérica poética © lterécia em geral, presente nos textos dos homens cultos do século XIX, aparecem com igual impacto os delineamentos de uma nova sensi. bilidade. Convencidos de estarem vivendo no limiar de uma “nova Tul corrente sem fim de homens e colsas em movimentot Tua aparéncia didria destumbra — Peio seu foscinio magnifico ou pelo sew sublime terror — Or estranhos de todas as idades; @ danga ripida De cores, luzes ¢ Jormes: 0 baruiho ensurdecedor; Os que vem e 0s que vdo, face a face, Face apés face; 0 cordao de mercadorias cintilantes, Loja apts toje, com simbolos, nomes Brasonados, E fodas as horras do comerciante enaltecidos. * No € dado a qualquer um tomar um banho de multidéo: usufruir da muitiddo & wma arte; ¢ isto 26 pode ser fetto ax expensas do género humano, uma plndega de vitalidade, por aguele @ quem sma Jada insuflou, no henge, gosto de travestirse e mascararse, 0 ddio pelo domictio ¢ a palxto da vie gem. Multidao, soliddo: termos iguais e intercambidvels para o poeta alive € fecundo. Aqueie que nio sabe povoar sua solidao, sabe menos ainda estar 86 fem meio @ uma multidao atarefada. Ay Manchester, com seus fiapos de algodée, sua fumaga e pocira, sew tumul- 10 ¢ pobreza conjlituosa, cia & medonha para ti? Nao pense assim: ta subs. ‘tancia preciosa, bela como sonhios migicos e, contudo, ndo sonho mas realidade, ermanece excontido esse embrutho barulhento. (...) O grande Goethe, vendo ‘x cotonificios da Suiga, deciarou, me contaram, ser, dé todes as colses que ele havia visto no mundo, a mals poética. 6 era”, prenhe de um potencial transformador ainda nio avaliado, ales se lancaram empresa de anotat em seus escritos os sinais visiveis dessa novidade de dimensGes desconhecides e assustadotas. © sentido de desenraizamento expresso na perda de identidade so cial © de formas de orientacéo multisseculares, aparece de forma recorrente elaborando a imagem de uma crise de proporgio ¢ con- tetido inéditos. Sem diivida, os termos desarraigado ¢ desenraizado falam do homem arrancado de sua intima relacéo com a natureza, mas paradoxalmente apontam para a nova condigao humana de yencedor da natureza. Afinal, atribuia-se aos engenhos astuctosos fabricados pelos homens — as méquines com seus mecanismos irre- sistiveis © incansdveis — ossa vitrin na gucrra com a rude natu. is reza. A méquina foi apontada como expressio simbélica ¢ material dessa vit6ria que lograra emancipar o homem do limitado destino de ser subjugado a0s imperatives do mundo fisico. A maquina 0 século XIX conferiu todo 0 poder transformador e produtor da abundancia e apostou nela, como possibilidade, nfo muito ree mota, de superagao do reino da necessidade (superagio de um mundo sempre as voltes com a escassez de recursos para manter 0 eresci- mento ilimitedo do género humano), mas também a ela foi con: ferido © poder transformador da estrutura social (the fabric of Society). © que colocava em algo exterior ao proprio homem a Poténcia movimentadora do novo sistema social (social system) Méquinas, multidées, cidades: 0 persistente trindmio do pro- aresso, do fascinio « do medo. O estranhamento do ser_humano em meio a0 mundo em que vive, a sensagiio de ter sua vida orgs. fizada em obediéncia a um imperativo exterior © transcendente a ele mesmo, embora por ele produzido. Registros de perdas e de imposigSes violentas encontram-se nos escritos de homens que se aullo-representaram contemporaneos de um aio inaugural... Ba constituigo dessa “nova sensibilidade” que procuro acompanhat neste artigo, na certeza de que, hoje, o sentido de emancipagio da méquina em relago ao homem se expressa na aceitacao de uma Aégica intcrna a0 proprio progresso técnico © repde a insélita experiéncia vivida pelo homem quando considerow, a si mesmo, por sua ostticia, vitorioso sobre a natureza. Para penetrar nos meandros dessa nova sensibilidade decidt Percorrer alguns textos, onde literatos, médicos, advogados, filéso- fos, filantropos, estadistes, em suma, o homem letrado em geral, expressaram o sentimento de perdas diversas ¢ de viverem situa. goes paradoxais; registros semethantes encontrei também em depol- mentos de trabalhadores rurais e fabris, de vendedores ambulantes, artistas de rua, enfim de toda a grande parcela da populaglo qué subsiste através do trabalho de suas mics. 7 4 + Quais perdas? i ‘a perdese "A sepresentacdo do tempo, regido pela _natureza e «fine cam a's medide do teipe wactonada ae arch cas J€ rotineiras do trabalho. Se desfaz um ajuste entre o ritmo do mundo fisico © as atividades humanas, 0 que implica a dissolu- so de uma relagdo imediata, natural e inteigivel de. compulsdo | da natureza sobre o homem. Perda que implica a imposigio de | Uma nova concepcio do tempo: abstrato, linear, uniformemente di- Na.atividade do_trabatho uma outra perda, A unidade do ho- mem com suas condigées de produgo © com a finalidade dessa Producio definida pelas suns préprias limitadas necessidades einde-se numa dupla exterioridade: de extensdes inorgdnicas de seu corpo organico, as ferramentas se autonomizam materializando-se na méquina, vale dizer, tomando dispensdvel a arte de suas méos; de finalidede da produgéo, 0 homem passa a ser uma das engre- agens de uni gts oe ee ea oe ae ene ‘objetiva tepor a propria produglo, tral jado_das _ondigoes objetivas do trabalho € redu- ido a mera subjetividade, & forga de trabalho? Fido _mere_subjetividade, & forga de traball Os sistemas de trabalho com base em relagdes pessosis se des- fazem_substituidos pela_impessoalidade das rela mieread. © vinculo entre o mestre-artesio ¢ seu aprendiz, certeza de tra. balho, © aquisico de uma destreza especifica e de uma identidade Profissional rompe-se; a_relagio_patrao-operdrlo tem um caréter Buramente_mercantil e sobre ela se erige uma representagio que 4 coloca em uma instincia transcehdente ao homem — a Iei da oferta © da procura inscrita na natureza das relagdes humanas —, ‘qve, produto da atividade intelectual, passa a ser interpretada como Princfpio érreo de ordenagio do social." Uma Giltima perda: © homem, em especial o trabalhador fabrit € urbano em geral, arrancado dos vilarejos e impelidos a levar uma vida agtessiva nas cidades. Perda do habit jugave-se o tral 4 fomflia encontrava condigses de trabalho © onde ‘vida _niio aparecia cindida om tempo do patréo ¢ lugar do trabalho contra. poston frp" desanan © TepAP US Sg ont Q registro _de cada _uma_dessas_perdas_se_fez_presente_no scare de lesbos, polo mene Sesistna nee eee 5b to KIX, na porcepeter ke que © homem a0 sobrepujar-se & natu- reza havia caido na armadilhe de sua prépria asticia, A cidade moderna _representa_o momento culminante desse_| rocessa © também o lugar onde acumulam-se homens ‘despojados de parte fe ‘sua humanidade; em suma, lugar onde s subordinagio da vida a imperativos exteriores ao homem se encontra levada as iiltimas conseqiiéncias. Fascinio ¢ medo: a cidade configura o especo por exeeléncia da transformagéo, ou seja, do progresso e da. histéria, ela representa a expressio maior do dominio da natureza pelo ho- mem € das condigées artificiais (fabricadas) de vida. E ainda importante anoter_a solidariedade entre 0 conjunto dessas perdas € a elaboragio intelectual de uma distincia entre © homem ¢ seus semelhantes; a efaboracéo da figura de um sujeito de conhecimento capaz de estabelecer um distanclamento conside. rado necessério para a observago e avaliacio sistemética daquilo que passa a ser designado realidade social. A telagdo de exterior! dade, corrente na avaliagéo da natureza, estende-se, no século XIX, como experiéncia de conhecimento para as relagdes entre 0s ho. mens. © olhar analitico ¢ classificador procura imobilizar em mo- mentos sucessivos de avaliagio tudo aquilo que vé em constante movimento © que precisa permanecer em continua movimentagzo, © fluxo ininterrupto dos homens no trabalho, dos homens se des. Jocando pelas ruas, dos homens ocasionalmente fora do trabalho, dos homens que tiram seu sustento trabalhando nas russ, dos ho: mens que vogam recusandose a trabslhar, dos homens ie se mantém através de expedientes pouco confesséveis: tudo & subme. tido a esse olhar avaliador. A cidade se constituité no observatorio privilegindo da diversidade: ponto estratégico para apreender o sentido das transformagées, num primeito pass, e logo em se. guida, a semethanga de um Iaboratério, para definir estratégias de controle ¢. intervenciio. Nao por scaso, ® frase de Vitor Hugo: * Franca observa Paris e Paris observa o faubourg Saint Antoin (Os Miserdveis), corresponde um axioma da policia londrina: “Guar- dese St. James vigiando-te St. Giles.” Nos dois casos, os objetos de constante vigilincia sio os baitros operérios cujo poteneial de revolta é considerado mais ameacador, onde, portanto, os sinais da revolugéo podem ser detectados, Nesses anos cingGenta do século passado, tinhs-se jé formulado um quadro coneeitual que, recolhendo inimeras experiéncias de investigasao da nova sociedade, permitia distinguir na diversidade aparente dose entidades distintas © antagénicas. B parte dessa nova sensibilidede & expressio “Duas Nagdes”, cunhada por Disraeli para falar do 33 *abismo existente entre rlcos-civilizados © pobresselvagens. Descom- tad¢ 0 apelo emocionsl, a expresso possui uma forga explicatis plditica, pois remete imediatamente para a imagem de uma socie- dede cindida em duas partes irreconcilidveis, com identidades pré- Prias ¢ diferenciadas. ‘URBE ET ORBIS "The thinking minds of all nations call for change. There is a deeplying struggle in the whole fobric of society; a boundless trinding collision of the New with the Ol We were wise indeed, couid we discern truly'the signs of our own time: and by knowledge of its wanis and advantages, Wisely adjust our own position in it, Let ua, instead of gazing idly into the obscure distance, look calmly’ around us, jor @ itil, on the perplexed scene where we stand. (Carlyle — Signs of the Times, 1829) Embore Carlyle procure definir com um conceito amplo — uma crise — 0 momento em que vive, ele registra de maneira clara 1 dimensio © o ineditismo do conflito. Uma crise a mais na longa hist6ria da velha Inglaterra, mais uma situacio de pénico seme- Ihante a um sonho assustador, uma repetigio do Estado em perigo presenciada pelos ingleses centenas de vezes: sio frases atenuantes que aumentam a Enfase dada a perplexidade indescritivel de seus contemporineos frente a acontecimentos tais como 0 Test and Com poration Acts, de 1828, ¢ 0 Roman Catholic Relief Act, de 1829, que reconheciam a liberdade de conscitncia de protestantes dissi dentes © catélicos, facultando-thes « participagio na vida publica do pats, Em suas palavras, removiam-se, dessa maneita, “coisas que pareciam fixas ¢ imutaveis, t80 profundss como as fundagées do mundo”. Seguindo seus préprios conselhos, Carlyle busca iden- tificar 0 princfpio explicativo da época em que vive e localiza-o na méquina, ou methor, no significado explicito e implicito da 5 cM cbecas pensintes de todas ox nardes podem mudances. Hd um con fe rondo nico da sodden clio iarane‘niti do fv! com 0 An Serlamos sdbios, certamente, se puddssemos discernir com exatidao os si- hiais de nosso prdprio tempo @ atraxés do conkocimento de sues necessidades ¢ ossibltidades, sabiamente, ajustarmo-nos a ele. Ao inves de fizar nosso clhar distratda ‘na distdneia obscura, devemos, por um montento, othiar trangia: mente em toro de nés, para 0 expetdculo desconceriante do qual parth cipames.” Carlyle 40 Palavra maguinismo, © aumento do poder fisico da humanidade acrescera em muito as possibilidades de produzir bens, mas des- truira de forma irrecuperével o antigo edificio social. O quadro resultante da introduggo dos princfpios da mecénica na vida dos homens, assustador pelo ineditismo e profundidade do conflito, apresentava pessoas incapazes de darem conta do que acon em sua volta por estarem com as méos e as mentes atadas cardter mecdnico da época? Essa _avaliago & partilhada por muitos contemporéneos seus, que, como cle, construfram um elo significative entre duas forgas transformadoras formidéveis: a méquina e a Revolugéo Francesa de 1789. A imagem de grandiosidade do movimento revolucionério na Franca 6 elaborada com a figura do poder destruidor das mul- {iddes nas russ © com o seu momento mais radical; a simples refe- rencia a0 Terror, acs anos senguinérios, projetava a possibilidade futura de uma repetico do acontecimento em proporsées ainda mais incontrolaveis. A imagem da maquina desfazendo 0 antigo edificio social € solidaria & da revolugSo: as duns formato no decorrer do século a representagto paradigmética da modernidade, A palavra Sublime, cunhada no século anterior por Edmund Burke, sintetiza a experitnoia estética de homens que conviveram com essas duas imagens portentosas. Nesse sentido, acolhemos a Proposta de Nicolas Taylor em seu estudo sobre as cidades vito- rianas, estendendo-a para além da expressio estética e arquitetOnica das majestosas edificagées burguesas.! Essa sensibilidade contrapege & racionalidade do belo — a arquitetura_de proporgdes perfeitas, que traduzia as medidas antro Pomdtreas"de tm’ protlipo idealsnde dese" emer mt pitoresco emocional — das paisagens campestres ¢ dos bairros su- burbenos” onde homens ¢ natureza se mantinham cm harmonia, Ym nova, sensibilidade estéticn, que buscava dar conta do. iné- dito, “daquilo que, nas palavras de Burke, era capaz de produzir # mais forte emogo que nosso cérebro pode suportar. Ela se fundava no trate com “tudo o que de alguma maneira fosse terrivel (...) ou operasse de forma aniloga 20 tettor, essas fontes do sublime”, proporcionendo uma base emocional para a experiéncia estética, Sublime era tudo o que, por reunir uma série de qualidades porticulares, desencadeava uma reagio de impacto emocional violenta. Perplexidade — este estado da alma no qual todos os movimentos encontram-se suspensos devido a certo gra de horror; terror — tudo 0 que parece terrivel a0 olhor: obscuri- dade — esse véu que tolhe o conhecimento da verdadeira extenséo do perigo impedindo o desaparecimento das apreensdes; poder — ‘esse congragamento das idéias de forga, violéncia, dor © terror que at 0 ¢ | de Produtos Industriais de Todas \ atinge nossa mente ¢ dé o caréier sublime ao poder: privapio — esd sensagto de vacuidede, escuridio, solidio e silencio; vastiddo sidade © 0 Teatro Municipal, simbolos de uma cultura faica e durguesa, construgdes solidas, pesadas, majestosas, em uma palavra, Tidade de seryir de cenério para o corso das familias ricas. O conjunto arquiteténico composto pela avenida circular e por esses edificios, aos quais seguiram-se outros também projetados com igual desprezo a qualquer harmonia de estilo, isolava a antiga cidade da parte exterior mais nova. Isolar dispensando muros, esta foi a estratégia escolhida: as ruas da grea central e mesmo as grandes avenidas dos bairros mais recentes nfo se comunicayam, terminavam sempre na Ringstrasse. A particular disposicéo de ruas protegia 0 centro, impedindo o fécil acesso da populacio. subur- bana; “a antiga defesa militar transmute-se em marco da divisio social”. Até certo ponto, as construgdes: mMajestosas intimamente soli- dries 20 processo de reurbanizaci0 das antgns cidades européies, efetuado no decorrer da segunda metade do século passado, indi- cam que elgumas solugSes heviam sido encontradas para superar aquilo que, no final da década de 1820, Carlyle denominara cris estado em perigo. Seus contempordneos, pensando projetivamente, trataram de realizar seus projetos ut6picos, aqui e agora. Conver. cidos de estarem vivendo uma nova era, eles se preocuparam em decifrar os sinais ameagadores desses tempos inaugurais em tudo © que fosse inédito, A experiéncia no trato com a poténcia das méquinas, com mercadorias abundantes ¢ com multiddes fora tra- duzida, pela burguesia, em marcos que, para além de resolverem 08 problemas postos pela concentracao de homens ¢ coisas num esmo espago, alardeavam, através da paisagem urbana, o triunfo de um ato ‘inaugural modelar. A intuicdo burguesa de estar inl clando um tempo novo traduzira-se em avenidas cortando as ci- dades de formas variadas © em prédios monumentais onde se de. monstrava gritantemente @ capacidade da_tecnologia realizar com 95 modernos materiais a sfitese de toda a cultura universal, Cam, pre lembrar, que néo s6 a superficie das cidades fora iransfor. | sada: as redes subterréneas de distribuigio de dguae gis © a de ; colete de esgotos, somadas ds normas disciplinadoras da construsao | em geral, configuravam marcos menos visiveis, mas igualmente importantes, para 9 sucesso desse Projeto constitutive de uma nova estética, O médico francés Parent Duchatelet sublinhou a impor. 45 tincia desses monumentos iteis (sic) 0 avaliar, em 1824, 08 novos esgotos construfdos em Paris: Como so, poucor ar que reflelem sabre es conegiéncas de tal empreendiento! Pordue cuts insalopdes s escolar’ de nowos olor, ignorames quale of meios que permiien conterser Towa sade, como o ar que non crsnda & reapiptve, 9 ralogre arene bir ia, de vane ice, mama des . megnilcos ‘cates, A eaioa detour cage Benitoras end excondud sob a tere “ DEUS EX-MACHINA “Act ig man's axture” (Edmund Burkey® “Were we required to characterise this age of ours by any single ff) the’ Mechanieal (Carlyle, Signe of the Times)** “The history of the world records no event comparable, in it Promotion of human indusry, which tht of the Get Behishion ah the Wonks of Indu a alt Nations 851A are pope mo five 0 Bring inte Comparon the works of human aki? 41 « "° (Henry Cole, um dos principals patrocinadores do evento)" lagem da técnica, acrescentando potencialidades infini as capncidades Ihumanes, impie-se soberana no centro dese ave * "A arte 6 da natureza do home.” Se lertar esa com une tin forte sehen ay arecterear ea nwa épace com um dnc ep, 42 mecinicos na mente ¢ no coracao, ga tendncia fis A arenes manilestordes de nossa. época, nos seus rece neta (mS erpecon Pies (nc) Nes cokes (Carlyle) s+ A kira do mundo do rexue nenhum scoteinentcompende! GE gus Promoct de indus mane a Cea Ee ee ome halen, Navies em 1831. Um grande pove convldou te wee la iad fest al no intuito de promover a comparacio entre (Henry Cole) 46 “ALavenement de Tire machinste a provoqué dimmenses pert ations dans te comportement des homies, dane leur repartition Ar ta tere, dass leurs entreprises: mouvement ierdjrind de cor centration dans tes villes da faveur des vitesse mcaniques, bo. luion brute ef universlle sane précédent dans Tstorre. Le chaos estentré dans les vies.” (Le Corbusier, Caria de Atenas, 1935)" sensibilidade, Sua tradugio maior, a méquina € todos os mecanis- mos derivados dos mesmos principios, preenchiam 0 vazio deixado pela desagregasdo final de formas multisseculares de orientagéo. No pélo oposto, a imagem do homem desnaturado, subtraido de qualquer esséncia vital, reduzido a autémato ¢ a sidite do maqui- nismo. Imagens solidérias de um mundo onde os homens haviem caido no armadilha de suas préprias artes. A interpretacio otimista desse quadro, ao invés de atenuélo, acentua sinds mais seu caréter constrangedor, Saint-Simon talvez Pertenga a uma tradigio de pensamento do século XVIN, © sua aposta desmesurada nos principios da mecfnica de Newton trans- postos para a sociedade indique uma experiéncia de vida néo atin- gida pela presenga marcante da fabrica mecanizeda, Em sua fantas- mag6rica sociedade mundial dividida em quatro partes, indisfarcével em sua pretensio totalizante, Saint-Simon confere a Newton muito mais do que a condicfo de patrono; déJhe a dimensio de um ser privilegiado a quem Deus “conflara a direcio das luzes ¢ a tide- Yanga dos habitantes de todos os planetas”, E mais, Deus impunha agora, como representante seu sobre a Terra, um conselho de sé bios (mateméticos, fisicos, quimnicos, fisiologistas, literatos, pintores © misicos) dotado de todos os poderes, inclusive o de efetuar a partilha do mundo e 0 controle de seus habitantes." Sua utopia, tal como outras projectes totalizantes com bases cientificas, nfo 'se contentava em colocar a ciéncia positiva no fmago de uma nova religiio; a ela atribula o poder de insti uma nova organizacio social.” A rigidez da utopia sansimoniana encontra sew equivalente irdnico na literatura critica de Charles Dickens, Coketown, a cidade industrial de Tempos Diffceis, nfo tolerava. pessoas quc se negessem & sujeifo do trabalho € do raciocinio légico baseado em fatos bem comprovados: expulsave-as. © 0 advento da era do mecanismo provocox grandes perturbapdes no comportarienio des homens, na sus disribuldo sobre a terra, emi seus enire. ‘endinentos; movimento irefretvel de concentrapio nas cidades, Jovorecento as velocidades mecinicas, evolupio sem precedenter na hstria. O coos enirou mas cidades.” (Le Corbusier) aT + | Nela no havia Tuga 3 in geasionalmente, que se deixassem if para aqueles que se perdessem, pelos caminhos do devaneio e da meditacgo, ou lever pelo instinto © pelas emogies, De qualquer Mmansira, dado que a cidade nio tinha dimensdes planetérias, os ‘Proscritos poderiam, discordancia néo tem espago algum para secial de Saint Simon, & comparecer 90 ma discriminado polos fiGis como ini walquer parte do glot homem, de {quatro} divisses..."=" Uma concepgio 3 suas qualidades. ‘A projesio da sociedade organizada ciss 6 paradigmética para se avaliar a extensio da armadilha, Fourier também ideslizou uma forma de organizaga em tese, buscar acolhida em outro lugar. A se refugiar na idealizagio todo aquele que se recusasse, por exemplo, tusoléu de Newton para 0 culto coletivo seria igo. Em suas palavras: “Todo bo, estaré ligado a uma dessas estética sublime em todas pelos preceitos das cién- iefhava 4 um maquinitmo, “As engrenagens de paixdet, a coope. raglo complexa das_palxes icbtides por analogia com a estrutura de méquina, lcol6gicos. Este maquinismo humano produz so construgses utllizando meteriais © pais de Cocagne”, afirma Walter Be da poesia e da religiéo, infinito”, configura-se fat mecénica, tinha seus hori dugio do que havia nessa di tiva da recompensa ou pel jamin.” Levar ao. limite ica, pasando pela técnica e pela ciéncia as atividades umanas, até 0 caos ou a desteuigio la préptia sociedade, a progressio é' direta. imensiéo interna do conhecimento, a ciéneia da ‘nculada “As forges ¢ energias do amor, do medo, da reflexio, do entusiaemo, todas de cariter verdedeiramente vital ¢ Para o homem. Atado & cifncia da tes reduzidos & dimensao finita e A repro limenso, motivado somente pela expecta: lo medo da punicdo"” Era a perda da mem que Carlyle denunciava (prenunciava?). 6 humanas inalterdveis, as Fm sua representacio, © homem mecdnico contentava'se em no, produzir mimeticamente os movimentos de criador passava 3 de tentes © em condigées de fem relagio ao mecanismo autom: Carlyle Jeva esse seu raciocinio até & pois com @ mecéni da maquina: da condigéo mero transformador de materials jé exis. inferioridade absolutamente acachapantes ltimas conseqiiéncias, introduzida no eérebro, “o intelecto, 0 poder hrumano de conhecimento ¢ de erenca, havia-se tomado queve sina, nimo de légica, ‘ou seja, o mero poder de organizar e de comunicar; Pesquisador de causas ¢ efeitos, seus cétebros thos-ldgicos, que & semelhanca dos'moinhos mec&. nicos twituravam tudo © que viam pela frente, Satisfariamse com Sciiborasdo de sistemas € teorias explicativas acerca de tudo, cujo Garter transitgrio ficava mascarado pela implacével determinsgac de seus postuladores de apresentarem-nas como verdades ctemee > F222 imagem de moinhos-tésicos com a funcio de reduzit 2045 formador tudo o que jé fora criado, tanto no ambito intelecteal como no material, & forte o bastante pera representar plasticamente 4 degradagao da curiosidade mental do homem. Enfim, acho que podemos formular a questio por Carlyle: 0 que esperar de uma €poca em que os homens, esquecidos de sua Sondicdo de xladores © produtotes das artes © dos mecanismon, fe gulorepresentavam como criaturas © produtos da maquina? Ampir tada metade de sua condicSo humana, perdido o equillbrio ere a dimensio interna ¢ a externa, converiido em pura exterioridade, sua postura intelectual limitava-se a fazer sombrios vatiein: &e avaliacdo. Conseaiitncta direta: impossibilidade de qualquer in- fervengao modificadora © saneadora dos males sociais. B eisee on contravarnse por toda a parte. A miséria indigente. entulhando a Urinelpals tidades inglesas, o desemprego eausado pela mecanizacto ge indstria, a insanidade do movimento cattista, a tiranie shel i is a8, todas anomalias so- Concebida como uma Maquina, a sociedade deveris por Melo de seu préprio movimento, manter naturalmente em equilitess Perteeagens, eliminando aqueles que no se ajustassem com perfeigéo. Ore, 0 erro dessa concepyao tornava-se mais evidente uando.os problemas criados peta. m ter a idéia puramente administrativa de Boverno © de politica, “Os ens $80 somente por seus proprios interesses. O bom forgrmo constitui um equilrio dosses interesses”: essa renga, cojoe fundamentos encontravar Uma vez exposto largamente 0 dominio da mectnica sobre os compos © as mentes, Carlyle avanga até a outra extremidade da 49 ¥ © caos, a desteuicho da sociedade. Esse movimento pro- gressivo, advertia, a0 contrério do que se pensa, no € fruto da * Revolugio Francesa; ela, sim, faz parte dele e constitui ser mo- mento explosivo mais feroz. Esse movimento reaparecia nas rebelides dos carbondvios, em tumultos politicos na Espanha, em Portugal, 1 cia, e nas palavras escritas nos livros. Em’ uma frase: “a época eth doente © desarticulada”. As modificactes introduzidas pela forga mecinica no edificio social aumentaram em muito a riqueza, mas também destrufram as antigas retagdes criando uma disténcia abissal entre ricos € pobres: essa a grande questo colocada para uma detida reflexio da Economia Politica Dez anos depois, sob o impacto do movimento operirio na Inglaterra, Carlyle se'toma mais veemente, criticando a cegueira dos membros do Parlamento perante os rumos insanos do Cartismo. “A imagem portentosa da Revolugéo Francesa € retomada e sua dimenséo européia sublinhada com énfase. Ultrapassando a dimen- sio geogréfica desse etorme fendmeno, o autor designa sua longa durago (meio século) © seu significado fundamentel de revolta das classes baixas oprimidas contra as classes allas opressoras e negli- gentes. A fim de nfo deixar divides, assinala os sinais explosives de sua presenga na propria Inglaterra: “esses cartismos, radicalis- mos © outras infinitas discrepfncias sio nossa revoluedo jrancesa’’™ © potencial destruidor dos trabathadores unidos em seu descon- tentamento configura o argumento estratégico de todo 0 ensaio © atinge © paroxismo no ultimo capftulo, quando pinta com cores escuras um futuro somibrio de cinzas e ‘escombros para 0. mundo se petmanceessem desregulados e ca6tioos os assuntos relativos. 008 24 milhées de trabalhadores. O clima de tensio emocional cuid: dosamente construido © mantido no decorrer de nove capitulos & subitamente suspenso pela apresentagio de uma solucio salvadora, que permitiré & humanidade transitar da escuridio para a claridade: © poder do intelecto bem formado; os valores humanos levados em conta ¢ devolvendo ae integridade aos homens. A poténcia da lumi- nosidade do intelecto transformando 0 eaos em mundo: fiat tux.” © trinsito répido das sombras para a claridade alivia a ten- séo na mesma proporge em que confere maior densidade 2 ¢=- curidfo. Séo centenas de homens pobres e sem emprego encerra- dos atrés de cada muro alto das casas do trabalho, sto milhares de irlandeses miseriveis ¢ famintos manchando de negro (odas as sidades inglesas, € a insanidade coletiva dos trabalhadores injus- ticados, € @ cegueira dos parlamentares e dos homens cultos, 6, enfim, (© movimento de 1789 com seus horrores e crimes, com © morticinio de mais de um milhio de pessoas, todas imagens cho- 30 cantes, que se sobrepéem dando conteido & idéia de escutidio. Ao tomar a Grande Revolucéo como paradigma — ‘a Revolucéo Francesa é vista, ou comega a ser vista em todos os lugares, como 0 fendmeno culminante de nosso Tempo Moderno” —, Carlyle acrescenta ele- mentos & analogia sempre retomada entre a ma disposigo da classe frabalhadora com seu potencial destrutivo e 0 movimento francés iniciado em 1789 A mesma imagem, deslocada para a condicao de ato deslanchador de um processo portentoso, foi elaborada por um filgsofo escocés pouco conhecido, em um ‘relatério de 1816, 20 Conselho de Agricultura de sua regizo: “A moralidade ¢ os costumes das ordens inferiores da comunidade ttm degenerado desde os primeiros tempos da Revoluglo Francesa.” Degeneraclo, no caso, significava a adesio dos jornaleitos do campo & doutrina da igualdade ¢ dos direitos do homem.® Até Cobbett, combative propa- gandisia das idéias radicais © jornalista fundador da imprensa radical popular inglesa, partilhou da construsio dessa imagem apa. vorante: uma tal multidio de terriveis harbaridades, que os olhos nunca havism presenciado, a lingua nunca expressara ou a imaginago havia concebido, até o comego da Revolugao Francesa.” © que nio o impedia de reconhecer as péssimas condigdes de vida do homem pobre do campo sem terra: “Avaneamos dia a dia para tum estado no qual existitfo somente duas classes de homens. os senhores ¢ seus abjetos dependentes.™ A percepeao de coisas que parccem inéditas, assustadoras, po- derosas em sua force, infinitas ou com seus limites velados, porten tosas enfim, compée essa nova sensibilidade no século XIX. A forca de atos inaugurais, com seu cardter revelador de coisas antes submersas, © com seu poder transformador, fica para, sempre marcada na grandeza da imagem construida pelos homens que pre- senciaram a imposicio da méquina e se chocaram com a revelacio Piblica des necessidades e expectativas dos homens pobres A francesa Flora Tristan, aventureira ¢ culta, langow-se, como muitos de seus contemporéneos — Engels entre eles —, numa vie. gem pela Inglaterra, no final da década de 1830, Suas observagdes, feitas sob © impacto do movimento cartista, repetem as de seus conterraneos, 0 historiador Michelet © pesquisador ‘social Buret, € as de Cerlyle” Estavam convictos de que as méquings ¢ © extrema divisio do trabalho cindira a sociedade inglesa em dole grupos entagénicos numa dimenséo sem precedentes, ultrapassendo em muito os resultados da revolugto de 1789. A mesma adverten. | cia sobre a necessidade de se prestar atencao aos sinais assuste, dores que apontavam em grande nimero sob a anaréncia do po. derio, do fausto © da riqueza da Inglaterra. E dat a distinese feita entre o simples viajante, que se limitava a percorrer os belos 51 ‘balrros londrinos © os lugares piblicos freqientados pelos homens de dinkeiro, «'0 observader, que ia alean da aparéncia e niio podia evildr a visio da “imoralidade sem limites a que conduz a sede de ouro ¢ as misérias horrivels de um povo reduzido a fome ¢ a ‘cruel opressao”." | Importa frisar que os trabalhadores assolariados também parti- slparam da constituigto dese paradigma, Num longo depoimento, tum operfrio da indistria téxtil de Manchester expée, em 1818, as condigdes de vide de patrdes © operirios apés a introducéo da méquina na fiagdo do algodio. A substituicso das miios habilidosas dos homens por instrumentos velozes criara desemprego © num curto lapso de tempo destrufra todo um sistema de produgéo be seado em pequenss oficinas montadas nas préprias moradias dos mestres-patroes. A redugio do homem a0 dominio mecinico tam- bém esté assinalada em cores vivas, de modo a deixar claro que ganfincia de lucros dos patties proporcionada pela mecanizagio da inddstria correspondia 8 degradaso do trabalhador e de sua femiflie, arrancados de casa antes do amanhecer, trancafiados por freze ou quatorze horas num ambiente asfixiante e alimentados Precariamente. Ainda méquina ele atribui o distanciamento entre © patrio ¢ o trabalhador; distincia constitutiva da diferenca entre eles, que destazendo antigos lagos de trabalho, tornara-os inimigos.* Contudo, as observacées do trabslhador permanecerio no dm bito da demtincia e do dcpoimento, num momento em que a dife- renca entre o viajante ou transcunte distraido © 0 atento obser. vador culto vaise tornando significativa® Ir além des aparéncias implicava formaco intelectual e disponibilidade; 0 othar do observador atento é um olhar armade para analisar 0 que vé, de- ‘compor ¢ refszer a ordenagio das partes constitutivas daquilo que, para o olbar desarmado, permaneco em sua unidade acabada, Avaliada a partir de planos diversos, as relagGes entre os homens se v6 transjormada em objeto de estudo, J4 nos titulos dos tra. bathos essa atitude se faz explicita: A populapdo trabalhadora das manufaturas inglesas [objeto]: suas condigies morais, sociais ¢ ft. sicas [os vérios planos de anélise] e as mudancas ocorridas com 4 introducio da mdquina a vapor [causa das mudancas]. Com esse longo titulo, eliminados os colchetes, Peter Gaskell (1833) definia luma intengio de conhecimento orientada, ndo cusualmente, por pes. quisas anteriores, tais como a dissecaglo de cadaveres no Colegio Real de Londres Esse olhar preparado pera uma anélise metddica de um objeto definido € bastante diferente do olhar de Louis Sebastien Mercier que. na década de 1870, redigiu Le Tableau de Paris. Mercier andara infindavelmente pela cidade observando o desenho fisico de 52 Suns russ ¢ casas, mas também anotando a apatencia ¢ os hibitos de seus variados habjtantes. Com @ meméria saturada dessas obser yacoes miltiplas, cle buscara reftgio em um vilarejo dos Alpes, no inteito, de suspender os estimulos visuals e com isso. constituir fine distincia efetiva que the facultasse produzir wm minucioso inventério de pessoas e coisas. O resultado é um quadro plano; Personagens divididas em oito categorias maiores, hierarquizadas, ue, Por sua vez, se desdobram em varias subdivisdes ¢ que mesmo assim niio dio conta de todos os tipos de pessoas. O recurso sede or Mercier para otdenar os inimeros estimulos visuais fora cons. fruit uma distancia fisica efetiva” Edgar A. Poe também elabors Sekanize imediatemente os estimiulos visuais que recebe e pela apa ou seja, pela extetioridade das pessoas, sente-ce capaz falar sobre suas ocupagées © seus enscios. Como intuito de pas Frantivera © observador recluso por um longo tempo. litera na condigio de anaiste socal, embora seu i nna figura do observador-personagem perca deca tPacidade analitica quando, levado pela curlosidade emniva deisn seu posto de observador se langa na twa nirds’ do homer © método de Gaskell € outro; ele parte deliberadamente de um Sradro conceitual — o paradigma do ser moral, do ser social ¢ do Ser fisico do homem — que the permite usar cuae anotaySes oo de outtos para avai Tee yiiz Parte de wm quadro classificalério prévio classes trabee Ihatloras. Seus trabalhedores, tal como 08 fiadores © os peices ten feciay PEO operdrio manchesteriano, tém profundidade, uma historia rida antes © ands a presenca da méquina; elas, coledvamente, & fransformaram em objeto de estudo e em categoria anaes, & Semumeante © Predominio dessa forma de confccimento que Catigle demuncia, chamando-o mecunicista. Por um lado, um stfeito mete ge mera exterioridade © amparado por um quadro conecteal de outro, © objeto, seres sem armado implica a mediagio do conceito que permite desmerabra & exemplo da dissecaso anatémica, a figura acabada. Mera. ope, 33 Epes. sracto reflexiva que comeye ¢ acaba nto mesnao lugar. Dos dois ledos, temis homens reduzidos a autdmatos, atados — mentes, coragdes — A concepgéo mecfnica do mundo. Automatos sio as per- sonagens literérias © 05 trabalhadores ingleses que, esvaziados de contetido essencial (identidade), adquiriam a condigio de massa ede classe; autématos so também os analistes sociais que haviam perdido posse do conhecimento introspectivo. FIAT LUX “Slow the city grew Like coral ree} on which the builders die Untit it stands complete tn pain and death. Great bridges with their coronets of lamps Light the black stream beneath: rude ocean's flock, Ships from ali climes are folded in its docks; ‘And every heart from its great central dame To farthest suburb is a darkened stage On which grlef watks alone” (Alexander Smith — A Boy's Poem, 1857)* Hopital, tupamar, purgatoire, enfer, bagne Oa toute énormité fleurit comme une fleur. ‘Mais comme un viewx pailiard d'une vielle maliresse, Je voulais mienivrer de Pénorme catin ‘Dont te charme infernal me rajeunit sans cesse, Je Paine, 6 capiiaie infemel Courtisanes Et bandits, tels souvent vous offrer de plaisirs Que ne comprennent tes vulgaires projanes. (Baudelaire ~- Le Spleen de Paris)** = Vagarosamente a cidade cresceu Como ume formacto de coral, onde of construtores mocrem Ate que se complete em agonia e-em ore Grandes pontes com seus dlademas de Ismnpadas Tminem as excuras correntes abaing; rebanho do ride ocean, Nevigs de todos on climas enzo fundeados em suse’ doce; Eeada voracio, desde seu grande domo central eo mat engage subibo um palco apagado: ‘Onde cad testers cxminhe sozinba (Alexander Sanith) 1 Hospital, tupanar, purgstrio, inferno, prisio Onde toda monsinioridade dembrocha con tina fr. Wise ‘como um velho iitertino de uma velha’ peodtibata, cy “A suction so powerful, felt alog radit so vast, and @ consciousness, at the same time, that upon other radii stti more vast, both by Land ony Se, the sane, ston operating. night and. doy, summer and winter, and hurrsing forever Into one centre infinite meus needed for her tnjmite purposes, and the endless tributes 10 the skill or to the luxury of her endless population, roms the bmainaton wit pom to which dare noting corresponding upon this planet, either amongst the things that have ‘been or the things that are.” (De Quincey — The Nation of London, 1881)* “The city delights the understanding. Tt is made up of finies: shart, sharp, mathematical lines, all edleulable, It 18 full of varie- iis, of successions, of contrivances. (...) It is the School of the (Emerson — The Journals and Miscellaneous Notebooks)" Nas percepcdes da cidade do. século XIX, a alegoria do mons- tro conjuga & imagem do mecanismo a imagem orginica de uma criatura monstruosa. A cidade, negacao da natureza, artifical, agres- siva a tudo 0 que fosse natural, figura a dimenséo mais ampla do maquinismo, A representagdo do proceso de produgo materiali- zado na fébrica — 0 moinho satdnico devorador de homens — desdobra-se até atingir a dimensio imaginéria da cidade. Nos textos Poéticos, literdrios © de pesquisa social, o grande mercado perma- nente instalado nas russ © nas docas de Londres — 0s simbolos brasonados dos comercjantes expostos nas fachadas das casas de ‘me embriagar esse enorme meretricio (0 infernal me rejuvenesce incessantcmente, # Cortesas ‘bandidos, eles freqlientemente te oferecem prazeres Que os profanos vuigares nko podem comprecnder. (Baudelaire) Uma sucgto tio poderosa, semtida através de um ralo to vasto e, simul lancamentc, ‘ama conscigneia’ de que em outros alos. ainda malores, temo, Pigscna ered nat mena kiko el acoteenda wie dn ero ¢,laverio, ¢ precipitando sempre para umm dnico centro os infinios icles Aeree, sérios para seus propésitos infinitos, e os inesgotaveis tributos para 2 habilt, dads ou para o ltxo de sea populagéo infindaeel aattotsry 6 lms pompa stim similar corrspondente nese planeta; meen> eat ‘ime jh exstiram ou que sinds exislems , (e Quincey) sr jd cidade seduz = compreensto. Fla € feita de finitudes, linhas curtes, agudas, mateméticas, todas calculéveis. E repleta de variedades, de tuccesdes, de dispositivos, (...} # a Escola da Razko. (Emerson) 35 comércio, Gnica identidade num espago de anonimato ¢ de continua movimento — cindese e em suas brechas aparece a presenca marcante da produgao. Sobre a imagem da capital politica, comer- cial ¢ financeira do pafs ¢ do mundo, acrescentam-se imagens das cidades industriais do norte da Inglaterta; sobre a imagem de Paris, sobrepde-se a da cidade de Lyon. Imagens contraditétias vio entretecendo uma concepgao de ci- dade: 0 crescimento lento, similar a0 de uma formagao de coral, ‘contrapée-se & imagem do crescimento rapido, violento e desmesu- rado, que desfigura esteticamente 0 tragado urbano e seus habitan- tes; @ finitude de linhas gcoméiricas © as concentragdes humat mecanicamente disciplinadas quando, no trabalho, contrapSem-se as multiddes despidas das caracteristicas de humanidade, disformes ¢ moldadas pelas dimensdes das ruas por onde se arrastam. Em todas essas imagens 0 recurso as metéforas € uma constante. As ondas, as torrentes ¢ as lavas yulcdnicas, manifestacies incontroléveis ¢ ouco previsiveis do mundo fisico,”acrescentamse também © curso ordenado dos rios; 0 molusco, a eriatura monstruosa, e também ‘© corago, o cérebro ¢ a circulacio sangiiinea. Todas confluem numa representagiio da cidade onde os principios da mecdnica universal, © lento imutével da natureza ¢ as figuras orginicas de cor. pos e de criaturas ‘monstruosas, embora produzidas pelo homem, se confundem, E diffeil delinear uma nftida divisio entre tepresentagées. me- cénicas e orginicas de mancira a estabclecer duas linhagens de sen. sibilidade. Até onde se pode afirmar, por exemplo, a independéncia da concepsio mecinica da dupla citculagéo sangiiinea, do corpo orginico que a contém? A préptia concepgio de cidade, desde sem- pre relacionada a um espaco fechado, persiste nos registros atOnitos da expansio inédita e imprevisivel dos niicleos urbanos. As mura: Thas medievais so destruides, 0 tracado das ruas refeito, suas sinuo- Sidades vencidas pelas linhas retas © a grande dimensio das aveni- das. © caréter defonsivo da sidede deslocsse doe neces para a vigilancia policial constante ¢ substitui o estrangeiro por um ini migo potencial presente no diaadia da cidade. Existe uma nitida vinculacdo entre a representagio da cidade envolta pelos muros ¢ a formulagao da idéia de um meio ambiente turbano degenerador das forcas fisicas e morais dos homens: como também & nitida a solidariedade entre essa idéia ea figuragao de multidées de pobres afluindo pare os centros urbanos e se amon. toando em casas, pardieiros, becos e runs.” Uma cidade, para a qual as classes governantes haviam buscado o controle do seu crescimen- to desde os finais do século XVI, movidas pelo receio de distttbios Provocados por homens arrancados da terra pelos cercamentos das 56 / propriedades, a presenga de milhares de pobres fazia-se assustadora devido aquilo que se considerou um crescimento docntio.” Raymond Williams afirma que, mesmo no século XVIII, as imagens de Londres (e da cidade em geral) sto contraditérias. ‘Re- conhecidamente a maior cidade do mundo civilizado inspirou a Voltaire uma comparasio com Atenas, onde progresso e cultura sig: nificavam escola de civilizagéo © liberdade. Adam Smith conside- rou a cidade como um lugar seguro pare a indistria oriunda do campo, dado ser um centro de liberdade e ordem em estreita de- pendéncia com um centro mercantil. Blake, londrino e comerciente, concebeu a cidade numa linguagem de comércio, mas também como um estado mental sistemitico, Por outro Indo, Tucker antecipou para Londres, em 1783, a imagem do grande tumor, que seria relo- mada por Cobbett no século XIX: “Londres, a metrépole da Gra- Bretanha € hé muito tempo Jamentada como uma espécie de mons- fro, com wma cabeca imensa, em total desproporcio com seu corpo”. © mesmo ocorria na literatura: autores como Pope © Swift otimis. ticamente transferiam para a cidade os valotes convencionais de icdade aristocrética rural, € onde outros, tais como Hogarth ¢ Defoe, visualizavam a negagio de uma ordem civilizeda nas figu- ras da multidéo insolente e dos trabalhadores debochados." Essas ropresentagées contraditérias da cidade no podem ser desvinculadas do debate politico inglés frente ao movimento revo. Iueiondrio na Franga ¢ da apreensio causada pelo encontro de uma tradigo politica radical inglesa com o jacobinismo francés. No de- bate digladiam-se duas concepydes de sociedade civil e de Estado, cujos ergumentos se apoiavam em duas interpretacdes conflitantes do contrato constitutivo da propria sociedade. Burke, nas décadas finais do século XVII, tumultuades pelo movimento revolucionéric. de Franca, assume uma posigio critica aos principios liberals vigen. fes e que, na verdade, iriam prevalecer no século seguinte, Partia do pressuposto de que esse contrato nfo podia ser entendido como um mero contrato comercial unindo interesses ocasionais, Numa linguagem em que os termos comercisis estio deliberadamente pre- semtes, firma que 0 contrato constitutive da sociedade “deve ‘ser fechado com uma outra reveréncia, porque nio se trata de uma sociedade comercial envolvendo coisas que servem somente & exis. féncia animal de caréter tempordrio © perecivel. Tratase de uma associagao de toda a ciéneia; uma essociacao de toda a arte; uma associagia de cada virtude © de toda a perfeicao. Como as finali- dades de tal associagio s6 podem ser obtidas em muitas geracbes, torma-se uma associagio nao 56 entre os que estdo vives, mas entre es vivos, entre os mortos e entre os que vio nascer” 7 +, Sua critica & sigdo smithiana de uma poss(vel harmonia ‘universal, se deixac as necessidades ¢ desejos humanos livres de qualquer injungio legal, € nftida, pois considera muito exiguo o estoque de razio de cada individuo. E mais, numa linhagem de pen- samento que remonta a Hobbes, Burke define a preeminéncia do governo sobre os homens, 20s quais deve sujeitar em suas paindes, Para atender ss necessidades humanas; um governo externo a so- ciedade civil, um poder externa aos homens ¢ nio o mero exercicio de uma funglo sujeita sos mesmos desejos ¢ paixées, que é de sua ‘obrigacdo frear e subjugar.” Reconhecendo a nstureza inteiramente artificial da idéia de povo como corporagio, uma ficgao legal entre Outras, distingue-a pelo seu caréter de acordo coletivo, a partir do qual, a sociedade, a existéncia propriamente humana, foi forjada* A idéia de napa0 como constituisgo feita por circunstincias, mo- mentos, indoles © disposigdes peculiates © hébitos morais, civis ¢ seciais do povo, néo nos permite indieé-lo como o pai da concepso orgtinica da sociedade do século XIX, mesmo entre aspas, como fez Raymond Williams; 0 cardter totalmente artificial da sociedade que concebe nos impede de entaizé-la na natureza isica; ela pet~ manece vinculada a uma convenco baseada na natureza humana voltada, diferentemente de qualquer outro ser biolbgico, para a busca da perfeicio. $6 no século XIX, a resisténcia dos trabatha- dores 80 dominio do tempo e do ritmo do trabalho fabril dard | ensejo # discusses que reduzem os hotmens, em especial o homem Pobre, &@ condigso biolgica, igualandoo a espéci um todo. Foi Towshend que, langando mao da fabula dos cies e das cabras deixados numa ilha & livre injungfo de suas necessida- des primétias, demonstrou a inutifidade dos dispositivos legais, na medida em que 0 préprio aguilhdo da fome consistia no estimulo ais eficiente ¢ silencioso para assegurar a permanéncia do homem no trabalho em ritmo disciplinado:® Quatro. décadas depois, Carlyle retoma uma posigao polftica muito préxima & de Burke, em suas criticas a Jeremy Benthen e @ John Stuart Mill. Considera-os descendentes diretos de Locke ¢ de sua concepeéo mecanicista da sociedade, e hes atribul uma par. cela substancial de responsabilidade pela infiltragfo dos principios da mecdnica até no mais recdndito do ser humano, “Para os colhos de um Smith, um Hume ou om Benjamin Constant tudo esté bem quando funciona silenciosamente”. A referéncia ao siléncio tinha explicita conotacao politica de critica aos que como Towshend acre- ditavam nos imperatives da existéncia material como elementos su- ficientes da vida humana. Para Carlyle, os valores morais, as idéias dos homens em busca da perfeigo constitulam a alma politica do corpo politica e nio podiam ser desconsideradas sob pena de re- 38 imal como nascerem em movimentos conflitivos e ameacadores da sociedade-” As _mesmas criticas encontram em Charles Dickens uma forma lite- réria de amarga ironia. O Sr. Gradgrind em seu observatério reduz todos os dados sensfveis e fatos bem documentados a cifras; sta erenga na verdade indiscutivel dos niimeros levao » considerar a estatistica a melhor forma de conhecimento. Dos tempos dificeis, em Coketown, ninguém escapa; 14 a vida significa uma perpétua movimentagio que, & semethanca de um mecanismo, deve ter engre- ‘agens perfcitas, rejeitando as defeituosas ¢ as gastas. Carlyle, um politico, possui uma fé inquebrantével no poder do intelecto bem formado © no seu poder de lideranga (luz) esclarecedora para os mais humildes. Partilhava com seu opositor, John Sturt Mill, da opiniio que de resto coincidia com a da maioria dos vitorianos cultos, sobre a incomplets morelidade e racionalidade do trabalha- dor, discordando dele, entretanto, quanto a sera democracia ou © sufrégio universal mesculino uma forma institucional plausfvel Para evitar um confronto violento entre assalariados ¢ patties. Ne- gando a0 homem pobre a capacidade de orientagio prépria, Carlyle Afirmava que as comogées populares eram insanas e significavam “urros, gritos indistintos de uma criatura emudecida pelo dio e pela dor’, Os gritos de multidio podiam ser traduzidos em preces, em Pedidos néo formulsdos de socorro: “Guiem-me, governem-mel Eu sou louca € miservel ¢ néio posso guiar a mim mesm: conclaséo de que “de todos os direitos do homem, o direito do ign ante ser guiado pelo mais sabio, de ser pelo bem ou pela forga mantido no caminho verdadeito, representa 0 direito mais nobre”. E mais, estava inscrito na propria natureza da sociedade essa lute Pela perfeigio, 0 que conferia o verdadciro significado & palavra Uberdade." Daf ter visto na Nove Lei dos Pobres, de 1856, a vitéria do selj-help (do salve-se quem puder), e da repressio pura 20 ho- ‘mem pobre desempregado © 20 miserdvel, © no desinteresse da bur- guesia inglesa pela condigio operdria no’ pais, um desvio do olhar Para ndo enxergar a criatura monstruosa que cla propria fabricara. A burguesia optare por uma outra solucio para a reconhecida gra. vidade do problema da pobreza indigente: pagar para que outros cuidassem dos transfugas sociais, e os mantivessem afestados dos seus negécios € dos seus Tares. Essa sua convicgio s6 serd abalada quando, nas décadas finais do século, ficar estabelecida uma vin- culagéo direta entre a produgfo da riqueza numa sociedade indus. trializada © a presenca de um fesiduo humano, subproduto também ele das condicées de trabulho nas fébricas. E’serd Londres, ainda ‘uma vez, que apresentaré a figura mais acabada do homem degra. dado moralmente ¢ degenerado biologicamente, sem fugar no mundo 59 ~ sburgués. A pobreza atingia, enfim, para a sensibilidade do século XE sua dimensio econémica.* Perplexidade perante as grandes concentracdes humanas, num momento em que 2 populagéo urbana da Inglaterra tendia a ultra- passar rapidamente a rural, e 0 operatiado fabril se organizava em Movimentos de confronto aberto com as classes dominantes, fez com que os centros urbanos se tornassem pontos de referencia ‘para ‘8 representacio da soviedade. A cidade iria configurar s imagem J teduzida do: problemético ‘macrocosine socials Presenga assustadora © a0 mesmo tempo fascinante por sua variedade ¢ por tornar acessi- ‘vel um recorte em algo inabarcével. O medo e o fascinio orientam uma atitude exploratéria que faré da cidade um observatério eX tenso, mas com limites delineados, A atividade exploratéria se con- centra, com certeza, no Jevantamento do modo de vida dos homens Pobres trabathadores ou vagubundos, consideradce equivalentes ace ovos selvagens, ¢ seus bairros definides como terra incdgnita, Os ‘observadores — politicos, médicos, reformadores sociais, socieda- des estatisticas — assumem a Postura de exploradores de culturas estrangeiras em busca de uma resposta para 2 questio. formulade Por Carlyle: “Qual a condicao atual da socicdade?"™ Buscouse desfezer » opacidade ¢ as sombras que a orgeniza- ‘elo burguesa da sociedade havia lancado sobre 0 homem pobre. © conhecimento do trabalhador, retomado por intermédio dos pes- quisadores sccisis, compord no decorrer do século pasado © ‘nas primeiras décadas deste uma exter ¢ variada colecdo de relatos, omances ¢relatGris, uma verdadeira “cultura da pobresa’ A pres cupago com 0 péblico Teitor € uma constante nessa literatura’ que no final do século ganha um tom sensacionalista. George R. Sims, escritor € politico de tendéncia radical, descreve os problemas ine- rentes a atividade exploratéria: to (ulcer coer um tom pitoresco para ete cab 4tulo (que signiticativamenie tem 0 nome de Abtindo as comporlas do conhecimento), o que ¢ 100 essenclal para o sucesso de" qual. ‘utr escrito entre a maioria dos leitores ingleses, fornase cada ye ‘mais cparente na medida em que meu grupo de viagem explora regido apds regio nas quais os pobres se escondem para viver 0 ‘melior que podem: Sims discorre sobre as cenas terrificas presenciadas: ratos, pa- tifarias, as mesmas tristes figuras © faces, oito ou nove pessoas vie vendo num tinico cémodo, aluguéis escorchantes absorvendo trés, quartos da renda semanal do trabalhador, a negligéncia vergonho- sa do proprietério em selagio a higiene, assoathos, tetos, parcdes © escadas em ruinas, convivem em perigoca vizinhanga com os cida. imidade se reduz & distanci de um arremesso de pedra." Idéntica preocupagdo com a proximi- dade perigosa dos bairros pobres esté presente ‘nos relatos de pes uisa dos observadores franceses, alarmados com os miseraveis que em grande nimero circundam, com seus pardieiros, os grandes palé- cios © casas comerciais. O pablico feminino & prevenido sobre 0 perigo de contratar os servigos de uma ama de leite desconhecida, Portadora certa das docngas que a mistria carrcga. O crime € subversio politica slo, entretanto, os temas mais desenvolvidos pelos pesquisadores. Configuram as expresses perigosas das duns extre- midades da pobreza: num pélo, 0 embrutecimento da sensibilidade fisica e moral conduzia & violencia criminosa: no outro, a insttw. (68 Tevava os homens d busca das causas da sua condicio miserd. vel © aproximava-os dos fedricos que apontavam as instituigdes po. lihicas como a origem dos sofrimentos do povo." Existe um grande ndmero de pesquisas sobre tais assuntos. Na Franca, da década de 1820, a Academta props pata concurso por duas vezes 0 tema da pobreza ¢ de suas relacdes com a economia social. Morogues, impressionado com o crescimento demografico de Paris, recomenda em seu livro — Du pauperisme, de la mendicité et des moyens den prevenir les funestes effets (1834) — que se fetfrassem os pobres das cidades, onde “se educam na ociosidade, Pervertidos no deboche quando’ empregados e corrompides pela mendicidade ¢ pela rapina quando desempregadox”. Em 1839, apa- rece 0 livio de Gerando — La misére des classes laborieuses ‘on France et en Angleterre ¢ o de Fregier — Des classes dangereuses de te population.” Nesses estudos, a miséria urbana vai perdendo a dimensio ética vinculada & imagem de homens incompletamente moralizados ¢ assume uma dimenséo econSmica. A degradacio fisica © moral da miséria € definida como subproduto da produgio de riqueza nos centros industriais mais ativos da Franca ¢ da. Ingle. terra. © alto custo da pobreza inglesa, pago em impostos pela bur- fuesid, € um argumento usado sempre para alertar sobre as funestas conseqiiéncias do trabalho fabril nao reguludo e do mercado livre de trabalho. Para os dois casos a solucio sempre aponta para a intervencio disciplinadora do governo. O paradigma inglés estard Sempre presente como projesao futura de todo o mundo civilizado, Essa representacéo paradigmética leva Flora Tristan a atraves- sar 0 canal da Mancha para conhecer Londres, visitar seus balrros Ticos © com especial atengio os bairros pobres, entrando nas casas ¢ conversando com seus moradores. As longas incursies de Engels, ‘ha _mesma época, pelas principais cidades inglesas revelam ma intensa preocupacio social na anotagio minuciosa do contraste entre Fiqueza ¢ pobreza, da relagio de reciprocidade entre ostentags 61 do rico ¢ a degradagio do trabalhador, no lugar mesmo onde el atingiam a forma mais radical * ‘A expectativa de um comhecimento verdadeiro leva os observa: dores a se Jangarem % pesquisa in loco dos bairros pobres ¢ muitas vezes a distincia analitica faz-se absurdamente presente em homens ‘que, entre outras coisas, se disfarcam de desemprogados sem eira nem beira, buscando reftigio nas casas do trabalho nas noites de frio. O disfarce objetivava ndo levantar suspeitas e quebrar o silén- cio imposto pela policia ¢ pelos propagandistas da temperanca junto toe pobres tecoThidoe nesses ossn faner Greenwood, um jornalista Jondrino, viveu essa experiéncia, em 1866, pessando uma noite na Lambeth workhouse, movido, segundo cle, pelo desejo de conhecer ¢ tomar conhecida a verdade de ser um casual (homem pobre sem trabalho), “de saber como eram alojados e slimentados, qual a aparéncia deles, as regras a que eram submetidos, enfim, como par- savam as noltes esses prosctitos (outcasts) que se amontoavam ‘nas ortas das casas do trabalho nas noites frias e chuvosas”!* Na dé sada de 1880, sob inspieagto de escritores como Ruskin, Arnold Toynbee ¢ Samuel Barnett, homens e mulheres bemvnascidos se submeteram & experiéncia de viver em bairros opesdtios na condigao de educadores e de assistentes, mas também de pesquisadores, Bea. ‘rice Webb registrou sua estada em My Apprenticeship ¢ Master. man, em From the Abyss, ptetendeu falar como um dos habitantes esses bairros A dedicagio metédica de Henry Mayhew, atravessando Londres durante anos, para realizar um fevantamento completo daqueies que obtém seus meios de subsisténcia nas ruas, encontra equivalente no seu conterrineo Chadwick ¢ no médico francés Parent Duchatelet. ‘Chadwick foi o responsével pela equipe encarregada pelo Pariamen. to inglés de investigar es causas da epidemia de c6lera da década de 1850 ¢ de organizar as informacées para a reforma da Lei dos Pobres; Parent Duchitclet dedicou sun vida profissional & busca dos focos de contégio de moléstins epidémicas em Paris. Os esgotos € as prostitutas, considerados por ele receptores dos dejetos Huma. ‘nos, foram objetos de intensa pesquisa com resultados expressos no mapeamento dos desaguadouros subterraneos da cidade e na regula. mentacao da prostituielo controlada pela policia.” Meyhew levan- tou material sbundante, publicando-o primeiro num periédico lon. drino € depois editado em quatro volumes sob o titulo de London Jabour and the London Poor. Sua condigio de eterno curioso, boe- mio © vagabundo gri-fino ¢ mesmo simpético em relacdo acs ho- mens da rua noo impedia de assumir uma postura analitica que © Tevou a classifieé-los na “grande tribo dos némades que subsistem até nas sociedades mais civilizadas". Nem levantou seus preconce!, 62 do ao cardter selvagem desses ndmades, de “misculos fortes nutridos as expensas da mente”, “de queixos procminentes "mass do rosto altas", ambos indicatives do maior desenvainente na erradicacio dos hébitos degradantes do homem pobre, a maneing sais segura de domesticélos © Uma ceens Perpaton, conta, ot resultados dessas investigagSes: a impossibilidade de ‘conhecimente {otal e/ou verdadeiro desse outro social paradigmdtico, separede ¢ contraposto 20 civilizado por uma outra cultura fsa mpeesis desfrutava a sublime experiéncia estétice da gran- idade da pobreza, sua infinitude, sua opacidade, seu cardtes tor Tilia © poderoso através da vasta literatura que estava sendo con, sumida. A distincia fisica e soci tara de tat mancire que permitia cOmerciantes mais ricos © lava na cidade durente os meses da social. O pub cons. tituia centro econdmico, social e politico para empregadoree e ora. Frcendes, Néo resta divide de que a poletizacao dus potigdes poll ticas no decorrer da Revolugao Froneésa signifieou o ‘nlew devo movimento © ds, separasto efetiva tanto no seu pais de origem como Somente as reformas projetadas ¢ executadas por Hi Sspundo Império, conduziram expulsto ds fobre ae ene & Burguesia um espaco atravessado por largas avenides Hew raga | 6s sérios e comerciantes abandonam a City e 0s baitros industriais criam nos subebios um arremedo do pitoresco rural, um lugar onde se constitui a intimidade a partir do seguro reftigio do lar, imper- ‘mefvel aos problemas sociais, Esses ambientes austeros, repletos de objetos sslidos ¢ durtveis, reproduziam no plano interno a mesma sensibilidade estética dos espagos ¢ edificios piblicos. A burguesia inglesa permanece reclusa em seus estojos, mesmo em tempos de distarbios polfticos, assustada perante 2 presenga violenta de pes- soas que s6 conhecia através de relatérios parlamentares, dos pan- fletos e romances, da imprensa periédica e dos relatos dos explo- radores sociais. Dai a importancia que os intermedirios assumem ara a intencao burguesa de domesticar 0 homem pobre. Se a policia eriada no final da década de 1820 ¢ as casas do trabalho reforma- das, ambas produto das diretrizes da Nova Lei dos Pobtes, se mos. travam insoficientes, a forga do dinheiro devetia criar organizacées missionérias destinadas a erradicar do pobre suas idéias erradas, seus cosiumes imorais ¢ sua md dispesic¢do em relagio a sociedade civilizada.® Néo por acaso, missionérios religiosos ¢ leigos so incumbidos de completar misséo civilizadora da fébrica, da policia e da casa do trabalho. Os trabalhadores ingleses, desde o final do século XVIII, sensfveis as idgias de Paine ¢ do jacobinismo revolucionério francés, ‘mantiveram-se ateus, republicanos e democréticos. num momento fem que os proprietérios tornavam-se mais evangélicos e os peque- ‘nos comerciantes abandonavam a radical London Corresponding Society pelas idéias benthamitas de governo barato, pelas franquiae eleitorais ¢ pelos prineipios da economia politica. A proposta civi- lizadora da burguesia visava desfazer as trevas reinantes no Leste € no Sul de Londres por meio de um programa de cristianizacao e moralizagio do pobre, obtigando-o, quando desempregado, a recor ter & Charity Organization Society, responsével pela triagem que 0 ; indicava como merecedor do auxilio puiblico ou nfo Mirando-se no exemplo da Patis do Segundo Império, também ‘05 administradores ingleses unidos as empresas de construglo pas. sam 2 considerar a moradia popular como ponto central de estraté. ins domesticadoras do homem pobre. A teoria do. meio ambiente urbano perde 2 exclusiva conota¢do patol6gica que The fora atribut. da desde os finsis do século anterior. ganhando os contornos de condicdes manipuléveis e com forga suficiente para formar o homem disciplinado e moralizado. Os resultados das pesauisas efetuadas pelas comisstes parlamentares chefiadas por Chadwick, nas décadas de 1850 € 1840, haviam demonstrado em termos contébeis o alto custo econémico ¢ social das mas condigées de vida do homem pobre. Como seu contempordneo, o médico Parent Duchatelet “aN Ya convencido de que o problema da saiide era antes de tudo uma Questo ienica a ser equacionada e resolvida pela engenharia; © ainds, um problema a ser superado pela instalagao de equipamentos coletivos. © ilustrado Chadwick, convicto seguidor das ideias utili. {aristas de Benthan, caricaturizado com mordacidade por Dickens em Tempos Dificeis, une sua crenga nos principios da Igica mect- nica e o poder trensformador da técnica a teoria (orginica) do meio ambiente, numa aposta ampla de reforma dos sistemas de distr buigdo de Agua © coleta de esgotos na cidade de Londres A cidade adquire @ dimensGo de um amplo laboratério, mas 0 alcance polf. fico de seu projeto, transferindo parcela significativa da tesponsa, bilidade pelas condisdes de sade urbana para os poderes piblicos, § bem verdade que a experiéncia revolucionéria francesa obti- uma convivéncia préxima com a dimensao pols. sociais;, se 0 inglés dos infcios da época vitoriana Pretendeu solucionar financeiramente o problema da. pobreza pot meio de impostos para a montagem das casas do trabalho ¢-pora © assalariamento da policia, 0 francés rico e/ou culto havia se com. Yencido (e os movimentos de 1850, 1852 e 1848 contribufram para isso) de que os pobres nio hesitavam em estender a violencia do mente, os palicios do gin desaparecem, as execucSes piiblices so Susperisas em 1868, as feitas © os rituais de bebidas ¢ lutas entre os membros de oficios diferentes abandonam os centros urbanos, Assim como em Paris so reprimidas as violentas lutas compagnom. niques (de associagbes de oficio) © 0 hébito de ir beber aos demin, 08 as barreiras para fugit ao imposto sobre o vinho na cidade, também o Iszer operério londrino dos pubs © das festas populares ‘nas ruas © parques sofre severo constrangimento A recluse do homem pobre ¢ a eliminagao da excepcionalida- de, até nos feriados e festas publicas, revelaram-se estrategias osas para a intengdo de moldar o cotidiano disciptinade ¢ despo. litizado do trabalhador. casa ou nos clubes (€ visivel a insis- {ncia_por ambientes fechados), os hébitos de poipanta, tempe: fanga. religiosidade ¢ a prética’ de esportes que, como 0° futebol, foram submetidos a regras, eram energicamente divulgades entre 0s trabslhadores. A destruigio de uma cultura popular nio resultou de ‘uma_classe_tral a_imbulda dos _val vida burgueses, porém definiu para a burguesia uma Forma de co- 6s "a eres phecimento ¢ de atuaggo indireta para_a_domesticasé do monstro ‘urbano. Os miusic-halls perpetuaram uma tradigio popular de debo- ‘che € de sensuslidade, porém a tradigio politica radical artesa neles no tinha mais lugar.* No parlamento, a5 propostas de colonizaséo ds pobreza indigente em campos de recuperacdo localizados na in- Blaterra ou nas colénias de seu extenso Império, demonstrava que Coketown assumia o tamanho do pais. Colonizar o resfduo hummano da sociedade industrial significava reconhecer a necessidade de pat- 2s nfo industrializados, capazes de recolher essa escéria da produ- $0 ¢ repor 0 equilfbrio de um sistema que agora atingia a dimensio planetéria.* A importancia dessa nova sensibilidade culta do século XD, expressa na extensa producto intelectual — literéria e cienti- fica —, radica no seu poder de instituir uma nova temporalidade, na sua forca transformadora do terrifico em mito, do imponderavel fem mensurével, do obscuro em identificével. A forga transformadora explicita nas esteatégias propostas fez com que a estética do sublime se deslocasse para o espetéculo das multidaes organizadas nos esti. dios © mas paradas militares... NOTAS 1 — Carlyle, Thomas, “Signs of the Times", in Selected Writings Har ‘mondsworth, Penguin, 1980, pp. 6466. 2 — Sobre us ‘modificagdes a\percepeio do. tempo consultar E. P. Thompson, “Tiempo, Disciplina de Trabajo y Cepitaismo Industcial” In Trade Y ions Remuelo'y Conscienea de Clase, Berens 1979 e Jacques Le : © Goff, “Le temps du travail dens fn ‘crac’ du XIVe stele: du temps weiteea su temps modeme” © “Au moyen Age: Terps de Eglise et temps du marchand fn Pour wn autre Moyen Age, Pars, Gallimard, 1977, 3 — Sobre ot virios ptessupostos pars que o capital encontre 0 traba: tho five no mercado, ver Karl Marx, Formaciones Ecoromicar Precapttlisen, Cordoba, Cuadernos Pasado y.Prosente n- 20, 1974~ ‘4 Para a dissolucto de antgas formes de producSo, ver K. Merx, op- cit, ¢ © Capital, caps. XIIT "A esoperasio", XIV PA divisto do abeibe Ce manofature” e XV" de inddstria"y também EPs Tome ase Obrera, Barcelona, Lala, 1977, sol ces humanes livres de inungoes elie item a harmonia, ver A” Smith, A rigueza das nopbes, Sao Paulo, Abi Col tural, 1985, Colegio Os Economisias, '5 — Cf, Thompson, “Tiempo, Disciplina de Trabajo y Capialismo”, op, it. pe, 239.265, © ~ Cl. Robert Storch, *The plague of the Blue Locusts, Intertational Review of Socta History, vol. XX, 1913, Von Goreum, pt T= Sie on pp, 1, 8 ~ Tavlos” Nicolas, "The Awful Sublimity of the Victorian City” tn The Victorian Ciiy. Images and Kealites, London ond Beston, Routledge, ad Kegan Paul, vol. 2, pp. 431-447, 9 — Ibid, pp. eis436. 66 "GHP ~ A Bee do Capt, Rio de lancit, Pare Tete, 197, cape 3, 14 os, pag — M8 Asa Briggs, Victorian People, Harmondsworth Penguin, 1980, : Cepluale du XUX* stile" in Oe UL, Potsie et Révolution, Paris, Deno, 1971, pp. 123-125. ee 1S Tayoe, Nv op, comendon eae 14 — Beniamin, Walien ob cles pine 15 — Para exas Autora: @ in © espago piblico. Pare pre: nivel or outros ‘de sun eipcie ia em sua singularidade, ox gregos consideraram ec o lugar onde a pelayra ea agdo. tina ‘no mundo antigo, obedeceram a esse de- 2 se Janeiro, Forense/Universitéria, 1981, 2 caferas pblica e_privad Foehomke, Carl E.. Findesidcte Vienna, New York, lom 1981, cap. ik: “The Ringrase, ts ces ind ihe Bok’ of Ue Neder p43 ty pp. 231253. ~Giteds por F. Bem ogres ‘anglaice du coafor” in Recherches n? 24, Fontenay-sous Bois, 1978, p. 160, seal ‘ 1 igs ss habitat de" Centre” ee contmporsngs, 1803, in Sian Matio Bravo, Ler soccer evant Mars, Fase Mapers ra, 1 it oor 12-5 echo, Paul, tes Temps des Propketes, Pati, Gallimard, Be 28 sep prs o pensamento comtrvator do nécue XIE yet fe Roberto — 0 Cansernatriano,Remantcy, Brae ae 20° Saint Simon. op. ct. pp Be 21 — Benjamin Waller. op. pp 126127. 22 = Cathe ‘thomas op. et pa Bo es = IEE pe. 7071 6 “Chantism”, Selected Writings, op cit, pp. 169170 gies ted Writings, op it, p. 68:70, = thie nomen, “Chasm”, op. ct, pp. 85484, 27 —~ Ibid, p. 223. OP ies PBs 1154 38 hid pp. taste, psa. “lls60 por Therpson, La formacion histériea de Ja clase obrera, 50, "The Bloody Bouy" (1796) in Raymond Wiliams, ley, New York, Harp & Row, 1966, p. 13. Cultere and Sor 1 ~ olla! Regier, 282180, in Raymond Willams, op ct, pe 4, 32 — Promenades dans Limiter [secu elais, Paris, Maspero, 1978, ci = Persea 6 tes protaives on 35 bids pe 37. 34 = Thompson, La formacion hitrica de (a clae obrera, op. i 25 crag, THOPPON La Jormaconhistrica de a ease ober, ep. it. pp 35 clfenry Meshew dssenvole ne décadn de 1950 um longo e sine sito, tatalho sabre» ovalagdo pobre de Landes, moore ES, epomments gue depo tansereves montendes fora sae arte Seine or ee a lpi depts rin eee. Sa, dpria vox, Lavdon Labour end the Leninn Pee Seo ‘ver Publications, 1968, 4 vols, Poor. New Yor, Do- 67 36 — Algus frxmentos do relaiio encostraae em E.R. Pike, Human Docimenis of the Indusral Revolutton in Brain, Londres, George Allen & nmin Ld. 1395, pp. 4052. St Le Tabieey de Paris, Parts, Marpero, 1973, . 38 = Poe, Edger Alans “O howsem das iolitiea” in Poesia € Pros, vol 2, Porte Alegre, Globo, 194. 35 Gara in fo Liss Chea, Cases Inbriewes e lase dangereses, Faris, Librare Generate Frangase, 1978, = Willan, Reymond, The County nd ihe iy. New York, Oxtors University Prem, 1973, cap. 14 "Change ta the Ci”. “ar Doig, py 14848 422 Burke) Edmond, “Reflections on, the Revolution in France", ell do pot Raymand Wille, Cure and Sota p ibid. pp, 9 e 89. 8 appen from the New to te Od Wie ado ims, 43 = aang Ker “2 Grande Transormapto, lo de Janeiro, Compas, 1990, cap. 10 “A Econoinia Politica ¢ a Descoberta da Sociedade” 48 Cable T-Worts, vol 4, cdo por R: Willams, op: St, p. 80. 41 = Ibid, p. 85. 48 — Stedman J fin, 1976, cap, 6 “Fron ‘Demoralizalon’ to ‘Degeneration the Thiet of 49 — Keating, Peter (ed.), Into, Unknown England: 1866.1913, Gr Bretanha, Fontane/Collins, 1881, introdogto do or, 50 —- Sims, George, “How the Poor Live” in P. Keating, op. elt, pp. 38. 34 — ba, — Buret, La Mistre des classes laboricuses en France et en Angle- ser, indo po cheval. on 217 34 — Tenant, 9. cit Bagel Pi, La sation de ts Clase 34 — Teta Flor, 9p. is Bagel Pde, Le sluation Laboriewse en Angleterre Pats, see 1860 35 — Greenwood, James,”"A ‘night n'a Workhouse", ia P. Keating, op. cit. pp. 3334. 56 "Keaton, P., op. et 37 — Chevalier. Louis, op: ‘l.. 1 parte, cap. 1V “La population et fn ville: Pequipement. de. bast 38 — Meyhew, H.- op. ef-s pp. 13, 11 39 — Sheppard, Franle, London 18081870: The Infra! Wen, Sacer & Workers aul St ap: 5"Thepoyth of London belo he awe ‘60 = Chevalier, L', op. cit-s ppr 336339. 61 — Ci. Stedman jones, Gu op cit em expecal cape 10 ¢ 15; tembém eating, op, cit, introduygo. 62 "Op. cit. ota 61. 65 — Bepuin, Fe op. cit. 64 — Stedman, Jones, G., “Workingsclass culture end working-class pe London's S00 in tanguager a Clas, Cambridge, Cambridge iniversity Press, 1985; Chevalier, Lous, op. elt., pp. 658711. 13 — Stedman, Jone. 9p. cit = Steamaa, Jones, Guteast London, op. cit., cap. 16. pp. 2829.

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