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José Murilo de Carvalho


Disponível em:
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/199.pdf
ã Dois Eixos Analíticos, segundo (Turner, 1990).

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ã Exemplos de cidadania construída de baixo para


cima: são as experiências históricas marcadas pelas
lutas por direitos civis e políticos, afinal conquistado
ao Estado absolutista.
ã Exemplos de cidadania construída de cima para
baixo: são os países em que o Estado manteve a
iniciativa da mudança e foi incorporando aos poucos
os cidadãos a medida em que ia abrindo o guarda-
chuva de direitos.
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ã Dicotomia público-privada
- Cidadania adquirida dentro do espaço público, mediante a
conquista do Estado ou dentro do espaço privado, mediante a
afirmação dos direitos individuais.

ã Os dois Eixos dão lugar a quatro tipos de cidadania:

1° A cidadania seria fruto da ação revolucionária e se efetivaria


mediante a transformação do Estado em nação, conquistada de
baixo para cima, (trajetória francesa).
2° A cidadania obtida de baixo para cima, mas dentro do espaço
privado, (caso norte americano).
å° A cidadania conquistada mediante a
universalização de direitos individuais (espaço
público), mas com base em concepção do
cidadão como súdito, (caso inglês ƛ
restauração da Monarquia).
4° A cidadania construída de cima para
baixo, dentro do espaço privado ƛ ser
cidadão seria sinônimo de ser leal ao Estado,
(caso da Alemanha).
ã Xabriel Almand e Sidney Verba, distinguem três tipos de
cultura política:
1° - Paroquial: definida como completa alienação em
relação ao sistema político, com redução das pessoas ao
mundo privado da família ou da tribo.
2° - Súdita: definida como aquela em que existe um
sistema político diferenciado com o qual as pessoas se
relacionam, limita-se a uma percepção dos produtos de
decisões político-administrativas.
å° - Participativa: individuo como membro ativo de um
sistema.
ã A forte identidade nacional alemã, concebida
em termos étnicos de germanidade, e a
tradição de obediência rígida ao poder e às
leis, segundo alguns de origem luterana,
estão ausentes de nossa cultura, muito mais
fragmentada e quase cínica em relação ao
poder e as leis.
TIPO E PERCURSO BRASILEIRO

ã Nossa cidadania está mais próxima de um estilo da


cidadania construída de cima para baixo, em que
predominaria a cultura política súdita.
ã A cidadania do Brasil começa pelo direito ao voto
passando pelo direito de ser jurado, até o fato de servir
ao exército e participar do serviço militar no exército, na
Armada e Xuarda Nacional.
ã A aceitação de uma entidade abstrata como a pátria
como objeto de lealdade suprema, acima da família e de
outros grupos primários, só pode constituir fator
poderoso de criação de uma identidade nacional.
ã A existência de uma identidade nacional, para
além da simples titularidade de direitos, tem
sido reconhecida como ingrediente
indispensável da cidadania.
ã Invenções estatais típicas do século XIX,
sobretudo aquelas que visavam a aumentar o
controle sobre a vida dos cidadãos, como o
registro civil de nascimentos, casamentos e
óbitos e o recenseamento, constituem
também momentos ricos para a análise da
natureza da cidadania.
VOTANTES

ã A legislação brasileira sobre eleições, na parte


que se refere à amplitude do sufrágio era das
mais liberais da época, se comparada a dos
países europeus.
ã A Constituição de 1824, exigia pequena renda
de 100 mil réis, idade mínima de 25 anos, os
analfabetos também podiam votar. O voto era
obrigatório.
ã A partir de 1875, os votantes recebiam um
título de qualificação eleitoral, o primeiro
documento de identidade civil introduzido no
Brasil.
ã Essa situação promissora de cidadania política
sofreu grande golpe em 1881, quando foi
introduzida a eleição direta. Os analfabetos
foram excluídos do direito de voto, a renda
mínima passou para 200 mil réis e tornaram-
se rígidos os critérios de avaliação da renda.
JURADOS

ã Para ser jurado, as exigências eram idênticas às


dos votantes, requeria-se no entanto, a
capacidade de ler e escrever.
ã As queixas mais comuns tinham a ver com a
dificuldade de qualificar número suficiente de
jurados.
ã Em alguns casos em que havia falta de jurados,
os criminosos indicavam seus próprios
partidários.
ã Em pequenos povoados o fato de todos
serem conhecidos gerava um número alto de
absolvições para proteger amigos e parentes.
ã Podia funcionar como instrumento de
vingança.
ã Em causas que envolviam pessoas poderosas,
os jurados simplesmente não compareciam
aos julgamentos.
XUARDAS NACIONAIS E SOLDADOS

ã As exigências para ser membro da instituição


eram bastante flexíveis, na realidade quase
idênticas as estabelecidas para os votantes.
ã Os liberais saudaram a guarda como milícia
cidadã.
ã Votantes, jurados e guardas nacionais seriam
os cidadãos ativos do novo país.
ã Seu caráter democrático fazia com que os
oficiais fossem eleitos pelos guardas.
ã A guarda organizava-se em todos os
municípios do país e obrigava ao serviço boa
parte da população adulta masculina.
ã Muito distinta era a situação dos soldados do
exército.
ã No Brasil nunca se deu a ligação entre
cidadania e serviço militar.
ã O recrutamento de oficiais, no Brasil, sofreu ao longo
do século um processo de democratização, mas os
soldados continuaram a ser recrutados entre
desempregados, vadios, criminosos e trabalhadores
rurais que não contavam com a proteção dos
proprietários.
ã No exército batia-se com espada sem corte, com vara
de marmelo, além de usarem a chibata.
ã O serviço militar contribuiu pouco, ou nada para a
educação cívica, por causa da maneira como era feito
e pelo reduzido número de pessoas envolvidas.
XUARDAS NACIONAIS E SOLDADOS

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ã O Hino Nacional e a Bandeira, foram valorizados. O
imperador apareceu como chefe da nação, surgiram os
primeiros heróis militares.
ã Na música e na poesia popular o patriotismo foi
exaltado, a pátria passou a disputar com a Havia geral
repugnância, se não pavor, ao serviço militar, e muitos
eram levados presos aos quartéis família a lealdade dos
jovens, o Brasil passou ser uma realidade concreta.
ã A situação dos libertados era irônica. Pedia-se a não
cidadãos, não só no sentido político como civil, que
fossem lutar pela pátria que os escravizava. No entanto
eles foram em bom número.
ã As mulheres também alcançaram visibilidade.
Além de enfermeiras que se destacaram,
houve o caso de Jovita Feitosa que, fazendo-
se passar por homem alistou-se como
Sargento, para participar da luta como
combatente.
ã Enfim, a guerra fez com que ex-escravos,
mulheres e soldados, quase a soma de
cidadãos inativos, tivessem pela primeira vez
lugar ao sol no mundo real e simbólico da
política.
CIDADÃOS EM NEXATIVO

ã O avanço do Estado oitocentista na direção de


cooptar e regular a sociedade provocava
também reações negativas.
ã Três iniciativas despertaram de modo especial a
ira da população: o alistamento militar, o
registro civil e a introdução do sistema métrico.
ã Reação ao alistamento ƛ parentes e amigos dos
recrutados assaltavam escoltas e invadiam cadeias para
soltá-los. Invadiam igrejas durante as reuniões das juntas
e rasgavam listas, livros e exemplares das leis. Houve
muitas revoltas em diversos lugares do país.
ã Reação ao registro civil ƛ Em 1850, o governo fez aprovar
uma lei que mandava fazer o primeiro censo demográfico
do país e introduzia o registro civil de nascimentos e
óbitos.
ã Os registros deviam ser feitos pelos escrivões e pelos
Juízes de Paz. O Batismo religioso era mantido, mas devia
ser realizado após o registro civil.
ã Os párocos muitas vezes incentivavam os protestos, pois
se julgavam prejudicados pelo decreto.
ã Espalhou-se também o boato de que o registro se
destinaria a escravizar os homens de cor, de que seria a
ƠLei do Cativeiroơ.
ã A introdução do novo sistema de pesos e medidas
provocou revolta mais séria. O sistema métrico foi
adotado por lei em 1862. Em 1871 houve uma reação no
Rio de Janeiro, quando pesos e medidas foram
quebrados e destruídos pela população, dando origem à
expressão ƠQuebra-quilosơ.
ã Multidões de até 800 pessoas invadiam feiras
para destruir os novos padrões, atacavam
Câmaras Municipais, assaltavam cadeias para
soltar presos.
ã Dizendo não, os rebeldes estavam de alguma
maneira afirmando direitos, estavam fazendo
política para garantir direitos tradicionais. Não
deixava de ser um tipo de cidadania, embora
negativa.
QUE CIDADÃO

ã Xrande número de brasileiros que durante a


Colônia se mantinham totalmente afastados da
vida pública, presos ao seu mundo privado,
saíram de seu paroquialismo e passaram a se
relacionar com o Estado.
ã Muitos se tornaram conscientes da presença do
Estado.
ã Foi despertada a consciência da nação
como comunidade do pertencimento.
ã O brasileiro foi forçado a tomar
conhecimento do Estado e das decisões
políticas, mas de maneira a não
desenvolver lealdade em relação às
instituições.

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