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PCL 122, Martin Seempa e o Protestantismo Brasileiro

Os caminhos que separam a normalidade da anormalidade são similares, muitas vezes paralelos
e com o mesmo código postal. Faço referência à homossexualidade, orientação sexual daqueles
que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Como nos diz o professor Félix López Sánches,
catedrático de Psicología Evolutiva na Universidade de Salamanca – autor do livro
Homossexualidade e Família – a homossexualidade é algo natural, uma condição pertencente ao
ser do homem, devendo ser aceita e compreendida pela família e pela sociedade. Não é o que
pensa no entanto o pastor Martin Seempa, ugandense militante anti-homossexual que há poucos
dias iniciou uma jornada com vistas a endurecer a legislação que pune a homossexualidade no
país africano.

Segundo o professor Sanchez, “pedestres” – para seguir com a metáfora dos caminhos – que
foram educados em anos de forte regime ditatorial, como os do Brasil ou da Espanha de Franco,
por exemplo, possuem comportamento sexofóbico, que envolve distorções não apenas na
maneira de pensar, sentir e de medo “irracional da homossexualidade”, como ainda na forma de
relacionar-se com a família: na maioria das ocasiões discriminando, e o que é pior, rechaçando
parentes e amigos que sejam homossexuais.

A homossexualidade, como dizia para minha mãe outro dia desses, ela, primeiramente mãe, e
segundamente pastora, ninguém escolhe ser o que é: não se escolhe ser negro, ser idoso, ser
brasileiro, tão somente se é; ninguém escolhe ser discriminado, rejeitado pela família, privado de
expressar afeto em público. As pessoas são o que são, e como o que é normal para mim,
aceitável, tolerável pode ser anormal, inaceitável e intolerável para o outro, a homossexualidade,
em alguns campos do debate, é vista como anomalia e comportamento, classificação essa forjada
com a clara intenção de desqualificar a discussão entorno da homofobia.

É o que pretende o citado pastor africano e um grupo de religiosos brasileiros que ignoram o fator
orientação sexual, reduzindo-o a comportamento, argumentando lá, na África, que comportamento
deve ser punido por lei, e aqui, no Brasil, desacelerando projetos de lei que visam criminalizar a
homofobia, como o PCL 122.

A homossexualidade precisa, então, ser compreendida como orientação, como parte mesma do
ser do homem para que se possa tolerar, respeitar e sobretudo proteger essa parcela da
população, que apenas no Brasil sofre uma baixa a cada três dias.

Carlos Henrique Lucas Lima,


tradutor do livro Homossexualidade e Família e escritor.

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