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1. Análise das estruturas estróficas, métrico-rimáticas e melódicas.

O texto divide-se em três estrofes. A divisão em duas partes – sendo a primeira


constituída pelas duas primeiras estrofes e a segunda pela última. O texto se encontra
organizado numa linha evolutiva (assente na gradação). O tipo das estrofes é sextilha e tem o
esquema aabccb.

2. Análise da camada fónica: valor expressivo das vogais e consoantes; insistência


em sons de valor expressivo (aliterações, assonâncias); recursos sonoros (homeoteleuto,
anominação, paronomásia, onomatopeia, etc.); prosodemas (traços suprassegmentais);
sinais de pontuação e entoação.

A intervenção dos portugueses (nós) desencadeou a patição do mar em dois – o de


antes (símbolo do desconhecido, provocador de medos) e o de depois. O de antes (antérior a
nós), carregado de medos ( notar a aliteração em t, vv1-2), encerrava sob a ocultação desses
medos o sonho de atingir espaços até aí por descobrir(«coral e praias e arvoredos» - notar o
polissíndeto, o tom gradativo, a sugestão do mar que sempre atraiu os portugueses).
E depois que «as naus da iniciação» (v. 6 – notar a solicitação do esoterismo)
desvendaram o oculto (esoterismo, «a noite e a serração» - v.3), enfrentaram os perigos do
mar ( as tormentos e o mistério – v. 4), as descobertas tornaram-se realidade. É esse o mar de
depois: «Abria em flor o Longe, e Sul sidério / ’Splendia» (vv. 5-6 – notar a aliteração em s e
a rima interna abira / ’splendia, o uso de maiúsculas e a grafia especial de ‘splendia – tudo
com a intenção de exprimir novidade).

3. Análise da camada léxica: tonalidade emotiva das palavras; adjectivos,


substantivos, formas verbais; palavras evocativas (estrangeirismos, arcaísmos,
regionalismos, etc.); a linguagem figurada (imagens e metáforas, metonímias,
sinédoques, etc.)

Na primeira estrofe encontramos uma oposição implícita. A oposição refere o mar


anterior aos Descobrimentos portugueses (medos, noite, cerração, tormentas, mistério –
substantivos que contêm a ideia de desconhecido, que remetem para a face oculta da
realidade) e o mar posterior a esse feito (coral e praias e arvoredos, Desvendadas, Abria,
´Splendia - palavras que contêm a ideia de descoberta).
É à realidade de descobertas que se refere a segunda estrofe do texto. As naus da
iniciação deparam primeiro com a «Linha severa da longínqua costa» (v. 6 – notar que
longínqua costa surge como simbolizando as terras descobertas; notar ainda a adjectivação
psicológica «linha severa» e o quiasmo morfossintáctico nome, adjectivo + adjectivo, nome –
v.7).
A forma verbal dominante na segunda parte do texto é o presente do Indicativo
(aproxima, ergue-se, abre-se, há). A intenção é dar uma imagem presente, em cima do
momento real, exemplificativa das abordagens do território desconhecido, das descobertas.
Na segunda parte define-se o sonho. E, à primeira vista, parece não existir qualquer
ligação entre o que se afirma e as duas estrofes anteriores. Mas as referências dos vv. 16 e 17
à linha fria do horizonte (notar a insitência no lexema do título) e à árvore, à praia, à flor, à
ave, à fonte estabelecem a relação que faltava. Afinal, foi através do sonho, adjuvados pela
esperança e pela vontade (ambas com uma intervenção decisiva na concretização dos sonhos),
que os portugueses conseguiram tantos e tão excelentes sucessos no mar, e foram capazes de
rasgar o «horizonte» (ligar com o título do poema). No verso primeiro da terceira estrofe
temos o uso da antítese - ver/invisíveis. Na terceira estrofe predominam já os infinitivos (ver,
buscar), pretendendo o poeta, através deles, sugerir abstracção e eternidade.

4. Análise da camada sintáctica: figuras de sintaxe e seu valor estílistico (elipse,


pleonasmo, hipérbato, anástrofe, assíndeto, anacoluto, etc.); tipos de frases; extenção dos
períodos; a ordem dos termos na frase e a sua função estilística.

Notar como, na segunda estrofe, se revela o estilo cinematográfico. É nítida a


economia de meios e o efeito de zoom: o impressionismo do v. 7, a elipse incidindo sobre os
predicados, o tom gradativo (longínqua, aproxima, mais perto, abre-se a terra, desembarcar...),
a simbologia relacionada com o ambiente do mar (linha severa, longínqua costa, Longe).

5. Análise da semântica (semiose): temas e mensagens.

“Horizonte” enquadra-se nesse “contar da história”. Neste poema de grande lirismo e beleza,
Pessoa descreve o encantamento dos navegadores quando, ao aproximarem-se de
desconhecidas costas, tornavam concreto o que antes era apenas abstracto (mistério). O
descobrimento como revelação, segue o tema geral de Mensagem, que é uma obra
eminentemente intelectual, ocultista, simbólica. Em verdade, os navegadores não poderiam
revelar conscientemente, porque não eram – crê-se – habilitados para tal, pois não eram
“iniciados” nas artes ocultas que Pessoa tão bem domina. Se revelam, é então porque uma
vontade superior os leva a tal e lhes controla o Destino. É caso para dizer que enquanto o
iniciado compreende, o não iniciado cumpre.
A Mensagem é o único livro de Fernando Pessoa publicado em vida, composto por
uma colectânea de poesias breves e concisas, que obedecem a uma certa unidade de
inspiração. A poesia da Mensagem é uma poesia épico-lírica, partindo dum núcleo histórico e
assentando num certo simbolismo e misticismo. Tal aspecto atribui aos seus versos uma
“densidade poética e sugestão rítmica insuperáveis”. Há na Mensagem uma transcrição da
história de uma nação, mas transfigurada, onde as personagens históricas se transfiguram em
personagens míticas, ascendendo ao plano da realidade através do seu arquétipo. Da mesma
forma, todos os heróis da Mensagem, assumindo a sua vida humana e efémera, são
incumbidos de revelarem neste mundo uma realidade que os transcende. Fernando Pessoa
“tentou captar um ser para além do tempo e do espaço: esse feito de sentido de eternidade e
transcendente que múltiplas vezes terem formulado na sua obra como ideal a atingir”.
Horizonte corresponde ao tempo da “acção épica”, temas inspirados na ânsia do desconhecido
e no esforço heróico da luta contra o Mar, local de todas as coragens, medos e dores. Partindo
das referências ao mar, às naus, às costas descobertas, para uma definição de sonho,
apresentada com a intenção de justificar todo o empreendimento realizado pelos portugueses
no âmbito das descobertas.

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