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Problemas Estruturais da agricultura portuguesa

Apesar dos progressos do sector agrícola português, registados nos últimos decénios,
sobretudo como consequência da nossa adesão à União Europeia, continuam a persistir
problemas estruturais que se relacionam principalmente com as características das
explorações e da população agrícola e condicionam aspectos técnicos, organizativos e de
inserção nos mercados. No entanto, existem muitas potencialidades que poderão contribuir
para melhorar a sustentabilidade da agricultura portuguesa.
DEPENDÊNCIA EXTERNA

Os estrangulamentos da actividade agrícola condicionam o aumento da produtividade e


o rendimento do sector, o que coloca o país numa situação de dependência externa, uma vez
que não é competitivo face aos restantes estados- membros.

A balança alimentar portuguesa continua a ser deficitária em grande parte dos produtos.
Isto deve-se a uma produção insuficiente para satisfazer as necessidades de consumo interno,
mas também a outros factores, como a livre circulação de mercadorias na União Europeia, a
procura de diversidade de produtos, a facilidade de transporte e o marketing. Em 2005
(últimos dados disponíveis), o único saldo positivo registou-se nos produtos hortícolas (fig. 1).

Do que acabamos de referir constata-se o fraco grau de auto-aprovisionamento de


muitos dos produtos vegetais e animais, traduzindo-se na dependência externa portuguesa
neste sector vital para a economia. E assim, se em termos de produtos animais a situação se
pode considerar satisfatória, já o mesmo não se pode afirmar em termos de produtos vegetais,
onde as produções portuguesas são nitidamente insuficientes para fazer face ao consumo
interno.
NÍVEIS DE RENDIMENTO

O rendimento agrícola, entendido como relação entre a produção e a superfície


cultivada, também influencia o rendimento empresarial, uma vez que, quanto maior for a
quantidade produzida por unidade de superfície, maior será o valor da produção e, como tal, o
rendimento empresarial.

Os subsídios são uma parte importante no Rendimento Empresarial Líquido, o que


significa que sem eles, provavelmente, a agricultura portuguesa teria progredido menos (Fig.3).

Em 2008, os produtos que mais beneficiaram dos subsídios foram os bovinos, com
grande destaque, seguidos dos ovinos e da produção de leite de vaca. No entanto, os subsídios
à produção têm maior peso no total e destinam-se, sobretudo, ao domínio tecnológico e à
promoção do desenvolvimento rural.

NÍVEIS DE PRODUTIVIDADE

A produtividade está directamente relacionada com a mão-de-obra - relação entre a


quantidade produzida e a mão-de-obra utilizada, mas depende também de factores como as
tecnologias utilizadas, a formação profissional e o grau de mecanização e organização.

Nos últimos decénios, verificou-se um crescimento significativo da produtividade da


agricultura portuguesa (fig. 4).
O aumento da produtividade deve-se, principalmente, à redução do volume de mão-
de-obra que, por sua vez, reflecte as mudanças da agricultura portuguesa, nomeadamente no
que respeita à mecanização.

Apesar da evolução positiva dos níveis de rendimento e de produtividade da agricultura


portuguesa, estes continuam a ser inferiores à média comunitária. Para esta situação,
contribuem factores como:

• Condições meteorológicas irregulares e, muitas vezes, desfavoráveis;

• Características da população agrícola: envelhecida e com baixos níveis de instrução e de


formação profissional;

• Utilização ainda muito significativa de técnicas tradicionais;

• Uso deficiente de adubos e pesticidas;

• Predomínio de explorações de pequena dimensão;

• Desajustamento frequente das culturas à aptidão dos solos;

• Elevados custos de produção, incluindo custos de combustíveis e impostos superiores aos da


maioria dos países da União Europeia;

• Pesados encargos do crédito a que os agricultores têm de se sujeitar para modernizar as suas
explorações.

Tudo isto dificulta a competitividade da agricultura portuguesa face aos parceiros comunitários
e a outros países do mundo que começam a colocar no mercado produtos a preços mais baixos,
conseguidos pelo baixo preço da mão-de-obra e dos restantes custos de produção. É o caso do
mercado de vinhos, em que países como o Chile, o Brasil e a África do Sul estão a conseguir
impor-se, embora com vinhos de menor qualidade do que os nossos, mas a preços mais baixos.

A agricultura portuguesa poderá aumentar os níveis de rendimento e de produtividade se


acelerar o seu ajustamento estrutural aos níveis comunitários e apostar no
desenvolvimento de uma agricultura moderna e orientada para o mercado, aproveitando
todas as nossas potencialidades específicas.
A UTILIZAÇÃO DO SOLO

Uma prática agrícola sustentável e centrada na qualidade deve ter em conta a


necessidade de adequar as práticas agrícolas às exigências ambientais, nomeadamente no
que se refere à utilização do solo. Apesar de se terem vindo a verificar alterações significativas
nos usos do solo, em Portugal, ainda persistem práticas pouco adequadas que é necessário
mudar.

A utilização do solo nem sempre respeita e potencia a sua aptidão natural (fig. 1 e doc.1)
Conclui-se que, apesar dos progressos verificados na agricultura portuguesa, continuam
a persistir algumas práticas que, além de fazerem diminuir o rendimento da terra e dos
agricultores e de contribuírem para os baixos níveis de produtividade da agricultura
portuguesa, condicionam a sua sustentabilidade.

Com o objectivo de dotar a agricultura portuguesa de maior competitividade


no contexto europeu, deverá ser implementado um conjunto de medidas, merecendo
destaque:

- Adequar as espécies agrícolas ao tipo de solos, de forma a aumentar o rendimento;


- Incentivar os jovens para a agricultura, de forma a rejuvenescer a população agrícola;
- Apoiar os agricultores, disponibilizando técnicos agrários;
- Incentivar a formação técnica/profissional;
- Adoptar técnicas que visem a utilização racional dos solos, de forma a atenuar os efeitos de
erosão;
- Combater a desertificação;
- Utilizar de forma adequada as ajudas financeiras obtidas no âmbito dos programas de apoio ao
desenvolvimento da agricultura;

Perante problemas como a redução da qualidade dos solos e a sua incorrecta utilização,
o ordenamento territorial, e a criação da Reserva Agrícola Nacional (RAN) em 1989, assume
um papel de grande importância, uma vez que permitirá adequar as diferentes utilizações do
solo às suas aptidões naturais, impedindo que, por exemplo, se continue a ocupar solos de
grande qualidade e próprios para a agricultura com construção urbana e industrial (doc.2).

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