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André Gurz 23

ele é um puro aparelho que afirma o direito do capital mundializado. Poder


sem sociedade, ele tende a engendrar sociedades sem poder, põe em crise os
Estados, desacredita a política, submete-a às exigências de mobilidade, de
"flexibilidade‛‛, de privatização, de desregulamentaçāo, de redução das
despesas públicas, dos custos sociais e dos salários, daquilo que é
pretensamente indispensável ao livre jogo da lei do mercado.
A desnacionalização das economias enfrenta evidentemente resis-
tências (inoperantes, porque nacionais) que dividem tanto a direita quanto
a esquerda políticas. De um lado, a burguesia globalizada, neoliberal,
ideologicamente (senão politicamente) pró norte-americana, partidária da
diluição da União Européia em uma zona de livre-comércio com os Estados
Unidos; do outro lado, as burguesias e as indústrias tnrdicionais, as camadas
pré―capitalistas, uma parcela dos sindicatos. Face à unidade ofensiva do
capital mundialista encontra-se a resistência dispersa de camadas e de classes
antagônicas indo da extrema direita à extrema esquerda que, no mais das
vezes, só opõem à mundialiuçāo do capital as mais diversas formas de
nacional―conservadorismo ou de nacionalestatismO,
Ora, recusar u mundialização, pretender resistir a ela nacionalmente,
conduz inevitavelmente a capitular diante dessa mundíalizaçāo. Não é
contra 11 mundializaçāo que se deve combater, tentando subtrair-se a ela; é
no âmbito da mundializaçāo em curso que se deve lutar por uma
mundialização diferente. A resistência ao capital transnacional só pode ser
transnacional; a resistência aos atores dessa mundialiução exige antes de
tudo atores de uma outra mundialização, conduzidos por uma visão, uma
solidariedade, um projeto de civilização planetários. Alavancas para mudar
a orientação e a natureza da mundialização não faltam aos Estados; podem
faltar a cada um deles isoladamente. o que não é de modo algum a mesma
coisa. Faltam|hes, porque lhes falta uma vontade política comum de
reconquistar conjtmtamente, contra o capital rnundíalizado, uma soberania
que só pode ser comum e conjunta. 0 poder irresistlvel do capital
mundializado vem sobretudo da concorrência entre os Estados, pelos favores
que concedem. para atrair os capitais, no lugar de recusarem em conjunto a
luta de um contra o outro. Veremos mais adiante que a impotência dos
Estados-nação não é algo que sirnplesmentc padecem: ela é também o álibi
para restabelecer privilégios que o fordismo tinha escanteado e para abolir
direitos que tinha fundado.

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