You are on page 1of 1

Esta postagem foi publicada em Filme aberto às 01:29:05 de 9/2/2011

A árvore
Dirigido por Julie Bertucelli, esse filme franco-canadense aborda um tema que Freud tratou em
seu famoso ensaio Luto e Melancolia. Dawn, uma francesa residente na Austrália, vive um
casamento feliz com o pai de seus 4 filhos. Quando este morre estupidamente, de uma hora para
outra, nem ela, nem a filha Simone conseguem lidar com a perda. Segundo Freud, numa reação
normal à perda do ente querido, “a libido deve ser retirada das conexões com esse indivíduo”.
Claro que o ser humano não gosta de “abandonar uma posição libidinal”. Nesses casos, pode
acontecer um “afastamento da realidade e um apego ao objeto mediante uma psicose de desejo
alucinatória”. É o que acontece com essa mãe e essa filha de “A Arvore”. Elas deslocam para uma
imensa figueira que ladeia a casa onde moram, todo o investimento afetivo que havia no falecido.
Passam dia e noite subindo e descendo da árvore, que por si só já tem uma conotação com o ato
sexual, crentes que estão se comunicando com o morto. É preciso que um precursor do tsunami
apareça e quase derrube a casa para elas se tocarem de que a vida precisava continuar. Essa
dificuldade em aceitar a morte de alguém é muito mais comum do que pensamos. Principalmente
quando aceita-la significa lidar com a própria culpa diante da fatalidade. Enquanto as personagens
do filme deslocam a figura do morto para um vegetal, outros são capazes até de manter o parente
vivo de si mesmos para efetivar a negação. Ainda bem que a Psicanálise esta aí para serrar essas
defesas com a mesma paciência com que os podadores arrancavam aos poucos os galhos
perigosos daquela monumental figueira. Assim como eles tentavam minimizar os estragos que ela
causava àquela família, o analista, paulatinamente nos livra de galhos pesados que carregamos ao
longo dos anos. O objetivo final é não deixar pedra sobre pedra. Mais ou menos como a casa de
Dawn depois do vendaval. Mas se não fosse ele, dificilmente ela e a filha desceriam da árvore para
olhar a vida de frente.

You might also like