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e s p e c i a l

Monte
Gordo
r e v i s t a

ponto
movel
cidade do
saber
nº 2
Sumário
GENTE QUE
FAZ 30

LÁ VEM
HISTÓRIA 32

SABERES E 16 DICAS
FAZERES CULTURAIS 34

QUEM CONTA
20 PAINEL
UM CONTO CRIATIVO 36

MOVIMENTO
ARTÍSTICO 22

AÇÃO
GOVERNAMENTAL 24

MONTE 06
GORDO 26 ESPAÇO
VERDE

NOSSA
12 SABOR DA TERRA 28 LAZER 38
GENTE

3
Editorial
e s p e c i a l

monte
gordo

Dentro do propósito de contribuir com a história e o quem faz a história e ajuda a perenizar seus saberes
fortalecimento das tradições de cada localidade visitada e fazeres.
pela sua unidade móvel, a Cidade do Saber – Instituto
Professor Raimundo Pinheiro reúne nesta publicação Como no primeiro fascículo, que trata de Barra do
um pouco do universo cultural de Monte Gordo, um Pojuca, convidamos o leitor a conhecer agora um
pedacinho do município de Camaçari. pouco mais sobre os habitantes, o cotidiano, as
tradições e até a culinária de Monte Gordo.
Seguindo a premissa do projeto de unir arte, cultura,
esporte e educação para a inclusão social, através desta Nas próximas edições vamos apresentar uma porção
revista, a Cidade do Saber busca também registrar, do universo cultural de Barra do Jacuípe, Jauá,
preservar e divulgar a cultura local. Aqui, é revelado um Arembepe, Areias, Vila de Abrantes e o povoado de
pouco do dia-a-dia dos personagens das comunidades Cordoaria (remanescente quilombola).
visitadas pelo Ponto Móvel para mostrar o universo de

Boa leitura!

Essa publicação segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

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Distrito de
Monte Gordo
Sejamdos
bem vin

Camaçari
1 Barra do Pojuca

2 Monte Gordo

3 Barra do Jacuípe

Cidade do Saber
Sede Camaçari

4 Arembepe

8 5 Areias
Cordoaria
Distrito de
6 Jauá
Abrantes
7 Vila de Abrantes

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monte
gordo

Um recanto de peculiaridades
São Bento, Jacaré, Marimbondo, Rua do a feira e o comércio. Em volta do largo vendas esses estabelecimentos moviam
Ouro, Capoeira Feia, Cascalheira... Tão surgiram pequenas ruas. a economia. Entre os mais famosos
diversificada quanto os nomes de suas pontos comerciais, os armazéns
localidades é a história de Monte Gordo, A configuração espacial atual guarda Conceição e Caboclo, de propriedade de
ou originalmente Bom Jesus de Monte alguns aspectos daquela época. O centro Rafael Conceição e Waldemar Tavares,
Gordo, a 40 km de Salvador, no município reúne a Praça Rafael Arcanjo Vieira respectivamente. Havia ainda o do
de Camaçari. (antigo comerciante e conselheiro de Sr. Manuel Gringo (turco) e o de José
Monte Gordo) e também o espaço físico Gringo (italiano), todos na Rua Bom
Até a origem do nome é envolta em da feira, a Capela de São Francisco e o Jesus. Lá era possível encontrar de tudo:
diferenças (ver boxe). Certo mesmo é mercado. Ao redor da praça encontram-se alimentos, utensílios, roupas, tecidos,
que a localidade já foi grande produtora serviços como os Correios, a barbearia, os remédios, artigos de pesca, etc.
de farinha e mamona. Sem contar com armazéns, o mercado (reconstruído em
a fartura do coqueiral, excelente para 1991 pela Prefeitura de Camaçari), a sede Linda Giffoni, filha de José Gringo,
o extrativismo do fruto. Sem falar da dos pescadores (Sociedade São Francisco lembra um pouco desse tempo: “Meu
piaçava, da pesca sempre abundante de Guarajuba) e o restaurante de Dona pai tinha uma loja. Vendia tecido,
na Praia do Ponto, em Guarajuba, e da Linda. vendia tudo. As mulheres vinham com
pequena pecuária. Todos os produtos o babaçu, com o oricuri pra trocar por
eram comercializados em Salvador e no Comércio forte tecido”, conta. “Eu me lembro que ele
entorno. Antiga vocação, o comércio ainda é comprava esses tecidos na loja Solto
mantido, mas não se troca mais a palha Maia, em Salvador. Quando chegava,
A história da localidade começa com o do ouricuri por um corte de tecido, mamãe tirava aqueles tecidos pra a
surgimento de um largo, em frente à Igreja como acontecia nos tempos dos grandes gente fazer roupa, a roupa era toda
de São Francisco. Lá estão o mercado, armazéns locais. Junto com as pequenas rodada”.

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Versões para o nome

A falta de um documento que comprove a origem


do nome Monte Gordo gerou versões. A primeira
fala que o lugar foi batizado pelos índios por causa
das altas dunas. Outra diz que o nome veio com a
criação da Freguesia de São Bento de Monte Gordo
(1815) e o local se tornou famoso pela fartura do
gado bovino de corte. Uma terceira versão remete
a uma pessoa conhecida como o “gordo” do monte,
que pertencia a uma das famílias mais tradicionais.
A última interpretação saiu dos livros de Luciano
Reis, escritor e morador da vila. Ele conta que
o nome Monte Gordo derivou de uma região do
Algarve, no sul de Portugal.

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monte
gordo Seu
Lourival e
Dona Linda

Em Monte Gordo, domingo era dia de Transporte difícil dos Pescadores de São Francisco de
feira. O comércio informal era armado Os tempos eram outros e o sistema Guarajuba. Segundo Adelmo Santos,
próximo ao Largo do Jacaré, tendo à de transporte em Monte Gordo era morador e historiador, a criação desse
frente da organização Aloísio Tavares. A difícil, mesmo com uma população bem grupo propiciou o encontro das classes
partir de dezembro de 1947, passou a inferior à de hoje. Embora próxima à sociais da localidade, que até então pouco
ser em frente ao Armazém Conceição. capital, a localidade era de difícil acesso, conviviam entre si.
Um tempo depois, o proprietário do faltavam boas estradas. Os meios de
armazém, Rafael Conceição, construiu um transporte mais usados eram o saveiro, Tradição e cultura
mercado em frente ao estabelecimento. animais (burro ou cavalo) e o trem Os moradores de Monte Gordo têm
Era um galpão aberto, coberto por palha e “Pirulito” (que fazia a linha Mata de São diversas tradições culturais, artísticas e
dividido em boxes com quatro açougues. João – Alagoinhas). O primeiro ônibus de religiosas, muitas das quais de origem
passageiros chegou em 1954, vindo de africana. No entanto, boa parte das
Segundo o marido de Dona Linda, Salvador para fazer a linha Monte Gordo manifestações de cultura popular foi
Lourival de Sena, também ex-dono de – Calçada, via Jordão. Nos anos seguintes, extinta, pois a maioria se foi com os
mercearia e conhecido por Seu Lorinho, novas empresas criaram linhas para outras mestres que detinham os saberes dessas
a partir da década de 1940 começaram localidades. Em meados dos anos 1970, a “brincadeiras”.
a surgir os primeiros caminhões que realidade local já havia se transformado
transportavam mercadorias e passageiros, e a vila já tinha a maior população do Diversos ternos de reis, como o do
os chamados “paus-de-arara”. Seu distrito. Caçador, o do Urubu e o do Macaco,
Lorinho conta que, só nos anos 50, alguns garantiram a diversão do lugar durante
comerciantes locais resolveram investir Pescadores muito tempo. O Mandú de Monte Gordo,
em caminhões e passaram também a A primeira mobilização da sociedade civil manifestação criada pelos primeiros
fazer o transporte dessas mercadorias de Monte Gordo se deu a partir de 1951, moradores da região, ainda continua ativo,
(carvão, coco, manga, farinha e peixe) por iniciativa dos pescadores, que se sendo inclusive um dos contemplados no
para Camaçari, Mata de São João e organizaram por uma sede. Por volta de Edital de Manifestações de Cultura Popular
Salvador. 1953, foi inaugurada a sede da Sociedade do Governo do Estado.

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“Antigamente, não havia
muita coisa pra fazer. Nossas casas
eram modestas, feitas de barro com
varas, e eram construídas em mutirão.
Fazia-se uma fatada ou uma feijoada
e convidava-se todos os vizinhos
e amigos. Durante todo o dia, se
carregava barro e água”..

Dona
Gilda

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monte
gordo

Chegança, o
A moradora Ermenegilda Guedes da Silva, filha de “brinquedo” do lugar
pescador e moradora do Beco da Cebola, diz que sente
saudade de muita coisa do tempo de criança. Gilda fala Uma das brincadeiras de maior apelo popular é a
de suas lembranças: “Tem muita coisa que a gente não Chegança, organizada e com participação exclusiva dos
esquece, como a ‘Puxada de Rede’. Os barcos chegavam do homens. Sua presença em Monte Gordo se perde no
mar e a gente ia puxando aquela rede cheia de peixes. Hoje tempo e na memória da população - despertava grande
não existem mais tantos peixes”, lamenta. interesse entre a comunidade e teve grande vigência até a
década de 1950. Deixou de acontecer até início da década
Uma boa lembrança da infância de Gilda é o rio límpido de 1980, quando foi reativada.
que dava no quintal das casas e fazia a diversão da
garotada. “A gente tomava banho todas as tardes, pulando Em Caraíba, Mestre Careca organizou uma Chegança, que
de cima da ponte e se sujando na areia branca de beira de conta com 30 homens e uma “artilharia” de 16 pandeiros.
rio”, recorda-se. Não só pelas bandas de Monte Gordo, mas também em
Barra do Jacuípe, Careca foi responsável pela ativação de
Segundo o historiador João Reis, “Monte Gordo era uma outra manifestação que estava inativa, o Boi Estrela.
uma espécie de quilombo formado por filhos de ex- Entre 1940 e 1950, a manifestação do boi acontecia em
escravos, prováveis descendentes dos negros trazidos casas de moradores como Antonio Cardoso e Cassemiro
da África pela Casa Garcia D’Ávila. Sua população era de Souza, que cediam espaço para a brincadeira, animada
predominantemente negra, mas, entre 1930 e 1940, como pelos tocadores João e Domingos Viola.
eles mesmos dizem, “começou a clarear”, com a chegada de
elementos de localidades mais próximas da capital”. Se as Cheganças cantam os feitos portugueses, em Monte
Gordo existia uma outra manifestação que representava
Fontes: Perpétua Maria Carvalho Brandão. Mudanças Sócioambientais e a resistência dos povos africanos trazidos à força para o
Desenvolvimento em Monte Gordo e Guarajuba/ Município de Camaçari-Bahia. Brasil, o Bangariô. Dança realizada por duas fileiras de
Dissertação de Mestrado em Geografia. Salvador: Ufba, 2006. indivíduos que executavam movimentos vigorosos, de
Documento ATECPLAM. Salvador, 1985. belo efeito coreográfico, que foi incorporada à tradição
João José Reis. Liberdade por um fio: História dos Quilombos no Brasil, 1997. local, associada aos eventos festivos da comunidade.

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Curiosidades • Antigamente, para ir de Salvador a
Monte Gordo era necessário passar por
Dias D’Ávila (que se chamava Feira Velha)
Para voltar era preferível sair mais tarde,
quando a areia já estava fria. A estrada só
veio em 1972 e o asfalto em 1987.
ou Camaçari e pegar um trem chamado
Pirulito. O trem saía às 7 da manhã e • Nos finais de semana as mulheres iam
retornava às 7 da noite. para as lagoas lavar roupas. Passavam o
dia inteiro, pois mariscavam a sua comida
Baianas • Para Guarajuba o caminho era feito a pé, depois de colocar as roupas no quarador.
na Lavagem passando pela lagoa. No Inverno, tinha um Enquanto as roupas esquentavam no
de Monte barco para fazer a travessia. Para ir à praia sol, elas pescavam camarão, peixe, aruá
Gordo era preciso sair cedinho, às 5 da manhã. (caramujo).

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monte
gordo

Também é Monte Gordo arrecifes, os quais formam piscinas naturais,


ideais para o banho de crianças, prática da
Guarajuba natação e admiração da fauna marinha nas
Como muitas localidades da orla de Camaçari, paredes de corais: pinaúna (ouriço do mar),
Guarajuba foi originada de uma antiga vila de caranguejo, pequenos peixes, entre outros.
pescadores e ainda conserva esse ambiente
rústico e bucólico em alguns pontos, Não deixe de visitar
principalmente na área conhecida como Praia Praia Scar Reef: localizada na Fazenda
do Porto de Guarajuba, onde há uma maior Genipabu, é considerada uma das melhores
concentração de pescadores. Nesse local, do Brasil para a prática de esportes náuticos
os barcos de pesca ancorados criam uma como surf, windsurf e o kitesurf.
atmosfera poética de vila, principalmente no
entardecer e quando a maré está baixa. A praia possui uma bancada perfeita de
coral, onde quebram muitas ondas direitas e
A palavra Guarajuba vem do tupi-guarani esquerdas. O fundo de corais, com um imenso
e significa garça dourada, numa referência canal ao lado que nunca fecha, favorece a
a uma ave muito comum na região das prática do surf. Como se não bastasse isso, os
lagoas, que, por ser tão importante para o ventos são sempre constantes.
ecossistema em sua diversidade de flora e
fauna, faz parte de uma Área de Proteção Em companhia de experientes pescadores
Ambiental (APA). locais é possível ainda a prática da pesca e do
mergulho.
Guarajuba é um balneário bem estruturado,
possui praias de águas cristalinas e mar O nome Scar Reef faz referência a uma praia
calmo, devido à proteção das barreiras de da Indonésia.

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Guarajuba encanta os
visitantes pela praia,
lagoa e sua diversidade
paisagística
A APA Lagoas de Guarajuba é uma região de
exuberante paisagem, com extenso coqueiral
e praias calmas e limpas. Área ecologicamente
importante, com diversas formações vegetais
associadas ao rico ecossistema lagunar e de
praia, se caracteriza por ser uma das últimas
áreas representativas do ambiente natural da
orla de Camaçari. A lagoa Guarajuba-Velado
é considerada uma das áreas úmidas mais
significativas do litoral norte da Bahia. Serve de
tampões hidrológicos para reservatórios subter-
râneos, reduzindo os efeitos da poluição, além
de ser abrigo para aves migratórias e local de
reprodução de jacarés e sucuris.
Fonte: CRA

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Nossa
gordo Gente Entrevista:
Narciso
Augusto

verdinha. Quando a água trazia os peixes,

“Fui conhecer a cidade da polvo, caramuru, eles ficavam bêbados por


causa do tinguí e a gente saía catando. Fazia

Bahia num saveiro grande”


moqueca, salgava, botava pra secar. A gente
comia carne de boi de oito em oito dias.
Não tinha luz, então não tinha como estocar
nada em geladeira. Até 1971, quando eu
me casei, a gente ainda usava em casa um
Narciso Augusto de Jesus, 73 anos, nascido Seu Narciso: Meu pai era pescador, não candeeiro, que chamava Aladim.
e criado em Monte Gordo, acompanhou de plantava nada. Tudo que a gente precisava
perto as muitas transformações na localidade ele trocava no armazém de Seu Rafael. RPM: Como foi a sua primeira viagem
nas últimas décadas. Comerciante, dono do Quando meu pai chegava da pescaria, a para Salvador?
bar “Recanto da Paz”, na entrada do distrito, gente separava o peixe que ele escolhia,
foi apelidado por seus fregueses de “Narciso pesava e levava lá. Ele me mandava levar Seu Narciso: Foi de saveiro. Durante o
do Amarelinho”, cor do estabelecimento que peixe e um bilhete pra pegar as compras caminho, meu estômago não segurava nada
ficou famoso pelos tira-gostos e pela boa e quando Seu Rafael não tinha algum do que eu comia. A viagem durava mais
prosa do dono. Além de comerciante, também produto, me dava o dinheiro pra eu comprar ou menos umas cinco horas, ancorando na
possui dotes literários: Seu Narciso guarda um em outra venda. Aí eu fazia as compras e Barra no horário de 5 horas da tarde, saindo
caderno de anotações onde escreve poemas vinha embora pra casa. daqui às 10 horas da manhã. Fui conhecer a
em homenagem a conterrâneos, políticos ‘Bahia, a cidade da Bahia’, num saveiro grande,
e fregueses ilustres. Ele conta um pouco da RPM: Tinha muito peixe em Monte Gordo, que transportava tudo, carga e passageiros.
história da sua família e do lugar que escolheu nessa época? Era tão grande que cabia a carga de um
para passar toda a sua vida. caminhão, com passageiro e tudo.
Seu Narciso: Sim, era muita fartura. Aqui
Revista Ponto Móvel: O senhor pode contar a gente pegava uma folha chamada RPM: E tinha o que para se distrair em
um pouco sobre a história da sua família? tinguí, pisava na praia, deixava a areia bem Monte Gordo?

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RPM: É verdade que o senhor atua como
Seu Narciso: Tinha uns ternos que saíam da articulador para trazer benefícios para a
casa da avó da minha esposa. Tinha o Terno localidade?
do João Guará, o das Melindrosas e o da
Raposa. Em janeiro, eles saíam pelas casas Seu Narciso: Procuro participar das reuniões
cantando e dançando. Às vezes, a gente com políticos que visitam a comunidade para
tava dormindo e eles nos acordavam pra saber das nossas necessidades. Tanto que
serem recebidos, aí tinha sambão também. eu tenho foto com alguns desses políticos.
Dia 1º de novembro, a gente ia pra Torre Há 20 anos esse caminho não era asfaltado.
(Casa da Torre dos Garcia D’Ávila), pra festa Caetano (atual Prefeito de Camaçari, que teve
e pra missa. Tinha um caminho por aqui o seu primeiro mandato no ano de 1986)
que dava na ponte do Rio Pojuca. Naquela fez o asfalto até ali em Lourinho, em 1986. A
época, já cobravam pra gente atravessar a gente aqui tem saneamento básico. Eu lutei
pé essa ponte (que ficava dentro de uma muito também pelo transporte, participava
propriedade particular). No dia seguinte era de todas as reuniões, com as lideranças de
Dia de Finados, nem parecia que tinha tido todas as localidades. As pessoas daqui me
festa nenhuma. A padroeira da igreja de lá pedem para eu falar com alguns políticos,
era Nossa Senhora das Dores, mas a festa porque acham que eles me escutam e é o
era de todos os santos. que eu faço. E eles têm me atendido.

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Saberes
gordo e Fazeres
Mestra
Helena e
familiares

Mestra Helena do Mandú


Foi depois de ter se casado, aos 21 anos, representado pela minha neta Eduarda
que Dona Helena aderiu à brincadeira e e a irmã dela mais nova brinca com a
apaixonou-se pela coisa toda. Hoje, com bandeira. Meu filho Antonio é quem
64 anos e mestra do Reisado do Mandú, faz o caboclo, que bota o pessoal pra
ela conta que quem lhe apresentou o dançar”. O que é o mandú?
folguedo foi o marido, Ilário Bispo dos
Santos, que já participava de outras O grupo tem mais de 20 pessoas que Em sua origem histórica, o mandú
manifestações culturais, sendo inclusive saem pela localidade cantando e representava para o povo de santo um egum
o boi de outro terno. dançando no dia 6 de janeiro. “Antes a ancestral. No candomblé, ninguém pode
gente ia de casa em casa, mas agora não saber quem está por baixo da indumentária
A representação consiste em colocar fazemos isso mais. Às vezes a gente faz do egum. O tradicional mandú, como o egum,
no mandú um balaio e um cobertor uma surpresa pra uma amiga, geralmente é uma figura sem formas que veste roupa
por cima da cabeça e uma vara, que quando é aniversário, e chega à casa da larga e colorida, tem a cabeça agigantada e
representa os dois braços. “Daí ele pessoa sem avisar. A gente manda fechar braços desengonçados, que são simulados
sai dançando”, relata dona Helena. O a casa, apagar a luz e faz a surpresa”. por um cabo de vassoura. Segundo a
mandú é mantido por toda a família: tradição oral, antigamente os mandús
“Eliene, minha filha, tem ativado o terno O Mandú de Monte Gordo foi eram pessoas ligadas ao candomblé que
junto com o sanfoneiro e com uma contemplado no Edital de Manifestações participavam da festa cumprindo
filha dele, chamada Ninha. Aqui em de Culturas Populares da Secretaria de preceitos religiosos (promessas).
Monte Gordo o mandú tem um guará, Cultura do Governo do Estado em 2009.

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Janine, neta
da Mestra
Helena

Sanfoneiro
Carlos
Francisco

Contatos para
apresentações:
3674-1165 /
9626-4472 /
9947-4393
(Eliene)

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Saberes
gordo e Fazeres

A Casa de Farinha de Seu Marival


“Faço farinha desde rapazote, minha luta sempre foi
na roça”, diz Seu Marival

Morador da localidade de Jacaré, Marival construí essa casa de farinha com um uma mão-de-obra danada. Antigamente a
Vieira Cavalcante é exemplo de detentor rapaz, já tem mais de 20 anos”, conta. gente tirava uma quantidade que passava
do saber de uma cultura que já foi muito uma semana fazendo farinha, mas era pra
importante para a economia da região do Casado com Dona Alaíde, teve cinco filhos, vender ou trocar em Guarajuba com os
distrito de Monte Gordo. Dono de uma sendo que apenas um deles ajuda na pescadores”, explica.
típica casa de farinha, feita de barro por produção, quando pode. “Tem umas três
suas próprias mãos, Seu Marival se orgulha pessoas que colaboram também. Hoje em Seu Marival revela que seu sogro também
do ofício que desempenha desde jovem. dia a gente só faz para a família mesmo, produzia bastante em sua casa de farinha,
ou pra dar pra pessoas conhecidas, mas a em Boa Esperança (Monte Gordo). “O
“Eu nasci aqui, faço farinha e trabalho na gente não vende, não”, diz ele, contando pai da minha esposa tinha uma casa de
roça desde rapazinho. Antes a gente fazia que a roça é no fundo da casa e a farinha farinha. Ainda existe, lá em Boa Esperança,
farinha na casa dos outros, mas, depois é feita a cada 15 dias. “A gente tira duas e quem cuida hoje é meu cunhado. Lá a
que casei, fiz essa casa aqui. Eu mesmo cargas, uma carga, porque não pode tirar casa é de azulejo, tem motor, a produção é
tudo de vez que a gente não dá conta. É bem maior”, compara.

18
Seu Marival

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Quem Conta
gordo um Conto?

Fonte de beber
Por Ermenegilda Guedes da Silva

“Era um minadouro, a água


escorria por um rego e no meio da
fonte havia uma grande pedra. A
população fazia mutirão pra limpar
de ano em ano a fonte, que tinha
uma água avermelhada e que todos
acreditavam curar doenças. As
pessoas vinham de toda a redondeza
com suas latas e potes para apanhar
água, que, apesar de ser vermelha,
tinha um sabor agradável e era
fresquinha. Dentro dessa fonte
haviam muitas rãs grandes. Algumas
pessoas tinham medo delas e
pagavam para outras fazerem a
limpeza anual em seus lugares. Hoje
essa fonte praticamente não existe
mais, foi abandonada pelos atuais
moradores e quase secou. Ficou
somente a lembrança dos mais
velhos, filhos do lugar”.

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Monte Gordo
Por Lourival Sena

“O nome do lugar sempre foi Monte Gordo. Uns dizem


que era por conta de um morro bem alto que tinha
ali no fundo do Amarelinho (bar do Seu Narciso). Os
donos dessas terras, que iam do Rio Vermelho até o
Conde, eram os Garcia D’Ávila. Eles pegavam o gado
magro, traziam de lá de Itapuã pra cá, pra botar na
pastagem daqui, porque o gado engordava mais
rápido. Então, por causa desse morro bem alto onde
o gado pastava e engordava, o nome ficou Monte
Gordo. Uns contam isso”.

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Movimento
Artístico
monte
gordo

Palco da Cidade
A criatividade e o talento artístico da (Facom) da Universidade Federal da
gente de Camaçari são revelados através Bahia (Ufba), Raquel da Silva Santana. Ela
do Palco da Cidade, um espaço criado apresentou a canção “Faz um milagre em
pelo Núcleo de Produção do Teatro mim” e diz ter gostado muito de participar
Cidade do Saber. do evento. Raquel
da Silva
Com uma programação bastante “Achei as apresentações muito variadas, Santana
diversificada, o palco promove pequenos contemplando diversas modalidades
concursos, mobilizando a população de expressão artística”, disse. Para ela, a
dos distritos da cidade, sobretudo iniciativa do Palco da Cidade é mais que
aqueles mais afastados do centro, que, bem vinda: “Existem muitos talentos
desta forma, ganham mais cultura e desconhecidos em nossa comunidade
entretenimento. e esta é uma oportunidade de mostrar
isso, já que há uma carência de espaços
As apresentações abrangem diversas artísticos de um modo geral”, opina.
linguagens artísticas: música, dança,
teatro, literatura, poesia, arte circense, Outros finalistas em Monte Gordo
entre outras. Os candidatos participam de foram Alessandro Ferreira de Oliveira,
seletivas nas localidades da orla, sendo que encantou a plateia com sua
que as finais acontecem no Teatro da imitação de pássaros, e André Luiz da
Cidade do Saber. Silva, Tony Novais, Welington Rios, Adão
Gomes, Luiz Carlos, Yago Freire e Cleber
Uma das finalistas em Monte Gordo foi Rios, autores e intérpretes da banda
a estudante da Faculdade de Jornalismo “Ecofrase”.

22
Alessandro
Ferreira de
Oliveira

Plateia
prestigiando
o projeto
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Ação
gordo Governamental

Gente que cuida da gente


Garantir o acesso de todo e qualquer da Comunidade de Boa Esperança, além da mais de dez quilômetros para comparecer
cidadão de Camaçari às políticas oferta de cursos de hortifruti, de pesca e de às consultas. Entre as ações realizadas
governamentais é o objetivo principal da criação de aves. na segurança pública no distrito está a
administração pública municipal. inauguração da 33ª Circunscrição Policial.
A reestruturação e reforma das escolas
Desde 2005, o cuidado com as pessoas de Camaçari estão entre as prioridades Já os investimentos em infraestrutura estão
tem sido priorizado, através de ações da política pública de educação. A escola sendo ampliados em Monte Gordo, com
de valorização das potencialidades Amélia Rodrigues foi uma das contempladas: obras de esgotamento sanitário: agora a
socioculturais e econômicas, também, das ganhou uma nova quadra coberta, vestiário localidade conta com mais de 13 quilômetros
localidades da orla da cidade, para fortalecer com banheiro, iluminação e arquibancada de rede coletora e 18 de rede condominial.
a relação de pertencimento à esfera do com capacidade para 80 pessoas. Durante O projeto da rede de esgoto contempla
município e a integração da população do a inauguração do espaço foi anunciada também a construção de estações elevatórias
centro e do litoral. As ações empreendidas também a construção de um novo ginásio e Monte Gordo já ganhou a sua unidade. A
em Monte Gordo seguem esse foco. esportivo e cultural em Monte Gordo. Prefeitura também tem melhorado o sistema
de iluminação pública, com a ampliação do
No setor social, a localidade ganhou uma Ações importantes na área da saúde são a serviço para mais 30 ruas.
nova unidade do Centro de Referência reforma e a reativação do Pronto Atendimento
da Assistência Social (Cras)/Casa da 24 horas e a unidade de saúde do distrito. A mobilidade dos moradores tem sido
Família. As unidades do Cras garantem Além disso, atendendo a uma antiga beneficiada com os investimentos em
o desenvolvimento de potencialidades, reivindicação da comunidade, os moradores pavimentação asfáltica e recuperação de
fortalecimento de vínculos familiares e de povoados mais distantes, como Lagoa vias urbanas, melhoramento de estradas
comunitários. Ainda nesse âmbito, podem Seca, passaram a ter atendimento médico vicinais e de ruas que ainda não dispõem de
ser citadas a reabertura da Casa de Farinha aos sábados. Agora já não é preciso percorrer calçamento.

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Saúde e
educação
estão entre as
principais ações
da Prefeitura

Fotos: Carol Garcia, Nelinho Oliveira e Agnaldo Silva


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Espaço
Verde
monte
gordo

A arte ecológica de Afonso Ligori


As garças que embelezam a entrada da sede estamos ajudando a preservar a natureza localidade, hoje quase que não existe
da Cidade do Saber, bem como as vitrines e ainda podemos ganhar dinheiro”. Sua mais. As garças, que já estão em extinção,
do Espaço Conviver, destacam o trabalho vontade era expandir o trabalho para a são prejudicadas pela poluição das lagoas e
de Afonso Ligori de Oliveira*, reconhecido comunidade. “Fiz uma oficina, a 700 km desmatamento na região. Seu Afonso chegou
artista de Camaçari. Antes de morar em daqui, em Rodelas, onde o pessoal vive a ter autorização do CRA (Centro de Recursos
Monte Gordo por 12 anos, já tinha vivido basicamente de plantar coco e essa matéria- Ambientais) para realizar esse sonho, mas
em lugares como Barra do Pojuca e Praia prima era jogada fora. Promovi cursos de quando ele estava com 100 garças prontas,
do Forte. Estava trabalhando na criação de xaxim, de bijuterias, objetos de decoração e foi convidado para fazer a exposição “Garças
uma organização não-governamental para utensílios”. de Guarajuba”, na Cidade do Saber, passando
ensinar jovens a reaproveitar os subprodutos a se dedicar a esse trabalho. O material usado
do coco. Sobre uma de suas mais famosas obras, as é todo reaproveitado, seja o coco seco ou a
garças da Cidade do Saber, ele contou que o madeira de desmatamento encontrada nas
“Esse trabalho tem várias vertentes, mas o trabalho mostra o quanto a arte é importante matas da região.
grande objetivo é despertar a consciência no protesto social. “Quando vi as dunas da
ecológica de crianças e jovens, além de entrada de Monte Gordo começarem a sumir, * Afonso Ligori faleceu uma semana após a
capacitá-los a ter uma renda”, explicou. com carros passando por cima delas, fiquei entrevista para a Revista Ponto Móvel Cidade do
tão triste que resolvi fazer alguma coisa pra Saber. Fica aqui a nossa homenagem ao trabalho
Em seu atelier “Oficina do Coco”, além de chamar a atenção das pessoas”. desse grande artista e ecologista.
criar as esculturas, Afonso produzia o “xaxim”
de coco seco, que substitui o tradicional em Ele idealizou a criação de 300 garças para Para saber mais:
extinção e com comercialização proibida. colocar em cima das dunas. O lugar, que já www.cocoverderj.com.br
“Temos muita casca de coco por aqui, serviu de mirante para os pescadores da www.jardimdeflores.com.br

26
Afonso
Ligori

O QUE É XAXIM?

Uma das espécies vegetais mais antigas,


a Dicksonia selowiana, conhecida como samam-
baiaçu, é a planta de cujo tronco se extrai o xaxim
(para a fabricação de vasos e substratos). Típica da
Mata Atlântica, está na lista do Ibama das espécies
brasileiras ameaçadas de extinção, em razão da
intensa exploração comercial. Desde 24 de maio
de 2001, o Conama (Conselho Nacional do Meio
Ambiente) criou a resolução nº 278, que determina
a proibição do corte e exploração dessa espécie
ameaçada de extinção. Há produtos alternativos que
substituem o xaxim, como vasos feitos com a fibra
do coco e substratos como a palha do coco,
ardósia e carvão. Ao optar por estes
produtos, ajudamos a preservar a
Dicksonia selowiana.

27
e s p e c i a l

monte
Sabor
gordo da Terra

Divino fruto
O coco é o principal ingrediente da A venda das cocadas está entre as atividades
culinária local, já que tem vasta produção que ajudam a complementar a renda das
em Monte Gordo. Do fruto são feitas as famílias de Monte Gordo. Nos finais de
suculentas cocadas ou queijadas, como semana, as codadeiras comercializam as
também são conhecidas, que podem ser iguarias nas praias da região.
encontradas ao longo de suas principais
ruas, sendo muito apreciadas pelos Também do coco é possível fazer as
frequentadores do lugar. bolachinhas de goma ou ainda incrementar o
beiju de tapioca. Para quem preferir a forma
A partir do chamado “divino fruto” é in natura, uma outra opção é saborear a água
possível variar a produção, que contempla de coco e comer o próprio fruto.
a cocada branca, a cocada de sabores
(abacaxi, goiaba, maracujá, abóbora, Conheça na página ao lado uma receita
cenoura, beterraba, jambo), cocada de simples, que tem o coco como ingrediente
coco queimado, cocada-puxa e cocada de principal. Bom apetite!
amendoim.

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Cocada Mulata
Ingredientes: Modo de preparo:

• 4 xícaras de chá de açúcar Em uma panela, queime o açúcar


• 1 copo de leite em fogo baixo até que fique
escuro. Fora do fogo, coloque o
• 2 xícaras de chá de coco ralado
restante dos ingredientes e misture
• 1 colher de sopa de manteiga bem. Volte com a panela ao fogo e
deixe cozinhar. Quando desgrudar,
retire do fogo novamente. Coloque
algumas colheres de cocada em
uma pedra de mármore até esfriar.
Está pronta.

29
e s p e c i a l

monte
Gente
gordo que Faz

Aquicultores
participam da
cooperativa

Parceria que deu certo


Uma experiência interessante na área de surgiu a necessidade de uma organização piscicultura resgatou um antigo projeto
cooperativismo pode ser vista na localida- socioeconômica para a obtenção de be- da associação. O núcleo de apicultura/
de de Coqueiro, zona rural de Monte Gor- nefícios para o Campo do Coco. Foi então meloponicultura busca incentivar jovens a
do. Trata-se da Coopermonte (Cooperati- formalizada a Apane, em 1987. criar abelhas nativas (como a uruçu) e afri-
va Agropecuária e Industrial Coqueiro de canizadas. Também foi criado um núcleo
Monte Gordo), criada em 2005 para ser o Hoje, a Coopermonte, presidida por Adria- dedicado à profissionalização das cocadei-
braço comercial da Apane (Associação dos na Santos, busca atender às necessidades ras, para que as mulheres de Coqueiro ga-
Pequenos Agricultores Nova Esperança de dos cooperados (agricultores, aquiculto- rantissem qualidade na produção e melhor
Coqueiro de Monte Gordo). res, apicultores, meloponicultores, coca- distribuição.
deiras e doceiras), viabilizando atividades
Tudo começou com a criação de uma as- de produção e comercialização, melhoran- Segundo Greiciane das Neves, vice-presi-
sociação na área onde funcionava um do a qualidade de vida e o resgate da dig- dente da Coopermonte, já havia a produ-
campo experimental, o Campo do Coco. nidade de seus integrantes. ção individual. “Agora fazemos em grupo
Através de um acordo entre o Governo e vendemos nas feiras e praias”. O coco é
Estadual e a Prefeitura de Camaçari, 35 fa- Segundo Eliane Costa, secretária da Coo- comprado de produtores da associação e
mílias foram assentadas no local, em pro- permonte, “no início havia 20 cooperados, a comercialização dos produtos ajuda nas
priedades de duas tarefas, com direito a agora são 36, sendo a maioria mulheres contas da cooperativa e complementa a
uma área comunitária para a construção entre 18 e 50 anos”. Foram criados quatro renda das cooperadas.
de residências. núcleos com projetos em cada área.
Em 2005, foi aprovado o projeto “Profissio-
A partir daí, os assentados puderam viver O núcleo de agricultura, que já produzia nalização das cocadeiras do Litoral Norte”
do próprio trabalho, produzindo frutas, frutas, começou a trabalhar com o me- em um edital da Fundação de Amparo à
verduras e hortaliças. Com o crescimento, lhor aproveitamento dos produtos. O de Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

30
Cocadeiras da
Coopermonte

Contatos:
Coopermonte:
(71) 8207-4809
E-mail: cooper-
monte@gmail.
com

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e s p e c i a l
Lá vem
monte
gordo História

A trajetória de São
Bento de Monte Gordo
Mais de 40 quilômetros de belas praias, dunas, lagoas, ano foi marcado, ainda, pela expulsão dos jesuítas.
rios e coqueirais, sede de um dos mais importantes pólos
industriais do país e berço de tradicionais manifestações A cidade chegou a se chamar Montenegro, por influência
culturais. Sem dúvida, Camaçari pode ser traduzido por política de um dos herdeiros de suas terras. Em 1938, passou
sua diversidade. Uma característica que se mostra desde definitivamente a ser denominada Camaçari. Na origem,
a criação do município, que teve diversos nomes. Um dos Camassary é uma espécie da Mata Atlântica e o nome
seus maiores patrimônios, no entanto, é sua gente simples e significa “árvore que chora”, por verter uma seiva em suas
hospitaleira, distribuída entre a orla e a sede. folhas, como se fossem lágrimas.

A cidade foi fundada em 1558 pelos jesuítas, como É forte a presença das culturas negra e indígena em
centro de catequese dos índios Tupinambás. Inicialmente Camaçari. A marca dessas culturas é vista no artesanato,
chamava-se Aldeia do Espírito Santo, localizada nas na comida e na religião, sobretudo em localidades
margens do Rio Joanes. remanescentes de quilombos.

A data oficial de fundação é 28 de setembro de 1758, A economia de Camaçari era baseada na pecuária e na
quando, por decreto do Marquês de Pombal, foi elevada à agricultura de subsistência até o final dos anos 60. No
condição de vila, sendo chamada de Vila de Abrantes. Aquele entanto, uma mudança significativa acontece na década

32
Para saber mais sobre a
história de Camaçari, consulte
Camaçari, Sua História, Sua
Gente, de Sandra Parente; e
Abrantes, Berço da Civilização
Brasileira, de Eduardo
Cavalcanti.

de 70: o início da implantação do maior complexo industrial uma resolução a pedido dos moradores do distrito, que,
integrado do Hemisfério Sul. Desde então, não só Camaçari, até então, era denominado “Capela de São Bento de
mas a Bahia passa a ter um novo perfil econômico, quando a Montegordo”. A partir daí, a localidade passou a ser uma
indústria assume a ponta como setor mais importante. freguesia.
O histórico de ocupação humana do distrito de Monte
Camaçari, área de antiga fazenda do mesmo nome, Gordo data da época da colonização brasileira, cujas
era um pequeno arraial, depois contou a seu favor vilas e arruamentos rurais, ao longo da costa, serviram
com maior investimento físico e humano, estação de originalmente como pontos de parada, passagem
atendimento, bomba para abastecer as máquinas, do gado ou conexões de caminhos onde surgiram
residências de ferroviários e, posteriormente, com a sua vendas e quitandas, pontos para trocas de mercadorias
escolha para estação de veraneio por pessoas da elite e abastecimento. Assim, foram surgindo as vilas
local, capitaneadas pela família Costa Pinto – cujo chefe onde as atividades eram exclusivamente a pesca e a
era líder da indústria açucareira. agricultura de subsistência. A localidade de Guarajuba,
originalmente uma vila, foi onde se deu o primeiro
Monte Gordo assentamento dos pescadores de Monte Gordo.
Partindo-se dos dados e documentos raros, nota-se que a Posteriormente, com a expansão da agricultura de
vila de Monte Gordo foi fundada em 1815. A Freguesia subsistência, a população foi se interiorizando.
de São Bento de Monte Gordo foi criada através de Fonte: Documento ATECPLAM, 1985.

33
e s p e c i a l
Dicas
Culturais
monte
gordo

Padroeiros em dia de festa


São Bento São Francisco
Próximo à localidade de Bom Jesus de festa inclui também a parte profana, com A Festa de São Francisco acontece
Monte Gordo, mas com identidade o tradicional Baile dos Coroas e shows. sempre no terceiro final de semana
cultural bastante própria, fica São Bento. de janeiro. Os festejos se iniciam
Lá acontece, em março, geralmente no História na sexta-feira, com a lavagem da
terceiro ou quarto final de semana, a festa escadaria na capela do padroeiro,
do padroeiro da localidade. O cortejo São Bento nasceu em Úmbria, na Itália. depois de uma caminhada de
sai da Escola Municipal Hermógenes Desde a juventude dedicou a vida à oração, quase oito quilômetros - da Praça
Bispo de Souza em direção à Igreja meditação e aos diversos exercícios para da Juventude, em Guarajuba, em
São Bento, onde é celebrada a missa. A a santidade. A regra beneditina logo se direção a Monte Gordo. À frente
partir do meio-dia, os fiéis participam de espalhou pela Europa, por formar cristãos do cortejo, baianas abençoam a
quermesse e prestigiam apresentação de santos por meio dos ensinamentos de Jesus multidão com água-de-cheiro, flores
grupos locais de capoeira e samba-de- e prática dos mandamentos e conselhos e lavanda. Elas são acompanhadas de
roda. O evento acontece na praça, que evangélicos. Em 1964, o papa Paulo VI o integrantes do grupo afoxé Filhos de
também recebe o nome do padroeiro. A designou como santo padroeiro da Europa. Gandhi, banda de sopro e cavaleiros.

34
No sábado pela manhã é realizada uma e começou a se converter gradualmente,
grande roda de samba na beira da Praia dedicando-se a dar esmolas e oferecer
do Porto, em Guarajuba. No dia seguinte, suas roupas aos pobres.
domingo, ocorre a missa em homenagem
ao santo. Segunda-feira é dia da procissão São Francisco abriu mão de sua fortuna
marítima, com dez embarcações. Depois e passou a viver na pobreza. Iniciou
de uma hora em alto mar, a imagem a “Ordem dos Frades Menores”, mais
de São Francisco de Assis é levada, em conhecida como Ordem Franciscana.
procissão terrestre, de volta à capela. Criou uma regra na qual seu principal
À noite, o Baile dos Coroas, em Monte fundamento são a pobreza e a humildade.
Gordo, encerra a festa. A Ordem Franciscana cresceu com o Concentração
passar dos anos, tendo quase cinco mil em frente à Capela

Foto: Carol Garcia


Realizada desde 1951, a festa do Padroeiro frades no distante ano de 1221. Por seu de São Francisco
de Monte Gordo, que se popularizou com apreço à natureza, São Francisco é de Assis
o nome de “Lavagem de Guarajuba”, reúne mundialmente conhecido como
moradores, turistas, veranistas e devotos o santo protetor dos animais
de São Francisco de Assis, padroeiro dos e do meio ambiente. São
pescadores. Além de manter a tradição Francisco morreu em 3
do lugar, a festa também é um espaço de de outubro de 1226
valorização dos artistas locais. Durante e foi canonizado
as comemorações, a economia da região em 1228
também registra um incremento por conta pela Igreja
Igreja da maior movimentação no local. Católica.
Matriz de
São Bento História

São Francisco nasceu na cidade de Assis, na


Itália, em setembro de 1181. Foi batizado
com o nome de Giovanni di Pietri, mas seu
nome foi mudado pouco tempo depois
para Francisco, pois seu pai, que era
comerciante e viajava muito, mudou
o nome do filho em homenagem
ao local em que fazia bons
negócios. Em 1198, aconteceu
um conflito entre a nobreza
e os comerciantes de Assis.
São Francisco adoeceu

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Painel
e s p e c i a l

monte
gordo
Criativo

Ponto Móvel
Um caminhão-baú totalmente adaptado e capaz de artes plásticas (pintura em tecido), criação literária e Inauguração
transformar o dia-a-dia das comunidades, levando arte, musicalização, sempre às terças-feiras. Ponto Móvel:
esporte, educação e entretenimento. É a partir desse Oficina de
instrumento que os moradores de locais distantes da Para a coordenadora do Ponto Móvel, Jucilene Santos, pintura
sede de Camaçari participam das ações de inclusão apesar da distância dos povoados, a participação foi
social da Cidade do Saber, através do Ponto Móvel. excelente em Monte Gordo. “Alguns alunos andavam
quilômetros para não perder as atividades, que foram
A cada três meses, a estrutura itinerante muda de concentradas na praça em frente à associação de
endereço para garantir a pulverização das atividades. A moradores”. O mais gratificante para Jucilene é ver o
estrutura do caminhão dispõe de acervo bibliográfico, resultado alcançado. “Muitas comunidades se sentiam
computadores com acesso à internet, TV LCD, DVD e uma esquecidas e nós pudemos ver como os moradores
brinquedoteca. Há, também, um palco na parte externa elevam a autoestima após o projeto”, completa.
para a realização de atividades como o Palco da Cidade.
E, para não deixar os alunos com gostinho de quero
Os primeiros lugares visitados pelo Ponto Móvel, entre mais, o projeto vai fazer novas visitas às localidades
julho e outubro de 2009, foram Monte Gordo, Barra do fora da sede de Camaçari, já que cultura, arte e
Jacuípe, Barra do Pojuca e Areias, com um total de 1.213 esporte precisam fazer parte do dia-a-dia do processo
alunos matriculados. de construção da cidadania.

Em Monte Gordo foram realizadas oficinas de futebol, Monte Gordo, até a próxima visita!

36
Alunos de
musicalização
no teatro

Mostra dos
alunos da oficina
de pintura em
tecido

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Expediente
monte
gordo Lazer
Cidade do Saber
Diretora geral: Ana Lúcia Silveira
Diretor de infraestrutura: Utilan Coroa
Diretor do saber: Arnoldo Valente
Ligue os pontos Diretora do teatro: Osvalda Moura

e descubra a figura que eles escondem. Coordenação do Projeto


Revista Ponto Móvel Cidade do Saber
Assessoria de Comunicação da
Cidade do Saber (ASCOM)
Responsável: Carolina Dantas
Pesquisa: Bárbara Falcón
Fotos Ascom: Daniel Quirino e Clemente Junior
Equipe Ascom: Bárbara Falcón, Carolina Dantas, Clemente
Junior, Daniel Quirino, Elba Coelho, Tediarlen Silva

Realização

AG Editora
Diretora executiva: Ana Lúcia Martins
Executiva de projetos: Júlia Spínola
Textos: Luciana Amorim
Edição: Ana Cristina Barreto
Fotos: Paulo Macedo
Revisão: José Egídio
Endereço: Rua Coronel Almerindo Rehem, 82, sala 1207.
Ed. Bahia Executive Center, Caminho das Árvores.
CEP: 41.820-768 - Salvador-BA
Tel: (71) 3014-4999

Projeto gráfico: Metta Comunicação


Editoração: Jean Ribeiro e João Soares
Ilustrações e arte: Jean Ribeiro

Tiragem: 2.000 exemplares - distribuição gratuita

Agradecimentos:
ASCOM - Prefeitura Municipal de Camaçari
Fotos: Carol Garcia, Agnaldo Silva e Nelinho Oliveira

Dicas: Ligue os pontinhos nas cores preta e cinza com lápis preto, os pontos
na cor laranja com lápis laranja e os pontos amarelos com lápis amarelo.
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Monte
Gordo

Executor do Projeto

Parceiros Cidade do Saber: Mantenedor:

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