Professional Documents
Culture Documents
1
Apresentação
Como se pode ver sem dificuldade, os artigos são políticos, mas não
partidários. São textos de defesa da democracia e de forte crítica à
situação (que atropelou o Estado de direito) e à oposição (que não
cumpriu o seu papel).
http://www.slideshare.net/augustodefranco/a-independncia-das-cidades
http://www.slideshare.net/augustodefranco/pilulas-democrticas-apresentao
2
Sumário
3
Collor, quando as pessoas começaram de novo a acreditar no Brasil,
lavando a alma ao limpar o país da lama collorida.
4
calculismo eleitoreiro, a oposição colheu o óbvio: consagrou a
impunidade dos malfeitores e a continuidade da "sofisticada
organização criminosa" que se instalou no Planalto. E, ainda, que só
foi possível a eclosão do fenômeno político inédito que estamos
vivendo no Brasil desde 2003, com Lula e o PT no poder, devido à
existência de um partido com as características do PSDB – o qual,
mutatis mutandis, havia cumprindo o papel de “Kerenski brasileiro”.
5
14 - Em 18 de janeiro de 2008, no artigo “Lula, o venezuelano",
mostrei que são os bolsões de pobreza que garantem a eleição de
populistas e que Lula, na verdade, não quer acabar com a pobreza,
senão mantê-la e administrá-la, gerando uma imensa clientela de
pré-cidadãos Estado-dependentes. Mostrei ainda que Lula é um
"venezuelano" que quer, mas não pode se comportar como Chávez.
Se tentasse "chavecar" por aqui, o problema estaria resolvido. Nossa
sociedade, bem mais complexa, rejeitaria de pronto o tiranete. Lula é
o Chávez possível nas condições do Brasil.
6
O governo será como um náufrago
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (02/06/05)
Tudo agora é uma luta. Nada acontece no Brasil de hoje que não
possa ser interpretado como resultado de uma luta de grupos pelo
poder. Se alguém é acusado de corrupção, o que importa não é
apurar se houve ou não houve o delito, mas sim classificar o evento
como conseqüência de uma guerra pelo poder, uma antecipação
indevida da campanha eleitoral. Se alguém é filmado com a boca na
botija, cometendo um crime, a preocupação maior é saber quem
filmou e por que filmou, e não investigar o ato criminoso e punir o
culpado.
Os golpes que podem ser realmente letais para o governo não vêm
do PSDB ou do PFL, mas da sua própria base aliada. Ou da parte dela
que conta de fato, em termos de correlação de forças. Aqueles que
podem dar maioria congressual ao governo são, exatamente, os que
podem arruiná-lo.
7
apenas uma luta por sobrevivência política e por vantagens, cargos e
privilégios. Mas foi o próprio governo que estimulou isso.
Mesmo assim, não bastou. La nave va, mas fazendo água e meio ao
léu, com os tripulantes tapando os buracos no casco e improvisando
na pilotagem.
8
usar o governo. À medida que o tempo passa, vão dobrar o preço e
aumentar as exigências. Se a situação degenerar mais um pouco, vão
abandonar o barco e, ainda, fazendo o discurso de que não dá para
ficar em um governo incompetente e que traiu seus compromissos de
campanha.
Não precisava ser assim. Foi o PT que abriu essa caixa de Pandora ao
achar que todos os políticos, fora da esquerda, eram farinha do
mesmo saco e ao praticar o fisiologismo no atacado, certo de que
esse era o caminho para calar a boca dos "trezentos picaretas"
enquanto trabalhava para implantar a sua única proposta estratégica:
reter o poder pelo maior tempo possível. Tanto realismo deu nisso.
Agora é tarde. O barco adernou e está afundando.
Daqui a pouco, o governo não vai mais tentar pilotar. Toda a sua luta
será para conseguir chegar até o início da campanha, para agarrar a
tábua de salvação que constitui o palanque de 2006. Sim, porque,
logo, logo, o governo será como um náufrago, em virtude de seus
próprios desacertos políticos, sempre mais capitais do que a inépcia
administrativa de que é acusado pela oposição e pelos próprios
aliados. Continuará vivo enquanto permanecer nadando. Poderá
ainda se salvar. Mas, a cada dia, aumentarão as suas chances de
morrer na praia.
9
Salvando o governo do naufrágio
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (11/08/05)
Estejam ou não esses partidos querendo fazer isso, parece óbvio que
admitir a possibilidade de Lula continuar agindo como está, por mais
um ano, sem corrigir os erros que cometeu, significa, objetivamente,
ajudá-lo a abafar a crise. É preciso ver que Lula só se salva do
naufrágio com tal ajuda. Tendo aberto mão de tentar governar para
se concentrar na própria salvação a qualquer custo, o governo está
se esforçando para abafar a crise por meio de cinco artifícios.
10
ingenuidade ou fraqueza de alguns poucos dirigentes, resultantes da
pouca convivência com o jogo duro do poder.
11
crime eleitoral costumeiro, de receber dinheiro "não-contabilizado"
para uma campanhazinha aqui, outra acolá.
Que o dinheiro não era usado apenas para campanhas ficou mais do
que provado na semana passada, entre outras coisas, com as
evidências de pagamento a advogados para cuidar da "imagem do
partido" no escabroso caso Santo André. Mesmo assim, as elites, as
verdadeiras elites políticas e econômicas - aquelas que conspiram,
sim, mas a favor de Lula - insistem na tática de continuar fingindo
que acreditam que o chefe de governo não tem nada a ver com o que
faz o governo que ele chefia.
12
O problema é o caixa 3
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (04/10/05)
O PT fez caixa dois. Mas fez mais do que isso. Ocupando o governo,
começou a engordar um inédito caixa três.
Sim, caixa dois é comum, mas caixa três é uma novidade. Parecem a
mesma coisa, mas não são. Caixa dois tem objetivos eleitorais. Caixa
três também tem. Mas não como o caixa dois, que visa a ganhar uma
eleição determinada e que, portanto, se faz e se desfaz de acordo
com o calendário institucional. Caixa três, pelo contrário, é
13
permanente porque visa ganhar não uma eleição, mas controlar os
meios eleitorais tentando garantir a vitória em futuros pleitos (no
plural mesmo, à mexicana).
14
parlamentos, nas organizações da sociedade civil etc. visando
controlá-las por meios ilícitos.
Lula pode dizer que não é responsável pelo caixa dois, embora dele
tenha se beneficiado, como já ficou evidente no depoimento de Duda
(e isso passou batido diante dos olhos de nossa anêmica oposição).
Mas, se é responsável pelo caixa três, então não poderia continuar,
nem mais um dia sequer, na chefia do governo e do Estado.
15
O falso dilema do impeachment
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (16/12/05)
16
O impeachment deixou de ser um dispositivo constitucional válido de
nossa vida democrática. São os próprios líderes oposicionistas que
agora o comparam a um golpe.
Isso quer dizer que, ao optarem por manter Lula - apesar de todas as
evidências dos crimes cometidos por seu governo corrupto -, o
fizeram conscientemente. O que - é claro - explica muita coisa.
17
O impeachment instrumentalizado pela oposição estabeleceu uma
enganosa disjuntiva. Se não há condições para aplicá-lo, então tudo o
que resta é poupar Lula, sustentando o seu mandato até as eleições.
18
O iminente suicídio do PSDB
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (23/02/06)
19
mãos, resolve jogar tudo fora, assim, de graça? Se não for burrice, é
o quê? (Um observador menos generoso poderia pensar que eles não
querem realmente ganhar, que querem nos trair, competindo para
perder e para acumular forças para 2010).
Sim, PSDB e PFL são responsáveis pelo fato de Lula ter se mantido
até aqui. E são responsáveis pela sua recuperação. E serão os
grandes responsáveis por sua reeleição. Ou seja, se não mudarem de
comportamento e se não virarem o jogo contando com a ajuda de
uma opinião pública insurgente, passarão à história como os grandes
(ir)responsáveis. A não ser que aconteça um milagre, vão ter que
responder, durante anos a fio, pela enrascada em que meteram o
país.
20
Para não sair mal na foto, por puro bom-mocismo, nem mesmo
tomaram, num primeiro momento, qualquer iniciativa para expor à
nação as evidências de crimes cometidos pelo presidente da
República e pelo seu partido. Pegaram carona na imprensa e
quiseram surfar a onda numa boa. Para lucrar com o esforço alheio.
Para tirar as castanhas do fogo com as mãos dos outros. Para levar
vantagem sem se sujar. Tudo muito ruim. Como prova de caráter
partidário, tal comportamento evidencia, digamos, alguma coisa que
não se deve imitar. "Tirem as crianças da sala!", diria um pai zeloso
diante desse péssimo exemplo, de oportunismo vulgar.
21
O impeachment necessário
Augusto de Franco, Folha de S. Paulo (13/04/06)
22
dizer, como num passe de mágica, o Congresso readquiriria sentido
público, os tribunais superiores deixariam de ser defensorias do poder
e a máquina administrativa, hoje inteiramente aparelhada, renasceria
íntegra das cinzas).
23
O impeachment seria a melhor solução democrática, inclusive porque
a menos traumática no médio prazo. Não havendo o impeachment -
ou, que seja, ao menos um movimento pelo impeachment capaz de
suscitar a emergência de uma opinião pública insurgente - e não
havendo punição exemplar para os envolvidos, com a total
defenestração dos aparelhadores do Estado, o próximo governo
carregará, aí sim, uma herança maldita (porque autocrática) de
proporções incalculáveis.
24
Responsabilidade política
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (20/06/06)
25
viciada pela manipulação das massas e pela compra ilegal, direta e
indireta, em grande escala, de cabos eleitorais e eleitores.
É claro que nada disso poderia ter sido feito sem as vistas grossas
das oposições. Mas se, por um lado, as oposições são lenientes, por
outro, também não se pode contar com a mobilização da sociedade
em termos tradicionais.
26
agora a exercer a sua responsabilidade política, depois tudo indica
será muito tarde.
27
A fórmula antidemocrática de Lula
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (24/08/06)
Isso tudo pode ocorrer sem que se quebre a liturgia formal das
instituições do sistema representativo e, assim, não caberá nenhuma
acusação de golpismo. É claro que algumas coisas "extraordinárias"
deverão acontecer. Com 50 a 70 deputados petistas eleitos em 2006,
Lula não teria força para tanto.
28
comportamento de um governante que foi eleito com mais de 50
milhões de votos?
29
populações a se desfazer daqueles partidos que só pensam em
objetivos eleitoreiros, descuidando das suas responsabilidades pela
segurança dos cidadãos.
30
Decodificando Lula: basta inverter o sinal
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (10/10/06)
DAQUI PARA a frente é o vale-tudo? Não tem mais lei, não tem mais
costume republicano, não tem mais nada? Sim, porque os ministros
de Lula se transformaram em cabos eleitorais e usam
vergonhosamente o governo para fazer campanha declarada e para
atacar a oposição.
31
Os recentes pronunciamentos do ministro Genro, no sentido de que
Lula quer o debate ético, já que, ao contrário da oposição, concordou
com as CPIs e puniu todos os seus decaídos, ultrapassam a simples
desfaçatez. Todos sabem que Lula e o PT moveram mundos e fundos
para impedir a instalação da CPMI dos Correios, sabotaram e
bombardearam a CPI do Mensalão até o fim e só admitiram as
comissões quando não havia mais condições políticas de evitá-las.
A segunda lição que se deve reter é a de que uma força política não
se desmancha por si mesma. Se estiver no poder, não se suicida. Se
for uma quadrilha, não se desarticula na ausência de uma força que a
desbarate.
32
inclusive da parte mais secreta (até para a maioria dos petistas), que
tem uma estratégia definida de perpetuação no poder a qualquer
preço. Se ele, como sempre, de nada sabia antes, depois não teria
nenhuma dificuldade de saber.
Vamos ver se a oposição aprende essas lições e não cai mais uma vez
na conversa, aceitando ir para o segundo turno sem cobrar
diariamente o esclarecimento sobre a origem dos recursos e sobre o
envolvimento dos homens do "entourage" pessoal de Lula no golpe
do falso dossiê.
33
Os parceiros simbiônticos
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (04/01/07)
34
novamente para formas implícitas ou explícitas de conivência (a partir
de agosto de 2005 até o início formal da campanha eleitoral em
agosto de 2006).
Não contente com isso, a oposição ainda lhe fez o favor de não travar
a decisiva pré-campanha, de janeiro a agosto de 2006. Enquanto o
PSDB aguardava, apalermado, o início do horário eleitoral, durante
oito meses, Lula, disputando sozinho, praticamente dobrou as suas
intenções de voto, pulando, segundo o Datafolha, de um patamar de
33% (no início do ano passado), para 41% (em março), para 43%
(em maio), para 46% (em junho) e para 49% (em agosto). Deu no
que só poderia dar mesmo.
35
mexer se surgir um movimento oposicionista (de fato), propondo
retirar Lula do poder. Aí, sim, você marchará ombro a ombro com os
bravos tucanos para defender a governabilidade.
Sorte sua se, como ocorre com esses propósitos que fazemos no
início de cada ano, você não cumprir o prometido. Nem que seja pela
falta de virtude, desejo que você seja poupado da vergonha de ter
que explicar para os seus filhos e netos as razões pelas quais
resolveu dobrar a espinha. São os meus votos de Ano Novo.
36
Confiança zero
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (03/05/07)
37
pela incapacidade de governar de Lula vão começar a recair sobre
quem, senão sobre os amigos?
38
Ontem foi o "banditismo (e a corrupção) de Estado" que veio à tona
com Waldomiro-Dirceu e o mensalão. Amanhã, a natureza
degenerada do governo se manifestará em outras coisas. Tanto faz. A
política não é feita de coisas, mas de relações de forças.
39
Um governo sem muito futuro
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (06/08/07)
40
É verdade que, com a ajuda dessa gente, Lula poderia facilmente se
recuperar do tropeço atual. Sobretudo porque continua blindado. Sua
inimputabilidade autocrática, baseada em índices fujimorianos de
popularidade, funciona como guarda-chuva para a impunidade de
seus colaboradores.
Fujimori chegou a ser preso (no Chile), mas, como se sabe, até agora
não foi punido nenhum membro da quadrilha petista que ocupou o
Planalto. Alguém acredita que os tucanos cobrarão providências?
41
sistêmica de governar. É assim que, para onde se olha, há má
gestão, roubo e formação de quadrilha.
42
A farsa do mensalão mineiro
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (27/09/07)
Ora, se para Lula vale o argumento de que ele não sabia o que
faziam seus mais íntimos auxiliares, por que não deveria valer para
Azeredo?
Onde está a farsa? Em primeiro lugar, a farsa é querer dizer que todo
mundo faz igual. Mas, se for assim, Azeredo está blindado pela
"jurisprudência" que assegurou a inimputabilidade de Lula, não?
Não consta que o PSDB tenha comprado apoio político para montar
um Estado paralelo no país a partir da ocupação organizada da
administração federal, das estatais e paraestatais e dos fundos de
pensão, com o objetivo precípuo de falsificar a rotatividade
democrática, retendo o poder nas mãos de um mesmo grupo privado
43
pelo maior tempo possível. Essa é a origem e a razão do mensalão,
quer dizer, do caixa três, não do caixa dois.
É possível manter essa situação por algum tempo. Mas não por muito
tempo. É uma corrida contra o tempo. Lula está obrigado a pagar
hoje por mais um dia de vida amanhã.
44
Para impasses como esse, toda solução é subótima. Na verdade, a
única saída é empurrar com a barriga. A produção de farsas como a
do mensalão mineiro é apenas mais uma tentativa de ganhar tempo.
45
Lula, o "venezuelano"
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (08/01/08)
SE NOSSO IDH fosse mais próximo de 0,9 (em vez de 0,8), Lula
jamais governaria o Brasil. Quem garante seus votos e liderança é a
pobreza. É por isso que Lula não ganha eleição para prefeito de São
Bernardo. É por isso que não ganha para governador de São Paulo
nem de qualquer Estado do Sul (talvez com exceção do Paraná, que
só é governado pelo chavista Requião por concentrar a maior pobreza
da região).
46
governamentais. Poderia tirar a Globo do ar e empastelar a revista
"Veja".
47
Dizendo de outro modo, o Brasil não é uma ditadura - nem mesmo
uma protoditadura (como a Venezuela) -, mas uma democracia
formal parasitada por um regime neopopulista manipulador, em que
um grupo privado que ascendeu ao poder pelo voto, com base na alta
popularidade de seu líder, tenta permanecer no poder sem violar
abertamente a legalidade democrática, mas pervertendo a política e
degenerando as instituições para manipular a opinião pública e as leis
a seu favor.
48
Esses caras são bandidos?
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (04/04/08)
Calma lá, litigantes de má-fé! Com isso não quero dizer que a
maioria, uma parte ou todos os filiados e militantes do PT são
bandidos (no sentido criminal do termo). Quero dizer que o PT é
presidido por uma lógica ou uma racionalidade própria dos bandos. E
que não é à toa que tenha se formado a partir do movimento
sindical.
49
Sim, o sindicalismo, sobretudo se partidarizado, é uma forma branda
de banditismo: subordina o sentido público ao interesse particular de
uma corporação e não mede conseqüências para prover a satisfação
de um grupo privado em detrimento do bem-estar geral. É
exatamente o que o PT, como bando, faz: privatiza partidariamente a
esfera pública.
50
veio a quinta: a investigação, sem nenhuma denúncia ou fato
determinado, dos gastos oficiais com Ruth e Fernando Henrique
Cardoso para produzir um novo dossiê com o qual o governo
pretendia chantagear a oposição ou impedir que ela requeresse
legalmente a investigação das -aqui, sim, fartas- evidências de uso
criminoso dos cartões corporativos da Presidência por familiares ou
auxiliares diretos de Lula.
51
Ruth
Augusto de Franco, Folha de São Paulo (26/06/08)
A HISTÓRIA não anda para a frente. Aliás, ela não vai para lugar
nenhum. Nós é que vamos. Ou não vamos. No final de 1999, o
responsável pelas relações do Banco Mundial com a sociedade civil,
freqüentador assíduo de nossas atividades, me dizia, num
restaurante no aeroporto do Galeão, que Ruth fazia um trabalho
extraordinário, mas não seria bem compreendida porque estava dez
anos à frente da sua época. O que diria ele agora, quando depois de
Ruth fomos parar em algum lugar do passado, 20 anos atrás? A
morte não tem sentido. A menos aquele que os vivos lhe
emprestamos.
52
Ruth conseguia promover essa unidade, estranha para muitos nos
tempos que correm, entre vida pessoal e vida política. Embora nunca
tenha misturado a esfera privada com a pública, era sempre a
mesma pessoa, estivesse numa recepção palaciana a um chefe de
Estado, conversando com agricultores no São Francisco ou almoçando
conosco, seus parceiros, em um restaurante em São Paulo.
Mas tinha opinião, ah!, isso ela tinha. Não acreditava no velho
sistema político que agora se derrama em exaltações póstumas.
Durante os oito anos da Comunidade Solidária, jamais vi na sua
agenda aqueles célebres atendimentos clientelistas a parlamentares,
nem mesmo aos do partido do marido. Sei bem, pois minha sala
ficava ao lado da sua.
Ruth era suave, tinha aquele poder "doce" que os velhos alquimistas
percebiam na natureza, mas era também muito crítica, inclusive em
relação ao governo Fernando Henrique, ao qual, aliás, nunca
pertenceu formalmente.
53
são dez dias. A gente sofre porque é como se perdesse uma parte do
próprio corpo.
Mas Ruth cumpriu bem seu tempo nesta terra, com elegância e, mais
do que isso, com sublimidade. Sofreu, sim, nos últimos anos, ao
assistir ao derruimento sistemático das bases de um novo padrão de
relação entre Estado e sociedade que tanto se esforçou por construir.
Passou-se a tempo de não sofrer mais. Foi poupada do que ainda
virá.
54
Lula-aqui, Evo-ali, Obama-lá
Augusto de Franco, Folha de S. Paulo (17/11/08)
Isso é tão óbvio que não pode estar em discussão. Se Lula gostasse
de democracia, não teria declarado tantas vezes que Chávez "peca
por excesso de democracia".
Para entender, é preciso ver que Lula não quer ser chefe de governo.
Nunca quis. Ele quer ser condutor de rebanhos, guia de povos. Quer
palanques extraordinários, não a ordinária rotina das tarefas
administrativas.
55
Na democracia, cada um que pense com sua cabeça, faça suas
escolhas e ande com as próprias pernas. Quem precisa ser conduzido
como rebanho é gado, não gente. Quem gosta de conduzir o povo
pela mão são os sociopatas (e genocidas, como Mao, o "guia genial
dos povos") e os vigaristas (como certos pastores e palanqueiros).
Quase dois terços dos americanos não foram votar no mulato Obama.
56
alguma razão para explicar e legitimar o comportamento do agente.
O lugar de onde ele fala não seria então o lugar que ocupa quando
fala, senão um lugar pretérito, originário, abstrato, capaz de lhe
condicionar a trajetória e absolvê-lo de todos os erros passados e
futuros.
57
O buraco negro da manipuladura
Augusto de Franco, Folha de S. Paulo (13/08/09)
58
apenas a eletividade não é um critério capaz de garantir a
legitimidade dos regimes tidos por democráticos.
Menos mal para nós que Lula não seja um Putin (agente de um
"partido" de assassinos, a KGB, sob o silêncio cúmplice do mundo) ou
um Chávez (promotor de uma revolução bolivariana, inclusive
financiador de ações de luta armada, também sob o silêncio
irresponsável do mundo).
59
a esse caudilho Zelaya). Se os governantes de um país importante
como o Brasil podem entrar na nova onda autocratizante, mesmo que
na sua retaguarda política - e ninguém diz nada, porque,
convenhamos, oposição de verdade não há por aqui -, estamos
correndo sério risco: nós e as demais sociedades latino-americanas
que ainda não tombaram nesse "efeito dominó".
60
O banditismo de Estado e as oposições
Augusto de Franco, o único artigo não publicado (11/09/10)
61
fatal. Como diz o ditado, “o que não mata engorda”. Nosso supremo
manipulador, dali para frente, não parou mais de estufar, a barriga e
as pretensões despóticas.
62
lulista. O PSDB foi a escada que o PT precisava para pular o muro do
Estado de direito. E para implantar seu projeto de uma hegemonia de
longa duração sobre a sociedade brasileira.
63