ele é um puro aparelho que afirma o direito do capital mundializado. Poder
sem sociedade, ele tende a engendrar sociedades sem poder, põe em crise os Estados, desacredita a política, submete-a às exigências de mobilidade, de "flexibilidade‛‛, de privatização, de desregulamentaçāo, de redução das despesas públicas, dos custos sociais e dos salários, daquilo que é pretensamente indispensável ao livre jogo da lei do mercado. A desnacionalização das economias enfrenta evidentemente resis- tências (inoperantes, porque nacionais) que dividem tanto a direita quanto a esquerda políticas. De um lado, a burguesia globalizada, neoliberal, ideologicamente (senão politicamente) pró norte-americana, partidária da diluição da União Européia em uma zona de livre-comércio com os Estados Unidos; do outro lado, as burguesias e as indústrias tnrdicionais, as camadas pré―capitalistas, uma parcela dos sindicatos. Face à unidade ofensiva do capital mundialista encontra-se a resistência dispersa de camadas e de classes antagônicas indo da extrema direita à extrema esquerda que, no mais das vezes, só opõem à mundialiuçāo do capital as mais diversas formas de nacional―conservadorismo ou de nacionalestatismO, Ora, recusar u mundialização, pretender resistir a ela nacionalmente, conduz inevitavelmente a capitular diante dessa mundíalizaçāo. Não é contra 11 mundializaçāo que se deve combater, tentando subtrair-se a ela; é no âmbito da mundializaçāo em curso que se deve lutar por uma mundialização diferente. A resistência ao capital transnacional só pode ser transnacional; a resistência aos atores dessa mundialiução exige antes de tudo atores de uma outra mundialização, conduzidos por uma visão, uma solidariedade, um projeto de civilização planetários. Alavancas para mudar a orientação e a natureza da mundialização não faltam aos Estados; podem faltar a cada um deles isoladamente. o que não é de modo algum a mesma coisa. Faltam|hes, porque lhes falta uma vontade política comum de reconquistar conjtmtamente, contra o capital rnundíalizado, uma soberania que só pode ser comum e conjunta. 0 poder irresistlvel do capital mundializado vem sobretudo da concorrência entre os Estados, pelos favores que concedem. para atrair os capitais, no lugar de recusarem em conjunto a luta de um contra o outro. Veremos mais adiante que a impotência dos Estados-nação não é algo que sirnplesmentc padecem: ela é também o álibi para restabelecer privilégios que o fordismo tinha escanteado e para abolir direitos que tinha fundado.