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Clarisse

Clarisse acordou com olhos virados para dentro, vendo escuridão e dor
onde deveria haver amor.

Mas Clarisse nunca soube o que havia lá dentro e resolveu descobrir.

Andando dentro de si descobriu uma corda e com ela escalou o muro de


musgos pulando para o outro lado que ainda estava bem escuro, e seguindo
uma borboleta lilás fosforescente chegou a uma janela que dava visão às
brumas densas lá em baixo, pois ela estava numa torre muito alta, uma torre
inatingível que era mesmo sua inabalável alma!

Olhando para dentro e ao seu redor, Clarisse viu? Lápides frias de todas as
fases de sua vida, enterradas e nada fazia sentido.

Assustada, ela correu, mas as lágrimas embaçavam-lhe avista e suas pernas


pareciam feitas de chumbo, pois cada passo era uma penúria insana... seus
pés estavam grudando no chão e tornando-se parte dele.

A pobre começou a cavar suas pernas com as unhas, a fim de livrar-se de sua
prisão tão inusitada.

Clarisse chorava e com suas lágrimas lavou o sangue das feridas de suas
mãos que revelavam pouca carne e alvos ossos frágeis prontos para serem
esmagados.

Arrastando-se por entre corredores (pois os pés haviam sido deixados para
trás) ela buscava por uma saída. Mas todos os caminhos da torre lha faziam
retornar à saleta da torre com lápides e para janela retorcida.

Seu corpo enegrecia-se toda ela começava a fazer parte de toda sua escuridão
mental. Já estava a acostumar-se com o frio quando mais uma vez encontrou-
se diante da janela. O que poderia haver além daquelas brumas lá em baixo?
Nada poderia ser pior do que aquele labirinto sem entrada e sem saída.
Fechou os olhos com muita força e atirou-se pela janela. Passou tanto tempo a
cair que não sabia precisar com exatidão o tempo que passou assim.
Lembrava apenas da sensação de liberdade ao perceber-se caindo... caindo...
até que finalmente seu corpo sentiu o impacto surdo sobre os arbustos cheios
de espinhos que não lhe furaram a carne já tão machucada. Apensar do denso
nevoeiro e da falta de luz, Clarisse sentia arder-se toda e como a sentir febre
seus músculos queimavam, e para sua surpresa, seus pés estavam nascendo
de seus tornozelos. Aquela era mesmo uma cena peculiar: seus ossos
retorciam-se para que novos pés nascessem.

Aturdida, caminhou pelo jardim seco e malfadado ao descaso, atravessou um


portão enferrujado e nunca mais voltou.

O sol intenso acariciou com seu calor as pálpebras de Clarisse que acordou
com os olhos virados para fora e nunca mais retornou para dentro de si
mesma.

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