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ISSN 1980-3540

03.02, 28-31 (2008)


www.sbg.org.br

Proposta de Atividade Dinâmica Como Ferramenta de


Ensino da Estrutura de DNA
Itácio Queiroz de Mello Padilha1; Marsílvio Gonçalves Pereira2.
1
Núcleo de Difusão Biotecnológica, Departamento de Biologia Molecular, Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Cidade Universitária - CAMPUS I, 58051-900, João Pessoa, PB,
Brasil.
E-mail: itacio@gmail.com
2
Departamento de Metodologia da Educação, Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Cidade Universitária - CAMPUS I, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil.
E-mail: marsilvioeduc@gmail.com
Autor para correspondência: Itácio Queiroz de Mello Padilha, Núcleo de Difusão Biotecnológica, Departamento de Biologia Molecular, Universidade Federal da Paraíba, Cidade
Universitária - CAMPUS I, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil. Fone: (83) 3216 7436.
E-mail: itacio@gmail.com

Palavras-chave: ensino de genética, metodolo- estrutura do DNA pode ser visto como sendo uma es-
gia de ensino, estrutura de DNA. cada torcida, na qual os lados da escada são formados
por uma seqüência alternada de açúcar e fosfatos. Ligado
Resumo a cada açúcar está uma base: adenina (A), guanina(G),
A utilização de atividades dinâmicas é uma alter- citosina(C) ou timina(T). As bases tendem a formar pares
nativa metodológica que se pode e deve ser realizada em específicos entre elas que são estabelecidos por pontes de
sala de aula, em especial, no ensino de Genética, que hidrogênio. Assim, citosina e guanina tendem a ligar-se
possibilita a interação do estudante com o objeto, em um preferencialmente uma com a outra por três pontes de
processo ativo de transformação na busca do conheci- hidrogênio; adenina e timina tendem a ligar-se preferen-
mento. O presente trabalho propõe uma atividade dinâ- cialmente, e essa ligação é estabilizada por duas pontes
mica para estudantes do ensino médio, no sentido de in- de hidrogênio (GRIFFITHS et al., 2006).
tegrar os conhecimentos do currículo de biologia acerca Os benefícios da apresentação de modelos didáti-
da estrutura da molécula do DNA. A atividade dinâmica cos são amplamente reconhecidos. Existem, para comer-
“Montando a Molécula de DNA” estimulou o aprendiza- cialização, modelos da molécula de DNA construídos
do das características da estrutura do DNA. Esta ativida- com diferentes materiais e com diferentes possibilidades
de mostrou-se dinâmica, integradora e economicamente de aplicação em salas de aula. Porém, os modelos comer-
viável, o que torna o “Montando a Molécula de DNA” cializados, na maioria das vezes, são muito caros (SEPEL
uma opção para professores e alunos reforçarem os con- e LORETO, 2007). Como alternativa, existem propostas
teúdos curriculares de Biologia. para a construção de modelos didáticos da molécula de
DNA empregando diversos materiais acessíveis. Esses
Introdução modelos, contudo, envolvem tempo para preparação e
A Genética, como salienta BANET e AYUSO exigem do executor habilidades especiais, o que também
(1995), constitui-se de um conteúdo de difícil com- limita a sua aplicação (SEPEL e LORETO, 2007).
preensão para os alunos. A dificuldade se deve tanto à A utilização de atividades dinâmicas é uma alter-
complexidade dos conceitos que essa área comporta, nativa metodológica que se pode e deve ser realizada
como à forma da escola conceber, organizar e desen- em sala de aula, em especial, no ensino de Genética,
volver o ensino. que possibilita a interação do estudante com o objeto,
Um dos grandes marcos da Biologia no século em um processo ativo de transformação na busca do
XX foi a descrição de uma estrutura de ferro e madeira, conhecimento. O uso dessas atividades seja por dinâ-
imitando uma hélice dupla usada pelos cientistas James micas de grupo ou oficinas, na perspectiva pedagógica,
Watson e Francis Crick (WATSON e CRICK, 1953). O se contrapõe ao ensino tradicional e considera o indivi-
modelo passou a permitir também o entendimento de duo como um organismo ativo, inteligente, em plena e
como ocorrem as mutações celulares, como a molécu- permanente interação com o espaço em que vive. Des-
la se replica e a própria linearidade da codificação da sa forma, pode-se ensinar de forma mais humanizada,
mensagem genética (MENDONÇA e LOPES, 2003). A respeitando as culturas e os valores dos alunos partici-

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pantes (BORGES-NETO, 1998). É neste sentido que o Resultados e Discussão
presente trabalho propõe uma atividade dinâmica para A presente atividade deve ser desenvolvida no con-
estudantes do ensino médio, no sentido de integrar os texto de uma apresentação teórica sobre os aspectos histó-
conhecimentos do currículo de Biologia acerca da es- ricos e conceituais sobre a molécula do DNA. Para efeito
trutura da molécula do DNA. neste artigo, o professor apresentou a seguinte seqüência:
“AGTGACAC” (fita azul) e “TCACTGTG” (fita verde) e
Objetivos explicou o passo a passo da atividade. Com o conhecimen-
Esta atividade interativa tem como proposta au- to em mãos, a atividade dinâmica “Montando a Molécula
xiliar o ensino e a aprendizagem do conteúdo curricular de DNA” estimulou o aprendizado das características da
referente à molécula de DNA. O objetivo é simular a estrutura do DNA, tais como: cadeias em dupla hélice e o
construção de um modelo em escada do DNA, utilizan- modelo em escada; o esqueleto hidrofílico composto por
do-se de materiais e representações dos próprios alunos, desoxirribose e fosfato no exterior da molécula (esqueleto
possibilitando o estudo de aspectos como a composi- açúcar-fosfato); as bases nitrogenadas (hidrofóbicas) para
ção, ligações químicas e da estrutura do DNA de forma o interior da molécula; os emparelhamentos específicos
dinâmica e inovadora. das bases em função do número de pontes de hidrogênio
entre as bases (Adenina sempre emparelha com Timina,
Materiais formando duas pontes de hidrogênio e Citosina sempre
Folhas de papel guache verde e Azul; folhas de emparelha com Guanina com três pontes de hidrogênio);
borracha (várias cores) do tipo E.V.A. (Etil Vinil Aceta- as fitas são anti-paralelas, enquanto uma fita está em sen-
to); caneta hidrocor preta; cordão de nylon; barbante e tido 5’–3’, a outra está no sentido 3 ’-5’. Esta atividade
clipes de papel. piloto foi realizada com estudantes de graduação do Curso
de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPB e foram
Metodologia obtidos resultados satisfatórios com ampla aceitação de
No sentido de revisar e integrar os conteúdos es- professores e alunos (Figura 2).
tudados durante as aulas, é proposta uma atividade dinâ- O uso de atividades dinâmicas pode facilitar o en-
mica chamada “Montando a Molécula de DNA”. Nesta tendimento acerca do DNA devido às dificuldades de se
atividade, cada aluno receberá uma representação de ensinar estes conceitos apenas com aulas teóricas. A bus-
nucleotídeos aleatórios e um conjunto de representações ca por atividades dinâmicas e economicamente viáveis
de pontes de hidrogênio. torna a atividade “Montando a Molécula de DNA” uma
Cada nucleotídeo é produzido com uma folha opção para professores e alunos reforçarem os conteúdos
de papel guache como base e com desenhos represen- curriculares de Biologia.
tativos dos componentes do nucleotídeo em folhas de
borracha do tipo E.V.A: grupo fosfato (amarelo); pen- Referências
tose (azul); bases nitrogenadas (Adenina [salmão], Ti- BANET, E. e AYUSO, E. (1995) Introducción a la genética en la
enseñanza secundaria y bachillerato: I contenidos de enseñanza
mina [vermelho], Citosina [verde] e Guanina [laranja])
y conocimientos de los alumnos. investigación y experiencias
(Figura 1.A e 1.B). As pontes de hidrogênio são repre- didácticas. Enseñanza de las Ciencias, 13 (2):137153.
sentadas por tiras barbantes (~20 cm) com clipes de
BORGES-NETO, H. (1998) Uma classificação sobre a utilização
papel nas extremidades (Figura 1.C). São feitos dois do computador pela escola. Versão re-elaborada de um trabalho
furos no papel guache para que o cordão sustente os apresentado no Simpósio “Novas abordagens da comunicação na
nucleotídeos como um colar nos alunos. Foi construí- escola: a sala de aula adequada como processo comunicacional”
do um conjunto de nucleotídeos para dezesseis alunos, ao XI ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Prática de
Ensino. Águas de Lindóia – SP.
mas a atividade pode ser realizada com mais alunos.
É importante destacar a criação de uma dupla fita de GRIFFITHS, A. J. F. WESSLER, S. R; LEWONTIN, R. C.;
DNA, uma verde e outra azul, com uma seqüência pré- GELBART, W. M. e SUZUKI, D. T. (2006) Introdução à Genética.
8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
determinada pelo docente.
Com o material pronto, o professor pode então MENDONÇA, V. L. e LOPES, S. (2003) DNA: Passado,
Presente e Futuro. BIO. Ed. Saraiva. Disponível em: http://
explicar as regras da atividade. O professor distribuirá biosonialopes.editorasaraiva.com.br/navitacontent_/userFiles/
aleatoriamente um nucleotídeo para cada aluno e dei- File/SoniaLopes_Powerpoints/SoniaLopes_Textos_Atualiza_o/
xará as ligações de pontes de hidrogênio ao alcance de dna.pdf, acesso em 27 de janeiro de 2008.
todos. Após apresentada a seqüência da dupla fita para SEPEL, M. N. e LORETO, E. L.S. (2007) Estrutura do DNA em
todos os alunos, estes terão que se organizar para mon- Origami – Possibilidades Didáticas. Rev. Genética da Escola,
tar uma molécula de DNA apresentada no menor espaço 02.01, 3-5.
de tempo possível. WATSON, J. D. e CRICK, F. H. (1953) A Structure for
Deoxyribose Nucleic Acid. Nature 171, 737–738

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A

C
Figura 1 – Representação esquemática dos nucleotídeos (A); Nucleotídeos com bases púricas (A) e pirimídi-
cas (T); (B) e a representação do modelo de pontes de hidrogênio utilizadas na atividade “Montando a Molécula de
DNA” (C).

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Figura 2 – Realização da atividade dinâmica “Montando a Molécula de DNA” com alunos de graduação da
UFPB, em abril de 2008.

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