Os estudos antropológicos no Brasil não seguiram numa linha teórica única,
tendo elas opiniões divergentes quanta à miscigenação do povo brasileiro. Por alguns estudiosos a miscigenação do brasileiro era um fator positivo, pois favorecia construção de um povo de raça forte. Outras linhas de estudo indicavam essa mesma miscigenação como um fator extremamente negativo na construção do brasileiro por levar à fraqueza do povo. Daí surgiram as teorias do embranquecimento e eugenistas, que propunham a mistura da raça européia com a brasileira, para que gradativamente o povo se embranquecesse, transformando-o totalmente numa raça branca. Aí constatamos a visão eurocêntrica que pregava a superioridade dos brancos diante dos outros povos. Euclides da Cunha anunciava que a essência brasileira era o sertanejo, pois ela era puramente brasileiro, sem nenhum traço indígena, africano, etc. Esse sim seria o homem brasileiro “puro”, a “rocha viva”. A argumentação da antropologia com relação ao Brasil era política e científica, operando sobre os corpos por intermédio da medicina social, organizando os espaços das cidades na materialização de uma ordem social inovadora. Assim, esse estudo trouxe transformações para a sociedade, que teve que se ordenar. Nessa nova formatação social os indivíduos que ocupariam a cidade deveriam ser escolarizados, tirados da ignorância e apresentados à civilização. No Brasil os antropólogos eram médicos e biólogos, que detinham toda a atenção por conta de seu lugar privilegiado na sociedade. Dentre esses estudiosos, destaco Roquette Pinto, que junto a Cândido Mariano da Silva Rondon, teve suma importância na antropologia brasileira. Traço adiante um resumido histórico de sua vida e de suas atuações no Brasil. Nascido no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, em 25 de setembro de 1884, filho do rico advogado Manuel Menélio Pinto e de Josefina Roquette Carneiro de Mendonça, o médico, antropólogo e educador brasileiro Roquette Pinto dedicou boa parte da sua vida a construção e desenvolvimento do Brasil. Com o objetivo de difundir cultura e educação ao país, Roquette Pinto foi o precursor da radiodifusão brasileira. Eleito em 20 de outubro de 1927, terceiro ocupante da Cadeira 17, na sucessão de Osório Duque-Estrada e recebido pelo Acadêmico Aloísio de Castro em 3 de março de 1928 na Academia Brasileira de Letras. Roquette Pinto não foi criado pelo seu pai, mas pelo seu avô materno, o fazendeiro João Roquette Carneiro de Mendonça que lhe pagou os estudos e transmitiu seu amor à natureza. A alteração do seu nome de registro se deu devido ao pouco contato com a família de seu pai, passando de Edgard Roquette Carneiro de Mendonça Pinto Vieira de Mello, para Edgard Roquette Pinto. Além de seu avô, outros dois homens desempenharam papéis importantes na sua vida: o biólogo Francisco de Castro que o convenceu a ingressar no mundo da medicina e da biologia, assim desistindo de tornar-se oficial da Marinha. O segundo, o médico Henrique Batista, que o converteu ao Positivismo (uma doutrina fundada pelo francês Augusto Comte segundo a qual a redenção do homem se daria pelo conhecimento). Mesmo sendo bastante estudioso, Roquette sentia-se atraído para fora das instituições convencionais de ensino. Em sua tese de formatura intitulada: O Exercício da Medicina Entre os Indígenas da América, já era possível prever seu interesse futuro: a antropologia. Roquette Pinto fez o curso de humanidades no Externato Aquino, ingressando em seguida, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Após sua formatura iniciou uma série de estudos sobre os Sambaquis no Rio Grande do Sul, estudando as jazidas de conchas, ossos e utensílios do homem pré-histórico que habitou o litoral da América. Após algum tempo, Roquette Pinto deu uma reviravolta em sua carreira tornando-se professor concursado da cadeira de antropologia e etnografia do Museu Histórico Nacional, na Quinta da Boa Vista. Como professor assistente de Antropologia no Museu Nacional em 1906, tornou-se em pouco tempo conhecido como um dos mais sérios antropólogos que o país conhecera. Em 1911, ele conheceu no Museu o homem que viria a ter muita importância em sua vida, o tenente-coronel Cândido Mariano da Silva Rondon. Rondon também era positivista, assim como Roquette e também acreditava na ciência e na fraternidade como instrumentos fundamentais para o progresso do país. Em suas expedições Rondon levava geólogos, cartógrafos e outros peritos e, ao voltar trazia amostras de objetos paleológicos e os entregava ao Museu Nacional. Grande parte destes objetos foram estudados com fascínio por Roquette e desse estudo resultou a sua obra Nota sobre Índios Nhambiquaras do Brasil Central, que leu num congresso de americanistas em Londres, em 1912.