You are on page 1of 5

ESCOLA SECUNDÁRIA c/ 3º CEB GIL EANES

PORTUGUÊS – 10º ANO – ANO LECTIVO 2005/2006

O uso que fazemos da língua depende de um conjunto de factores de índole diversa, nomeadamente do nível sociocultural dos locutores, da
idade/sexo, do tipo de relação social/posição entre os interlocutores, da situação/intenção de comunicação, entre outros. A verdade é que o sucesso
ou o fracasso de um acto comunicativo depende, em grande parte, do registo de língua escolhido, das formas de tratamento, da utilização do código
oral ou do escrito, bem como da adopção de determinada função da linguagem.

Da necessidade de adequação da língua às diversas situações de comunicação (oral ou escrita) surgem os diferentes registos, que se
distinguem entre si tanto a nível sintáctico como lexical, dependendo dos interlocutores, do local e das circunstâncias de comunicação, bem como da
natureza da mensagem.
Assim, podemos distinguir vários registos de língua, ainda que entre alguns deles não se estabeleça uma delimitação muito rigorosa.

O registo cuidado, dado o seu carácter formal, emprega um vocabulário variado e rebuscado e uma sintaxe precisa e elaborada. Este tipo de
linguagem é utilizado numa situação de comunicação em que há um distanciamento entre o emissor e o receptor e é, normalmente, aplicado em
cartas e documentos oficiais, nos cursos e comunicações orais, nas crónicas jornalísticas e/ou literárias, em conferências, etc.

O registo familiar é utilizado entre pessoas que mantêm alguma intimidade e, portanto, é marcado pela informalidade. Serve-se de um
vocabulário simples, não raras vezes pouco variado, e de uma sintaxe simplificada. A linguagem é, em geral, espontânea e permeável à influência da
linguagem popular, recorrendo a expressões pitorescas. É, normalmente, um registo empregue numa conversa informal, em cartas dirigidas a um
amigo e/ou familiar, etc.

Os registos cuidado e familiar são desvios à norma, à língua-padrão. A norma corresponde ao registo de língua corrente, ou seja, à
linguagem usada diariamente pela maioria dos falantes de uma comunidade linguística, independentemente da sua condição social ou da região onde
vivem. Este registo caracteriza-se pelo uso de palavras, expressões e construções gramaticais simples mas correctas. Este tipo de linguagem é,
normalmente, empregue nos meios de comunicação social, dado estes se dirigirem a todos em geral.

O registo de língua popular é aquele que mais se distancia da norma. Caracteriza-se pelo recurso a uma organização sintáctica que tende
para a simplificação e nem sempre gramaticalmente correcta. Recorre a expressões pitorescas e a um vocabulário simples, genuíno e pouco variado.
São frequentes as trocas ou omissões de sílabas e os erros de concordância verbal. Mas não deixa de ser, por vezes, uma linguagem bastante
expressiva. Utiliza-se em conversação e até em obras literárias que pretendem reproduzir a língua falada pelas classes menos instruídas, bem como o
ambiente em que as personagens se movem.

Por gíria entende-se um conjunto de vocábulos e expressões, assimilado por certos grupos socioprofissionais que pretendem demarcar-se
dos restantes indivíduos, através do uso de um vocabulário muito próprio e original, ou simplesmente com o objectivo de designar realidades que
lhes são próprias.
Este tipo de linguagem existe, nomeadamente, entre os estudantes, jornalistas, médicos, desportistas, assaltantes, etc. Alguns termos
utilizados por estes grupos são, por exemplo, furo, com o sentido de tempo lectivo livre (estudantes), notícia exclusiva (jornalistas), pneu furado
(automobilistas); bófia, para designar Polícia, bué, tótil, que significam muito, etc.

O calão é uma linguagem que tem origem nas camadas menos cultas. Inclui vocábulos mais ou menos usados pela grande maioria dos
falantes (bestial, chatice) ou palavras e expressões, não raras vezes grosseiras, usadas por um número mais restrito de pessoas em determinadas
situações mais reservadas.

Neste registo de língua incluem-se os termos ligados à terminologia própria dos vários domínios do conhecimento, quer das ciências
humanas, quer das ciências exactas, quer ainda dos vários ramos tecnológicos. Esta terminologia específica e rigorosa não é do conhecimento da
maior parte dos falantes.

ESCOLA SECUNDÁRIA c/ 3º CEB GIL EANES


PORTUGUÊS – 10º ANO – ANO LECTIVO 2005/2006

Identifica o registo de língua utilizado em cada situação de comunicação:

1. “(…) A editora italiana Oscar Mondadori, uma das maiores e mais prestigiadas do seu país, tem cerca de 3700 títulos em
formato de livro de bolso, dos maiores autores de ontem e da actualidade. Divididos por 19 colecções, dos clássicos gregos
aos guias, da narrativa contemporânea à poesia, do seu catálogo fazem parte Ítalo Calvino, o Papa João Paulo II, Isaac
Asimov (…)”
In Público, 20/07/2003

REGITO ______________________________________

2. “A festa do Zeca foi uma seca! Se soubesse que ia ser assim, nem tinha saído de casa! Tinha ido mais cedo para a cama,
curava a ressaca e não me chateava! E, como sempre, a responsável pela minha má disposição é a Bianca! Ando a ficar farto
dela!
A festa até começou bem, mas a partir do momento em que eu apanhei a Bianca a fazer-se ao Joca, passei-me!(…)”

In Marta Gomes e Nuno Bernardo, O Primeiro Livro do Diário de Sofia


REGITO ______________________________________

3. “A lombalgia – dor na região lombar – é bem conhecida pelos trabalhadores que têm de usar a força: é o famoso “golpe de
rins”, microtraumatismo do disco intervertebral.(…)”
In Notícias Magazine, 16/11/2003
REGITO ______________________________________

4. “Demonstravam que o demónio se serve dela [mulher] para semear a turbulência e o pecado, o que torna evidentemente
indispensável que as raparigas sejam mantidas sob rigoroso controlo dos pais, as esposas sob o dos maridos e as viúvas
encerradas num mosteiro. No século XII, todos os homens advertidos do comportamento da duquesa da Aquitânia viam nela
a representação exemplar do que os tentava e ao mesmo tempo inquietava na feminilidade.”
In Georges Duby, As Damas do Século XII
REGITO ______________________________________

5. “- E o rapto – perguntou Margarida, sem pinga de sangue.


- Foi três anos dipois. O senhor inglês vinha por i à laranja e mitia-se na cerca num cesto. Rosinha da Glória era novinha…
Ua noite, olhe… o criado que mitia o senhor inglês no cunvento a fingir qu’era laranja grada prà madre abadessa, saiu num
cesto, freira e tudo…
(…) Houve um silêncio. A velha disse:
- Fica feio desinquietar im sagrado as filhas de cada um, mais também foi mal feito invinagrar assim a menina.(…)
Casamento e mortalha no céu se talha. São sinas…”
In Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal
REGITO ______________________________________

6. “- Atão … - disse arrastadamente – se vomecê me aceita …


- Para quê? Para alombares com a fazenda?
- Pois.
- Estás então pronto a servir-me de cavalgadura?
Os homens acharam graça à graçola e até o Corinhas desanuviou o rosto amarelo, intervindo:
- Ele?! Atá pra burro tem cagaço!
- Ó Pencas, essa é forte! – atiçou o proprietário das botas.
- Cagaço tem vomecê. Ainda não o vi ir a nenhuma parte.
- Ir a uma parte é mijar.
- Não o vi pôr o coirão às balas da Guarda, pois. Nem o vi pegar numa charrua. Faz tanto como eu.”
In Fernando Namora, A Noite e a Madrugada
REGITO ______________________________________

7. “Caro João:
Passaram cinco meses depois da tua última carta. Bem sei que não tenho desculpa, mas tenho andado ocupado com umas
cenas.
Agora, indo direito ao assunto: estou apaixonado. Foi tiro e queda. Bora, Sidónia?... Pois. É a Sidónia a felizarda que, desta
vez, não resistiu aos meus encantos. Anda mesmo caídinha: liga-me muitas vezes para o telemóvel ou tecla o seu amor no
correio electrónico. Convida-me para ir a lugares fixes: cinema para adultos e dancingues à medida do que eu mereço. (…)”
In Ser em Português 10º Ano
ESCOLA SECUNDÁRIA c/ 3º CEB GIL EANES
PORTUGUÊS – 10º ANO – ANO LECTIVO 2005/2006

O uso que fazemos da língua depende de um conjunto de factores de índole diversa, nomeadamente do nível sociocultural dos
locutores, da idade/sexo, do tipo de relação social/posição entre os interlocutores, da situação/intenção de comunicação, entre outros. A
verdade é que o sucesso ou o fracasso de um acto comunicativo depende, em grande parte, do registo de língua escolhido, das formas de
tratamento, da utilização do código oral ou do escrito, bem como da adopção de determinada função da linguagem.

Da necessidade de adequação da língua às diversas situações de comunicação (oral ou escrita) surgem os diferentes registos, que se
distinguem entre si tanto a nível sintáctico como lexical, dependendo dos interlocutores, do local e das circunstâncias de comunicação, bem como da
natureza da mensagem.
Assim, podemos distinguir vários registos de língua, ainda que entre alguns deles não se estabeleça uma delimitação muito rigorosa.

O registo cuidado, dado o seu carácter formal, emprega um vocabulário variado e rebuscado e uma sintaxe precisa e elaborada. Este tipo de
linguagem é utilizado numa situação de comunicação em que há um distanciamento entre o emissor e o receptor e é, normalmente, aplicado em
cartas e documentos oficiais, nos cursos e comunicações orais, nas crónicas jornalísticas e/ou literárias, em conferências, etc.

O registo familiar é utilizado entre pessoas que mantêm alguma intimidade e, portanto, é marcado pela informalidade. Serve-se de um vocabulário
simples, não raras vezes pouco variado, e de uma sintaxe simplificada. A linguagem é, em geral, espontânea e permeável à influência da linguagem
popular, recorrendo a expressões pitorescas. É, normalmente, um registo empregue numa conversa informal, em cartas dirigidas a um amigo e/ou
familiar, etc.

Os registos cuidado e familiar são desvios à norma, à língua-padrão. A norma corresponde ao registo de língua corrente, ou seja, à linguagem
usada diariamente pela maioria dos falantes de uma comunidade linguística, independentemente da sua condição social ou da região onde vivem. Este
registo caracteriza-se pelo uso de palavras, expressões e construções gramaticais simples mas correctas. Este tipo de linguagem é, normalmente,
empregue nos meios de comunicação social, dado estes se dirigirem a todos em geral.

O registo de língua popular é aquele que mais se distancia da norma. Caracteriza-se pelo recurso a uma organização sintáctica que tende para a
simplificação e nem sempre gramaticalmente correcta. Recorre a expressões pitorescas e a um vocabulário simples, genuíno e pouco variado. São
frequentes as trocas ou omissões de sílabas e os erros de concordância verbal. Mas não deixa de ser, por vezes, uma linguagem bastante expressiva.
Utiliza-se em conversação e até em obras literárias que pretendem reproduzir a língua falada pelas classes menos instruídas, bem como o ambiente em
que as personagens se movem.

Por gíria entende-se um conjunto de vocábulos e expressões, assimilado por certos grupos socioprofissionais que pretendem demarcar-se dos
restantes indivíduos, através do uso de um vocabulário muito próprio e original, ou simplesmente com o objectivo de designar realidades que lhes são
próprias.
Este tipo de linguagem existe, nomeadamente, entre os estudantes, jornalistas, médicos, desportistas, assaltantes, etc. Alguns termos utilizados
por estes grupos são, por exemplo, furo, com o sentido de tempo lectivo livre (estudantes), notícia exclusiva (jornalistas), pneu furado
(automobilistas); bófia, para designar Polícia, bué, tótil, que significam muito, etc.

O calão é uma linguagem que tem origem nas camadas menos cultas. Inclui vocábulos mais ou menos usados pela grande maioria dos falantes
(bestial, chatice) ou palavras e expressões, não raras vezes grosseiras, usadas por um número mais restrito de pessoas em determinadas situações mais
reservadas.

Neste registo de língua incluem-se os termos ligados à terminologia própria dos vários domínios do conhecimento, quer das ciências humanas, quer
das ciências exactas, quer ainda dos vários ramos tecnológicos. Esta terminologia específica e rigorosa não é do conhecimento da maior parte dos
falantes.

ESCOLA SECUNDÁRIA c/ 3º CEB GIL EANES


PORTUGUÊS – 10º ANO – ANO LECTIVO 2005/2006
Identifica o registo de língua utilizado em cada situação de comunicação:

1. “(…) A editora italiana Oscar Mondadori, uma das maiores e mais prestigiadas do seu país, tem
cerca de 3700 títulos em formato de livro de bolso, dos maiores autores de ontem e da
actualidade. Divididos por 19 colecções, dos clássicos gregos aos guias, da narrativa REGISTO
contemporânea à poesia, do seu catálogo fazem parte Ítalo Calvino, o Papa João Paulo II, Isaac
____________________
Asimov (…)”
In Público, 20/07/2003

2. “A festa do Zeca foi uma seca! Se soubesse que ia ser assim, nem tinha saído de casa! Tinha
ido mais cedo para a cama, curava a ressaca e não me chateava! E, como sempre, a responsável
pela minha má disposição é a Bianca! Ando a ficar farto dela!
A festa até começou bem, mas a partir do momento em que eu apanhei a Bianca a fazer-se REGISTO
ao Joca, passei-me!(…)”
____________________
In Marta Gomes e Nuno Bernardo, O Primeiro Livro do Diário de Sofia

3. “A lombalgia – dor na região lombar – é bem conhecida pelos trabalhadores que têm de usar a
força: é o famoso “golpe de rins”, microtraumatismo do disco intervertebral.(…)” REGISTO
In Notícias Magazine, 16/11/2003
____________________

4. “Demonstravam que o demónio se serve dela [mulher] para semear a turbulência e o pecado, o
que torna evidentemente indispensável que as raparigas sejam mantidas sob rigoroso controlo
dos pais, as esposas sob o dos maridos e as viúvas encerradas num mosteiro. No século XII, REGISTO
todos os homens advertidos do comportamento da duquesa da Aquitânia viam nela a ____________________
representação exemplar do que os tentava e ao mesmo tempo inquietava na feminilidade.”
In Georges Duby, As Damas do Século XII

5. “- E o rapto – perguntou Margarida, sem pinga de sangue.


- Foi três anos dipois. O senhor inglês vinha por i à laranja e mitia-se na cerca num cesto.
Rosinha da Glória era novinha… Ua noite, olhe… o criado que mitia o senhor inglês no
cunvento a fingir qu’era laranja grada prà madre abadessa, saiu num cesto, freira e tudo… REGISTO
(…) Houve um silêncio. A velha disse:
____________________
- Fica feio desinquietar im sagrado as filhas de cada um, mais também foi mal feito invinagrar
assim a menina.(…) Casamento e mortalha no céu se talha. São sinas…”
In Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal

6. “- Atão … - disse arrastadamente – se vomecê me aceita …


- Para quê? Para alombares com a fazenda?
- Pois.
- Estás então pronto a servir-me de cavalgadura?
Os homens acharam graça à graçola e até o Corinhas desanuviou o rosto amarelo, intervindo:
- Ele?! Atá pra burro tem cagaço! REGISTO
- Ó Pencas, essa é forte! – atiçou o proprietário das botas.
____________________
- Cagaço tem vomecê. Ainda não o vi ir a nenhuma parte.
- Ir a uma parte é mijar.
- Não o vi pôr o coirão às balas da Guarda, pois. Nem o vi pegar numa charrua. Faz tanto como
eu.”
In Fernando Namora, A Noite e a Madrugada

7. “Caro João:
Passaram cinco meses depois da tua última carta. Bem sei que não tenho desculpa, mas tenho
andado ocupado com umas cenas.
REGISTO
Agora, indo direito ao assunto: estou apaixonado. Foi tiro e queda. Bora, Sidónia?... Pois. É a
Sidónia a felizarda que, desta vez, não resistiu aos meus encantos. Anda mesmo caídinha: liga- ____________________
me muitas vezes para o telemóvel ou tecla o seu amor no correio electrónico. Convida-me para ir
a lugares fixes: cinema para adultos e dancingues à medida do que eu mereço. (…)”
In Ser em Português 10

You might also like