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FIC – FACULDADES INTEGRADAS DE CATAGUASES

JANAÍNA CÉLIA RODRIGUES

SILÊNCIO, CURIOSIDADES E DESCOBERTAS


O INÍCIO DO POVOAMENTO EM DONA EUZÉBIA

CATAGUASES – MG
2010
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FIC – FACULDADES INTEGRADAS DE CATAGUASES

SILÊNCIO, CURIOSIDADES E DESCOBERTAS


O INÍCIO DO POVOAMENTO EM DONA EUZÉBIA

JANAÍNA CÉLIA RODRIGUES

Monografia apresentada ao
professor mestre Carlile
Lanzieri Junior como trabalho
de conclusão do curso de
História.

CATAGUASES – MG
2010
2

“A historiografia nacional ressalta as


semelhanças, o regional lida com as diferenças, a
multiplicidade. A historiografia regional tem ainda a
capacidade de apresentar o concreto e o cotidiano, o
ser humano historicamente determinado, de fazer a
ponte entre o indivíduo e o social.”

Janaína Amado
3

RESUMO

Este trabalho objetiva entender como foi o início do povoamento da cidade de Dona
Euzébia. Não queremos mostrar toda a história deste município, mas abordar o início do
aglomerado urbano. Analisaremos os principais atores dessa época, final do século XIX e
até as duas primeiras décadas do século XX, com ênfase na seguinte questão: por que e para
que vieram os primeiros habitantes? Também analisaremos a figura da senhora Eusébia
Joaquina de São José, mostrando qual foi sua real intenção em fazer doações de terras, e
qual foi sua participação nessa história.

Palavras-chave: Estação Ferroviária, Dona Euzébia, História Regional, povoamento


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 5
1- HISTÓRIA REGIONAL................................................................................................. 7
1.1- A importância do conhecimento de História Regional............................................ 7
1.2- A descoberta de uma história: a busca por informações sobre o município de
Dona Euzébia ..................................................................................................................... 9
2- DONA EUZÉBIA ANTES DE SER DONA EUZÉBIA................................................. 14
2.1- A região de Dona Euzébia até o início do povoamento............................................ 14
2.2- Quem habitava essa região?....................................................................................... 16
3 - O EFETIVO INÍCIO DO POVOAMENTO................................................................... 18
4 - A ESCOLHA DO NOME – DONA EUZÉBIA............................................................. 21
4.1- As duas facetas da heroína: a imagem idealizada da senhora Eusébia................. 21
4.2- Os fatores que levaram à escolha deste nome.......................................................... 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 25
ANEXOS.............................................................................................................................. 26
5

INTRODUÇÃO

O tipo de pesquisa que escolhemos enquadra-se no campo da História Regional.


Trata-se do estudo da formação de um povoado que, posteriormente viria a se chamar Dona
Euzébia. Este tipo de estudo não é tarefa fácil, pois os primeiros habitantes não estavam
conscientes de que alguém iria querer estudá-los. Por isto a maioria de seus atos não se
encontram registrados. Caso eles tivessem esta consciência, a dificuldade seria dobrada por
causa da manipulação dos registros que certamente ocorreria. De toda forma, somos
obrigados a fazer uma delicada e trabalhosa investigação.
Porém, não titubeamos na escolha do tema e nos dispusemos a investigar o
surgimento deste povoado. Antes de mais nada, procuramos demonstrar a importância do
estudo de temas ligados à História Regional. Algumas posturas metodológicas não podem
ser deixadas de lado neste aspecto.
Não se pode falar em História Regional sem delimitar o recorte utilizado na pesquisa.
Para este fim, procuramos mostrar alguns conceitos de região, além da mútua relação entre
os estudos de História Regional, a diminuição do recorte e a diversificação da fonte. Aliás, a
carência de fontes não pode deixar de ser ressaltada.
Uma vez contextualizada a pesquisa no âmbito da História Regional, estreitamos o
assunto falando mais detidamente sobre o município de Dona Euzébia, esclarecendo
inicialmente que, apesar do nosso recorte abranger apenas o período em que o povoado
começou a se formar, muito antes disto, outras pessoas habitaram ou passaram por esta
região.
Logo após, entramos no tema propriamente dito. Falamos sobre algumas fazendas, o
comércio, a Estrada de Ferro e também a máquina de beneficiamento de café, procurando
demonstrar o que havia na região no início do povoamento. Procuramos mostrar também as
pessoas que habitavam esta região. Alguns nomes se destacaram, porém, a maioria era de
pessoas simples. Assim, apesar de extremamente importantes para nós, tivemos dificuldades
em encontrar e registrar seus nomes.
Falamos um pouco sobre a estação ferroviária que, até onde pudemos averiguar foi o
fator que mais propiciou o surgimento do povoado. E por fim, nos detivemos na escolha do
nome. Procuramos identificar a Senhora Eusébia como uma pessoa comum, sem passar sua
6

imagem como heroína ou vilã. Sendo que o único e não menos importante motivo que
encontramos para que prevalecesse o nome dela sobre este local, foi a doação de terras para
a construção da estação ferroviária.
7

1- HISTÓRIA REGIONAL

1.1 - A importância do conhecimento de História Regional

O conhecimento da História Regional passou a ter importância a partir do


movimento dos Annales, iniciado por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929. Sendo
aprimorado no decorrer dos anos por seus sucessores como Fernand Braudel, Jacques Le
Goff e outros. O recorte que antes abrangia apenas o total, ou apenas se falava de uma
história positivista preocupada com os fatos históricos que dava prioridade aos grandes
homens e acontecimentos políticos (TÉTART, 2000, p.105) passou a se preocupar com o
particular, com o popular. E isso levou a diminuição do recorte.
Por outro lado, as fontes que antes tinham que ser apenas documentos oficiais,
passaram a abranger registros dos mais variados, desde fotografias e objetos a relatos orais.
O foco passou a ser também o cotidiano. Com todo esse movimento, possibilitou-se a
pesquisa da História Regional. Passou-se a fazer recortes mais específicos, uma vez que a
variedade de fontes possibilitou estudá-lo mais profundamente.

Daí a atenção do Annales para com todas as fontes que trazem


ensinamentos sobre a história do cotidiano, da civilização material, das
crenças, em suma, de tudo o que faz a sedimentação de uma cultura, de
uma economia, de uma sociedade num dado tempo, num dado período.
(Ibidem. p. 111).

Falar de região não é tão simples, pois este conceito abrange vários significados. A
região pode ser um espaço delimitado politicamente, por exemplo, o estado de Minas
Gerais. Ou pode ser um local delimitado pela cultura, são os casos de locais unificados por
um mesmo idioma, local de convívio de um determinado grupo social, a região onde vive
uma tribo indígena, ou mesmo o local de predominância de uma religião. A região pode ser
também delimitada pela geografia, temos muitos exemplos como a Cordilheira dos Andes e
o Deserto do Saara, que ultrapassam a barreira da divisão política dos países, mas cujos
locais compartilham as mesmas características.

[...] isto ocorre em relação à definição do conceito de região, o qual varia


de enfoque, ou seja, do físico - onde o clima, o relevo, a hidrografia e a
vegetação sobrepõem-se à ação humana -, ao enfoque político e cultural,
8

onde a ênfase ao debate sobre história regional assume um papel


determinante. Neste sentido, os estudos sobre região ultrapassam as
fronteiras da geografia física, dando a história regional um caráter novo,
com ênfase nas identidades sociais. A ação humana agora sobrepõem-se
aos aspectos físicos da geografia (ALVES, SCHALLENBERGER,
BATISTA, 2005, p. 40- 41).

Cabe neste momento, após ter mostrado os possíveis conceitos de “região”,


delimitarmos àquela que estudaremos neste trabalho. Trata-se do município de Dona
Euzébia, localizado no vale do Rio Pomba, na Zona da Mata Mineira. Pretendemos observar
não a divisão político-administrativa atual, mas sim o local que originou o povoado de Dona
Euzébia, observando mais precisamente o período da construção da Estação Ferroviária em
1879, até o momento em que o local já estava povoado (por volta de 1925). Em
determinados momentos, citaremos algumas fazendas que foram de extrema importância
para o início do mesmo.
Porém, sabemos que ao falar deste tema específico, estamos contribuindo para a
observação de um tema amplo, pois estudar o regional implica estudar o singular dentro de
uma totalidade, como nos diz Sandra Pesavento (1990, p. 69) “[...] o estudo histórico de uma
região implica a análise na totalidade”, ou ainda Janaína Amado (1990, p.8) “[...] a região
configura um espaço particular dentro de uma determinada organização social mais ampla
com a qual se articula.”
Quando estudamos aspectos regionais, precisamos ter o máximo de cuidado possível,
para não cairmos em anacronismo, ou seja, interpretar ações de outros tempos atribuindo-
lhes características do tempo presente. Por exemplo, nós sabemos que Dona Euzébia tornou-
se um município e assumiu as características que vemos hoje. Mas os primeiros habitantes
não sabiam o que aconteceria posteriormente com este local. Quando construíram uma
Estação ferroviária, não imaginavam que o fariam para, a partir daí, surgir um município.
Eles a construíram, porque precisavam dela naquele momento.
Outro cuidado é para não julgar a parte pelo todo. Os estudos regionais, como já foi
citado anteriormente, lidam com as diferenças de um determinado ambiente em relação ao
todo. Assim, as especificidades precisam ser levadas em consideração quando se estuda o
regional.
Apesar dos estudos relacionados ao âmbito regional terem avançado nos últimos
tempos, é ainda complicado e cansativo realizar trabalhos nesse sentido. Pois, na maioria das
vezes, e foi o que aconteceu em nosso caso, há uma enorme carência ou mesmo inexistência
9

de bibliografia disponível. Isso exige do pesquisador maior dedicação em suas


investigações.
Além dessa carência bibliográfica, muitas vezes os documentos locais necessários
encontram-se “[...] em mãos de pessoas que se consideram ‘donas’ [dessas fontes] e não
querem cedê-la [s].” (Ibidem, p. 11). Isso ocorre principalmente em locais pequenos, onde a
questão política fica “à flor da pele” e os interesses pessoais vão além do coletivo, ou
melhor, vão além das questões referentes ao patrimônio público.
Outra questão também bem acentuada é a falta de conservação dos documentos
históricos, pois este é um assunto que infelizmente não interessa aos poderes locais. Aqueles
que possuem o material, às vezes os poucos que existem, não dão a mínima idéia para
preservá-los ou mesmo entregá-los a alguém ou alguma instituição que possa conservá-los.
E fazendo dessa forma, vão aos poucos “matando a história local”, pois se a
documentação não é preservada, a memória das pessoas - não tirando o mérito desta, pois é
de suma importância - é passível de esquecimento e distorção dos fatos. Caso nenhuma
providência seja tomada, chegará um momento em que não se conseguirá contar a história
de determinado local.
Cabe nesse momento ressaltar a importância do conhecimento do regional, pois ela
mostra o individuo, o cotidiano, as riquezas de cada ambiente, ou seja, as especificidades
que tornam cada região, independentemente de seu recorte espacial, um local propício a
novas descobertas e comparações.

1.2 - A descoberta de uma história: a busca por informações sobre o município de


Dona Euzébia

Quando decidimos escrever sobre o início do povoamento em Dona Euzébia,


pretendíamos primeiramente sanar uma curiosidade: por que o nome “Dona Euzébia”?
Havia o questionamento, então, decidimos procurar respostas. A partir de então, passamos a
procurar através de fontes concretas, indícios que nos ajudassem a sanar este silêncio.
Através desta pesquisa, pretendemos igualmente viabilizar aos cidadãos de Dona
Euzébia algum conhecimento sobre a origem do município, até então obscura. Pretendemos
que esta pesquisa mostre que a história importante não é aquela com príncipes, reis e heróis,
mas sim aquela que se preocupa com o imaginário popular, com a cultura local e com
aqueles que, apesar do desprovimento financeiro, também contribuíram para a povoação
desta cidade.
10

O primeiro local onde buscamos informações que pudessem ser úteis foram os órgãos
ligados à Prefeitura Municipal, especificamente na Escola Municipal Francisco Ribeiro dos
Santos e o Centro Cultural (por coincidência ou não, localizado na antiga Estação
Ferroviária). Encontramos basicamente as mesmas “fontes”, ou melhor, pequenos textos que
não chegam a encher uma folha A-4, e ambos com as mesmas informações.
Um texto encontrado no Centro Cultural é intitulado: “História de Dona Euzebia”,
como se toda história estivesse resumida ali. Esta folha (anexo 1) traz informações sem
referências bibliográficas, possivelmente contestáveis. Em um ponto específico, cita que
antes da chegada de Euzébia de Souza Lima (essa fonte não disponibiliza datas), o arraial
possuía apenas uma pousada e, somente depois, é que surgiram pequenas casas. Também de
acordo com outra fonte encontrada no mesmo local, o povoamento teria se iniciado em
1920. O interessante dessa história é que há ainda outra fonte de mesma origem, que cita o
ano de 1928 como início do povoamento. Como percebemos, as fontes se contradizem.
Apenas uma observação esta fonte cita “Euzébia de Souza Lima”1. Outra como a
própria certidão de óbito (anexo 2), fala de “Eusébia Joaquina de São José”. Na verdade, não
são duas “Eusébias”, mas sim a mesma pessoa. Até 1916, por tradição as mulheres
brasileiras raramente usavam sobrenome de família. No batismo recebiam um nome próprio
e, na idade adulta, adotavam um nome de devoção a título de sobrenome. Não havia
alteração de nome por casamento. Quando ficava viúva, caso assumisse a administração do
patrimônio da família a mulher, então, adotava o sobrenome do marido. Eis uma explicação
para esses dois nomes distintos2.
Mas bem antes da década de 1920, já havia exploradores ou mesmos desbravadores
passando por esse local. Como é o caso de Guido Marliéri (1767-1836), um francês que
chegou ao Brasil em 1808, juntamente com a Corte Portuguesa (AGUIAR, 2008, p.17) e que
logo foi enviado pela mesma, como Diretor Geral dos Índios, para essa região da Mata
Mineira. “[...] nomeado em 1813, Diretor Geral dos Índios do ‘presídio’” (OLIVEIRA,
2006, p.18). Portanto, nesse momento, ele já havia se instalado na Serra da Onça, na divisa
entre os municípios de Dona Euzébia e futuro município de Guidoval. Local que Guido
escolheu para morar.

1
Quanto a grafia “Eusébia” ou “Euzébia”, foge de nossa pesquisa o motivo pelo uso destas grafias diferentes.
Mas como a Certidão de óbito traz “Eusébia”, preferimos adotar esta forma ao falarmos da pessoa, exceto
neste caso que adotamos como consta na fonte encontrada. Para o município adotamos o nome oficial: “Dona
Euzébia”.
2
Informação obtida pela historiadora Nilza Cantoni.
11

Guidoval

D.Euzébia

Fonte: IBGE (Grifo Nosso)

Também não podemos nos esquecer dos indígenas, pois se Guido veio com o intuito
de ser Diretor Geral dos Índios, com certeza eles já estavam presentes por aqui ou na região.

Isto porque no início do século dezenove, época dos viajantes, estes grupos
[Puri e Coroado] já viviam aldeados na região que hoje abrange os
municípios de Viçosa, Coimbra, Ervália, São Geraldo, Visconde do Rio
Branco, Ubá, Tocantins, Rio Pomba, Guarani, Guidoval, Astolfo Dutra,
Dona Eusebia, Cataguases, Mirai, Muriaé, Patrocínio de Muriaé e
Leopoldina, entre outros (Ibidem, p. 17).

Entretanto não nos ateremos a esses assuntos, pois não é o objetivo deste trabalho.
Apenas queremos mostrar que antes do início do povoamento da cidade, outras pessoas já
haviam deixado suas marcas nessa região, independentemente se tinham o intuito de povoa-
lá ou não. De acordo com os registros, do mapa dos habitantes do Distrito de Santa Rita do
Meia Pataca - família 45, em 1831, a Eusébia Joaquina de São José e seu marido Domingos
José de Souza Lima, já estavam morando nessa região (anexo 3).
Tal assertiva refuta a idéia de que a “Dona Eusébia” veio para esta região viúva.
Além disso, duas outras fontes também contestam a informação disponível no Centro
Cultural. A primeira é o Registro de Terras do Meia Pataca, (Arquivo Público Mineiro,
documentos TP 120 e 121), que traz a declaração do marido de Dona Eusébia como
proprietário das terras em 1855 (anexo 4). A segunda é o livro de Notas número 3, do Porto
12

de Santo Antônio, hoje Astolfo Dutra, em cuja folha 12-v, encontra-se uma negociação
realizada em 1857, na qual João Ferreira da Silva e sua esposa Maria Antonia de Souza
venderam a parte que lhes coube da Fazenda Cachoeira, por herança de Domingos de Souza
Lima, pai de Maria Antonia3. Portanto, se Domingos foi recenseado com a família em 1831
como citado anteriormente, se em 1856 ele fez o devido registro de terras conforme previa a
Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, e se em 1857 uma filha sua vendeu parte da herança,
fica demonstrado que ele viveu em nossa região e que sua esposa não se deslocou para cá
após sua morte.
O referido texto encontrado na estação também fala de Leopoldo, que seria filho da
Eusébia e que veio como engenheiro para a construção da Estrada de Ferro. Mas quanto a
ele, por enquanto não encontramos registros que comprovem se realmente foi filho de
Eusébia Joaquina, muito menos se ele foi o engenheiro da Estrada de Ferro.
A estação ferroviária foi construída no ano 1879, portanto se foi a Dona Eusébia
quem “doou” terras para essa construção não há como ela ter doado no final do século XIX
e chegado aqui somente na segunda década do século XX, como afirma a fonte do Centro
Cultural. Também em 1920, de acordo com relatos orais4, um pequeno aglomerado já havia
se formado.

Foto registrada em 1989


Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_mg_linhadocentro/fotos/daeusebia9891.jpg

3
Informação obtida pela pesquisadora Joana Capella.
4
Entrevista realizada a antigos moradores locais: Sebastiana da Silva Leite (96 anos); Vander Mendes (80
anos); Zenaide Dalci Facchine Silveira (80 anos); Letícia de Souza Borges (86 anos); Wilson Ferreira Pinto –
cognome Silico (86 anos).
13

Foto atual da Estação Ferroviária registrada em 24 de outubro de 2010.


Fonte: Arquivo pessoal da autora

Quanto à questão de doação de terras para a capela, não é verídico, pois essa foi
construída em 1922 e com a doação de Antonio Esteves Ribeiro. Esta informação foi obtida
por fontes orais, pois não foram encontradas fontes escritas que comprovassem essa doação.
Alguns moradores chegaram a comentar que essa doação foi feita verbalmente, o que
significa que as informações se perdem ou se transformam com o tempo. Há ainda indícios
de que antes dessa data haviam oratórios particulares e um local onde eram feitos alguns
batismos como se vê na seguinte transcrição5 “No lugar Estação de Dona Euzébia foi
batizado pelo padre Pedro Francisco Vieira o inocente Aurélio, nascido no dia 02.12.1889,
filho de Máximo Florêncio de Moraes e de Constantina de Souza.” (Livro de Batismos de
Cataguases, nº 255, fls. 25, 1888 a 1893, Igreja Santa Rita)
Portanto a história deste município é rica, e instigante, e tem mais a nos revelar do
que dizem as módicas “fontes” existentes no local. Não é uma história de romance, mas sim
história com historicismo, ou seja, da vida cotidiana.

5
Transcrição fornecida pela pesquisadora Joana Capella.
14

2 – DONA EUZÉBIA ANTES DE SER DONA EUZÉBIA

2.1– A região de Dona Euzébia até o início do povoamento

Antes da segunda década do século XX, quando começou a se formar o aglomerado


local, havia poucas construções na região onde hoje se situa o município de Dona Euzébia.
Destacamos a estação ferroviária, construída em 1879 com o objetivo de ligar a Estrada de
Ferro Leopoldina a outras regiões. É bom deixar claro que, segundo Peter Blasenheim, as
estradas de ferro não tinham objetivo de servir de ligação entre cidades, mas sim, entre
fazendas6, o que facilitava o escoamento do café produzido nos arredores para os mercados
consumidores.
O que predominava na região eram as fazendas principalmente as de cultivo de café.
Várias delas foram citadas em relatos de antigos moradores (conferir nota de rodapé número
4) como a fazenda do senhor Pedro Dias, onde também se localizava um alambique, um
curral e plantações; de Domiciano Esteves Ribeiro; da Serra da Onça, local onde o Guido
Marlieri morava quando passou por esta região, e também a fazenda da própria Dona
Eusébia, localizada onde hoje é a propriedade dos herdeiros de Homero Ferreira. Também
existiam outras mais afastadas como a Graminha – que posteriormente chegou a abrigar um
orfanato –, bem como a do senhor Maximiano Dias, na região da Pedra Branca.
Essas fazendas se ocupavam principalmente com o cultivo do café, mas também
havia outros produtos como arroz, fumo, e cachaça. Com a instalação da estrada de ferro, o
escoamento desta produção, antes feito a cavalos ou em carros de boi (BLASENHEIM,
1996, p. 83), passou a ser feito pelo trem. Isso impulsionou o desenvolvimento deste
comércio. “Havia um consenso entre as autoridades provinciais e os fazendeiros de que as
ferrovias eram cruciais [...] para estimular o desenvolvimento econômico e alavancar as
exportações [...]” (HENRIQUES, 2005, p. 63)
Antes de ser vendido, o café era beneficiado7. Existia uma máquina de café,
localizada nas proximidades da estação. Ela foi construída pelo senhor Amilcar Neves.
Como estava situada num ponto estratégico, pois sendo vizinha à estação, seus trabalhadores

6
BLASENHEIM. Peter. Zona Proibida: Possibilidades e desafios no Estudo da Zona da Mata Mineira.
Palestra ministrada nas Faculdades Integradas de Cataguases em 16/08/2010. (Anotações pessoais)
7
De acordo com o Dicionário Aurélio (2001, p. 95), beneficiar é submeter o produto agrícola a processos de
descaroçamento, que lhes dêem condições de serem consumidos ou utilizados.
15

não precisariam andar muito para embarcar o café. Com o posterior apogeu deste produto,
surgiram outras máquinas.
Todo o espaço onde hoje é a sede do município de Dona Euzébia pertencia às
fazendas que faziam do local terreno para plantio. Na região onde atualmente se localiza a
zona rural, existiam casas de funcionários dessas fazendas. Mas dentro da cidade, até 1920,
eram raras as construções. As que existiam localizavam-se próximas da estação. Em 1922
surgiu uns dos primeiros estabelecimentos comerciais da cidade, a “Casa Mendes”,
juntamente com a primeira casa feita em tijolos, ambos do mesmo dono o senhor Augusto
Mendes. Ainda hoje não foi alterada a base dessas construções. É bom esclarecer que
estamos falando de estabelecimento comercial, pois o comércio abrange um conceito muito
amplo.

Foto da inauguração do comércio em 1922. Fonte: Arquivo pessoal de Vander Mendes, filho de Augusto
Mendes.
16

Foto atual do local onde se estabelecia a Casa Mendes. Imagem registrada em 24 de Outubro de 2010.
Fonte: Arquivo pessoal da autora

2.2 – Quem habitava essa região?

Como já foi referido anteriormente, desde o início do século XIX, verificamos a


presença de moradores nos arredores deste local. Como por exemplo, o já citado Guido
Marlieri, os próprios índios, e também a família Souza Lima.
Em pesquisa realizada no Cartório de Registros Civil de Astolfo Dutra, cidade da
qual Dona Euzébia foi distrito, encontramos um registro de compra e venda de uma
propriedade em julho de 1878 na região. A transcrição abaixo é um indício de que realmente
nessa época havia moradores aqui.

[...] três alqueires e meio de planta de milho na fazenda que foi do finado
Francisco de Souza Lima, (por alcunha Sambiquino), [...] os quais
confrontão [sic] pelo lado de baixo com terras de João de Souza Lima, e
pelo lado de cima com terras do comprador, e pelo lado direito com o Rio
Chopotó e pelo lado esquerdo com terras de dona Anna [...] pelo preço de
sete centos mil reais livres, [...] quantia que neste acto lhe foi entregue pelo
comprador (Cartório de Registro Civil de Astolfo Dutra, Livro de
Escrituras nº 6, 1878, p. 81 - 82).
17

Outros moradores, também foram citados pelos registros orais, como o já referido
Amilcar Neves que era o dono da máquina de café. Além de alguns fazendeiros cujos nomes
até hoje são lembrados com homenagens em nomes de ruas, avenidas, escolas, e,
principalmente, no imaginário das pessoas que passa de geração em geração. Exemplos de
Pedro Dias Moreira, Antônio Esteves Ribeiro, Maximiano Dias, Homero Ferreira, Tiano
Ribeiro, dentre outros.
Não podemos tirar o mérito destas pessoas, pois foram nomes significativos para o
desenvolvimento da cidade. Foi em suas terras que surgiram as casas e o comércio local.
Longe de deixá-los em segundo plano, o que enfatizamos é que não podemos nos esquecer
daqueles que parecem não ter importância, ou melhor, aqueles que não têm aparência de
heróis, mas que também contribuíram para o progresso de Dona Euzébia, que são os
trabalhadores, aqueles que serviam de mão de obra para os grandes fazendeiros.
Estes são pessoas comuns que, como no filme “Narradores de Javé”8, podem com
suas lembranças construir a memória local, devendo esta ser organizada dentro de padrões
historiográficos, de modo que não se forme um amontoado de informações, mas sim unir o
que é comum a todas narrativas – o que não é tarefa fácil. Eles estavam presentes nas
grandes fazendas, nas colheitas de café, assim como em outros tipos de plantações. Às
vezes, como era costume, moravam nas terras dos próprios patrões e se deslocavam de uma
fazenda para outra de acordo com as próprias necessidades, ou dependendo de onde o patrão
precisasse de mão de obra.

8
Filme dirigido por Eliane Café que retrata a construção da história fictícia do vale de Javé pelos próprios
moradores.
18

3 – O EFETIVO INÍCIO DO POVOAMENTO

O objetivo deste capítulo é falar sobre o início do povoado, levando em consideração


que na primeira década do século XX já havia a presença de um pequeno arraial. Então,
quando falarmos de efetivo início de povoamento, estamos querendo falar do começo do
aglomerado urbano, que mais tarde serviu de base para o desenvolvimento da cidade, e não
somente o espaço local que antes era constituído por fazendas.
Com a chegada da estação ferroviária, uma vez que a futura Dona Euzébia estava no
curso do Rio Pomba e também no roteiro de construção da estrada de ferro, o objetivo
central era fazer o escoamento do café e criar facilidades de locomoção das pessoas.
A escolha deste local para construção da estação talvez se justifique pela
proximidade com as antigas fazendas ou também pelo motivo de o local onde foi construída
ser plano e de fácil acesso para os produtores de café. Produto este que neste momento
estava em seu auge. Provavelmente a estação deve ter sido uma das primeiras construções
do lugar.
Em entrevista com uma antiga moradora, dona Sebastiana da Silva Leite (96 anos),
foi relatado que na época de sua infância existiam raríssimas construções no local. As casas
eram bem afastadas uma das outras, e a estação era um ponto de encontro das pessoas.
Segundo ela, seu pai e o já citado Amilcar Neves, sentavam-se todas as noites na estação
para baterem papo, ou seja, a estação tinha outra função além da econômica, serviu de local
de descontração e encontro entre amigos.
Provavelmente, o que trouxe as pessoas para esta localidade tenha sido realmente a
facilidade que a linha férrea proporcionou. Mais rapidez na locomoção, uma maior
capacidade em transporte de mercadorias e também a ligação com regiões até então
isoladas: “as ferrovias não só diminuíam as distâncias [...], como também colaboravam para
reduzir o isolamento em que se encontravam muitas localidades do interior” (HENRIQUES,
2005, p. 65).
Segundo o senhor Wilson Ferreira Pinto, mais conhecido na cidade como senhor
Silico (86 anos), o trem dispunha de três classes: o que carregava apenas as pessoas, o misto
que transportava as pessoas e mercadorias, e o especial que carregava apenas mercadorias.
Os bilhetes de passagens eram adquiridos com o agente, que vendia na própria estação e o
chefe que os vendiam dentro do trem. Cada estação possuía um carimbo para as
19

mercadorias. A estação de Dona Euzébia possuía este carimbo que segue na imagem abaixo.
Este carimbo não possui data.

ACIMA: Carimbo postal da estação, sem datador. O selo circulou no final do século XIX
início do século XX. A agência postal foi criada em 15/07/1881. A mala postal expedida pela
Administração Postal Federal (Rio de Janeiro), que englobava a mala da Administração
Regional, nessa época Ouro Preto, seguia pela E. F. Central do Brasil até Entre Rios, em
seguida pelo Ramal de Porto Novo até Porto Novo do Cunha. A partir daí, pela E. F.
Leopoldina – Linha do Centro - até D. Euzébia. A permuta das malas era diária.
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.BR/efl_mg_linhadocentro/daeuzebia.htm acesso
em 14/10/10

O senhor Silico também disse que os primeiros cafés que foram colhidos em Dona
Euzébia iam para a Estação Ferroviária Barão de Camargo para serem limpos. Somente mais
tarde com esse pequeno movimento surgindo aos arredores da estação é que apareceu a
primeira máquina de beneficiamento de café, propriedade de Amilcar Neves.
Assim também começou a surgir o comércio, como foi o caso do já citado, senhor
Augusto Mendes. Segundo o senhor Vander (80 anos), filho de Augusto Mendes, seu pai era
português e morava nas proximidades de onde atualmente se situa o distrito de Sobral Pinto
(pertencente a Astolfo Dutra). Augusto Mendes comprou a propriedade de Antonio Esteves
Ribeiro em 1920 e começou a construir um comércio e uma casa. Esta propriedade se
localiza em frente à estação. Em 1922 ele inaugurou a “Casa Mendes” como mostra a foto
20

apresentada no capítulo II. Até há pouco tempo, este comércio ainda existia. Hoje, o senhor
Vander alugou o lugar onde era o comércio para uma loja e uma lanchonete. A casa ainda é
habitada por ele e sua esposa.
Mas qual foi o motivo da vinda do senhor Augusto Mendes e outras pessoas para um
local onde ainda não existia um aglomerado urbano? Não chegamos a uma conclusão, mas
temos uma hipótese a apresentar. Se o local já possuía a estação e uma máquina de limpar
café, um comércio não seria má ideia. O local escolhido era bem próximo a esse pequeno
aglomerado que se formava. Ou seja, os cafeicultores poderiam chegar até a Casa Mendes
caso necessitassem comprar algo. Os poucos habitantes também precisavam de um local
para adquirir seus produtos de necessidade básica.
Em 1922, como já afirmamos anteriormente, foi construída uma capela dedicada à
Nossa Senhora das Dores Esta capela se localizava um pouco mais distante da estação,
ficava em um morro, local este onde hoje se localiza a policlínica municipal. Este fator,
aliado aos fatores comerciais, colaborou com o crescimento do povoado.
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4- A ESCOLHA DO NOME – DONA EUZÉBIA

4.1 – As duas facetas da heroína: A imagem idealizada da senhora Euzébia

Em muitos lugares ouvimos histórias de pessoas reais que no imaginário popular são
vistas como heróis. Que superam todos os limites em prol do bem comum. Não é diferente
em Dona Euzébia. Talvez isso seja culpa da história factual que reduz diversos pontos de
vistas privilegiando apenas a narrativa do vencedor, ou da elite que detém o poder. Ou
ainda, talvez seja essa mesma elite que transpassa os fatos ocorridos como atos heróicos,
com o intuito de criar uma memória coletiva ou mesmo a imagem de uma pessoa a ser
seguida e venerada.
Basta perguntarmos o motivo pela escolha do nome da cidade de Dona Euzébia, que
vemos surgir nas respostas essa imagem de heroína. Uma mulher muito bondosa que muito
contribuiu para o desenvolvimento local. Uma mulher que escolheu este local para viver e
apenas pela vontade de ajudar os outros doou terras para que fossem feitas algumas das
principais construções (especialmente a Estação Ferroviária).
Mas será que era apenas isto? Será que essa mulher não tinha interesses particulares,
ou outros objetivos que pudessem nortear seu ato de doar terras? Até que ponto ela se
diferenciou das outras mulheres de sua época? Afinal, ela como ser humano tinha limitações
financeiras, ligações afetivas, laços familiares, além de outros interesses particulares. Não
podemos nos esquecer de que, tendo ficado viúva, ela recebeu a tarefa de administrar os
bens de seu marido. Todos os seus atos deveriam visar não apenas o bem-estar social, mas
também o de sua família. Assim sendo, há de se questionar se seu ato foi puramente por
bondade ou se poderia haver algum interesse por trás disso tudo.
Além do mais, doar as terras para a construção da estação poderia trazer benefícios
para todos, mas, sem dúvida traria ainda mais para ela e os seus. O espaço doado para este
fim representava uma pequena área produtiva. Por outro lado, é grande o benefício com
transporte, uma vez que não precisava deslocar a produção a longas distâncias para
embarcá-la. Estando a estação localizada em sua propriedade, a produção era embarcada ali
mesmo, o que evitava despesas.
Não queremos com essas assertivas dizer que a senhora Eusébia era uma mulher que
trabalhava de acordo com interesses particulares, sem nunca pensar no bem comum, não é
isto. Queremos apenas desmitificar esta imagem de heroína que surge quando falamos dela.
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Não podemos julgar todos seus atos como egoístas ou maldosos. Mas também não podemos
achar que todos foram fruto de profundo altruísmo, sem jamais se preocupar com questões
íntimas. Devemos observá-la como uma mulher comum, fruto de seu tempo, cujos atos,
intencionalmente ou não, contribuíram para o surgimento do município.
Sabemos ainda que, se por um lado ela foi importante para o desenvolvimento local,
outras pessoas também tiveram tanta importância ou mais que ela. Porém, devido à
factualidade, foi ela quem recebeu a homenagem, e os outros atores foram colocados em
papéis secundários ou simplesmente negligenciados. Procuramos evitar aqui os pré-juízos e
dar o devido valor a cada um, visando sempre um objetivo específico, que é entender melhor
o surgimento do povoado que recebeu o nome de Dona Euzébia.
Sendo assim, percebemos nesta história de Dona Euzébia que, apesar do senso-
comum atribuir a ela essa personagem principal, outras pessoas que aqui viveram desde o
final do século XIX, e início do XX, foram também de suma importância para o surgimento
deste povoado. Pois todos, de forma direta ou indireta, deixaram suas marcas na história
desta cidade.

4.2 – Os fatores que levaram à escolha deste nome

Após ter falado de algumas pessoas que muito contribuíram para o desenvolvimento
de Dona Euzébia. Surge então o questionamento: por que foi escolhido o nome de “Dona
Euzébia” para este local? O nome escolhido da cidade poderia homenagear outros, por
exemplo, Augusto Mendes ou Amilcar Neves. Ou, ainda já que ela veio com toda família,
por que o município não herdou o nome de Domingos, que era o patriarca da família? O que
fez com que a região passasse a ser conhecida como Dona Euzébia? São estas as questões
que tentaremos responder neste tópico.
De fato, o nome não foi escolhido em plebiscito, nem em uma reunião de um
conselho municipal ou indicações em solenidades. Porém, desde muito cedo, o nome foi
assimilado a este local, que de forma natural começou a ser chamado de Dona Euzébia.
Segundo registros do Jornal Cataguazes esta denominação já caracterizava a região em
1906. “Na estação de Dona Euzébia, Estrada de Ferro Leopoldina vende-se uma situação
agrícola em 18 alqueires de terras...” (Jornal Cataguazes, 25 de fevereiro, 1906, ano I, nº 5,
p. 4).
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Talvez, um dos motivos da sobreexcelência do nome Dona Euzébia se deva ao fato


de sua fazenda abranger a região onde se iniciou o arraial (próximo à estação). Além disto, a
doação de terras para a estação proporcionou notoriedade à esta mulher que, como já
dissemos, passou a ser vista como exemplo de altruísmo.
De acordo com o Registro de terras de Santa Rita do Meia Pataca (atual Cataguases)
em 1856, seu marido Domingos de Souza Lima, declarou possuir terras neste local (anexo
4). Porém em 1857, há registros – citados no capítulo I – de que sua filha vendeu terras de
herança deixada por seu pai. Isto deixa uma possível evidência que ele tenha falecido entre
1856 e 1857.
Então com a morte de seu marido neste período, a senhora Eusébia assumiu a
administração dos negócios da família, havendo desta foram a real possibilidade de ter sido
ela quem doou terras. Porém não nos cabe especular, mas sim interpretar as fontes. Como
neste caso não foram encontrados registros de doações de terras, a única forma a qual
podemos recorrer são as fontes orais, de pessoas cuja infância ocupa a década de 1920, mas
que têm auxílio das recordações das histórias contadas pelos seus pais. Desta forma é
possível recorrer pela memória deles até o inicio do século XX ou mesmo até o fim do XIX.
Entre os colaboradores entrevistados é unânime a afirmativa de que foi Dona Eusébia quem
doou as terras. Desta forma entendemos que possa ter sido ela quem de fato doou as terras
para a construção da estação. Pelo menos é isso que indicam o senso comum e os registros
orais coletados.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não pretendemos dar este trabalho por concluído, pois acreditamos que há ainda
muito para se pesquisar a respeito deste tema. Pretendemos somente deixar nossas
considerações finais sobre ele. Longe de encerrá-lo pretendemos dar direito de que após
este, outras pessoas também intervenham e possam contribuir para a continuação do tema. O
que fizemos foi somente dar nosso ponto de vista.
Apresentamos um capítulo referente à História Regional, acreditamos que essa
contribuiu muito para a compreensão do nosso estudo a respeito de Dona Euzébia. Vimos
como se deu o processo de formação do povoado de Dona Euzébia, de seu início em finais
do século XIX, até a segunda década do século XX. Também deixamos informações de
outros moradores que viviam nesta região até antes mesmo da família da senhora Eusébia,
como foi o caso de Guido Marliéri, dos índios e outros moradores que, apesar de até agora
ocultados pela História factual, também foram de extrema importância para o começo do
povoamento.
Dessa forma, procuramos contestar as únicas fontes que até então estavam
disponíveis para pesquisas, mostrando que não podemos ser passíveis a acreditar numa
única história capaz de contar toda verdade, mas que existem vários pontos de vista sobre
um mesmo assunto, e que todos precisam ser averiguados e, se for o caso, confirmados ou
refutados.
Nosso intuito realmente foi entender o efetivo surgimento do povoado,
caracterizando as pessoas que tiveram importância para a consolidação deste município.
Mostramos que esta história factual com heróis não é a melhor e o que faz uma história são
situações das mais diversificadas e também não só uma pessoa, mas toda que estão presentes
naquele contexto.
Ao final deste trabalho, esperamos que ele tenha sido de real importância para uma
melhor compreensão do início do povoamento de Dona Euzébia por seus cidadãos, e que
eles tenham essa história como um patrimônio, observando com mais interesse este assunto.
Pois a história de uma cidade é um patrimônio que precisa ser conservado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes Primárias:

Cartório de Registro Civil de Astolfo Dutra, Livro de Escrituras n° 6


Jornal Cataguazes 1906, ano I, nº 5.

Fontes secundárias:

AGUIAR, José Otávio. Memórias e Histórias de Guido Thomaz Marliéri (1808-1836): A


transferência da Corte Portuguesa e a tortuosa trajetória de um revolucionário francês no
Brasil. Campina Grande: EDUFCG, 2008.
ALVES, Pedro; SCHALLENBERGER, E.; BATISTA, Alfredo Aparecido. A História
Regional: desafios para o ensino e a aprendizagem. Akrópolis, Umuarama, v. 13, n.1, 2005.
AMADO, Janaína. História e região: reconhecendo e construindo espaços. In: SILVA,
Marcos A. da. República em migalhas: História Regional e Local. São Paulo: Marco Zero,
1990.
BLASENHEIM. Peter L. As Ferrovias de Minas Gerais no século XIX. Locus: Revista de
História, Juiz de Fora: Núcleo de História Regional / Departamento de História / Arquivo
Histórico/ EDUFJF, v.2, n.2, 1996.
FERREIRA, A.B.H. Aurélio século XXI: o minidicionário da Língua Portuguesa. 4. ed. rev.
e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
HENRIQUES, Alen Batista. Epidemias e Urbanização: surtos de febre amarela na
Cataguases oitocentista. Dissertação (Mestrado em História) UFRJ, Rio de Janeiro, 2005.
OLIVEIRA, Ana Paula de Loures; SIMÕES, Maria Cecília dos Santos Ribeiro. Pré-
história, Etno-história e outras Histórias da Zona da Mata Mineira. In: LANZIERI JÚNIOR,
Carlile; FRADE, Inácio. Muitas Cataguases: novos olhares acerca da história regional. Juiz
de Fora: Editar, 2006.
SANDRA, Pesavento. História regional e transformação social. In: SILVA, Marcos A. da.
República em migalhas: História Regional e Local. São Paulo: Marco Zero, 1990.
TÉTART, Philippe. Pequena história dos historiadores. Bauru: EDUSC, 2000.
26

Anexos
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Anexo 1

Texto intitulado “História de Dona Euzébia – MG”. Fonte: Centro Cultural de Dona Euzébia.
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Anexo 2

Certidão de Óbito de Eusébia Joaquina de São José. Fonte: Centro Cultural de Dona Euzébia.
29

Anexo 3

Registro de Terras do Meia Pataca – Censo 1831. Fonte: Mapa dos Habitantes do Distrito da Capela de Santa
Rita do Meia Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO.
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Anexo 4 (1)

Registro de Terras de Domingos de Souza Lima em 1856. Fonte: Registro de Terras de Santa Rita do Meia
Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Doc. TP 120 Fl 60v. Termo 661 – 17/03/1856.
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Anexo 4 (2)

Registro de Terras de Domingos de Souza Lima em 1856. Fonte: Registro de Terras de Santa Rita do Meia
Pataca. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Doc. TP 120 Fl 61. Termo 661 – 17/03/1856.
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Anexo 4 (3)

Folha 60verso

[parte inferior]

Nº 117

Eu abaixo assignado declaro que possuo dentro desta Freguezia uma Fazenda denominada
= Cachoeira do Pomba a qual houve por compra que fiz a Manoel José de Carvalho e sua
mulher e a José Gomes da Costa e sua mulher e depois ao herdeiros do dito José Gomes da
Costa, levarão duzentos alqueires de planta pouco mais ou menos. Divide com Fabiano
Marques da Costa com a Fasenda que foi de Emigdio, e Rio Pomba abaixo com a

Folha 61

Fasenda que foi de meu mano Manoel de Sousa Lima. E para constar mandei fazer este em
duplicata para ser registrado e somente assigno. Fazenda da Cachoeira vinte e sete de
fevereiro de mil oito centos e cincoenta e seis. Domingos José de Sousa Lima. = Nada mais
continha o dito exemplar em duplicata que fielmente copiei, estando em tudo conforme aos
proprios originaes aos quaes me reporto; um em poder do appresentante e outro que fica
archivado. Meia Pataca em dezasete de Março de mil oito centos e cincoenta e seis. Eu
Carlos da Silva Pinheiro, Escrivão Interino do Registro o escrevi.

O Vigrº Casimiro Rodrigues de Oliveira.

Transcrição do Anexo 4 (1) e 4 (2). Fonte: Associação dos Arquivistas Brasileiros. Normas Técnicas para
Transcrição e Edição de Documentos Manuscritos publicada pela Associação dos Arquivistas
Brasileiros. Rio de Janeiro: AAB, 2001.

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