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O Moinho de Café, a Bandeja e o Bastão  

      O negro pensou um momento e disse: — Vou lhe dar uma segunda oportunidade.
Aqui está uma bandeja que produzirá quanto dinheiro você desejar. Mas não volte
ERA UMA VEZ um pobre lenhador que tinha uma esposa e sete filhas. Ele trabalhava mais aqui.
bastante mas, apesar disso, continuava muito pobre. Assim se passaram vários anos.        Encheu-se novamente de alegria o coração do lenhador. No caminho,
       Um dia, cortando árvores, de repente viu à sua frente um homem preto que lhe experimentou a bandeja: — Bandeja, bandeja, dê-me dinheiro! — E lá estavam
perguntou: — Por que você corta minha cabeça todo dia: moedas de ouro e de prata. Novamente contou à esposa e às filhas seu segundo
       A resposta do lenhador foi: — Senhor, tenho em casa uma mulher e sete filhas encontro com o negro, e novamente todos agradeceram a Deus no céu por sua
para alimentar. Derrubar árvores é o único meio que sei de conseguir dinheiro. Vendo misericórdia e benevolência. Desta vez o lenhador avisou a todas que não
a madeira e assim não morremos de fome, embora passemos necessidades. emprestassem a bandeja a vizinho algum.
       O coração do preto transbordou de piedade. Disse: — Darei a você um moinho de        Passou-se uma semana em alegria e fartura, de novo apareceu a velhinha para
café que produzirá tanta comida quanto você o desejar. Mas não venha aqui fazer uma visita. E outra vez o lenhador não estava em casa. Traiçoeiramente, ela
novamente. levou na conversa a mulher e as filhas do lenhador, e vocês sabem muito bem como as
       O lenhador chorou de alegria, beijou o negro, bendisse-o e agradeceu. Pegou as mulheres são conversadeiras e como adoram tagarelar! E acreditem ou não, ao sair da
ferramentas e o moinho de café e dirigiu-se para casa. Durante o caminho, descansou casa do lenhador, levava consigo a bandeja emprestada.
e, como estivesse com fome, decidiu experimentar o moinho. Disse: — Moinho, dê-me        Imaginem a fúria do pai quando chegou em casa. Quase morreu de raiva.
arroz, carne e pão. — E dizendo isso, fechou os olhos. Quando os abriu, achou a Desculpas como: "A mulher nos deixou confusas" não adiantaram nada. Esposa e
comida à sua frente. Terminou a refeição e encaminhou-se rapidamente para casa. filhas foram espancadas duramente, como bem mereciam. E, na manhã seguinte, o
       Contou à família, alegremente, sobre a aparição do negro e seu presente lenhador pegou suas ferramentas e dirigiu-se novamente à floresta.
maravilhoso. E toda a família agradeceu a Deus no céu por sua misericórdia e        Começou a cortar sua primeira árvore — e, novamente, quem apareceu?
providência. Imediatamente, desejaram uma refeição sadia e substancial. E lá estava Naturalmente, nada mais nada menos que o homem preto! O lenhador contou-lhe então
ela. a estória toda, e o negro lhe disse: — Dei-lhe duas oportunidades, e você as
       Assim viveram felizes a semana inteira. desperdiçou. Aqui está a sua última chance. Vou lhe dar este bastão. Se ele estiver
       Na vizinhança, vivia uma velhinha que os visitava de vez em quando. Um dia, próximo de uma pessoa sem roupa, ele baterá até você dizer "Basta!" Primeiramente,
uma semana depois que o lenhador trouxe para casa o moinho, apareceu ela para bata em você mesmo, depois em sua mulher e suas filhas, e em seguida na velha que é
visitá-los e, como de costume, perguntou-lhes: — Como vão as coisas? sua vizinha.
       Uma das filhas alardeou: — Muito bem. Papai não trabalha mais. Possuímos um        O lenhador voltou para casa, despiu-se e recebeu uma surra e tanto, até que
moinho maravilhoso, que nos provê de tudo o que desejamos. ordenou "Basta!" Depois disse à mulher e às filhas: — Hoje, tenho uma coisa
       Assim, a velhinha decidiu conseguir esse moinho para si. Um dia, visitou-os maravilhosa para vocês. É um bastão que provê coisas muito boas. Entrem, uma a
novamente quando outra filha estava em casa. Pediu-lhe o moinho emprestado, pois uma, no quarto e tirem a roupa. — As mulheres ficaram muito contentes. Uma a uma,
ela queria moer alguns grãos de café e não possuía moinho. — Devolverei o moinho entraram no quarto, tiraram a roupa e receberam uma surra de acordo até que o pai
dentro de umas três horas — prometeu. E o moinho lhe foi entregue. É claro que, em ordenou "Basta!"
vez de devolver o moinho milagroso, trouxe de volta um moinho qualquer, apesar de        No dia seguinte, a velha apareceu de novo para uma visita e fez a pergunta
ser quase idêntico ao moinho do lenhador. costumeira: — Como vão as coisas? — Como era natural, contaram-lhe sobre o bastão
       O pai voltou à noite, dirigiu-se ao moinho na forma costumeira, mas, por Deus!, o maravilhoso. E, quando deixou a casa, a velhinha levava consigo o bastão.
moinho não funcionou. As filhas lhe contaram sobre a visita da velhinha e o pai lhes        Passaram-se alguns dias, e a velha não voltava. Foram então visitá-la, entraram
deu uma boa surra. Naquela noite, comeram os restos da refeição anterior e, no dia pela casa adentro e encontraram-na morta. Compreenderam então o que tinha
seguinte, ele pegou as ferramentas e foi novamente à floresta para abater árvores. acontecido. A mulher não soubera deter o bastão; assim, fora espancada até a morte.
       Começou a cortar a primeira árvore — e, novamente, quem aparece? Nada mais Naturalmente, acharam o moinho e a bandeja e levaram a ambos para casa.
nada menos que o homem preto! E ele falou ao lenhador: — Não lhe dei um moinho        Desde então viveram feliz e com fartura.
maravilhoso, a fim de que você não aparecesse mais aqui? Por que está cortando a NOY, Dov (org.).  Contos da dispersão. trad. Elena Moritz, J. Guinsburg et al.
minha cabeça novamente? São Paulo: Perspectiva, 1966.  pp. 93
       O lenhador respondeu: — Senhor, minhas estúpidas filhas deram o moinho a uma
velhinha e ela não o devolveu. Por isso, preciso voltar a trabalhar.

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