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CATAGUASES – MG
2010
1
Monografia apresentada ao
professor mestre Carlile
Lanzieri Junior como trabalho
de conclusão do curso de
História.
CATAGUASES – MG
2010
2
Janaína Amado
3
RESUMO
Este trabalho objetiva entender como foi o início do povoamento da cidade de Dona
Euzébia. Não queremos mostrar toda a história deste município, mas abordar o início do
aglomerado urbano. Analisaremos os principais atores dessa época, final do século XIX e
até as duas primeiras décadas do século XX, com ênfase na seguinte questão: por que e para
que vieram os primeiros habitantes? Também analisaremos a figura da senhora Eusébia
Joaquina de São José, mostrando qual foi sua real intenção em fazer doações de terras, e
qual foi sua participação nessa história.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 5
1- HISTÓRIA REGIONAL................................................................................................. 7
1.1- A importância do conhecimento de História Regional............................................ 7
1.2- A descoberta de uma história: a busca por informações sobre o município de
Dona Euzébia ..................................................................................................................... 9
2- DONA EUZÉBIA ANTES DE SER DONA EUZÉBIA................................................. 14
2.1- A região de Dona Euzébia até o início do povoamento............................................ 14
2.2- Quem habitava essa região?....................................................................................... 16
3 - O EFETIVO INÍCIO DO POVOAMENTO................................................................... 18
4 - A ESCOLHA DO NOME – DONA EUZÉBIA............................................................. 21
4.1- As duas facetas da heroína: a imagem idealizada da senhora Eusébia................. 21
4.2- Os fatores que levaram à escolha deste nome.......................................................... 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 25
ANEXOS.............................................................................................................................. 26
5
INTRODUÇÃO
imagem como heroína ou vilã. Sendo que o único e não menos importante motivo que
encontramos para que prevalecesse o nome dela sobre este local, foi a doação de terras para
a construção da estação ferroviária.
7
1- HISTÓRIA REGIONAL
Falar de região não é tão simples, pois este conceito abrange vários significados. A
região pode ser um espaço delimitado politicamente, por exemplo, o estado de Minas
Gerais. Ou pode ser um local delimitado pela cultura, são os casos de locais unificados por
um mesmo idioma, local de convívio de um determinado grupo social, a região onde vive
uma tribo indígena, ou mesmo o local de predominância de uma religião. A região pode ser
também delimitada pela geografia, temos muitos exemplos como a Cordilheira dos Andes e
o Deserto do Saara, que ultrapassam a barreira da divisão política dos países, mas cujos
locais compartilham as mesmas características.
O primeiro local onde buscamos informações que pudessem ser úteis foram os órgãos
ligados à Prefeitura Municipal, especificamente na Escola Municipal Francisco Ribeiro dos
Santos e o Centro Cultural (por coincidência ou não, localizado na antiga Estação
Ferroviária). Encontramos basicamente as mesmas “fontes”, ou melhor, pequenos textos que
não chegam a encher uma folha A-4, e ambos com as mesmas informações.
Um texto encontrado no Centro Cultural é intitulado: “História de Dona Euzebia”,
como se toda história estivesse resumida ali. Esta folha (anexo 1) traz informações sem
referências bibliográficas, possivelmente contestáveis. Em um ponto específico, cita que
antes da chegada de Euzébia de Souza Lima (essa fonte não disponibiliza datas), o arraial
possuía apenas uma pousada e, somente depois, é que surgiram pequenas casas. Também de
acordo com outra fonte encontrada no mesmo local, o povoamento teria se iniciado em
1920. O interessante dessa história é que há ainda outra fonte de mesma origem, que cita o
ano de 1928 como início do povoamento. Como percebemos, as fontes se contradizem.
Apenas uma observação esta fonte cita “Euzébia de Souza Lima”1. Outra como a
própria certidão de óbito (anexo 2), fala de “Eusébia Joaquina de São José”. Na verdade, não
são duas “Eusébias”, mas sim a mesma pessoa. Até 1916, por tradição as mulheres
brasileiras raramente usavam sobrenome de família. No batismo recebiam um nome próprio
e, na idade adulta, adotavam um nome de devoção a título de sobrenome. Não havia
alteração de nome por casamento. Quando ficava viúva, caso assumisse a administração do
patrimônio da família a mulher, então, adotava o sobrenome do marido. Eis uma explicação
para esses dois nomes distintos2.
Mas bem antes da década de 1920, já havia exploradores ou mesmos desbravadores
passando por esse local. Como é o caso de Guido Marliéri (1767-1836), um francês que
chegou ao Brasil em 1808, juntamente com a Corte Portuguesa (AGUIAR, 2008, p.17) e que
logo foi enviado pela mesma, como Diretor Geral dos Índios, para essa região da Mata
Mineira. “[...] nomeado em 1813, Diretor Geral dos Índios do ‘presídio’” (OLIVEIRA,
2006, p.18). Portanto, nesse momento, ele já havia se instalado na Serra da Onça, na divisa
entre os municípios de Dona Euzébia e futuro município de Guidoval. Local que Guido
escolheu para morar.
1
Quanto a grafia “Eusébia” ou “Euzébia”, foge de nossa pesquisa o motivo pelo uso destas grafias diferentes.
Mas como a Certidão de óbito traz “Eusébia”, preferimos adotar esta forma ao falarmos da pessoa, exceto
neste caso que adotamos como consta na fonte encontrada. Para o município adotamos o nome oficial: “Dona
Euzébia”.
2
Informação obtida pela historiadora Nilza Cantoni.
11
Guidoval
D.Euzébia
Também não podemos nos esquecer dos indígenas, pois se Guido veio com o intuito
de ser Diretor Geral dos Índios, com certeza eles já estavam presentes por aqui ou na região.
Isto porque no início do século dezenove, época dos viajantes, estes grupos
[Puri e Coroado] já viviam aldeados na região que hoje abrange os
municípios de Viçosa, Coimbra, Ervália, São Geraldo, Visconde do Rio
Branco, Ubá, Tocantins, Rio Pomba, Guarani, Guidoval, Astolfo Dutra,
Dona Eusebia, Cataguases, Mirai, Muriaé, Patrocínio de Muriaé e
Leopoldina, entre outros (Ibidem, p. 17).
Entretanto não nos ateremos a esses assuntos, pois não é o objetivo deste trabalho.
Apenas queremos mostrar que antes do início do povoamento da cidade, outras pessoas já
haviam deixado suas marcas nessa região, independentemente se tinham o intuito de povoa-
lá ou não. De acordo com os registros, do mapa dos habitantes do Distrito de Santa Rita do
Meia Pataca - família 45, em 1831, a Eusébia Joaquina de São José e seu marido Domingos
José de Souza Lima, já estavam morando nessa região (anexo 3).
Tal assertiva refuta a idéia de que a “Dona Eusébia” veio para esta região viúva.
Além disso, duas outras fontes também contestam a informação disponível no Centro
Cultural. A primeira é o Registro de Terras do Meia Pataca, (Arquivo Público Mineiro,
documentos TP 120 e 121), que traz a declaração do marido de Dona Eusébia como
proprietário das terras em 1855 (anexo 4). A segunda é o livro de Notas número 3, do Porto
12
de Santo Antônio, hoje Astolfo Dutra, em cuja folha 12-v, encontra-se uma negociação
realizada em 1857, na qual João Ferreira da Silva e sua esposa Maria Antonia de Souza
venderam a parte que lhes coube da Fazenda Cachoeira, por herança de Domingos de Souza
Lima, pai de Maria Antonia3. Portanto, se Domingos foi recenseado com a família em 1831
como citado anteriormente, se em 1856 ele fez o devido registro de terras conforme previa a
Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, e se em 1857 uma filha sua vendeu parte da herança,
fica demonstrado que ele viveu em nossa região e que sua esposa não se deslocou para cá
após sua morte.
O referido texto encontrado na estação também fala de Leopoldo, que seria filho da
Eusébia e que veio como engenheiro para a construção da Estrada de Ferro. Mas quanto a
ele, por enquanto não encontramos registros que comprovem se realmente foi filho de
Eusébia Joaquina, muito menos se ele foi o engenheiro da Estrada de Ferro.
A estação ferroviária foi construída no ano 1879, portanto se foi a Dona Eusébia
quem “doou” terras para essa construção não há como ela ter doado no final do século XIX
e chegado aqui somente na segunda década do século XX, como afirma a fonte do Centro
Cultural. Também em 1920, de acordo com relatos orais4, um pequeno aglomerado já havia
se formado.
3
Informação obtida pela pesquisadora Joana Capella.
4
Entrevista realizada a antigos moradores locais: Sebastiana da Silva Leite (96 anos); Vander Mendes (80
anos); Zenaide Dalci Facchine Silveira (80 anos); Letícia de Souza Borges (86 anos); Wilson Ferreira Pinto –
cognome Silico (86 anos).
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Quanto à questão de doação de terras para a capela, não é verídico, pois essa foi
construída em 1922 e com a doação de Antonio Esteves Ribeiro. Esta informação foi obtida
por fontes orais, pois não foram encontradas fontes escritas que comprovassem essa doação.
Alguns moradores chegaram a comentar que essa doação foi feita verbalmente, o que
significa que as informações se perdem ou se transformam com o tempo. Há ainda indícios
de que antes dessa data haviam oratórios particulares e um local onde eram feitos alguns
batismos como se vê na seguinte transcrição5 “No lugar Estação de Dona Euzébia foi
batizado pelo padre Pedro Francisco Vieira o inocente Aurélio, nascido no dia 02.12.1889,
filho de Máximo Florêncio de Moraes e de Constantina de Souza.” (Livro de Batismos de
Cataguases, nº 255, fls. 25, 1888 a 1893, Igreja Santa Rita)
Portanto a história deste município é rica, e instigante, e tem mais a nos revelar do
que dizem as módicas “fontes” existentes no local. Não é uma história de romance, mas sim
história com historicismo, ou seja, da vida cotidiana.
5
Transcrição fornecida pela pesquisadora Joana Capella.
14
6
BLASENHEIM. Peter. Zona Proibida: Possibilidades e desafios no Estudo da Zona da Mata Mineira.
Palestra ministrada nas Faculdades Integradas de Cataguases em 16/08/2010. (Anotações pessoais)
7
De acordo com o Dicionário Aurélio (2001, p. 95), beneficiar é submeter o produto agrícola a processos de
descaroçamento, que lhes dêem condições de serem consumidos ou utilizados.
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não precisariam andar muito para embarcar o café. Com o posterior apogeu deste produto,
surgiram outras máquinas.
Todo o espaço onde hoje é a sede do município de Dona Euzébia pertencia às
fazendas que faziam do local terreno para plantio. Na região onde atualmente se localiza a
zona rural, existiam casas de funcionários dessas fazendas. Mas dentro da cidade, até 1920,
eram raras as construções. As que existiam localizavam-se próximas da estação. Em 1922
surgiu uns dos primeiros estabelecimentos comerciais da cidade, a “Casa Mendes”,
juntamente com a primeira casa feita em tijolos, ambos do mesmo dono o senhor Augusto
Mendes. Ainda hoje não foi alterada a base dessas construções. É bom esclarecer que
estamos falando de estabelecimento comercial, pois o comércio abrange um conceito muito
amplo.
Foto da inauguração do comércio em 1922. Fonte: Arquivo pessoal de Vander Mendes, filho de Augusto
Mendes.
16
Foto atual do local onde se estabelecia a Casa Mendes. Imagem registrada em 24 de Outubro de 2010.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
[...] três alqueires e meio de planta de milho na fazenda que foi do finado
Francisco de Souza Lima, (por alcunha Sambiquino), [...] os quais
confrontão [sic] pelo lado de baixo com terras de João de Souza Lima, e
pelo lado de cima com terras do comprador, e pelo lado direito com o Rio
Chopotó e pelo lado esquerdo com terras de dona Anna [...] pelo preço de
sete centos mil reais livres, [...] quantia que neste acto lhe foi entregue pelo
comprador (Cartório de Registro Civil de Astolfo Dutra, Livro de
Escrituras nº 6, 1878, p. 81 - 82).
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Outros moradores, também foram citados pelos registros orais, como o já referido
Amilcar Neves que era o dono da máquina de café. Além de alguns fazendeiros cujos nomes
até hoje são lembrados com homenagens em nomes de ruas, avenidas, escolas, e,
principalmente, no imaginário das pessoas que passa de geração em geração. Exemplos de
Pedro Dias Moreira, Antônio Esteves Ribeiro, Maximiano Dias, Homero Ferreira, Tiano
Ribeiro, dentre outros.
Não podemos tirar o mérito destas pessoas, pois foram nomes significativos para o
desenvolvimento da cidade. Foi em suas terras que surgiram as casas e o comércio local.
Longe de deixá-los em segundo plano, o que enfatizamos é que não podemos nos esquecer
daqueles que parecem não ter importância, ou melhor, aqueles que não têm aparência de
heróis, mas que também contribuíram para o progresso de Dona Euzébia, que são os
trabalhadores, aqueles que serviam de mão de obra para os grandes fazendeiros.
Estes são pessoas comuns que, como no filme “Narradores de Javé”8, podem com
suas lembranças construir a memória local, devendo esta ser organizada dentro de padrões
historiográficos, de modo que não se forme um amontoado de informações, mas sim unir o
que é comum a todas narrativas – o que não é tarefa fácil. Eles estavam presentes nas
grandes fazendas, nas colheitas de café, assim como em outros tipos de plantações. Às
vezes, como era costume, moravam nas terras dos próprios patrões e se deslocavam de uma
fazenda para outra de acordo com as próprias necessidades, ou dependendo de onde o patrão
precisasse de mão de obra.
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Filme dirigido por Eliane Café que retrata a construção da história fictícia do vale de Javé pelos próprios
moradores.
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mercadorias. A estação de Dona Euzébia possuía este carimbo que segue na imagem abaixo.
Este carimbo não possui data.
ACIMA: Carimbo postal da estação, sem datador. O selo circulou no final do século XIX
início do século XX. A agência postal foi criada em 15/07/1881. A mala postal expedida pela
Administração Postal Federal (Rio de Janeiro), que englobava a mala da Administração
Regional, nessa época Ouro Preto, seguia pela E. F. Central do Brasil até Entre Rios, em
seguida pelo Ramal de Porto Novo até Porto Novo do Cunha. A partir daí, pela E. F.
Leopoldina – Linha do Centro - até D. Euzébia. A permuta das malas era diária.
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.BR/efl_mg_linhadocentro/daeuzebia.htm acesso
em 14/10/10
O senhor Silico também disse que os primeiros cafés que foram colhidos em Dona
Euzébia iam para a Estação Ferroviária Barão de Camargo para serem limpos. Somente mais
tarde com esse pequeno movimento surgindo aos arredores da estação é que apareceu a
primeira máquina de beneficiamento de café, propriedade de Amilcar Neves.
Assim também começou a surgir o comércio, como foi o caso do já citado, senhor
Augusto Mendes. Segundo o senhor Vander (80 anos), filho de Augusto Mendes, seu pai era
português e morava nas proximidades de onde atualmente se situa o distrito de Sobral Pinto
(pertencente a Astolfo Dutra). Augusto Mendes comprou a propriedade de Antonio Esteves
Ribeiro em 1920 e começou a construir um comércio e uma casa. Esta propriedade se
localiza em frente à estação. Em 1922 ele inaugurou a “Casa Mendes” como mostra a foto
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apresentada no capítulo II. Até há pouco tempo, este comércio ainda existia. Hoje, o senhor
Vander alugou o lugar onde era o comércio para uma loja e uma lanchonete. A casa ainda é
habitada por ele e sua esposa.
Mas qual foi o motivo da vinda do senhor Augusto Mendes e outras pessoas para um
local onde ainda não existia um aglomerado urbano? Não chegamos a uma conclusão, mas
temos uma hipótese a apresentar. Se o local já possuía a estação e uma máquina de limpar
café, um comércio não seria má ideia. O local escolhido era bem próximo a esse pequeno
aglomerado que se formava. Ou seja, os cafeicultores poderiam chegar até a Casa Mendes
caso necessitassem comprar algo. Os poucos habitantes também precisavam de um local
para adquirir seus produtos de necessidade básica.
Em 1922, como já afirmamos anteriormente, foi construída uma capela dedicada à
Nossa Senhora das Dores Esta capela se localizava um pouco mais distante da estação,
ficava em um morro, local este onde hoje se localiza a policlínica municipal. Este fator,
aliado aos fatores comerciais, colaborou com o crescimento do povoado.
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Em muitos lugares ouvimos histórias de pessoas reais que no imaginário popular são
vistas como heróis. Que superam todos os limites em prol do bem comum. Não é diferente
em Dona Euzébia. Talvez isso seja culpa da história factual que reduz diversos pontos de
vistas privilegiando apenas a narrativa do vencedor, ou da elite que detém o poder. Ou
ainda, talvez seja essa mesma elite que transpassa os fatos ocorridos como atos heróicos,
com o intuito de criar uma memória coletiva ou mesmo a imagem de uma pessoa a ser
seguida e venerada.
Basta perguntarmos o motivo pela escolha do nome da cidade de Dona Euzébia, que
vemos surgir nas respostas essa imagem de heroína. Uma mulher muito bondosa que muito
contribuiu para o desenvolvimento local. Uma mulher que escolheu este local para viver e
apenas pela vontade de ajudar os outros doou terras para que fossem feitas algumas das
principais construções (especialmente a Estação Ferroviária).
Mas será que era apenas isto? Será que essa mulher não tinha interesses particulares,
ou outros objetivos que pudessem nortear seu ato de doar terras? Até que ponto ela se
diferenciou das outras mulheres de sua época? Afinal, ela como ser humano tinha limitações
financeiras, ligações afetivas, laços familiares, além de outros interesses particulares. Não
podemos nos esquecer de que, tendo ficado viúva, ela recebeu a tarefa de administrar os
bens de seu marido. Todos os seus atos deveriam visar não apenas o bem-estar social, mas
também o de sua família. Assim sendo, há de se questionar se seu ato foi puramente por
bondade ou se poderia haver algum interesse por trás disso tudo.
Além do mais, doar as terras para a construção da estação poderia trazer benefícios
para todos, mas, sem dúvida traria ainda mais para ela e os seus. O espaço doado para este
fim representava uma pequena área produtiva. Por outro lado, é grande o benefício com
transporte, uma vez que não precisava deslocar a produção a longas distâncias para
embarcá-la. Estando a estação localizada em sua propriedade, a produção era embarcada ali
mesmo, o que evitava despesas.
Não queremos com essas assertivas dizer que a senhora Eusébia era uma mulher que
trabalhava de acordo com interesses particulares, sem nunca pensar no bem comum, não é
isto. Queremos apenas desmitificar esta imagem de heroína que surge quando falamos dela.
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Não podemos julgar todos seus atos como egoístas ou maldosos. Mas também não podemos
achar que todos foram fruto de profundo altruísmo, sem jamais se preocupar com questões
íntimas. Devemos observá-la como uma mulher comum, fruto de seu tempo, cujos atos,
intencionalmente ou não, contribuíram para o surgimento do município.
Sabemos ainda que, se por um lado ela foi importante para o desenvolvimento local,
outras pessoas também tiveram tanta importância ou mais que ela. Porém, devido à
factualidade, foi ela quem recebeu a homenagem, e os outros atores foram colocados em
papéis secundários ou simplesmente negligenciados. Procuramos evitar aqui os pré-juízos e
dar o devido valor a cada um, visando sempre um objetivo específico, que é entender melhor
o surgimento do povoado que recebeu o nome de Dona Euzébia.
Sendo assim, percebemos nesta história de Dona Euzébia que, apesar do senso-
comum atribuir a ela essa personagem principal, outras pessoas que aqui viveram desde o
final do século XIX, e início do XX, foram também de suma importância para o surgimento
deste povoado. Pois todos, de forma direta ou indireta, deixaram suas marcas na história
desta cidade.
Após ter falado de algumas pessoas que muito contribuíram para o desenvolvimento
de Dona Euzébia. Surge então o questionamento: por que foi escolhido o nome de “Dona
Euzébia” para este local? O nome escolhido da cidade poderia homenagear outros, por
exemplo, Augusto Mendes ou Amilcar Neves. Ou, ainda já que ela veio com toda família,
por que o município não herdou o nome de Domingos, que era o patriarca da família? O que
fez com que a região passasse a ser conhecida como Dona Euzébia? São estas as questões
que tentaremos responder neste tópico.
De fato, o nome não foi escolhido em plebiscito, nem em uma reunião de um
conselho municipal ou indicações em solenidades. Porém, desde muito cedo, o nome foi
assimilado a este local, que de forma natural começou a ser chamado de Dona Euzébia.
Segundo registros do Jornal Cataguazes esta denominação já caracterizava a região em
1906. “Na estação de Dona Euzébia, Estrada de Ferro Leopoldina vende-se uma situação
agrícola em 18 alqueires de terras...” (Jornal Cataguazes, 25 de fevereiro, 1906, ano I, nº 5,
p. 4).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não pretendemos dar este trabalho por concluído, pois acreditamos que há ainda
muito para se pesquisar a respeito deste tema. Pretendemos somente deixar nossas
considerações finais sobre ele. Longe de encerrá-lo pretendemos dar direito de que após
este, outras pessoas também intervenham e possam contribuir para a continuação do tema. O
que fizemos foi somente dar nosso ponto de vista.
Apresentamos um capítulo referente à História Regional, acreditamos que essa
contribuiu muito para a compreensão do nosso estudo a respeito de Dona Euzébia. Vimos
como se deu o processo de formação do povoado de Dona Euzébia, de seu início em finais
do século XIX, até a segunda década do século XX. Também deixamos informações de
outros moradores que viviam nesta região até antes mesmo da família da senhora Eusébia,
como foi o caso de Guido Marliéri, dos índios e outros moradores que, apesar de até agora
ocultados pela História factual, também foram de extrema importância para o começo do
povoamento.
Dessa forma, procuramos contestar as únicas fontes que até então estavam
disponíveis para pesquisas, mostrando que não podemos ser passíveis a acreditar numa
única história capaz de contar toda verdade, mas que existem vários pontos de vista sobre
um mesmo assunto, e que todos precisam ser averiguados e, se for o caso, confirmados ou
refutados.
Nosso intuito realmente foi entender o efetivo surgimento do povoado,
caracterizando as pessoas que tiveram importância para a consolidação deste município.
Mostramos que esta história factual com heróis não é a melhor e o que faz uma história são
situações das mais diversificadas e também não só uma pessoa, mas toda que estão presentes
naquele contexto.
Ao final deste trabalho, esperamos que ele tenha sido de real importância para uma
melhor compreensão do início do povoamento de Dona Euzébia por seus cidadãos, e que
eles tenham essa história como um patrimônio, observando com mais interesse este assunto.
Pois a história de uma cidade é um patrimônio que precisa ser conservado.
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes Primárias:
Fontes secundárias:
Anexos
27
Anexo 1
Texto intitulado “História de Dona Euzébia – MG”. Fonte: Centro Cultural de Dona Euzébia.
28
Anexo 2
Certidão de Óbito de Eusébia Joaquina de São José. Fonte: Centro Cultural de Dona Euzébia.
29
Anexo 3
Registro de Terras do Meia Pataca – Censo 1831. Fonte: Mapa dos Habitantes do Distrito da Capela de Santa
Rita do Meia Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO.
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Anexo 4 (1)
Registro de Terras de Domingos de Souza Lima em 1856. Fonte: Registro de Terras de Santa Rita do Meia
Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Doc. TP 120 Fl 60v. Termo 661 – 17/03/1856.
31
Anexo 4 (2)
Registro de Terras de Domingos de Souza Lima em 1856. Fonte: Registro de Terras de Santa Rita do Meia
Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Doc. TP 120 Fl 61. Termo 661 – 17/03/1856.
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Anexo 4 (3)
Folha 60verso
[parte inferior]
Nº 117
Eu abaixo assignado declaro que possuo dentro desta Freguezia uma Fazenda denominada
= Cachoeira do Pomba a qual houve por compra que fiz a Manoel José de Carvalho e sua
mulher e a José Gomes da Costa e sua mulher e depois ao herdeiros do dito José Gomes da
Costa, levarão duzentos alqueires de planta pouco mais ou menos. Divide com Fabiano
Marques da Costa com a Fasenda que foi de Emigdio, e Rio Pomba abaixo com a
Folha 61
Fasenda que foi de meu mano Manoel de Sousa Lima. E para constar mandei fazer este em
duplicata para ser registrado e somente assigno. Fazenda da Cachoeira vinte e sete de
fevereiro de mil oito centos e cincoenta e seis. Domingos José de Sousa Lima. = Nada mais
continha o dito exemplar em duplicata que fielmente copiei, estando em tudo conforme aos
proprios originaes aos quaes me reporto; um em poder do appresentante e outro que fica
archivado. Meia Pataca em dezasete de Março de mil oito centos e cincoenta e seis. Eu
Carlos da Silva Pinheiro, Escrivão Interino do Registro o escrevi.
Transcrição do Anexo 4 (1) e 4 (2). Fonte: Associação dos Arquivistas Brasileiros. Normas Técnicas para
Transcrição e Edição de Documentos Manuscritos publicada pela Associação dos Arquivistas
Brasileiros. Rio de Janeiro: AAB, 2001.