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Espero os dias
espero que passem rápido
que eu não os sinta
As sobras do que eu nunca tive
as chaves do apartamento
– que esperanço explodir junto comigo
Tudo o que restou, Andy K., levaram embora
minha mulher, minhas crianças
tudo o que eu jamais possuí
O seu câncer era raro e o matou
o meu me perpetua em nada.
WOLFGANG
O silêncio é um repouso
- inquieto
leve respirar dos seios ao lado
trás a carne
terror de tempos
século veinte y uno e tal
Não domina o espanhol
she has no name
mas não importa
é o gozo quem vos fala
é a solidão quem vos assola.
NU OMEM
do you remember?
That night at context
making up shit
like we were animals
we made no sense
no sense
we had no sex
O corpo é somente
uma fortaleza facilmente destruída
e reconstruída
e destruída inúmeras vezes
entretanto, não faz sentido.
UM DIA, UM NUNCA, QUANDO?
De onde estou
posso ouvir o ruído do trem
arrastando-se sobre os trilhos
É como o ruído dos meus dentes
do movimento horizontal do maxilar
da mordida errada
da mordida no ombro
Do escuro
posso sentir a noite
fria e úmida, e ver
que o silêncio da voz
é uma ópera da culpa
da culpa de Franz Kafka
é como a culpa que há em mim, não musicada
Os dentes rangem
estive com eles ontem
a sós; estamos com o trem
esta noite, por alguns minutos.
CAIXA DE PANDORA
VIRGÍLIO
Cassandra
avisa a mim
Tens os dons das cobras e de Apolo
tens também a minha confiança
[sei que não és louca]
Egípcia
mulher cornucópia de mistérios
invades impiedosa os meus sonhos
És jazida dos meus febris desejos
balaústre do meu ego inquieto e
selvagem
Dá-me a tua seiva
planta erva água mortífera
sabes bem o suor da blasfêmia
és fêmea impiedosa
impávido pecado
Não me dás motivo para um
sono tranquilo
és zumbido de mosquito
permeando meu quarto escuro
Não se justifica a vida serena
sem teus braços e afagos
alma branca, pele macia
macia flor
Souberas ser eloquente
e desbravar os mundos
mulher destino fera
hoje o horizonte lhe rega
És o motivo para a sandice
dos teus amantes romanos
enfeitiçados com o teu perfume,
o sabor do teu sexo
o calor dos amores à beira do Nilo
Deixa-me tresloucado
também, mulher!
Cleópatra deusa rainha
sabes que és tudo em mim
revela-me teus segredos de amor.
MOURÃO
(coração de pedra
você não é nada
além de minha amarga mentira)
VELVET
Podia compreender o sussurro a aproximadamente vinte metros
distância que cortava o Café
– não um café propriamente dito e coado, tampouco
um desses lugares em que se bebe e se lê
porque lia lábios, olhos de Thundera possuía
UNTRUST ME
Frente a tantas possibilidades
tem o destino, talvez com malícia
o arbítrio do futuro, instante em que o torna presente
– o futuro é sempre agora
A chave do tempo
ferrolho do que é se sente
persegue-me nestes dias de inverno:
“ah, dia marrom”
grita a camareira do meu hotel chinfrim –
é preciso assear o que me estende
ANELINA
Calor / praia no deserto / óculos escuros / bermuda laranja / cadeira azul / Visão de
180º:
a praia como uma faixa laranja-desbotado
entre os dois tons de azul, azul-céu e azul-mar
No toca fitas um K-7 do Eddy Grant na faixa ‘Time Wrap’
Espécie de videoclipe enquanto durar a música
eu permaneço sob o sol
masco chiclete e balanço a perna direita
levantei-me da cadeira nos trinta segundos finais e corro
em direção ao mar
nado até a faixa laranja-desbotado da praia desaparecer
permitindo a comunhão de azuis
então me afogo de olhos abertos.
PUERPERAL
AS SOON AS POSSIBLE
Soy latino-americano
subdesenvolvido e impuro
enquanto os livros correm
a avenida lá fora: internet
Amo-amo-amo-amo
o que não toco, porque sou
moderno e interagido
o riso riaaaauu que me põe
desperto e inexpressivo
diz que sou um produto
com sintomas de distúrbio
possessivo, e ansioso
Sei que esse barulho
que sai do meu notebook
é alguém que me chama
para me matar a saudade
e dá um del na solidão
DREAM DE PARDAL
AFOGADO
Quase eu soube
na borda de um George Orwell, mais opaco em um Cyro dos Anjos
mínimo em um Honoré de Balzac e em um Cabral de Melo Neto
ambos da mesma coleção
dispostos na prateleira de madeira envernizada
Por pouco não aprendo em cinco quadros
embriaguei-me em duas garrafas de rum
senti-me como se fosse vivo
excêntrico
laranja-lima
limão
não sentia a minha língua
Preciso de boas escolhas, saber por onde começar
neste corpo bem delineado e jovem, de formas humildes
um quarto fechado, apertado e mal iluminado
cama de solteiro, amarelo-amor.
VERDE
Inês é laranja
é tudo que me estremece
toda falta que me sufoca
é, também
Inês me dizendo que
Cecília lhe disse que
nem tudo são sonhos
mas tudo é vão
inclusive os sonhos
É laranja Inês que
não existe
mas é uma presença absurda
embora Cecília exista
mas nunca a tenha encontrado
É laranja
é adocicado, às vezes
gosto de fruta cítrica
É sonho, é vão
como o sol manso às sete da manhã
dizendo que o dia começará abóbora
é epiderme que se confunde com cenoura.
NEGRO LADINO
PLÁSTICO
NEANDERTHALENSIS