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Repensar a Distribuição

Quanto sua empresa perdeu ontem?

Rodrigo Catani, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza

É altamente provável que poucos executivos ou gestores de negócios saibam


responder a essa pergunta com precisão. Posso apostar que o índice de acerto
seria muito maior se a pergunta fosse “quanto sua empresa vendeu ontem?”. É
natural que as vendas ocupem um papel mais destacado na mente dos
gestores de negócios, mas a questão das perdas está intimamente ligada à
rentabilidade das empresas. No varejo é muito comum associar esse assunto a
todos os eventos que levem a perdas nas lojas, especialmente furtos e roubos.
Já na indústria, é muito comum medir o nível de perdas no processo produtivo.
Geralmente analisados e controlados de modo isolado, os processos
tradicionais de controle de perdas não refletem fielmente a realidade, pois não
englobam o nível de perdas na cadeia de abastecimento como um todo.
Cada vez mais as empresas entendem que mais importante que medir e
controlar é prevenir as perdas. A Nestlé, por exemplo, lançou mundialmente
uma iniciativa que se chama WOW (“war-on-waste” ou guerra ao desperdício).
Muitos varejistas adotam práticas semelhantes, mas alguns deles se
acostumaram a um patamar de perdas e têm dificuldade em reduzir esse
índice. Muitos estão investindo bastante em Prevenção de Perdas, porém
muitas empresas de porte significativo nem mesmo possuem uma área
específica para o tema.
Em uma operação de varejo, a gestão das perdas é muito mais complexa que
na indústria, pois podem ocorrer em um número muito maior de pontos. As
perdas podem começar no recebimento de mercadorias dos fornecedores,
passando por todos os processos de movimentação no(s) Centro(s) de
Distribuição, no transporte até as lojas ou até a casa dos consumidores; nas
áreas de retaguarda das lojas; nas gôndolas e áreas de vendas; e nos
checkouts. Em varejistas do segmento supermercadista que trabalham com
mercadorias perecíveis o índice de perdas é ainda mais alto, pois há problemas
relacionados à validade dos produtos (shelf life), perdas decorrentes de
manuseio inadequado dos funcionários e/ou consumidores (como no caso de
frutas) e avarias inerentes a produtos que são frágeis.
Apesar de controversos, os estudos apontam que os índices de perdas no
varejo brasileiro estão caindo, como mostra um levantamento divulgado no mês
passado pela FIA para a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Segundo o estudo (que englobou 79 empresas dos segmentos de
supermercados, eletrônicos, farmácias, material de construção, vestuário e
atacadistas), o índice médio de perdas no varejo brasileiro em 2009 foi de
1,77% da receita operacional das empresas, queda de 0,28% em relação a
2008. Para uma empresa que fature R$ 500 milhões por ano, isso significa
aproximadamente R$ 9 milhões no ano. As principais causas identificadas
foram quebra operacional (31%), furto externo (20%), furto interno (20%), erros
administrativos (15%), fornecedores (9%) e outros ajustes (5%). A causa que
mais cresceu foi a dos furtos (internos e externos), que juntos somam 40% do
problema. O investimento em tecnologia (principalmente de monitoramento por
câmeras) cresceu muito e deve aumentar ainda mais nos próximos anos, com,
por exemplo, câmeras sofisticadas que conseguem monitorar atividades
suspeitas do caixa e transmitir essa informação à segurança da loja.
Claro que a tecnologia é importante em muitos processos associados à
prevenção de perdas, especialmente quando relacionados a fraudes nos caixas
ou nas transações eletrônicas. Mas tão ou mais importante que tecnologia, é
fundamental implementar na organização uma cultura de prevenção de perdas
e processos operacionais que garantam práticas que conduzam as empresas a
boas práticas na área. E, para isso, é preciso que as pessoas sejam envolvidas
na revisão dos processos, conscientizando-as da importância do seu papel.
Treinar as pessoas para ter uma cultura que elimine os desperdícios é
fundamental para que a prevenção de perdas não seja apenas mais um projeto
e passe a ser uma prática do dia-a-dia, com metas, indicadores de
desempenho e monitoramento da alta gestão.

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