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} 32 Malandragens OCTET Ty pasts Oa mS cd eee Cary Pe cod Cee cy fer eee ay en ce See ee ee) cy eee Pod Beret) eres lado de Otavio Py ee 0 se passa em Népoles 12 ATO Cena I otavio Silvestre - Sin otavio Silvestre -Ainda esta manha otavio Silvestre Iss0 mesmo otavio Slveste -D Otavio A mo¢a fol Silvestre - Pa otavio Silvestre Otavio Sivestre otavio Silvestre De tudo Otévio - 0, fale Silvestre - mais que eu poss Otivio- Pela menos me aconselhe! Diga 1 que & que eu devo fazer nesta situ Silvestre - Palavia que me sint strapalhado quanto 0 senhor. Bem qu Otévio - Estou tio aborecd « Silvestre -E« otsvio um tuféo de descompostu Silvestre - Descompostura live prego. Mas tenho a po Otévio - Meu Deu eu vou sair deste buraco? Silvestre - Po) antes de se ata nel Otivio - Ora bolas, voc!’ me aborece ‘com seus sermées fora de hora! Silvestre -€ 0 senhor me abortece mals ainda com suas doideras Otivio - Mas que 6 que eu vou fazer? Que solugéo devo tomar? A que meios Cena Il Eseapine - Que & isso, senhor Otivio? (Que € que o senhor tem? Que é que ha? ue agitacio & e359? 0 senor parece intetamentetranstornado Otavio - Ah, meu caro Escapino, estou perdido! Estou desesperado! Sou 0 sujito mais infeliz do mundo! Eseapine «Como? Otavio -Entdo voc® nlo sabe de nada? Escapino - Nao. Otivio - Mew pai estd chegando ai com © senhor Gerdncioe eles vm me casar. Escapino - Mas anal, isso & alguma desgraca? Otvio - Ail Voce no sabe a causa de minha inquietacéo Escapino - Nao sei, mas s6 depende do senor que eu saiba imediatamente. € eu sou uma camarada consolativo, capaz de me interessarpelas coisas da mocidade, Otavio - An, Escapinol Se voo# ims rnasse algo que pudesse dar um jetinho para me liar dessa afligdo, eu..eu acho que the fcaia devendo mais do ‘que a propria vida Escapino Para the falar a verdade, poucas coisas hi que sejam impos siveis para mim, quando resolv lidar com elas. Certamente ganhel do ¢éu um talento bastante propio & criagio ddessas graciosidades de espe, dessas galanterias engenhosas, a que a plebe ignara di o nome de velhacarias. Posso dizer, sem vaidade, que dif mente se tera visto um artesio mais hail em maquinagBes e enredos, flguém que hala conquistado mator auréola do que eu, nesse nobre afiio, Mas, convenhamos, hoje em dia o merecimento. anda muito por baiso. € eu por mim jd renuncie! a todas essas coisas, por causa de um certo aborrect mento, num caso que me aconteceu, Otévio - Como €? Que caso foi esse, Escapino? Eseapino - Uma aventura em que me lencrenquei com a justia. Otdvio - Com a lustiga? Escapina - £. Tivemos um pequeno esentendimento, tivo - Voct e ela? Escapino - Sim, Ela ndo se comportou it muito bem comigo, e eu me magoel de tal mdo com a ingatidao da sociedade que resolvi no me meter mais com coisa alguma. Chega! Mas nao deixe de ‘me contar sua aventura, senhor Otavio, Otévio - Voce sabe, Escapino, que ha dais meses o senhor Gerdncio © ‘meu pai fizeram juntos uma viagem, para tratar de certo negéclo de inte Escapino - Sei. Otévio - E que Leandro ¢ eu ficamos lentregues por nossos pais, eu a0s cuidados de Silvestre, e Leandro aos de voce. Escapino - Bato. E eu me desempenhel ‘muito bem do meu encargo Otavio - Algum tempo depois, Leandro conheceu uma rapariga_cigana, apalixonousse e.. Escapino - Sei disso também Otévio - Como nés dois somos srandes amigos, ele me confessou logo esse amor, ¢ me levou a ver a moga. Achei-a bonita, realmente, fembora ndo tanto quanto ele queria que eu achasse, fla ficou sendo 0 seu assunto de cada dia. A todo instante, Leandro me exaltava a sua beleza, sua graga, gabava-ihe o ‘espirito, entrava em @xtase a0 me falar de sua conversa..€ repetia a menor palavrinha da _bem-amads, cesforgando-se por tornéla a mais Interessante do mundo. As vezes até ‘se zangava comigo, sabe? porque eu io me mostrava bastante sensivel As coisas que ele ia me contando. € a ‘ada passo censurava minha indife renga as labaredas do amor! Escapi quer chegat. (Aparte) - Nao vejo aonde ele Otévio- Um dia, eu fui com ele & casa das pessoas que guardam o objeto dos seus sonhos. Em certa rua afastada, fouvimos partir de uma casa lamen tagbes e solugos. Perguntamas 0 que era, Entre suspiros, uma mulher nos disse que poderiamos ver 18 dentio uma cena ‘vistisima, passada entre forasteios, © se no ficassemos co: ‘movidos & porque tinhamos 0 coragdo de peda Escapino (A parte) - Que fim terd essa historia? Otivio - Movido pela curiosidade, ‘obriguei Leandro a ver de que se tratava, Entramos numa sala © nos deparamos com uma velha ago nizante, assistida por uma criada que se lamentava © por uma jovem ba hada em lagrimas..A mais linda, 2 mais enternecedara joven que se possa imaginar! Eseapino - oh! Otavio - Qualquer outra pessoa parece tia medonha, no estado em que ela se cencontrava. Como vestido tinha apenas uma saiazinha ordintia e um corpinho ‘de fustdo barat, Na cabeca, uma touca amarela, apanhada no alto, © que det ava 0s cabelos caltem em desalinho sobre 05 ombros. Pois mesmo assim, meu caro ele cintilava em seus mil tra tivas,e toda a sua figurnha no eram endo encantose feticos! ino - AV ai a, estou sentindo a coisa chegar. tivo - Escapino, se voce a visse nes sas condigies, ura que havia de aché la adordvel! Escapino - Ah, no duvido. Mesmo sem ter visto, into que era absolutamente encantadora ‘Otivio - Suas Lgrimas no eram dessas lagrimas desagradivels, que desfiguram 0 semblante.Até para chorar,tinha uma s1aca comovedora. € a dor que sentia ferawa dor mais bonita deste mundo. Escapino - Compreendo, Otivio -€ nao howe ninguém que no Se derretesse em lagrimas, quando ela, apaixonadamente, se atizou sobre 0 corpo da agonizante, chamando-a de rmamiezinha querida. Nao houve nin uém que no sentisse a alma trans jurada, ao ver um coraclo to nobre! Escapino - € tocante, de fate. E estou vendo que esse coragao nobre fez com que 0 senhar fcasse gostando dela Otivio - Oh, Escapino! ALé um bruto gostara dell Escapino - Claro. Que & que poderia Impedir uma coisa dessas? Otavio Bem. Depois de algumas palavras, com que procure suavizar 0 soffimento daquela afta encantadora Jovem, saimos. Ai, perguntel a Leandro que tal the parecia a moga. Ele me respondeu,friamente: “€ bontinha”. Eu fiquei chocado com essa fiieza, € no quis revelar 0 efeito que tamanha beleza havia produzido em mintYaima, Slvestre (A Otavio) - Se o senhor nao abreviar a histrla, nbs ficaremos aqui até amanha, Com lcenga, vou concutta fem duas palavias, 0 coragia de meu amo pegou fogo a partir daquele instante. Ee jf ndo sabetia mais viver se no consolasse uma desventura to.simpatica, Ai, comecou a vista ‘com assiduidade. As vistas foram repe lidas pela criada, que se convertera em ‘governanta, depois do falecimento da velha, Eis © nosso amigo desesperado, Ele insite, implora, inventa maqui nagdes: nada. Ficou sabendo que a ‘moa, embora sem ginheiro sem pro: tegdo, 6 de boa familia, A menos que ese resolva a cast, suas pretensées Ilo. serdo toleradas..€ com isso, 0 amor vai aumentando em proporgao as Aifculdades, Meu amo comeca a refleti, aita-se, pesa 0s pris e 0s contas, € pil casou-se com a moga ha trés dias Escapino - Compreenda, Silvestre - Agora, além disso, imagine 0 regresso inesperado do pai dele, que $6 cesperivamos daqui a dois meses; 0 tio Aescobrindo o segredo desse casamen 10; © 0 outro casamento a que preten dem obrigé-lo com a filha do senhor GGerdncia = flha de uma segunda mu thet, com a qual dizem que o velho se casou em Taranto. Otavio - E por cima de tudo iss, ima: ine 2 miséia em que se encontra essa ‘riatura adorivel, eeu sem poder dar isito na situagéo! Escapino - £ 56? Mas voces estao pre ocupades com uma bobagem dessas? Como se howesse motivo para tanto sustol Siiveste, voce ndo tem ver: gonha de se afogar em tio pouca ‘gua? Que diabo! Vocé no € mais uma cianga de colo, ¢ ainda nao sabe achar ‘em sua cachola, burlar em seu espirito tum plano maroto, um estratagemazi no conveniente para austar tals nego ios? Are, diabos levem esse animal! Bem que eu gostara, em tempos pas sados, de ter uns velhos assim para fenganar. Como thes passaria linda mente 2 pera! Eu era deste tamanho assim e j8 me destacava por mil golpes belisimos de sutleza Silvestre - Confesso que a Providéncia rio me aquinhoou com esses. dotes naturals, No tenho essa capacidade para me enredar com a justia, Otavio - Ai vern a minha Jacinta Cena Ill Jacinta - Oh, Otivio! € verdade o que Silvestre disse agora mesmo a Nerina ‘que seu pal est de voltae quer obriga lo a se casart Otivio - €, minha formosa Jacital E essa noticia foi para mim um golpe cruel. Mas, que & Isso: voce esté Chorando? Por que essas ligrimas? Respondal Desconfa de alguma infde lidade de minha parte? Nao tem certeza 0 meu amor Jacinta -Tenho, Otivio! Ceteza de que voc? gosta de mim, eu tenho; mas de aque vai gostar sempre, no! tivo - Ora essal Quem & que poderia sostar de voc® sendo por toda a vida? Jacinta - Otévio, eu ouvi dizer que os homens gostam por menos tempo que as mulheres. A paixdo que eles reve: lam & como essas fogueltas que se ‘apagam com a mesma facilidade com que se acendem, Otévio - Ar, minha adorada Jacinta, fent30 meu coraGde nao foF modelado como 0 dos outros homens. Sinto per Feitamente que ireigostar de voct até Jacinta» Quero acrecitar que voe® este Ja sentindo © que esté dizendo. Nao dduvido que suas palavras.sefam sin eras, Mas tenho medo de uma infuén fa que combate em seu coragdo esses temos sentimentos que ele possa ter por mim. Vocé depende de seu pai, € fle quer casio com outta mulher Tenho certeza de que morteri, se acon: tecer tamanha deseragal Otavio - Nao, celestial Jacinta, ndo ha pal no mundo que me obrigue a faltar ‘20 meu juramento para com voce. Prefiro deixar minha terra agora mesmo, se necessério for, @ ter de abandonar voc. Sem ao menos ter Visto @ criatura que me destinam para ‘esposa, jd estou sentindo por ela uma repugnancia total. Nao € por maldade no, mas seria t8o bom que o mar afastasse essa mulher daqul para sem pre! Nao chore, Jacinta, meu anjo, eu the peso: suas lagrimas me matam, no posso vé-las sem sentir 0 coragdo espedacado! Jacinta - 18 que voc’ faz questdo, emu satel o pranto, Vou aguardar, com ani mo constante, © que Deus se digne resolver a meu respito Otavo - Deus estaré a nosso favor! Jacinta - Ele ndo ficara contra mim, se voce me for fel, Otivio- Sere, sem a menor dvidal Jacinta - Entdo,sert fei Escapino (A parte) - N3o € t30 bobs assim essa pequena. & até bem razodvel Otivio (Mostrando scapino)- Esse a, se quisesse, ¢ que poderia ser para nds de uma utlidade maravithosa em todas cessas complicardes. Escapino - Quem, eu? jure solenemente de nunca mais me meter com a vida de ninguém. Em tad caso, se me pedirem ‘com muito empenho, quem sabe? Otévio - Oh, se basta pedir com empe- ‘nho para abter seu auilio, entdo eu the suplico de todo 0 coracdo que tome o sgoverno do nosso barco! Escapino (A Jacinta) - Ea senorita, n80 dis nada? Jacinta - Eu acompanho Otivie: por tudo que the € mais caro no mundo, aude 0 nosso amor! Escapino - Sejamos humanos, ¢ deice ‘mosnas vencer,Esté bem, vou me inte ressar por vocts. Otivio - Voce pode acreditar que. Escapino -Bico fechado. (AJacina) Vi se embora, fique descansada. (A Otdvio) E 0 senhor, prepare-se para fenfientar com fimeza 2 abordagem de seu pal Otavio - Confesso que jd estou tremen: do antes da hora. € essa minha timidez natural, que nd consigo vencer, Escapino - Pois carece aparenter firmeza ao primeiro chogue. Evite que ele perceba sua fraqueza e que se aproveite disso para tratélo como a uma crianga, Fina mesmo um pouco de atrevimenta, Responda com energia 4 tudo que ele for dizendo, tivo - Fare’ o melhor que puder. Escapino ~ Agora, experimentemos um ouco, para 0 senhor se acostumar Vamos enssiar 0 seu papel e veremos se esté bem representado. Atencio: ar resolute, cabeca erguida, lhar firme! Orv - Assim? Escaping - Mais um pouco, ainda, Otavia Assim Escapino - Bem. Agora faca de conta que eu sou sew pal que esta chegan do © me responda sem tremedeira, como se fosse a ele proprio, "Como & iss0, patifel Valdevinos! Filho indigno {do pai que tens! Ousas ent apare- ‘er dlante de meus olhos, depois da peca infame que me pregaste na minha auséncia? € esse 0 fruto de meu desvelo, malandro? Entao € assim que me respeitas? vamos, vamos! Tens a insoléncia,canalha? de te comprometeres sem 0 consenti mento de teu pai, fazendo um casa ‘mento clandestine? Responde, mar to, responde! Vamos examinar tuas estraordindrias razdes". Mas que labo, o senor ficou apalermado! Otavio - &, até parecia que eu estave diante de meu pai em came ¢ osso! Escapino - An..Mas Justamente por Isso & que o senhar no devia fcar co ‘mo um idiotal Otévio - Vou cri coragem, Escapino. Vou responder firme! Eseapina - De verdade? Otavio - De verdace. Escapina - lhe af seu pal chegando, Otivio - Meu Deus do céu, estou ito! Eseapino - Fique aqul, senhor Otavio! Pronto: fugiu. Pobre diabo. Mas no deitemos 0 velho espera Silvestre» Que € que eu vou dizer a ele? Escapino -Deite por minha conta, Basta ‘que voce me acompanhe. Cena IV Argante (Julgando estar sé) - Onde j8 se iu uma barbaidade dessas?! Escapino (A Sibestre) » a sabe do caso, E ficou tao preocupado que anda falan do sozinhot [Argante (ulgando estar s6) - Mas que esaforo! Escapino (A Sivesre) - Vamos escutar um bocadino? ‘gate (ulgando estar so) - Gostaria de saber 0 que eles vo me dizer sobre este incivel casamento, Escapino (A parte) - J pensamos nisso [Argante Liulgondo estar so) - Seré que vio negacme a coisa? Escapino (parte) Nol Nem pensamas ‘Argante ulgando estor $6) - E se tentarem justia? Escapino (A prte) -€ bem possivel ‘Argante ulgandoestars6)- ro me dis trae com lorotas? Escapino (Apart) -Talvez. ‘Argante Uulgando estar 6) ~ 0 pala téro deles no adiantaré nada. Escapino (A parte)» Veremos, ‘Argante. (ulgando estar s6) - A im & due eles no enganam! Escapino (A parte) - Quem sabe? ‘Argante (Julgando estar s6) - Saberel botar na cadeia esse patife do meu fiho! Escapino (Apart) - Va esperande. Argante (Julgando estar sé) - Quanto a0 pindega do Sivestre, douthe muta bordoadal Silvestre (A Escopino) -Est8 ouvindo? Muito me admirava se ele me esque Argante (Percebendo Sivestre) - Ah! Al cesté ele, o habil conselhelr de fama, © Sabio orientador da juventude! Escapino - Oh, senhor Avgante, que raver vé-lo de vata! ‘Argante - Bom dia, Escapino. (A Sivestre) Realmente, voce cumpriu minhas ordens de maneira estupen da, hem? E meu filho se comportou com a maior sabedoria durante minha auséncia, ndo foi? Escapina - 0 senhor esté passando bem, pelo que vejo? ‘Argante ~ Regularmente. (A Silvestre) Voc® nio diz nada, malandro? Nio 8 um pio? Eseapino «Fez boa viagem? Argante- Oh, espléndida! Mas deixe-me ingat em paz, sim? Eseapina - 0 senhor quer xingar? Argante - Quero xingax, sim, Escapino ~ Ah! € xingar a quem, se: hor Argante? Argante esse tipo a. Escapino - Por qué? ‘Argante - Vocé no ouviu falar do que se passou em minha auséncia? Escapino - Quvi falar de umas coisnhas. ‘Argante - Como? Coisinhas?: Uma coisa dessas? Escapino - 0 senhor no deba de estar com a tan. ‘Argante - Um atrevimento deste! Escapino «Li isso 6 verdade, Argante - Um filho casar sem consent mento do pail Escaping - Ei no estd muito certo, rio. Mas eu achava melhor o senhor nie fazer barulho, Argante - Pois eu no sou da sua opiniso. Quero barulho até dizer chega. Ora, essa & boal Ente voce ‘do acha que eu tenho motives para sme enfurecer? Escapino - Mas é claro. Eu também me zanguel, quando soube da coisa. defendi a sua posiglo, 3 ponto de ra: thar com seu filho. Pergunte a ele que pitos enérgicas eu the passe, como 0 censurel pela falta de respeito a um pal de quem devia beijar os pés Ninguém the falaria melhor, nem 0 ‘senhor mesmo. Mas, que remédio? ‘Acabei cedendo a razio, © reco nihecendo que, no fundo, ele nao tem tanta culpa quanto parece. Argante - Que & que esta dizendo? Ele nao tem culpa de se casar sem tirte nem guarte com uma iluste des: conhecida? Eseapino - Que é que o senhor quer Fol Impede pelo destino. ‘Argante - Ah, ah! Essa & dtimal Entio lum sujeto comete todos os crimes imaginaveis,engana, rouba, mata, €1no fim & $6 dizer, como desculpa: fui Impetigo pelo destino! Eseapino - 012, ora. 0 senhor est Jogando com as minhas palavras. Eu {queria dizer apenas que seu fho se viu comprometido ftalmente nesse caso. Argante - E por que se comprometeu? Escapino - Queria 0 senhor que ele rascesse ajuizado como o pai? Rapa 6 rapaz, ndo tem a prudéncia de que precisaria para fazer tudo dentro da mais santa ordem. Hala vista 0 nosso prezado Leandro, que, apesar de todas as minhas ligdes e advertén las, se meteu a fazer coisas piores que a5 de seu filho. Eu gostaria de saber se 0 senhor mesmo nio fo Jovem, se naquele tempo nio fez também suas bobagens como 05 ou: 110s, Até j8 ouvi dizer que 0 senhor fol grande frequentador de mulheres: ‘que fez muita peraltice com as mais sgalantes, ¢ que nao chegava perto de rnenhuma sem fazer das suas Argante - Bem, Ia isso @ verdade, no ego. Mas nunca ful além dessas brin cadeiras. No cheguel a0 extremo de fazer 0 que ele fez, Escapino = Was que queria que ele fizesse? 0 rapaz vé uma jovem que se errete por ele - puxou isso a0 pai, amado por tudo quanto € mulher Acha a pequena encantadora, visita, izne umas meiguices, suspira tema mente, faz'se de apaixonado. Os pais dda moca chegam de surpresa, obrigam 0 coltado a se casar, Silvestre (A parte)» Como ele 6 esperto! Escapino - 0 senhor preferia que ele se deixasse matar? Antes casado que morto, [Argante - Nao me disseram que 0 caso tinha se passado dessa manera! Eseapino (indicando Sivestre) -Pergunte 2 esse af e verd 0 que responde, ‘rgante (A Siveste) - Foi & forga que ‘meu filha se casou? Silvestre - Foi sim, senhor. Escapino - Vosmect acha que eu la ment? ‘Argante - Entdo ele devia ter ido ime- iatamente a um tabelido, para cert far a violencia, Escapino - & 0 que ele nfo devia fazer ‘Argante En mim, anular ocasamento » Faria mais fil, para Escapino - Anular 0 casamento? Argante~ Sim. Eseapino - 0 senhor nao vai anular coisissima nenhuma. ‘Argante - Nao vou anlar? Escapino - Nao, ‘Argante - Us! Ento no tenho a meu favor 0s direitos de pai e © argumento da coagao infigida a meu fo? Eseapino - Ai esté uma coisa com a qual le no vai concord, Argante- Nao vai concordar? Escapino - Nao Argante - Meu no? Escapino - Seu fiho, sim. 0 senhor quer forci-lo a confessar que foi & valentona que o orbigaram a fazer tal coisa? Otivio nem sonha com uma confissio dessa ordem. Seria se des- ‘moralizar, mostrando-se indigno de um pai como 0 senhor! Argante- nao estou ligando a sso. Escapino - Por honra dele e do senor, 4 preciso que Otévio diga em pablico ‘que se casou espontaneamente, ‘Argante - Pois, por minha honra e por honra dele, quero que diga € 0 contrat. Escapino - Nao, Tenho cereeza de que cle nie far isso, [Argante - Eu 0 obrigo a faze. Escapino - Nao faz, estou the dizendo, Argante - Faz, ou eu 0 deserdo, Escapino - 0 senhor? Argante - Eu Eseapino «Hum! Argante - Hum, por que? Escapino - 0 senhor nao vai desert, Argante - Eu ndo vou deserds-io? Escapino - Nao. ‘Argante «Wao? Escapino - Nao. ‘Argante - 0 qué? Essa 6 muito boa! Eu rio vou deserdar meu fino? Escapin - Estou the dizendo que nao. Argante - Quem me impedira? Escapino - 0 senhor mesmo, Argante £7 Escapino - Sim, Seu coragio nie dena Argante - Deb Escapino - 0 senior esta cagoande. Argante - Nao estou, no, Escapino -A temura patema saberé agit Agante -Sabe coisa nenhuma, Escapino - Sabe, sabe, [Argante - Estou Ihe dizendo 0 que eu vou faze! Escapino - Bobagem: [Argante - Bobagem? Néo diga isso! Escapino - Mas eu 0 conheco, homem de Deus. 0 senhor & bom, de nascenca. Argante - Nao sou nada bom, ¢ quan do € preciso agir eu sou mau. Vamos acabar com essa conversa, que jf esta ime esquentando 0 sangue. (ASivestre) Vise embora, malandros va procurar ‘meu fiho, enquanto eu vou estar com ‘9 meu amiga GerBncio, para desabafar rminhas magoas! Escapino - Senhor Argante, se eu puder ajudscla nalguma coisa, € 56 dar ordens. ‘Argante - Obrigado. (A porte) An, se eu tivesse nesta hora a filha que a sorte me roubou, para fazéla_ minha herdelra! Cena V Silvestre -Palavra de honra que voce & lum grande homem! E 0 negécio vai eslizando maclo, hem? O diabo & que © dinheiro azulou, e ndo temos nem para 0 sustento. Os credores esto la tindo por toda a parte, atrés da gente. Eseapino -Deixe por minha conta, que 4 coisa estd preparada, Estou apenas cogitando de um sujeito que mereca conflanga, para representar um perso nagem de que eu predso..Ah, espere ai Fique fe, Enterte © goro na ca bea, como um tipo perigoso. Man- tenha-se sobre um pé 56. Mo na cin ture, Lance um olhar feroz. Ande um Pouguinho como rei de opereta. Isso! ‘Agora me acompanhe. Sel de uma art rmanha para distargar sua cara e voz. Silvestre -Pelo amor de Deus, no vi me complicar com a Justia! Escapino - Ora, or3. Vamos partihar 0 petigo como dois irmaos. T®s anos de galés a mais ou a menos, @ muito pouco para deter um coragio nobre! 22 ATO Cena t Gerdncio - €, com um tempo desses, nosso pessoal hoje deve estar aqui. Um marinheiro chegado de Taranto. me Asse que vi 0 meu empregado prestes ‘a embarcar. 0 diabo 6 que, ao chegar, minha fiha val encontrar as coisas bem _atrapalhadas com relagio a0 nosso pro- jeto. 0 que 0 senhor acaba de me con: tar a respeito de Otévio, entao, des mancha completamente tudo aqullo que tinhamos preparado! [Argante - Nao se preocupe. Eu me com prometo a remaver 0 obstaculo. Vou agirimediatamente, GGeréncio- Permita que eu the diga uma coisa, senhor Argante? A educacio dos fihos & uma dessas respansabilidades para as quais todo desvelo & pouco. ‘Argante - Som divida, Mas..a que propésito vem isso? GGerdncio - Ver a propésito dessas lou curas de rapazes, que na maloria das veres sio fruto da ma educagao que os pais thes deram. “Argante - Sim, isso acontece uma ver ou outra. Mas que & que o senhor quer diver com isso, hem? Gerdncio - Que € que eu quero dizer Argante - Si. Gerdncio - Que se o amigo, como bom pai, howvesse exemplado conveniente mente 0 seu fiho, por certo nao the pregaria ele a peca que pregou. ‘Argante - Muito bem. De manera, fentio, que o amigo exemplou muito bem o seu, nio & Geréncio Claro, & muito aborrecido Fcaria se ele me Rzesse uma barbar: dade dessas. ‘Argante -£ se esse flho que 0 senhor ‘exemplou de maneira tao cabal, Rzesse pior ainda que o meu? Hem? Gerincio - Como? ‘Argante - Como? Gerdncio » Que & que o senhor ests ‘querendo dizer com isso? ‘Argante - Quero dizer, meu caro se: nor Gerbncio, que no devemos ter muita afobagdo em condenar 0 pro cedimento alhelo. Quem gosta de censurar os outros, & bom mirarse antes no espelho de sua casa Gerdncio- Este estigma, ndo entendo. Argante - Sexé explicado, GGeréncio - 0 serhor ouviu dizer alguma «coisa a respeito de meu fho? ‘Argante - Quem sabe? GerBncio- Mas 0 qué, entio? ‘Avgante © 0 seu crlado.Escapino, ante do meu aborrecimento, s6 me contou a proeza por alto. Pergunte a fle ou a uma pessoa qualquer. Com licenga. Vou correndo consultar_ um advogado € cuidar dos truques que terei de por em pratica. até brevel Cena Il Gerdnco (53) - Que negdco sera esse? Pior ainda que o dele! Eu ci nao ima sinava nada pio, Casarse sem consen timento patermo, facamme o favor, ndo hi falta mais grave. Ah, voce est al Leandro (Tentando abreca-o) - Oh, papa, que alegria velo de voltal Gerdneclo (Esquvando-s) ~ Vamos tratar do assunt. Leandro -Deixe que eu o abracee.. Geréncio (Repetindo-o) - Cala. Leandro - Como? 0 senher nao permite que eu the manifeste minha emogao por meio de um abraco, papal? GerBncio - Nao. Temos um assunto a eselarecer, Leandro - 0 qué? GerBncio - Componha-se. Desejo oli de frente, Leandro - Como? Gerdncio - Faca © obséquio de me Leandro -€ entao? Geréncio - Que foi, afinal, que se passou aqui? Leandro - Que foi que se passou? Gerdncio - Sim. Que € que o senhor andou fazendo na minha aus@ncia? Leandro» Que & que 0 senhor queria que eu fiesse, papal? Gerdncio- Eu ndo quero nada. Pergunto © que € que o senhor fe. Leandro -£u? Nada que he desse moti vo para se zangar. Gerdncio- Nada? Leandro - Nada Geréncio - Nas 0 senhor 6 mesmo topetudo, hem? Leandro - Estou seguro de minha Gerdncio - Pois Escapino me contou as novidades, Leandro -Escapino?! Gerdnclo - Ah, ah! ficou vermelho a0 ‘ouvir esse nome, hem? Leandro - Escapino disse alguma coisa meu respeito? GerBnclo - 0 lugar ndo ¢ proprio para liquidarmos este assunto. Vamos discu tio noutra parte V8 para casa, stare! 14 dagul a pouco. (Saindo) Ah traidort Queres desonrarme? Pois eu te rene sare como fiho e & melhor mesmo que sumas de minha presenca para sempre! Cena Ill Leandro (56) - Me trair dessa maneiral Um malandro que, por quinhentas razbes, devia sero primeito 2 guarder 10s segredos que the confio, vai corre: do contar tudo a meu pall Ah, mas eu Juro que esta ele me paga! Otvio - Meu caro Escapino, até nem sel quanto devo 8 sua dedicacao! (Que suieto fabuloso vocé! E como © cu foi camarada, enviando voct para me socorrer Leandro - Ah, voce esté af? Prazer em velo, seu grandicisimo patie! Eseapino - crado as ordens, meu se: hor. € demasiada a honra que 0 se hor me concede. Leandro (Levando.a mao a espada)- Esta se fazendo de engracadinho, aio & Pois eu o ensino, ouviu? Escaping (Ajoelhando-se) - Meu senha! Otévio - Nao faca ss0, Leandro! Leandro ~ Me largue, Otavio! Nao ime segure! Escaping - Senhor Leandro! Otivio (Segurando Leandro) - Por favor! Leandro -Deixe eu saciar mina raival Otivio - Pela nossa amizade, Leandro, ro maltrate o cotado! Eseapino - Mas o que fol que eu the fia, meu senhor Leandro - 0 que voce fez, canalha? Otavio (sempre segurando Leandro) - Oh, vamos com calma! Leandro - No, Otivio! Fago questéo aque ele confess, ¢ jf, a safadeza que ‘me fer. Sim, miserdvel, eu sei da peca aque voc8 me pregou. Acabaram de me contar, Certamente voc® no imagina va que alguém me revelasse o segre- do. Mas quero ouvir 2 confissdo de sua propria boca, ouviu? Do contrério, eu the furo a barriga com esta espa a, esté escutando? Escapino - 0 senhor ndo teria coragem de fazer uma coisa dessa. Leandro -Pois enti, fle! Eseapino - Eu the fiz alguma coisa, meu senhor? Leandro - Fez, tipo a toal € sua cons cincia sabe perfeitamente de que se trata Escapino -Juro que nao sett Leandro - Ah, nlo sabe, hem? (Otévio(Seguronde Leandro) Leandro! Escapino - Fst bem, meu senhor! Ja ‘que 0 senhor exge, confesso que bebi com 0s amigos aque pipote de vinho Xerez, que the deram de presente hi dias. Fie um furinho no pipote e der ramei gua no chio, para fazer acredi tar que o vinho tinha escapado. Leandro - Ah, entao foi voc®, seu sem vergonha, que acabou com © meu Xerez? E eu que xinguei tanto a criada, pensando que ela é que me fea ssa safadezal Escapino - Ful eu, senhor. Me perdoe! Leandro «Fico muito satisteto por saber disso. Mas nlo 6 esse o caso, ni. Escaping - Nao é esse, meu senhor? Leandro - Nao, € outro que me inte ressa mais de perto e vocé tem de confessar tudo Eseapino - Meu senhor, no me lembro 4e ter feito mats nadal Leandro (Tentando agredir Escopino) No vai falar? Escaping - Al Ail Otavio (Segura Leonco)- alma! Calmal Escapino Ah, & mesmo! Hi t8s se: ‘manas o senhor me mandouw levar um reloginho aquela moga cigana, sua rnamorada. Eu volte para casa com roupa enlameada, 0 rosto chelo de sangue € Ihe contel que no caminho Uns ladres me deram uma surra € me roubaram o reldgio! Ful eu que Fiquei com ele, meu senhor. Leandro Eno fol voc® que ficou com 0 meu relogio? Escapino - Foi, sim senhor. Para ver as horas! Leandro - ito bem! Estou sabendo de boas Ciado fel € este meu! Mas no € isso ainda que eu estou perguntando. Escapino - Nao & iso? Leandro - Nao, arevido! € outra coisa, {© eu esijo que voce me confesse, Escapino (Apart) - Pusal Leandro - Vi falando, que estou com pressa Eseapino - Meu serihor, eu js esvaziel a alma, Leandro. (Tentando agredirEscapino) Esvaziou, ndo €2 Otivio (Possando a frente de Leandro) Mas que € isso Escapino -Esté bem, meu senhor, est bem. Lembra-se daquele lobisomem que certa noite, ha uns seis meses, lhe deu uma surra? E o senhar quase Ia esticando canela, a0 cair num fosso quando fugia? Leandro -€ da? Eseapino - Dai, eta eu que fingia de lobisomem. Leandro - Entao era voc®, canalha, era voce 0 labisomem! Escaping - Era sim, senor. Mas s6 para the dar um susto. € para the tar 0 habit de expulsar a gente de casa, todas as noites, Leandro - Saberei me recordar, no devi do tempo, de tudo que vocé me contou, ‘Mas vamos 20 positvo. Voce tem de me confessar 0 que disse a meu pall Escapino - 0 que eu ise ao seu pa! Leandro - Sim, cachorro, a meu pail Eseapino - Mas eu nem sequer pus 0s colhos no senhor Gerbncio depois que le voltou! Leandro - Nao pis 0s olhos? Eseapino - Absolutamente! Leandro - Voce tem certeza disso? Escapino - Completa. Ele mesmo the did isso, 0 senhar vai ver. Leandro - Pois foi ele mesmo que sme contou! Escaping - Desculpe, mas..€ mental Cena IV Carlos - Senhor Leandro, tenho uma noticia t30 desagradavel para o seu coragio. Leandro - Hem? Carlos - 0 tals cganas esto querendo the tomar Zebinetal Chorando, ela me mandou aqui a toda pressa the dizer aque, se dentro de duas horas ndo levar © dinheiro que eles pediam, o senhor val perdéla para o resto da vidal Leandro - Dentro de duas horas?! Carlos - Dentro de duas horas Leandro - Ah, meu caro. Escapino, Imploro © seu aux! Escapino (Levantando e passando com ar saberano por Leandro) - Rh, meu caro Escapino! Na hora em que precisa de sim, Sou seu caro Escapino, no & Leandro - Ora, eu perio tudo isso que vvoeé acaba de me contar € mais ainda aque voce tenha feito! Escapino - No senhor. Ndo me perdoe olsa alguma, Vamos, fure minha bar 9 com essa espada! Ficarei feliz se 0 senhor me mata Leandro - Nunca. Suplico-the antes que ime dé vida, servindo a0 meu amor! Escapino - Nada disso. £ melhor 0 se hor me matar. Leandro - Voce @ demasiado precioso para mim! Tenha paciéncia, empregue a meu favor esse seu espitito admiravel, {que vence todas os obstéculos! Eseapino - Nao, Mate, estou Ihe pedindo. Leandro - Ah, pelo amor de Deus, no pense mais nessas coisas! Pense antes fem dar a ajuda que the peco! tivo - Que & iss0, Escapino? Voct pre isa fazer alguma coisa por ele! Escapino - £42! Depois de uma hum Uhagdo dessas? Leandro - Eu Ihe suplico, Escapino! Esquega 0 meu arrebatamento! Me ‘jude com sua habilidade! Otévio - Eu também the peco a mes Escaping - Este insultofcaré guardado aqui dentro. tivo - oct devia sufocar seu ressen- timento, Escapina, Leandro - Mas vacé teria coragem de ‘me abandonar, Escapino, na situagdo horrorosa em que se encontra © meu amor? Escaping - Vir aqui me fazer uma ofen sa dessa natureza, sem mais aqueal Leandro -E, eu fiz mal, confess. Escaping = Me xingar de cachotro! De canalha! De sem-vergonhal Leandro - stow artependidissimo, Escapinol Escapino - Querer me furar a bariga com a espadal Leandro - Me perdée, pecorhe com toda a humildade! Se for preciso ajoe Thar a seus pés, aqui estou, para the implorar mais uma ver que nde me abandone! Otivio Francamente, Escapino! Voce tem de ceder, depois disso, Escaping - Levantese. E de outra vez, no seja to Impetuoso, Leandro - Voc® promete me ajudar? Escapino - Vou pensar nisso, Leandro Mas o tempo voa, Escapino! Escapino - Nao se aflja. De quanto € que esté precisando? Leandro - Quinhentos escudes. Escapino - Eo seahor Otavio - Duzenta pistlas. Eseapino - Vou arranjar esse dinhelro com seus pals. (A Otdvio) Para o seu velho, © golpe 18 ests preparado. (4 Leandro) Quanto a0 seu, embora ele seia 0 rei das avarentos, nao vai ser preciso muita ceriménia. 0 senhor sabe que, em matéra de inteligenca, sragas a Deus ele ndo tem grande sor timento: € desses que acreditam em ‘qualquer bestelra. Nao se ofenda com isso: entre o senor e ele, ndo hé nem sombra de semethanga. € 0 senhor bem sabe da opiniao geral, de que ele 6 6 seu pal..pr6 forma. Leandro - 50 também, no! Escapino - Ora, oral Como se tivesse alguma importincia! Est cacoando, rnéo & Mas ai vem o pai de Otévio. Comecemas com ele, jé que chegou primeiro. Vao-se embora os dois. (A Otévio) Diga a Silvestre que venha ‘depressa desempenhar o seu papel Cena V Escapino (A parte) - La ests ele, nando! “Argante (Supondo estar soso) ~ Mas ‘que falta de juzo e que fata de consi deragio! Debarse arastar a. um com promisso desses! Que mocidade malucal Escapino «Senor Argante, seu sewidor! ‘Argante - Bom la, Escapino. Escaping - Esté matutando no caso de seu filha? ‘Argante -Confesso a voc® que isso me 6 tanto! Escapino - Senhor Argante, essa vida & ‘mesmo um tapete de aborrecimentos. Carece a gente estar sempre prepara do para eles. Nunca me esqueci de uma palavra dos antigos, que ouvi hi muitos anos, Argante - Qual €? Escapino - Mesmo que fique muito ouco tempo longe de casa, deve 0 pal de famfia passar em revista, na Imaginacéo, todos os fatos desagradé vels que poderé encontrar na volta Suponha a casa incendlaga,o dinheiro ‘oubado, a mulher morta, 0 iho ale Jado, a filha seduzida; e aquilo que ele verificar que nao aconteceu, dé gracas 4 boa sorte. Eu cd sempre tive pre sente essa ligdo, em minha pobre filosofia. Nunca voltel para casa sem ‘esperar a célera de meus patrdes, cen suras, injrias, pontapés no traseiro, bordoadas, corteadas..£ 0 que deixou de acontecer, eu agradego minha boa sont, ‘Argante - Esti certo. Mas esse casa mento absurdo vem atrapalhar @ outro que queriamos fazer e isso eu nao posso tolear. Acabel de consultar meus advogados, para anulé-, Escapino - Pois olhe, senhor Argante, se the mereco confianga, trate de atta. Jar as coisas de outro jeito qualquer Bem sabe 0 que s30 processos nesta terra. 0 sentir va se meter em camisa de onze varas ‘Argante Tem razao. Sei perfetamente, mas que remédio? Escapino - Acho que arranjel um, Tive tanta pena de seu sofrimento ainda ha pouco, que me animel a pracurar na cachola algum melo de tranquliz-to. € uma coisa que meu coragdo no agen ta: ver uma pal amoroso angustiando: © pelos flhos. E eu sempre tive pelo Ssenhor uma simpatia especial Argante - Muito obrigado! Escapino - Fu, pos, procurar 0 irmdo da moga que se casou com seu fiho. € um esses valentées profisionais que resolvem tudo a golpes de espada e s6 ppensam em quebrar as costes do rd imo, Para eles, tanto faz Hquidar um {ristao como evaziar um copo de vinho, Converse sobre 0 casamento ¢ fiz ver ‘como era fil anulilo sob alegagio de violencia. Lembrei as prerogativas de {que 0 senhor goza como pai e 0 apoio {que the daria perante a Justca tanto @ seu dlteto como 0 seu dinheiro © as suas amizades, Enfim, mostreithe tan tos aspectos do negdcio que le acabou aceitando minha sugestio dese liquidar 9 caso mediante cesta quanta, Concorda em desfazer 0 casament desde que 0 senhor the d8 dinhelra, Argante - € quanto ele pediu? Escapino - Oh! 2 principio, coisas astrondmicas.. ‘Argante - Mas quanto? Escapino -Coisas malucas. ‘Argante Dig, diga! Escapino Nada menos de quinhentas ou seiscentas pistolas. ‘Argante - Quinhentas ou seiscentas antias que liquidem com aquele des sracado! Esté zombando da gente? Escapino - Foi o que eu disse a ele Repeli energicamente semelhante pro posta e fz @ homem compreender que © senhor néo & tio idiota assim para the pedivem quinhentas ou seiscentas pistols. Enfim, depois de muita con versa, eis @ resultado de nossa con ferénca, Ele me disse assim: *Chegou ‘a hora de me allstar no exército, Estou tratando de me equipar. Tenho tanta necessidade de dinheiro que, muito contra a vontade, me vejo coagido a aceitar a proposta. Preciso de um cavalo de servo no se con segue um, assim, assim, por menos e sossenta pistolas” ‘Argante - em, sessenta pistolas eu dou, Eseapino - Carece também de arreios & de umas gatruchas. Porhamos mais vite pistoas. [Argante -Vinte pistolas mais sessenta Pistols so oitental Escaping - justamente. ‘Argante - € muito! Mas vila, concordo, Escapino - Carece também de um cava: linho para 0 ctiado..trintapistolas [Argante - 0 diacho! Mas que @ iso? Ele ‘ue va pro inferno! Nao recebe nadal Escaping - Senhor Agante! [Argante - Nada! € um tratante! Escapino - Quer que o criado dele ande a pé? ‘Argante - Ande como quiser, ¢ © pa tro também. Escapino - Santo Deus! Fazer um cavalo de batalha por t4o pouco! N3o queira demandar, senhor Argante. D@ tudo, para ndo cair nas mios da justca, [Argante - Esti bem, esté bem. Resolvi dar mais essastrntapistolas Eseapina - Ele me disse assim: “Preciso {de um macho, para cartegar..” [Argante - 0 qué? V5 para 0 diabo que © carregue, com 0 seu macho! Nao faltava mais nadal Nao, ‘Wibunais. Escapino - Por favor, senhor Argantel Argante - Nao! Nao dou coisissima nenhumat tse machinho 8 toa, ino ~ Mas, senhor Argante, um [Argante - Nao dou nem um burro! Escapino - Oh, senhor, que & que esti Aizendo? Sabe em que € que val se meter? Passe 0s olhos pelos labirintos da Justia. Veja $6 quantasinstancas & sg7aus de jrsdigdes; quantos processos fembaracosos; quantas aves de rapina cujas garas tera de experimentar; quan- tos meirinhos, procuradores, advoga- dos, escivies, substitutos, relatores, juites escreventes! Nao hé uma s6 ‘entre todas essas pessoas que, por uma ninhara, dese de dar um pontapé no ireto. mais \quido deste mundo. 0 reitinho certiicar a efetvarao de qual ‘quer dilgéncia imaginsria, em vinude «da qual o senhor seré condenado sem saber porqué. Seu procurador se enten era com a parte contrria € o venders por bons cobrinhos. Seu advogado, também sensivel ao subomno, estaré ausente quando a causa for julgada, ou produrirdrazbes que sero pura conver 58 fada, fugindo & matéria. 0 escrivdo lavrard sentencas e mandados de priséo contra 0 senor, por contumacia. 0 cescrevente substitui pecas dos autos e 0 prdprio relator ficaré na moita sobre o ‘que viu Ii dentro. E mesmo que, com as maior cautelas deste mundo, 0 senhor Se precavenna contra tudo isso, ficaré bestfcado ao saber que 0s juzes foram cabalados pela beataria ou pelas Aamantes. Ah, senhor Argate, st for pos: sivel, live-se desse infemo! Porque demanda € o mesmo que inferno em Vida, $6 de imaginar um processo, eu era capaz de fugir para as india. ‘Argante - Quanto & que ele quer para © macho? Escapine - Para o macho, para os dois avalos, pata 95 atelos e para as gar ruchas,e para pagar umas pocafrinhas ‘que deve & dona da hospedavia, pede a0 todo duzentas pistlas ‘Argante - Duzentaspistolas?! Escapino - ‘Argante_(Andando, com raiva) - Bem, bem. lemos demandat os ‘Argante - Vou demandar Refita um bocadiaho. Escapino - Nao se arrsque. Argante - Vou demandar. Escapino - Mas para demandar 6 preciso Alinheiro. 0 senhor vai precsar dele para notincacdes. Vai precisar para registra, Vai precisar para procuracao, para dis Uulbuigdo, para pareceres do Ministério Pblico, periias e emolumentos do pro: curador eral. Vai precisar para pronun Clamento dos auaitores, para o dito de tear 0 Saco dos autos, © para cer tiddes. Vai precisar para relatérios dos substitutes, gorjtas,dligencias de of als de justia, despachos inter locutéros, sentengas, mandados, cus 15, reconhecimento de frmas e trata: os feitos pelos escreventes, sem falar nos “agradinhos” que terd de oferecer! a 0 dinheiro a esse camarada e fara lire de apereagdes. ‘Argante - 0 qué? Ouzentas pistlas? Escaping - Sim, senhor. Esai lucrande, Fiz um caleulozinho das despezas com 2 lustga e veriiquel que, dando duzentas pistolas a esse tipo, 0 senhor economiza pelo menos umas cento © cinquenta, Sem contar preacupacbes, canseivas € abortecimentos que poupard. Mesmo que tvesse de aguentar apenas as bes leis que esses pindegos advogados

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