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Estrutura e Função
das Proteínas
Aminoácidos
1
I. VISÃO GERAL
A Aminoácido livre
As proteínas são as moléculas mais abundantes e com maior diversidade de Comuns a todos os
funções nos sistemas vivos. Praticamente todos os processos vitais dependem ␣-aminoácidos das proteínas
dessa classe de moléculas. Por exemplo, enzimas e hormônios polipeptídicos
controlam e regulam o metabolismo corporal, enquanto proteínas contráteis no
músculo permitem a realização dos movimentos. Nos ossos, a proteína colágeno H
forma uma estrutura para a deposição de cristais de fosfato de cálcio, atuando +H N
3 C␣ COOH
C OH
CO
como as barras de aço no concreto armado. Na corrente sangüínea, proteínas
como a hemoglobina e a albumina plasmática transportam moléculas essenciais Grupo Grupo
amino carboxila
para a vida, enquanto as imunoglobulinas combatem bactérias e vírus causado-
res potenciais de infecções. Em suma, as proteínas apresentam uma diversida-
de incrível de funções; todavia, todas têm em comum a característica estrutural:
A cadeia O carbono ␣
são polímeros lineares de aminoácidos. Este capítulo descreve as propriedades lateral é distinta encontra-se
dos aminoácidos; o Capítulo 2 mostra como esses blocos constitutivos simples para cada entre os grupos
aminoácido. carboxila e amino
são unidos para formar proteínas com estruturas tridimensionais singulares,
tornando-as capazes de desempenhar funções biológicas específicas.
B Aminoácidos combinados
em ligações peptídicas
II. ESTRUTURA DOS AMINOÁCIDOS
NH-CH-CO-NH-CH-CO
Embora mais de 300 diferentes aminoácidos tenham sido descritos na natureza,
apenas 20 deles são usualmente encontrados como constituintes de proteínas em
mamíferos. (Nota: Esses são os únicos aminoácidos codificados pelo DNA, o ma-
terial genético da célula [veja a página 395].) Cada aminoácido (exceto a prolina,
que possui um grupo amino secundário) apresenta um grupo carboxila, um grupo As cadeias laterais
determinam as propriedades
amino primário e uma cadeia lateral distintiva (“grupo R”) ligados ao átomo de das proteínas
carbono α (Figura 1.1A). Em pH fisiológico (aproximadamente 7,4), o grupo carbo-
xila encontra-se dissociado, formando o íon carboxilato, carregado negativamente
(–COO–), e o grupo amino encontra-se protonado (–NH3+). Nas proteínas, quase Figura 1.1
todos esses grupos carboxila e amino estão combinados nas ligações peptídicas Características estruturais dos aminoácidos
e, em geral, não estão disponíveis para reações químicas, exceto pela possibilida- (mostrados em sua forma completamente pro-
de de formação de pontes de hidrogênio (Figura 1.1B). Portanto, em última aná- tonada).
2 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier
H H H
+H N +H N +H
3 C COOH 3 C COOH 3N C COOH
H CH3 CH
pK2 = 9,6 pK1 = 2,3 H3C CH3
H H H
+H N +H N
C COOH C COOH +H COOH
3 3 3N C
CH2 H C CH3 CH2
CH CH2
H3C CH3 CH3
H H
+H N
3 C COOH +H N
C COOH H
3
CH2 +H COOH
CH2 2N C
C CH2 H2C CH2
CH2
CH S
N
H CH3
Figura 1.2
A classificação dos 20 aminoácidos comumente encontrados nas proteínas, de acordo com a carga e a polaridade de suas ca-
deias laterais, é mostrada aqui e continua na Figura 1.3. Cada aminoácido é mostrado em sua forma completamente protonada,
com os íons hidrogênio dissociáveis representados em vermelho. Os valores de pK para os grupos α-carboxila e α-amino dos
aminoácidos apolares são semelhantes àqueles mostrados para a glicina. (Continua na Figura 1.3.)
Bioquímica Ilustrada 3
H
+H C COOH
3N
H H
CH2
+H +H N
3N C COOH 3 C COOH pK2 = 9,1 pK1 = 2,2
H C OH H C OH
H CH3
OH 10.1
pK3 = 10,1
H H
+H +H
pK3 = 9,8 3N C COOH pK3 = 9,7 3N C COOH
CH2 CH2
C CH2
O OH 3.9
pK2 = 3,9
C
O OH pK2 = 4,3
2.2
pK1 = 2,2
9.2
pK3 = 9,2 1.8
pK1 = 1,8 pK2 = 9,2
pK2 = 9,0
H H H
+H N +H +H
3 C COOH 3N C COOH 3N C COOH
CH2 CH2 CH2
C CH CH2 CH2
+HN NH CH2 CH2
C
H CH2 N H
6.0
pK2 = 6,0 NH3+ 10.5
pK3 = 10,5 C NH2+ 12.5
pK3 = 12,5
NH2
Figura 1.3
A classificação dos 20 aminoácidos comumente encontrados nas proteínas de acordo com a carga e a polaridade de suas ca-
deias laterais. (Continuação da Figura 1.2.)
4 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier
H
Ponte de
hidrogênio Muitas proteínas extracelulares são estabilizadas por
O
ligações dissulfeto. Um exemplo é a albumina, uma pro-
C teína do plasma sangüíneo que funciona como trans-
Grupo portadora de uma grande variedade de moléculas.
carbonila
1. Primeira letra única. Se apenas um aminoácido começa com de- 4 Letra próxima à letra inicial
terminada letra, então aquela letra é utilizada como seu símbolo. Por
exemplo, I = isoleucina. Aspartato ou = Asx = B (próxima do A)
asparagina
2. Os aminoácidos de ocorrência mais freqüente têm prioridade. Se Glutamato ou = Glx = Z
mais de um aminoácido começam com determinada letra, o aminoáci- glutamina
do de ocorrência mais freqüente recebe aquela letra como símbolo. Por Lisina = Lys = K (próxima do L)
Aminoácido = X
exemplo, a glicina é mais freqüente que o glutamato, então G = glicina.
indeterminado
1
HA → H ⫹ A⫺
Região de tamponamento
[II] > [I] ←
ácido próton forma salina
Equivalentes OH– adicionados
1,0
fraco ou base conjugada
[A– ]
pH pKa + log
[HA]
B. Tampões
Um tampão é uma solução que resiste a mudanças de pH quando se adi-
cionam pequenas quantidades de ácido ou base. O tampão pode ser pro-
duzido pela mistura de um ácido fraco (HA) com sua base conjugada (A–).
Se um ácido, como o HCl, for adicionado a tal solução, pode ser neutraliza-
do pelo A–, que no processo é convertido em HA. Se uma base for adicio-
nada, o HA pode neutralizá-la, sendo convertido em A– nesse processo. A
capacidade tamponante máxima ocorre quando o pH for igual ao pKa, mas
Bioquímica Ilustrada 7
OH– OH–
H H H
+H N C C COO– H2N C COO–
3
CH3 CH3 CH3
FORMA I FORMA II FORMA III
pK1 = 2,3 pK2 = 9,1
Alanina em uma solução ácida Alanina em uma solução neutra Alanina em uma solução básica
(pH menor que 2) (pH aproximadamente 6) (pH acima de 10)
Figura 1.10
Formas iônicas da alanina em soluções ácidas, neutras e básicas.
um par conjugado ácido/base ainda pode servir como tampão efetivo quan-
do o pH da solução estiver até +1 unidade de pH afastado do pKa. Se as
quantidades de HA e A– forem iguais, o pH é igual ao pKa. Como mostrado
na Figura 1.9, uma solução de ácido acético (HA = CH3–COOH) e acetato
(A– = CH3–COO–), com pKa de 4,8, resiste a mudanças no pH entre os pHs
3,8 e 5,8, com capacidade tamponante máxima no pH 4,8. Em pHs abaixo
do pKa, a forma ácida protonada [CH3–COOH] é a forma predominante. Em
pHs acima do pKa, a forma básica não-protonada [CH3–COO–] é a forma
predominante na solução.
C. Titulação de um aminoácido
1. Dissociação do grupo carboxila. A curva de titulação de um amino-
ácido pode ser analisada como descrito anteriormente para o ácido
acético. Considere a alanina, por exemplo. Esse aminoácido contém
um grupo α-carboxila e um grupo α-amino. Em pHs baixos (ácidos),
os dois grupos encontram-se protonados (como mostrado na Figura
1.10). À medida que o pH da solução é aumentado, o grupo –COOH
da Forma I pode dissociar-se, doando um próton ao meio. A libera-
ção do próton resulta na formação do grupo carboxilato, –COO–. Essa
estrutura é mostrada como a Forma II (a forma dipolar da molécula,
veja a Figura 1.10). Também denominada zwitterion, essa é a forma
isoelétrica da alanina − ou seja, possui carga líquida igual a zero.
[II]
pH pK1 + log
[I]
H
H2N C COO
– 3. Dissociação do grupo amino. O segundo grupo titulável da alanina
+
CH3 é o grupo amino (–NH3 ), mostrado na Figura 1.10. É um ácido muito
mais fraco que o grupo –COOH; portanto, apresenta constante de
FORMA III
dissociação muito menor, K2. (Nota: Seu pKa, portanto, é maior.) A
liberação de um próton pelo grupo amino protonado da Forma II re-
Região de Região de
tamponamento tamponamento sulta na forma completamente desprotonada da alanina, a Forma III
(veja a Figura 1.10).
[II] = [III]
2.0
Equivalentes OH– adicionados
Formas I (carga líquida +1) e III (carga líquida –1). s Um aumento no íon bicarbonato
faz com que o pH aumente.
6. Carga líquida dos aminoácidos em pH neutro. Em pH fisiológico, s Obstrução pulmonar provoca
todos os aminoácidos apresentam um grupo carregado negativa- aumento no dióxido de carbono e
– +
mente (–COO ) e um grupo carregado positivamente (–NH3 ), ambos causa a redução do pH, resultando
em acidose respiratória.
ligados ao carbono α. (Nota: Os aminoácidos glutamato, aspartato,
histidina, arginina e lisina apresentam, além desses, outros grupos
potencialmente carregados em suas cadeias laterais.) Substâncias ALVÉOLOS
como os aminoácidos, que podem atuar como ácidos ou bases, são PULMONARES
classificadas como anfotéricas e chamadas de anfólitos (eletrólitos
anfotéricos).
CO2 + H2O H2CO3 H+ + HCO3-
Bases fracas (BH+) também podem liberar um H+. A forma protonada das
drogas básicas, no entanto, normalmente possui carga elétrica, e a perda
de um próton produz a base desprovida de carga (B). Membrana
lipídica
+
BH B + H+
H+ A-
Uma droga passa através de membranas com mais facilidade quando não H+
apresenta carga elétrica. Assim, para um ácido fraco como a aspirina, a HA
H+ A-
forma desprovida de carga HA consegue permear através das membra-
–
nas, enquanto A não consegue. Para uma base fraca como a morfina, por H+
exemplo, a forma desprovida de carga, B, atravessa membranas, enquanto HA
+
BH não o faz. Portanto, a concentração efetiva da forma permeável de
cada droga em seu sítio de absorção é determinada pelas concentrações
relativas das formas carregada e desprovida de carga. A razão entre as LÚMEN DO SANGUE
ESTÔMAGO
duas formas é, por sua vez, determinada pelo pH no sítio de absorção e
pela força do ácido fraco ou da base fraca, representada pelo pKa do grupo
ionizável. A equação de Henderson-Hasselbalch é útil para a determinação
da quantidade de droga encontrada em cada lado de uma membrana entre Figura 1.12
dois compartimentos com diferença de pH, por exemplo, o estômago (pH A equação de Henderson-Hasselbalch é
1,0 a 1,5) e o plasma sangüíneo (pH 7,4). utilizada para prever: (A) variações no pH, à
medida que as concentrações de HCO3– ou
CO2 são alteradas; ou (B) as formas iônicas
das substâncias.
10 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier
V. RESUMO DO CAPÍTULO
Aminoácidos
(completamente protonados)
desprotonado (–COO–) em
+
protonado (–NH3 ) em Ácidos fracos
compostas por
pH fisiológico pH fisiológico
conforme descrito pela
Equação de Henderson-
Hasselbalch:
pH = pK a + log [A–]
——
[HA]
Cadeias laterais Cadeias laterais Cadeias laterais Cadeias laterias que prediz
polares, desprovidas
apolares de carga ácidas básicas
Alanina Asparagina Ácido aspártico Arginina
Glicina Cisteína Ácido glutâmico Histidina A capacidade tamponante
Isoleucina Glutamina Lisina
Leucina Serina
Metionina Treonina que prediz que
caracterizadas por caracterizadas por
Fenilalanina Tirosina
Prolina
Triptofano
A cadeia lateral se A cadeia lateral é O tamponamento ocorre ⴞ
Valina
dissocia em –COO– protonada e geral- unidade de pH a partir do pKa
em pH fisiológico mente apresenta
carga positiva em
pH fisiológico
que prediz
Structure
of Proteins
2
Nas proteínas, a Desse modo, a
maior parte dos natureza química da ... como a proteína
Portanto, esses
grupos ␣-COO e
–
grupos não estão cadeia lateral se dobra para
␣-NH3+ dos amino- determina o papel que
disponíveis para assumir sua
ácidos está com- o aminoácido terá
reações químicas. conformação
binada, formando em uma proteína,
ligações peptídicas. nativa.
em especial...
Figura 1.14
Mapa de conceitos-chave referentes à estrutura protéica.
12 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier
2,0 E
Resposta correta = C. O ponto C representa o ponto isoelé-
trico, ou pI, e, como tal, fica a meio caminho entre pK1 e pK2
1,5
D para este ácido monocarboxílico e monoamínico. A glicina está
completamente protonada no ponto A. O ponto B representa
a região de máxima capacidade tamponante, assim como o
1,0 ponto D. O ponto E representa a região em que a glicina está
C
completamente desprotonada.
0,5 B
A
0
0 2 4 6 8 10
pH