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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Curso de Geografia

FÁBIO MÁRCIO ALKMIN

O TRABALHO DE CAMPO NO CURSO DE GEOGRAFIA DA


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO:

REFLEXÕES E PERSPECTIVAS

SÃO PAULO
MARÇO DE 2008
FÁBIO MÁRCIO ALKMIN

O TRABALHO DE CAMPO NO CURSO DE GEOGRAFIA DA


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO:

REFLEXÕES E PERSPECTIVAS

Relatório científico da pesquisa


vinculada ao projeto “ensinar com
pesquisa”, executada durante o ano de
2007, sob orientação do Profº Dr. Heinz
Dieter Heidemann

SÃO PAULO
MARÇO DE 2008

II
“Guerreiros em tempos de paz
lutam contra si mesmos”.

(Nietzsche)

III
RESUMO

O presente trabalho aborda a temática dos trabalhos de campo no ensino superior de


Geografia, também conhecidos como “excursões geográficas”. Efetuaremos uma análise
crítica da produção científica já produzida a respeito, retomando importantes questões de
cunho metodológico. Além disso, torna-se nosso objetivo propalar a própria reflexão acerca
das potencialidades/especificidades desta ferramenta didática na formação do geógrafo. Num
segundo momento voltaremos nossa atenção ao desenvolvimento destes trabalhos de campo
no curso de Geografia da Universidade de São Paulo. Mediante a uma análise evolutiva,
pautada entre os anos 1992 a 2006 e baseada em documentos administrativos, esboçaremos
um diagnóstico que aponte as tendências de tais práticas nesta universidade.

IV
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1

1. MÉTODO DE ANÁLISE...................................................................................3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 História...............................................................................................................5

2.2 Aspectos teóricos...............................................................................................7

3. O TRABALHO DE CAMPO NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO......17

3.1 Análise evolutiva..............................................................................................20

4. CONCLUSÃO....................................................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................32

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA..................................................................34

ANEXO 01..............................................................................................................35

ANEXO 02..............................................................................................................41

V
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Relação entre o abstrato e o concreto no contato empírico no trabalho de campo.............14

Figura 2. Fluxo informacional no processo gnosiológico.......................................................................15

Tabela I. Síntese de dados sobre trabalhos de campo (1992-2006).......................................................21

Gráfico 1. Número de trabalhos de campo programados......................................................................22

Gráfico 2. Relação entre crescimento de alunos matriculados nos cursos de geografia

e de alunos que executaram trabalhos de campo ..................................................................................23

Gráfico 3. Relação entre a verba total da FFLCH e a verba destinada aos trabalhos

de campo na Geografia ............................................................................................................................24

Gráfico 4. Estimativa do total de quilômetros percorridos em trabalhos de campo...........................25

Gráfico 5. Estimativa da distância média por trabalho de campo........................................................26

Gráfico 6. Evolução do número de diária entre 1992-2006....................................................................27

VI
INTRODUÇÃO

Na presente pesquisa nos dedicamos ao estudo e problematização de uma


importantíssima ferramenta didático-investigativa da Geografia: o trabalho de campo.
Bastante difundido nesta ciência, tais trabalhos buscam em fim último abrir perspectivas de
análise que seriam até então inacessíveis ao estudo em “gabinete”. Nos dizeres de Alentejano
e Rocha-Leão (2006, p.57), este é um exercício que parte da observação da paisagem na busca
da compreensão da dinâmica do espaço geográfico, num processo mediado pelos conceitos
geográficos. O trabalho de campo, desta forma, consolidar-se-ia como um momento
fundamental de articulação entre a teoria e a prática, perspectiva uníssona entre os autores
estudados.

Faz-se necessário, desde já, situar nossa pesquisa dentro do universo teórico do tema.
Nossa ênfase principal é o estudo do trabalho de campo como ferramenta didática, ou seja,
aquele aplicado ao ensino da Geografia, modalidade bastante conhecida como “excursão
geográfica” 1 (CARVALHO, 1941, p.98). Porém, tal recorte ainda extrapola nossos objetivos.
Assim, focaremos nossa análise ao ensino de Geografia no nível superior. Todavia,
ressaltamos que a delimitação não esteriliza por completo o tratamento desta prática com
finalidades investigativas, visto que sob alguns aspectos as duas formas de saída ao campo se
(con)fundem.

Desenvolveremos o tema em dois principais momentos:

A. Num primeiro contato exporemos e teceremos reflexões acerca da bibliografia já


desenvolvida sobre o assunto, entendendo como os geógrafos a compreendem, buscando
assim contextualizar o leitor com o que já foi pensado sobre o trabalho de campo.
Abordaremos assim a história e importância destes para o desenvolvimento da ciência
geográfica, suas diferentes técnicas, classificações e finalmente as novas perspectivas que se
abrem para tais atividades.

1
Neste trabalho consideraremos como sinônimos os termos “trabalho de campo didático”, “excursão
geográfica”, “excursão didática” e “atividade de campo”.

VII
Torna-se necessário ressaltar que a grande maioria do que já foi escrito sobre o tema
“trabalho de campo” diz respeito à modalidade referente à pesquisa– como, por exemplo, a
forma de se proceder numa pesquisa de campo-, existindo uma tremenda aridez na produção
científica que pensa o trabalho de campo na área educacional.
Não entendemos tal lacuna. Esta postura parece explicar o pequeno avanço na
superação da tradicional excursão didática meramente expositiva, praticada sem mais
reflexões há várias décadas. Desta forma, encontramos a justificativa de fazê-lo nosso objeto
de estudo.

B. Posteriormente, dedicaremo-nos a trazer tal discussão para a própria Universidade de São


Paulo. Entendemos que esta atitude pauta-se até pelo projeto do qual esta pesquisa participa:
“Ensinar com Pesquisa”, ou seja, a investigação científica colaborando para o avanço e
melhoria do ensino. Desta forma, esforçamo-nos em dar nossa contribuição mediante uma
análise evolutiva (1992-2006) desta prática em nosso departamento. Buscamos com o recorte
propiciar uma visão histórica das realizações dos trabalhos de campo no departamento de
Geografia da Universidade de São Paulo.

2
1. MÉTODO DE ANÁLISE

Seguindo a divisão estabelecida acima (Introdução), desenvolvemos o trabalho da


seguinte forma:

A. A primeira parte teve como subsídios as informações da bibliografia consultada.


Serviram de fonte livros e artigos de publicações periódicas, além de uma dissertação de
mestrado. Como já foi dito e vale reforçar, constatamos poucas pesquisas desenvolvidas por
geógrafos. Assim, recorremos à literatura de certas “disciplinas irmãs” na busca de maiores
subsídios teóricos, colhendo bons frutos na Geologia e na Antropologia.

B. No caso específico dos trabalhos de campo no ensino da Geografia na


Universidade de São Paulo, não encontramos nenhuma bibliografia que fizesse referência
específica à instituição, sendo por isso necessário a coleta de dados in loco.
Em relação ao tipo de informação utilizada, pela falta de disponibilidade de
suficientes dados qualitativos para tal intento, pautamos grande parte de nossa análise por
indicadores quantitativos extraídos de protocolos de pedido de verba destinada aos trabalhos
de campo. Tivemos acesso aos seguintes dados:

- Verba destinada para os trabalhos de campo (solicitada e concedida);


- Execução orçamentária destinada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH);
- Número de trabalhos de campo (programados e executados);
- Número de alunos participantes dos trabalhos de campo;
- Número de alunos cadastrados e matriculados no curso de Geografia;
-Distância total percorrida nos trabalhos de campo;
-Duração do trabalho de campo.

O período estipulado para nosso recorte foi o do ano de 1992 até o ano de 2006.
Agimos dessa forma pela impossibilidade de aquisição de documentos anteriores ao ano de

3
1992, já que estes foram incinerados conforme a política interna de arquivamento da
Administração da FFLCH-USP.
Ademais, encontramos outro problema a se enfrentar: a grande quantidade de
informações a serem examinadas, visto que todo semestre inúmeras excursões didáticas são
realizadas. Destarte, devido à impossibilidade de consulta “ano a ano”, pois se assim
fizéssemos a quantidade de planilhas para análise e síntese excederia o prazo planejado para
tal fim, coletamos informações de quatro anos amostrais, sendo eles 1992, 1996, 2001, 2006.
Reconhecida a fragilidade que a pesquisa apresentaria se tomasse como base apenas
os indicadores acima destacados, precisávamos reforçá-la com outras fontes, preferivelmente
qualitativas. Para suprir esta lacuna, optamos por executar entrevistas paralelamente à
investigação, tendo como base docentes que se relacionaram com o trabalho de campo no
período estipulado.

4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 História

O trabalho de campo não nasceu na Geografia nem é invenção recente. Suas origens
remetem às explorações de naturalistas e estudiosos da Terra (COLTRINARI, 2001, p.106),
muito praticadas no século XVIII e XIX. Poderíamos citar como exemplo os trabalhos de
campo praticados por naturalistas europeus que desbravavam a então “terra incógnita”, como
os estudos do geógrafo alemão Alexander von Humboldt, que percorrera as colônias
espanholas empreendendo diferentes pesquisas.

Torna-se inegável a importância que tais práticas tiveram para o grande impulso da
ciência. A Geografia, em formação na primeira metade do século XIX, ou seja, no auge das
explorações naturalistas, apropriou-se grandemente destas técnicas, seja para o mapeamento
dos territórios em formação, seja para pesquisas sobre características e recursos naturais
patrocinadas por governos dos países em gênese. Pelo tipo de conhecimento que geravam, as
técnicas de trabalho de campo utilizadas até então pelos naturalistas encaixaram-se
verdadeiramente como uma luva à ciência geográfica. As informações acumuladas por meio
destas foram decisivas para a sistematização da Geografia, reverberando nos métodos
adotados para seu estudo. Tanto Humboldt, como Ritter, Ratzel ou mesmo Vidal de La
Blache, considerados precursores nos estudos geográficos, baseavam-se no método empírico
de observação para o desvelamento da realidade, fato importante para entendermos nossa
ciência na contemporaneidade.

Os moldes franceses utilizados na construção do curso de Geografia na Universidade


de São Paulo não deixariam por menos a importância destas saídas. Conforme nos diz Petrone
(1982, p.08), “o setor de atividades que mais de perto prenunciava um esforço conjunto
também nas atividades didático pedagógicas era o de excursões”. Podemos verificar isso no
regulamento interno de 1946, assinado por João Dias da Silveira, Pierre Monbeig e Aroldo de
Azevedo:

Art. 16º, § único - sempre que possível, pelo menos uma vez ao
ano serão realizadas excursões em conjunto pelos professores das
três cadeiras atualmente existentes [Geografia física, Humana e do
Brasil]. Neste caso, a parte material da excursão ficará a cargo do
Diretor Administrativo do Departamento (PETRONE, 1982, p.18).

5
Podemos perceber que em sua formação no Brasil, ao menos documentalmente, a
Geografia se preocupava com a interdisciplinaridade em suas análises, fato materializado pelo
trabalho de campo proposto no qual as três cadeiras até então instituídas fariam uma saída
conjunta, possibilitando assim uma visão holística do espaço geográfico estudado.

Outro fato interessante, relacionado ao departamento e que demonstra a importância


do trabalho de campo na formação crítica do estudante, foi que

no mesmo ano em que o Departamento de Geografia adquiria existência


formal, os estudantes da então subsecção de Geografia e História, com o
total apoio dos professores, fundaram o ‘Centro de estudos Delgado de
Carvalho’, em seguida ‘Centro de Estudos Capistrano de Abreu’,
denominação que conserva até o momento. Talvez seja interessante acenar
ao fato que o referido Centro foi criado logo em seguida a uma longa e
proveitosa excursão ao Norte do Paraná, de iniciativa dos estudantes e que,
sob a coordenação do Prof. Pierre Monbeig, teve a participação de vários
docentes do Departamento de Geografia e de outras unidades da
Universidade. O entusiasmo pela referida excursão alimentou os estímulos
para a criação do Centro de Estudos referido (ibidem, p. 09).

Entretanto, com a chegada da chamada da “Geografia quantitativa” no Brasil, em


meados dos anos 60/70, iniciaram-se mudanças metodológicas que repercutiram
negativamente no trabalho de campo. Em meio às inovações tecnológicas da época, críticas
desta new geography acusavam a Geografia tradicional de excesso de empirismo, cuja
observação direta adotada como parte do método foi julgada demasiado incerta. Assim,
privilegiou-se um contato abstrato com a realidade, buscando as estatísticas e fórmulas
matemáticas em detrimento do contato empírico que o campo proporcionava. Na
interpretação de Moraes, a Geografia Pragmática, ao romper com estes procedimentos,
simplificou o universo de análise geográfica, tornando-o mais abstrato, mais distante do real
existente (MORAES, 1990, p.110).

Contudo, apesar da negação dos métodos quantitativos supracitados com a chegada


da Geografia Crítica, certa aversão ao trabalho de campo foi mantida. O discurso deferido
pelos opositores de tal prática era de que o contato empírico como embasamento do raciocínio
não poderia propiciar corretas análises, já que tal método mantinha-se preso ao mundo das
aparências, aos aspectos visíveis, de forma que para compreendermos a real essência dos
fenômenos deveríamos buscar as contradições existentes na realidade através da análise

6
dialética. Em outras palavras, o trabalho de campo continuou –não de forma justa- sendo
considerado excesso de “empirismo”.

O momento atual é complexo, já que a Geografia conta com maior repertório


metodológico em sua reflexão, em detrimento de linhas paradigmáticas hegemônicas, como as
duas últimas que se seguiram. Apesar de bastante insipiente, percebemos um retorno à
questão da importância do trabalho de campo, seja para o desenvolvimento de pesquisas ou no
ensino para os estudantes de Geografia.

2.2 Aspectos teóricos

Baseado na literatura que trata do trabalho campo na ciência geográfica, encontramos


um primeiro desafio: é possível uma definição do trabalho de campo, tendo em vista todas as
possibilidades que o mesmo oferece? Muito mais consensual entre os autores é o fato de que o
trabalho de campo deve ser modelado de acordo com o objeto que se pretende desvelar, não
existindo desta forma uma técnica universal capaz de abarcar todos os fenômenos geográficos
disponíveis na realidade (STENBERG, 1946, p.15; KAISER, 2006, p.94), ou seja, “o trabalho
de campo torna-se, então, um problema de muitos trabalhos de campo” (SILVA, Armando,
1982, p.52).

Não menos flexíveis que os procedimentos técnicos dos trabalhos de campo – ou


seja, a forma de agir no campo, buscando evidenciar o objeto que se deseja desvelar - são as
formas de pensá-lo, entendê-lo, utilizá-lo. Podemos notar claramente ao longo da história do
pensamento geográfico, as transformações ocorridas no enfoque do trabalho de campo em
virtude das mudanças dos paradigmas metodológicos da ciência geográfica. Como exemplo
podemos citar Sansolo quando nos diz que existiram/existem trabalhos tanto com
“concepções associadas a uma prática de ensino descritiva, cujo vínculo está presente na
Geografia Clássica” onde são observados aspectos minuciosos das características da
paisagem, até “autores ligados ao movimento da Geografia Crítica, onde é ressaltada a análise
das contradições sociais” buscando evidenciá-las perante o espaço geográfico em questão
(SANSOLO, 1996, p.44). Suertegaray também elucida a questão, dizendo que

7
no método positivista, tão conhecido nosso, o campo (realidade concreta) é
externo ao sujeito. O conhecimento/a verdade está no objeto, portanto no
campo, no que vemos. No método neo-positivista o campo como realidade
empírica é externo ao sujeito. Agora, nesta perspectiva, o campo como
realidade externa é uma construção do sujeito.
No método dialético, o campo como realidade não é externo ao sujeito, o
campo é uma extensão do sujeito, como é numa outra escala a ferramenta
para trabalhar uma extensão do seu corpo, ou seja, a pesquisa é fruto da
interação dialética entre sujeito e objeto.
No método fenomenológico, o campo é a expressão das diferentes leituras
do mundo. É o lugar (da observação e da sistematização) do olhar do outro
— daí o método fenomenológico dizer da necessidade de se colocar no lugar
de. Negando o positivismo, este método não separa sujeito e objeto.
Na compreensão da hermenêutica, o campo é a interação do sujeito no seu
caminhar e pensar com o objeto. O sujeito como ponto de partida do
conhecimento promove, a partir de sua vivência, a ação que desencadeia o
processo de conhecimento e (re)construção do mundo. O campo é o texto,
este precisa ser desvendado aberto e compreendido em seus múltiplos
significados para, a partir dessa compreensão promover a reconstrução do
sujeito/objeto/sujeito [grifo nosso] (SUERTEGARAY, 2002, p.93).

Somam-se a reflexão alguns aspectos que parecem estar bem consolidadas no


âmbito teórico-metodológico. Fato que parece ecoar nos textos ao longo dos anos é que o
trabalho de campo, seja com “fins didáticos” ou de “pesquisa”, deve ser rigorosamente
planejado. Delgado de Carvalho, ainda em 1941 (p.98), dizia que não cria que era possível, a
não ser por acaso, improvisar uma excursão geográfica, com inteiro proveito. Cruz, 56 anos
depois, analogamente enfatiza que “o planejamento prévio de um trabalho é condição sine
qua non para que o mesmo seja bem sucedido” (CRUZ, 1997, p.93).

Constata-se que é grande o esforço em reforçar a posição do trabalho de campo


como uma técnica e não como um método. Lembremos que neste sentido à técnica diz
respeito ao caminho que conduz a objetivos específicos de obtenção de dados, enquanto o
método sugere o modo de se articular cognitivamente estes dados (VENTURI, 2006, p. 76).
Nos dizeres de Bernard Kaiser “a pesquisa de campo é um meio e não um objetivo em si
mesmo” (KAISER, 2006, p. 97).

A preocupação observada acima é justificada pelo perigo de tornar uma ferramenta


da Geografia no próprio método da Geografia, desarticulando a análise da teoria e tornando-a
assim, predominantemente “empirista” (ALENTEJANO e ROCHA-LEÃO, 2006, p.53).
Temos ressalvas quanto ao uso deste termo. No sentido filosófico, o “empirismo é a exigência
de que qualquer verdade só seja aceita se puder ser devidamente verificada e confirmada

8
[através dos sentidos] (...) não sendo renunciado o uso de instrumentos racionais ou lógicos,
se adequados às possibilidades humanas”. (ABBAGNANO, 2001, p. 327) . Nesta acepção, até
o próprio método de análise dialético, na sua origem grega, pode ser considerado empirista, já
que utiliza o conceito filosófico da empiria como critério de verdade. Como esclarece
Abbagnano,

o método dialético de Platão (...) parece consistir justamente na verificação e


na comprovação das determinações atribuídas a determinada realidade;
assim essas determinações podem ser abandonadas, corrigidas ou
modificadas pelos empregos sucessivos do método (Ibidem, p. 328).

Tão variado quanto o modo de agir e pensar o trabalho de campo na Geografia é a


forma de classificá-lo. Buscaremos expor a seguir, de forma sucinta, algumas das perspectivas
com que nos deparamos ao longo da pesquisa.

Francis Ruellan (1944, p.35-36), dividiu o trabalho de campo em duas modalidades:

A. Excursões Geográficas – Caracterizada pelos aspectos ilustrativos, estimulando a


observação empírica dos participantes .

B. Trabalho de campo para pesquisa Geográfica – Possui um caráter interpretativo,


valorizando novos conhecimentos; utilizando instrumentos técnicos de observação, para assim
obter dados sobre a essência da realidade, tendo sempre em mente a diferença de localização
entre a gênese e a manifestação da materialização do fenômeno. Utiliza-se de uma postura
ativa e muitas vezes com conceitos da pesquisa participante. Como nos diz o próprio autor,
“diferente da excursão geográfica, entendemos essa modalidade como parte de uma
metodologia de pesquisa, sendo fundamental procedimento para o processo de construção do
conhecimento” (ibidem, p.50).

Especificamente nesta modalidade, possui uma subdivisão referente ao momento de


contato com a realidade:

A excursão de reconhecimento é primeiro contato com o local a se realizar a


pesquisa. É feita em curto espaço de tempo e deve-se tentar coletar o maior número de
informações possíveis. “Pretende-se estabelecer uma leitura preliminar que fornecerá
subsídios para uma melhor definição do trabalho” (ibidem, p. 54).

9
O trabalho de campo para investigação minuciosa se trata de uma fase em que os
problemas específicos serão averiguados a fundo. Tenta-se encontrar a trama de relações que
envolvem o objeto em questão. Para isso são utilizados métodos e instrumentos técnicos mais
específicos, previamente escolhidos e tendo como subsídio a excursão de reconhecimento já
executada.

Já o geógrafo Armando Correa da Silva (1982, p. 50-51), numa classificação mais


refinada, distingue a “Geografia Física” da “Geografia Humana” no que se refere ao trabalho
de campo, classificando em três modalidades os trabalhos na “área humana”:

A. Trabalhos analíticos empíricos – como o próprio nome diz, é um exercício de empiria,


onde o executante “primeiro pesquisa”, ou seja, sai ao campo tomando contato com a
realidade por meio de sua percepção, buscando apoio teórico somente posteriormente. Neste
tipo de contato privilegia-se o “sentir”, busca-se assim uma maior aproximação com o objeto.
Porém, o próprio autor expõe o perigo de tal técnica propiciar falsas interpretações, já que
pode privilegiar a aparência em detrimento da essência dos fenômenos.

B. Trabalhos com enfoque lógico – Neste tipo não nos preocupamos com a essência do real
e sim estudamos minuciosamente as suas aparências. O campo torna-se uma apreensão
psicológica e fenomenológica do observador. Tomamos como ferramentas de construção
teóricas o uso da matemática, estatísticas, etc.

Estes trabalhos substituem os estudos diretos da aparência, por estudos indiretos.


Assim, estes modelos substituem a paisagem sentida e percebida diretamente, por suas
representações funcionais abstratas, documentais sob a forma da ordenação lógica dos
elementos da realidade. Desta forma o campo empírico é substituído por um campo
psicofenomenológico positivo.

C. Análise dialética epistemológica e ontológica – Seu pressuposto básico é de que é


possível o conhecimento teórico do real a partir da apreensão das categorias básicas do ser.

A Análise dialética ontológica subdivide-se em Ortodoxa (Hermenêutica) e Moderna


(Analítica). Em ambas o conhecimento é sempre uma aproximação, uma hipótese criada pela
abstração que caminha da forma à essência. Apreende-se o movimento deste real através da
análise de relações necessárias e determinadas, buscando-se (mediante uma análise dialética
entre o real concreto e o real lógico) a compreensão da totalidade do fenômeno.

10
Na Análise dialética epistemológica o trabalho de campo consiste na coleta direta ou
indireta de informações, que são organizadas estruturalmente, segundo seqüências articuladas
por sua lógica aparente, referida à essência da realidade.

Num panorama do trabalho de campo em Geologia, que por sinal se enquadra


perfeitamente na Geografia, Compiani & Carneiro (1993) classificaram as excursões de
acordo com seu papel didático, ou seja: Ilustrativas, Indutivas, Motivadoras, Treinadoras e
Investigativas (COMPIANI & CARNEIRO, 1993).

Scortegagna & Negrão, baseados na classificação anterior, elaboram uma nova


categoria: o trabalho de campo autônomo. De acordo com os autores, tal saída “objetiva
despertar no aluno seu espírito investigativo e prepará-lo para a sua realidade profissional
futura” (SCORTEGAGNA & NEGRÃO, 2005, p.41). Esta é realizada, preferencialmente, na
região onde os alunos se encontram, em áreas escolhidas por eles e sem a presença do
professor, que adquire um status de orientador. Em sua essência esta conceituação busca unir
o trabalho de campo didático ao de pesquisa.

Uma importante e polêmica questão que se coloca na temática pertinente ao trabalho


de campo didático é a de que nível teórico o estudante deve ir ao campo. Tal reflexão possui
raízes muito mais profundas, que traduzem em fim último questões gnosiológicas seculares2.

De um lado, certos autores defendem que o trabalho de campo torna-se banal e


mesmo “viagem de turismo” se os estudantes não possuem o cabedal teórico suficiente para
desvelar tal realidade, já que não conseguirão interpretar a paisagem, restringindo-se as
aparências, ao simples senso comum. Por outro lado, um excesso teórico antecedendo o
contato empírico poderia reduzir tal experiência a uma irracional busca de fatos e evidências
que legitimem as formulações estabelecidas, ou seja, poderíamos deformar a capacidade de
análise do estudante, de forma que a realidade percebida formatar-se-ia em prol da validade
da teoria abordada.

Colocamos novamente a questão na ordem do dia: quem deve vir primeiro, a teoria
ou a prática? Encarada desta forma entendemos que tal pergunta não possui resposta. Para
superarmos tal querela, ao nosso ver, devemos essencialmente mudar o entendimento do ato
de ir ao campo. Cremos que se deve considerar o significado do trabalho de campo didático
não antes ou depois, mas sim no exato momento do contato empírico (que é o período de
construção do conhecimento) e na perspectiva do estudante (que deve em fim último ser o

2
Qual a origem do conhecimento? Quais as formas de conhecimento? Como são gerados estes conhecimentos?

11
sujeito deste momento). Propomos para isso uma forma de trabalho de campo que privilegie
tanto o conhecimento científico já existente quanto a percepção do educando (baseado em sua
capacidade de sentir), apoiando-se em uma lógica que tire vantagem do conflito entre o
abstrato e o real, possibilitando que o mesmo consiga chegar à essência a partir das
aparências. Nossas hipóteses posteriores se pautarão por este raciocínio.

Atentemos ao fato de que nossas formulações limitam-se às excursões didáticas, um


processo peculiar de construção do conhecimento. Comecemos exatamente por aí: a
construção do conhecimento. Sabemos que ao menos no âmbito científico, tal processo se dá
através da problematização; da dúvida do indivíduo, seguida da construção de hipóteses
(COLTRINARI, 2001, p.104; KAISER, 2006, p.98). Grifamos a palavra hipótese para
ressaltar seu sentido: algo que não se tem certeza, um ponto de partida. Assim sendo, é
condição fundamental para a descoberta/aprendizado que o aluno ponha-se a questionar sobre
os fenômenos que observa, independente de seu nível teórico. Sócrates percebera tal fato há
mais de dois milênios, quando em busca da verdade passou a questionar diversos fenômenos e
ações. No caso específico do trabalho de campo, professor Deffontaines também defendia tal
postura, pois recomendava que os alunos deveriam ir para o campo com o conhecimento
necessário para “se poser dês questions” (DEFFONTAINES apud STENBERG, 1946, p. 19).

Com a condição acima como premissa, avancemos em nosso raciocínio. Como


apreendemos o espaço nas excursões didáticas? Na maioria destas apreendemos o objeto de
nossa ciência por meio de uma categoria geográfica específica: a paisagem3. É claro que
perceber a paisagem não é o fim em si mesmo do trabalho de campo, contudo, este é o ponto
de partida de nossa reflexão, quando em campo. Fazemos isso mediante um processo
cognitivo específico, chamado percepção. Esta é considerada a forma como o indivíduo
organiza e interpreta suas impressões sensoriais, atribuindo significado ao seu meio.
A percepção depende de um estado de preparação ou predisposição do sujeito; da
disposição do indivíduo em perceber (ABBAGNANO, 2000, p. 755). Tal formulação
corrobora em parte com a hipótese do parágrafo anterior. O questionamento age de forma a
predispor no indivíduo sua capacidade perceptiva. Além disso, deve-se selecionar entre as
miríades de fenômenos da realidade o que irá se perceber. Tentemos elucidar nossa exposição
retomando Bergson, por meio de sua noção de percepção pura

3
Consideramos que a paisagem não é só apreendida pela visão, mas sim por meio de todos nossos sentidos.
Podemos citar por exemplo a paisagem sonora.

12
a percepção outra coisa não é senão uma seleção. Ela nada cria: sua tarefa é
eliminar do conjunto das imagens todas as imagens sobre as quais eu não
teria nenhuma pretensão e, depois, eliminar das imagens conservadas tudo o
que não interessa às necessidades dessa imagem particular que denomino
corpo (BERGSON apud ABBAGNANO, 2000, p. 754) .

Consideramos a percepção como a ferramenta inata que o estudante possui no


campo, sendo que, a nosso ver, este é ponto que deve ser valorizado no processo de
conhecimento quando no contato empírico4.

No enfoque proposto (valorizando o momento do contato empírico na perspectiva do


estudante), a antítese teoria x prática, tão relacionado ao tema em questão, parece perder seu
sentido. Em sua essência, a palavra prática relaciona-se à ação, a um ato, mas não um ato
qualquer, apenas aquele que concretiza um objetivo (KANT apud ABBAGNANO, 2000, p.
952). Neste sentido, caminhar, observar e anotar informações seriam a prática do estudante no
campo?

A relação acima só passa a ter significado se o trabalho de campo for considerado


treinamento técnico. Enquadra-se nesta categoria a instrução de técnicas de campo, como por
exemplo ensinar aos alunos a forma correta de se coletar amostras ou manipular
equipamentos, sendo que na sala de aula recebe-se a teoria (aprendendo-se a lógica) e no
campo coloca-se tal conhecimento em prática (executando a ação). Porém foge a tal visão a
maioria das excursões didáticas, que não possuem tal treinamento como objetivo.

Com o intuito de articular as referidas constatações, propomos uma nova forma de


compreensão do momento da excursão didática, deslocando a atenção do “fenômeno” para
“como sujeito interpreta tal fenômeno” e fazendo jus às premissas já citadas. Ilustremos nossa
reflexão com a figura 01:

4
O trabalho de campo didático, encarado como contato empírico, só possui função enquanto valoriza a
percepção dos participantes, pois de outra forma, perde seu sentido primordial: o contato entre o mundo sensível
e o inteligível (que como já dissemos é mediado e possibilitado através da percepção). De outra forma não
necessitaríamos ir ao campo.

13
Figura 01: Relação entre o abstrato e o concreto no contato empírico

Entendemos que a modificação acima contribui para uma melhor compreensão do


momento da excursão didática, pois privilegia a subjetividade de sujeito participante (e não a
exterioridade dos fenômenos), cuja percepção interpreta a aparência dos fenômenos, o real
sensível. Em contraposição à percepção, temos os conceitos teóricos. Entendemos como
conceito uma idéia abstrata ou um símbolo mental, sendo este tipicamente associado a uma
representação na linguagem escrita ou simbólica. Entre as diversas funções dos conceitos
podemos distinguir a “descrição de objetos da experiência para permitir seu reconhecimento”
e a organização “dos dados da experiência de modo que se estabeleçam entre eles conexões de
natureza lógica”, possibilitando sua inferência dedutiva na construção de abstrações de
maiores envergaduras (ABBAGNANO, 2000, p. 168). Os conceitos são aparatos cognitivos
fundamentais na formulação das teorias, pois é a partir da compreensão e articulação lógica
destes que podemos propor as hipóteses teóricas. Assim sendo, é pressuposto básico para a
compreensão de determinada teoria que se compreenda antes os conceitos nela inseridos.
Assim, a função principal do trabalho de campo, a nosso ver, torna-se evidenciar os
conceitos materializando-os na paisagem, de modo a revelá-los à percepção, para o posterior
entendimento (e até mesmo refutação) da teoria, processo que se poderá dar em sala sem
problema algum. Sem este artifício, o pensado e o percebido se contradizem, prejudicando a
compreensão do conjunto teórico. Em outras palavras, o trabalho de campo seria o momento
em que o estudante perceberia materializado na paisagem os conceitos que fazem parte da
teoria a ser compreendida.
Sabendo que a formulação dos conceitos surge na direção do real sensível ao
cognoscível, ou seja, explicando a realidade através do pensamento (e não adequando a

14
realidade ao pensamento!), podemos pensar tal relação no contato empírico da excursão
didática. Os conceitos teóricos -idéias abstratas pautadas pela lógica e construídas em fim
último com base na realidade- retornariam a sua origem: a própria realidade. A percepção, por
sua vez, confirmaria a validade de tais conceitos5. Compreendendo-se estes, verdadeira
estrutura do conjunto teórico, teremos subsídios suficientes para entender-se a própria teoria:
a abstração materializa-se e revela-se ao mundo sensível. Vejamos a figura 02:

Figura 02: Correto fluxo no processo gnosiológico

Gostaríamos por fim, de lembrar outros fatores também muito importantes numa
excursão didática. Questão extremamente pertinente é a articulação espacial entre os
fenômenos, em diferentes escalas de observação (LACOSTE, 2006, p. 91). Nas palavras de
Kaiser, “somente o estudo da inserção do sub-sistema local no meta-sistema pode dar sentido
à análise local, logo, à pesquisa de campo” (KAISER, 2006, p. 102). Assim, deve-se
evidenciar o fenômeno de interesse no trabalho de campo, porém não o vendo isolado,
desarticulado do todo.
Segundo Ângelo Serpa, o procedimento metodológico a ser adotado para superar tal
questão é a indução, agrupando os dados coletados a partir da busca de “semelhanças” com o
entorno, até se chegar ao “todo regional” e “global” (SERPA, 2006, p. 14).
Na busca da totalidade espacial, Serpa nos lembra da importância da história
enquanto categoria de análise espacial, pois “se o espaço é a totalidade verdadeira para a
Geografia, a história se impõe como recurso metodológico, já que é através do significado

5
Compreende-se tal processo como um ciclo. O conhecimento nascendo do mundo concreto (através da
percepção), tornando-se abstração no desenvolver da teoria, e posteriormente retornando ao mundo concreto
através de sua explicação.

15
particular de cada segmento do tempo, que apreendemos o valor de cada coisa num dado
momento” (ibidem, p.20).
Advertência salutar também nos fazem Alentejano & Rocha-Leão, quando nos diz
que não devemos fragmentar a realidade no campo, mas pelo contrário, buscar articulações.
Dicotomias clássicas da ciência geográfica -como a cisão entre o social e natural- devem ser
abolidas dos trabalhos de campo, já que “negligenciam a própria missão integradora da
Geografia” (ALENTEJANO e ROCHA-LEÃO, 2006, p.55-56). Grande é contradição dos
mestres que discursam a favor de uma “Geografia una” e justamente no trabalho de campo,
local privilegiado para a observação de tais fenômenos “sintetizadores”, dicotomizam e
fragmentam a realidade. Portanto devemos valorizar tais momentos, buscando articular e
reforçar a unidade dos fenômenos geográficos.
Complementamos tais considerações por meio de nossa experiência como estudante
de graduação, condição que possui seu valor considerando a posição que ocupamos nos
trabalhos de campo em relação aos mestres. Gostaríamos de ressaltar a importância da
interação entre o sujeito e objeto quando no campo, fato que parece aflorar a percepção do
estudante e resultar em marcantes experiências e resultados. Temos como certo que a livre
interação do estudante com a paisagem, incluindo aí, pelo menos por certo período, sua
liberdade de locomoção e comunicação, onde o mesmo possa definitivamente mergulhar nas
miríades de relações existentes no espaço estudado, percebendo-as e sentindo-as, favorecem
inacreditavelmente sua capacidade de análise e compreensão.

16
3. O TRABALHO DE CAMPO NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Antes de apresentarmos as minúcias desta parte da pesquisa, faremos uma breve


explicitação do funcionamento atual das excursões didáticas no Departamento de Geografia.

Primeiramente, seria interessante dizer que em nosso departamento há uma


“comissão de excursões didáticas e científicas”, sendo esta responsável por assessorar e apoiar
as atividades referentes aos trabalhos de campo, seja as excursões didáticas ou de pesquisa (no
caso destes, principalmente efetuadas pela pós-graduação).

De acordo com o regimento do departamento de Geografia, art. 77, as excursões


didáticas são normalizadas por um regimento interno, de responsabilidade da comissão acima
citada. A versão mais recente é a que data de 16 de maio de 2006. Entretanto, em uma
instância política superior, o Conselho Técnico Administrativo (CTA), no dia 08 de março de
2007, deliberou atualizações nos procedimentos, resultando na aprovação de certas mudanças
no antigo documento. Os mesmos encontram-se em anexo para possível consulta.

O provimento de verba a um trabalho de campo está vinculada a sua inclusão numa


programação semestral de viagens, efetuada sempre no início do semestre pelo departamento.
Efetivamente o que se faz é uma planilha com todos os trabalhos de campo planejados,
juntamente com a disciplina e professor solicitante, a distância total, o número de aluno e o
número de dias. Tal planilha tramita por diversos setores administrativos da Universidade e
após liberação da verba pela reitoria, é arquivada no setor designado “Protocolo”, localizado
no prédio da administração da unidade. Tal documento, estritamente burocrático, é a única
fonte de dados existente sobre trabalhos de campo já executados.

Caso a verba consumida for menor que a verba concedida, como na maioria das
vezes acontece, esta diferença é reservada para utilização nas excursões didáticas do semestre
seguinte.

Um assunto pertinente que gerou muitas preocupações entre o corpo discente do


curso de Geografia no primeiro semestre de 2007, foi a limitação da distância e do número
de dias dos trabalhos de campo. De acordo com a atualização das normas propostas,
assinada pelo CTA (fev./2007), a distância das viagens desde então seria limitada. Conforme
o documento, artigo 2.1, o trabalho de campo não poderia ultrapassar 1.200 quilômetros e
teria 3.000 quilômetros como limite para o total do percurso (ida, volta e circulação)

17
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2007). O documento também cita a duração máxima
dos trabalhos: quatro dias com três pernoites no total.

Estranhamente o fato gerou repercussão somente em 2007, com a deliberação do


referido documento, porém, ainda em 2006, certa limitação já existia. Conforme documento:

Art. 8º O percurso de cada trabalho de campo não poderá ultrapassar 2.200


km (ida e volta) e deverá ser programada dentro de um prazo máximo de 7
(sete) dias (ida e volta).
§1º Viagens que requeiram mais de três dias letivos (sendo que um deles
deve ser sábado) deverão ser realizadas, na medida do possível, em períodos
de recesso, de modo a não comprometer o andamento das demais disciplinas.
§2º Viagens de percurso superior ao limite de quilometragem e/ou com
duração superior ao estabelecido no Art.8º e no Parágrafo 1º deverão
apresentar justificativas que serão submetidas ao parecer da Comissão de
Excursões Didáticas e Científicas e ratificadas pela Chefia do Departamento
(UNIVERSIDADE DE SÂO PAULO, 2006).

Outro fator importante a ser considerado nestas mudanças foi a cisão da verba
destinada para cada trabalho: verba para combustível/pedágios e verba para as
diárias/alimentação, ou seja, o orçamento foi dividido. Exige-se com isso que os gastos sejam
limitados às suas respectivas atribuições, impedindo assim remanejamentos entre um fim e
outro. De certa forma, isso prejudicou os trabalhos de campo em nosso departamento, visto
que a possível redistribuição da verba disponibilizada para o “combustível” e a “diária” seria
vantajosa nos caso de trabalhos mais distantes, pois diárias mais baratas poderiam propiciar
mais combustível.

Constata-se uma informação importante na análise do documento: o que é limitado


não é a distância ou as diárias em si, mas sim as verbas a elas destinadas. Devemos ter
atenção a tais minúcias burocráticas, já que se torna grande a possibilidade de variação de
valores – tanto no combustível como nas diárias- em relação à localidade visitada. Por
exemplo, em certas regiões a verba destinada ao combustível possibilitará maior rodagem que
o valor nominal planejado (ou o limite de 3.000 quilômetros determinado). No caso das
diárias também ocorre algo semelhante, já que dependendo do planejamento da viagem

18
poderão se organizar hospedagens economicamente mais baratas, possibilitando trabalhos de
campo mais longos e proveitosos.

Todavia, tal restrição prejudicou a execução de trabalhos de campo mais distantes,


incluindo aí aqueles oferecidos pelas disciplinas: Regional Sul e Regional Nordeste, apenas
para citar dois exemplos.

De acordo com a comissão de excursões didáticas, sendo a verba destinada


insuficiente para o trabalho pretendido, visto a limitação atual como entrave, há a
“possibilidade de rateio dos custos extras pelos participantes”. Em casos específicos, como
faz menção o regimento, há “possibilidade” de se abrir exceção com relação às limitações,
dirigindo-se às instâncias competentes e justificando a importância de tal fim.

Em nossa análise, as referidas “possibilidades” possuem maior finalidade retórica do


que prática. Observamos que nas atribulações do cotidiano acadêmico, o tempo disponível
dos professores -os organizadores dos trabalhos de campo- parece diminuir na mesma
proporção em que se aumentam as dificuldades burocráticas para a realização dos campos,
ocasionando um resultado no mínimo nefasto. Muitos docentes deixam de aplicar trabalhos de
campo devido às complicações de ordem burocrática; em palavras mais explícitas: tal
ferramenta didática é implicitamente desestimulada. Baseamos nossa hipótese nos trabalhos
de campo do passado em relação aos atuais: víamos um grande interesse na realização dos
campos, contudo, em tempos de dificuldades econômicas na academia, havia pouca verba
disponível para tal fim. Por outro lado, hoje em dia possuímos verba disponível aos trabalhos
de campo, mas as iniciativas se desvanecem pela falta de tempo dos professores aliados ao
excesso de formalismos exigidos. Entretanto, de forma geral, houve um claro aumento no
número de trabalhos de campo no período observado.

Finalmente, outro grande problema que assola os estudantes do curso de Geografia é


a limitação do número de participantes em trabalhos de campo, devido à superlotação das
turmas. Situação incoerente, pois tais trabalhos são considerados obrigatórios pela ementa da
disciplina e ao mesmo tempo uma condição injusta, que causa tanto uma concorrência nociva
entre os estudantes quanto constrangimentos aos docentes.

19
3.1 Análise Evolutiva

Como descrevemos no capítulo 01 (metodologia), coletamos os dados para análise


nas planilhas de requisição de verba. O compêndio dos mesmos resultou a seguinte tabela:

20
TABELA I – Síntese de dados

DADOS RELATIVOS AOS TRABALHOS DE CAMPO EXECUTADOS NO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA, FFLCH-USP.

ANO: 1992 1996 2001 2006

VERBA
Solicitada: C$ 230.112.500,00 R$ 10.986,00 R$ 53.865,00 R$ 751.281,40
Concedida: C$ 10.320.000,00 R$ 10.986,00 R$ 53.865,00 R$ 751.281,40
(1)
Consumida: C$ 10.320.000,00 ... R$ 53.865,00 R$ 212.442,87

Nº de trabalhos de campo programados (graduação): 19 62 68 80


Nº de alunos proposto para o trabalho de campo (graduação): 732 2.348 2.463 2.636
Quilometragem estimada (km): 30.630 33.020 68.900 70.836
(1) (1)
Diária simples ... ... 1806 927
(1) (1)
Diária completa (pernoite) ... ... 3133 5255

(1)
Nº de trabalhos de campo executado (graduação) ... 43 68 88
(1)
Nº de alunos que fizeram trabalho de campo (graduação): ... 1.711 2.463 3406
(1) (1)
Quilometragem percorrida (km): ... 22.520 68.90045.780 (exclusive 2º sem.)

(2)
Alunos cadastrados e matriculados no curso de Geografia : 1410 1546 1668 2195

Execução orçamentária destinada à FFLCH (total) : C$ 62.844.146.174,71 R$ 26.158.782,50 R$ 65.887.814,00 R$ 110.963.574,00

Porcentagem da execução orçamentária da FFLCH destinada


ao trabalho de campo no departamento de Geografia: 0,0164% 0,0420% 0,0818% 0,1915%

Notas: (1) Dados não disponíveis na documentação disponível. (2) De acordo com a tabela "Alunos de graduação distribuídos pelas unidades e cursos”, disponível no anuário estatístico [do
respectivo ano] da Universidade de São Paulo.

21
Comecemos a análise dos dados disponíveis. É importante ressaltar, como bem
podemos ver na tabela, que nem todas as excursões didáticas planejadas no início do semestre
são realmente executadas, já que apesar da pouca ocorrência, os remanejamentos pelo
departamento podem acontecer. Os dados dos trabalhos realmente efetivados são
disponibilizados na planilha do semestre posterior. Ainda assim, existem lacunas nas
informações que estão disponíveis nestes relatórios, principalmente por falta de um padrão na
descrição dos mesmos pelo departamento. Este fato acarretou problemas na aquisição das
informações da pesquisa, prejudicando a interpretação dos dados. Por este motivo, em certos
casos, tivemos que nos basear pelos trabalhos de campo planejados ao invés dos executados.
Lembraremos o leitor quando assim o fizermos.

Primeiramente, vejamos o número de trabalhos de campo executados nos anos-base6.


Podemos verificar nitidamente no gráfico 01 que no período proposto o número de excursões
didáticas aumentou consideravelmente.

Número de trabalhos de campo executados pelo


Departamento de Geografia- USP
(1992-2006)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1992 1996 2001 2006

Gráfico 01: Número de trabalhos de campo programados

Contudo, entendemos que esta informação deve ser considerada em conjunto com o
crescimento do corpo discente da universidade, já que o número de alunos em 2006 é bem maior
que em 1992. Para obter os dados referentes a este crescimento, nossa única possibilidade foi

6
Com exceção de 1992, onde por falta de dados empregamos os trabalhos de “campo planejados”. O número de
trabalhos de campo realizados certamente foi menor, devido à contenção de verba pela reitoria.

22
recorrer ao anuário estatístico da USP, onde pudemos encontrar o número de alunos cadastrados
e matriculados no curso de geografia dos respectivos anos. Apesar da generalidade deste dado
(“alunos matriculados”) foi o único que tivemos disponibilidade de consulta. Como buscamos
apenas uma estimativa, o uso do mesmo não apresentará grandes problemas. Pudemos
confrontar esta variável com o número de estudantes que fizeram trabalho de campo7 e verificar,
como nos mostra o gráfico 02, que houve efetivamente um aumento real do número de
atividades de campo. Porém não podemos deixar de destacar a situação instável que se
encontrava a economia nacional e conseqüentemente a universidade em meados de 1992, com
repetitivas contenções de verba e inflações altíssimas, fato este que repercutia negativamente nas
atividades de campo. Podemos citar, por exemplo, o montante solicitado no referido ano (C$
230.112.500,00) e o concedido (C$ 10.320.000,00), ou seja, menos de 5% do total necessário.

Relação entre Alunos matriculados no curso de Geografia-


USP e Alunos que executaram trabalhos de campo em
disciplinas da Geografia (1992-2006)

4000
3500
3000
Alunos que executaram
2500 trabalhos de campo em
disciplinas da Geografia
2000
Alunos matriculados no
1500 curso de Geografia-USP
1000
500
0
1992 1996 2001 2006

Gráfico 02: Relação entre crescimento de alunos matriculados nos cursos de geografia e de alunos que
executaram trabalhos de campo

Observamos no exame da tabela que a verba concedida para a prática do trabalho de


campo também aumentou consideravelmente, tanto em relação ao montante bruto (houve um
aumento real acima da inflação do período) quanto em relação à porcentagem de toda verba
destinado à FFLCH (execução orçamentária). No que diz respeito a este último, vemos uma

7
Com exceção de 1992, que pela indisponibilidade de dados consideramos o número de estudantes inscritos.

23
ascensão na porcentagem de recursos reservada às excursões didáticas, considerando toda verba
da unidade (Gráfico 03).

Relação entre a verba total da FFLCH e a verba destinada aos


trabalhos de campo na Geografia (1992-2006)

0,25
0,2
Porcentagem

0,15 Porcentagem
0,1 da verba total
da FFLCH
0,05
0
1992 1996 2001 2006
Ano

Gráfico 03: Relação entre a verba total da FFLCH e a verba destinada aos trabalhos de campo na
Geografia

Poderíamos inferir que o acréscimo de verbas expandiu não só o número de estudantes


participantes mas também a abrangência geográfica das saídas, em outras palavras, possibilitou
estudos em locais mais distantes. Entretanto, a distância média dos trabalhos de campo diminuiu,
tendendo estes a se concentrar, com algumas exceções, no estado de São Paulo. Certamente
houve investimentos nos trabalhos de campo, porém os mesmos não foram consumidos em
deslocamentos. Podemos ter uma estimativa do total de quilômetros percorridos em trabalhos de
campo na Geografia através do gráfico 04.

24
Estimativa do total de quilômetros percorridos em
trabalhos de campo no curso de Geografia-USP
(1992-2006)

80.000

70.000

60.000

50.000

40.000 quilômetros

30.000

20.000

10.000

0
1992 1996 2001 2006

Gráfico 04: Estimativa do total de quilômetros percorridos em trabalhos de campo.

Uma análise mais detalhada do fenômeno é necessária. Primeiramente atentemos ao


fato de o número de estudantes atendidos ampliou mais que quatro vezes, enquanto o número de
quilômetros aumentou um pouco mais que duas vezes, indicando assim, a execução de campos
geograficamente mais próximos. Portanto o aumento expressivo no Gráfico 04 é conseqüência
direta do número de trabalhos.

Dos quatro anos avaliados, o ano de 1992 foi o que apresentou maior distância média
por trabalho de campo8. Grande foi a influência dos trabalhos de campo aplicados por Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, como por exemplo, a excursão didática proposta na disciplina “geografia
regional do Brasil”, onde o referido professor pretendia levar 90 alunos para a região de Marabá-
PA e Imperatriz- MA, zonas de conflito agrário. Convém dizer que o mesmo não ocorreu,
devido a contenção de verbas por parte da reitoria.

O ano de 1996 apresentou uma queda da distância média por trabalho de campo,
seguida de um aumento em 2001 e um pequeno recuo em 2006, como nos mostra o gráfico 05
logo abaixo:

8
Infelizmente uma estimativa baseada nos trabalhos de campo programados, pela falta de dados disponíveis dos
trabalhos de campo realmente efetivados.

25
Estimativa da distância média por
trabalho de campo na Geografia-USP
(1992-2006)
1800
1600
1400 Distância
1200 média por
1000 trabalho de
800 campo
600
400
200
0
1992 1996 2001 2006

Gráfico 05: Estimativa da distância média por trabalho de campo

Obviamente que a qualidade e o sucesso no cumprimento dos objetivos de um trabalho


de campo não é quantificado por quilômetros rodados. Como bem sabemos, existem
manifestações que podem ser observados e apreendidos em regiões próximas da universidade,
não acarretando nenhum prejuízo ao aprendizado do estudante. Todavia existem processos e
fenômenos de interesse geográfico que não são ubíquos, pelo contrário, são espacialmente
específicos. Como exemplo ilustrativo, podemos citar processos concernentes à geografia
agrária: pois bem, como poderíamos apreender o avanço da agroindústria em detrimento da
devastação floresta amazônica senão nas áreas específicas que estes fenômenos ocorrem? Como
apreender as relações e conflitos que tal fenômeno apresenta senão na própria área que acontece?
Por tais motivos, consideramos importante considerar o fator “distância” como indicador em
nossa análise.

Voltando especificamente aos dados da pesquisa, vemos certas contradições


principalmente entre os anos 2001 e 2006. Observamos que a verba entre os dois anos aumentou
substancialmente. Para termos uma idéia, façamos um cálculo que apesar de simplista pode nos
indicar certas tendências. A inflação do período 2001-2006 de acordo com o INPC beirou os 45
%. Assim sendo, o valor de 2001 (R$ 53.865,00) equivaleria aproximadamente a R$ 78.100,00

26
em 20069. Comparando os valores atualizados das verbas consumidas entre os referidos anos
(2001: R$78.100,00 e 2006: R$ 212.442,87) vemos um aumento real considerável, cerca de 170
% no total da mesma. Como podemos explicar tal situação sendo que a distância variou tão
pouco e até mesmo diminui em relação à média por saída? A resposta parece estar no aumento
da verba destinada às diárias. Apesar de não poder contar com dados que revelem a situação nos
anos de 1992 e 1996, podemos verificar um aumento de 67 % nas diárias completas (com
pernoite) entre os anos de 2001 e 2006, ou seja, na média, ao menos nos últimos anos, os
trabalhos de campo ficaram mais longos. Vejamos o gráfico 06 que mostra tal fenômeno:

Evolução do número de diárias simples


e completa nos trabalhos de campo da
Geografia-USP (1992-2006)

6.000
Diárias
5.000 simples
4.000
3.000
Diárias
2.000 completas
(pernoite)
1.000
0
1992 1996 2001 2006

Gráfico 06: Evolução do número de diária entre 1992-200610

Se compararmos este aumento à evolução do número de estudantes do período


(considerando apenas 2001-2006) que fizeram trabalho de campo, cerca de 38 %, veremos que
houve um aumento real do número de diárias, o que reforça a hipótese acima.

Finalmente, verificando a opinião dos docentes entrevistados, vemos que estas


corroboram com uma visão de melhora dos trabalhos ao longo dos anos, pelo menos no que
concerne ao financiamento destas. Pelo visto, no atual período, a grande maioria das excursões

9
Ressalto que tal cálculo, chamado de “valor nominal”, não é calculado de forma tão simples, resultando em
pequenas diferenças no resultado. Não adotamos o cálculo de valor nominal neste trabalho já que não necessitamos
de extrema exatidão.
10
Os dados dos anos 1992 e 1996 não estão disponíveis nos documentos.

27
didáticas programadas pelos docentes é aceita pelo setor orçamentário, sem maiores problemas.
Tal situação parece se opor aos anos noventa, onde talvez pela situação economicamente mais
instável, certa parcela dos pedidos era negada. Percebemos que a opinião dos professores
entrevistados sobre a atual situação parece tomar como referência tais ocasiões, repercutindo
com isso, interpretações positivas na grande maioria entrevistada.

28
4. CONCLUSÃO

Expusemos de forma sucinta o desenvolvimento dos trabalhos de campo no âmbito da


Geografia, desde as contribuições dos exploradores naturalistas, ainda na formação desta ciência,
até os dias atuais, onde percebemos o início do retorno de tal tema nas reflexões dos geógrafos.
Dentre esta recapitulação, tentamos sublinhar a importância do trabalho de campo para a
Geografia, independentemente do período histórico.

Revimos as principais proposições dos geógrafos acerca dos trabalhos de campo,


principalmente as excursões didáticas. Tais contribuições, sintetizadas, indicam a necessidade de
interpretação do trabalho de campo como uma técnica da Geografia. Esta deve buscar a
totalidade dos fenômenos, fazendo para isso articulações espaciais (por meio da análise em
diferentes escalas de observação), temporais (utilizando a história como recurso explicativo do
espaço), disciplinares (abordando os fenômenos de maneira articulada e não fragmentada,
compartimentada) e que finalmente privilegie a interação do estudante com o meio que se insere.
Tentamos desmitificar críticas que advertiam sobre o “empirismo” que os trabalhos de campo
poderiam levar, baseadas sobretudo num receio de um retrocesso aos métodos da Geografia
tradicional.

Defendemos ao longo do texto a idéia de ida ao campo não para descrever, mas para
perceber. A ida ao campo não para prender-se às aparências dos fenômenos, mas para buscar
justamente as essências ocultas dos mesmos. Enfim, a ida ao campo para se colocar questões e
possibilidades que seriam impossíveis pelos simples processos lógicos do pensamento.

Deparamo-nos com questões ainda mal resolvidas, onde a principal diz respeito ao
“nível teórico que o estudante deve ir ao campo”. Baseado em tal querela, esboçamos uma
proposta que visa valorizar a perspectiva do estudante, especificamente no momento do trabalho
de campo. Tal proposta incidiu na crítica da antítese clássica “teoria Vs. prática” em prol da
noção de “conceitos teóricos Vs. Percepção”, a nosso ver, mais adequado às excursões didáticas.
Em outras palavras, o trabalho de campo seria o momento em que o estudante perceberia
materializado na paisagem os conceitos que fazem parte da teoria a ser compreendida (sob tal
ótica, a percepção é a ferramenta inata do estudante no campo, devendo assim ser estimulada na
busca da construção do conhecimento).

29
No caso das excursões geográficas promovidas pelo departamento de Geografia da
Universidade de São Paulo:

Inicialmente, percebemos que o projeto original dos trabalhos de campo no


departamento foi descaracterizado. Em seu primeiro regulamento, datado de 1946, o
departamento de Geografia deixava clara sua preocupação em relação à interdisciplinaridade:
recomendava expressamente que ao menos uma vez ao ano um trabalho de campo conjunto entre
suas três cadeiras (Geografia Humana, Física e do Brasil) deveria ser feito. Entre outros, o
principal objetivo destes trabalhos era o de sintetizar os diferentes conhecimentos geográficos,
evitando assim a dicotomização entre os saberes, infelizmente tão comuns nos dias atuais.

No período de análise proposto (1992-2006), os dados indicam que houve progressos


quantitativos em certos aspectos dos trabalhos de campo no curso de Geografia, decorrência do
aumento considerável de verba destinada para os mesmos (inclusive em relação ao montante
total de verba destinada à FFLCH). A investigação indica que grande parte desta verba foi
utilizada para o aumento da quantidade de trabalhos (na média os estudantes passaram a fazer
mais trabalhos de campo durante o semestre), seguidos pelo aumento no número de dias de
trabalho de campo (as diárias completas). Lembramos que para uma correta interpretação dos
dados, deve-se ter em mente o contexto econômico instável que se passava a economia nacional
e conseqüentemente a universidade nos primeiros anos da década de 90, resultando na clara
política de contenção de verba e na conseqüente diminuição de atividades de campo. A
estabilização econômica e o aumento da captação de recursos parecem explicar a melhoria
apresentada.

Comparativamente ao aumento do número de estudantes participantes, a distância dos


trabalhos de campo diminuiu. Estes tendem a se concentrar no estado de São Paulo (74% do
total de trabalhos de campo).

Aumentou-se também a burocracia para a execução dos trabalhos de campo. Mudanças


normativas dificultaram a realização destes pelos professores. A destinação da verba foi cindida,
de forma que se impede o remanejamento entre gastos de combustível e de diárias. Instituíram-
se limites aos trabalhos de campo, tanto na distância quanto no tempo.

Motivo de frustração, como já bem dissemos, foram os limitadíssimos dados que


existiam disponíveis no que se refere aos trabalhos de campo já executados. Ressaltamos que

30
não há nenhum tipo de acompanhamento sistemático sobre estes pelo departamento. Aliás, é daí
que parte uma das principais conclusões da nossa pesquisa: não há um controle sistemático dos
trabalhos de campo realizados. Os poucos dados disponíveis só existiam por razões burocráticas,
pois se não fosse a exigência, possivelmente não teríamos nenhuma informação a respeito.
Torna-se fundamental e urgente um acompanhamento completo destas atividades pelo
departamento, acumulando e sistematizando o máximo de informações possíveis, atitude pouco
difícil se admitida seu valor e sua sazonalidade (duas vezes ao ano). Tal providência surtirá
ótimos efeitos a médio e longo prazo, pois permitirá um acompanhamento histórico dos
trabalhos de campo, além de, é claro, propiciar um “diagnóstico” desta ferramenta didática tão
importante para a formação dos geógrafos. O levantamento poderá inclusive ser utilizado com
finalidades políticas, se assim se fizer necessário, pois o departamento poderá valer-se deste
como prova real da necessidade de manutenção/suplementação de verba por parte da reitoria.

Devemos lembrar que as conclusões da análise aqui apresentada apontam apenas certas
tendências gerais, já que pelas razões apresentadas, tivemos que recorrer a generalizações.

Finalmente deve ser dito que escapou da possibilidade de análise o teor qualitativo dos
trabalhos de campo, ou seja, a maneira como os trabalhos foram executados e se os mesmos
cumpriram seus objetivos. Fica a necessidade de partimos para tal reflexão, buscando sempre
propiciar os subsídios necessários para a efetivação dos trabalhos de campo, tanto aos
professores quanto aos estudantes. Esperamos com isso que tal prática se desenvolva a contento,
permitindo a excelência de ensino por todos almejado, além é claro, da criação de uma
consciência crítica do estudante de Geografia, a nosso ver, a principal meta da universidade.

31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ADMINISTRAÇÂO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS


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01.1.2184.8.0 (Cx. 338/08); 01.1.401.8.3 (Cx. 1312/08); 97.1.449.8.1 (Cx. 274/08);
96.1.1488.8.0 (Cx. 264/08); 96.1.262.8.8 (Cx. 252/08); 92.1.546.8.2 (Cx. 147/08); 92.1.116.8.8
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

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Disponível em <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geografia/geo03a.htm>.
Acesso em 15 set. 2007.

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ANEXO 01
ÍNDICE SISTEMÁTICO DO REGIMENTO INTERNO DOS TRABALHOS DE CAMPO DO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
(maio de 2006)

TÍTULO I
O
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES (Art.1º E 2 )

TÍTULO II

ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO

Capítulo 1 Da programação dos trabalhos de campo

Capítulo 2 Dos veículos

Capítulo 3 Dos motoristas

Capítulo 4 Dos professores

Capítulo 5 Dos passageiros

Capítulo 6 Das verbas

TÍTULO III

DISPOSIÇÕES GERAIS

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

REGIMENTO INTERNO SOBRE OS TRABALHOS DE CAMPO

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º O Departamento de Geografia (DG) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), no
exercício de sua competência e autonomia administrativa, asseguradas pelo regimento interno da USP, organiza os
trabalhos de campo dos cursos de graduação e pós-graduação da Geografia nos termos deste regimento.

Art. 2º A organização dos trabalhos de campo do DG observará os seguintes princípios e diretrizes:


I – caráter didático e de pesquisa;
II – programação e planejamento sistemáticos;
III – probidade na administração dos recursos financeiros

TÍTULO II

ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO

Capítulo 1
Da programação dos trabalhos de campo

Art. 3º De modo a garantir a disponibilidade de veículos e correta distribuição de recursos, a


programação dos trabalhos de campo de cada semestre deverá ser entregue à Comissão de Excursões
Didáticas e Científicas, antes do final do semestre anterior, em datas estabelecidas semestralmente.

Art. 4º Os trabalhos de campo que estiverem fora da programação estarão sujeitos à disponibilidade de
veículos e recursos.

Art. 5º Para efeito de seguro de vida, em caso de uso de ônibus de empresas particulares ou da FFLCH,
o
o solicitante deverá encaminhar a lista de alunos (contendo nome, nº do RG, n USP e assinatura) além
do de acordo da Chefia; (a sentença seguinte foi suprimida)

Art. 6º O ônibus e o micro-ônibus serão autorizados somente se houver ocupação de, no mínimo, 50%
dos assentos devendo, porém, ser observada a lotação máxima permitida, a qual nunca deverá ser
ultrapassada, cabendo a quem autorizar tal situação, o encargo de eventuais multas.

§ 1º Havendo mais de um pedido de veículo para os mesmos períodos, a prioridade será dada às
EXCURSÕES DIDÁTICAS; havendo duas excursões didáticas para o mesmo período, será priorizado o
pedido que, pela quilometragem e tempo de viagem, apresentar um custo maior.

§ 2º Ainda que a Secretaria de Graduação também preste serviços de agendamento/fretamento para


Pós Graduação, a prioridade será dada à Graduação, lembrando que as fontes de recursos para
excursões didáticas dos programas de Pós Graduação não são as mesmas da Graduação.

Art.7º A participação em eventos científicos não constitui excursão didática nem de pesquisa.

§1º Os veículos poderão, no entanto, ser cedidos para tais eventos de acordo com a disponibilidade e
autorização da Chefia nos seguintes termos:
I – a solicitação deverá ser feita pelo próprio professor;

36
II- as despesas da viagem (combustível, diária do motorista, eventuais multas e danos ao ônibus) serão
rateadas entre os usuários do veículo.

Art. 8º O percurso de cada trabalho de campo não poderá ultrapassar 2.200km (ida e volta) e deverá ser
programada dentro de um prazo máximo de 7 (sete) dias (ida e volta).

§1º Viagens que requeiram mais de três dias letivos (sendo que um deles deve ser sábado) deverão ser
realizadas, na medida do possível, em períodos de recesso, de modo a não comprometer o andamento
das demais disciplinas.

§2º Viagens de percurso superior ao limite de quilometragem e/ou com duração superior ao estabelecido
o o
no Art.8 e no Parágrafo 1 deverão apresentar justificativas que serão submetidas ao parecer da
Comissão de Excursões Didáticas e Científicas e ratificadas pela Chefia do Departamento.

§3º O parecer referente ao parágrafo anterior levará em conta a disponibilidade de veículos,


motoristas, recursos financeiros, além da ausência de alunos por tempo prolongado que poderia
comprometer as outras atividades acadêmicas.

§4º As reservas de fretamento de ônibus de empresas particulares serão feitas pela


Secretaria do Departamento de Geografia.

§5º O professor solicitante deverá confirmar a realização da viagem com dois dias de
antecedência ao Setor de Transportes (ramal 4636, entre 09h00 e 18h00) e, nesta ocasião, tomará
conhecimento do motorista que o acompanhará e seu contato telefônico.

§6º Se, por qualquer razão, o ônibus da FFLCH não aparecer no local e horário indicado, o
professor deverá entrar em contato com a portaria do Prédio da Administração (ramal 4604) ou
com o próprio motorista designado.

§7º Se, por qualquer razão, o professor não aparecer e nem entrar em contato no horário e
local combinado, o motorista poderá, após uma hora de espera, recolher o veículo e desobrigar-
se da viagem.

Capítulo 2
Dos veículos

Art. 9º Os trabalhos de campo poderão ser realizados com os seguintes veículos:


I – ônibus
II - micro-ônibus
III - perua (van ou kombi).

Parágrafo único. Os automóveis de passeio não estão disponíveis para trabalhos de campo,
contudo, após avaliação do setor de transportes no que se refere às condições mecânicas e
disponibilidade, poderão acompanhar o professor em viagens preparatórias de trabalho de campo (pré-
campo).

Art. 10 O uso dos veículos deverá ser feito durante o período diurno, exceto quando o retorno da viagem
ocorrer no mesmo dia da saída. Outras exceções poderão ser avaliadas quando justificadas pelo
professor solicitante

Art.11 A utilização dos veículos será restrita à FFLCH, não havendo mais empréstimos para as
outras unidades, dada a grande demanda interna.

Art.12 Os veículos deverão estar equipados com material de primeiros socorros, abastecidos com
combustível e em perfeitas condições mecânicas para a realização do trabalho de campo.

Parágrafo único. O abastecimento dos veículos no retorno só será demandado no caso de o serviço
interno de abastecimento não estar em funcionamento normal.

37
Capítulo 3
Dos motoristas

Art. 13 O motorista deverá dirigir, no máximo, 8 (oito) horas por dia, encerrando-se, após esse
período, sua jornada de trabalho; sendo assim, apenas um motorista será escalado para cada
veículo.

§ 1º Os intervalos de recesso, para o motorista em trabalho de campo, serão computados para a


jornada de trabalho, mas pagas em horas extras, conforme as leis trabalhistas.

§2º Viagens que apresentarem percurso superior a 500 km /dia e/ou mais de 12 horas de trabalho
do motorista ao dia (8 da jornada e 4 horas extras) deverá prever dois motoristas; nestes casos, o
professor deverá reservar duas poltronas livres para o descanso do segundo motorista.

§3º O professor, mesmo devidamente habilitado, não está autorizado a conduzir os veículos
descritos no Artigo 9º (Capítulo 2).

Art. 14 O motorista deverá parar o veículo ou efetuar desvios quantas vezes se fizer necessário,
atendendo as necessidades impostas pela programação do trabalho de campo definidas pelo professor
responsável.

§1º Em situações de risco (como travessia de pontes estreitas ou fracas, trechos com atoleiros,
areais, etc.) caberá exclusivamente ao motorista a decisão de prosseguir pelo trecho indicado pelo
professor e, em casos extremos, pela continuidade ou não da viagem.

§2º Caso haja dano ao veículo, em decorrência de negligência do motorista, a responsabilidade


estará a encargo do mesmo.

§3º No caso de fretamento de ônibus de empresas particulares, estas deverão ser


previamente avisados das possíveis paradas.

Capítulo 4
Dos professores

Art.15 O professor solicitante deverá prever, de acordo com seu programa de atividades,
eventual necessidade de autorizações para paradas em auto-estradas, travessia em balsas, entradas
em balneários e estâncias turísticas, unidades de conservação, etc.

Parágrafo único. Eventuais penalidades pelo não cumprimento das referidas exigências, além de
contravenções, paradas em avenidas para embarque e desembarque, etc, deverão ser respondidas pela
pessoa que decidiu pela ação, no caso, o motorista ou o professor.

Art.16 O professor responsável pela excursão deverá prever local adequado para a alimentação
e repouso do motorista e dos alunos.

Parágrafo único. O solicitante deverá apresentar relatório resumido da viagem à Chefia do


Departamento, uma semana após seu retorno.

Art. 17 Caso o veículo apresente pane mecânica durante o percurso, o professor deverá organizar o
retorno dos alunos ao Departamento de Geografia, sendo que as eventuais despesas não previstas
que se fizerem necessárias serão reembolsadas pelo serviço financeiro da FFLCH mediante
apresentação dos comprovantes.

§1º Da mesma forma, o professor terá importante papel na organização do socorro e retorno em caso de
doença, acidente ou morte de qualquer dos participantes.

38
§2º O professor poderá decidir pela interrupção imediata do trabalho de campo caso considere não
haver condições favoráveis para a realização do mesmo (climáticas, por exemplo). Em outras situações
que ameacem a continuidade, o professor deverá discutir e decidir junto ao motorista pela interrupção ou
não do trabalho.

Capítulo 5
Dos passageiros

Art. 18 Serão admitidos como passageiros dos veículos nas viagens de campo somente aqueles
constantes da lista de alunos citada no artigo 5º, sendo que estes deverão ser:
I - alunos regularmente matriculados;
II - monitores;
III - professores do DG;
IV - professores ou técnicos formalmente convidados;
V - guias ou interlocutores nos locais visitados.

§1º Para fins de trabalho de campo não poderão ser levados como passageiros nos veículos:
I - parentes;
II - namorados(as);
III – crianças, ainda que filhos menores dos alunos e/ou professores;
IV – caronistas e outros similares.

§2º De acordo com necessidade imposta por situação específica, o professor poderá decidir pelo
transporte de um médico, um policial, um agente florestal, uma pessoa doente ou alguém cuja presença
considere importante.

(parágrafo 3º suprimido)

Art.19 Os passageiros deverão embarcar e desembarcar exclusivamente no estacionamento do


Departamento de Geografia.

§1º O desembarque poderá também ocorrer no portão central e no ponto do Crusp;


§2º Não poderá haver desvio de percurso para desembarques específicos;
§3º Não serão permitidas paradas para embarque ou desembarque nas marginais e em avenidas de
tráfego intenso, à exceção de terminais rodoviários ou metroviários que estejam no percurso e que
possibilitem um procedimento seguro.
§4º Em todos os outros casos, caberá ao motorista a decisão e responsabilidade de desembarque,
considerando os níveis de segurança e eventuais autuações.

Art. 20 Todos os passageiros serão responsáveis por seus atos deliberados, não havendo transferência
de responsabilidade para nenhum dos integrantes do grupo, nem para o próprio Departamento de
Geografia.

§1º A presença do professor responsável pela excursão dentro do veículo em trânsito é imprescindível.

§2º Em casos específicos, o professor poderá nomear um aluno de pós graduação que,
reconhecido pela turma, poderá substitui-lo por apenas um breve período ou trecho
preestabelecido.

§3º Em trabalhos de campo que envolvam mais de um veículo, o professor deverá nomear, no
mínimo, um monitor para cada veículo suplementar, reconhecido pelos demais.

§2º Comportamentos inadequados como uso de drogas, abuso de bebidas alcoólicas e tabaco,
depredações ou quaisquer atitudes que possam prejudicar, direta ou indiretamente o bom
andamento do trabalho de campo, poderão incorrer, em situações extremas, no desembarque do
passageiro.

§3º O Motorista poderá decidir pela interrupção da viagem caso considere sua continuidade
inviabilizada pelas situações descritas no parágrafo anterior.

39
§3º A maior ou menor tolerância com atrasos não dependerá do motorista mas de cada
professor; situações específicas deverão ser resolvidas em conjunto.

Capítulo 6
Das verbas

Art. 21 A concessão de verbas a um trabalho de campo está vinculada a sua inclusão na programação
semestral, bem como ao preenchimento da ficha de solicitação, com despesas previstas discriminadas,
nas quais deverão constar, inclusive, as despesas com fretamento de ônibus particulares.

§1º O pedido de verba deverá ser encaminhado com, no mínimo, dez dias de antecedência, para
que os trâmites financeiros possam ser efetuados a tempo;

§2º Os casos de pedidos ou alterações de pedidos fora desse prazo poderão ser submetidos ao
serviço financeiro que poderá considera-los mas sem oferecer garantias de liberação das verbas.

Art. 22 O professor é responsável exclusivo pela administração das verbas concedidas ao trabalho de
campo, assim como a prestação de contas e apresentação de notas até o prazo máximo de uma
semana após o retorno. Essas atividades não deverão ser atribuídas aos alunos e monitores.

Parágrafo único. A concessão de verbas poderá ser negada, caso haja pendências nas
prestações de contas de trabalhos de campos anteriores.

Art. 23 A verba destinada ao trabalho de campo poderá ser utilizada para as seguintes
despesas:
I - alimentação (de todos);
II - hospedagem (de todos);
III – pedágios;
IV – combustível;
V - ingressos (Parques, Museus, etc.) e passagens (balsa, barcas e transportes especiais como trens
funiculares, teleféricos, etc.);
VI - despesas com cópias e material didático relacionados à execução do trabalho de campo, desde que
devidamente documentadas com notas fiscais preenchidas com os dados da FFLCH.
VII – Em caso de verba insuficiente para a cobertura de todos os itens, caberá ao professor decidir como
ela será utilizada.

TÍTULO III

Disposições gerais

Art. 24 Em situações excepcionais, este regimento poderá ser alterado de forma a se adaptar a novos
contextos.
Art. 25 A falta ou inexistência, neste regimento, de mais alguma orientação sobre as viagens de campo
enseja consulta e manifestação da Comissão de Excursões Didáticas e Científicas e da Secretaria do
Departamento de Geografia.
Art. 26 A revisão deste regimento será feita a partir de um ano a contar da data de sua aprovação em
Conselho Departamental, sendo as mudanças submetidas à Comissão de Excursões Didáticas e
Científicas e difundidas entre os professores e demais interessados.

São Paulo, 16 de maio de 2006

Luis Antonio Bittar Venturi


Coordenador da Comissão de Excursões Didáticas e Científicas

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ANEXO 02

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