Welcome to Scribd!
Academic Documents
Professional Documents
Culture Documents
Hobbies & Crafts Documents
Personal Growth Documents
L07-08, LO8, L10 C1, C4, As formas p(er)seueraberjnt, tentaberjt ¢ sibe sio particularmente interessantes por se tratar de elementos latinos que nao sobreviveram em romance. Nao hé nenhum caso de betacismo em inicio de palavra, ive. em todos os casos a substituicao de « por b ocorre em posi¢do medial — entre vogais ou entre Iiquida e vogal —, facto que revela conservadorismo gréfico, e eventualmente também conservadorismo fonolégico, por parte do notério.32 Anténio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (882 a. D. Hi apenas dois casos de u por b: L02 (hidrénimo derivado de caballu-, hoje Cavalum), L05 (lado a lado com mobiles). ‘A substituigio de u por b era um fenémeno gréfico antigo da escrita tardo-latina”! , sem transcendéncia fonémica: reflectia plausivelmente, por um lado, a proximidade fonética entre JB! (proveniente de /w/ latino, grafado u) e /b/ e, por outro lado, a fusio parcial de /B/ e /b/ entre sons aproximantes (com lenigZo de /b/ nesse contexto). Ora o escasso ntimero de formas com alteragGes gréficas na Carta de 882 ndo permite afirmar concludentemente a existéncia nesta época antiga de betacismo no portugues, ou seja, fusdo total de /b/ e /B/ (que os textos. portugueses setentrionais e galegos do séc. XIII indesmentivelmente documentam”). Qualquer dos casos de -b- por -u- da Carta de 882 poderia ser explicado como uma grafia hipercorrecta para []; parece-me no entanto muito duvidoso que as formas alatinadas p(er)seueraberjnt e tentaberjt fossem ainda foneticamente [persefe'raBeré] e [té'taBere] em vez de simplesmente [persefe'raré] e [té'tar], ou que abeant L11 e abea L13 fossem foneticamente ainda ['aBja / 'afia] em vez de'['ad3a / 'adga] , pelo que a variagdo -b-/-u- em formas deste tipo dificilmente teria transcendéncia fonética. Tendo em conta as formas kaualuno ¢ Inmouiles, que tinham a fricativa labial (i.e. [kaBa'ltio] e [i'mofees]), e tendo em conta também a auséncia sintomatica de b- por u- em posicio inicial (¢ respectiva grafia inversa), inclino-me a crer que na lingua galego-portuguesa subjacente ao texto se mantinha a distingiio fonolégica /b/ ~ /B/, ou seja, que nao havia ainda betacismo”3, Esta parece ser a posicZo mais cautelosa face aos dados textuais concretos. 2.2.5 Consoantes palatais A palatalizag”o consonantica, mais concretamente a existéncia em galego-portugués de africadas e fricativas pré-palatais / tf d3 J 3 /, ¢ africadas alveolares / ts dz /, esté também fracamente representada no documento. Apenas dois casos de susbtituigio de g © # por i testemunham directamente a existéncia das africadas pré-palatais do galego-portugués: L06 (por argento)"4, L09 (por ingenua). O conservadorismo do notério 6 aqui, uma vez mais, evidente. 71 Gf. Grandgent 1970:200-6, §§315-325. 7 Sobre esta quest2o, consulte-se imprescindivelmente Maia 1986:472-485, com um tratamento extenso € abundantes referéncias bibliogrficas, A perspectiva ai desenvolvida sobre a diacronia do betacismo esti suibjacente aos comentarios que aqui se apresentam sobre o assunto (0s tinicos casos de D- por u- que se encontram nos documentos particulares do séc. IX so duas instncias da forma barones (DC 6 de 870, com datagao duvidosa, e DC 12, original de 897), que estranhamente Sacks (1941) ndo refer 74 A forma arjemto pod ‘a corresponder foneticamente a [a'8t0], forma que textos galego-portugueses do séc XIII documentam, Trata-se do mesmo desenvolvimento que se encontra por exemplo em PARIETE- > parede, com simplificago do Ataque silico constitufdo por duas soantes. A forma da Carta de 882 documenta assim tum estidio mais antigo [a'rj8to] com conservagio do iode, que podia jf no corresponder & realidade linguistica da época.VERBA, 1999, vol. 26: 7-42 33 2.2.6 Queda de -n- intervocdlico e nasalidade vocdlica Na Carta de 882 hé um conjunto de formas que indicam de modo inequivoco a existéncia de vocalismo nasal (e concomitante queda de 1 em final de silaba) e a supressio de -n- inter-vocilico. Do ponto de vista grafémico este é sem diivida um dos aspectos mais importantes do documento, dado 0 cardcter distintivo que os dois fenémenos conferem ao portugués no conjunto das Ifnguas ibero-romanicas. E necessario ter em conta que os dois fenémenos estio relacionados: a sincope de -n- inter-vocdlico € um aspecto particular do processo geral de reestruturagio do estatuto fonolégico da nasalidade em portugués. Se num primeiro momento a nasalidade da vogal estava associada & nasalidade de uma consoante nasal (geralmente em Coda silébica) contigua, com a queda da consoante nasalizadora a nasalidade vocéilica autonomizou-se. A nasalidade passou assim a estar restrita ao Ataque sildbico, e, dentro da Rima, ao Nucleo: a Coda silbica em portugués deixou de poder conter um segmento nasal. Do ponto de vista grafémico isto levou a que as duas letras consonanticas m en pudessem ser grafadas indiferentemente, em posigdo final de silaba, uma vez que funcionavam apenas como diacriticos representando a nasalidade da vogal precedente. Relativamente & representagio grafémica directa da queda de -n- encontram-se duas formas com omissio da letra consonantica: LO8 (por monastica), ¢ L08 (por elemosynas). Estas so assim seguramente as atestagdes mais antigas da queda de 75 Outras formas documentam claramente a existéncia de vogais nasais auténomas (ou seja, no associadas a presenga fonética de uma consoante nasal), € 0 apagamento de consoante nasal em posig&o pré-consondntica ou final absoluta. Trata-se, em primeiro lugar, de formas com grafia m por n: esta substituigdo mostra que a letra consonéntica nao correspondia jé a uma consoante nasal, sendo a sua presenga um indicador grafémico da nasalidade da letra vocdlica precedente. Um grupo mais reduzido de formas apresenta supressio de 1 pré-consondntico, fenémeno frequente na documentacdo latino-portuguesa antiga © na documentagdo portuguesa do século XII: 0 n s6 poderia ser omitido se representasse uma propriedade da vogal precedente, ¢ no uma consoante foneticamente articulada. Assim, por ex. L03 corresponde naturalmente a [sé'tétsa] ‘As formas da Carta de 882 que reflectem a existéncia de nasalidade vocdlica sao: Substituigdo den por m arcamgeli LOL (por archangeli) — cf. areangeli L03 fumdam(us) LO1 L03 (por fundamus) — ef. fundam(us) LO2 75 Sacks (1941) ¢ Sletsip (1959) anotaram devidamente elemosias. No entanto, pelo facto de trabalharem a partir da edigio dos Diplomata et Chartae, nio puderam considerar a outra forma que af foi transcrta como ‘monastica. © manuscrito no apresenta qualquer indicio den intervoedico.34 Ant6nio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (862 a. D.).. setemtja LO3 (por sententia) — cf. setentja LO8 tumudamdum 103 (por tumulandum) toloramdum L04 (por tolerandum) arjemto L06 (por argento) quamtumg(ue) LO6 (por quantumque) uimdendi L09 (por uindendi) — cf. donandi L09, Inmitendi LO9 numlo LO9 (por nullo) propim/quis L09-10 (por propinguis) talemtum L12 (por ralentum) gumsalbo Cl (por gunsaluo) — cf. gunsalbus C4 Omissio de n pré-consonantico setemtja LO3 (por sententia) setentja LO8 (por sententia) (con)fmas C4 (por confirmans) A forma numilo é a mais interessante e concludente: reflecte plausivelmente uma forma fonética [ni£o] com vogal nasal devido a nasalizagio progressiva. No étimo latino nao havia consoante nasal p6s-vocélica, e por isso a forma numlo mostra duas coisas: que havia jit em portugues vogais nasais nao seguidas de consoantes nasais, e que a grafia m funcionava como um diacritico para representar a nasalidade vocélica Neste aspecto grafo-fonémico 0 notério mostra-se razoavelmente inovador, os seus desvios & ortografia latina apontam indiscutivelmente para o galego-portugués como sua lingua nativa, € como lingua que determinou as suas escolhas gréficas. 2.2.7 Queda de intervocdlico ‘A queda de /I/ intervocdlico nao se encontra representada directamente no documento, i.e, ndo ocorre nenhuma forma gréfica da qual que se possa dizer que -I- tenha sido omitido”®: pelo contrario, ocorrem diversas formas que contém -I-, apesar de a forma galego-portuguesa correspondente apresentar supressdo da consoante lateral. E 0 caso de L03, L05, L05, LOS, C4. 76 As formas mais antigas com queda de -I- apontadas por Sacks 1941 sio os antropénimos de origem germanica Froia froiaz, ambos de um documento de 919 (DC 22), queda da liquida neste contexto pode receber outra explicaglo, relaciona’ com a presenga do iode (representado por i). Quanto ao valor testemunhal da forma palasio apontada por Sletsjo (1959), também em um documento de 919 (DC 23), e correspondente a0 topénimo Pacd, & necessério levantar a objecgio de que ocorre numa e6pia do sée. XII do Liber Testameniorum de Lorvio. O DC 22, também de 919, original proveniente do cartério de Lorvao (referente ‘ag mesmo lugar e &s mesmas pessoas) tem palatiolo.VERBA, 1999, vol. 26: 7-42 35 Ha no entanto duas formas que podem reflectir indirectamente a queda de /l/ no vernéculo: trata-se de L14 e L03. Relativamente a , a duplicagdo da letra consonantica pode ser um indicio de que a pronunciagio habitual de palavras latinas com -I- seria sem consoante??: a grafia Il constituiria uma “adverténcia” grafémica para preservar ou garantit a articulagao da liquida, pelo facto de que a consoante longa / I: /do latim, grafada IU, tinha evolufdo em galego-portugués para / 1 / simples. Quanto a (por tumulandum), estamos, penso, perante um testemunho mais directo. Ao contrério de J. G. Freire, que interpreta 0 d como um lapso escribal motivado por antecipagao da consoante da sflaba seguinte -dum (Freire 1988-89a:4) , penso que se trata de uma grafia intencional, a qual se pode explicar quer pela dificuldade grafémica de restaurar na escrita uma consoante que na prontincia nao existiria, quer (embora menos provavelmente) por hipercorrec¢ao’8 . Em qualquer dos casos a gratia d por I releva de uma dificuldade grafo- fonémica que se prende com a existéncia de formas vernaculas com um hiato resultante da queda de uma consoante: ou seja, a realizago fonética com hiato [tumu'ado] é fonologicamente plausfvel, e a escolha de d em vez. de I reflecte alguma inseguranga escribal na “restauragiio” de consoantes inter-vocdlicas sineopadas. Assim sendo, as duas formas referidas podem ser consideradas, com as devidas reservas ¢ cautelas, como testemunhos gréficos indirectos da queda de /V/ inter-vocélico em territ6rio portugués no séc. IX, 0s quais, pela sua antiguidade, devem ser devidamente notados e considerados, 2.2.8 Ditongos galego-portugueses A Carta de 882 ndo apresenta nenhum caso de representagio directa de um ditongo galego-portugués, i.e. um digrafo inovador composto de duas letras vocdlicas”. Uma vez. que na época em questdo existiam jé no galego-portugués diversos ditongos que nio existiam no latim classico, cabe perguntar sob que convengao grifica latina se escondiam. Como mostra a Noticia de torto de ca. 1214, a representaco grafémica de ditongos fez-se até uma época tardia por reinterpretacdo e reutilizacdio de sequéncias grificas latinas jé existentes, do tipo to era possfvel porque em muitos casos as oclusivas ¢ a lateral / 1 / vogal + consoante; 77 Leif Sletsjo formulow a hipotese de a grafia I! representar uma realizacao fonética com velarizado ({4]), mas 6 seu estudo, haseada na documentagio publicada nos Diplomara et Chartae no é muito conclusive. 7 Deve considerar-se a possibilidade de a forma rumudamdum reflectir um vulgarismo antigo que consistia na substituigdo de d por 1 e viceversa, que o Apendix Probi regista («adipes non alipes»), e que Grandgent assinala, citando a Ars Grammatica de Victorino (séc-1V): «Mario Vietorino (Keil, VI, 8) dice: “Gn. Pompejus Magnus et scribebat et dicebat kadamitarem pro calamitate.” (Grandgent 1970:187, §274.3)..A forma LOS, apresenta a metitese antiga de ~d-e -- que esté na base da forma portuguesa patil-patis, € € assim a atestagdo mais antiga dessa forma num texto portugu Os documentos particulares do sée. IX sio muito conservadores no que respeita a representagiio dos ditongos galego-portugueses, Neles encontram-se apenas trés formas com ditongo ei: inleigato DC 12 (de 897, original de Pedroso), balteiro (antropénimo mase.) ¢ eilo (antropsnimo fem.) DC 10 (de 883, apégrafo do sée. X1).36 Anténio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (882 a. D.)... latinas em posigao final de sflaba foram vocalizadas e passaram a glides em galego-portugués Por isso, siio de facto raras na documentacio latino-portuguesa as instncias de represent: de ditongos galego-portugueses através de digrafos nao latinos. © tinico digrafo latino representando um ditongo latino que evoluiu para um ditongo galego-portugués é au, como em L12 ['oure]. Em LO1 (= [lar(e)'doza]), de *lauretésa, 0 ditongo por ftona evoluiu para /a/, como sucedeu regularmente noutras formas estar em posig: portuguesas, e como mostra o top6 Assim, formas como LOS (= [frui'tozas]), LOS (= ['leitos]), LOS (= [ka'dejras]), L06 (= ['kaifa]), L06 (= [tej'Jado)), L11 (= [regure'ts6]) tinham ditongo resultante de vocalizacao de oclusiva, 0 moderno Lardosa. enquanto as formas com terminagao -ariu / -oriu apresentavam ditongo por atracgao do j para a silaba t6nica: LOL (= [dze'Brejro}), LO7 (= [ou'tejro}), LO2 (= [teri'dojro]). A possibilidade de reinterpretagdo das convengGes gréficas latinas explica a resisténcia a utilizagdo generalizada de grafias inovadores para os ditongos no O conservadorismo do notério de 882 é desta forma mais conjunto da documentagao notari uma vez posto em evidéncia. 2.2.9 Fendmenos vérios A Carta de 882 contém formas que representam dit maior ou menor antiguidade, e que documentam pontualmente distanciamento do notario em do 4 norma latina, e nalguns casos, clara aproximagdo a Ifngua falada da época: -clamente diversos fendmenos, de rela Simplificagdo consonantica annes L02 (por amnes) eclesia L03 L06 L12 (por ecclesia) sesicas LOS (por sessicas) Inmitendi LO9 (por immittendi) danatjone L10 (por damnatione) tentaberjt L10 (por temptauerit) resurectione L11 (por ressurrectione) ressusitandi L11 (por ressuscitandi) percus[us] L11 (por percuss[us]) gutierjt C1 (por gutierre) Omissao de h- inicial {omis} L06 (por hominis) une L10 (por hunc) omine L09 (por hominem)VERBA, 1999, vol. 26: 7-42 37 abeant L11 (por habeant) anc L13 (por hanc) abea L13 (por habeat) Recomposiga0 Inmouiles LOS (por immobiles) Inmitendi LOO (por immittendi) Redugiio de ns. as (con)fmas C4 (por confirmans) Assimilagio e dissimilagiio vocdlica tolorandum Lot (por tolerandum) sirores LO7 (por sorores) Rodorjgus C4 (por rodericus) Geminagdo (ou recomposigdo) hipercorrecta comnide L09 (por comite) A ocorréncia de uma tinica grafia inversa (por hipercorrec¢do), os casos escassos de simplificagaio de -ss- e -rr- mostram mais uma vez 0 conservadorismo geral do escriba. Por outro lado, as formas inclufdas na pentiltima alinea assinalam de forma directa aspectos do vocalismo do galego-portugués que outros documentos antigos também atestam. 3. CONCLUSAO De uma forma geral pode considerar-se a Carta de 882 como ortograficamente conservadora, i.e. sem grandes ou notérios desvios &s grafias latinas tradicionais: ha poucos factos scripto-gréficos compardveis, em quantidade e em substancia, aos que Menéndez Pidal encontrou na documentagao leonesa antiga, Neste sentido, 0 documento portugués mais antigo contrasta com o diploma hispanico mais antigo, 0 Diploma do Rei Silo, e com a documentagao dsture-leonesa do séc. X em geral. Em todo 0 caso, ¢ apesar de alguns aspectos marcantes da fonologia galego-portuguesa nao terem representagdio grafémica especifi aspectos grafémicos apontados acima mostram que a lingua nativa do notério era uma lingua romanica, ¢ as formas consideradas a propésito da queda de -I- e -n- e da nasalidade vocélica, mostram que se tratava de uma variedade de galego-portugués. Note-se, no entanto, que a maioria dos romanismos grafo-fonémicos levantados nao permite distinguir particularmente a lingua do notério da Carta de 882 da lingua de outros documentos hispanicos coevos ou proximos. + OS38 Ant6nio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (862 a. D.)... Ainda que concordando com Herman, Banniard, e Pérez Gonzalez. sobre a menor importancia tipolégica dos aspectos fonético-fonolégicos, nao posso deixar de fazer notar que esta menor importancia € obviamente relativa, e diz respeito ao seu potencial cardcter diferenciador em confronto com outros aspectos lingufsticos no contexto da escrita notarial. Por exemplo, a representagao grifica do vozeamento das obstruintes surdas inter-vocdlicas & um fenémeno importante no estudo da documentacio notarial, enquanto indice de vernacularizacao da ortografia latina, E no entanto necessério notar que a alteragdo da tradigéio ortogréfica latina nao se fez apenas através de mudancas visiveis. H4 mudangas que sao formalmente invis/veis, mas nao deixaram de alterar profundamente o sistema representacional: refiro-me a mudangas de cardcter estrutural, que, levando a uma reinterpretagio dos padrdes grafémicos existentes, permitiram que as formas ou elementos ortogréficos permanecessem em uso ainda que associados a representages fonémicas diferentes das representagdes fonémicas latinas ‘originais”. Veja-se acima os casos das consoantes e vogais nasais, dos ditongos, ou da terminagio -us. Os importantes estudos de Puentes Romay (q.v.) sobre as grafias dos diplomas alto-medievais séo particularmente esclarecedores a este respeito. Concluindo, a Carta de 882, apesar dos desvios que apresenta & norma latina, desvios correntes na restante documentagao, ¢ em alguns documentos com bastante maior incidéncia, mostra, pelo seu conservadorimo geral, que as grafias latinas podiam manter-se linguisticamente funcionais num ambiente linguistico romance, € que a necessidade de uma reforma ortografica estava longe. A titulo de exemplificagdo de alguns aspectos acima referidos oferego uma transcrigdo fonética larga de um excerto da Carta de 882 (de acordo com os critérios e convengdes da International Phonetic Association), com base numa reconstrucao possivel da fonologia do portugués antigo setentrional: (04)... et fora dextruos Ipsa uilla p(er) ubi Mla obtinuim(us) d(e) presurja € 'fo.ra 'des.tros e.sa'fila peru a oy.te.'Be.mos de pre.'zui.ra p(er) suis locis et-terminus antiquus cum: pa[s]cuis padulibus montes fontes per sous 'lo.gos e ‘ter.mii.os 3.'ti.gos kG 'pas.kos pa'u.es 'md.tes 'fd.tes {L05] petras mobiles {ul} Inmouiles aquis aquarum (ul} sesicas — molinarum 'pe.dras ‘ms.Be.es Bel i'mo.Be.es 'ay.gas au.'ga.ro fel 'se.se.gas moi.'a.r0 terras_ruptas {ul} barbaras arbores _fructuosas {ul} Infructuosas ‘te.ras 'ro.tas Bel bar.'Ba.cas 'ar.Bo.ces fruj.'to.zas Bel 1.fruj'to.zas accessum {ul} regressum cub(us) cubals! lectus kad(e)dras mensas signum a'tse.so Bel re.'gre.so.'ku.Bos ‘ku. Bas ‘ej.tos 'ka.dej.cas 'me.zas 'si.noVERBA, 1999, vol. 26: 7-42 39 [L06] de-medalo cruce kapsa calice d(e)- arjemto cum quamtumg(ue) Ibidem de me.'da.lo 'krudz 'kaj.fa 'kalidz da.'ré.to kG 'ka.to.ke ‘id’ a prestamo (omis) est. .. a 'pres.ta.mo 'o.mé.es € 4, REFERENCIAS ALVAREZ MAURIN, Maria del Pilar 1994. Diplomdtica Asturleonesa. Terminologia Toponimica, Le6n: Universidad de Leén. AZEVEDO, Rui de1932. “O mais antigo documento latino-portugués”, Arquivo Historico de Portugal 1, pp. 500-502. BASTARDAS PARERA, Juén 1953. Particularidades Sintdcticas del Latin Medieval. Cartularios espafoles de los siglos VIII al XI, Barcelona-Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas. CASTRO, Ivo de & Ana Maria RAMOS 1986, “Estratégia e tactica da transcrigdo”, in Actes du Colloque Critique Textuelle Portugaise, Paris: Centre Culturel Portugais / Fondation Calouste Gulbenkian, pp. 99-122. CINTRA, Luis F. Lindley 1978. “Langue parlée et traditions écrites au Moyen-Age (Péninsule Ibérique)”, in Asti del XIV Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza, vol. 1, pp. 463-472. COSTA, Avelino de Jesus da 1977. Normas Gerais de Transcrigao e Publicagao de Documentos e Textos Medievais e Modernos, Braga: Livraria Cruz. COSTA, Avelino de Jesus da 19822, Normas Gerais de Transcri¢do e Publicagao de Documentos e Textos Medievais e Modernos, Braga, 2* edigio. COSTA, Avelino de Jesus da 19933. Normas Gerais de Transcrig&o e Publicagdo de Documentos ¢ Textos Medievais e Modernos, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Paleografia e Diplomitica, 3* edigao. CRAVENS, Thomas 1991. “Phonology, phonetics, and orthography in Late latin and Romance: the evidence for early intervocalic sonorization”, in Wright (Ed.) 1991, pp. 52-68. EMILIANO, Ant6nio 1995. “Tradicionalidad y exigencias de realismo en la lengua notarial hispdnica (hasta el siglo XII)", in Actas I Congreso Nacional de Latin Medieval, Le6n, pp. 511-518. EMILIANO, Ant6nio 1998. “Significado lingiifstico de errores de copista en la lengua notarial del siglo XI. Andlisis de ejemplos del Liber Fidei de Braga”, Congreso Hispdnico de Latin Medieval (Leén, 1997), pp. 407-420. in Actas IT40 Anténio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (882 a. D.) FERGUSON, C. A. 1959. “Diglossia”, Word15, pp. 325-340. FREIRE, José Geraldes 1988. Apontamentos das Ligdes das Aulas Praticas da Disciplina de Latim Medieval — Curso de 1987-1988, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (dactiloscrito de Ant6nio Manuel Ribeiro Rebelo). FREIRE, José Geraldes 1989a. Sumdrios da Disciplina de Latim Medieval — Curso de 1988- 1989, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. FREIRE, José Geraldes 1989b. Apontamentos das Ligdes das Aulas Prdticas da Disciplina de Latim Medieval — Curso de 1988-1989, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (manuscrito de Manuel Francisco Ramos). FREIRE, José Geraldes 1995. O Latim Medieval em Portugal: Lingua e Literatura (Oragdo de Sapiéncia), Coimbra: Servigo de Documentagao ¢ Publicagdes da Universidade de Coimbra. GRANDGENT, C. H. 1970. Introduccién al Latin Vulgar, Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 4° ed. (edigdo espanhola revista, ampliada e parcialmente refundida) HERMAN, J6zsef 1975. Le Latin Vulgaire, Paris: Presses Universtaires de France (col. Que Sais-je? N°1241). HERMAN, Jézsef 1991. “Spoken and written Latin in the last centuries of the Roman Empire. A contribution to the linguistic history of the western provinces”, in Wright (Ed.) 1991, pp. 29-43. JENNINGS, Augustus Campbell 1940. A Linguistic Study of the Cartulario de San Vincente de Oviedo, New York: S. F. Vanni. LAUSBERG, Heinrich 1974. Linguistica Romdnica, Lisboa: Fundago Calouste Gulbenkian. LUDTKE, H. 1964. “Die Entstehung romanischer Schrifisprachen”, Vox Romanica 23. pp. 3- 21 MAIA, Clarinda de Azevedo 1986. Histéria do Galego-Portugués.Estado linguistic da Galiza e do Noroeste de Portugal desde o século XII ao século XVI. (Com referéncia a situag@o do galego moderno), Coimbra: Junta Nacional de Investigagao Cientifica. MENENDEZ PIDAL, R. 19809. Origenes del Espaiiol. Estado lingiitstico de la Peninsula Ibérica hasta el siglo XI, Madrid, 9* edicién (segdn la tercera muy corregida y adicionada) NUNES, José Joaquim 1919/19758. Compéndio de Gramdtica Historica Portuguesa. Fonética e morfologia, Lisboa: Livraria Classica Editora, 8* edigao. PENSADO, Cérmen 1991. “How was Leonese Vulgar Latin read”, in Wright 1991 (Ed.), pp. 190-204. PEREZ GONZALEZ, Maurilio 1991. “Restos de flexién bicasual en el latin de documentacién leonesa del siglo X”, Archivos Leoneses 89-90, pp. 35-48.VERBA, 1999, vol. 26: 7-42 41 PEREZ GONZALEZ, Maurilio 1993a, “El diploma del rey Silo y sus romanismos”, Cuadernos de Filologia Cldsica. Estudios Latinos 5, pp. 115-139. PEREZ GONZALEZ, Maurilio 1993b. “Restes de cas oblique dans le ‘roman commun’ de la Péninsule Ibérique”, in Actes du XX® Congrés International de Linguistique et Philologie Romanes, Tiibingen-Basel: Francke Verlag, pp. 431-444. Portugaliae Monumenta Historica a Saeculo Octavo post Christum usque ad Quintum Decimum — Diplomata et Chartae, vol. 1, Lisboa: Academia das Cigncias, 1867-1873 PUENTES ROMAY, José Antonio 1986a. “Notas sobre la grafia de documentos latinos alto- medievales”, Verba 13, pp. 343-8. PUENTES ROMAY, José Antonio 1986b. “Acerca de la graffa del latin altomedieval”, Euphrosyne 14, pp. 97-112. PUENTES ROMAY, José Antonio 1992. “Acerca de la pronunciacién del latin altomedieval: a propésito de una teorfa reciente”, Euphrosyne 22, pp. 269-281. PUENTES ROMAY, José Antonio 1995. “Representacién grafica de palatales en documentos altomedievales del Noroeste penisular: tradicién e innovacién’, in Actas I Congreso Nacional de Latin Medieval, Le6n, pp. 619-626. PUENTES ROMAY, José Antonio 1998. “Lengua y gramética en el noroeste peninsular altomedieval: algunas consideraciones generales”, in Actas II Congreso Hispdnico de Latin Medieval (Leén, 1997), pp. 769-775. SABATINI, Francesco 1965. “Esigenze di realismo e dislocazione morfologica in testi preromanzi”, Rivista di Cultura Classica e Medievale 7, pp. 972-998. SABATINI, Francesco 1968. “Dalla «scripta latina rustica» alle «scriptae romanze», Studi Medievali 9, pp. 320-358. SABATINI, Francesco 1978. “Lingua parlata, ‘scripta’ e coscienza linguistica nelle origini romanze”, in Atti del XIV Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza, vol. I, pp. 445-453. SACKS, Norman P. 1941. The Latinity of Dated Portuguese Documents in the Portuguese Territory, Philadelphia: University of Pennsylvania. SELIG, FRANK & HARTMANN (Eds.) 1993. Le Passage a I’Ecrit des Langues Romanes, Tubingen: Gunter Narr Verlag. SLETSI@, Leif 1954-55. “L’ écriture Il pour ! — signe de velarité en ancien portugais?”, Boletim de Filologia 15, pp. 1-15. SLETSI@, Leif 1959. Le Développement de | et n en Ancien Portugais, Oslo-Patis. WALSH, Thomas 1991. “Spelling lapses in Early Medieval Latin documents and the reconstruction of primitive Romance phonology”, in Wright 1991 (Ed.), pp. 205-218 WILLIAMS, Edwin B. 1975. Do Latim ao Portugués, Rio de Janeiro: Edigées Tempo Brasileiro.42 Anténio Emiliano: O mais antigo documento latino-portugués (882 a. D.)... WRIGHT, Roger 1976. “Speaking, reading and writing Late Latin and Early Romance”, Neophilologus 60, pp. 178-189. WRIGHT, Roger 1982. Late Latin and Early Romance in Spain and Carolingian France, Liverpool: Francis Cairns. WRIGHT, Roger 1992. “La metalingiifstica del siglo XII espafiol (y la Chronica Adefonsi Imperatoris)”, in Actas del II Congreso Internacional de Historia de la Lengua Espandla, vol.2, Madrid, pp. 879-886. WRIGHT, Roger 1993. “Complex monolingualism in Early Romance”, in Linguistic Perspectives on the Romance Languages: Selected Papers from the XXI Linguistic Symposium on the Romance Languages, Amsterdam, pp. 377-88. WRIGHT, Roger (Ed.) 1991. Latin and the Romance Languages in the Early Middle Ages, London: Routledge.