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LLP(PNLEM)-Manual v.3.OK
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MANUAL
6/14/05, 9:42 AM
DO PROFESSOR
1
A Língua Portuguesa no Ensino Médio
Orientação para o professor
A estrutura da obra
“… Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à mar-
gem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e
enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de
nome para mencioná-las e se precisava apontar com o dedo…”
MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Cem anos de solidão.
45. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.
Ao organizar a estrutura da obra que ora propomos, achamos interessante resgatar um aspecto da lingua-
gem que, se bem compreendido, facilitará ao professor demonstrar a seus alunos a importância da compreen-
são dos fenômenos lingüísticos, dos gêneros textuais e das estéticas literárias com que trabalharão ao longo do
ensino médio: por meio da linguagem, construímos nossa relação com o mundo em que nos inserimos.
“Foi Aureliano quem concebeu a fórmula que havia de defendê-los, durante vários meses, das evasões
da memória. Descobriu-a por acaso. […] Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para
laminar os metais, e não se lembrou do seu nome. Seu pai lhe disse: ‘tás’. Aureliano escreveu o nome num
papel que pregou com cola na base da bigorninha: tás. Assim ficou certo de não esquecê-lo no futuro. Não
lhe ocorreu que fosse aquela a primeira manifestação do esquecimento, porque o objeto tinha um nome
difícil de lembrar. Mas, poucos dias depois, descobriu que tinha dificuldade de se lembrar de quase todas as
coisas do laboratório. Então, marcou-as com o nome respectivo, de modo que bastava ler a instrução para
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identificá-las. Quando seu pai lhe comunicou seu pavor por ter-se esquecido até dos fatos mais impressio-
nantes da sua infância, Aureliano lhe explicou o seu método, e José Arcádio Buendía o pôs em prática para
toda a casa e mais tarde o impôs a todo o povoado. Com um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa com
o seu nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama, panela. Foi ao curral e marcou os animais e as
plantas: vaca, cabrito, porco, galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as infinitas pos-
sibilidades do esquecimento, percebeu que podia chegar um dia em que se reconhecessem as coisas pelas
suas inscrições, mas não se recordasse a sua utilidade. Então foi mais explícito. O letreiro que pendurou no
cachaço da vaca era uma amostra exemplar da forma pela qual os habitantes de Macondo estavam dispos-
tos a lutar contra o esquecimento: Esta é a vaca, tem-se que ordenhá-la todas as manhãs para que produza
o leite e o leite é preciso ferver para misturá-lo com o café e fazer café com leite. Assim, continuaram
vivendo numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de
fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita.”
MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Cem anos de solidão.
As palavras memoráveis de Gabriel Garcia Márquez nos auxiliam a compreender como a linguagem, de
várias maneiras, atravessa a nossa existência, conferindo-nos humanidade, permitindo que olhemos para o
nosso passado e, por meio de sua análise, transformemos o nosso presente e determinemos um futuro diferente.
Foi pensando nisso que resolvemos explicitar, no título escolhido para cada uma das partes do livro, o
papel da linguagem na estruturação do mundo. É essa estrutura que passamos a explicitar.
Este livro é composto por três partes distintas:
Parte 1 — Literatura: A arte como representação do mundo
Parte 2 — Língua: Da análise da forma à construção do sentido
Parte 3 — Prática de leitura e produção de textos
Uma prática freqüente nas coleções voltadas para o ensino médio é a de montar capítulos dos quais
façam parte conteúdos de Literatura, Gramática e Redação, estabelecendo para o professor em que ordem
tais conteúdos devem ser abordados em sala de aula.
Achamos ser essa uma organização que compromete a liberdade de escolha do professor, que limita
suas possibilidades de selecionar determinados conteúdos em função de outros que, naquele momento,
estão sendo estudados. Por esse motivo, optamos por propor que, uma vez estabelecidos os conteúdos a
serem desenvolvidos no período de um ano letivo, eles sejam organizados em blocos relativamente fechados
(funcionando quase como “módulos”) e que, se for da vontade do professor, podem ser estudados em dife-
rentes momentos, de acordo com sua conveniência.
Caso o professor sinta-se mais à vontade com um material que organize, mês a mês, os conteúdos a
serem trabalhados, montamos um quadro em que relacionamos, para cada um dos bimestres do ano letivo,
os capítulos e seções a serem desenvolvidos. Essa relação deve ser entendida, naturalmente, como uma
sugestão que fazemos para facilitar o planejamento do professor. Pode, e deve, ser submetida a ajustes que
a tornem mais adequada à realidade vivida em sala de aula (número de aulas semanais de Língua Portugue-
sa, divisão de “frentes” com outros colegas etc.).
• Monteiro Lobato: o “pai” do Jeca Tatu • Período composto por subordinação • Texto e coerência
• Augusto dos Santos: poeta • O estabelecimento das relações de
2º MÊS pessimista e enigmático sentido
• Novos caminhos para a • A relação entre coesão e coerência
cultura e a arte
Passaremos, agora, a explicitar a perspectiva pedagógica que norteou a elaboração deste livro, consideradas cada uma de suas partes: o
trabalho com textos literários, a análise das estruturas da língua e a prática de leitura e produção de textos.
Literatura: A arte como representação do mundo médio. Por outro lado, os alunos devem tomar conhecimento de tais
conteúdos de forma a atribuir-lhes um significado prático. Assim,
Entendemos que o estudo da Literatura não pode resumir-se à apre- para que as aulas façam sentido tanto para os alunos como para
sentação de uma lista de autores, obras e datas. O aluno precisa perce- seus professores, é necessário que as discussões gramaticais sejam
ber que através dos textos literários ele tem acesso a uma manifestação feitas tomando sempre por base um quadro teórico no âmbito do
cultural insubstituível, porque, ao mesmo tempo em que os textos lhe qual a linguagem seja entendida como uma atividade que modifica
dão acesso a uma visão de uma época historicamente determinada — e constitui os interlocutores, e que é por eles constantemente mo-
aquela do momento em que foram escritos —, constituem também uma dificada e manipulada. Somente assim, estudando-se a linguagem
manifestação particularizada, porque traduzem a visão de seu autor. em relação ao uso efetivo que dela fazem os falantes, podem adqui-
Esse contato com a experiência humana ao longo dos séculos é rir sentido as discussões sobre a língua, em todos os níveis de aná-
insubstituível. lise, e a metalinguagem necessária para a condução dessas dis-
Por este motivo, procuramos, na introdução das diferentes tendên- cussões.
cias estéticas e escolas literárias, apresentar para o aluno o contexto Em termos pedagógicos, o que se propõe, em suma, é que a Gra-
histórico a elas subjacente. No trabalho com o texto literário, tivemos mática seja ensinada de tal forma que os alunos possam perceber que a
o cuidado de abordá-lo a partir de duas perspectivas: (1) as impressões linguagem é parte integrante de suas vidas, dentro e sobretudo fora da
provocadas por sua leitura e (2) a análise dos sentidos construídos pela escola; que ela é instrumento indispensável, tanto para a aquisição de
relação entre seus diversos componentes (forma, conteúdo, contexto conhecimento em quaisquer áreas do saber, como para a participação
etc.). Preocupamo-nos, assim, com o reconhecimento de aspectos re- dos indivíduos nos mais diversos contextos sociais de interlocução. E
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ferentes à sua construção e com a identificação das características que os estudos gramaticais devem ser vistos, nesse contexto, como instru-
assumem os elementos que o constituem. A função desempenhada por mento que facilita a obtenção de um conhecimento sobre a linguagem
tais elementos é objeto de discussão e análise, sempre que possível. e seus usos em situações reais, e não como objetivo final das aulas,
Acreditamos que, dessa maneira, o aluno terá melhores condições que não se deverão transformar, em hipótese alguma, na apresentação
de fruir alguns dos textos literários mais representativos, de formar interminável e maçante de definições, termos “estranhos” e listas a
uma idéia adequada do que foram as escolas literárias e de como cada serem memorizadas.
uma delas se caracterizou esteticamente. Em termos metodológicos, a orientação geral que subjaz à obra
Em termos pedagógicos, o que se pretende, portanto, é manter no tocante aos estudos gramaticais é a de, sempre que possível,
presente a relação entre o texto e seu contexto (histórico, social, eco- relacionar os tópicos tematizados em cada volume a situações efeti-
nômico e cultural), para que o estudo da Literatura adquira um signifi- vas de uso da linguagem. Para isso, lançamos mão de textos os mais
cado formativo para os alunos, uma vez que, por meio desse estudo, variados, representativos da linguagem da propaganda, das tiras hu-
tem-se a oportunidade de refletir sobre a trajetória humana e de discu- morísticas, de matérias jornalísticas, enfim, de contextos que, da-
tir por que determinados valores éticos, sociais e até mesmo estéticos das as suas especificidades, tornam mais salientes alguns aspectos
foram associados à produção literária de um determinado período. temáticos abordados, o que resulta em uma exemplificação mais
Em termos metodológicos, optou-se por introduzir o texto literá- eficaz. Espera-se, portanto, que ao preparar suas aulas, os profes-
rio (reprodução integral ou de excertos significativos) de duas manei- sores sejam capazes de contribuir com exemplos semelhantes, o que
ras diferentes no material: acompanhado de comentários analíticos que tornará a situação de ensino da Língua Portuguesa mais significati-
podem orientar a leitura/discussão a ser feita em sala de aula, e sem va para os alunos.
comentários, quando a relação entre o texto e a característica/postura
que ele pretende ilustrar é mais direta. Espera-se que, nesse segundo
caso, o aluno seja desafiado a explicitar qual é a relação entre o texto Prática de leitura e produção de textos
transcrito e a discussão teórica que o precedeu. Quanto à prática de leitura e produção de textos, nossos pressupos-
Pressupõe-se, assim, que é o envolvimento do aluno com os textos tos pedagógicos baseiam-se na crença de que ela também não se deve
que vai permitir que acompanhe as discussões realizadas. resumir a uma prática de produção de textos que se esgote nela mesma.
O professor irá constatar, na análise mais detalhada deste livro, Com isso quer-se dizer que, para que os alunos efetivamente desenvol-
que procuramos sempre trazer, na ilustração dos capítulos, a reprodu- vam uma competência específica em leitura e produção de textos narra-
ção de obras de arte que contribuam para o reconhecimento das carac-
tivos, expositivos e persuasivos, não bastam os exercícios práticos e as
terísticas estéticas predominantes em um determinado período. Além
correções holísticas e por vezes impressionísticas dos textos que eles
de contribuírem para a expansão do universo cultural dos alunos, essas
escrevem em casa ou em sala de aula.
obras permitem que se desenvolva uma perspectiva mais abrangente
A leitura deve ser vista como uma habilidade indispensável à
sobre as próprias características estéticas associadas às diferentes es-
vida social. Essa habilidade pode (e deve!) ser construída com base
colas literárias. Por meio de sua análise, o professor poderá consolidar
em práticas específicas. Nesse sentido, os capítulos trarão não ape-
melhor a noção de que, em função da constituição de uma nova manei-
nas orientações específicas sobre procedimentos de leitura a serem
ra de ver o mundo, a produção artística daquele período se modifica e
adotados pelos alunos, mas inúmeras atividades em que, por meio de
assume o desafio de representar, por meio de suas estruturas, essa nova
uma série de perguntas, eles serão levados a observar aspectos estru-
perspectiva. Conclui-se, portanto, que o diálogo entre as diversas ma-
turais dos textos, relacionar suas partes e, desse modo, construir, na
nifestações artísticas é constante.
prática, a habilidade de ler, compreender e analisar textos de diferen-
Seria interessante discutir com os alunos, sempre que possível,
como diferentes formas de arte (pintura, música, escultura, literatura, tes gêneros.
cinema etc.) encontram maneiras de representar o mundo, traduzindo A escrita também merecerá atenção especial. Entendida como
os ideais estéticos do momento em que foram produzidas. processo por meio do qual o aluno elabora significados e os organiza
em estruturas textuais definidas, a escrita surge como desafio a ser
enfrentado por meio de diferentes estratégias.
Língua: Da análise da forma à construção do sentido Em termos teóricos, acreditamos que um trabalho inovador com
Nossa experiência de sala de aula nos levou a constatar que o a linguagem deve partir de sua dimensão discursiva. Para explicitar
estudo de Gramática não se pode limitar a uma apresentação siste- melhor o que entendemos por dimensão discursiva, julgamos inte-
mática dos conteúdos previstos nos programas das séries do ensino ressante partir da seguinte reflexão feita por Bakhtin:
passagem do tempo. Por essa razão, a tentativa de elaborar uma tipologia propõem diferentes soluções para esse problema e é com eles que inicia-
exaustiva de gêneros está fadada ao fracasso. Há, hoje, gêneros que emergi- mos o estudo da produção nacional. Na seqüência, trataremos das várias
ram em contextos interacionais específicos (os blogs, da Internet, por exem- feições que o Modernismo literário assumiu, para concluir este volume
plo) e que não existiam há 5 anos. Outros que, com o passar do tempo e o discutindo quais são os rumos trilhados pelos escritores pós-modernos.
surgimento de novas tecnologias, foram transformados (um exemplo evi- Língua: Da análise da forma à construção do sentido
dente é a retomada das cartas pessoais na forma de mensagens eletrônicas).
Como, então, trabalhar a partir de uma perspectiva discursiva, sem bus- Ao organizar os conteúdos gramaticais, procuramos estabelecer um
car a particularização dos inúmeros gêneros textuais? Acreditamos que a eixo em torno do qual se agrupam os tópicos de modo a permitir que o
saída esteja na reflexão sobre os tipos de textos (unidades composicionais) aluno perceba, à medida que os capítulos e seções vão sendo trabalha-
dos, como se dá o uso da linguagem no processo de construção da co-
estruturantes dos diferentes gêneros. Esses tipos de texto estão presentes,
municação (oral e escrita).
em maior ou menor grau, nos diferentes gêneros discursivos identificáveis
Neste volume vamos passar ao estudo das relações de sentido
nos textos orais e escritos. Dentre as unidades composicionais identificadas construídas pela articulação de diferentes orações, reconhecendo, nos
por Bakhtin, priorizaremos o estudo das seguintes: processos de subordinação, uma expansão de funções morfológicas já
a) Narração estudadas ao tratarmos de substantivos, adjetivos e advérbios.
b) Exposição Esperamos, com essa organização, permitir que o aluno perceba a
c) Argumentação relevância dos estudos gramaticais para a construção do sentido e da
Optamos por considerar a descrição e a injunção –– também uni- unidade dos textos que pretende produzir.
dades composicionais, segundo Bakhtin –– como constitutivas da nar- Os estudos gramaticais concluem-se com a apresentação de meca-
ração, da exposição e da argumentação. O falante precisa reconhecer nismos de articulação importantes para a garantia da coesão e coerência
e dominar cada um desses tipos de texto porque deles deverá se utili- textuais. Referimo-nos aos mecanismos de concordância (verbal e no-
zar nas diferentes situações de interlocução: minal), às relações de regência (verbal e nominal) e à pontuação.
a) Para ler e compreender o trabalho do autor com os tipos de
texto de modo a alcançar um objetivo específico;
Prática de leitura e produção de textos
b) Para deles se valer, no momento de produção de seus textos, Neste volume, o trabalho com leitura e produção de textos começa
de modo a alcançar um objetivo específico. por focalizar importantes mecanismos de articulação textual, apresentan-
Nessa perspectiva, a situação de interlocução é, realmente, o pon- do os conceitos de coesão e coerência. No capítulo 9, a coesão será apre-
to de encontro do autor de um texto com o seu leitor/ouvinte. sentada como um eficiente sistema de “amarração” textual, que cumpre o
fundamental papel de sinalizar para o leitor o caminho a ser seguido du-
É necessário discutir com os alunos, em aulas especificamente vol-
rante a leitura de um texto. Terminado o estudo dos mecanismos de coe-
tadas para este fim, os tópicos relevantes para a compreensão das carac- são, passamos a tratar do conceito de coerência textual, nível de articulação
terísticas formais e de conteúdo referentes aos tipos de texto, de forma das idéias. Agora é a vez de discutirmos a relação entre coerência e con-
que eles possam levar em conta esse conhecimento no momento da lei- texto e de resgatarmos o importante papel de mecanismos gramaticais
tura e da produção de seus próprios textos. tradicionalmente relegados a uma visão meramente normativa: os meca-
É necessário, ainda, que a correção dos textos se faça com base nismos de coordenação e subordinação.
em parâmetros objetivos, de conhecimento também dos alunos, de O capítulo 10 apresenta um estudo mais cuidadoso dos textos com
modo a possibilitar a identificação dos problemas que estão a exigir intenção persuasiva, levando o aluno a reconhecer diferentes situações de
maior atenção, tanto do professor, em suas aulas, como dos alunos, persuasão. Ele será, ainda, solicitado a perceber que sempre que participa-
na reelaboração dos seus textos (esses critérios serão discutidos na mos de uma situação persuasiva somos obrigados a formar imagens de
seção Os critérios de correção: uma proposta específica). nossos interlocutores, como procedimento fundamental no momento de
Metodologicamente, a orientação geral seguida ao longo deste seleção de argumentos mais adequados. A carta argumentativa é vista como
material, no tocante à produção de textos, é a de que escrever bem um gênero que favorece as relações de interlocução e persuasão.
O último capítulo promove uma revisão da estrutura da dissertação,
implica trabalhar, investir no próprio texto, que deverá ser produzido
expandindo a discussão sobre a forma que adota, a depender da natureza
tendo em vista leitores e contextos específicos. dos temas a serem analisados (questões polêmicas, filosóficas ou atuais).
Assim, sem negar a importância da criatividade na vida das pessoas, Esperamos que, ao fim desse curso, o aluno esteja capacitado para
não se parte do princípio de que basta “ser criativo” para escrever bem. produzir textos coerentes, claros e que desenvolvam de forma adequada
Pelo contrário, desenvolver uma competência específica em escrita e lei- as estruturas características das unidades composicionais a que se filiam.
tura implica conduzir atividades específicas voltadas para aspectos tam- Ele deve, também, ter desenvolvido suas habilidades de leitura, de modo
bém específicos da produção textual, que merecem ser tematizados de a interagir competentemente com o mundo de textos a que está exposto
maneira organizada ao longo das três séries do ensino médio. na sociedade em que vive.
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século XX e influenciaram a produção cultural. Dentro desse panorama, o também apresenta as características assumidas pelos autores da segunda e
destaque deve ficar com as vanguardas culturais européias. terceira gerações. Para finalizar, são levantados aspectos identificáveis na pro-
O capítulo começa, porém, por caracterizar o Brasil que chega ao novo dução de autores contemporâneos, com destaque para a obra de José Saramago.
século como um país marcado por muitas transformações e problemas. Nesse As Atividades e os Exercícios complementares focalizam, principalmen-
contexto, surgem as tendências literárias pré-modernistas. Devem ficar bem te, poemas de heterônimos pessoanos. Queremos, com esses exercícios, per-
claras, para o aluno, as razões de não se considerar este “momento” como um mitir que o professor retome a discussão das características básicas da poesia
período literário bem definido, uma vez que as novas tendências convivem de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, já que o fenômeno da
com influências de escolas do século XIX nas obras da maioria dos autores. heteronímia é de difícil compreensão e vai exigir bastante atenção dos alunos.
Após tratarmos do momento de transição, é chegada a hora de abordar
as tendências estéticas que marcam a produção poética e em prosa dos prin- Capítulo 3 – Modernismo no Brasil (I)
cipais autores brasileiros (Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato
Falar sobre a chegada do Modernismo ao Brasil significa, necessaria-
e Augusto dos Anjos). A ênfase deverá ser dada, mais uma vez, à diversida-
mente, falar da Semana de Arte Moderna. Como conseqüência natural e
de característica dessa produção.
necessária à Semana de Arte Moderna, começam a aparecer revistas e mani-
As Atividades valem-se de trechos de textos pré-modernistas para pro-
festos modernistas. As revistas constituem o principal instrumento de divul-
mover a reflexão do aluno sobre as características mais marcantes da produ-
gação das propostas modernistas. Nos manifestos, autores de renome, como
ção literária do período.
Oswald de Andrade, explicitam melhor quais rumos devem ser tomados pela
Na apresentação das vanguardas culturais européias, o destaque estará
produção literária para que se construa uma verdadeira Literatura Brasileira.
na reprodução das obras de arte que explicitam seus princípios definidores.
Procuramos, mais uma vez, escolher obras de arte que representem
Sugere-se que o professor explore ao máximo esse recurso, de modo a per-
bem as perspectivas estéticas características da ruptura proposta pelos ar-
mitir que o aluno perceba o caráter inovador e de ruptura com o passado que
tistas dessa geração. Assim, quadros como A estudante (de Anita Malfatti),
marcou cada uma dessas vanguardas.
Estrada de ferro Central do Brasil e O Abaporu (de Tarsila do Amaral) e
Ao tratarmos do Cubismo, esperamos que o aluno compreenda a im-
Paisagem brasileira (de Lasar Segall) entram nas páginas do livro como
portância da principal proposta do movimento: a percepção da realidade
ilustrações das principais tendências assumidas por esses artistas (o uso
como algo formado por um conjunto de planos que se interceptam e, conse-
de cores fortes, “brasileiras”; a valorização dos elementos nativos na esté-
qüentemente, interagem, criando uma nova realidade.
tica “Pau-Brasil” etc.)
Com relação ao Futurismo, é preciso que o aluno perceba o radicalis-
Feita a contextualização do surgimento da estética modernista no
mo da vanguarda fundada por Marinetti; que entenda o teor drástico das
Brasil, podemos partir para a apresentação das principais características
propostas inteiramente iconoclastas, mas que perceba também o aspecto em
das duas primeiras gerações modernistas. Gostaríamos que, para cada
que ela influenciou nossos primeiros modernistas, na valorização das inova-
uma delas, fossem destacados os seguintes pontos:
ções tecnológicas e, principalmente, na adoção de uma escrita mais livre.
• Primeira geração modernista: liberdade formal; a inovação estrutural
Quando se for trabalhar a concepção artística do Dadaísmo, é impor-
trazida por obras como Amar, verbo intransitivo, Macunaíma e Memó-
tante que o movimento não surja apenas como uma proposta “desvairada”
rias sentimentais de João Miramar; a tentativa de resgatar uma imagem
de abolição de qualquer tipo de lógica, mas como o reflexo de uma socieda-
mais real (livre da idealização romântica) do Brasil nos textos literários;
de em guerra que desafiava, ela mesma, os limites da lógica.
a utilização de uma linguagem mais espontânea; a tentativa de escrever
No caso do Surrealismo, deve-se explicitar cuidadosamente sua rela-
em português “brasileiro”; a dessacralização da literatura, com os
ção com a teoria do inconsciente freudiano, para que o aluno veja essa van-
poemas-piada etc. Sugere-se que a produção poética de Manuel Ban-
guarda como uma tentativa de explorar os limites humanos ainda
deira seja destacada, dadas as suas evidentes qualidades literárias, que
desconhecidos. Deve-se, também, chamar atenção para a influência do mo-
transcendem em muito a ilustração das tendências de um momento.
vimento na poesia de autores brasileiros como Murilo Mendes, que, em
• Segunda geração modernista — Prosa: o desenvolvimento da prosa
poemas como o transcrito a seguir, deixa evidente a opção por um olhar
regionalista em uma tentativa de levar o Brasil a conhecer melhor as
surrealista sobre a realidade. características da vida dos nordestinos, aprisionados pela condição so-
cial, falta de cultura e clima inóspito da região em que vivem. Merece
Aproximação do terror
cuidado especial a obra de Graciliano Ramos. Poesia: o surgimento de
Dos braços do poeta As rosas perderam a fala. uma poesia mais engajada, preocupada com o sofrimento e deixando
Pende a ópera do mundo Entrega-se a morte a domicílio. de lado o aspecto paródico e humorístico muito marcante nas obras
(Tempo, cirurgião do mundo): — dos poetas da primeira geração. O destaque, nesse caso, fica com a
Dos braços…
obra de Carlos Drummond de Andrade.
O abismo bate palmas, Pende a ópera do mundo.
A noite aponta o revólver.
As Atividades procuram dar conta da diversidade de características
Ouço a multidão, o coro do universo, MENDES, Murilo.
da primeira geração e de aspectos essenciais da poesia de Carlos Drummond
O trote das estrelas Poesia completa e prosa. Rio de de Andrade. Questões sobre os romances Vidas secas e Angústia (este, nos
Já nos subúrbios da caneta: Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Exercícios complementares) permitem que se explorem de modo um pou-
co mais detalhado as marcas assumidas pela prosa regionalista.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O domínio da nomenclatura associada aos vários tipos de estruturas sin- sentido a ser dado para as relações estabelecidas entre os termos da oração.
táticas adverbiais deverá decorrer da compreensão dessas noções. Isso Na última seção, a tarefa do professor será a de apresentar aos alunos
significa que não se deve introduzir a priori a nomenclatura tradicional, motivações convincentes para o uso de sinais de pontuação na escrita. Suge-
centrada no tipo de conjunção subordinativa que introduz a oração su- rimos que ele prepare as suas aulas para a unidade com base no texto apre-
bordinada adverbial, até porque, como se sabe, por vezes uma mesma sentado na teoria.
conjunção subordinativa pode introduzir orações adverbiais que expri- É possível desenvolver atividades interessantes a respeito dos sinais de
mem diferentes circunstâncias, do ponto de vista semântico. Antes, por- pontuação na escrita. Sugere-se, por exemplo, que o professor escolha texto(s)
tanto, de nomear uma oração adverbial, deve-se estar certo da do(s) qual(is) serão inicialmente retirados todos os sinais de pontuação, para
circunstância que ela expressa, associada a uma oração principal. que os alunos se dêem conta da necessidade de pontuar a escrita. Em segui-
Uma atividade interessante que pode ser conduzida com os alunos da, poderão ser trocados os sinais de pontuação do mesmo texto utilizado
ao final deste capítulo é a identificação e classificação, em textos va- anteriormente, para que os alunos percebam a necessidade não só de fazer
riados, de estruturas coordenadas e subordinadas, que poderá ser feita uso desses sinais, mas também de escolher a pontuação adequada.
em grupos, pelos alunos, a partir de material que eles mesmos podem
trazer para sala de aula. Isso possibilitará, além da fixação do conteú-
Prática de leitura e produção de textos
do dos capítulos de sintaxe, a comparação entre o tipo de sintaxe que A construção das habilidades de leitura e escrita talvez seja o principal
costuma caracterizar determinados tipos de textos (as escritas mais e objetivo a ser alcançado pelo trabalho com Língua Portuguesa ao longo do
menos formais, por exemplo). Os alunos poderiam, também, realizar ensino médio. Se pensarmos que, ao saírem da escola, os alunos deverão
um levantamento sobre a freqüência de ocorrência das estruturas coor- demonstrar, socialmente, proficiência nessas duas práticas (e dificilmente
denadas e subordinadas nos vários tipos de textos, além dos tipos de terão de fazer a análise de estruturas lingüísticas e/ou de textos literários),
coordenadas e subordinadas mais freqüentes. certamente concordaremos que o grande desafio para os professores de Lín-
gua Portuguesa é encontrar as estratégias mais adequadas para, ao mesmo
Capítulo 7 – A articulação de elementos textuais tempo em que conquistam o envolvimento dos alunos com a leitura e escri-
Na seções deste capítulo tratamos de alguns temas tradicional- ta, garantir que esse aprendizado dê bons resultados.
mente “áridos” no estudo da Língua Portuguesa: concordância e re- Considerando os objetivos a serem alcançados com o desenvolvimento
gência. Gostaríamos, portanto, de sugerir que o professor, além de tratar dos capítulos (explicitados anteriormente), gostaríamos, agora, de fazer al-
dos mecanismos de concordância verbal e nominal associados à nor- gumas considerações gerais sobre o desenvolvimento do conteúdo teórico
ma “culta”, aproveitasse a oportunidade para analisar, com seus alu- abordado em cada capítulo, bem como apresentar algumas sugestões sobre
nos, os mecanismos característicos de outras variedades do Português, as atividades adicionais a serem realizadas com os alunos.
com o intuito de chamar a atenção para o fato de que, do ponto de vista Os exercícios das Atividades procuram oferecer meios para que a leitura
estritamente lingüístico, não há como considerar uma variedade “me- de textos seja sistematicamente realizada e também avaliada pelo professor.
lhor” do que as demais, o que exclui a possibilidade de considerá-la Nesses exercícios, o aluno será solicitado a ler textos (verbais e não-verbais)
“correta” e as demais, “erradas”. de diferentes gêneros, e desafiado a reconhecer e analisar sua estrutura. Ao
O professor deve deixar bem claro para os alunos que as avaliações discutir as respostas dadas pelos alunos para cada uma das questões, o pro-
comumente feitas sobre os mecanismos de concordância são de natureza fessor terá condições de “medir” seu desempenho, de observar quais são
social, uma vez que os usuários da modalidade dita culta são geralmente os aqueles alunos para quem, por exemplo, o estabelecimento de relações entre
que pertencem às classes econômicas privilegiadas, gozando, por isso, de partes do texto permanece uma habilidade a ser desenvolvida.
maior prestígio na sociedade. A escrita será posta em prática por meio das Propostas de produção de
Apenas após essas considerações preliminares é que se podem introdu- textos presentes nos capítulos desta terceira unidade. O objetivo dessa se-
zir as regras específicas de concordância nominal e verbal que procuram ção, além de permitir que os alunos produzam textos, é familiarizá-los com
orientar os usuários da língua nos casos que costumam suscitar dúvidas. a escrita que surge em função de uma proposta determinada e que deve
Os tópicos da seção referentes ao estudo da regência verbal e nominal atender a algumas exigências preestabelecidas.
tornam inevitável a introdução de uma lista em que os nomes são apresenta- Gostaríamos, aqui, de recomendar que toda proposta de produção de
dos associados a determinadas preposições e de um conjunto de verbos cuja texto sugerida no material tenha uma etapa de discussão oral, durante a qual
regência costuma suscitar dúvidas entre os usuários da língua. Deve ficar os alunos se manifestem. É importante que os temas sejam discutidos pela
bem claro para o professor, no entanto, que suas aulas sobre o assunto não se classe, para que, além de aprenderem a ouvir e considerar opiniões diferen-
devem limitar à apresentação de listas e que as listas apresentadas na teoria tes da sua, os alunos também se sintam desafiados a organizar sua fala de
servem apenas como uma referência para consulta no caso de dúvidas, de- modo a se fazerem entender pelos colegas. Esse tipo de exercício favorece o
vendo os alunos aprender, basicamente, que o uso correto das preposições trabalho com a expressão oral e permite que o aluno tome consciência de
associadas a determinados nomes e que a identificação correta da regência que deve considerar os leitores no momento de produzir seus textos. Como
de determinados verbos — preocupações que se deve ter sobretudo no uso as situações de interlocução serão muito mais evidentes na discussão, essa
da modalidade escrita da Língua Portuguesa — costumam exigir consulta a prática pode auxiliar o aluno a lembrar-se de considerar seus interlocutores
bons dicionários. também no momento em que estiver escrevendo seus textos.
são sobre o controle dos mecanismos coesivos e recomenda-se que se- ma de “ação afirmativa”.
jam feitos em sala de aula, com a mediação do professor. Por meio de texto, procuramos fazer com que o aluno tome conhe-
Para tratar da questão da coerência textual, sugerimos que o professor cimento das duas posições marcadas em relação a essa questão (favorá-
faça a relação com aspectos estudados nas aulas de Gramática. Dessa for- vel às quotas ou contrária a elas) e veja quais são os principais argumentos
ma, os alunos terão exemplos concretos da importância do controle das re- utilizados por quem defende cada uma dessas posições.
lações de sentido estabelecidas entre as diversas orações em um período. O fundamental, na discussão do que fazer diante de uma questão polê-
Gostaríamos de destacar, além dos exercícios propostos nas Atividades, a mica, é o professor orientar seus alunos sobre a necessidade de ponderarem
proposta de produção de texto. Como o objetivo é levar o aluno a reconhecer a qualidade dos argumentos de que dispõem, levando em consideração a
que a coerência é alcançada por meio da articulação textual, pensamos ser perspectiva contrária. A contra-argumentação é uma parte tão importante de
uma estratégia interessante solicitar que ele dê prosseguimento a um texto um texto argumentativo quanto a defesa da posição que se julga mais ade-
argumentativo parcialmente transcrito no material. Dessa forma, o aluno de- quada. Sugerimos, então, que o professor oriente seus alunos nesse sentido.
verá identificar a posição defendida pelo autor do texto e perguntar-se sobre O segundo “tipo” de proposta é aquele que vai exigir do aluno uma
qual seria uma continuação que se articulasse a essa posição sem problemas. postura mais amadurecida e generalizante. Trata-se dos chamados te-
mas filosóficos. Geralmente relacionados à discussão e análise de com-
Capítulo 10 – O texto persuasivo portamentos humanos, os temas filosóficos costumam abordar questões
Retomamos, neste capítulo, o trabalho com os textos persuasivos. A mais gerais, desvinculadas da realidade em que se vive. Por essa razão
primeira questão a ser tratada é a construção de uma imagem de exigem maior amadurecimento do aluno na leitura da coletânea e, prin-
interlocutor. cipalmente, na organização da análise que fará em sua dissertação.
Sugerimos que a tira do Calvin, reproduzida na abertura do capítulo, Para finalizar, apresentamos os temas relacionados às questões atu-
seja utilizada pelo professor para discutir, com seus alunos, quais as con- ais. Cada vez mais freqüentes em exames vestibulares, essas propostas
seqüências práticas, para o discurso persuasivo, da identificação correta abordam aspectos da vida na sociedade contemporânea. Para estarem
da imagem da pessoa que procuramos convencer de alguma coisa. Depois aptos a discuti-las, os alunos precisam dispor de um bom repertório de
disso, o professor pode passar à análise dos procedimentos utilizados pe- informações. Esse repertório é constituído pela leitura de jornais e re-
los textos publicitários para atingirem seu público-alvo. vistas, por uma postura “curiosa” diante da realidade.
Mais uma vez, os alunos podem ser solicitados a trazerem exemplos O fundamental para o desenvolvimento desse capítulo é que o pro-
de diferentes propagandas para análise e discussão em sala de aula. fessor procure envolver os alunos na discussão dos temas (tanto os ana-
Na seqüência do trabalho com a imagem do interlocutor, passamos a lisados na teoria quanto os propostos para os alunos desenvolverem),
tratar de um contexto específico de persuasão: as cartas argumentativas. que promova a discussão oral, que peça aos alunos para recolherem in-
Esse é um tipo de texto persuasivo que pode tornar-se um interessante formações sobre uma questão atual a ser discutida e que oriente a análi-
instrumento de manifestação de opinião ou de reivindicação na vida práti- se ponderada dessas informações.
ca dos alunos. Por esse motivo, começamos a apresentação das cartas Temos certeza de que, ao fim da 3a série, os alunos que de fato se
argumentativas por exemplificar um dos seus contextos de ocorrência: as envolveram com as atividades de leitura e produção de texto propostas
manifestações de leitores de jornais e revistas. neste material terão muito mais tranqüilidade na hora de ler e farão da
O foco do trabalho, porém, deverá ser a análise da estrutura de uma escrita um importante instrumento de suas vidas sociais.
carta argumentativa. Nós aproveitamos uma carta publicada por um jor-
nalista esportivo, por ocasião das eliminatórias para a Copa do Mundo Os critérios de correção: uma proposta específica
de futebol de 2002, para mostrar ao aluno os principais elementos Procurando contribuir para o estabelecimento de avaliações mais ob-
constitutivos nesse gênero. jetivas dos textos produzidos pelos alunos, faremos, agora, a sugestão de
Compreendida essa estrutura, passamos a discutir quais são os pro- alguns critérios a serem adotados no momento de avaliação de redações.
cedimentos a serem adotados na elaboração de um projeto de carta Eles não são os únicos possíveis, é claro! Gostaríamos, porém, que o pro-
argumentativa. Sugerimos, mais uma vez, que o professor procure moti- fessor os considerasse como uma sugestão, porque são o resultado de um
var os alunos a participarem da discussão do tema com base no qual a longo trabalho com a avaliação de milhares de redações de vestibulandos.
nossa exposição foi feita. Esses critérios resumem as indagações que se devem fazer a um
Um interessante exercício que pode ser organizado em sala de aula texto com relação aos modos de estruturação e articulação dos elemen-
é a divisão da turma em dois grupos que irão debater um dos temas tos formais e de conteúdo.
polêmicos propostos neste capítulo: a discussão sobre a atuação da polí-
cia na manutenção da paz social e/ou o desejo de abandonar o Brasil e 1. A avaliação do tema proposto
tentar a sorte no exterior. Uma redação escrita em resposta a um tema proposto pelo profes-
O professor pode sortear qual será a posição a ser defendida pelos sor deve necessariamente considerar alguns elementos básicos que o
grupos, definir um tempo para que os alunos leiam a proposta e organi- definem (orientação geral apresentada, delimitação da questão a ser ana-
zem os argumentos que pretendem utilizar para defender sua posição. lisada, presença de informações que motivem a reflexão solicitada etc.).
Depois, cada um dos grupos deve escolher um “orador” e uma “equipe O professor, ao preparar um tema, deve fazê-lo considerando qual(is)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
conjunto de informações, o professor estará proporcionando melhores con- autorizados, em termos lógicos, a dizer O ladrão foi preso apesar de ter
dições para que seus alunos produzam textos mais consistentes (em lugar, assaltado o banco.
por exemplo, de apenas dizer que eles precisam melhorar o conteúdo...), e Trata-se de escolher entre diferentes conjunções (respectivamente
terá, no momento da avaliação, a oportunidade de verificar a qualidade de causal, temporal e concessiva), para, através dessa escolha,
sua leitura. Os alunos, por sua vez, “obrigados” a utilizar dados extraídos da explicitarmos como deve ser entendida a relação semântica entre di-
coletânea, perceberão que leitura e escrita são duas atividades interdependentes ferentes estruturas sintáticas.
e, portanto, concluirão não ser possível produzir boa escrita sem boa leitura. Por vezes, algumas relações não são aceitáveis em termos de coe-
3. A estrutura característica do texto a ser desenvolvido rência, como é o caso da relação de concessão entre o assalto ao banco e
a prisão do ladrão. Em ocorrências como essas, diz-se que um problema
Nas aulas “teóricas” certamente explicamos a nossos alunos quais
de coesão afetou dramaticamente a coerência do que está sendo dito.
são os elementos característicos do texto que estarão produzindo no
Por outro lado, um problema de concordância, acentuação ou ortografia
momento. É imperativo, portanto, que a avaliação das redações produzi-
muito dificilmente provocaria o mesmo tipo de conseqüência para o tex-
das em resposta aos temas propostos leve em consideração a maneira
to escrito. Por esses motivos achamos melhor analisar a coesão separa-
como esses elementos foram trabalhados por eles.
damente da correção gramatical nos textos de nossos alunos.
Para avaliar este item, portanto, estaremos preocupados com as ca-
racterísticas estruturais que devem ter textos narrativos, expositivos, per- 6. Coerência
suasivos, verificando em que medida o aluno se vale dessa estrutura Todo texto escrito deve apresentar uma unidade lógica, algo a que
para organizar seu raciocínio e apresentá-lo ao leitor de forma convin- nos referiremos, a partir dessa definição bastante simplificada, como co-
cente (ou verossímil, no caso das narrativas). erência. A avaliação da coerência de um texto está muito relacionada ao
domínio que o aluno tem da estrutura característica do tipo de texto solici-
4. Correção gramatical (o uso que o aluno faz da língua escrita)
tado e da qualidade da leitura que é capaz de fazer do tema e da coletânea.
A correção gramatical é sem dúvida um elemento importante do
No caso de textos de natureza argumentativa, avaliar a construção
texto escrito, mas precisamos tomar um imenso cuidado para não valorizá-
da coerência do texto significa estar atento à maneira como o aluno de-
la excessivamente.
senvolve sua argumentação. Muitas vezes, em lugar de relacionar fatos,
Para tanto, achamos aconselhável que o professor crie uma espécie
argumentos, dados, ele apenas limita-se a comentá-los.
de hierarquia gramatical, procurando determinar quais são as
No caso de temas acompanhados de coletâneas, esse procedimen-
inadequações que realmente comprometem a compreensão do texto, por
to prejudica a articulação textual, o que, conseqüentemente, compro-
um lado, e, por outro, que evidenciam a pouca familiaridade do aluno
mete a coerência.
com as estruturas próprias do texto escrito.
É comum, também, o aluno utilizar (sem perceber) dois elementos
Poderíamos pensar, só para lembrarmos alguns desses problemas, na
da coletânea que são contraditórios, como se fossem complementa-
utilização dos tempos e modos verbais (com o cuidado de diferenciar o
res... situações como essas são avaliadas no item coerência.
aluno que usa o acento gráfico de forma equivocada, confundindo, diga-
Avaliar a coerência nas narrativas implica discutir o conceito de
mos, falara e falará, daquele que realmente optou por uma flexão de tem-
verossimilhança, ou, em outras palavras, a possibilidade de criação de
po inadequada; ou casos em que o aluno, por hipercorreção, evita grafar
um mundo ficcional em que acontecimentos irreais pareçam possíveis.
com dois esses [ss] a desinência própria do pretérito imperfeito do subjun-
O leitor de narrativas é bastante tolerante nesse sentido, estando
tivo, obtendo, como resultado, uma forma pronominal: fala-se, em lugar
disposto a aceitar as premissas criadas por um narrador para o compor-
de falasse, por exemplo), nas concordâncias verbal e nominal, na escolha
tamento de personagens no interior de um mundo ficcional (podemos
lexical (por exemplo, a substituição sistemática de ter por possuir, ou por-
pensar nos contos de fadas como exemplo óbvio), mas costuma exigir
que por pois, como se houvesse palavras “melhores” e “piores”...), na
que tais premissas sejam respeitadas ao longo do texto.
interferência excessiva de estruturas da linguagem oral no texto escrito.
Soluções apresentadas abruptamente, no fim da narrativa, e que não fo-
Avaliar o uso que o aluno faz da modalidade escrita da língua portu-
ram preparadas ao longo do desenvolvimento do enredo não costumam con-
guesa não deve significar, no entanto, uma mera contagem de “erros”.
tribuir muito para a construção da coerência desse tipo de texto, e o professor
O professor precisa reconhecer os casos em que o aluno optou por uma
precisa estar atento para isso ao avaliar produções escritas de seus alunos.
estrutura sintática, ou mesmo por uma determinada palavra, e que essa
opção contribuiu significativamente para o texto resultante.
Estamos tão acostumados a corrigir “erros”, que abandonamos por E a criatividade, como é que fica?
completo a observação dos acertos e essa é uma postura certamente con- Podemos, agora, discutir a noção de criatividade no texto escrito,
denável. Cabe ao professor identificar tanto os erros quanto os acertos e “critério” muito freqüentemente proposto para a avaliação da qualidade
ponderá-los ao fazer sua avaliação. de um texto. “Texto bom é texto criativo!”, costumamos ouvir... Mas,
será que isso é verdade?
5. Coesão A análise dos diferentes aspectos responsáveis pela estruturação da
Ainda com relação à organização gramatical e semântica do texto, redação permite ao professor determinar em qual(is) dele(s) o aluno so-
podemos considerar um segundo critério: a coesão. Um texto coeso pode bressaiu em relação a seus colegas. Um desempenho acima da média,
10
ampliar o repertório dos alunos, selecionamos algumas obras estran- trix, s/d.
geiras sugeridas que foram traduzidas para o Português e outras, de Bosi, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Edi-
autores brasileiros e portugueses. Como há, porém, diferentes edições tora Cultrix, 1994.
e/ou traduções dessas obras, optamos por não indicar nenhuma delas, Bradley, Fiona. Surrealismo. São Paulo, Cosac & Naify, 1999.
deixando a escolha final para você. Brunetl, P. et alii. A crítica literária. São Paulo, Martins Fontes, 1988.
Lembre-se de que toda seleção é pessoal. Portanto, essa é apenas Cademartori, Lígia. Períodos literários. São Paulo, Ática, 1993. Série
uma sugestão de alguns dos muitos autores e títulos possíveis. Use-a Princípios.
como ponto de partida para pensar em outras possibilidades que sejam Campedelli, Samira Y. e Benjamim Abdala Jr. Literatura Comentada –
mais adequadas ao perfil e aos interesses de seus alunos. Clarice Lispector. São Paulo: Abril Educação, 1981.
Candido, Antonio e Castello, José Aderaldo. Presença da literatura brasi-
leira. São Paulo, Difel, 1985.
Pré-modernismo Candido, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo,
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma. Ática, 1987.
Monteiro Lobato. Urupês. Candido, Antonio. Na sala de aula – Caderno de análise literária. São
Euclides da Cunha. Os sertões. Paulo, Ática, 1985.
Coelho, Jacinto do Prado (org.). Dicionário de Literatura Brasileira, Portu-
guesa e Galega. Figueirinhas/Porto, Companhia Editora do Minho, 1983.
Modernismo Cottington, David. Cubismo. São Paulo, Cosac & Naify Edições, 1999.
Franz Kafka. A metamorfose. Cunha, Maria Helena Ribeiro et alii. A Literatura Portuguesa em Perspectiva
Mário de Andrade. Macunaíma. – Classicismo/Barroco/Arcadismo. São Paulo, Editora Atlas, 1993.
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Mário de Andrade. Contos novos. tais. 2. ed. São Paulo, Ática, 2000.
Oswald de Andrade. Serafim Ponte Grande. De Nadai, José Fulaneti et alii. Literatura Comentada – João Cabral de
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. Melo Neto. São Paulo, Abril, 1982.
Carlos Drummond de Andrade. Antologia poética - recomposta. Dimas, Antônio. Espaço e romance. São Paulo, Ática, 1985. Série Princípios.
Vinicius de Moraes. Livro de sonetos. Filho, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo, Ática, 1997.
Cecilia Meireles. Melhores poemas de Cecilia Meireles. Série Princípios.
Cecilia Meireles. Romanceiro da Inconfidência. Forster, Edward M. Aspectos do romance. São Paulo, Globo, 1998.
Murilo Mendes. Melhores poemas de Murilo Mendes. Gancho, Cândida V. Como analisar narrativas. São Paulo, Ática, 1999.
Graciliano Ramos. Vidas secas. Série Princípios.
Graciliano Ramos. São Bernardo. Goldstein, Norma. Versos, sons e ritmos. São Paulo, Ática, 1985. Série
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11
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12
Capítulo 1 Falar sobre elas implica conhecê-las, e esse processo de análise da situação
real do povo brasileiro é um importante passo na aproximação entre a reali-
1. Chama-se Pré-Modernismo uma literatura que problematiza nossa dade e a ficção, que futuramente será tão defendida pelos modernistas.
realidade social e antecipa elementos da Semana de 22. 19. b
2. Ao problematizar a realidade nacional, o Pré-Modernismo agita o 20. Além de suas características físicas (presentes no segundo parágra-
ambiente cultural brasileiro (a belle époque), que andava estagnado. fo), o marechal Floriano Peixoto é apresentado como um sujeito pregui-
3. Os sertanejos nordestinos, os “caipiras”, os pequenos funcionários çoso, indolente, fraco de caráter, com profundo desamor pelos cargos
públicos, o mulato, os imigrantes. que ocupava. Ainda assim, ficou conhecido como “Marechal de Ferro”.
4. Há entre os pré-modernistas e seus contemporâneos uma relação de opo- 21. Floriano parecia ser autor de ditos silibinos, proféticos, misteriosos.
sição. Não se pode esquecer que a literatura da moda era o Parnasianismo, No entanto, tal característica era de fato resultado da carência de gran-
célebre por seu distanciamento das questões sociais, seu beletrismo, e sua des homens que o país sentia, pois Floriano tinha, na verdade, preguiça
poesia de certa forma alienada do contexto social. de pensar e de agir, o que resultava em mutismo.
5. a) Divide-se em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. 22. O trecho é: … pobre de expressões, a não ser de tristeza que não lhe
b) Euclides da Cunha apresenta uma visão determinista, característica do era individual, mas nativa, de raça. A referência à raça como determinante
século XIX (usada principalmente pela literatura naturalista). Percebemos de um traço de caráter é característica do determinismo.
um traço dessa visão em tendências impulsivas das raças inferiores. 23. O narrador é onisciente, o que lhe confere autoridade para revelar os
c) A divisão do livro revela claramente a visão determinista. Promove a traços da personagem de uma forma crítica. Tal postura crítica condiz com
análise do Meio, na primeira parte. Descreve a Raça, na segunda, para os princípios pré-modernistas de problematizarem a realidade brasileira.
só então, a partir da combinação desses fatores, tentar compreender o 24. e
conflito de Canudos. 25. O Cubismo foi uma das mais importantes vanguardas artísticas euro-
6. a) O trecho refere-se a Antônio Maciel (o Conselheiro). péias do século XX. Pablo Picasso tornou-se, na pintura, seu principal re-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b) Segundo o trecho, Antônio Conselheiro condensou as tendências reli- presentante. O movimento queria romper com as tradições artísticas passadas
giosas impulsivas da raça sertaneja. Ele foi o elemento passivo por ser e, para isso, propunha “enxergar” o mundo por outras perspectivas, muitas
uma projeção desse misticismo, mas foi também o elemento ativo por, vezes “deformando” o objeto observado. Na tirinha de Calvin, o garoto
de certa forma, estimular esses impulsos nos sertanejos. começa a ver os dois lados da questão em tudo. Para reforçar essa idéia, no
7. O tema regionalista já havia sido abordado pelos românticos, de for- último quadrinho, o desenho de Bill Watterson parece uma obra cubista, em
ma descritiva, idealizada e sentimental. Euclides da Cunha, pela primei- que o objeto é representado simultaneamente por mais de um ponto de vis-
ra vez, trata o sertão de maneira crítica, apontando os problemas ta. Dentre as telas de Picasso reproduzidas na questão, Marie-Thérèse apoi-
característicos dessa região (como a seca, por exemplo). ada no cotovelo é a única que exemplifica a multiplicidade de perspectivas
8. Teleológica, bactéria, antropomorfismo, hidrópicos, vísceras. de se ver o mesmo objeto, traduzida na deformação do rosto da mulher.
9. Augusto dos Anjos trata da morte sob o seu aspecto material, biológico. 26. c
A abordagem desse tema sob o ponto de vista orgânico, da putrefação dos
corpos (o poema refere-se ao verme — o agente da decomposição), fre-
Capítulo 2
qüente em seus poemas, torna-o único em nossa literatura.
10. Augusto dos Anjos opõe-se frontalmente ao gosto literário da época, 1. No poema, o eu lírico revela sua inadequação pelo desajuste entre a
notadamente parnasiano. Como se sabe, o Parnasianismo pregava uma imagem que se faz dele e o que ele próprio percebe, de forma cruel,
poesia com temas considerados belos. Augusto dos Anjos traz para a poe- sobre si mesmo.
sia imagens consideradas de mau gosto, grotescas e por vezes repulsivas. 2. O título do poema revela justamente a distância entre o que os outros
11. A terceira estrofe do poema é um bom exemplo do gosto do poeta. vêem do eu lírico e o que ele vê em si mesmo. A distância é tão grande
Além disso, podemos apontar carne podre, na última estrofe, e, de ma- que ele se refere à imagem construída socialmente como aquele outro.
neira geral, o tema central do poema (o verme), como justificativas para 3. O poema é um soneto, composto de versos decassílabos, e esquema
uma reação negativa da crítica dos parnasianos. de rimas ABBA/ABBA/CCD/DDC. Tal esquema formal não condiz com
12. A característica mais forte a ser observada é a da colagem de diferentes o que se espera do Modernismo, que é uma maior liberdade formal.
tipos de imagens, o que faz com que não haja um nexo entre os elementos. A 4. O eu lírico se vê como um desajustado, gordo, mentiroso e fingidor,
distribuição dos recortes, uns sobre os outros, também aponta para a gratuidade dentre outras características autodepreciativas.
(falta de razão) da arte dadaísta: tudo é fruto de uma disposição casual. 5. a) A poesia de Caeiro é antifilosófica, porque se declara contra a
13. As imagens mais nitidamente surrealistas são: Soltaram os pianos; reflexão. Diz ele Não tenho filosofia, tenho sentidos. Para ele, a vida
as sombras dos pássaros vêm beber; acompanhado pelas rosas deve ser percebida sensorialmente, e não de forma metafísica, Porque
migradoras e pianos que gritam. Todas essas imagens indicam uma rup- pensar não é compreender...
tura com a lógica realista.
b) Segundo o poema, a vida deve ser encarada de forma materialista,
14. O movimento literário que desenvolveu o gênero pastoril foi o
isto é, em suas dimensões físicas. A percepção concreta da existência é
Arcadismo, ou Neoclassicismo, no século XVIII.
mais adequada.
15. Murilo Mendes substitui o elemento característico da poesia pastoril
6. Apesar de afirmar a necessidade da percepção física, sensorial da vida,
(o gado) por pianos, que, pela lógica, não podem ser pastoreados. Se a
Caeiro é poeta, ou seja, faz reflexões, pensa sobre a natureza, não a
palavra pianos no primeiro verso fosse substituída por bois ou ovelhas,
vivencia. Daí a suposta contradição.
o poema poderia ser lido como uma pastoral tradicional.
7. Pensar é estar doente dos olhos é uma das definições dadas por Caeiro.
16. a) Pastor pianista, convencionalmente, pode ser lido como um pas-
tor que toca piano. Indica que o pensamento está aquém da percepção sensorial.
b) No contexto do poema, a expressão passa a significar pastor de pia- 8. Não vale a pena viver baseando-se em suposições de grandeza.
nos, como se pianos fossem uma espécie de gado. O melhor é contentar-se com o que temos e com o que somos.
17. O que aconteceu de mais importante em termos literários durante o 9. A linguagem de Alberto Caeiro é mais prosaica, contém algumas repeti-
Pré-Modernismo foi a construção de uma nova imagem de Brasil na ções de palavras, denotando maior simplicidade, além de versos livres e bran-
Literatura. Deixando de lado as idealizações românticas e o elitismo cos comporem o poema. Ricardo Reis tem uma linguagem mais elaborada,
realista, o Brasil pré-modernista é o país dos sertanejos ignorantes, dos mais sofisticada do ponto de vista formal (o poema tem métrica regular).
imigrantes que se deparam com uma cultura estranha, dos pequenos fun- 10. Florbela Espanca utiliza a forma fixa do soneto, o que, de certa for-
cionários públicos que vivem nos subúrbios e dos caboclos que povoam ma, contraria o princípio de liberdade formal (versos livres e brancos)
o interior de São Paulo. defendido pelo Modernismo.
18. Elevar as personagens até então marginalizadas à categoria de persona- 11. a) O livro é uma Bíblia de tristes, um livro de sombras e de mágoas.
gens principais significa, na verdade, reconhecer sua existência e, mais ain- O eu lírico apresenta o livro como uma expressão da dor e da tristeza em
da, tomar consciência de que elas formam grande parte da população brasileira. que vive.
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é justamente a posição de Almada-Negreiros. 6. Além da repetição dos nomes das personagens, percebemos ainda a
18. a) O “ensinamento” dos versos de Píndaro seria o de que o ser huma- recorrência do pronome que, conectando todos os protagonistas dessa pe-
no não deve almejar aquilo que não lhe foi destinado; deve viver segun- quena história.
do a sua natureza, respeitando-a, para, assim, alcançar a felicidade. 7. O título, “Quadrilha”, faz referência à célebre dança popular, em que os
b) Toda aspiração a uma existência semelhante a dos imortais (deuses) pares são, por diversos motivos, trocados e/ou desfeitos. O mesmo ocorre
seria frustrante, pois o ser humano estaria contrariando o princípio da com as personagens do poema, que se vêem sem parceiros amorosos, tal
vida satisfatória apresentado na primeira estrofe (desejar do céu / coi- como na dança.
sas que assentem a um espírito mortal e tomar conhecimento da sorte 8. Segundo o poema, o amor parece ser um sentimento aleatório ou casual:
para a qual nascemos). A felicidade consistiria, nessa perspectiva, em aquele que ama não tem necessariamente seu amor correspondido. De fato,
se viver plenamente, aceitando as limitações humanas (goza plena- no poema, a visão é mais trágica: o sujeito que ama nunca é amado. O amor
mente / tudo o que esteja ao teu alcance). também é interrompido, e, principalmente, amor nada tem a ver com casa-
c) Resposta pessoal. Sugerimos um debate mais amplo sobre a enorme mento, pois a única que não amava ninguém é a que se casa.
diferença entre a visão de mundo dos gregos (apresentada no poema) e 9. J. Pinto Fernandes, apresentado com o nome pomposo, pouco afetivo e
aquela que rege a humanidade atualmente. O que o aluno deve perceber íntimo, representa justamente o casamento, desvinculado do amor. Casa-se
é que o ser humano não se contenta com a sua condição de mortal, pro- com a que não amava ninguém.
curando transcendê-la de todas as formas. A Ciência reflete bem essa 10. A métrica livre, os versos brancos, o tom humorístico são traços da poe-
ambição, na medida em que é o campo das pesquisas que buscam a sia da primeira geração que encontramos em “Quadrilha”.
origem e o controle da vida. No dia em que se conseguir, em laboratório, 11. Resposta pessoal. O aluno pode argumentar que sim, lembrando que,
compreender os mecanismos que regem a criação da vida, o ser humano nos dias de hoje, observa-se, de um lado, uma grande instabilidade nos
terá alcançado os meios que lhe permitirão transcender da condição de envolvimentos amorosos (muitas separações, relacionamentos passagei-
criatura para a condição de criador. Resta saber se, nesse dia, terá tam- ros) e, de outro, uma insatisfação muito grande das pessoas no terreno
bém encontrado a chave para a imortalidade e para uma existência feliz. afetivo. O aluno pode também responder de modo negativo e argumen-
19. A poesia de Ricardo Reis é, dos heterônimos de Fernando Pessoa, a que tar de modo a demonstrar que, em todas as épocas, o ser humano enfren-
mais se aproxima dos textos dos poetas clássicos. Podemos identificar, nos ta problemas para satisfazer-se no campo amoroso. Desencontros
poemas de Ricardo Reis, o mesmo desejo de apresentar ensinamentos para amorosos seriam, assim, encarados como algo comum na busca pelo
que o ser humano aceite a sua própria mortalidade e viva melhor, aprovei- amor verdadeiro.
tando intensamente o momento presente. A diferença entre homens e deu- 12. A geração de 30 notabilizou-se com temas sociais ligados aos pro-
ses e o carpe diem são temas que se originam na poesia grega da Antigüidade, blemas do Nordeste. No trecho, reconhecemos o problema da seca e da
como se pode constatar da leitura do poema de Píndaro. migração que ela provoca.
20. Sugere que tem uma visão centrada em si próprio, ou seja, subjetiva. 13. a) Os adjetivos são avermelhada, verdes, cansados e famintos, seco,
21. Pobre vaidade de carne e osso e mito, duas imagens que sugerem pelados, rala, vermelho, indeciso, brancas, negro e moribundos.
a vacuidade da existência, assim como o irrealismo daquilo que o b) As cores, ao contrário do usual (quando indicam um ambiente ale-
homem pensa que é. gre), são utilizadas no texto para compor um cenário desolador. O ver-
22. Nesse verso, Fernando Pessoa sintetiza o fenômeno da heteronímia. melho da seca é quebrado pelo verde ralo da caatinga, e por ossadas
Cada um de seus heterônimos é resultado de um processo racional de brancas cercadas de urubus.
fingimento. 14. As personagens são os retirantes Fabiano, sinha Vitória, o menino mais
23. O eu lírico dirige-se às flores, às aves, ao sol e a Maio (primavera). velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia. Carregam muitas coisas,
24. A repetição ou retomada do primeiro verso acentua aquilo que é estão cansados, famintos e calados.
afirmado, ressaltando seu conteúdo em outro contexto, depois das ex- 15. A enumeração indica a distância percorrida pelos retirantes. A caminha-
plicações dadas. da incessante deles também aparece em “os infelizes tinham caminhado o
25. Tomemos como exemplo a primeira estrofe. O eu lírico diz que já dia inteiro”.
não dá flores. A palavra flores, aí, está em sentido figurado. Em seguida, 16. O processo que ocorre na nomeação das personagens infantis é chama-
ele dirige-se às flores, dessa vez em sentido denotativo. Os elementos da do de despersonalização: as crianças, vítimas da miséria, perdem aquilo que
natureza, no desenvolvimento do poema, servem para caracterizar tanto lhes seria mais peculiar como cidadãos: o nome. São animalizadas, perdem
o mundo interno quanto o externo. sua condição humana. Ao contrário, como se vê em outras passagens do
26. Inicialmente, o texto teria uma estrutura dramática por ser um mo- romance, a cachorra Baleia parece ser mais humanizada que os retirantes.
nólogo, em que o eu lírico interpela elementos da natureza. Além disso, Esse indício já aparece no fato de ela possuir um nome.
ele se apresenta como um sujeito infeliz, atormentado, frio, que pede à 17. e
natureza aquilo que ele não possui mais. 18. a) O movimento literário criticado por Bandeira é o Parnasianismo.
14
Marina. Ambos ocupam o pensamento do narrador, impedindo-o de pros- b) O texto é confessional: o sujeito traído fala a um interlocutor sobre suas
seguir com sua vida. mágoas.
24. Sim, pois quando o romance começa, não sabemos quem é o narrador, 19. Podemos apontar a brevidade da narrativa: uma linha que contém o
quais são os problemas por que passou, e muito menos quem são Julião embrião de uma história. Não há narrador explícito, nem enredo, nem ca-
Tavares e Marina. Somos colocados diante de um homem atormentado racterização de personagens, espaço ou tempo. Ou seja, a narrativa não con-
por “sombras” de um passado desconhecido. tém claramente nenhum dos elementos que a caracterizariam como narrativa.
25. Alguns elementos que serão explicados no decorrer do romance são, Contudo, a leitura do texto cria, na mente do leitor, uma história.
além das personagens, o motivo pelo qual o narrador ficou afastado do 20. a) No poema, o retirante Severino percorre o estado de Pernambuco,
trabalho e por que suas mãos estavam machucadas (as escoriações das até chegar a Recife, onde tem sua primeira experiência positiva: o nasci-
palmas). mento de uma criança, filha de José, o mestre Carpina, fato que o dis-
26. As palavras escritas pelo narrador sugerem que sua história envolve suade da idéia de suicídio. Está aí o sentido de Natal — nascimento (além
amor, ira e morte, relacionados a Marina, ou seja, trata-se de algum tipo da conotação religiosa: a criança que nasce é filha de um carpinteiro de
de crime passional. nome José, recebe visitas e presentes etc). O adjetivo pernambucano refe-
re-se ao espaço em que transcorre a ação.
Capítulo 4 b) O adjetivo severina, derivado de nome próprio muito comum no Nor-
deste, refere-se a uma vida árida, difícil, marcada pelo sofrimento. Tam-
1. a) Uma andorinha só não faz verão. bém refere-se ao anonimato em que vivem tantos severinos, semelhantes
b) João Cabral aplica o provérbio para mostrar que uma manhã é tecida na vida e nas formas de morrer geradas pela miséria.
pelo canto de vários galos. c) A inversão da expressão reproduz a trajetória de Severino, que, ao sair
2. No trecho De um que apanhe esse grito que ele/e o lance a outro; de um de sua terra depara-se com inúmeras situações de morte (enterros, veló-
outro galo/que apanhe o grito que um galo antes/e o lance a outro, perce- rios, até mesmo o rio seco), para só no final ter uma experiência de vida (o
bemos que as orações não são completas; elas são interrompidas pelo iní- nascimento da criança).
cio de outra oração. 21. c
3. A estrutura sintática de certa forma imita o conteúdo: assim como cada 22. Para o eu lírico, escrever assemelha-se a catar feijão, pois, assim como
canto de galo é interrompido pelo canto de outro galo, as orações também ao jogarmos o feijão na água o que não é bom (palha, sujeira etc.) bóia, o
interrompem-se entre si. mesmo ocorre com as palavras num poema: aquelas que não forem de
4. Entre todos/entrem todos; tecido/tecido; entre/tenda/entretendendo. Todos nenhuma serventia, que forem insubstanciais, devem ser descartadas.
os jogos de palavras apontados fundamentam-se na semelhança entre pala- 23. a) No início do texto, o narrador diz que a história se passa num lugar
vras. João Cabral faz com que as palavras mudem de classe gramatical, como longe daqui. O advérbio de lugar coloca o leitor e o narrador no mesmo
em “tecido”, que ora é verbo, ora substantivo. Além disso, junta palavras de ponto.
sons semelhantes, construindo trocadilhos (entre/tenda/entretendendo). b) A linguagem apresenta um tom mais infantil, como percebemos na
5. João Cabral, como pudemos perceber, tem grande preocupação com a utilização do diminutivo cabecinha e na expressão um tico de cuspe. Tal
estruturação formal do poema: a sintaxe que imita o conteúdo, os jogos de recurso confere à linguagem, no decorrer da obra, um caráter afetuoso.
palavras etc. Além disso, vemos que não há referências à primeira pessoa. 24. O início da narrativa assemelha-se ao Era uma vez dos contos de fa-
O poema não é, como na tradição lírica, a expressão do sentimento do eu. das. O fato de a história se passar num local distante daqui (onde estamos)
Por isso chamamos o autor de antilírico. e de a personagem ser identificada como um certo Miguilim leva-nos a
6. O narrador é Riobaldo, jagunço que conta sua história. atribuir à narrativa um caráter mais lendário, indefinido, não histórico.
7. O interlocutor de Riobaldo é um senhor da cidade, culto. Percebe-se 25. Miguilim, como outras personagens de Guimarães Rosa, possui uma
essa característica pelo fato de que ele toma notas em uma caderneta. percepção sensorial do mundo, cuja saudade é traduzida por uma sensa-
8. A linguagem é regionalista, oral e inventiva, tanto no que diz respeito à ção física, e aliviada por um recurso também material: “um tico de cuspe”
sintaxe quanto em relação ao léxico. nas ventas. Miguilim, por enquanto, interpreta o mundo através do corpo.
9. Na década de 1930, o regionalismo era realista, procurando denunciar 26. a) O poema, por ser breve, e pela própria disposição na página, sugere
os problemas característicos do Nordeste, tais como a seca, a migração, a uma inscrição numa lápide (um epitáfio). Semanticamente, vemos que as
exploração do trabalho etc. Guimarães Rosa pratica outra forma de regio- palavras sintetizam a trajetória de vida do banqueiro: negócios, ego, ócio
nalismo, na qual o caráter específico do sertão é apenas um pretexto para e, finalmente, a morte, representada pelo zero na última linha. Observe
a abordagem de temas universais e arquetípicos. Em sua obra, o sertão que as palavras ego e ócio estão contidas em negócio, fato que é ressaltado
não é um espaço geográfico, mas mítico. pelo alinhamento visual dos signos.
10. No trecho transcrito, uma mulher, que veste um casaco marrom, pas- b) A palavra é ego.
seia pelo Jardim Zoológico e vê os leões e a girafa. Percebemos que a 27. III
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ouvinte não tem alternativa (e provavelmente não deseja ter) a não ser b) A palavra que, no verso em questão, introduz uma oração subordina-
dançar. da adjetiva restritiva.
5. a) Como os operários tinham trabalhado ininterruptamente, estavam 5. a) Em todos os versos, a palavra que se classifica como pronome
cansados e famintos. Ou: Os operários estavam cansados e famintos relativo e exerce função sintática de sujeito.
porque tinham trabalhado ininterruptamente. b) O verso é: Pulsação que seria a substância de todas as vibrações. Em
b) Os operários tinham trabalhado ininterruptamente, por isso estavam todos os outros versos, o que se refere à palavra vibrações; neste, o ter-
cansados e famintos. mo retomado pelo pronome relativo é pulsação.
6. a) As suas falas anteriores. A personagem não percebe que o fato de c) Sim. Em todas as orações, o pronome relativo introduz orações subor-
dizer que conhece a música, mas não sabe o título não é responder à dinadas adjetivas restritivas.
pergunta feita no programa. A irmã de Charlie Brown não se dá conta de 6. Uma dentre as possibilidades: I. E há sempre as pessoas que passam
que afirma saber, quando não sabe, ou não se lembra. risonhas nas ruas da cidade./ E há sempre as pessoas que passam sorri-
b) As orações coordenadas sindéticas adversativas presentes nas primei- dentes nas ruas da cidade. II. Ouvi uma mulher que chorava baixinho
ras quatro falas da personagem (mas qual é mesmo o título?; mas esque- alguma perda que jamais terei./ Ouvi uma mulher a chorar baixinho algu-
ci qual é; mas não consigo lembrar; mas não lembro do nome), pois ma perda que jamais terei.
contradizem a afirmação feita nas orações que as precedem. 7. a) I. Carlos não conhecia aquelas pessoas. II. Aquelas pessoas tinham
7. a) o descontentamento de todos: predicativo do sujeito. O motivo da briga vindo visitá-lo.
é que todos estão descontentes: oração subordinada substantiva predicativa. b) Como o pronome relativo recupera a expressão aquelas pessoas, que
b) do bem de todos: complemento nominal. Tenho certeza de que todos funciona como sujeito simples, exerce, portanto, essa função na segun-
ficarão bem: oração subordinada completiva nominal. da oração.
8. a) Oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. 8. a) A afirmação é a de que a personagem comprou um telefone com
b) É saudável que se pratiquem exercícios. um fio muito comprido. Os efeitos são poder sair da sala, do apartamen-
9. a) Oração subordinada substantiva predicativa. to, entrar no elevador, sair na rua e chegar à casa de Pestana.
b) Oração subordinada substantiva objetiva direta. b) Porque criam uma situação inverossímil: poder chegar com o telefone
c) Oração subordinada substantiva subjetiva. até a casa da pessoa para quem se está telefonando. Além disso, não
d) Oração subordinada substantiva completiva nominal. seria possível percorrer todo o caminho sem que o fio se rompesse (por
10. a) … desejavam que as autoridades competentes garantissem condi- exemplo, quando a personagem toma o elevador).
ções mínimas de higiene no local. c) … tão comprido que dá até pra sair da sala…
b) É evidente que os marginais são ousados e violentos. 9. a) A crítica é sobre a incompetência do governo no que diz respeito
11. A expressão destacada desempenha função sintática de aposto. Tra- aos investimentos em energia, o que obrigou a população brasileira a
ta-se, nesse caso, de uma oração subordinada substantiva apositiva. conviver com o racionamento de energia elétrica (o apagão) durante um
12. a) O vocábulo que é classificado como conjunção integrante. período no ano de 2001.
b) Introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta. b) Ao repetir exatamente a mesma afirmação na segunda parte do círcu-
13. a) Os conectivos são e e ou. E indica que se fará uma adição, um lo vicioso, apresentando, nas duas orações subordinadas, a incompetên-
acréscimo à idéia expressa na oração anterior. Ou indica que será apre- cia do governo como a causa do racionamento, fica evidenciada a intenção
sentada uma opção, uma alternativa em relação ao fato expresso na ora- de criticar tal incompetência administrativa governamental.
ção que a antecede. 10. Para, de fato, termos uma estrutura de círculo vicioso, as relações
b) … e eu tenho que responder ao chamado: oração coordenada de causa e conseqüência das duas partes do período, separadas pela
sindética aditiva/… ou arrepender-me para sempre: oração coordena- conjunção alternativa ou, deveriam ser invertidas. Em outras palavras,
da sindética alternativa. o que é causa da necessidade de se fazer economia de energia na pri-
14. No período composto por coordenação, o uso da conjunção adversativa meira parte (“porque o governo é incompetente”) deveria ser transfor-
indica que a arrogância do indivíduo é um argumento desfavorável à sua mado em conseqüência na segunda. Sendo assim, o círculo vicioso
inteligência. No segundo período, a subordinação indica outro valor estaria correto, se tivesse sido apresentado da seguinte maneira: “Nós
argumentativo à proposição: a arrogância do indivíduo é uma restrição teremos que fazer economia de energia porque esse governo é incom-
que pode ser superada (ou tolerada) em função de sua inteligência. petente ou esse governo é incompetente porque nós teremos que fazer
15. a) São assindéticas as seguintes orações: não movia um músculo; economia de energia?”
não emitia um único som; o irmão chegou; o marido saiu; o policial 11. a) Se se afastasse do trabalho por um tempo, Carlos teria condições
entregou a multa; o motorista a recebeu; não havia o que discutir. de se recuperar.
b) Há apenas uma oração coordenada sindética adversativa, introduzida b) Embora tivesse conhecido aquelas novas pessoas, Joana jamais aban-
pela conjunção mas: mas a mulher nem notou. donaria seus antigos amigos.
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27. Em I, ocorre mútua exclusão. Em II, não. lia. No 4o, o sinal da adição faz referência ao comportamento dessa per-
28. Está se fazendo a concordância do verbo com a idéia transmitida sonagem no mundo profissional: sugere o desejo de acumular riquezas.
pela expressão a gente (= nós), e não com a forma (terceira pessoa do 13. Os dois-pontos após Parecia um louco se justificam pelo fato de as
singular) dessa expressão. Essa concordância ideológica recebe o nome orações que vêm em seguida explicarem o sentido da frase inicial. Já as
de silepse de pessoa. vírgulas, colocadas entre os verbos driblou, escorregou, driblou, correu,
29. a) Estes livros, cujas edições originais datam do século passado, de- parou, chutou, servem para separar as orações coordenadas assindéticas.
moraram dez anos para serem finalizados. Por fim, as reticências traduzem a expectativa gerada pelo chute.
b) Observo que as mesmas frases permitem diferentes níveis de en- 14. a) Porque, nos exemplos apresentados, as vírgulas colocadas depois
tendimento. da conjunção não antecedem uma palavra ou grupo de palavras a que
30. a) Os autores dos enunciados não sabem usar adequadamente os se quer ou se deve dar destaque, isto é, não introduzem uma palavra ou
pronomes relativos na elaboração de orações subordinadas adjetivas, além expressão intercalada.
de apresentarem sérias dificuldades com as regras de regência neste tipo b) Essas são apenas sugestões de reescrita das frases. É importante que o
de construção. aluno perceba que deve acrescentar uma palavra ou expressão entre vírgulas
b) I. Aquele foi o dia em que descobri que estava (em que descobri para eliminar o problema apresentado nos exemplos transcritos. “Mas, equi-
estar) apaixonada por ele. II. A mulher à qual Sandoval se referia foi vocadamente, Itamar optou por um jogo miúdo e vaidoso.” “Mas, apesar de
uma das pessoas com quem ele conversou. III. A mulher com quem (com todas as denúncias de corrupção em que estão envolvidos, Ricardo Fiúza e
a qual) ele conversava… João Alves têm cara de inocente.” “Mas, acreditando na memória curta do
31. a) por b) para c) com d) de e) por povo brasileiro, Collor se preparava para candidatar-se.”
32. a) Assista amanhã à revista eletrônica feminina que é a referência 15. a) “Os técnicos foram à reunião acompanhados da secretária, do
do gênero na TV. diretor e de um coordenador.”
b) De acordo com a norma culta, o verbo assistir, no sentido de ver, acom- b) Na primeira frase, sem a vírgula, a informação apresentada é a de que
panhar visualmente, é transitivo indireto, exigindo a preposição a. A cra- os técnicos foram à reunião acompanhados de duas pessoas: a secretária
se resulta da fusão dessa preposição com o artigo feminino que precede do diretor e um coordenador. Na segunda, com a vírgula, a informação
a expressão revista eletrônica feminina. apresentada é a de que os técnicos foram à reunião com três pessoas: a
secretária, o diretor e um coordenador.
Capítulo 8 16. Não ocorre crase na expressão, porque a palavra favor é masculina. Não
há, portanto, a contração da preposição a com o artigo definido feminino.
1. O substantivo terra está sendo determinado pela expressão de seus 17. a) Pode-se interpretar que a própria sensibilidade artística funciona
antepassados; exige, por isso, a crase. como objeto direto de ensinando, coordenado ao anterior (a linguagem
2. Não ocorre crase antes de verbo, porque as formas verbais não são poética). A leitura que se pode fazer é, portanto: “Com a sutileza de um
determinadas por artigo definido a; há na expressão “a realizar-se” ape- sábio foi nos ensinando (verbo transitivo direto) a linguagem poética
nas a preposição a. (objeto direto) e a própria sensibilidade artística (objeto direto).”
3. Há crase no termo destacado, pois há a contração da preposição a, b) Caso houvesse crase, a expressão à própria sensibilidade artística
exigida pelo verbo referir, com o pronome demonstrativo feminino a, estaria relacionada à palavra mesclada (com função de complemento
que substitui o substantivo elíptico (oculto): moça. nominal), sendo, portanto, o terceiro elemento na série: ao ritmo, à me-
4. a) Não há crase. b) Não há crase. c) Lorena foi à festa de seus pais lodia e à própria sensibilidade artística.
contrariada. d) Não há crase. e) Sentimo-nos completamente à vonta- 18. Os verbos enviar e encaminhar estão regendo a preposição a, e as
de durante toda a estadia na casa deles. palavras regidas secretária e supervisão são femininas e compatíveis com
5. O enunciado pode significar que a mãe presenteou a filha ou que foi o artigo definido feminino. Portanto, a crase é obrigatória nos dois casos.
presenteada por ela. A crase impede a primeira leitura. 19. Na primeira frase, existe a contração de preposição a com o artigo a
6. Nessa frase, a crase é facultativa, pois diante de pronome possessivo que precede o nome Bahia. Na segunda, a contração não ocorre pelo fato
feminino (minha), é possível optar por colocar ou não o acento grave de o nome Salvador não ser determinado pelo artigo definido feminino.
indicativo de crase. 20. No primeiro caso, a expressão à noite é adjunto adverbial; no segun-
7. a) Expressão adverbial feminina. do caso, sem o acento grave, a expressão a noite é sujeito. Essa mudança
b) Objeto indireto introduzido pela preposição a, à qual se funde o arti- de função sintática faz com que, no primeiro caso, entenda-se que al-
go a que antecede o substantivo feminino esperança. guém chegou durante a noite de mansinho; no segundo caso, compreen-
8. Há ocorrência de crase diante da palavra casa, quando o termo está deter- da-se que a própria noite chegou de mansinho.
minado como de algo, de alguém, estabelecimento; quando o termo em 21. A palavra “causos” (casos) é típica de variedade regional, enquanto
questão não está determinado, equivalendo a lar, moradia, não admite crase. o restante do enunciado está redigido em uma linguagem coloquial. Por
18
O mineiro Serafim Lanna tem três diplomas universitários e (2) qüência e o início de uma nova.
7. Chinelo, vaso, descarga — um homem acorda, calça os chinelos e vai
[ ter três diplomas universitários + falar quatro idiomas] fala quatro ao banheiro.
idiomas, mas (3) [ o fato de Serafim ter três diplomas universitários e Pia, sabonete — o homem lava as mãos.
Água, escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel,
falar quatro idiomas cria a expectativa de que estaria mais bem colocado espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha
— escova os dentes, faz a barba e toma banho.
no mercado profissional e morando em outro local] trabalha vendendo
Creme para cabelo, pente — penteia os cabelos.
queijo numa feira e (4) [ trabalhar vendendo queijo + morar numa Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó —
veste-se.
favela da Grande São Paulo] mora numa favela da Grande São Paulo. Um Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigar-
de seus (5) [ colega de Serafim] colegas é o filósofo e (6) [ ser ros, caixa de fósforos — pega os objetos de que vai precisar ao longo do dia.
Jornal — lê o jornal.
filósofo + ser teólogo] teólogo Remy Felisaz, que (7)[ Remy Felisaz] Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo — toma
sobrevive de bicos de marcenaria. Eles (8) [ Serafim Lanna e Remy o café da manhã.
Quadros — anda pela casa.
Felisaz] se encontram nessas condições (9) [ vendendo queijo e mo- Pasta, carro — prepara-se para sair. Pega o seu carro.
rando na favela (Serafim); fazendo bicos como marceneiro (Remy)] não Cigarro, fósforo — fuma um cigarro.
Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com
por falta de oportunidades profissionais. Ao contrário, (10) [ o fato de lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de
saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo — chega ao
estarem desempenhando funções que poderiam sugerir falta de oportuni-
trabalho, observa a sua mesa, a sua sala, coloca o cigarro e os fósforos
dades profissionais compatíveis com a formação deles não se confirma; sobre a mesa.
Bandeja, xícara pequena — toma um cafezinho.
na verdade, indica que, de acordo com seus propósitos, os dois religiosos Cigarro e fósforo — fuma um cigarro.
atingiram o auge de suas carreiras] atingiram o auge da carreira. Os dois Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
bilhetes, telefone, papéis — começa a trabalhar.
(11) [ Serafim e Remy] fazem parte das Fraternidades de Foucauld, 8. a) A segunda fala (Você devia fazer o mesmo). Essa fala pode ter dois
uma ordem católica pouco conhecida que (12) [ A ordem católica pou- sentidos, a depender do referente que se assume: I. Você também devia
exercitar o seu cérebro. e II. Você também devia exercitar o meu cérebro.
co conhecida Fraternidades de Foucauld] surgiu na Argélia em 1933. Exis- b) O termo mesmo é o responsável pela ambigüidade, porque não se
consegue determinar se ele se refere ao aprimoramento da mente de Jon
tem atualmente 1.800 membros da congregação (13) [ Fraternidades
ou de Garfield.
de Foucauld] espalhados pelo mundo trinta deles (14) [ membros da c) Você também deveria exercitar o seu.
9. Os elementos coesivos que faltam ao texto A História gorda são os
congregação] estão no Brasil. Como os demais integrantes da comunida-
seguintes: 1o parágrafo: que; cuja; em que; desta. 2o parágrafo: ela; nes-
de, Serafim e Remy são uma espécie de agente secreto de Cristo. Esses te; seus; lhes; seu; eles; seu; desta; seus; seu; onde. 3o parágrafo: dessa;
ela; ele; isto.
religiosos (15) [ os religiosos integrantes da comunidade] acreditam
que a maneira mais eficiente de pregar a palavra de Deus é agindo no Proposta de produção de texto – 1
O professor deve, no caso desse exercício, orientar seu aluno para selecionar
anonimato. Por isso, aboliram o uso da batina e (16) [ abolir o uso da quais são os acontecimentos/comportamentos rotineiros que deseja caracte-
rizar por meio de substantivos. Seria aconselhável que o aluno fizesse uma
batina + costumar integrar-se em favelas e empresas] costumam infiltrar-
lista desses acontecimentos e, depois, procurasse os substantivos adequados
se em favelas e (17) [ favelas + empresas] empresas. para caracterizá-los, de tal maneira que essa lista funcione como um roteiro
2. c. que permitirá a construção do texto de modo coeso e coerente.
3. O elemento é o pronome demonstrativo isto, que faz referência a to-
dos os comentários do general. Esse pronome tem valor pejorativo, mos- 10. Os elementos coesivos que faltam ao texto Estranha lógica são os
trando o tédio e a irritação da esposa diante das falas do marido. seguintes: 1o parágrafo: para; tanto; que; como; tão; que. 2o parágrafo: e;
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O extinto deixa viúva. fácil. Acesse a internet numa minitela sem definição. Procure o minissite
15. a) O escritor, que é autor de vários livros didáticos, chega da pizzaria, entre no minimenu, escolha a pizza e digite o número do
freqüentemente atrasado para dar as suas palestras. cartão de crédito no miniteclado. A operação leva, mais ou menos, uns
b) Na verdade a televisão é um passatempo mortificante, pois, embora 30 minutos. Se você ligar e pedir uma meia quatro queijos, meia
proporcione às famílias alguns momentos de distração, reduz-lhes o calabresa, leva cinco minutos. Faz sentido pra você?
tempo que poderiam dedicar à conversa, que cada vez se torna mais Não estou sugerindo, claro, que mudemos todos para uma cabana
rara entre pais e filhos. no meio do mato, adotemos o nome de Unabomber e passemos a man-
dar cartas-bombas para os fabricantes de tecnologia burra. Isso não adi-
Proposta de produção de texto – 2 anta. O Bill Gates não cuida pessoalmente da correspondência. E mesmo
Como o aluno foi solicitado a dar uma continuação e uma conclusão se cuidasse, certamente não teria Q.I. suficiente para entender como é
coerentes ao texto iniciado por Edson Aran, achamos interessante que se faz para abrir um simples envelope.”
transcrevê-lo para referência do professor. O fundamental, porém, é que ARAN, Edson. Superinteressante. 173. ed., fev. 2002.
o aluno, ao cumprir a tarefa, perceba que o argumento central do autor
do texto é o de que aparelhos muito sofisticados são utilizados para rea-
16. a) Juan e Peter não se entendem, já que um fala inglês, e o outro,
lizar tarefas simples e, o que é pior, geram em nós uma atitude comodis-
espanhol. (porque, uma vez que…)
ta e dependente, como se não fôssemos capazes de tocar nossa vida sem
b) O livro é muito interessante embora tenha 570 páginas. (Apesar de ter
esses aparelhos. Os exemplos podem variar, mas devem, quando utiliza-
570 páginas, o livro…)
dos pelo aluno, contribuir para a consolidação desse ponto de vista.
c) Mesmo morando no Rio há cinco anos, Carmem ainda não conhece o
Abaixo a tecnologia burra! Corcovado. (Apesar de morar…)
“Por que você aceita que a tecnologia mais avançada entre em pane? d) Acordei às 7 horas, apesar de ter ido deitar às 2 horas. Dormi, portan-
Uma estepe da Ásia, 120.000 anos a.C. Você e seus primos Homo to, pouco mais de 5 horas.
sapiens encaram os vizinhos neandertais. Disputa de terras, naturalmente. e) O livro que a professora de literatura mandou comprar já está esgota-
Vai correr sangue. Mas vocês estão preparados. Gronk, o cara mais cri- do, embora tenha sido publicado há menos de três semanas.
ativo da tribo, aparece com uma idéia revolucionária: ‘E se a gente amar- f) João, o pintor, foi despedido, porque se negou a pintar a casa, uma vez
rasse pedras afiadas na ponta de uma vara? E se a gente, em vez de que estava chovendo.
morder e rosnar, usasse as ‘lanças’ (o nome é dado por Gronk) para furar 17. a) O fato de a expressão alto demais estar relacionada a cheque em
os inimigos?’ Você segura a lança e se prepara para a batalha. Então, branco é incoerente, pois não se pode atribuir um preço alto ou baixo a
aparece um aviso luminoso na arma: ‘Error 404. Retry, Ignore, Fail?’ um cheque em branco.
A lança deu pau. Sua tribo é massacrada pelos neandertais. O Homo b) Prerrogativas é o termo mais geral e privacidade o mais específico (é
sapiens deixa de ser a espécie dominante no planeta. uma das prerrogativas).
Ridículo, você diz? Então, por que você acha normal que o seu 18. a) A construção gramatical que dá acesso ao mundo das fantasias do
supercomputador com 800 gigamegas de memória, tela siliconada de cristal carregador é Se eu fosse… .
líquido e tração nos quatro drives faça exatamente a mesma coisa? Por b) Ele transfere a obrigação a que era submetido pela profissão que ti-
que você aceita tão calmamente que os artefatos tecnológicos atuais (mui- nha: Só então é que eu ia fazer o primeiro carreto.
to mais caros que uma lança) entrem em pane? Onde foi que nós erramos? c) Porque o trabalhador, mesmo imaginando-se presidente da Repúbli-
Os avanços tecnológicos sempre tiveram o objetivo de melhorar a vida ca, continua preso ao seu cotidiano, mostrando-se incapaz de livrar-se
do homem na Terra. Ligar o interruptor é mais fácil que encher lampiões de das obrigações mesmo quando está fantasiando acerca de sua situação.
querosene e acender um por um. Abrir a torneira é melhor que carregar Ao inserir sua realidade na fantasia, ele acaba indo contra as expectati-
baldes nas costas. A ‘tecnologia que complica a vida’ é uma invenção recen- vas de quem ouve a história, e isso provoca o efeito de humor.
te, do final do século XX. Eu, pessoalmente, acho que o marco zero da 19. a) Minha mãe me ensinava a ler e escrever desde que eu tinha
tecnologia burra é o forno de microondas. Aparelho fantástico desenvolvido quatro anos.
pela Nasa. Compre hoje o seu, freguesa. Não é necessário prática nem habi- b) Quando eu assistia a televisão nos Estados Unidos, as propagandas
lidade. O forno produz calor ao direcionar feixes de microondas que fazem me chamavam a atenção.
vibrar as moléculas dos alimentos e serve para… esquentar água. Nada mais. c) O ônibus derrapou e pegou o funcionário que estava andando na
Tudo o que sai de dentro dessa invenção do capeta parece uma sopa primor- calçada no momento em que entrava na livraria.
dial, de aspecto repugnante, com gosto de mingau de papel. d) Quando cheguei ao aeroporto, o avião já levantava vôo.
E o que você me diz do controle remoto de TV com 365 funções e) Depois da consulta, o ginecologista disse à paciente que ela estava
diferentes? Para aprender a usá-lo, é preciso um curso de pós-graduação esperando um bebê.
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geométrica, não é mais possível se esconder atrás de dogmas religiosos ou obter benefícios pessoais, que se valem do jardim de todos para cons-
morais que enalteçam o dom da maternidade e o milagre de gerar uma nova truir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu re-
vida. Ela argumenta, ainda, que a ciência contribui para o agravamento des- dor aumentem o deserto e o sofrimento.
se quadro, ao desenvolver, por motivos que estão mais ligados ao lucro do 10. a) Rubem Alves parte da afirmação de que a política é a mais nobre das
que a preocupações humanitárias, métodos de fertilização artificial, quan- vocações. Para justificar/explicar essa afirmação apresenta a definição de
do seria muito mais lógico, em vez de gerar cada vez mais crianças, darmos vocação (chamado interior de amor por um ‘fazer’, que leva o “vocacionado”
condições decentes às que estão abandonadas ou que são obrigadas a viver a fazer, mesmo que não ganhe nada com isso, pois faz por amor) e de polí-
em condições subumanas. A jornalista defende que o mais adequado seria, tica (o autor defende que, quem faz política — o político — tem por função
em lugar de se promoverem métodos de fertilização artificial, promoverem- cuidar do espaço seguro e ordenado — a cidade —, em que os homens se
se eficientes campanhas de adoção, inclusive com a modificação de postu- dedicam a buscar a felicidade), que, segundo os hebreus, é a arte da jardi-
ras governamentais que facilitem a adoção internacional, para que os países nagem aplicada às coisas públicas. A partir dessas definições, o autor con-
que têm um crescimento populacional negativo possam garantir, às crianças clui que o político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para
abandonadas, condições de vida digna. Karen enfatiza que todo o dinheiro todos, abrindo mão do pequeno jardim que poderia plantar para si mesmo.
gasto nos tratamentos de fertilidade poderia ser usado, pelas mulheres que Dessa forma, pretende fazer com que o leitor aceite como válida a primeira
querem engravidar, para educar crianças que já nasceram. afirmação sobre a nobreza da vocação política.
3. Segundo Karen Gimenez, são dois os argumentos utilizados para con- b) Ao definir o que seria o político por vocação e a nobreza associada a
testar a posição que defende: o de que toda mulher tem o desejo de gerar ele, Rubem Alves pode encaminhar a discussão que pretende fazer so-
uma vida, pois não haveria nada que substituísse o ato de sentir um novo bre a necessidade de termos no nosso país mais políticos desse tipo e
ser crescendo dentro de si; e o de que, ao adotar um bebê, não se tem a menos políticos por profissão, que também serão definidos no texto e
garantia de saber a origem da criança. levarão à enunciação de sua segunda tese.
4. Sobre o primeiro argumento, Karen Gimenez afirma que a mulher 11. Segundo Rubem Alves, apesar de amar a sua vocação, que é escre-
que justifica o investimento em tratamentos de fertilidade, seguindo ver, deve reconhecer que ela é fraca porque o escritor tem amor, mas
esse raciocínio, busca, na verdade, a auto-satisfação e, segundo a jor- não tem poder, ele pode escrever sobre os jardins para todos e denunci-
nalista, não seria exagero dizer que ela estaria mais preocupada em ar os desertos criados por políticos inescrupulosos, mas não pode fazê-
conquistar esse prazer do que pensando no bebê em si. A jornalista los florescer; um político tem poder para isso. O autor pretende com isso
questiona o segundo argumento, dizendo que a desconfiança sobre a reafirmar, através da comparação, a importância do político por voca-
origem da criança parte da tese, sem fundamento, de que o filho de um ção: ele é um poeta forte, que tem o poder de transformar poemas sobre
criminoso pode se tornar um criminoso, mesmo que cresça cercado de jardins em jardins de verdade. Esse argumento é retomado no 12o pará-
carinho. Tal raciocínio, afirma ela, é equivocado, uma vez que os genes grafo, quando o autor se dirige ao jovem para persuadi-lo a despertar o
não garantem que alguém será um mau-caráter ou um cidadão exem- jardineiro adormecido que pode ter dificuldade de escutar a vocação
plar. Até porque criminosos como Hitler e o ‘Unabomber’ eram filhos política ou ser chamado a outra vocação que, apesar de legítima, tende a
legítimos de famílias consideradas normais, ressalta a autora do texto. ser afunilante, pois vão colocá-lo num pequeno canto do jardim, muito
5. Segundo ela, as mulheres que investem anos fazendo tratamento para distante do lugar onde o destino do jardim é decidido.
engravidar, gastando até dezenas de milhares de dólares, são egoístas, pois 12. a) Segundo o autor, na vocação a pessoa encontra a felicidade na
num planeta cada vez mais desigual, não têm qualquer preocupação com o própria ação, ou seja, aquele que é movido pela vocação desempenha
futuro do bebê nem com o futuro do planeta. Essas mulheres, afirma a jor- suas funções por amor ao que faz — é, portanto, um amante; na profissão,
nalista, querem apenas provar para elas e para a sociedade que são capa- o prazer está no ganho que dela se deriva, ou seja, o profissional encontra
zes de cumprir uma falsa obrigação moral: engravidar num mundo cada satisfação no dinheiro que provém de sua função e não no prazer de exercê-
vez mais cheio de gente. Além disso, a jornalista ressalta que o repúdio à la. Sendo assim, o profissional sem vocação transforma-se em um gigolô,
adoção pode estar ligado a uma postura preconceituosa, pois se a genética e que deseja da profissão apenas o dinheiro que dela puder extrair.
o desejo de engravidar não justificam o repúdio contra a adoção, é possível b) Rubem Alves, dando continuidade à analogia entre política e jardina-
concluir que o que as futuras mães querem é a garantia de que seus filhos gem, afirma que o político profissional é aquele que procura, através do
terão um tom de pele próximo ao do delas. O desejo de engravidar a qual- exercício de seu mandato, obter benefícios pessoais, enriquecer, ainda
quer custo também tem seu lado racista, mesmo porque, boa parte das cri- que isso signifique produzir ou aumentar a miséria ao redor, contribuin-
anças abandonadas que poderiam ser adotadas no Brasil são negras. do para a consolidação das mazelas sociais (usa o jardim de todos para
6. A imagem da autora do texto, a jornalista Karen Gimenez, é a de uma construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu
pessoa extremamente racional e bem-informada, que se sente indignada redor aumentem o deserto e o sofrimento.).
com a postura das mulheres que investem tempo e dinheiro em tratamen- 13. a) Rubem Alves afirma que de todas as profissões, a política é a
tos de fertilidade em lugar de optar pela adoção de crianças abandonadas. mais vil.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aluno tem da cidade onde mora. Evidentemente, no momento de corri- imagem que o aluno fizer do seu amigo. Que tipo de pessoa é ele? Poli-
gir as produções escritas, o professor deverá observar se a proposta ini- ticamente, como se caracteriza? Pela preocupação demonstrada com as
cial foi respeitada e se, estruturalmente, o texto constitui-se como uma manchetes de jornal, deve ser alguém consciente, bem-informado, pron-
carta argumentativa. to, portanto, a receber uma resposta articulada em termos maduros.
3. A primeira coisa que o aluno deve reconhecer é a veracidade das in-
15. Ignacio Cano argumenta, primeiramente, contra a opinião do prefei- formações contidas nestas manchetes. Não é possível, neste caso, negar
to César Maia que afirmou, recentemente, que se morrerem dez delin- os fatos e, como sabemos, é verdade que nossa economia está em crise,
qüentes, que morram. Cem, quinhentos, mil, quantos for necessário para que a dengue no Brasil apresenta-se como uma situação bastante grave,
restabelecer a ordem pública. Essa declaração sugere que o prefeito do que realmente tem crescido a incidência de violência, principalmente
Rio de Janeiro acredita que bandido bom é bandido morto, como diz o nos grandes centros, e que o arrocho salarial, bem como o desemprego e
povo. Em outras palavras, que ele aposta no extermínio como forma de a situação deplorável dos aposentados brasileiros são questões inegá-
solução para o problema da violência no Rio. veis. Por outro lado, podemos, desde já, questionar a imagem parcial
16. O primeiro argumento utilizado pelo articulista é a demonstração de do país apresentada nessas manchetes. Apesar de elas virem de diferen-
que a polícia carioca já mata um número extraordinariamente alto de pes- tes jornais, deve-se perguntar se não há, por parte da imprensa, interesse
soas por ano, todas tidas como criminosas. Apesar desse comportamento, em provocar um certo estardalhaço em torno de problemas crônicos do
o crime continua a amedrontar os cariocas. O segundo argumento é a con- Brasil, como meio de formar, para si, a imagem de órgãos independen-
testação, por meio de análise, da relação entre violência policial e paz tes, que cumprem à risca sua função de denunciar os problemas do go-
social: como a violência policial sempre foi a norma no Rio (e a paz ainda verno e do país. Embora reconheçamos a veracidade das notícias,
não foi alcançada), deve-se concluir que essa estratégia não funciona. podemos levantar argumentos que, se contrapostos a elas, formam uma
17. A segunda opinião contestada por Ignacio Cano é a do delegado outra imagem do Brasil: I. Os problemas apontados concentram-se na
Wladimir Reale, que defende que a polícia deve ser liberada para exer- área da saúde, economia, política social e segurança. Considerando o
cer plenamente o direito legal de matar em defesa da sociedade. fato de que, desde 1964, com o golpe militar, a situação social brasileira
18. Ignacio Cano questiona a premissa legal adotada pelo delegado, se- vem se deteriorando nas mãos de governos inaptos, perceberemos que
gundo a qual existe um “direito” de matar previsto na lei. (Não existe o os problemas apontados não surgiram de uma hora para a outra e não
tal direito de matar, existe sim o direito de legítima defesa para qual- podem ser creditados ao governo atual (embora ele deva ser cobrado
quer cidadão. Como a polícia de fato pode usar a força para se defender com relação a possíveis alternativas para solucioná-los). II. Devemos
e para defender a terceiros de acordo com a lei, essa ‘liberação’ propos- reconhecer o processo de sucateamento do sistema de saúde. O Ministé-
ta só pode ser entendida em relação à própria lei.) O articulista questi- rio tem se mostrado mais atuante, realizando campanhas de esclareci-
ona, ainda, o raciocínio feito pelo delegado, e afirma: Uma das raízes da mento público com relação à epidemia de dengue, procurando informar
insegurança no país é precisamente a falta de aplicação das leis, e não as pessoas sobre como evitar a contaminação; há importantes campa-
será ignorando-as que lograremos reverter o quadro. nhas educativas quanto ao contágio pelo HIV; o Brasil é o único país do
mundo que oferece, gratuitamente, o coquetel de remédios que combate
Proposta de produção de texto – 2 a ação do vírus da Aids no organismo; têm sido feitas campanhas de
a) Independentemente do interlocutor escolhido pelo aluno, é importan- orientação sobre a sexualidade e o planejamento familiar, com o objeti-
te verificar se os argumentos por ele apresentados são válidos. É claro vo de conter o alto número de gravidez em adolescentes. Mas, como
que aqueles que escolherem escrever ao prefeito César Maia serão bene- ocorre no setor da educação, tais iniciativas buscam conscientizar o ci-
ficiados, porque os argumentos apresentados por Ignacio Cano podem dadão sobre cuidados que ele deve tomar com a própria saúde. Seus
ser tomados como base para sua argumentação. resultados não se fazem de uma hora para a outra. III. As conquistas
b) Os alunos que escreverem para Ignacio Cano podem valer-se dos sociais foram em grande número no país: hoje conta-se com uma legis-
questionamentos feitos pelo leitor I.M., que aponta o fato de que muitos lação que caracteriza a tortura como crime; os direitos da cidadania têm
policiais também são mortos, anualmente, em confrontos com bandi- sido mais reivindicados e respeitados; o Serviço de Proteção ao Consu-
dos. Esse ponto de vista, porém, é mais difícil de ser defendido com midor (Procom) é um dos órgãos públicos mais atuantes, o que demons-
base em argumentos lógicos… (o aluno precisa perceber isso na hora da tra que as pessoas estão mais conscientes de seus direitos e dispostas a
tarefa e escolher corretamente). lutar por eles. IV. O país demonstra maior maturidade e estabilidade
democrática e luta para alcançar uma estabilidade econômica. A última
Proposta complementar de produção de texto eleição demonstra, com uma renovação muito grande da Câmara e do
1. A tarefa persuasiva apresentada ao aluno é a de escrever a um amigo Senado, que o povo brasileiro se fartou de eleger sempre os mesmos
procurando convencê-lo de que ainda vale a pena viver em nosso país, a políticos, principalmente aqueles que durante governos anteriores esti-
despeito dos problemas sociais e econômicos que temos. Além disso, é ne- veram envolvidos em escândalos e negociatas.
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Proposta de produção de texto – 1 limites impostos pela sua natureza física (ele não pode separar-se da
1. Na introdução, são apresentadas informações sobre a conferência mão e sair pulando pela sala). Assim também o leão não tem a opção de
mundial realizada para identificar as formas de racismo, suas vítimas e ser vegetariano, dado que isso não é de sua natureza.
elaborar ações para combater a discriminação. Ora, é evidente que a 3. Descartes afirma que o homem é diferente do animal por possuir fa-
realização de um evento dessa natureza indica que, em pleno século XXI, culdades mentais livres. No entanto, essa afirmação não refuta a posi-
época em que os avanços tecnológicos nos fazem crer que somos “de- ção assumida pelo professor, que questiona em que momento da vida
senvolvidos”, ainda temos manifestações imperdoáveis de intolerância um ser humano passa a possuir essa razão livre. Um bebê, por exemplo,
e preconceito. Isso indica, em primeiro lugar, que é necessário refletir não a possui, assim como uma criança pequena: quando, então, essa
sobre o que significa termos ainda a necessidade de realizar conferên- faculdade racional se constituiria?
cias como essa. A resposta para essa questão está na definição do tema: 4. O exemplo das duas árvores ilustra a idéia de que o ser humano só se
é preciso garantir que tenhamos uma sociedade mais justa; para que isso torna aquilo que sua natureza dita quando é cercado de todas as possibi-
ocorra, são necessárias ações contra a discriminação. lidades de desenvolvimento. Só podemos considerar um ser humano li-
2. Fragmento 1: dados sobre o mapeamento do racismo no mundo, com os vre quando o mundo exterior (as circunstâncias políticas, por exemplo)
principais casos de discriminação apontados por relatório da Anistia Inter- permite que ele desenvolva as potencialidades que lhe são inerentes.
nacional. É interessante perceber que a discriminação aparece de maneira 5. O narrador chama a mãe de colaboradora na vida de D. Plácida. Aos
diversa, mas tem como base sempre o mesmo tipo de atitude: a intolerância pais, refere-se como autores de seus dias. Sobre a relação entre os pais,
com aqueles que são considerados diferentes do que se estabelece como diz que foi uma conjunção de luxúrias vadias. Diz ainda que
“padrão” (leia-se, posição de superioridade) em dada sociedade. D. Plácida brotou, o que é absolutamente incongruente com a vida mise-
Fragmento 2: entrevista do historiador americano David Brion Davis, intro- rável da personagem (D. Plácida não poderia ser chamada de “flor” se-
duzindo uma idéia bastante perturbadora: segundo ele, a razão pela qual a não ironicamente.).
escravidão e o racismo tenham demorado tanto para causar revolta é uma 6. Brás Cubas acredita que as pessoas de uma classe social menos
demonstração de que essas atitudes tinham respaldo cultural, religioso e favorecida, de algum modo, são as responsáveis pelos próprios infortú-
filosófico. Isso pode nos levar a pensar sobre o motivo de, ainda hoje, ter- nios. Não há, na fala de Brás Cubas, nenhuma indicação de que a situa-
mos tantas manifestações de intolerância e discriminação na nossa sociedade. ção social ou política possa ser a causa da pobreza: a miséria é causada
Fragmento 3: notícia de jornal que traz uma informação bastante incômoda, pelos erros dos próprios miseráveis.
apurada em um relatório divulgado pela Anistia Internacional: em quase 7. a) Porque, na visão do narrador, não houve entre o sacristão e a mu-
todo o mundo, embora em graus diversos, decisões dos sistemas de Justiça lher uma relação profunda: apenas desejavam-se, inconseqüentemente.
e procedimentos das forças de segurança do Estado têm desrespeitado os b) Os pais se relacionaram sem medir conseqüências, e sem possuírem
direitos humanos em razão de cor, raça, etnia e nacionalidade. Segundo esse condições econômicas (eram o sacristão e a sacristã), logo, não teriam
relatório, os abusos que ocorrem todos os dias no contexto da administração como dar à filha meios de escapar de uma vida de infelicidades.
da Justiça parcial ou totalmente devidos ao racismo não são divulgados, 8. O “confronto” entre D. Plácida e os pais tem duas funções: acentuar a
diferentemente do que ocorre com manifestações violentas de preconceito e vida de infortúnios de D. Plácida, e ressaltar a inconseqüência dos pais.
intolerância, que, invariavelmente, conquistam as manchetes dos jornais. 9. O texto 2 exemplifica o que se afirma no texto 1. D. Plácida seria uma
Fragmento 4: notícia de jornal que aponta para a impunidade e falta de ilustração da falta de liberdade de escolha quando as condições do meio
proteção do Estado no que diz respeito ao racismo e à discriminação no social impedem o desenvolvimento de suas capacidades.
Brasil, segundo o relatório da Anistia Internacional. Nesse documento, 10. O aluno deve perceber que, para desenvolver adequadamente o tema
afirma-se que o Estado muitas vezes faz vista grossa aos abusos cometi- proposto, é necessário discutir a possibilidade real de escolha, a existên-
dos por seus agentes e são apontados os freqüentes ataques às comunida- cia do livre-arbítrio, para os indivíduos, quando existem limitações so-
des indígenas, a impunidade, a predominância de negros presos e a grande ciais e políticas que impedem o desenvolvimento de suas potencialidades.
disparidade social e econômica entre as raças. É importante insistir que a elaboração de um projeto de texto é funda-
Fragmento 5: opinião de um sociólogo português sobre o que é necessário mental para um bom desenvolvimento do tema.
para a promoção do bem de todos, isto é, de uma sociedade mais justa, sem
preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de Proposta de produção de texto – 3
discriminação. Segundo ele, é necessário um remédio forte, como a 1. Esse tema propõe a reflexão de uma questão extremamente pertinente e
criminalização das condutas contrárias. Sem a ameaça grave de sanções, o atual: o que fazer com as toneladas de lixo produzidas diariamente nos nos-
preconceito continuará agindo no coração de muitas pessoas. O sociólogo sos centros urbanos? Será que, com o avanço da ciência e da tecnologia, não
ainda apresenta uma definição daquilo que permitiria esse tipo de atitude: o deveríamos rever o nosso conceito sobre o que seria lixo?
fascismo social, que afirma ser a incapacidade de redistribuição da riqueza, 2. O fragmento 1, de natureza informativa, traz as diversas acepções encon-
permitindo que o Capitalismo opere contra o pobre, e não a favor dele. tradas no dicionário para o vocábulo lixo. Percebe-se que essa palavra é
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vimento econômico e o aumento dos detritos produzidos pela humani- autor sugere é que, se no passado tal comportamento não nos escandalizou, o
dade. O fragmento 6 traz a informação de que, com o desenvolvimento que garante que não retornaremos a ele no futuro?
tecnológico, o perfil do lixo está mudando. O que antes era essencial- 3. A partir da leitura da coletânea, é possível identificar duas possibili-
mente composto de substâncias orgânicas, agora é um amontoado de dades de estabelecer a ética do novo: estabelecendo limites sobre o que
substâncias tóxicas de difícil composição, além de apresentar riscos de será aceitável ou não a partir de projeções futuras, considerando o con-
contaminação para os seres humanos. ceito de ética atual (ou seguindo as leis de mercado, como sugere o frag-
7. A partir desse fragmento, que traz a informação sobre a quantidade de mento 2) ou repetindo o passado, como sugere o fragmento 6, o que
anos que determinados materiais demoram para serem absorvidos pela na- seria bastante perturbador.
tureza, é possível encaminhar a discussão do estrago que estamos causando 4. Espera-se que, durante a discussão deste tema, fique evidente para os alu-
quando não adotamos programas sérios para o tratamento e a reciclagem do nos a complexidade relativa à discussão do que seria ético ou não quando o
lixo que produzimos. que se analisa são os progressos científicos, como ressaltamos na última
8. É importante fazer com que o aluno parta do pressuposto de que o questão. É importante nesse momento relembrar aos alunos a necessidade de
lixo que produzimos deve ser visto sobre outra perspectiva, a da desenvolver um bom projeto de texto, percebendo quais argumentos podem
reciclagem, caso não queiramos ser “soterrados” por ele. Também vale ser utilizados para defender seu ponto de vista, considerando a natureza da
ressaltar a importância de escolher uma linha argumentativa, para que a discussão. As questões propostas devem ser levadas em conta no momento
reflexão não fique restrita a um dos aspectos apresentados pela coletâ- de seleção dos argumentos para a redação da dissertação do aluno.
nea, pois, pela amplitude do tema, o aluno corre o risco de desenvolver 5. O papel desempenhado pelo fator social em relação à natureza huma-
uma dissertação que fuja à proposta. Por isso, as questões propostas de- na é crucial: é ele o responsável por moldar e transformar o ser humano.
vem ser levadas em conta no momento da seleção dos argumentos para Segundo Durkheim, é a cultura local que determina até mesmo as emo-
a redação da dissertação do aluno. ções mais profundas da natureza humana.
6. Os novos cientistas sociais darwinistas acreditam que o traçado
Propostas complementares de produção de texto evolutivo dos povos determina padrões de comportamento social na es-
1. Na introdução, oferece-se uma definição de ética que precisa ser cuidado- trutura da família, da amizade, de política e moralidade.
samente considerada: Ética nada mais é do que atitudes abonadas pelos 7. As duas vertentes se opõem: enquanto os primeiros acreditam que a Bio-
costumes de uma determinada sociedade numa época dada. Ora, é evidente logia determina os padrões de comportamento cultural de diferentes povos,
que, como o que se analisa são as possibilidades futuras projetadas pelo pro- os últimos afirmam que é a cultura que determina a natureza humana.
gresso alcançado no campo da genética, não se tem como saber quais são as 8. O aluno deve perceber que a discussão está na oposição das duas
atitudes abonadas pelos costumes da sociedade. Isso significa, em primeiro possibilidades de análise do comportamento humano. É importante dis-
lugar, que não há uma ética a ser seguida. O que há é um problema a ser cutir qual delas se sustenta com maior propriedade: se a exposta no texto
analisado: é lícito estabelecer limites para a ciência? Se a resposta for positi- 1 ou a apresentada no texto 2.
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