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A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO

Por: Antonio Rocha Fadista - M.·..I.·.

Platão, chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, assim se expressou: “os homens e
os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons
diferentes; os homens se distinguem facilmente pelo seu modo de falar”.

O pensamento do filósofo Iniciado nos oferece uma excelente oportunidade para uma profunda
reflexão, principalmente para todos os que integram a Ordem Maçônica.

Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que
proferimos, por serem elas a expressão do poder do pensamento e da transmissão das nossas
idéias e sentimentos, tornando-se assim o centro emissor de vibrações tanto positivas quanto
negativas.

Existe um elemento que realmente identifica o Homem como sendo a síntese de todas as
forças vitais, como o ser que interliga todos os planos, do mais denso como o mineral, ao mais
sutil, como o divino, que cada um tem dentro de si. Este elemento é a palavra, intimamente
ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana.

No mundo profano a palavra, falada ou escrita, é usada indiscriminadamente e muitas vezes é


usada mais na prática do mal do que do bem. A sociedade humana está cheia de palavras que
ofendem, que humilham, que magoam e que denigrem a honra do próximo. Se se trabalhasse
mais e se falasse menos, com certeza que a humanidade teria uma vida comum mais evoluída
e mais civilizada; infelizmente, existem palavras em excesso não só no mundo profano como
também nos Templos Maçônicos.

Tal situação é inconcebível em um Maçom, orientado que é para refletir sobre a realidade e
sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser
humano.

Não por acaso a doutrina Maçônica reserva o silêncio ao Aprendiz, de acordo, aliás, com a
Tradição Pitagórica.
A entrada da Escola fundada pelo Filósofo de Samos, na cidade de Crotona - onde o
isolamento do mundo externo era total - exibia a seguinte advertência: “Proibida a Entrada de
Profanos”. Esta Escola tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o
de Perfeição. Os neófitos, proibidos de falar, eram só ouvintes e cumpriam um período de
observação, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. Para atingir o Mestrado,
era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Sem dúvida, constitui uma grande prova para todos e também para o Aprendiz, ouvir os
Companheiros e os Mestres sem poder falar. Chílon, um dos sete sábios da Grécia Antiga,
quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia: calar.

No mundo maçônico, a dimensão da palavra falada e escrita não é diferente. Na Maçonaria, a


relação palavra-linguagem assume tanto os fatos exteriores quanto o ato individual, como
pensamento puro que se exprime através da fala ou da escrita.

No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras
sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos.

Ao entrar em nossa Sublime Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade


da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser
sempre dosada, moderada, e espelhar o equilíbrio interno do orador. Como dizia o Irmão Dante
Alighieri na Divina Comédia, exortando o personagem Metelo : “usa a tua palavra como um
ornamento”.

À primeira vista, o silêncio do Aprendiz poderia parecer um condicionamento e um castigo; na


realidade, o silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das
paixões e dos maus pensamentos. Além de exercitar a autodisciplina, em seu silêncio o
Aprendiz apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê. Na
realidade, o Aprendiz dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, ele analisa, critica e tira suas
próprias conclusões: em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula o Aprendiz a desenvolver a
arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real.

Ao cruzar as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo os conceitos de liberdade total,
sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o Aprendiz paulatinamente aprende a
controlar os seus impulsos pela prática espartana do silêncio, aprimorando o seu caráter e
preparando-se para ser mais um líder da Magna Obra de construção da sociedade do futuro,
na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade
solidária.

Tudo se resume na prática da Lei do Amor. O amor se oferece; não se pede e também não se
exige. Certamente que o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que
pensam mais do que falam, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais
diletos.

Em tempo: o Aprendiz não só pode, como deve se manifestar, principalmente quando tiver
informação relevante sobre qualquer candidato à Iniciação. Basta pedir a palavra ao Vigilante
de sua coluna.

Sincera e Fraternalmente!

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